Você está na página 1de 15

1.

Introdução

1.1) Evolução histórica do Direito Comercial.

Há notícias de que a atividade comercial já era praticada desde a Antiguidade por vários
povos, principalmente pelos fenícios. No entanto, neste período, esta atividade ainda não se
encontrava bem difundida e organizada, posto que a mesma ainda não era submetida a
normas e princípios específicos, mas sim a um direito comum dos cidadãos e aos usos e
costumes vigentes em cada região. Portanto, apesar da constatação da existência de legislação
na idade antiga que abarcava as relações comerciais, como por exemplo o Código de Manu
na India, o Código de Hammurabi da Babilônia, e ainda o influente direito civil romano
compilado no tão famoso Corpus Júris Civile de Justiniano, tais sistemas jurídicos primitivos
não são suficientes para considerar a existência de um direito comercial autônomo nesta
época.

Neste sentido, são elucidativas as palavras do professor Fran Martins (MARTINS, 2001, p.
03): "Não se pode, com segurança, dizer que houve um direito comercial na mais remota
antiguidade. Os fenícios, que, são considerados um povo que praticou o comércio em larga
escala, não possuíam regras especiais aplicáveis às relações comerciais."

Portanto, o direito comercial como um sistema autônomo só veio a desencadear-se na idade


média, na medida em que o fomento das relações comerciais se encontrava tão consolidado
na sociedade, que os comerciantes passaram a organizar-se em corporações, com o intuito de
definir as regras e diretrizes que deveriam balizar o desenvolvimento do comércio. A partir
de então, através de uma estrutura de classe organizada, os comerciantes passam a
elaborar as normas que iriam regular a sua atividade quotidiana, e que deveriam ser aplicadas
por eles mesmos, já que era designado um julgador, denominado de consul, necessariamente
membro da corporação, para com base nas normas estabelecidas mediar os conflitos que por
ventura aparecessem. Logo, nota-se que os comerciantes na idade média não só elaboravam
suas próprias leis, como também estavam sujeitos à jurisdição própria. O direito comercial,
na sua origem autônoma, surgiu como um direito corporativo o qual deveria ser aplicado
apenas aos comerciantes matriculados nas corporações, característica esta que culminou na
construção da teoria subjetiva, marcando o estudo deste ramo do
direito.

Com o passar do tempo, a concepção do direito comercial como o direito dos comerciantes
matriculados nas corporações foi perdendo sentido, pois paralelamente a esta realidade, o
comércio também era praticado por pessoas que não faziam parte dessas organizações de
classe, e que inclusive se utilizavam de institutos, como a letra de câmbio, que foi criada na
época para facilitar a circulação de mercadorias. Situação curiosa era quando um comerciante
inscrito numa corporação mantinha negociação com um comerciante que não fazia parte de
nenhuma corporação. Neste caso a competência do juízo consular deveria estender-se ao
comerciante não matriculado.

Por outro lado, com a ascensão do mercantilismo e o consequente enfraquecimento do


sistema feudal, o Estado passou por um processo de consolidação que exerceu grande
influência na elaboração de legislações comerciais que possuiam aplicabilidade ampla a
todos.
2) Definições de Direito Comercial

O direito comercial (ou mercantil) é um ramo do direito que se encarrega da regulamentação


das relações vinculadas às pessoas, aos actos, aos locais e aos contratos do comércio. O
direito comercial é um ramo do direito privado e abarca o conjunto de normas relativas aos
comerciantes no exercício da sua profissão. A nível geral, pode-se dizer que é o ramo do
direito que regula o exercício da actividade comercial. Pode-se fazer a distinção entre dois
critérios dentro do direito comercial. O critério objectivo é aquele que diz respeito aos actos
de comércio em si mesmos. Em contrapartida, o critério subjectivo relaciona-se com a pessoa
que desempenha a função de comerciante. O direito comercial não é estático, uma vez que se
adapta às necessidades mutáveis das empresas, do mercado e da sociedade em geral. Porém,
são sempre respeitados cinco princípios básicos: trata-se de um direito profissional (na
medida em que resolve conflitos próprios dos empresários), individualista (faz parte do
direito privado e regula relações entre particulares), consuetudinário (tem por base os
costumes dos comerciantes), progressivo (evolui ao longo do tempo) e internacionalizado
(adapta-se ao fenómeno da globalização).

Por fim, o direito comercial visa estruturar a organização empresarial moderna e regular o
estatuto jurídico do empresário, entendendo-se como tal a pessoa que realiza actos de
comércio. Por outro lado, os actos de comércio são aqueles que são levados a cabo com a
finalidade de uma forma mais simples, o direito comercial, é um corpo de normas,
conceitos e princípios jurídicos que, no domínio do direito privado regem os factos e as
relações jurídicas comerciais. E é um ramo de direito privado especial, já que
estabelece uma disciplina para as relações jurídicas que se constituem no campo do
comércio, a qual globalmente se afasta da que o direito civil, como ramo comum,
estabelece para a generalidade das relações jurídicas privadas.

A noção do direito comercial é o direito privado especial do comércio, no qual surge a


noção
de comércio- atividade de medição entre a produção e o consumo dos bens que consiste na
compra e revenda das mercadorias, com o objetivo na obtenção de lucro. O direito comercial
aplica-se tanto ao comércio como à indústria, como às outras atividades de prestação de
serviços.

O direito comercial não regula todas as atividades económicas, pois são excluídas o
artesanato (art. 230° e 464 do C. com) e a agricultura (art. 230° e 4649 do C. Com.).
3)Actos de Comércio

Considerando o art. 2 º  do Código Comercial "Serão considerados actos de comércio todos


aqueles que se encontrarem especialmente regulados neste Código e, além deles, todos os
contratos e obrigações dos comerciantes, que não forem de natureza exclusivamente civil, se
o contrário do próprio acto não resultar". Neste âmbito os actos a que o legislador se refere
devem ser entendidos num sentido amplo, alargado, e não no sentido restrito genericamente
utilizado no código de conduta humana, pois abrange qualquer facto jurídico que se verifique
no contexto das actividades comerciais (ex: contratos, negócios unilaterais), sejam
involuntários (ex: expirar determinado prazo pelo decorrer do tempo) ou voluntários (quer
lícitos quer ilícitos), e negócios jurídicos.

Os actos de comércio podem ser:

3.1) • Objetivo e Subjetivo: os objetivos são regulados pela lei comercial, os subjetivos são
aqueles que a lei atribui comercialidade pela circunstância de serem praticados por
comerciantes. Estes actos pressupõe a qualidade de comerciante de quem os pratica,
ao passo que os actos objetivos são adequados para atribuir qualidade a quem os
pratica de forma profissional (art 13º do C. Com).

3.2) • Absoluto e Acessórios: os absolutos são comerciais devido à sua natureza intrínseca
que radica do próprio comércio, ou seja, são actos gerados pelas necessidades da vida
comercial. Existem duas espécies de actos, uns (a maior parte) que são actos caraterizados
por atividades que tornam o objetivo do Direito Comercial e os outros são os actos em razão
da sua forma, ou seja, do objeto sobre o qual incidem.

3.3) • Substancialmente e Formalmente comerciais: os actos formalmente comerciais são


regulados na lei comercial que permanece aberto para dar cobertura a qualquer conteúdo, mas
abstraem no seu regime do objecto, como por exemplo: letras, livranças e cheques. Os atos
substancialmente comerciais são aqueles que representam atos próprios de atividades
materialmente mercantis. Contudo, no art 139º do C.Com só adquire a qualidade de
comerciante quem pratica actos substancialmente comerciais, sendo irrelevante a prática de
actos formalmente mercantis.

3.4) • Causais e Abstratos: o acto causal é todo o acto que a lei regula a realizar uma
determinada causa função jurídico económica, ao passo que os actos abstratos revelam uma
multiplicidade de causas funções que dele resulta uma vida independente, como por
exemplo: a letra de câmbio em que pode estar subjacente uma compra e venda. Contudo, o
acto abstrato tem sempre subjacente um outro ato jurídico que é a causa mediata.
Bilateralmente comerciais e Unilateralmente comerciais: os bilaterais têm carater comercial
em relação a duas partes. Os unilaterais são atos que apenas são comerciais em relação a uma
das partes e civis em relação à outra. O regime jurídico dos actos bilateralmente comerciais
são diferentes pois não suscitam dúvidas, enquanto os actos unilateralmente que por vezes
suscita dúvidas em saber se serão sujeito ao regime da lei civil ou da lei comercial. A
solução está no art 99 º do C. Com, em que os actos.
4) Regras dos actos comerciais

Os actos de comércio implicam a tomada de conhecimento de regras gerais aplicáveis a estes


actos jurídicos e às obrigações comerciais. Regras essas que se manifestam em valores e
necessidades que conferem autonomia e especialidade ao direito comercial. São elas:

4.1) • Forma: a liberdade da forma no direito civil é aplicado de forma mais extensa do que
no direito comercial, de forma a promover as relações mercantis, exemplo disso são os
seguintes artigos; 96 º do C. Com a liberdade de língua nos títulos comerciais", art 97⁹ do
C.Com "admissibilidade da correspondência telegráfica e seu valor", o art 396 do C. Com
"prova" e o art 398º do C. Com "entrega a terceiro e entrega simbólica". Contudo, o direito
comercial consagra um regime de liberdade de prova mais aberta que o direito civil.

4.2) • Solidariedade: A solidariedade resulta da lei ou da vontade das partes (art 513 º do
Civ), assim nas obrigações civis a regra é a conjunção. Nas obrigações comerciais, ao passo
das obrigações civis impede a regra da solidariedade dos coobrigados. No art 100 º do C.
Com. Os actos de comércio unilaterais em que não há solidariedade separam os obrigados.
No art 101 º do C.Com, consagra a solidariedade do fiador de obrigação mercantil
mesmo não sendo comerciante.

4.3) • Prescrição: o art 317 º do C.Civil, estabelece à prescrição presuntiva, no prazo de


dois anos, dos créditos dos comerciantes pelas vendas de objetos do seu comércio a
Não comerciantes que não destinem ao seu comércio. O devedor comerciante não pode
beneficiar da prescrição, porque a lei privilegia a boa-fé e segurança das relações jurídicas
mercantis. No entanto, se o comerciante beneficiasse a curto prazo, o devedor seria
favorecido à concessão de créditos entre comerciantes.

4.4) • Onerosidade: nos actos de comércio existe este principio de onerosidade, pois exprime
visar o lucro da atividade comercial (do art 102 º do C. Com, que estabelece a contagem de
juros em todos os débitos comerciais). Os juros podem ser legais se decorrem de forma legal
e convencionais se resultarem de estipulação das partes, remuneratórios ou moratórios mistos
estão sujeitos à lei comercial. "A empresa é uma organização criada por um empresário com
um determinado património, que visa o lucro, sendo a empresa um agente jurídico"
5) Conceito de empresa

O conceito de empresa tem vindo a evoluir como podemos verificar no art 230º do C. Com
onde eram consideradas empresas as actividades produtivas, como a indústria e os serviços
baseadas na especulação sobre o trabalho. O empresário era aquele que prestava
determinados bens ou serviços usando como principal fator produtivo o trabalho de outrem.

A evolução da ciência económica levou à conceção da importância da empresa para a criação


e a circulação da riqueza. A empresa é vista sob varias perspectivas: obcjeto constituída pelos
bens dispostos pelo empresário para o exercício da atividade, contrapõe se a empresa como
sujeito com direitos e obrigações próprios. Segundo, Ferrer Correia “a visão da empresa
como um todo é uma visão interdisciplinar e o seu estudo global é entendido ao jeito
tradicional”.

Deste modo, o estudo da empresa no direito comercial determina o seu conteúdo, a sua
composição, a sua natureza jurídica mercantil, a análise dos negócios jurídicos que tem por
objeto a tutela de cada empresa.

5.1) Vários sentidos jurídicos da empresa:

5.1.1) • Empresa como sujeito: refere-se a empresa sob o perfil da pessoa que exerce uma
atividade económica de produção de bens ou serviços. Ou seja, à própria pessoa que
organiza e conduz a atividade suportando o risco.

5.1.2) • Empresa como actividade: é exercida pelo próprio empresário de forma


profissional e
organizada, com vista à realização de fins de produção ou troca de bens e serviços.

5.1.3) • Empresa como objecto: refere-se a organização do conjunto de fatores de produção


e de outros elementos pelo empresário com vista no exercício da sua atividade.
Neste contexto que podemos dizer que a empresa e o estabelecimento comercial são
sinónimos.

5.1.4) • Empresa como conjunto activo de elementos: a empresa é vista como um circulo
de atividades regidas pelo empresário fazendo apelo aos fatores e elementos de
natureza heterogénea atuando sobre um património de coisas que da origem a
relações jurídicas económicas sociais.
5.2) Classificação das empresas

As empresas classificam-se segundo:

5.2.1) • O seu objeto económico: as empresas agrícolas e as empresas comerciais. Estas


abrangem todos os que desempenham uma das atividades qualificadas na lei. Aparece, assim,
a dimensão das empresas classificadas em pequenas, médias e grandes que foi fixado um
critério legal pelo IAPMEI. No Cod do Trabalho no art 91 º classifica as empresas em
microempresas consoante o número de trabalhadores.

5.2.2) • A sua Dimensão: Pequenas, Médias e Grandes empresas. O Estado intervém na


vida económica a partir da 1ª Guerra mundial, onde assume um papel importante no
desempenho social surgindo, assim, os organismos administrativos empresariais com
objetivos de produzir o fornecimento a terceiros de bens e serviços. Foi aí que apareceram as
sociedades comerciais em que o Estado assume participações sociais. Surgem as primeiras
empresas públicas durante o Estado Novo, em 1975, com estrutura empresarial e tendo por
objeto a produção de bens ou serviços participando no mercado em paridade com os
empresários privados.

Desta forma, surgem empresas públicas: sociedades constituídas nos termos da lei comercial
em que o Estado exerce uma influência dominante e em termos empresariais as pessoas
coletivas de direito público que tem por objectivo exercer atividades económicas,
nomeadamente, a produção ou comercialização de bens ou serviços criadas pelo Estado. As
empresas participadas são as organizações empresariais, em que o Estado detém de forma
direta ou indirecta uma participação permanente.
5.3) Estabelecimento Comercial

A palavra empresa tem natureza polissémica, podendo ser vista em diferentes acepções
consoante o contexto em que seja inseridasentido subjectivo, serve para designar em primeira
linha o comerciante (o comerciante em nome individual e as sociedades comerciais), e numa
segunda linha integrando ainda os colaboradores ou trabalhadores com os quais o empresário
desenvolve a actividade empresarial. Empresa entendida como actividade reporta-se à
actividade económica exercida pelo empresário de forma profissional e organizada com vista
a realização de fins de produção ou troca de bens e serviços (artigo 230.º do Código
Comercial).

Por último, em sentido objectivo, empresa é sinónimo de estabelecimento comercial. Assim,


o conceito de empresa pode ser entendido em sentido subjectivo, como actividade ou em
sentido objectivo. Em Na Lei das Actividades Comerciais60, o conceito de estabelecimento
comercial assume o carácter de imóvel; porém, do ponto de vista factual, o estabelecimento
comercial é muito mais do que um mero imóvel, visto que ele integra um conjunto mais vasto
de elementos.

Desta feita, os elementos corpóreos incluem as mercadorias, compreendendo as matérias-


primas, os produtos semi-acabados e os produtos acabados, as máquinas e utensílios, os
veículos e os instrumentos destinados a serem directamente utilizados nas tarefas do
estabelecimento, o caixa, etc. Já os elementos incorpóreos englobam todos os direitos
inerentes ao estabelecimento, designadamente o direito ao arrendamento ou resultante de
comodato do imóvel, direitos reais de gozo (no caso de usufruto do imóvel), direitos que
resultam das vendas, empréstimos, locações; direitos que resultam dos contratos de trabalho,
direitos que resultam de outros contratos que estão estritamente relacionados com a esfera da
actividade mercantil tais como o de agência, distribuição, concessão comercial, e em especial
os direitos de propriedade industrial (patentes, modelos e desenhos, marcas, nome e insígnia
do próprio estabelecimento). Quanto ao aviamento (aptidão que o estabelecimento tem para
gerar lucro) e à clientela, eles não são elementos integrantes do estabelecimento, mas antes
posições de facto de valor económico que não são susceptíveis de constituírem o objecto de
um direito subjectivo, não obstante elas são tuteladas pelo direito, não enquanto bens
autónomos, mas por influírem na atribuição de valor aos restantes bens integrantes do
estabelecimento.

O estabelecimento comercial pode ser objecto de negócios jurídicos que têm vista a sua
transmissão definitiva (trespasse) ou temporária (cessão de exploração ou locação), podendo
ainda ser dado como garantia (penhor). Sempre que o negócio jurídico em causa seja um
trespasse61, a ideia subjacente é a transmissão da unidade jurídica (estabelecimento) em si,
incluindo todos os seus elementos essenciais para o funcionamento normal do
estabelecimento (caso contrário, não se configuraria tal negócio como um trespasse, sendo
necessário celebrar tantos contratos quantos os elementos que se pretende transmitir). Nisso
consiste a essência do trespasse: a transmissão do estabelecimento como um todo. Quer
consista numa compra e venda, doação, entrada para uma sociedade comercial dação em
cumprimento, a nossa lei continua a exigir que o trespasse seja feito por escritura pública
(artigo 1118.º, n.º 3, do Código Civil, secundado pela alínea k) do artigo 89.º do Código do
Notariado).
O que pressupõe um estabelecimento comercial:

5.3.1) • Um titular: ele é um conjunto de meios predestinados por um empresário, titular de


um determinado direito sobre ele, para exercer a sua actividade.

5.3.2) • Um acervo patrimonial: engloba um conjunto de bens e direitos, das mais variadas
categorias e naturezas, que têm em comum a afectação à finalidade coerente a que o
comerciante os destina.

5.3.3) • Um conjunto de pessoas: pode reduzir-se à pessoa do empresário o seu suporte


humano, nas formas mais embrionárias de estrutura empresarial; mas normalmente
engloba uma pluralidade de pessoas, congregadas por diversos vínculos jurídicos, para
actuarem com vista à prossecução da finalidade comum da empresa.

5.3.4) • Uma organização: os seus elementos não são meramente reunidos, mas sim entre
conjugados, interrelacionados, hierarquizados, segundo as suas especificas naturezas
e funções especificas, por forma que do seu conjunto possa emergir um resultado
global: a actividade mercantil visada.

5.3.5) • Uma organização funcional: a sua estrutura e configuração, a sua identidade própria
advém-lhe de um determinado objecto, que é uma actividade de determinado ramo
da economia; actividade que, entretanto, será necessariamente uma actividade de fim
lucrativo das que cabem na matéria mercantil, ou seja, no âmbito material do direito
comercial. Só assim se pode falar de um estabelecimento comercial (sem embargo de,
com aquela, se poderem conjugar actividades de outra ordem). O termo estabelecimento
admite no nosso direito positivo diversos significados, que surgem
na nossa lei dois artigos:

• Art. 11128 do Código Civil «Transmissão da posição do arrendatário».

1 - É permitida a transmissão por acto entre vivos da posição do arrendatário, sem


dependência da autorização do senhorio:
a) No caso de trespasse de estabelecimento comercial ou industrial;
b) A pessoa que no prédio arrendado continue a exercer a mesma profissão liberal, ou a
sociedade profissional de objectivo equivalente.

2- Não há trespasse:
a) Quando a transmissão não seja acompanhada de transferência, em conjunto, das
instalações, utensílios, mercadorias ou outros elementos que integram o estabelecimento;

Comerciante é a pessoa que se dedica, regularmente, à prática do Comércio.


No Direito Comercial, considera-se sujeito mercantil toda a pessoa que realiza um acto de
comércio, ou seja, torna-se objeto de regulação. Os comerciantes estão sujeitos a várias
obrigações especiais que estão definidas no art. 18º do C.Com, tal como outras normas que
consagram o regime especial para atos e obrigações dos comerciantes onde é importante a
determinação da qualidade de comerciante: o valor da escritura mercantil e a prescrição
presuntiva dos créditos dos comerciantes.
5.4) Existem duas espécies de Comerciantes

5.4.1) • O comerciante em nome individual como diz o art. 13º do C.Com em que distingue
os
comerciantes que são pessoas singulares.

5.4.2) • Os comerciantes em nome individual que são pessoas coletivas, ou seja, as


sociedades. As condições indispensáveis à aquisição de comerciante são as
seguintes:

5.4.2.1) • A capacidade: podem exercer o comércio todos os que se acharem livre a


administração de suas pessoas e bens, de acordo com as regras do C. Civ.

5.4.2.2) • A intermediação: em que o comerciante é colocado entre o produtor e o


consumidor.

5.4.2.3) • A especulação do lucro: em que é preciso estar presente.

5.4.2.4) • A profissionalidade: o exercício efetivo.

5.4.2.5) • A atuação no próprio nome: para que uma pessoa possa adquirir a qualidade de
comerciante, é necessário que seja exercida pelo próprio comerciante.
6) Títulos de crédito

O termo crédito vem de credere que dá a ideia de confiança, a mesma que o devedor merece
do credor na troca de um bem presente por outro futuro. Em sentido amplo, título de crédito
tem muitas vezes sido definido como o documento escrito donde constam direitos de créditos
constituídos. E, em sentido estrito, como o instrumento que se destina a facilitar a circulação
do crédito. Assim contribui grandemente para o desenvolvimento do crédito que é essencial
para os comerciantes, por colocar a sua disposição modos de transferência de direitos
próprios para as exigências do comércio. Os títulos de crédito constituem títulos executivos,
por força do art 46.º. al. c), do Código de Processo Civil . Os títulos de crédito, quanto à
natureza do seu emitente, podem ser privados (se emitidos por sociedades comerciais) ou
públicos (se emitidos pelo Tesouro ou pelo Banco Nacional de Angola). Já quanto à forma
de circulação, os títulos de crédito classificamse como nominativos, à ordem ou ao portador.

Quanto aos títulos nominativos, indica-se a identidade do seu titular, havendo lugar a
inscrição no livro de registo, pelo que a sua circulação se faz através do endosso e da entrega
real do próprio título. Esses são os mais seguros devido às formalidades exigidas por lei para
a sua transmissão. No que respeita aos títulos à ordem, eles são transmissíveis por endosso,
por ordem de pagamento dada pelo beneficiário e constante do verso do título, ou ainda “pela
declaração de transferência feita nas costas do título pelo endossante que pode transmitir
desta forma o direito representado no título para um beneficiário individualizado ou nos casos
de endosso ao portador ou de endosso em branco para um beneficiário indeterminado”
(artigo 11 à 14 LURL. L e artigo 14º a 16 LURCH.). Já os títulos ao portador não
identificam o seu titular e circulam mediante simples entrega, sem qualquer outra
formalidade, o que aumenta o risco de apropriação ilegítima.

A letra de câmbio consiste num documento escrito e assinado que incorpora um direito de
crédito pecuniário, circulando por meio de endosso, enquanto a livrança consiste numa
promessa de pagamento emitida por um subscritor a favor de um dado beneficiário. Ambas
são de elevada utilização no dia-a-dia das empresas, sendo reguladas entre nós pela Lei
Uniforme Relativa às Letras e Livranças (LURLL). Os cheques são títulos geralmente
emitidos à ordem, sacados por um banco, pagos imediatamente, e pressupondo sempre uma
provisão, ou seja, fundos depositados na respectiva conta bancária. Entre nós são regulados
pela Lei Uniforme Relativa ao Cheque. Estima-se que o cheque seja o título de crédito mais
usado actualmente em Angola, sendo o valor limite de aceitação de dez milhões de
kwanzas. Em Angola utiliza-se ainda o warrant, que é um documento que garante haver
mercadorias depositadas nos armazéns das alfândegas, funcionando como garantia de
empréstimo uma vez que as mercadorias apenas são levantadas mediante apresentação do
warrant.

Já a guia de transporte é um título de crédito que comprova que o navio, avião ou outro
meio de transporte recebeu ou receberá um carregamento (mercadoria) ou passageiro,
sendo se ampla utilização entre nós. No que respeita às acções, elas são títulos representativos
de uma fracção do capital social das sociedades anónimas. Em Angola, as acções das
sociedades anónimas são ainda integralmente representadas por títulos, que podem ser
nominativos ou ao portador. Em algumas situações, como é o das instituições financeiras, a
lei exige que as acções representativas do seu capital sejam sempre nominativas. Tal
exigência explica-se pela necessidade de o Banco Nacional de Angola controlar onde reside a
titularidade do capital social dos Bancos angolanos, e de evitar o branqueamento de capitais.

A presença das novas tecnologias faz-se também sentir ao nível dos títulos de crédito. Em
2017 veio dar-se um passo no sentido da desmaterialização, permitindo-se que as sociedades
anónimas pudessem registar as acções e as obrigações que emitem em suporte electrónico,
afastando-se deste modo o tradicional registo em suporte de papel. A utilização de títulos de
acções escriturais será o próximo passo, permitindo que as acções passem a ser registadas
numa conta de depósito de títulos aberta em nome do proprietário. Estes títulos não possuem
números de ordem e são concretizados (materializados) com a inscrição em certas
instituições financeiras e em nome dos respectivos titulares, não havendo movimentação
física de documentos (o que torna muito difícil haver extravio de títulos).

A desmaterialização dos títulos de créditos afigura-se também importante na medida em que


os títulos que circulam em suporte em papel têm uma grande tendência para se deteriorar ou
extraviar. Quando isso sucede, há que lançar mão de um processo de reforma (reconstituição)
de títulos, que, em Angola, importa a intervenção do tribunal judicial, tal como previsto nos
art 484º do Código Comercial e 1069.º a 1079.º do Código de Processo Civil. Este
processo é particularmente moroso e oneroso para o proprietário do título.

6.1) • Duplicata: A duplicata é um tipo de título de crédito onde o comprador se


responsabiliza com o pagamento de determinada quantia em uma data estipulada. 

6.2) • Nota promissória: Esse tipo de título funciona como uma garantia de pagamento.
Dessa maneira, juntamente com um contrato, a nota promissória é assinada pelo comprador
que deve pagar determinado valor, em uma data estabelecida. É recibo que comprova o
pagamento só é entregue ao comprador após o pagamento ser efetuado.

6.3) • Letra de câmbio: O nome letra de câmbio pode confundir as pessoas, por acharem que
a palavra câmbio se refere à moedas. Contudo, as letras de câmbio, na verdade, são um tipo
de título de crédito emitido por uma instituição financeira.

6.3) • Cheque: Os cheques são um tipo de ordem de débito usado para realizar um
pagamento. 
7) Registo comercial

O Ministério da Justiça, atravados nas Conservadoras do Registro Comercial, assegura a


inscriçãoe avaliação de um registro comercial permanente atualizado dos atos dos
comerciantes. Este registro é geográfico descendente, existe em Conservatórios de Registro
Comercial em todas as condições do pais. O objetivo primordial do registro comercial é
assegurar uma publicação dos atos doscomércio, modo de conferir maior segurança ao
tráfego mercantil.

Assim, todos oscomércio é obrigado a proceder ao seu registro. Não obstante, constatamos
que, entrenós, uma generalidade dos comércio em nome individual não efectua tal registro. Já
comosociedades comerciais realizam inevitation of seu registro, pois este é um contrato
essencialpara um obtenção da personalidade jurídica coletiva.

Obrigatório de inscrição no registro comercial estende-se ainda às sucursais em


Angola desociedades afastárias, empresas públicas, cooperativas e agrupamentos deempresas.
Observe que o primeiro ato que os comerciantes devem registrar é uma empresa ou um
nomeatravés do qual fingem exercitar uma atividade comercial. Para esse efeito foi criado,
soluço a Egide do Ministério do Comércio, o Ficheiro Central de Denominações Sociais.
Uma inscrição dafirma neste registro não invalida a necessidadee de registar uma mesma
firma no registro comercial.
8) Sociedades comerciais

O conceito de sociedade patente no direito angolano reporta-se um tipo de contrato ( o


contratode sociedade, previsto no Código Civil ) e também uma uma pessoa coletiva ( uma
sociedade ).Uma sociedade tem necessidade de objetivo ou desenvolvimento de uma
atividadeeconomia, atividade pública com natureza civil ( sociedade civil ) ou comercial
( sociedade comercial ). Uma legislação comercial permanente à sociedade civil adotada um
dos tipos legais previstos para como sociedades comerciais ( sociedades civis sob forma
comercial ). Havendo necessidade de modernização ou funcionamento das sociedades
comerciais, foi publicada,em 2004, um Lei das Sociedades Comerciais.

Este diploma, o legislador consagrou ou principio datipografia quanto à constituição de


sociedades comerciais, só pode ser eleito em Angola os seguintes tipos: sociedades em nome
coletivo, sociedades por cotas, sociedades em comandita ( simples ou por ações ) e
sociedades anónimas.

Qualquer um dos tipos legais relacionados a tratamentos de identificação idênticosfirma:


como sociedades em nome coletivo de empresas, incluindo uma firma ou um nome de todos
os seusmembros ou apenas o nome de alguns, accido do adiamento “ & Companhia ”; como
sociedades por cotas estão obrigadas a incluir na sua firma o adiamento “ Limitada ” ou “
Lda. ”; como sociedades em comando devem incluindo sua empresa pelo menos o nome de
um dos setores de responsabilidade ilimitada e o adiamento “ e Comandita ” ou “ em
Comandita ” ( para comosociedades em comando simples ) e “ e Comandita por ações ” ou
“ em Comandita por ações ”( para como sociedades em comando por ações ) e como
sociedades anônimas devem aditar a expressão “ Sociedade Anónima ” ou “ SA ”.

 Sem pré-juízo das diferentes existências entre os diversos tipos legais quanto à estrutura
orgânica, modo de transferência das participações ou capital social mínimo, uma grande
diferença entre os tipos de responsabilidade da responsabilidade dos setores perantes como
dívidas sociais. De fato, como sociedades por cotas e como sociedades anónimas são
consideradas sociedades de responsabilidade limitada, quantidade que como sociedades em
nome coletivo e como sociedades em comandita são vistas como sociedades de
responsabilidade ilimitada. É certificado por estarazão que nos últimos anos em Angola não
há nota de que se tenham constituinte sociedades em nome coletivo ou sociedades em
comando. O tipo social que mais tem vindo a ser utilizado entre nós é, indubitavelmente, uma
sociedade por cotas.

8.1 Distinção entre os diversos tipos de sociedades comerciais

Os tipos de sociedades plasmadas na Lei das Sociedades Comerciais apresentam


diferençasnão relevante que respeita a: responsabilidade dos setores perantes a sociedade e
perante oscredores sociais; estrutura orgânica; transferência das participações sociais e
montante mínimo do capital social e condições de realização das entradas.
 
9) Conclusão

Contudo chegamos a conclusão, para que as empresas angolanas cresçam e contribuam para o
desenvolvimento da economia do nosso país, é necessário que se fomente no seio dos
empresários uma cultura empresarial que promova as boas práticas empresariais. O legislador
angolano não está alheio a tal facto, e foi criando já um quadro legal adequado a evitar
conflitos de interesses e a responsabilizar os administradores das empresas. Contudo, o
grande desafio está em conseguir promover uma verdadeira mudança de mentalidade nos
empresários (tanto nos empresários públicos como no sempresários privados), passando as
boas práticas do quadro legal para a prática empresarial.

Também o Executivo tem de estar ciente de que o bom governo das empresas é factor
decisivo para o crescimento de qualquer economia, pois tais práticas promovem a
optimização do desempenho empresarial, impulsionam a concorrência entre as empresas,
atraem financiamento externo, criam negócios sustentáveis e contribuem para a salvaguarda
da reputação (e do valor) das empresas. E estando ciente, logo tomará medidas adequadas
para a nomeação dos conselhos de administração e dos conselhos fiscais das empresas
públicas e com domínio público, promovendo uma adequada supervisão do funcionamento
destes órgãos, exercendo verdadeiramente o seu papel de accionista.

É preciso depurar o nosso tecido empresarial, bem gerir as empresas que nele se mantêm,
para que se robusteça o tecido empresarial nacional e se promova o crescimento económico
do país, beneficiando, desta forma, todos os angolanos.

 
10) Referências Bibliográficas

 
Lei n.o12 / 05
 –Dos Valores Mobiliários, publicada no Diário da República, I Série, n.o 114,de 23 de
Setembro de 2005.

Decreto n.o 9/05


 – Cria à Comissão de Mercado de Capitais, publicada no Diário Da República, Série, no 33,
de 18 de março de 2005, alterado pelo Decreto Presidencial n.o22/12, publicado no Diário da
República, I Série, n.o 20, de 30 de Janeiro de 2012.BIBLIOGRAFIA

ABREU, Jorge Manuel Coutinho de,Curso de Direito Comercial,


Vol I- Actos de Comércio, Comerciantes, Empresas, Sinais Distintivos, 8a edição, Almedina,
Coimbra,2011.

ABREU, Jorge Manuel Coutinho de,


Curso de Direito Comercial,
Vol II - Das Sociedades,4a edição, Almedina, Coimbra, 2011.
 
 
Almedina, Coimbra,2010. 
KRAAKMAN, R., DAVIES, P., HANSMANN, H., HERTIG, G., HOPT, K., KANDA H.,
ROCK, E., Diritto Societario Comparato. Un Approccio Funzionale, edição italiana de uma
cargade L. Enriques, Ed. Il Mulino, Bolonha, 2006.
 
OLIVEIRA, Joaquim Marques de,
Manual de Direito Comercial Angolano, vol I, Cefolex,Luanda, 2011.
 
OLIVEIRA, Joaquim Marques de,
Manual de Direito Comercial Angolano, vol II, Cefolex,Luanda, 2011.

– VALE, SOFIA, “Direito Comercial”, in O Direito de Angola, Faculdade de Direito da


Universidade Agostinho Neto, Luanda, 2014, págs. 125 e ss, também disponível em
https://www.academia.edu/12773878/O_Direito_ de_Angola_Direito_Comercial_-_2014
(consultado em 12.04.2016).

– VARELA, ANTUNES, Centro Comerciais (shopping centers) – Natureza Jurídica dos


Contratos de Instalação dos Lojistas, Coimbra Editora, Coimbra, 1995.

– VARELA, ANTUNES, “Anotação a STJ 16-Fev-1967”, RLJ, 1000 (1968), págs. 266 e ss.

– VARELA, ANTUNES, “Contratos Mistos”, Boletim da Faculdade de Direito, nº 44,


Coimbra, 1968, págs. 143 e ss.

– VENTURA, RAUL, Estudos vários sobre sociedades anónimas, Almedina, Coimbra, 1992.

Você também pode gostar