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Introdução
Há notícias de que a atividade comercial já era praticada desde a Antiguidade por vários
povos, principalmente pelos fenícios. No entanto, neste período, esta atividade ainda não se
encontrava bem difundida e organizada, posto que a mesma ainda não era submetida a
normas e princípios específicos, mas sim a um direito comum dos cidadãos e aos usos e
costumes vigentes em cada região. Portanto, apesar da constatação da existência de legislação
na idade antiga que abarcava as relações comerciais, como por exemplo o Código de Manu
na India, o Código de Hammurabi da Babilônia, e ainda o influente direito civil romano
compilado no tão famoso Corpus Júris Civile de Justiniano, tais sistemas jurídicos primitivos
não são suficientes para considerar a existência de um direito comercial autônomo nesta
época.
Neste sentido, são elucidativas as palavras do professor Fran Martins (MARTINS, 2001, p.
03): "Não se pode, com segurança, dizer que houve um direito comercial na mais remota
antiguidade. Os fenícios, que, são considerados um povo que praticou o comércio em larga
escala, não possuíam regras especiais aplicáveis às relações comerciais."
Com o passar do tempo, a concepção do direito comercial como o direito dos comerciantes
matriculados nas corporações foi perdendo sentido, pois paralelamente a esta realidade, o
comércio também era praticado por pessoas que não faziam parte dessas organizações de
classe, e que inclusive se utilizavam de institutos, como a letra de câmbio, que foi criada na
época para facilitar a circulação de mercadorias. Situação curiosa era quando um comerciante
inscrito numa corporação mantinha negociação com um comerciante que não fazia parte de
nenhuma corporação. Neste caso a competência do juízo consular deveria estender-se ao
comerciante não matriculado.
Por fim, o direito comercial visa estruturar a organização empresarial moderna e regular o
estatuto jurídico do empresário, entendendo-se como tal a pessoa que realiza actos de
comércio. Por outro lado, os actos de comércio são aqueles que são levados a cabo com a
finalidade de uma forma mais simples, o direito comercial, é um corpo de normas,
conceitos e princípios jurídicos que, no domínio do direito privado regem os factos e as
relações jurídicas comerciais. E é um ramo de direito privado especial, já que
estabelece uma disciplina para as relações jurídicas que se constituem no campo do
comércio, a qual globalmente se afasta da que o direito civil, como ramo comum,
estabelece para a generalidade das relações jurídicas privadas.
O direito comercial não regula todas as atividades económicas, pois são excluídas o
artesanato (art. 230° e 464 do C. com) e a agricultura (art. 230° e 4649 do C. Com.).
3)Actos de Comércio
3.1) • Objetivo e Subjetivo: os objetivos são regulados pela lei comercial, os subjetivos são
aqueles que a lei atribui comercialidade pela circunstância de serem praticados por
comerciantes. Estes actos pressupõe a qualidade de comerciante de quem os pratica,
ao passo que os actos objetivos são adequados para atribuir qualidade a quem os
pratica de forma profissional (art 13º do C. Com).
3.2) • Absoluto e Acessórios: os absolutos são comerciais devido à sua natureza intrínseca
que radica do próprio comércio, ou seja, são actos gerados pelas necessidades da vida
comercial. Existem duas espécies de actos, uns (a maior parte) que são actos caraterizados
por atividades que tornam o objetivo do Direito Comercial e os outros são os actos em razão
da sua forma, ou seja, do objeto sobre o qual incidem.
3.4) • Causais e Abstratos: o acto causal é todo o acto que a lei regula a realizar uma
determinada causa função jurídico económica, ao passo que os actos abstratos revelam uma
multiplicidade de causas funções que dele resulta uma vida independente, como por
exemplo: a letra de câmbio em que pode estar subjacente uma compra e venda. Contudo, o
acto abstrato tem sempre subjacente um outro ato jurídico que é a causa mediata.
Bilateralmente comerciais e Unilateralmente comerciais: os bilaterais têm carater comercial
em relação a duas partes. Os unilaterais são atos que apenas são comerciais em relação a uma
das partes e civis em relação à outra. O regime jurídico dos actos bilateralmente comerciais
são diferentes pois não suscitam dúvidas, enquanto os actos unilateralmente que por vezes
suscita dúvidas em saber se serão sujeito ao regime da lei civil ou da lei comercial. A
solução está no art 99 º do C. Com, em que os actos.
4) Regras dos actos comerciais
4.1) • Forma: a liberdade da forma no direito civil é aplicado de forma mais extensa do que
no direito comercial, de forma a promover as relações mercantis, exemplo disso são os
seguintes artigos; 96 º do C. Com a liberdade de língua nos títulos comerciais", art 97⁹ do
C.Com "admissibilidade da correspondência telegráfica e seu valor", o art 396 do C. Com
"prova" e o art 398º do C. Com "entrega a terceiro e entrega simbólica". Contudo, o direito
comercial consagra um regime de liberdade de prova mais aberta que o direito civil.
4.2) • Solidariedade: A solidariedade resulta da lei ou da vontade das partes (art 513 º do
Civ), assim nas obrigações civis a regra é a conjunção. Nas obrigações comerciais, ao passo
das obrigações civis impede a regra da solidariedade dos coobrigados. No art 100 º do C.
Com. Os actos de comércio unilaterais em que não há solidariedade separam os obrigados.
No art 101 º do C.Com, consagra a solidariedade do fiador de obrigação mercantil
mesmo não sendo comerciante.
4.4) • Onerosidade: nos actos de comércio existe este principio de onerosidade, pois exprime
visar o lucro da atividade comercial (do art 102 º do C. Com, que estabelece a contagem de
juros em todos os débitos comerciais). Os juros podem ser legais se decorrem de forma legal
e convencionais se resultarem de estipulação das partes, remuneratórios ou moratórios mistos
estão sujeitos à lei comercial. "A empresa é uma organização criada por um empresário com
um determinado património, que visa o lucro, sendo a empresa um agente jurídico"
5) Conceito de empresa
O conceito de empresa tem vindo a evoluir como podemos verificar no art 230º do C. Com
onde eram consideradas empresas as actividades produtivas, como a indústria e os serviços
baseadas na especulação sobre o trabalho. O empresário era aquele que prestava
determinados bens ou serviços usando como principal fator produtivo o trabalho de outrem.
Deste modo, o estudo da empresa no direito comercial determina o seu conteúdo, a sua
composição, a sua natureza jurídica mercantil, a análise dos negócios jurídicos que tem por
objeto a tutela de cada empresa.
5.1.1) • Empresa como sujeito: refere-se a empresa sob o perfil da pessoa que exerce uma
atividade económica de produção de bens ou serviços. Ou seja, à própria pessoa que
organiza e conduz a atividade suportando o risco.
5.1.4) • Empresa como conjunto activo de elementos: a empresa é vista como um circulo
de atividades regidas pelo empresário fazendo apelo aos fatores e elementos de
natureza heterogénea atuando sobre um património de coisas que da origem a
relações jurídicas económicas sociais.
5.2) Classificação das empresas
Desta forma, surgem empresas públicas: sociedades constituídas nos termos da lei comercial
em que o Estado exerce uma influência dominante e em termos empresariais as pessoas
coletivas de direito público que tem por objectivo exercer atividades económicas,
nomeadamente, a produção ou comercialização de bens ou serviços criadas pelo Estado. As
empresas participadas são as organizações empresariais, em que o Estado detém de forma
direta ou indirecta uma participação permanente.
5.3) Estabelecimento Comercial
A palavra empresa tem natureza polissémica, podendo ser vista em diferentes acepções
consoante o contexto em que seja inseridasentido subjectivo, serve para designar em primeira
linha o comerciante (o comerciante em nome individual e as sociedades comerciais), e numa
segunda linha integrando ainda os colaboradores ou trabalhadores com os quais o empresário
desenvolve a actividade empresarial. Empresa entendida como actividade reporta-se à
actividade económica exercida pelo empresário de forma profissional e organizada com vista
a realização de fins de produção ou troca de bens e serviços (artigo 230.º do Código
Comercial).
O estabelecimento comercial pode ser objecto de negócios jurídicos que têm vista a sua
transmissão definitiva (trespasse) ou temporária (cessão de exploração ou locação), podendo
ainda ser dado como garantia (penhor). Sempre que o negócio jurídico em causa seja um
trespasse61, a ideia subjacente é a transmissão da unidade jurídica (estabelecimento) em si,
incluindo todos os seus elementos essenciais para o funcionamento normal do
estabelecimento (caso contrário, não se configuraria tal negócio como um trespasse, sendo
necessário celebrar tantos contratos quantos os elementos que se pretende transmitir). Nisso
consiste a essência do trespasse: a transmissão do estabelecimento como um todo. Quer
consista numa compra e venda, doação, entrada para uma sociedade comercial dação em
cumprimento, a nossa lei continua a exigir que o trespasse seja feito por escritura pública
(artigo 1118.º, n.º 3, do Código Civil, secundado pela alínea k) do artigo 89.º do Código do
Notariado).
O que pressupõe um estabelecimento comercial:
5.3.2) • Um acervo patrimonial: engloba um conjunto de bens e direitos, das mais variadas
categorias e naturezas, que têm em comum a afectação à finalidade coerente a que o
comerciante os destina.
5.3.4) • Uma organização: os seus elementos não são meramente reunidos, mas sim entre
conjugados, interrelacionados, hierarquizados, segundo as suas especificas naturezas
e funções especificas, por forma que do seu conjunto possa emergir um resultado
global: a actividade mercantil visada.
5.3.5) • Uma organização funcional: a sua estrutura e configuração, a sua identidade própria
advém-lhe de um determinado objecto, que é uma actividade de determinado ramo
da economia; actividade que, entretanto, será necessariamente uma actividade de fim
lucrativo das que cabem na matéria mercantil, ou seja, no âmbito material do direito
comercial. Só assim se pode falar de um estabelecimento comercial (sem embargo de,
com aquela, se poderem conjugar actividades de outra ordem). O termo estabelecimento
admite no nosso direito positivo diversos significados, que surgem
na nossa lei dois artigos:
2- Não há trespasse:
a) Quando a transmissão não seja acompanhada de transferência, em conjunto, das
instalações, utensílios, mercadorias ou outros elementos que integram o estabelecimento;
5.4.1) • O comerciante em nome individual como diz o art. 13º do C.Com em que distingue
os
comerciantes que são pessoas singulares.
5.4.2.5) • A atuação no próprio nome: para que uma pessoa possa adquirir a qualidade de
comerciante, é necessário que seja exercida pelo próprio comerciante.
6) Títulos de crédito
O termo crédito vem de credere que dá a ideia de confiança, a mesma que o devedor merece
do credor na troca de um bem presente por outro futuro. Em sentido amplo, título de crédito
tem muitas vezes sido definido como o documento escrito donde constam direitos de créditos
constituídos. E, em sentido estrito, como o instrumento que se destina a facilitar a circulação
do crédito. Assim contribui grandemente para o desenvolvimento do crédito que é essencial
para os comerciantes, por colocar a sua disposição modos de transferência de direitos
próprios para as exigências do comércio. Os títulos de crédito constituem títulos executivos,
por força do art 46.º. al. c), do Código de Processo Civil . Os títulos de crédito, quanto à
natureza do seu emitente, podem ser privados (se emitidos por sociedades comerciais) ou
públicos (se emitidos pelo Tesouro ou pelo Banco Nacional de Angola). Já quanto à forma
de circulação, os títulos de crédito classificamse como nominativos, à ordem ou ao portador.
Quanto aos títulos nominativos, indica-se a identidade do seu titular, havendo lugar a
inscrição no livro de registo, pelo que a sua circulação se faz através do endosso e da entrega
real do próprio título. Esses são os mais seguros devido às formalidades exigidas por lei para
a sua transmissão. No que respeita aos títulos à ordem, eles são transmissíveis por endosso,
por ordem de pagamento dada pelo beneficiário e constante do verso do título, ou ainda “pela
declaração de transferência feita nas costas do título pelo endossante que pode transmitir
desta forma o direito representado no título para um beneficiário individualizado ou nos casos
de endosso ao portador ou de endosso em branco para um beneficiário indeterminado”
(artigo 11 à 14 LURL. L e artigo 14º a 16 LURCH.). Já os títulos ao portador não
identificam o seu titular e circulam mediante simples entrega, sem qualquer outra
formalidade, o que aumenta o risco de apropriação ilegítima.
A letra de câmbio consiste num documento escrito e assinado que incorpora um direito de
crédito pecuniário, circulando por meio de endosso, enquanto a livrança consiste numa
promessa de pagamento emitida por um subscritor a favor de um dado beneficiário. Ambas
são de elevada utilização no dia-a-dia das empresas, sendo reguladas entre nós pela Lei
Uniforme Relativa às Letras e Livranças (LURLL). Os cheques são títulos geralmente
emitidos à ordem, sacados por um banco, pagos imediatamente, e pressupondo sempre uma
provisão, ou seja, fundos depositados na respectiva conta bancária. Entre nós são regulados
pela Lei Uniforme Relativa ao Cheque. Estima-se que o cheque seja o título de crédito mais
usado actualmente em Angola, sendo o valor limite de aceitação de dez milhões de
kwanzas. Em Angola utiliza-se ainda o warrant, que é um documento que garante haver
mercadorias depositadas nos armazéns das alfândegas, funcionando como garantia de
empréstimo uma vez que as mercadorias apenas são levantadas mediante apresentação do
warrant.
Já a guia de transporte é um título de crédito que comprova que o navio, avião ou outro
meio de transporte recebeu ou receberá um carregamento (mercadoria) ou passageiro,
sendo se ampla utilização entre nós. No que respeita às acções, elas são títulos representativos
de uma fracção do capital social das sociedades anónimas. Em Angola, as acções das
sociedades anónimas são ainda integralmente representadas por títulos, que podem ser
nominativos ou ao portador. Em algumas situações, como é o das instituições financeiras, a
lei exige que as acções representativas do seu capital sejam sempre nominativas. Tal
exigência explica-se pela necessidade de o Banco Nacional de Angola controlar onde reside a
titularidade do capital social dos Bancos angolanos, e de evitar o branqueamento de capitais.
A presença das novas tecnologias faz-se também sentir ao nível dos títulos de crédito. Em
2017 veio dar-se um passo no sentido da desmaterialização, permitindo-se que as sociedades
anónimas pudessem registar as acções e as obrigações que emitem em suporte electrónico,
afastando-se deste modo o tradicional registo em suporte de papel. A utilização de títulos de
acções escriturais será o próximo passo, permitindo que as acções passem a ser registadas
numa conta de depósito de títulos aberta em nome do proprietário. Estes títulos não possuem
números de ordem e são concretizados (materializados) com a inscrição em certas
instituições financeiras e em nome dos respectivos titulares, não havendo movimentação
física de documentos (o que torna muito difícil haver extravio de títulos).
6.2) • Nota promissória: Esse tipo de título funciona como uma garantia de pagamento.
Dessa maneira, juntamente com um contrato, a nota promissória é assinada pelo comprador
que deve pagar determinado valor, em uma data estabelecida. É recibo que comprova o
pagamento só é entregue ao comprador após o pagamento ser efetuado.
6.3) • Letra de câmbio: O nome letra de câmbio pode confundir as pessoas, por acharem que
a palavra câmbio se refere à moedas. Contudo, as letras de câmbio, na verdade, são um tipo
de título de crédito emitido por uma instituição financeira.
6.3) • Cheque: Os cheques são um tipo de ordem de débito usado para realizar um
pagamento.
7) Registo comercial
Assim, todos oscomércio é obrigado a proceder ao seu registro. Não obstante, constatamos
que, entrenós, uma generalidade dos comércio em nome individual não efectua tal registro. Já
comosociedades comerciais realizam inevitation of seu registro, pois este é um contrato
essencialpara um obtenção da personalidade jurídica coletiva.
Sem pré-juízo das diferentes existências entre os diversos tipos legais quanto à estrutura
orgânica, modo de transferência das participações ou capital social mínimo, uma grande
diferença entre os tipos de responsabilidade da responsabilidade dos setores perantes como
dívidas sociais. De fato, como sociedades por cotas e como sociedades anónimas são
consideradas sociedades de responsabilidade limitada, quantidade que como sociedades em
nome coletivo e como sociedades em comandita são vistas como sociedades de
responsabilidade ilimitada. É certificado por estarazão que nos últimos anos em Angola não
há nota de que se tenham constituinte sociedades em nome coletivo ou sociedades em
comando. O tipo social que mais tem vindo a ser utilizado entre nós é, indubitavelmente, uma
sociedade por cotas.
Contudo chegamos a conclusão, para que as empresas angolanas cresçam e contribuam para o
desenvolvimento da economia do nosso país, é necessário que se fomente no seio dos
empresários uma cultura empresarial que promova as boas práticas empresariais. O legislador
angolano não está alheio a tal facto, e foi criando já um quadro legal adequado a evitar
conflitos de interesses e a responsabilizar os administradores das empresas. Contudo, o
grande desafio está em conseguir promover uma verdadeira mudança de mentalidade nos
empresários (tanto nos empresários públicos como no sempresários privados), passando as
boas práticas do quadro legal para a prática empresarial.
Também o Executivo tem de estar ciente de que o bom governo das empresas é factor
decisivo para o crescimento de qualquer economia, pois tais práticas promovem a
optimização do desempenho empresarial, impulsionam a concorrência entre as empresas,
atraem financiamento externo, criam negócios sustentáveis e contribuem para a salvaguarda
da reputação (e do valor) das empresas. E estando ciente, logo tomará medidas adequadas
para a nomeação dos conselhos de administração e dos conselhos fiscais das empresas
públicas e com domínio público, promovendo uma adequada supervisão do funcionamento
destes órgãos, exercendo verdadeiramente o seu papel de accionista.
É preciso depurar o nosso tecido empresarial, bem gerir as empresas que nele se mantêm,
para que se robusteça o tecido empresarial nacional e se promova o crescimento económico
do país, beneficiando, desta forma, todos os angolanos.
10) Referências Bibliográficas
Lei n.o12 / 05
–Dos Valores Mobiliários, publicada no Diário da República, I Série, n.o 114,de 23 de
Setembro de 2005.
– VARELA, ANTUNES, “Anotação a STJ 16-Fev-1967”, RLJ, 1000 (1968), págs. 266 e ss.
– VENTURA, RAUL, Estudos vários sobre sociedades anónimas, Almedina, Coimbra, 1992.