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? !!!

Laissez faire,
laissez passer !!!!

DIREITO COMERCIAL
Universidade Autónoma de Lisboa
Ano lectivo 2005/2006

Aulas teóricas: …........................................Dra. Ana Roque


Aulas práticas:………………..................Dra. Nídia Antunes

Bibliografia :
Direito Comercial – Dra. Ana Roque
Direito Comercial e Direito da Empresa – Dr. M. J. A. Pupo Correia

Apontamentos e resumos do curso, não isentos de eventuais erros ("errare


humanum est") "destilados" por António Filipe Garcez José, aluno n° 20021078,
Direito Comercial
 O Direito Comercial procura garantir a
segurança jurídica
 O Direito Comercial garante a tutela eficaz do
comércio.
 O Direito Comercial deve ter em conta a
celeridade dos negócios através da
desburocratização da diminuição do
formalismo e da utilização de contratos de
adesão.
 O Direito Comercial tenta combinar o P° da
segurança simultaneamente com o P° da
celeridade.

 O Direito Comercial obedece ao P° da


Tipicidade ou P° da tipologia rígida
Actos de comércio
Considerações preliminares

Objecto e âmbito do direito comercial

Concepção subjectivista
A primeira concepção que surgiu a definir o objecto e o âmbito do
direito comercial, foi a concepção subjectivista, defendida no
Código Comercial de 1833 de Ferreira Borges.

Segundo a concepção subjectivista, o direito comercial é o


conjunto das normas que regem os actos ou actividades dos
comerciantes, relativos ao seu comércio.

No sistema subjectivista
Parte-se da noção de comerciante para a noção de acto de
comércio, pois só são comerciais os actos praticados por
comerciantes e no exercício do seu comércio, pelo que não se
admitem actos comerciais isolados ou avulsos, sobretudo de não
comerciantes.

Concepção objectivista
A concepção objectivista, é a concepção defendida no Código
Comercial de 1888 de Veiga Beirão, ainda hoje vigente em boa
parte, como revelam os seus artigos 1° e 2° 1ª parte, bem como a
sua sistemática: todo o Livro II é dedicado aos actos de comércio
objectivos (Dos contratos Especiais do Comércio).

Concepção objectivista
Segundo a concepção objectivista, o direito comercial é o ramo de
direito que rege os actos de comércio, sejam ou não comerciantes
as pessoas que os pratiquem.

No sistema objectivista,
Parte-se da noção de acto de comércio para a de comerciante.
São também considerados como comerciais os actos ocasionais,
mesmo que não praticados por comerciantes desde que pertençam
a um dos tipos de actos regulados na lei comercial.
Vejamos o que diz o art. 1° do Código Comercial

Art. 1° C. Com.
Âmbito da lei comercial

A lei comercial rege os actos de comércio, sejam ou não


comerciantes as pessoas que neles intervêm.

Daqui podemos já deduzir que ...

 O Direito Comercial não é um direito exclusivo dos


comerciantes, ...

mas ...

um direito aplicável aos actos de comércio, mesmo que sejam


praticados por não comerciantes

!! O nosso Código concebeu o direito mercantil como o direito


da matéria comercial e não como o direito dos comerciantes !!

 A matéria comercial é delimitada em função do acto de


comércio, tomado num sentido muito amplo,

por forma a abranger não só ...

- os actos,

mas também

- os factos jurídicos

e ainda,
- as actividades mercantis exercidas por comerciantes.

!!! Das normas do Direito Comercial, não é possível extrair


um conceito substancialmente unitário de acto de comércio !!!
Do art. 2° e de outros preceitos do Código Comercial deduz-se
que...

 a expressão “acto de comércio” é utilizada no sentido de ...

Facto jurídico mercantil em sentido amplo,

que inclui...

Factos jurídicos em sentido estrito

Exemplo:
o decurso do tempo ...

na caducidade e prescrição de obrigações sociais, (arts.59°/2 e


174° C.S.C)
... ou na reclamação nas vendas sob amostra (art. 471° C. Com.)

Actos jurídicos lícitos

Exemplo:
a reclamação do dono das mercadorias por danos sofridos
durante o transporte, (art. 385°/2 C. Com.)

Actos jurídicos ilícitos

Exemplo:
uso ilegal de firma (art. 62° RNPC)

Negócios jurídicos bilaterais

Exemplo:
compra e venda (art. 463° C. Com.)

Negócios jurídicos unilaterais

Exemplo:
negócios cambiários, (art. 484° C. Com)
A expressão “actos de comércio” abrange também ...

Factos isolados ou ocasionais

Exemplo:
o aceite de uma única letra, ou uma só compra para revenda

Actividades
Definidas como sendo sucessões ou séries de actos com um
objectivo comum e mais ou menos duradouras, como as actividades
empresariais. (art. 230° C. Com.)

Conceito jurídico e conceito económico de acto de comércio

 Sob o ponto de vista económico, acto de comércio é, por


definição, ...

Todo o acto de intermediação entre produtores e consumidores,


com vista à obtenção de lucro através da especulação, a qual
comporta sempre um elemento de risco.

Dentre as actividades económicas, só as estritamente comerciais


possuem a simultaneidade da mediação e especulação.

Sob o ponto de vista jurídico, o conceito de acto de comércio


adquire uma amplitude tal, que se torna difícil abranger numa
definição sintética todos os actos que são, ou devem ser, regulados
na legislação comercial

Como nos mostra o artigo 230° do Código Comercial, ...

 o conceito de matéria comercial é um conceito jurídico e não


um conceito económico, pois ...

 O Direito Comercial disciplina tanto o ...

comércio propriamente dito, como, de um modo geral,

todas as actividades que o legislador considerou deverem


beneficiar do regime específico do Direito Comercial, ... através
das normas qualificadoras, que caracterizam como comercial certa
matéria jurídica, ...
dizendo ...

- quais das empresas são mercantis,


- que negócios são comerciais,
- que pessoas são comerciantes.

Outra questão que se impõe, é a de saber ...

- Qual a importância da qualificação como comercial de certos


actos jurídicos ?

 a determinação da natureza mercantil de um acto jurídico,


tem um duplo interesse técnico e prático :

1. Sob o aspecto do direito privado,

ela influi ...


- nas provas,
- nas formalidades externas,
- na solidariedade das obrigações,
- na prescrição,
- na execução dos contratos,
- etc.

2. Sob o aspecto do direito público,

A determinação da natureza mercantil de um acto jurídico


importa muito para ...

- a verificação das competências


- a organização judiciária
- a forma do processo.

A mera qualificação como comercial de certos actos... é importante

não só para a ...

- determinação do seu regime jurídico,

mas também para a ...

- qualificação como comerciante do respectivo agente,


Esta qualificação tem grande relevância em relação ...

- à qualificação de outros actos


- às obrigações profissionais dos comerciantes
- ao regime do arresto
- à insolvência , etc.

Os actos de comércio estão sujeitos ao regime legal comercial

Os actos de comércio estão sujeitos ao regime legal comercial, o


que quer dizer que são regulados pela lei comercial. Ora, ...

O regime comercial caracteriza-se especialmente por atender ...

- Às especificidades das relações mercantis,

- Às principais exigências da vida comercial.

Quais são estas especificidades e estas exigências?

Celeridade dos negócios


A celeridade dos negócios é conseguida fundamentalmente através
da simplicidade de formas e da facilidade de provas

Simplicidade de formas
A forma exigida para a celebração de certas operações comerciais
é, em regra, comparativamente, mais simples do que a exigida
para os correspondentes actos civis.

Exemplo:
enquanto que um empréstimo entre particulares de quantia superior
a 20 000 € só é válido se for celebrado por escritura pública
(contrato de mútuo, art. 1143° CC), já o empréstimo comercial não
está sujeito a forma especial, seja qual for o seu valor

Facilidade de provas
O regime comercial é substancialmente menos exigente em matéria
de provas;

Exemplo:
o empréstimo comercial admite todo o tipo de provas
Reforço do crédito

- Retribuição dos serviços


- Protecção do estabelecimento
- Protecção da actividade comercial

Importância da classificação dos actos de comércio


- Qual a importância da classificação dos actos de comércio ?

 A classificação dos actos de comércio é importante para permitir


uma densificação das respectivas características, atendendo
a que o legislador não define materialmente acto de comércio.

 O legislador utiliza um conceito legal indeterminado, decorrente


do art. 2° do Código Comercial, que nos diz quais são os actos
de comércio, mas não diz o que eles são, nem faz uma
enumeração explícita, nem exemplificativa, nem taxativa de tais
actos, limita-se a fazer uma enumeração implícita desses actos .

 Nem o art. 2°, nem o art. 230° do C. Com. nos permitem detectar
um conceito material de acto de comércio, uma definição que
indique qual a matéria comercial.

!!! Não há na lei comercial uma definição


material unitária de acto de comércio !!!
Classificação dos actos de comércio
IMPORTÄNCIA

A matéria dos actos de comércio, constituiu durante muitos anos a


matéria básica e central do Código Comercial desde a sua
publicação em 1988.

Hoje em dia, devido à introdução de novas matérias que são


estudadas pelo Direito Comercial, já essa importância do acto de
comércio, é menos relevante

O artigo 2° do Código Comercial distingue claramente entre actos


de comércio objectivos e actos de comércio subjectivos.

OBJECTIVOS E SUBJECTIVOS
Tendo por base a 1ª parte do enunciado normativo do art. 2° do
Código Comercial, ... podemos dizer que...

São actos de comércio objectivos ...


todos os que se encontram especialmente regulados pelo direito
comercial, independentemente de ser ou não comerciante a
pessoa que os pratica. A qualidade comercial é-lhes intrínseca.
(definição da Dra. Ana Roque)

Por outras palavras...

Actos objectivamente comerciais,


são aqueles que conservam a sua natureza comercial mesmo
quando praticados por pessoa que não seja comerciante.

 Esta é uma definição de actos de comércio objectivos por


enumeração implícita, isto é, o preceito não explicita os
actos, remetendo antes para outras disposições normativas,
trata-se de duma definição “em extensão” e não “em
compreensão.
Dentro dos actos de comércio objectivos, podemos distinguir
entre...

- os actos exclusivamente regulados na lei comercial


e ...

- os actos simultaneamente regulados na legislação


civil e comercial.

Reporte (Arts. 477° a 479°)


Conta corrente (arts. 344° a 350°)
Associação em participação (arts. 21°
a 32° do DL 231/81, de 28 de Julho)
Exclusivamente Consórcio ( arts. 1° a 20° do DL
regulados 231/81, de 28 de Julho)
na lei comercial Operações de banco (arts. 362° a 365°)
Operações de bolsa (arts 351° a 361°)
Operações de seguros (terrestres arts.
425° a 462°-marítimos arts. 595° a 615°)
Operações relativas a títulos de
crédito (ex: lei uniforme sobre cheque)

Contrato de sociedade (arts. 980° CC e


1°/2 CSC)
Actos de Compra e venda (arts. 874° CC e 463° C.
Com.)
comércio Penhor (arts. 666° CC e 481° C. Com.)
Objectivos Aluguer (arts. 1022° CC e 491° C.Com)
Regulados na lei
Escambo (arts. 405°, 939° CC e 480° C.
comercial e civil
Com.)
Transporte (arts 405° CC e 366° C.Com)
Mandato (arts 1157° CC e 321° C. Com)
Empréstimo(arts.1142°CC e 394° C.Com)
Depósito (arts. 1185° CC e 403° C. Com)
Qual será o critério de delimitação do âmbito do acto de
comércio ?

 O legislador através da técnica de enumeração implícita por


remissão para os actos que se encontravam regulados no
Código Comercial, ... procura delimitar o âmbito dos actos
de comércio com um critério seguro.

 Mas há alguma dificuldade em encontrar uma definição de


acto de comércio ... que permita ultrapassar os concretos
actos de comércio que são definidos no Código Comercial e
que possa ser utilizada para qualificar, os actos de comércio
extravagantes no Código Comercial.

Não são actos de comércio objectivos as figuras referidas no


Código Comercial sem nenhuma preocupação de regulamentação.

A analogia legis é possível, por aplicação do art. 3° do Código


Comercial, para regular aspectos de regime ... que necessitem de
regulamentação que seja obtida a partir de outras normas.

- Será que o Código Comercial comporta a possibilidade de


extensão da categoria dos actos de comércio nele previstos?

Teoria do acessório,

A teoria do acessório sustenta que também são actos de


comércio objectivos não só os regulados no Código Comercial,
como aqueles que sejam acessórios de actos de comércio
especialmente regulados no Código Comercial.

Esta posição que procurava alargar o elenco dos actos de


comércio objectivos, foi repudiada por quase toda a doutrina.

Isto não quer dizer que,..

não existam actos de comércio objectivos que se encontrem


especialmente regulados como actos de comércio, porque são
acessórios de actos de comércio.
Significado do art. 230° do CCom no quadro dos actos de comércio

Qual o alcance de a lei qualificar estas empresas de


comerciais?

Correntes doutrinárias:

 Uma corrente doutrinária de carácter subjectivo, (Dr. José


Tavares)
O alcance do art. 230° seria de carácter subjectivo, pois consistiria
em atribuir a qualidade de “comerciante” ao titular de qualquer das
empresas ali mencionadas.
Esta corrente doutrinária entende que as “empresas” previstas no
art. 230°, significam o mesmo que “empresários” ou “comerciantes”.
O art. 230° identifica para o efeito da comercialidade as empresas
singulares e as colectivas, pelo que se conclui que as empresas
singulares são também comerciantes.
A enumeração do art. 230° não seria de carácter taxativo, antes
pelo contrário, seria de carácter exemplificativo.

!! – Critica – No art. 13° e ss. fica estabelecido quem é e quem não


é comerciante, logo ... mal se compreende que viesse o art. 230°
atribuir directamente essa qualidade a certos empresários.

Aliás... pode haver pessoas a explorar empresas previstas no art.


230°, sem que por isso adquiram a qualidade de comerciante (por
exemplo, certas associações, fundações, o Estado e autarquias
locais)

A enumeração dos actos comerciais é taxativa, não podendo


recorrer-se à analogia para qualificar uma matéria como comercial.

 Corrente doutrinária de carácter objectivo (Dr. Lobo


Xavier)
O alcance do artigo 230° seria de carácter objectivo, pois tais
empresas não são mais que séries ou complexos de actos
comerciais objectivos
Enquanto outros actos regulados no Código são considerados
isoladamente, isto é, são mercantis mesmo que praticados
ocasionalmente, os actos previstos no art. 230° são comerciais
porque praticados em série, isto é, em repetição orgânica;

 Posição intermediária, subjectiva/objectiva (Dr. Fernando


Olavo)

Segundo Fernando Olavo, o art. 230° consagra a expressão


empresa em sentido subjectivo, reportando-se ao empresário,
comerciante.
O artigo alude às empresas em sentido subjectivo mas vem a
caracterizá-las pelo seu objecto, por aquilo que o empresário há-de
exercer, em suma, pela empresa em sentido objectivo.

Agora pergunta-se...

Mas quais são os actos objectivos? Todos os actos praticados


na exploração dessas empresas?

Os defensores da corrente objectivista


dirão que são actos objectivos somente os contratos em que o
exercício da empresa tipicamente se traduz , pois são eles que
patentemente se revelam nos vários n°s do art. 230° . Os restantes
serão subjectivamente comerciais, nos termos da 2ª parte do art. 2°

Para o Dr. Pupo Correia pouco interessa saber se esses actos


serão objectiva ou subjectivamente comerciais, o que é relevante é
que os actos praticados no exercício de uma das actividades
abrangidas pelo art. 230°, serão sempre actos de comércio, por
não terem natureza essencialmente civil (como diz a 2ª parte do
artigo 2°) e por serem praticados por um comerciante no âmbito
com o seu comércio.
A actividade comercial é pois um encadeado de actos interligado e
duradouro

Para concluir a matéria sobre os actos de comércio objectivos,


diremos que ...

Os actos de comércio que estiverem regulados no Código


Comercial e em outras leis, em razão dos interesses do
comércio, são qualificados como objectivamente comerciais ...

em função de ...

- requisitos ligados com o seu próprio conteúdo (por


serem actos de intermediação nas trocas)

e em função de

- circunstâncias (actos de massa, actos em série ou


integrados numa empresa – actividade organizada)

 Os actos de comércio objectivos, são adequados para atribuir


a qualidade de comerciante a quem os pratica de forma
profissional, daí a grande importância desta categoria face aos
arts. 13°/1 CCom e 1°/2 CSC

Actos de comércio subjectivos


São actos de comércio subjectivos todos os actos dos comerciantes
que não tenham natureza exclusivamente civil, se o contrário não
decorrer do próprio acto.

Na 2ª parte do art. 2° do Código Comercial, são


referidos todos os contratos ou obrigações dos comerciantes
que não forem de natureza exclusivamente civil, se o contrário
não resultar do próprio acto, ou seja,...

Só há acto de comércio subjectivo quando estejamos perante um


acto praticado por comerciante que não possa receber a
qualificação, nos termos do Código Comercial, de acto de comércio
objectivos.

A 2ª parte do art. 2° do C.Com. estabelece a comercialidade de


actos que respeitem 3 requisitos que hão-de ser provados:

1°) Requisito positivo: “serem de comerciantes”


2°) Requisito negativo: “não serem exclusivamente de natureza
civil”

3°) Requisito negativo: “nem deles resultar não estarem


conexionados com o comércio dos respectivos comerciantes.

Actos de comércio subjectivos–são os factos jurídicos voluntários


dos comerciantes, conexionáveis com o comércio em geral e de
que não resulte não estarem conexionáveis com o comércio dos
seus sujeitos

O art.º 13 do Código Comercial ...

... dá-nos 2 categorias de comerciantes,

 por um lado nos termos do nº 2 as sociedades comerciais,


 por outro lado nos termos do nº 1 as pessoas que tendo
capacidade para praticar actos de comércio, fazem deste
profissão.

O comerciante há de ser encontrado pelo recurso a um destes


índices do art.º 13 nº1 ou nº2.

Encontrado assim o comerciante, temos que um acto praticado


pelo comerciante, diz-nos o art.º 2, 2ª parte, é um acto de
comércio subjectivo,

só não será um acto de comércio subjectivo, se se vier a


demonstrar, uma de duas situações em termos alternativos,
bastando a aplicação de uma delas para que se exclua a
qualificação de acto de comércio subjectivo.

- Ou o acto praticado pelo comerciante tem uma


natureza exclusivamente civil,
- ou o acto praticado pelo comerciante não tem nada
a ver com o comércio do comerciante, isto vem
previsto na parte final do art.º 2.

O que é um acto exclusivamente civil ?

 Um acto de natureza exclusivamente civil é um acto que à


partida nada tem a ver com o comércio.
 O acto que nunca poderá ser regulado no Código Comercial ou
não poderá estar relacionado com o comércio do comerciante.
 O acto que não possa estar regulado no Código Comercial,
porque contraria a lógica comercial.

exemplos:

- os actos regulados pelo Direito da Família, o casamento, etc.

ABSOLUTOS E POR CONEXÃO (ou acessórios)


Absolutos

São actos absolutos, aqueles cuja comercialidade lhes advém de si


próprios

Os actos de comércio absolutos são-no por natureza, pois é essa a


sua razão de ser.

Trata-se de actos criados para satisfazer necessidades próprias da


actividade comercial

Exemplo: a compra e venda de coisas móveis para revenda (art.


463°), a troca (art. 480°)

Por conexão ou acessórios

Entende-se por actos comerciais por conexão ou acessoriedade,


aqueles cuja comercialidade lhes advém de se acharem
intimamente relacionados com outro acto de comércio

Exemplo: o mandato comercial (art. 231°), penhor (art.377°),


empréstimo (art. 894°), depósito (art. 403°)

Nos actos por conexão podemos encontrar ...

Actos acessórios de actos de comércio objectivos e absolutos


mandato para a compra de uma mercadoria destinada a revenda)

Actos acessórios de comércio objectivos mas acessórios


( mandato para o depósito de mercadorias que o mandante
comprou para serem revendidas)
Actos acessórios de actos subjectivamente comerciais
(mandato para a compra de caixas-registradoras destinadas ao
supermercado do mandante)

Podemos portanto encontrar...

conexões objectivas ou subjectivas e ainda conexões directas


e indirectas ... consoante a conexão se faça com um acto absoluto
ou com outros actos por conexão.

SUBSTANCIAIS E FORMAIS
Substanciais
Serão substanciais os actos de comércio que se apresentam como
normais, imbuídos de habitualidade.

São estes actos que, segundo o art. 13° do código Comercial,


conferem a qualidade de comerciante a quem os pratica
profissionalmente

Exemplo: a compra e venda de coisas móveis para revenda (art.


453°)

Formais
Os actos formais são, actos de comércio previstos na lei comercial,
mas passíveis de utilização em contexto não comercial.

Exemplo: o cheque (Lei Uniforme do Cheque).

Existem disposições da lei comercial que prevêem e regulam certos


esquemas formais que permitem a realização de operações
económicas de tipo muito diverso, que podem ou não corresponder,
em si mesmas, a actos de comércio.
No entanto se forem preenchidos os requisitos formais que a lei
prevê, estaremos perante um acto de comércio.

Exemplo: a letra de câmbio

Suponha-se que “A” , não comerciante, vende o seu automóvel a


“B” , também não comerciante, destinando-se a viatura ao uso do
comprador (compra e venda não comercial art. 464°/1 C.Com)
Suponha-se ainda que o preço não é logo pago e as partes
convencionam a emissão de uma letra de câmbio – sacada por “A”
e aceite por “B”. Estes negócios cambiários, o saque e o aceite, são
actos de comércio, apesar de a sua comercialidade ser puramente
“formal”. No entanto, a comercialidade formal da letra não
determina, por si só, a aplicação do regime do preceito, ... sendo
para isso necessário que a operação subjacente se traduza num
acto substancialmente mercantil
A comercialidade terá que ser provada pelo portador da letra,
se este quiser beneficiar do disposto no art. 10°, sobre as dívidas
substancialmente comerciais

CAUSAIS E ABSTRACTOS
Causais
São actos de comércio causais os que a lei comercial regula para
assegurar que é atingido um determinado objectivo em total
segurança jurídica.

Esta classificação não é típica dos actos de comércio.

Exemplo:
a instituição do gerente comercial, como forma de representação
reconhecida de um comerciante por outrém (art. 248°)

Abstractos
Consideram-se actos abstractos os que são destinados à realização
de um conjunto de objectivos cuja origem é ou pode ser
indeterminada

Abstractos, são os actos que para além de poderem preencher


várias funções, existem independentemente da causa, por não
exercerem influência na vida do negócio.

Exemplo:
A letra é um acto de comércio abstracto, uma vez que pode ter sido
originada por um conjunto diversificado de causas.(Lei Uniforme
das letras e livranças)
PUROS E MISTOS
Trata-se de uma distinção que se reveste de importante significado
prático.

Puros
Acto de comércio puro é aquele que é comercial relativamente a
todas as partes nele intervenientes.

Exemplo:
É o que acontece quando dois comerciantes compram e vendem
entre si, no âmbito do seu comércio.

Exemplo:
“A” produtora de automóveis, vende, no quadro de um contrato de
concessão comercial, x automóveis ao seu concessionário ”B” – a
venda é acto de comércio e a compra é também comercial
(art. 463°/1)

Mistos
Designa-se misto o acto de comércio que apenas é comercial
relativamente a algum ou alguns dos sujeitos, sendo civil
relativamente ao outro ou outros intervenientes.

Exemplos :

- É o que acontece quando nós, não comerciantes, fazemos as


compras domésticas num supermercado, ou compramos um
simples jornal num quiosque.

- “E”, professor, compra um automóvel a “B” para seu uso e da


sua família (a venda é objectivamente comercial art. 463°/3) a
compra é civil (art. 464°/1)

 O objectivo da distinção entre actos de comércio puros e


mistos é apenas o de chamar a atenção para o facto dos
actos de comércio objectivos e subjectivos poderem ser puros
ou mistos
Qual o regime jurídico que deve aplicar-se aos actos
unilateralmente comerciais ?

- O código comercial institui o sistema da unidade com


primazia do direito comercial (art. 99° C.Com), pelo qual,
mesmo face a actos de comércio unilaterais, se aplicará a lei
comercial quanto a todos os contraentes.

- A lei comercial aplica-se ao acto unilateralmente comercial,

e...

- Ao comerciante aplicam-se ainda todas as disposições legais


específicas.
Regras dos actos de comércio

P° da onerosidade
Os actos de comércio são sempre remunerados, salvo estipulação
expressa em contrário.

Ex: a remuneração do mandatário (art. 232° C.Com.),


a onerosidade do depósito (art. 404° C.Com.)

Quanto à forma

P° da liberdade ou da consensualidade
Princípio simplificador dos actos (art. 219° CC), com especial
relevância no direito comercial, por razões da celeridade das
relações mercantis.

Ex: O empréstimo comercial (art. 396° C. Com.) prescinde da exigência de forma.

O regime comercial é substancialmente menos exigente que o


regime do Código Civil em matéria de provas;

Ex: O reconhecimento da força probatória prevalente aos livros dos corretores (art. 98°
C. Com.).)

Quanto à solidariedade passiva

P° da solidariedade passiva
O Código Comercial não segue a preferência civilista pela
responsabilidade conjunta (art. 516° CC), estabelecendo o regime
regra da responsabilidade solidária no âmbito das obrigações
comerciais (art.100° C.Com.). [filipe1] Comentário: Art.º 100.º -
Regra da solidariedade nas obrigações
comerciais
Nas obrigações comerciais os co-
Mas, ... obrigados são solidários, salva
estipulação contrária.
§ único. Esta disposição não é
Esta regra destina-se aos comerciantes, pelo que, nos actos de extensiva aos não comerciantes quanto
aos contratos que, em relação a estes,
comércio unilaterais, não se aplica o regime de responsabilidade não constituírem actos comerciais.

solidária para os obrigados não comerciantes relativamente aos


quais o acto não revestir comercialidade.

Excepto ...

na fiança , que nunca admite excepção (art.101° C.Com.)


Quanto à

Responsabilidade dos cônjuges por dívidas comerciais

 Nas relações mercantis vigora um regime que faz alastrar


para o património do casal as dívidas do cônjuge comerciante.

 Existe uma presunção juris tantum que faz articular as dívidas


comerciais do cônjuge comerciante com o seu exercício da
actividade mercantil (art. 15° C. Com.) [filipe2] Comentário: Art.º 15.º -
Dívidas comerciais do cônjuge
comerciante
As dívidas comerciais do cônjuge
Quanto à prescrição comerciante presumem-se contraídas
no exercício do seu comércio.

prescrição presuntiva
Vigora a prescrição presuntiva no prazo de dois anos, para a
prescrição dos créditos dos comerciantes (art. 317°/b) C.C.) pelas
suas vendas a não comerciantes, (ou sendo comerciantes, adquiram os bens
para uso privado)

 Se o devedor for comerciante fica afastada a prescrição de


curto prazo, devido à necessidade de reforçar a segurança
jurídica.

Quanto a juros

 Na actividade comercial vigora a regra da existência de juros


em todos os débitos (art. 102° C. Com.). [filipe3] Comentário: Art.º 102.º -
Obrigação de juros
Haverá lugar ao decurso e contagem
de juros em todos os actos comerciais
 Existem ... em que for de convenção ou direito
vencerem-se e nos mais casos
especiais fixados no presente Código.
juros legais § 1 .º A taxa de juros comerciais só
pode ser fixada por escrito.
quando decorrem de norma jurídica § 2.º Aplica-se aos juros comerciais o
disposto nos artigos 559.º, 559.º-A e
1146.º do Código Civil.
§ 3.º Poderá ser fixada por portaria
juros convencionais conjunta dos Ministros da Justiça e das
quando decorrem de acordo entre as partes. ... e podem ser... Finanças e do Plano uma taxa
supletiva de juros moratórios
relativamente aos créditos de que
sejam titulares empresas comerciais,
Juros remuneratórios, singulares ou colectivas.
quando são devidos pela fruição de um bem ... ou ...

Juros moratórios
quando indemnizam pelo prejuízo decorrente de atraso do
devedor.
Títulos de crédito
Título de crédito
É um documento escrito e subscrito, nominativo, à ordem ou ao
portador (quanto à forma de transmissão), que contém uma ordem ou uma
promessa de pagamento de uma soma em dinheiro ou quantidade
de mercadorias, com vencimento determinável e com vocação de
circulabilidade

 O título de crédito está ligado a certos factos que radicam no


crédito concedido por uma pessoa a outrém.

Noção de crédito
O crédito consiste numa dilação entre uma prestação e a
contraprestação respectiva

Características dos títulos de crédito

O crédito pode ter, no negócio, um carácter...

Instrumental
Só há lugar ao crédito quando se verifica deferimento temporal
entre a entrega de uma coisa e o respectivo pagamento. ou ...

Essencial
Nos contratos de empréstimo, o crédito é a razão de ser do negócio

Incorporação ou legitimação
Característica que se manifesta pelo facto do título de crédito ter de
ser detido pelo sujeito que pretende accionar o direito nele contido,
seja em termos de mero exercício, ou para proceder à sua
transmissão.

À incorporação está associada a....

Literalidade
É a forma própria de expressão do direito constante de cada título
de crédito e invocável pelo seu legítimo titular.

Circulabilidade
Característica inerente à sua própria razão de ser, ou seja, a
faculdade de poderem circular no mercado, como factor de
realização da dinâmica económica assente na credibilidade
conferida pelo Direito.

Autonomia
A autonomia dos títulos de crédito tem duas vertentes....

face à relação prévia


O título de crédito é autónomo face à relação prévia que o originou,
pois ele é novo, diferente e distanciado juridicamente do direito
subjacente ou fundamental que lhe pré-existiu.

Face à cadeia de portadores


O título de crédito é autónomo face à cadeia de portadores que
antecederam o titular.

Algumas espécies de títulos de crédito

Letra de câmbio
A letra de câmbio é o título de crédito mediante o qual...

Uma pessoa – o sacador ...

ordena a outra – o sacado...

que pague incondicionalmente...

a si – sacador/tomador...

ou a terceiro – tomador ...

uma certa quantia em dinheiro numa determinada data.

A letra contém diversos ...

- negócios jurídicos cambiários,


- unilaterais,
- típicos e ...
- nominados

a saber...
a saber...

- o saque - (arts. 1° a 10° da LULL)

- o endosso - (arts. 11° a 20°)

- o aceite - (arts. 21° a 29°)

- o aval - (arts. 30° e 32°)

Livrança
Livrança
É um título de crédito pelo qual ...

uma pessoa – emitente ou subscritor ...

declara que pagará a outra, ou à sua ordem - tomador ...

uma certa quantia em época bem determinada.

Cheque
Cheque
É uma ordem de pagamento à vista, devendo ser pago no momento
da sua apresentação ao banco sacado, descontando-se o
respectivo valor, do depósito do sacador ou emitente do cheque em
causa.
Dos Comerciantes
Art.º 13.º - Quem é comerciante ?

- Qual a importância de saber quem é comerciante ?

1° - Porque os actos de comércio subjectivos são actos dos


comerciantes, ou seja, são actos cuja comercialidade resulta do
facto de terem sido praticados por um comerciante.

2° - Porque os comerciantes têm direitos e obrigações próprias

Categorias

O artigo 13° do Código Comercial distingue duas categorias de


comerciantes:

- “As pessoas que, tendo capacidade para praticar actos de


comércio, fazem deste profissão”.

- “As sociedades comerciais”.

Pessoas

 O preceito n°1 do artigo 13° do Código Comercial refere-se às


pessoas singulares (comerciante em nome individual) através
da referência especial à “profissão” como atributo das pessoas
singulares, exigindo uma prática continuada, o exercício por
conta própria e um mínimo de organização.

 O n°1 deste art. 13° não abrange nem entidades de direito


público, nem outras pessoas colectivas de fim não lucrativo
(associações e fundações) porquanto, por força do princípio da
especialidade (art. 160°/1 C. Civil) tais pessoas não podem
dedicar-se ao exercício habitual do comércio; porque se tais
entidades se dedicassem ao comércio como actividade
primordial, então assumiriam a qualidade de sociedades
comerciais irregulares, que não são comerciantes (arts. 38°, 39°
e 40° do CSC) pois a matrícula só abrange, além dos
comerciantes em nome individual e das sociedades, as outras
entidades específicamente referidas nos arts. 2° a 8° do CRC
(Dec-Lei n°403/86, de 3-12), entre as quais não se contam as
pessoas colectivas sem fim lucrativo ( excepto os ACE)
COMERCIANTE EM NOME INDIVIDUAL

Art.º 13.º

Quem é comerciante ?

São comerciantes:

1.º As pessoas, que, tendo capacidade para praticar actos de


comércio, fazem deste profissão;
2.º As sociedades comerciais

O n° 1 refere-se específicamente a pessoas singulares

 Recorrendo ao elemento histórico, considera-se que o


preceito n°1 se refere específicamente a pessoas
singulares, em virtude de ter como fonte o artigo 18° do
Código Italiano de 1882.

 Através da referência especial à “profissão”, como atributo


das pessoas singulares, exigindo uma prática continuada, o
exercício por conta própria.

Qualidade de comerciante em nome individual

3 Requisitos :

1. – Matrícula (presunção juris tantum da qualidade de comerciante) [filipe4] Comentário: ILÍDIVEL

(art. 18°/3 ) (art. 1° Código do Registo Comercial)

2. – Personalidade jurídica (art. 66° C. Civil)

3. – Capacidade comercial

Liberdade de acesso à actividade mercantil


(Dec-Lei 339/85, de 21 de Agosto)
Capacidade de exercício
Exercício profissional de comércio
(Prática regular e sistemática (prática reiterada)
Matrícula
Elemento inscritivo do comerciante, que não constitui condição
suficiente para a aquisição da qualidade de comerciante, mas mera
presunção da situação jurídica (art. 11° CRC), embora seja um acto
essencial do Código do Registo Comercial (art. 55°/1/a) CRC) e o
registo seja obrigatório.(art. 2° CRC)

Pode-se ser comerciante sem estar matriculado

Pode-se estar matriculado sem ser comerciante

Personalidade jurídica
Susceptibilidade de ser sujeito de direitos e obrigações
(arts. 66° e 67° CC)

Capacidade

Em matéria de capacidade temos de conjugar o art. 13° do C.


Com. com o art. 7°do mesmo código

Art.º 7.º

Capacidade para a prática de actos de comércio

Toda a pessoa, nacional ou estrangeira, que for civilmente capaz de


se obrigar, poderá praticar actos de comércio, em qualquer parte
destes reinos e seus domínios, nos termos e salvas as excepções
do presente Código.

 A capacidade jurídica (arts. 66° e 67° do C. Civil) divide-se em


capacidade de gozo e capacidade de exercício.

 No que respeita à capacidade comercial o que nos interessa é a


capacidade de exercício.

Para sabermos se determinada pessoa tem capacidade


comercial, temos de ver...

1°- Se essa pessoa é civilmente capaz

2°- Se, apesar de civilmente capaz, existe ou não no Código


Comercial alguma disposição que a iniba de praticar actos de
comércio.
Conjugando o artigo 13° do Código Comercial com o artigo
230° do mesmo diploma, temos que...

Por um lado ...

O artigo 13° do Código Comercial distingue duas categorias de


comerciantes:

- “As pessoas que, tendo capacidade para praticar actos de


comércio, fazem deste profissão”.

- “As sociedades comerciais”.

Por outro lado ...

O artigo 230° do Código Comercial diz que haver-se-ão por


comerciais as empresas, singulares ou colectivas, que se dedicam
às actividades ali mencionadas.

 Estas “empresas” não constituem uma terceira categoria de


comerciante, são equiparadas aos comerciantes, integrando-se
em qualquer das duas categorias referidas no art. 13°,
consoante se trate de empresas singulares (comerciantes em
nome individual) ou de empresas colectivas (sociedades
comerciais).

Exercício profissional do comércio

Estatuto do comerciante em nome individual (art. 18° C. Com.)


um conjunto de direitos e de obrigações que o comerciante é
susceptível de adquirir pela aquisição da qualidade de comerciante.

Art.º 18.º
Obrigações especiais dos comerciantes

Os comerciantes são especialmente obrigados

1.º A adoptar uma firma;


2.º A ter escrituração mercantil;
3.º A fazer inscrever no registo comercial os actos a ele sujeitos;
4.º A dar balanço, e a prestar contas.
Estabelecimento comercial
Estabelecimento
É a empresa comercial, enquanto acervo patrimonial do
comerciante, seja ele pessoa singular ou colectiva.

O estabelecimento tem vários elementos:

- um titular
- um património afecto a uma dada finalidade
- pode englobar a actividade de várias pessoas
- sustente uma actividade que se quer lucrativa

O estabelecimento é uma unidade económica ... mas

Pode dividir-se em ...

- elementos corpóreos
o Imóvel onde funciona o estabelecimento, as mercadorias, a
maquinaria, o dinheiro ... e ...

- elementos incorpóreos
os direitos inerentes, a clientela e o aviamento

E.I.R.L
Estabelecimento Individual de Responsabilidade Limitada

Noção - E.I.R.L. é um expediente técnico legal que permite ao


comerciante em nome individual destacar do seu património uma
parte dos seus bens, para a destinar à actividade mercantil. Este
património destacado será o capital inicial do estabelecimento.

Quem ? - Só as pessoas singulares é que podem constituir


um E.I.R.L.. E só é permitido a criação de um E.I.R.L. por pessoa.

A constituição - de um E.I.R.L. faz-se por meio de um


documento particular, excepto se forem efectuadas entradas em
bens diferentes de dinheiro para cuja transmissão seja necessária
escritura pública. Nestes casos, o acto constitutivo do E.I.R.L. terá
de revestir a forma de escritura pública.
O capital mínimo - para a constituição de um E.I.R.L. é de €
5000. Esta verba pode ser realizada em numerário, coisas ou
direitos susceptíveis de penhora, sendo que a parte em numerário
não pode ser inferior a dois terços do capital mínimo.

A administração - do E.I.R.L. cabe ao seu titular, que pode


receber uma remuneração como administrador que em caso algum
excederá o correspondente ao triplo do salário mínimo nacional

Dívidas do E.I.R.L - Dispõe o art. 11º do Decreto-lei n.º 248/86,


que pelas dívidas do EIRL respondem apenas os bens a este
afectados. Isto quer dizer que o património pessoal do titular do
E.I.R.L. não é chamado para o pagamento das dívidas decorrentes
da actividade comercial exercida através do estabelecimento
individual de responsabilidade limitada.

Em caso de falência - Existe uma excepção:, o falido


responde com todo o seu património pelas dívidas contraídas no
exercício da actividade comercial, se se provar que o titular do
E.I.R.L. não observou o princípio da separação patrimonial na
gestão do estabelecimento.

Contas anuais, - o titular do E.I.R.L. deverá, em cada ano


civil, elaborar as respectivas contas constituídas pelo balanço e pela
demonstração dos resultados líquidos. No documento referente às
contas dir-se-á o destino dos lucros.

Registo as contas anuais - As contas anuais, bem como um


parecer sobre estas elaborado por um revisor oficial de contas, têm
de ser depositados na conservatória do registo comercial dentro dos
três primeiros meses de cada ano civil.

Fundo de reserva - O art. 15º do mesmo diploma institui a


obrigatoriedade de criação de um fundo de reserva, ao qual o titular
do E.I.R.L. destinará uma porção dos lucros anuais, que não poderá
ser inferior a 20%, até que esse fundo represente metade do capital
do estabelecimento.
O fundo de reserva só pode ser utilizado:

a) para cobrir a parte do prejuízo acusado no balanço anual


que não possa ser coberta pela utilização de outras reservas;

b) para cobrir a parte dos prejuízos transitados do exercício


anterior que não possa ser coberta pelo lucro do exercício
nem pela utilização de outras reservas;

c) para incorporação no capital.

Transmissão - O E.I.R.L. pode ser transmitido por acto gratuito


ou oneroso. É, igualmente, possível dar em locação, constituir um
usufruto ou um penhor sobre o E.I.R.L.

Elementos do conceito geral da sociedade:

CONTRATO DE SOCIEDADE - Art.º 980º do C. Civil: - “contrato de


sociedade é aquele em que 2 ou mais pessoas se obrigam a
contribuir com bens ou serviços para o exercício comum de certa
actividade económica que não seja de mera fruição a fim de
repartirem os lucros resultantes dessa actividade”.

Elementos específicos de sociedade comercial:

São os quatro elementos que estão presentes em todas as


sociedade civis ou comerciais e mais dois:

1. elemento pessoal
Duas ou mais pessoas. É o principio da pluripessoalidade.
O CSC fere este principio porque há dois tipos de sociedades que
são unipessoais – art.º 488º CSC, as S.A e o art.º 270º-A,
sociedade por quotas unipessoal.
O art.º 7º/2 do CSC também diz que o n.º mínimo de elementos são
dois. As sociedades unipessoais, são, portanto, uma excepção.

2. Elemento patrimonial.
Este instrumento engloba as entradas e os serviços dos sócios de
industria. Nem as sociedades por quotas nem as S.A permitem
sócios de industria – art.º 277º CSC.
3. Elemento imediato ou finalístico.
A actividade económica que não de mera fruição (exclui a
compropriedade)

4. Elementos mediato ou teleológico.


O lucro.

5. o tipo
uma sociedade tem de adoptar um dos quatro tipos.
A sociedade civil pode fazê-lo mas não é obrigada a fazê-lo.
As sociedades comerciais terão de adoptá-lo porque senão não são
sociedade comercial. têm de ter por objecto a prática de actos de
comércio (art.º 1º/2 do CSC).
O art.º 13º do C. Comercial demonstra que as sociedades são
comerciantes natas. Não necessitam de praticar actos de comércio
para serem comerciais. Basta que no seu objecto esteja escrita a
prática de actos comerciais.

Quanto ao objecto – art.º 11º - fala-se em dois tipos de objecto:

o objecto contratual,
ou seja, o que está inscrito no contrato de sociedade;

o objecto de exercício,
ou seja, é o que resulta da actividade da sociedade.
O objecto contratual pode ser mais lato que o objecto de
exercício.

6. elemento organizativo
o art.º 980º do C. Civil já está em conflito com a realidade do art.º
5º do CSC. As sociedades já podem ser constituídas por fusão,
transformação, cisão, diploma legal, pelo art.º 488º e 270º-A do
CSC.

Adaptação da redacção do art.º 980º do C. Civil:

A sociedade (pode ser constituída por) é um negócio jurídico


excepcionalmente unilateral pelo qual uma ou mais pessoas se
obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de certa
actividade económica que não seja de mera fruição e tenha por
objecto a prática de actos de comércio com o fim de obter lucros a
atribuir aos seus sócios e adopte um dos tipos de sociedade
previsto na lei (art.º 1º/2 do CSC)
Distinção entre sociedades e empresas
São dois conceitos juridicamente distintos.

 Dentro do conceito de empresa cabem as cooperativas,


agrupamentos complementares de empresas, estabelecimento
individual de responsabilidade limitada.

 Não há um conceito unitário de empresa.


Cada código quando fala de empresa fala de empresa num certo
sentido.

Relativamente ao elemento pessoal ...

- Nas sociedades comerciais o elemento pessoal são apenas


os sócios.

- Nas empresas o elemento pessoal são também os sócios


mais os trabalhadores, a empresa é mais abrangente.

Exemplo: o art.º 64º CSC refere-se aos deveres de diligência, a ter


pelos gerentes, administradores ou directores de uma sociedade
relativamente aos interesses :

- da sociedade;
- dos sócios;
- dos trabalhadores

Diferença entre empresa e estabelecimento


- uma empresa pode ter vários estabelecimentos. Um
estabelecimento não pode ter várias empresas.

- Os elementos que fazem parte da empresa, como as


cooperativas, não podem ter lucros. As sociedades comerciais
visam o lucro.

- As empresas não têm personalidade jurídica. Têm de estar


encostadas a uma sociedade comercial.
Principio da tipicidade
As sociedades comerciais só podem adoptar um dos quatro
tipos de sociedade previstos no art. 1°/ 2 CSC. Não há
hipóteses de adoptar outros que não um destes quatro. !!!

 O principio da tipicidade das sociedades comerciais tem em


vista a certeza jurídica. Qualquer pessoa em contacto com a
designação da sociedade (S.A, L.da, etc.), com os seus
preceitos, fica a saber a forma organizativa da sociedade com a
qual irá lidar, qual a forma que a sociedade se obriga, se tem
administração, etc., etc.

 Este principio da tipicidade – n.º 2 do art.º 1º do CSC – não


conflitua com o principio da liberdade de contratar do art.º 405º
do C. Civil, porque o contrato de sociedade tem um conteúdo
obrigatório – art.º 9º (S.A) e 272º (S. Quotas), do CSC. E a
partir daí há uma liberdade enorme de inserir cláusulas.

DISTINÇÃO ENTRE AS S.A. E AS RESTANTES SOCIEDADES

O actual art.º 271º do CSC dá duas características essenciais para


distinguir as S.A das restantes sociedades:

- capital por acções


- responsabilidade limitada ao n.º de acções subscritas.

Características das Sociedades Anónimas

1. grande capacidade de obtenção de capitais alheios. Têm


necessidade de uma grande capacidade técnica mas também
financeira. É através da subscrição pública que as S.A captam
os capitais alheios.

2. a responsabilidade dos sócios é limitada ao capital social


que cada um subscreve. Tanto as S.A como as por quotas
são de responsabilidade limitada. Mas enquanto o art.º
271º limita a responsabilidade ao capital subscrito, na
sociedade por quotas a responsabilidade é limitada à
formação do capital social, isto é, os sócios são
solidariamente responsáveis pelos capital não realizado.
Quer uma quer outra sociedade o capital pode ser todo
subscrito ou não. O que é importante é que se realize pelo
menos 30% do capital social. A responsabilidade do sócio na
sociedade por quotas vai para além da sua quota se o capital
social dos outros sócios ainda não estiver realizado. Se ele
estiver realizado não há responsabilidade para além da sua
quota – art.º 197º CSC.

A grande diferença entre a S.A e sociedade por quotas é a


responsabilidade do sócio perante o capital realizado

- nas S.A a responsabilidade é só pela sua quota (acções) e ...

- na sociedade por quotas vai para além da sua quota se o


capital social dos outros sócios ainda não estiver realizado.

3. Afecto – associatis

Nas S.A esta expressão tem um duplo alcance:

- há o accionista empresário que visa os lucros como


contrapartida das suas entradas. Estes sujeitos têm algum
empenhamento nas e pelas sociedades;
- há os accionistas investidores que não se preocupam com os
lucros. Só visam a mais valia entre o valor pelo que adquirem
as acções e o valor pelo que vendem as acções.

Nas Sociedades por quotas há um maior empenhamento


entre o sócio e a própria sociedade na qual o sócio muitas
vezes investe a própria vida.

4. As SA têm uma orgânica mais complexa – (art. 278º).

Há duas modalidades de administração:

- a monista, porque só tem o conselho de administração;


A estrutura monista é a de tradição portuguesa

- a dualista, porque tem dois órgãos principais: o conselho


geral e a direcção.. A estrutura dualista é a de tradição alemã.
Estas últimas têm necessidade de uma assembleia geral.
 Enquanto que nas sociedades por quotas o sócio é
simultaneamente gerente, nas S.A a administração quase
nunca é accionista.

 Os sócios das sociedades por quotas têm o risco das


quotas e da administração.

 À objectivação das S.A contrapõe-se a personalização das


sociedades por quotas.

As S.A. são sociedades de capitais.

As sociedades por quotas são sociedades de pessoas.

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