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Direito comercial

A noção clássica da nossa disciplina é a de que o direito comercial é o direito privado


especial do comercio.
O direito comercial não regula todas as actividades económicas, pois do seu alcance são
excluídas, o artesanato e a agricultura e as profissionais liberais.

Por outro lado,


nem todo o direito aplicável às actividades comerciais é de direito comercial, existindo
inúmeras normas que se aplicam às actividades comerciais, mas que não são de direito
privado, como por exemplo: direito constitucional, direito administrativo, direito fiscal,
direito criminal e outros ramos do direito publico.

Fontes de direito comercial


Temos como fontes do direito comercial:
A lei, que abrange a lei constitucional, a lei ordinária e também as normas
regulamentares.
O direito civil não é fonte do direito comercial, mas sim, como direito subsidiário, um
elemento de integração do regime jurídico das relações comercias.
Os usos e costumes, jurisprudência, doutrina, fontes internacionais ( são recebidas
desde que satisfação os requisitos do art.8º CRP).

A lei civil não é fonte de direito comercial, mas sim, como direito subsidiário, um
elemento de integração do regime jurídico das relações comerciais

19-10

Ato de comercio

Empresas comerciais

Art.230º CCom neste artigo temos 2 situações que o legislador entende que nestas
circunstâncias que estão no art.230º, paragrafo 1 e 2 se ocorrer uma situação dessas,
não se considera comerciais e, no entanto, elas podem visar o lucro, a especulação e a
produção para consumo, mas afastou.

Por outro lado, as actividades ou actos mercantis que têm fins lucrativos, muitas vezes
também podem não ser consideradas actividades comerciais como por ex: o Estado
compra madeiras queimadas numa mata para vender ao preço de mercado ou abaixo
do custo, também aí se considera como empresa comercial, porque ai também o escopo
não é o lucro, não é a especulação, no entanto há ai uma actividade de compra e venda
e não se considera haver lucro.

Por outro lado, há também situações em que no art.17º e 463º CCom, que pode haver
a venda do produto a preço inferior ao custo.

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Por outro lado, temos as cooperativas que desenvolvem actividades e que não têm uma
actividade que pode ter um caracter continuo, duradouro, também tem os seus
trabalhadores assalariados, mas não tem os fins lucrativos.

As entidades públicas empresariais também não são consideradas empresas comerciais


ex: hospitais, tem uma gestão privada, mas o escopo não é o lucro.

Há situações que temos entidades que podem ter uma actividade de produção visando
o consumo ou não, mas praticam actos que não se pode considerar com posição de
trocas, ex: se tiver perante uma situação de fiança, não há aqui qualquer interposição
de trocas, não há aqui questões de lucro e no entanto esse acto é um acto de comercio,
não é obrigatório haver interposição de trocas para podermos também tornar comercio.

A definição de comercio que existe materialmente, não é unitária.


Quer dizer que não há uma definição de acto de comercio única, o que há é actos de
comercio que o legislador os considera actos de comercio pela própria lei, ou então, eles
são actos de comercio porque são praticados por comerciantes.
Se é comerciante em princípio pratica um actos de comercio, se não é comerciante, mas
a própria lei diz, como a fiança é um acto de comercio

Art.1ºCCom, “A lei comercial rege os actos de comércio, sejam ou não comerciantes as


pessoas que neles intervém”, ou seja, estaremos sempre perante a lei comercial sempre
que estivermos perante um acto de comercio, seja uma pessoa colectiva seja uma pessoa
singular. Como não há uma definição unitária de acto de comercio o legislador tem que
dizer.

O art.2 é o artigo chave para nós classificarmos os actos de comercio.


“Serão considerados actos de comércio todos aqueles que se acharem especialmente
regulados neste Código e, além deles, todos os contratos e obrigações dos comerciantes,
que não forem de natureza exclusivamente civil, se o contrário do próprio acto não
resultar.”

Iremos analisar metade do art.2º que diz respeito aos actos de comercio objectivos.
Existem também actos de comercio subjectivos que já é a 2º parte do art.2º.
Subjectivos são todos aqueles praticados por alguém que tenha a qualidade de
comerciante.

Actos de comercio objectivos-


Art2º “Serão considerados actos de comércio todos aqueles que se acharem
especialmente regulados neste Código”.
Acto de comercio objetivo, é os que estão previstos na 1º parte do art.2º. Partiremos de
princípio que estes actos de comercio, são sempre actos voluntário, ou seja, se estivermos
perante actos não voluntários, nós não os pudermos considerar actos de comercio.
Apesar da doutrina divergir, nós só vamos aceitar actos de comercio que são voluntários,
ou seja, implica uma vontade expressa de os praticar.

Para o prof, os actos naturais, não são actos de comercio, só os actos voluntários.
Um acto natural não depende da minha vontade.

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Temos figuras que estão previstas no código civil( direito comum) e no código comercial
Figuras que temos que estão reguladas nos dois: fiança; compra e venda; mandato
(advogado); aluguer; deposito; etc...
Actos que só estão previsto no código comercial serão por exemplo o que está previsto
no art.334º que tem a ver com a conta corrente, art.425 seguro, trespasse art.366º, são
actos que só estão previsto na lei comercial.

Ainda existem actos que estão em lei extravagante, é a lei que foi criada após o código
comercial ter sido elaborado. Ex: as que regulam os cheques, são também vistas como
actos de comercio objectivos.

Acto de comercio é qualquer acto que pode surgir no desenvolvimento de uma actividade
mercantil Ex: fiança, penhor, mandato, cheque.
Estão inerentes à actividade comercial no sentido objetivo no sentido em que a lei remete
para elas.
É objetivo porque a lei remete para lá, está previsto.
Uma liderança é um acto de comercio porque a lei remete para lá, está previsto, porque
depois pode haver que é o que está a faltar a 2º parte do art.2º é a subjetividade, porque
se eu fizer isso enquanto pessoa singular e não como comerciante esse acto pode ser
considerado um acto de comercio, só que é considera um acto de comercio objetivo, como
me falta a qualidade de comerciante, aplica-se a lei comum, não se vai aplicar a lei
comercial.

O acto de comercio será objetivo, mas depois também terá que ser subjectivo, ou seja,
está previsto em disposições da lei, mas depois também tem que haver aqui a qualidade
de comerciante.

Eu possuo uma sociedade, compro um carro para oferecer à minha mulher, a compra e
venda é um acto de comercio que está previsto na lei comercial, mas está sujeito à lei
comercial?
Eu quando fiz, fiz na qualidade de comerciante ou não?
E pratiquei esse acto para o desenvolvimento da actividade ou não?
É que se não, ele é uma acto privado. Eu pratiquei um acto de comercio objetivo e falta a
parte subjectiva a qualidade de comerciante, praticar o acto enquanto comerciante, essa é
a 2º parte do art.2º.

Art.2º estes actos de comercio que estão na 1º parte do art.2º são actos de comercio
objectivos que estão previstos ou na lei comercial ou na lei extravagante, são
objectivamente actos de comercio.
Quando no art.2º diz que “ estão regulados neste código” temos que fazer uma
interpretação extensiva, isto é, temos que ir às leis extravagantes .

Os actos de comercio seriam os que estão ao abrigo da lei comercial seriam todos aqueles
que são praticados e estão na lei comercial e interpretados extensivamente e praticados
como comerciante.

Temos dois artigos chave para os actos de comercio objectivos

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• Actos de comercio objectivos - serão os que cabem dentro da 1º parte do art.2º
e serão aqueles que também estarão previstos no art.230º.
Estes são os 2 artigos chave para falarmos de actos de comercio objetivo.

O art.230º diz quais são as empresas consideradas comerciais.


Se são consideradas empresas comerciais, os actos que elas praticam são
considerados actos de comercio objectivos.

TAC- teoria do acto de comercio- tem a ver com a 1º parte do art.2º.


Como é que classifica o acto praticado pelo Sr. X, numa determinada sociedade ou numa
determina empresa, como é que o classifica quanto à teoria do acto de comercio?
E no âmbito do art.230º como é que o classificam?
- Teremos que ir para a teoria jurídica da empresa

TJE- teoria jurídica da empresa

No fundo os actos de comercio, são os contratos especiais de comercio que estão


previstos aqui no nosso código e por isso é que eles dizem que estão especialmente
regulados neste código.

Qualificar quanto à TAC, temos que ir pela 1º parte do art.2º


Classificar quando à TJE, temos que ver que cabe dentro do art.230º

Ex: o “A” agricultor, comprou batatas ao “B” para depois vender.


-Contrato de compra e venda está previsto na lei comercial, é para revenda, preenche
mais um requisito para se considerar uma acto de comercio, mas, entretanto, o
legislador afastou este tipo de actividade das empresas comerciais, por isso, esse acto
que ele praticou é o acto de compra e venda, mas que vai ser sujeito ao direito comum
(direito civil), não se vai aplicar a lei comercial.

Quando o acto está afastado como objetivo, está afastado como subjectivo.

Art.463º também é importante para conjugar, porque ele trata também de compra e
vendas comerciais.
Quando num caso pratico apareça um contrato de compra e venda tem que ser
praticado de acordo com o 463º, são consideradas comerciais coisa moveis para
revender.
Ex: tenho um acto de comercio que é de compra e vende, está previsto na lei civil como
na lei comercial. Vou ao art.230º e foi praticado pelas empresas que não estão afastadas
da classificação objectiva de empresas comerciais, ela é uma empresa comercial, no
entanto quando eu vou analisar o contrato de compra e venda, vejo que aquela compra
e venda não foi para revenda, logo à partida aquele compra e venda é um acto de
comercio objetivo, até foi praticado no âmbito de uma empresa prevista no 230º, mas
não preenche aquele requisito da revenda, ela terá que ser vista ao abrigo da lei civil e
não da lei especial.

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Vejamos o art.463º
“São consideradas comerciais:
1.º As compras de cousas móveis para revender, em bruto ou trabalhadas, ou
simplesmente para lhes alugar o uso;
2.º As compras, para revenda, de fundos públicos ou de quaisquer títulos de crédito
negociáveis;
3.º A venda de cousas móveis, em bruto ou trabalhadas, e as de fundos públicos e de
quaisquer títulos de crédito negociáveis, quando a aquisição houvesse sido feita no
intuito de as revender;
4.º As compras e revendas de bens imóveis ou de direitos a eles inerentes, quando
aquelas, para estas, houverem sido feitas;
5.º As compras e vendas de partes ou de acções de sociedades comerciais

Vejamos o nº1, se for a compra de uma coisa móvel que não seja para revender, não é
considerada comercial, então aplica-se a lei civil e não a comercial, no entanto o acto
em si, seria objectivamente um acto de comercio, porque é a compra e venda, porque
está previsto a compra e venda na lei comercial, só que a compra e venda não foi para
revenda, então não é considerada comercial, então aplica-se a lei civil e não a lei
comercial.

Teremos que passar também pelo art.464º


“Compras e vendas não comerciais
Não são consideradas comerciais:
1.º As compras de quaisquer cousas móveis destinadas ao uso ou consumo do comprador
ou da sua família, e as revendas que porventura desses objectos se venham a fazer;
2.º As vendas que o proprietário ou explorador rural faça dos produtos de propriedade
sua ou por ele explorada, e dos géneros em que lhes houverem sido pagas quaisquer
rendas;
3.º As compras que os artistas, industriais, mestres e oficiais de ofícios mecânicos que
exercerem directamente a sua arte, indústria ou ofício, fizerem de objectos para
transformarem ou aperfeiçoarem nos seus estabelecimentos, e as vendas de tais objectos
que fizerem depois de assim transformados ou aperfeiçoados;
4.º As compras e vendas de animais feitas pelos criadores ou engordadores.”

Ex: comprou carro para dar à mulher, compra e venda está previsto na lei comercial,
segundo a teoria do acto de comercio (TAC) é um acto de comercio objectivo, mas
depois de saber que a compra foi feita não para revender( visa o lucro), mas para
oferece, então o art.464º diz que, se a compra for para familiares, então é para esquecer
porque elas não são comerciais, se não são comerciais a compra e venda é regida pelo
direito civil. A importância disto é, suponhamos que ele não paga o carro e tem uma
divida, quem paga a divida não é a sociedade porque o acto não é comercial e no então
objectivamente é um acto de comercio, só que foi automaticamente afastado pelo
art.464º.

DIREITO COMERCIAL SLIDES


(Delimitação da matéria comercial, ou seja, quais os atos e relações jurídicas que se
devem considerar comerciais, isto é, que têm natureza jurídica comercial)
Artigo 1.º Código Comercial

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“ A lei comercial rege os atos de comércio (…)”
✓ Qualquer facto jurídico verificado na esfera das atividades mercantis:
▪ Factos jurídicos naturais ou involuntários; (não seguido pelo Professor Coutinho
de Abreu)
▪ Factos jurídicos voluntários, quer lícitos, quer ilícitos;
▪ Negócios jurídicos voluntários (contratos);
▪ Atos resultantes de atividades comerciais ocasionais ou isoladas;
A importância dos artigos 2.º e 230.º do Código comercial para a delimitação da
matéria comercial:
❖ TEORIA DO ATO DE COMÉRCIO (TAC)
➢ Artigo 2.º Código Comercial

❖ TEORIA JURÍDICA DA EMPRESA (TJE)


Artigo 230.º Código Comercial (afinal também este art.º como uma disposição do
Código comercial

Caso prático n.º 1


Alberto é educador de infância estando casado com Elvira, que trabalha como manicura
num espaço cedido dentro de um supermercado. Como as suas vidas não andam a
correr muito bem, decidiram abandonar a sua anterior profissão, e tornarem-se
empresários de pastelaria.
Alberto é um excelente pasteleiro, e tem um amigo de infância (Cristiano) que vive
na província produzindo cereais de todo o tipo, muito apetecíveis nas pastelarias
lisboetas. Esse seu amigo vem todos os dias a Lisboa trazer os cereais encomendados
por Alberto. A pastelaria fez logo um enorme sucesso, mas este foi abruptamente
interrompido pela instalação, a 50 metros, de uma loja da “Padaria Portuguesa” que,
por se integrar numa rede de franchising, conseguia praticar preços muito competitivos,
ficando o negócio de Alberto em dificuldades.
Suponha agora que a Padaria Portuguesa celebrou um contrato com Cristiano, nos
termos do qual Cristiano forneceria cereais à Padaria, e se vinculava a comprar bolos e
pão à Padaria Portuguesa, que iria revender ao público na sua região, assumindo
o compromisso de o fazer de acordo com a política comercial da Padaria Portuguesa,
sujeitando-se ao controlo desta.

a) Como qualifica os atos praticados por Cristiano, de acordo com a teoria dos atos
de comércio (TAC)?
b) E de acordo com a teoria jurídica da empresa (TJE)?

Tendo em conta ambas as teorias, será importante ter em conta dois momentos:

1. Cristiano, num primeiro momento, exerce uma atividade agrícola, nos termos do art.º
464º §2º do C.Com.
a. Teoria dos atos de comércio (TAC) - O art.º 1.º do Ccom diz que “a lei comercial rege
os atos de comércio, sejam ou não comerciantes as pessoas que nele intervêm”, e
segundo o art.º 2.º, 1.ª parte, “serão considerados atos de comércio todos aqueles que
se acharem especialmente regulados neste código”. Ora, o código comercial contem

C.Ramos 6
uma disposição legal que rege a venda que o proprietário ou explorador rural faça dos
produtos de propriedade sua ou por ele explorada (…), mas como se pode verificar pela
epígrafe do art.º 464.º, mais concretamente no n.º 2 do Ccom, não a considera
comercial. Deste modo, não estaríamos perante um ato de comércio em sentido
objetivo, desde logo, porque não é considerada uma venda comercial.
b. Teoria Jurídica da Empresa (TJE) - No que toca à TJE, a empresa de Cristiano seria
uma empresa agrícola, e mesmo quando transporta cereais para Lisboa, a sua empresa
é uma empresa acessória da empresa agrícola, sendo dominante o risco do fator terra,
e não o risco de capital, não sendo por isso, para efeitos do §2 art.º 230º, uma empresa
comercial, mas sim civil.

2. Num segundo momento, quando a sua atividade principal passa a ser a compra e
revenda de bolos, estaremos para efeitos da teoria dos atos de comércio, no âmbito do
art.º 463º §1, comprando Cristiano os bolos para revenda. Deste modo, estaríamos
perante um ato de comércio em sentido objetivo, regulado pelo direito comercial.

22-10

O que é uma empresa?


- É um conjunto de bens materiais e imateriais, organizados de uma determinada forma
e por uma determinada pessoa com o intuito de por uma determinada actividade no
comercio com vista na obtenção de lucro.

Prof.
- É um conjunto de bens materiais ou não, organizados por um sujeito ( pessoa), para
prática de uma determinada actividade designadamente económica para a produção de
bens e prestações de serviços, cuja o objetivo não é meramente solidário nem
meramente humanitário, mas sim, na obtenção de lucros.

Qualquer pessoa pode ser empresário?


- Não, tem que ter capacidade jurídica plena (menor).
O menor não tem capacidade jurídica plena, capacidade jurídica tem, plena é que não.

Só podem ser comerciantes as pessoas físicas?


- Não, as sociedades comerciais podem.
As sociedades comerciais têm que estar vocacionadas para o comercio, isto é, as
sociedades comerciais são por natureza comerciais.

As outras sociedades que não comerciais?

Um profissional liberal é comerciante?


Não.
Sociedades há muitas, uma já sabemos por natureza que são comerciais, que são as
sociedades comerciais, porque são comerciantes e as outras?

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- O gerente que desvie património da empresa não há desconsideração da pessoa
jurídica, ele penaliza as sociedades que são os donos das empresas. Se fosse um sócio a
o fazer, aí sim, aplicar-se-ia a desconsideração da pessoa jurídica.

Podem pessoas coletivas que não são sociedades comerciais serem consideradas
comerciantes?
- Sim podem. Se praticar actos de comercio art.2º C.Com, a norma diz que são
considerados actos de comercio especialmente as que estejam no código .
“Art.º 2.º Actos de comércio : Serão considerados actos de comércio todos aqueles que
se acharem especialmente regulados neste Código, e, além deles, todos os contratos e
obrigações dos comerciantes, que não forem de natureza exclusivamente civil, se o
contrário do próprio acto não resultar.”

“art.º13.ºQuem é comerciante
São comerciantes:

1. As pessoas, que, tendo capacidade para praticar actos de comércio, fazem deste
profissão;

2. As sociedades comerciais “

“Art.º 230.º Empresas comerciais


Haver-se-ão por comerciais as empresas, singulares ou colectivas, que se propuserem:

1. Transformar, por meio de fábricas ou manufacturas, matérias-primas,


empregando para isso, ou só operários, ou operários e máquinas;

2. Fornecer, em épocas diferentes, géneros, quer a particulares, quer ao Estado,


mediante preço convencionado;

3. Agenciar negócios ou leilões por conta de outrem em escritório aberto ao público,


e mediante salário estipulado;

4. Explorar quaisquer espectáculos públicos;

5. Editar, publicar ou vender obras científicas, literárias ou artísticas;

6. Edificar ou construir casas para outrem com materiais subministrados pelo


empresário;
7. Transportar, regular e permanentemente, por água ou por terra, quaisquer
pessoas, animais, alfaias ou mercadorias de outrem.

§ 1º Não se haverá como compreendido no n.º 1.º o proprietário ou o explorador


rural que apenas fabrica ou manufactura os produtos do terreno que agriculta
acessoriamente à sua exploração agrícola, nem o artista industrial, mestre ou
oficial de ofício mecânico que exerce directamente a sua arte, indústria ou ofício,
embora empregue para isso, ou só operários, ou operários e máquinas.

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§ 2.º Não se haverá como compreendido no n.º 2.º o proprietário ou explorador
rural que fizer fornecimento de produtos da respectiva propriedade.

§ 3.º Não se haverá como compreendido no n.º 5.º o próprio autor que editar,
publicar ou vender as suas obras. “

Pode haver actos de comercio que não estejam no código?


- Sim, actos de comercio objectivos que não estejam previstos no código “especialmente”.

Determinamos quem é comerciante, tem que fazer daquilo profissão, quando se pratique
aquela actividade regularmente, ( não significa que tem que ser todas as semanas, nem
todos os meses), com o objetivo que faça ser o meio de vida, que não tem que ser a única
nem exclusiva, não quer dizer que obtenha lucro (até pode ter prejuízo).
Ex: o “A” vendeu um computador e ganhou dinheiro com essa venda, volta a vender
outro computador. É comerciante? Não, faz vendas isoladas.
Passado 1 ano voltei a falar com ele e já tinha uma faturação de 100 e tal mil euros (
faturação não é lucro).
Ex: castanhas, o produtor não pode ser considerado um comerciante ao abrigo do art.230º
C.Com, mas o produtor quando vende para alguém revender esse revendedor é que é um
comerciante, o produtor só pratica actos de comercio não sendo comerciante.

Uma única pessoa, um único património, uma único actividade, se a actividade


predominante. Se o produtor escoa algum produto na loja, não é considerado um
comerciante, se actividade predominante for a venda de produtos dos outros e a venda do
que ele produz nem sequer é suficiente, aí já é considerado comerciante.

Uma cooperativa por natureza não é comerciante.

Um comerciante que nunca tenha tido exercido actividade, nunca fez nada, é comerciante,
porque é comerciante por natureza, é a natureza dele.

Uma sociedade comercial adquire capacidade e personalidade jurídica, quando se


constitui e com registo definitivo.

O artesanato não é considerado uma actividade de comercio ou comercial, porque o


art.230º Ccom assim o diz, porque está ligado directamente à pessoa do artista do artesão.
Este código é de 1888, significa que na altura, por isso teremos que fazer uma
interpretação extensiva do art.230º Ccom.

Comerciante – capacidade jurídica plena, fazer disto profissão ( fazer de forma


profissional), praticar actos de comercio de forma profissional, tem que o fazer em nome
próprio art.248º Ccom.

Atos de comercio objectivos - são praticamente o que a lei diga.


A própria norma atribui a condição de comerciante a quem os praticar.
Atos de comercio não objectivos, mas subjectivos – um ato objectivo implica um
determinado número de actos, o acto de comercio subjectivo está relacionado com a
qualidade que pratica o acto assim se considera um comerciante.

Atos absolutos destes temos as forma (cambio, cheque)

C.Ramos 9
Um contrato de compra e venda é um ato de comercio acessório.

4 questões básicas que relevem – quando temos um comerciante temos a liberdade de


forma entre comerciantes art.96º Ccom, art.365º Ccom, quem faz mais transações é o
comerciante.

Juros
• Juros civis – são pagos pela dividas civis
• Juros comerciais – são pagos pelas dividas comerciais

Atos absolutos e actos acessórios – (são típicos do trato civil jurídico, mas podem se
tornar comerciais de forma acessória quando os praticam o comerciante)

Prescrição
- Tem a ver com o prazo, é a perda do exercício de um direito, para os comerciantes o
prazo é mais curto.
O regime geral é art.309º CC (20 anos),
regime especial art.310º CC (5 anos),
prescrição presuntiva art.317º,
Aqui quando envolve comerciante nem é de 5 nem de 20 anos, são 2 anos.

Solidariedade
- A regra é que no civil a regra não é a solidariedade, 1º pede-se a um depois ao outro. No
comercio, são considerados comerciantes a regra é a solidariedade.

11-02

A lei comercial só se aplica aos actos de comercio.

Art2º.
1º parte, trata-se actos de comercio objectivos.
O que é que esses atos de comercio objectivos fazem?
- Atribuem a qualidade de comerciante

2º parte do art.2º, não lhe atribui a qualidade de comerciante, mas prossupõe que ele é
um comerciante, ou seja, desde que esteja preenchido aqueles 3 requisitos (uma prática
regular, habitual e sistemática de atos de comercio) do art.2º que nós já sabemos, à partida
estamos perante um comerciante.

Saber o que é um comerciante e como se caracteriza?


- Pela prática regular, habitual e sistemática dos atos de comercio que culminam numa
prática profissional como meio de vida, contribuindo para a sua subsistência e em nome
individual de forma independente e autónoma, isto é o que caracteriza os comerciantes e
está previsto no art.13º CCom.
Quando estamos a falar de um comerciante não podemos prossupor que, os atos que ele
pratica são sempre actos de comercio, nomeadamente quando ele compra certos artigos e
aproveita também para comprar um carro para a filha, tio ou sobrinho. Ele é comerciante,
mas esse ato não é um ato de comercio, porque não está relacionado com a actividade da
própria empresa.

C.Ramos 10
Como resolver um caso prático
• Se estão ali atos de comercio ou não
• Se estão atos de comercio em sentido objectivo ou subjectivo ( porque consoante
isso no próprio regime de dividas vai depender da classificação do ato, porque se
não estivermos perante um ato que não seja um ato de comercio, se houver uma
divida resultante de uma determinada compra, o regime aplicar do CC ou a
inversão do ónus da prova pelo CCom, a inversão do art.342º , vai tudo resultar
do facto de estarmos perante um ato de comercio ou não.
• Que ato é que está ali
• Se aquele ato está previsto no CCom ex: a compra e venda. Se estiver previsto,
automaticamente é um ato de comercio, ao mesmo tempo pode haver aquela teoria
jurídica da empresa que encaixamos logo aquela actividade numa daquelas
empresas e à partida são atos de comercio praticado por um comerciante.
• Se estivermos a falar nas dividas, temos que falar qual é o regime comum de
direito civil. Saber bem do art.1690º para a frente, o art.15º CCom no caso de
dividas.
Pode haver situações em que os contratos podem ser unilaterais, em que para uma das
partes ele é um ato de comercio e ele funciona como comerciante e a outra parte não é ato
de comercio ficando ao abrigo do direito civil.

Caso prático

David fotografo vende todos os fins de semana fotografias por si captadas. Nas feiras
da região.
Cansado das longas deslocações propõe a Elvira, que se dedique à venda de produtos
biológicos por si cultivados e que comprem em conjunto uma carrinha para
chegarem às feiras, assim fizeram, no entanto Elvira arrepende-se e não quer pagar
o preço acordado.
Pode a sociedade automóveis AS, demandar apenas David?

1º estamos perante que negocio?


- Estamos perante uma compra e venda, art.463º, 464º Ccom

A compra da carrinha será um acto de comercio em sentido objectivo?


- Estamos perante um ato de comercio, porque a compra e venda está previsto na
legislação comercial, mas no art.463º diz compra e venda para revenda e nós não estamos
aqui perante o requisito da revenda.
Se não preenche o art.463º, significa que não é considerada comercial esta compra e
venda, logo esta compra da carrinha não é um acto de comercio em sentido objectivo.
Uma vez que não preenche temos que ler o art.463º logo a epígrafe, nós temos que à
contrário ler que, não são consideradas comerciais.
Pelo TAC ( teoria do ato de comercio) que é a 1º parte do art.2º, nós diríamos que não
é um ato de comercio objectivo, só pelo facto de não preencher o art.463º.
Poderíamos dizer: à primeira vista estamos perante um ato de comercio objectivo, uma
vez que remete para a compra e venda que é um contrato que está previsto na legislação
comercial previsto no art.463º, no entanto o art.463º nº1, diz que seja compra de coisas
moveis para revende, ora não sendo para revenda por aí este ato não é ato de comercio
objectivo.

C.Ramos 11
Se dissesse no caso que eles comprarem a carrinha para depois a usarem e a revenderem,
já cabia aí, mas não é o caso, foi utilizado para a actividade deles.

Pela 1º parte do art.2º, não cabe como ato de comercio objectivo.

Será que cabe pela 2º parte?


será que pode ser caracterizado como um ato de comercio subjectivo?
Será que não sendo objectivo pode ser subjectivo?

Para sabermos se é um ato de comercio subjectivo, teríamos que primeiro ver, David é
comerciante ou não é comerciante?
A actividade que o David desenvolve é uma actividade que se possa considerar como uma
actividade própria de uma empresa comercial?
- Não, porque a actividade dele não cabe em nenhuma das alíneas do art.230º que é a
história da TJE, ou seja, a actividade dele de fotografo está excluída das actividades
comerciais, pelo art.230º, paragrafo 3.
Ele não seria comerciante, porque aquela actividade não encaixa no art.230º.

Elvira é comerciante ou não?


- Não, no se enquadro no art.230º, paragrafo 1, também não cabe no art.464, nº2, “ As
vendas que o proprietário ou explorador rural faça dos produtos de propriedade sua ou
por ele explorada, e dos géneros em que lhes houverem sido pagas quaisquer rendas”,
ou seja, nem cabia no art.230º que exclui a empresa comercial e ao mesmo tempo era
excluído do art.464º que diz respeito à compra e venda porque ela tem uma actividade
que é a agricultura e o art.464º afasta as vendas feitas pelo proprietários de produtos
próprios da agricultura.

Para se ser comerciante


• Prática continua,
• regular
• Prática profissional,
• meio de vida,
• que atue em nome individual, de forma independente e autónoma.

Aqui ele para ser comerciante, no art.2º que diz que “ contratos e obrigações do
comerciante”, podíamos afastar este ato de comercio subjectivo, considerando que,
aquela prática não seria uma prática regular, habitual e sistemática de atos de comercio,
ou seja, ele não faz daquilo uma prática regular, sistemática, continua de atos de comercio,
ele só faz aquilo ao fim de semana e portanto afastava-lhe a qualidade de comerciante ,ao
afastar a qualidade de comerciante, afasta a 2º parte do art.2º, porque exige um requisito
“contratos e obrigações do comerciante”.

Ato de comercio objectivo não é, nem pelo TAC, nem pelo TJE,
Na 2º parte trata-se de um contrato de comerciantes, para sabermos se é comerciante,
tem que ser uma prática regular, habitual e sistemática, essa que se traduza numa
prática habitual para o seu sustento, um modo de vida e que seja em nome individual,
independente e autónomo.
Então não estamos aqui perante um contrato de comerciante porque ele pela definição de
comerciante, não é comerciante então também não cabe na 2º parte.

C.Ramos 12
Se não cabe na 1º parte e se não cabe na 2º parte, então nunca poderemos estar perante
um ato de comercio, e se assim é não se palica a legislação comercial.
A este contrato de compra e venda aplica-se as regras do código civil.

Neste caso a sociedade de automóveis vai demandar David?


- Sim, se eles fossem casados ia-se aos bens comuns e subsidiariamente aos bens próprios
de cada um.
Neste caso, vai demandar David pela divida.

A regra no direito comercial, é que as dividas são solidárias


A regra no direito civil é que, as dividas não são solidárias, só são solidárias se as partes
estabelecerem entre eles, ou houver alguma disposição que o diga.

Mas o facto de David pagar a divida fica com um crédito sobre ela de metade do valor,
que é o direito de regresso, mas isto é ao abrigo do direito civil.

Se é um acto de comercio, se é uma acto de comercio objectivo, se é subjectivo, se cabe


ou não no art.230º, se a lei que se aplica é a comercial ou civil.

Caso prático

António agricultar, vendeu a Bento, um imóvel rustico de que era proprietário e


onde exercia a sua actividade agrícola, tendo Bento destinado o prédio a
aparcamento de viaturas automóveis pesadas da sua indústria de transportes.

Temos aqui 2 sujeito


António agricultor
Bento tem uma empresa de camiões

Quanto a António, não é porque não cabe no art.230º, a actividade dele é agrícola e está
afastada dos acto de comercio.

Como qualifica a aquisição do imóvel?


- O ato que está em causa é de compra e venda
É objectivamente comercial?
- Por parte do António, não está ao abrigo da lei comercial porque ele está a desenvolver
um actividade que está afastada pelo art.230º
Em relação a Bento, é um acto de comercio objectivo porque cabe no nº7 do art.230º,
porque atividade dele é de transporte e se o é, cabe no art.230º

Pela teoria do acto comercio (TAC) não seria acto objectivo porque não era para revenda
Pela teoria jurídica da empresa (TJE) art.230º, aqui já cabe, assim sendo o acto que o
Bento pratica é um acto de comercio objectivo pela 1º parte do art.2º, porque a 1º parte
do art.2º inclui quer a TAC quer a TJE que é do art.230º.

Estaríamos aqui perante um contrato de compra e venda unilateral, uma vez que era
comercial para um e não para outro. Art.99º, só se aplica ao comerciante neste caso o
Bento.
Para Bento, Bento está ao abrigo da lei comercial, para António está fora da lei comercial.

C.Ramos 13
Para António rege-se pelo direito civil, mas a compra de Bento como foi feito no âmbito
da sua actividade que está prevista pelo art.230º tem caracter comercial.

Será que estamos aqui perante um acto de comercio subjectivo, isto é, será que esta
aquisição do prédio rustico pelo Bento caberia num acto de comercio subjectivo?
- a compra de Bento foi realizada no âmbito da sua actividade, do próprio ato resulta a
sua conexão com actividade ou com comercio e que preenche assim os requisitos da 2º
parte do art.2º.

Também nunca seria subjectivo para o António, porque o que ele fez não tem nada a ver
com actividade que ele desenvolve, ele vendeu um prédio rustico e a sua actividade é a
agricultura, não há conexão.

A 1º parte do art.2º é actos de comercio independentemente ser comerciante ou não, já


na 2º parte tem de ser comerciante.

09-11

1º ver se há ato de comércio? (1º parte art.2º, art.463º)


2º se são comerciantes? (art.13º, 2º parte art.2º, art.8º)

Caso prático n.º 2

David, fotógrafo, vende, todos os fins-de-semana, fotografias por si captadas nas


feiras da região. Cansado das longas deslocações, propõe a Elvira, que se dedica à
venda de produtos biológicos por si cultivados, que comprem em conjunto uma
carrinha para chegarem às feiras. Assim fizeram. No entanto, Elvira arrepende-se e
não quer pagar o preço acordado. Pode a sociedade Automóveis, SA. demandar
apenas David?

Resolução

David, fotógrafo, vende, todos os fins-de-semana, fotografias por si captadas nas feiras
da região. Cansado das longas deslocações, propõe a Elvira, que se dedica à venda de
produtos biológicos por si cultivados, que comprem em conjunto uma carrinha para
chegarem às feiras. Assim fizeram. No entanto, Elvira arrepende-se e não quer pagar o
preço acordado.

Pode a sociedade Automóveis, SA. demandar apenas David?


➢ A compra da carrinha é um ato de comércio em sentido objetivo?
Não, uma vez que as compras e vendas reguladas no Ccom são, sobretudo, compras para
revenda (artigos 2.º e 463.º/1 CCOM).
➢ A compra da carrinha é um ato de comércio em sentido subjetivo?
David não é comerciante, porque a atividade de fotógrafo – nos termos apresentados -
está excluída pelo artigo 230/§ 3.º; Elvira não é comerciante, uma vez que os arts.
230/§§1.º a 3.º 464.º/2 excluem o tipo de atividade apresentada: a agricultura [art. 464.º/3]

C.Ramos 14
Caso prático n.º 3

Ambrósio é proprietário de uma empresa que se dedica à venda e assistência pós-


venda de computadores. Como iniciou a sua atividade há pouco tempo, ainda não
obteve quaisquer lucros, pelo que as despesas familiares são exclusivamente
suportadas pela sua mulher. Ambrósio adquiriu dois computadores, o primeiro com
intenção de o utilizar ao serviço da sua empresa, o que assim fez, e o segundo com a
intenção de o revender. Porém, e quanto a este último, acabou por ofertá-lo a um
amigo

A) Como qualifica, do ponto de vista jurídico-mercantil, a compra dos dois


computadores.

Resolução:
Relativamente ao primeiro computador, estamos perante um ato objetivamente comercial,
porque está previsto no código comercial, porque foi comprado, tendo em vista a
atividade económica de António, à luz do artigo 2º 1.ª parte do Código Comercial, “Serão
considerados atos de comércio todos aqueles que se acharem especialmente regulados
neste código (…)”. O ato é, ainda, subjetivamente comercial, pois foi praticado por
comerciantes e não tem natureza exclusivamente civil (tem causa mercantil), e do próprio
ato não resulta a sua não conexão com o comércio, preenchendo assim os três requisitos
constantes no artigo 2º, 2ª parte do Código Comercial. É um ato substancialmente
comercial, pois tem a ver com o comércio em sentido jurídico, pois trata-se de um ato
cuja comercialidade lhe advém de natureza própria, porque é praticado por um
comerciante, tendo em vista a sua atividade económica. Por fim, trata-se de um ato
bilateralmente comercial, pois tem carácter comercial para ambas as partes.
Já a compra do segundo computador é objetivamente comercial, uma vez que foi
inicialmente comprado para revenda, previsto no artigo 463º nº 1 do Código Comercial,
no entanto, não é um ato subjetivamente comercial, porque ao ser oferecido a um amigo,
foi um ato meramente civil, não tendo a ver com a atividade.

Caso prático n.º 4

António, agricultor, vendeu a Bento um imóvel rústico de que era proprietário, e


onde exercia a sua atividade agrícola, tendo Bento destinado o prédio a aparcamento
de viaturas automóveis pesadas da sua indústria de transporte.
A) Como qualifica a aquisição do imóvel rústico?
B) António é comerciante?
C) Bento é comerciante?

C.Ramos 15
Como qualifica a aquisição do imóvel rústico?
A compra é objetivamente comercial, à luz do artigo 2º 1.ª parte do Código Comercial,
porque se encontra prevista no código comercial. É, ainda, subjetivamente comercial,
uma vez que a compra foi realizada tendo em vista a atividade de Bento, e do próprio ato
não resulta a sua não conexão com o comércio, preenchendo assim os três requisitos
constantes no artigo 2º, 2ª parte do Código Comercial. É uma compra substancialmente
comercial, pois tem a ver com o comércio em sentido jurídico, pois trata-se de um ato
cuja comercialidade lhe advém de natureza própria porque é praticado por um
comerciante, tendo em vista a sua atividade económica. Por fim, é unilateralmente
comercial, pois só tem comercialidade para uma das partes (Bento).

António é comerciante?
António não é comerciante, à luz do artigo 230º, parágrafo 1 e 2, “não se haverá como
compreendido (…) o proprietário ou o explorador rural (…)”, e 464º nº 2 e 4, “Não são
consideradas comerciais: (…) as vendas que o proprietário ou explorador rural faça dos
produtos de propriedade sua (…) “. A agricultura foi excluída do elenco comercial. C)

Bento é comerciante?
Bento é comerciante, porque preenche todos os requisitos para ser considerado
comerciante: sobre ele não recai qualquer incapacidade do exercício de direito, tem
profissionalidade uma vez que tem uma indústria de transporte e, exerce o comércio em
seu nome, a título pessoal, independente e autónomo

Caso prático n.º 5

António, comerciante da indústria hoteleira, comprou à sociedade «Castro Silva,


SA» um automóvel para seu uso. Para pagar parte das prestações relativas à compra
do automóvel, António celebrou um contrato de empréstimo com o Banco ZWO.

A) Como classifica, do ponto de vista jurídico-mercantil, os negócios jurídicos


praticados por António?

Como classifica, do ponto de vista jurídico-mercantil, a compra do automóvel


por António e o contrato de empréstimo?

1. Relativamente à compra do automóvel para seu uso, esta é uma compra


meramente civil, uma vez que não tem carácter comercial para António. Apesar
de ter sido feita por comerciantes, é alheia à atividade de António. Por sua vez, o
contrato de empréstimo com o Banco ZWO, é um ato objetivamente comercial,
uma vez que está previsto no Código Comercial, à luz do artigo 2º 1ª parte “Serão
considerados atos de comércio todos aqueles que se acharem especialmente
regulados neste código (…)”; não é subjetivamente comercial, uma vez que a
compra do automóvel foi alheia à atividade de António, logo não houve conexão
com o comércio dos respetivos autores, não estando compreendidos os requisitos
para obter esta qualidade. É desta forma que se diz que de igual forma não é
substancialmente comercial, sendo unilateralmente comercial, por ter
comercialidade para apenas uma das partes.

C.Ramos 16
2. A compra do automóvel tem carácter objetivamente comercial, segundo o artigo
2º 1ª parte do código comercial, porque se encontra prevista neste código. É
igualmente subjetivamente comercial, uma vez que a compra foi realizada tendo
em vista a atividade de António e do próprio ato não resulta a sua não conexão
com o comércio, preenchendo assim os três requisitos constantes no artigo 2º, 2ª
parte do Código Comercial. É uma compra substancialmente comercial, pois tem
a ver com o comércio em sentido jurídico, pois trata-se de um ato cuja
comercialidade lhe advém de natureza própria porque é praticado por um
comerciante, tendo em vista a sua atividade económica. Por fim, é bilateralmente
comercial, porque tem carácter comercial para ambas as partes, uma vez que
ambos são comerciantes.

Caso prático n.º 6

Ana Rocha, proprietária de um estabelecimento de fabrico e venda de produtos de


pastelaria, comprou à sociedade "Sousa Marques, L.da" , 50 Kg de farinha, 10 Kg
de fermento e 20 dúzias de ovos. Ana não está matriculada como comerciante.

A) Como qualifica o contrato descrito?

A compra é objetivamente comercial, à luz do artigo 463º nº 1 “Serão consideradas


comerciais as compras de coisas móveis para revender, em bruto ou trabalhadas (…)”,
previsto no código comercial, porque foi comprado tendo em vista a atividade económica
de Ana, para revenda, à luz do artigo 2º nº 1 do Código Comercial, “Serão considerados
atos de comércio todos aqueles que se acharem especialmente regulados neste código
(…)”. É subjetivamente comercial, pois foi praticado por comerciantes e não tem natureza
exclusivamente civil (tem causa mercantil) e do próprio ato não resulta a sua não conexão
com o comércio, preenchendo assim os três requisitos constantes no artigo 2º, 2ª parte do
Código Comercial. É um ato substancialmente comercial, pois tem a ver com o comércio
em sentido jurídico, pois trata-se de um ato cuja comercialidade lhe advém de natureza
própria porque é praticado por comerciantes, tendo em vista a sua atividade económica.
Por fim, trata-se de um ato bilateralmente comercial, pois tem carácter comercial para
ambas as partes.

B) Deve Ana ser qualificada como comerciante?

Ana é comerciante, uma vez que sobre ela não recai qualquer incapacidade de exercício,
tem profissionalidade porque é proprietária de um estabelecimento de fabrico e venda de
produtos de pastelaria e exerce o comércio em nome próprio, a título individual,
independente e autónomo. Apesar de não estar matriculada como comerciante, a
matrícula para comerciantes individuais, não é condição necessária e suficiente para
adquirir a qualidade de comerciante.

C.Ramos 17
CASO PRÁTICO 7

António, casado com Beatriz, e Carlos, solteiro, donos de uma pastelaria na Avenida
de Roma, compraram à sociedade Fruta, Lda. um carregamento de mangas para
fazerem os seus conhecidos sumos, que atraem multidões. Pode a Frutas, Lda.
demandar apenas António, exigindo-lhe o pagamento do preço total?

E, em caso de não pagamento voluntário, pode esta sociedade executar os bens


comuns de António e Beatriz?

QUESTÕES A ESCLARECER:
Como sempre, primeiramente há que dar resposta à pergunta: «É este um acto de
comércio?»
➢ Pode a Frutas, Lda., demandar apenas António, quando a dívida é plural?
➢ Pode a Frutas, Lda., executar o direito de crédito, executando bens comuns de
António e Beatriz?

R: se queremos saber se é um ato de comercio temos que ir para o art.2, vamos pela TAC
que é a 1º parte do art.2º, que te a ver com o facto de saber-se o negocio ali em causa se
está previsto ou não no código comercial.
O ato em causa é um contrato de compra e venda e está previsto no código comercial
como contrato de compra e venda.
Se estamos perante um contrato de compra e venda, vamos ao art.463º, nº1 e tentamos
encaixar lá este ato. Chegamos à conclusão que estamos perante um ato de comercio
objectivo.
Não nos podemos esquecer que a 1º parte do art.2º aplica-se a comerciantes e não
comerciantes por isso veremos onde eles encaixam.

Temos uma compra feita por parte António e Carlos que é um ato de comercio objectivo
e temos como conclusão, que eles fazem desta atividade a sua profissão porque eles têm
uma pastelaria e vendem sumos, pelo art.13º eles fazem desta atividade profissão, mas
não nos basta ficar pelo art.13º é preciso ir à 2º parte do art.2º verificar se está preenchido
os requisitos que lá estão que são (profissionalmente, não ser exclusivamente civil e não
resultar o contrario do próprio ato), não é um ato exclusivamente civil e não resulta o
contrario do próprio ato, ou seja, não resulta dali que não é um ato que não tenha conexão
com a sua atividade.
Não podemos ficar só no art.13º porque se fosse um ato exclusivamente civil já não se
aplicava a legislação comercial.

Como vimos não é um ato exclusivamente civil uma vez que o contrato de compra e
venda está previsto no CCOM e também não resulta o contrario, resulta é que há conexão
do ato com a atividade que eles desenvolvem (parte 2º do art.2º)

Para ficar mais completo poderíamos falar das obrigações dos comerciantes art.18º as
obrigações especiais a que eles se obrigam.

Se fosse menor teríamos de falar da incapacidade ou capacidade jurídica. O menos pode


praticar atos de comercio desde que esteja emancipado pelo casamento e ainda assim teria
de ter consentimento dos pais para se casa, porque a emancipação por casamento sem

C.Ramos 18
consentimento dos pais é válido, mas não pode administrar os seus bens (art.66º, 67º do,
capacidade jurídica CC)

➢ Pode a Frutas, Lda., demandar apenas António, quando a dívida é plural?

Aplica-se aqui a TG do direito civil ou TAC?


- Se fosse pelo TG direito civil, não poderia pedir o pagamento total a António, só poderia
pedir metade, teríamos que ir ao art.513 e depois ao art.514, significa que poderia
demandar António pelo pagamento de metade da divida e a outra metade teria que ser
pago pelo Carlos,

Imaginemos que ainda no âmbito do direito civil, António pagava a totalidade da divida,
assistia o direito de regresso contra Carlos com a parte que pagou e lhe corresponderia a
ele.

No caso em concreto aplicaríamos a lei Comercial e não a lei Civil.


A regra do D. Comercial é a solidariedade, art.100º, esta é uma solidariedade passiva que
é de devedores não de credores. O que o art.100º nos diz é que no caso de se aplicar a lei
comercial já não há aquela questão de demandar só um pelo parte que lhe corresponde,
mas pode ser demandado a um qualquer pela totalidade porque há ali uma obrigação
solidária.

➢ Pode a Frutas, Lda., executar o direito de crédito, executando bens comuns de


António e Beatriz?

Teríamos que ir neste caso para o regime de comunhão de adquiridos e teríamos que ir ao
art.15º, “presume-se que as dividas comerciais são do casal”.
No caso , o credor só tem que provar que eles são comerciais e que o ato foi praticado no
exercício da actividade deles para aplicar o art.15.

Imaginemos que Beatriz considera que não foi para proveito comum do casal, nem foi no
exercício da atividade daquele ato, ela aí teria que fazer a inversão do ónus da prova,
porque a regra é que o credor só tenho que fazer prova que eles são comerciantes e o ato
foi praticado no exercício da atividade. logo respondem os 2 pela dívida, tanto o António
como a Beatriz, porque eles são casados em regime de comunhão de adquiridos.
só não responderia a Beatriz se ela provasse que aquele ato praticado (aquela compra)
não foi para proveito comum do casal nem foi no âmbito do exercício da atividade do
marido.
Na falta dos bens comuns do casal pode executar os bens de cada um.
Para a primeira questão, encontramos duas respostas, consoante se aplique, ou não, o
regime geral dos atos de comércio.
• Caso seja aplicável o regime geral civil, já conhecemos o regime supletivo
aplicável a uma situação de pluralidade passiva, no vínculo obrigacional: do
art.513.º resulta a qualificação como obrigações parciárias, quando a
solidariedade não resulte da lei ou da vontade das partes. Assim, caso o regime
aplicável seja o civil, a Frutas Lda. não pode demandar apenas António pela
totalidade da dívida, já que apenas lhe pode exigir um esforço que se presume
igual ao de Carlos (i.e. ½), nos termos do art.534.º.

C.Ramos 19
• Caso seja aplicável o regime geral dos atos de comércio, a solução é a inversa: o
art.100.º do CCOM estabelece que nas obrigações comerciais, os coobrigados
são solidários, salva estipulação contrária [atenção que o regime é o da
solidariedade passiva, e não, necessariamente, o da solidariedade ativa]

Para a segunda questão, encontramos também duas respostas, consoante se aplique, ou


não, o regime geral dos atos de comércio:
• Caso seja aplicável o regime geral civil, é aplicável o disposto no artigo 1696.º:
respondem apenas os bens próprios do cônjuge devedor, e subsidiariamente a sua
meação nos bens comuns, com as exceções do n.º 2;

• Caso seja aplicável o regime geral dos atos de comércio, a solução é a inversa:
salvo se for provado que a dívida não foi contraída em proveito comum do casal
(ou se vigorar o regime da separação de bens), as dívidas contraídas por um dos
cônjuges no exercício do comércio são da responsabilidade de ambos os cônjuges
(artigo 1691, nº1, al.d). Assim sendo, responderiam os bens comuns do casal
(artigo 1695º, nº1) e, na sua falta, os bens próprios de cada um dos cônjuges;
temos ainda a este propósito a presunção do artigo 15.º CCOM, que estabelece
que as dívidas comerciais do cônjuge comerciante presumem-se contraídas no
exercício do seu comércio.

Vejamos então se este negócio jurídico – um contrato de compra e venda de fruta


celebrado pelos donos de uma pastelaria, para fins relativos à sua atividade -, se pode
qualificar como acto de comércio.

Desde logo, devemos consultar a lei comercial:


Art.1.º CCOM – A lei comercial rege os actos de comércio, sejam ou não comerciantes
as pessoas que neles intervêm. Este é o postulado principal: aos atos de comércio aplica-
se, em princípio, a lei comercial, ainda que as partes não sejam comerciantes. Como
podemos então identificar um ato de comércio – pense-se no caso supra, uma compra e
venda de fruta? Recorremos outra vez à lei comercial:
Art.2.º CCOM: Serão considerados atos de comércio todos aqueles que se acharem
especialmente regulados neste Código e, além deles, todos os contratos e obrigações dos
comerciantes, que não forem de natureza exclusivamente civil, se o contrário do próprio
ato não resultar. Verificamos que temos dois critérios disponíveis para qualificar um ato
como comercial: um primeiro, objetivo, um segundo, subjetivo. Mas cumpre primeiro
perguntar: o emprego da expressão atos foi feito em sentido técnico? É unânime que além
da inclusão óbvia dos contratos – i.e., dos atos jurídicos onde, por haver liberdade de
celebração e estipulação, são bilaterais -, também devem ser admitidos negócios
unilaterais - i.e., os atos jurídicos onde há liberdade de celebração e estipulação, mas não
bilateralidade [pense-se na constituição de uma sociedade comercial unipessoal – artigo
270-A CSC].
Também não causa muitas dúvidas a inclusão de atos jurídicos em sentido estrito, que
apenas implicam liberdade de celebração (e não liberdade de estipulação): pense-se no
endosso de um cheque, que deve ser puro e simples [artigo 19.º LUCH - MC] ou nas
interpelações e avisos efetuados por sociedade comerciais a sócios remissos [artigos
203.º/3; 204.º; 285.º; 286.º CSC – CA]. E também de atos ilícitos [abalroação com culpa
– artigos 665.º e 666.º CCOM]. Dito isto, avancemos, para explorar os dois critérios de
qualificação.

C.Ramos 20
Atos de comércio objetivos: Art.2º , 1.ª parte: são atos de comércio todos aqueles que
se acharem especialmente regulados neste Código.
(Resolução: ver art.º 2.º 1.ª parte e art.º 463, n.º 1) – É um ato de comércio objetivo!

A primeira dúvida nasce com a análise do pronome todos: basta que o ato apareça referido
no CCOM, ou é necessário que este lhe dê uma regulação especial em relação a outro
regime jurídico?
Os Autores convergem mais do que à primeira vista poderia parecer: se não há qualquer
desvio à lei civil – como no antigo 49.º/2 que sujeitava a registo comercial a convenção
antenupcial -, o acto não é objectivamente comercial.

Mas se o acto é expressamente qualificado como comercial – veja-se as operações de


banco, que segundo o artigo 362.º são comerciais – deve ser-lhe aplicado o magro regime
geral comercial, pelo menos, mesmo que não haja um regime especial desenvolvido (veja-
se o artigo 363.º que remete para as disposições especiais respectivas aos contratos que
representarem).

A segunda dúvida nasce com a última parte do preceito em apreço: só são comerciais os
actos regulados no Código? A resposta é negativa, unanimemente: são comerciais
também os actos regidos por diplomas que tenham substituído partes do Código
Comercial (até por virtude do artigo 4.º da Carta de Lei de 28 de Junho de 1888), como é
o caso do CSC, das Leis Uniformes, do CMVM; mas também actos tratados em normas
extravagantes que se assumam como comerciais (veja-se as normas que regulam o
arrendamento para fins comerciais, ainda que não refiram expressamente este
qualificativo)

Atos de comércio subjetivos: art.2.º, 2.ª parte: além deles, todos os contratos e
obrigações dos comerciantes, se não forem de natureza exclusivamente civil, se o
contrário do próprio acto não resultar. Metodologia: identificar um comerciante [sem um
comerciante, a segunda parte da norma constante do artigo 2.º CCOM nunca se aplica!]

Artigo 13.º: são comerciantes as sociedades comerciais e as pessoas que, tendo


capacidade para praticar actos de comércio, fazem destes profissão.

Só depois de identificarmos um comerciante é que avançamos para a delimitação negativa


e pela ordem avançada no art.2.º CCOM:

• O ato tem natureza exclusivamente civil? [É regulado no Código Civil? Não pode
ser regulado pelo Código Comercial? Não é conexionável com o exercício do
comércio? MC: no momento considerado, não sejam regulados pelo Direito
Comercial; casos óbvios – casamento, divórcio, perfilhação, designação de tutor
pelos pais; casos menos óbvios – doações feitas por comerciantes; gratificações a
empregados, etc.

• Resulta o contrário do próprio ato? Uma espécie de presunção (?) de


comercialidade, na linha do art.15.º - o ato praticado pelo comerciante será
comercial se não resultar de si próprio ou de circunstâncias que o acompanham
que não tem a ver com o giro comercial [ex. CA: comerciante que compra uma
carrinha anunciando que a utilizará como caravana para férias; ex. o comerciante
que compra um vestido de noiva para a filha].

C.Ramos 21
Concluindo: o contrato de compra e venda em apreço é comercial em sentido objetivo
(art. 2.º, 1.ª parte e 463.º/1 CCOM), e em sentido subjetivo (quer A, quer C, são
comerciantes, uma vez que fazem da prática de atos de comércio a sua profissão [compra
de coisas para revenda – artigo 463.º], o ato não tem natureza exclusivamente civil e o
contrário não resulta do próprio ato).

Caso prático 8

A, estudante da UN comprou uma máquina de café e instalou-se, durante a época


de exames, numa banca num dos corredores, onde decorriam orais servindo café. A
sua atividade foi, contudo, proibida pelo conselho diretivo, pelo que A acabou por
vender a sua máquina de café à Associação de Estudantes, que a passou a usar no
bar que tinha instalado nas suas instalações.

➢ Qualifique, do ponto de vista comercial, os sujeitos em causa, bem como os atos


por este praticados.

“A” quando compra a máquina de café não está a exercer uma profissão, no máximo está
a exercer uma prestação de serviços.
Quando comprar máquina é para prestar um serviço.
a prestação de serviços é uma atividade que cai no art.230º?
- não.

é uma prestação de caráter individual porque nós tem inserida numa empresa, se não era
diferente.
portanto a compra dele é uma compra civil.
é comerciante ou não?
-o artigo 13º diz-nos que ele não é comerciante por que não faz deste profissão, e o ato
que ele pratica não é um ato de comércio uma vez que ele comprou a máquina não para
revenda mas para ele.

A prestação que ele está a fazer não é no âmbito de uma empresa de prestação de serviços
(ex: limpeza, máquinas de vending, etc).
Não é ato objetivo porque o que ele faz não é para revenda.
Não é comerciante por que não faz aquilo profissão, ele é estudante.
A compra que ele faz da máquina não é um ato de comércio objetivo, não é comerciante
porque ele não exerce aquela atividade como profissional ou como profissão, logo se ele
não é comerciante já não tínhamos que ir para a 2º parte do artigo segundo, porque o art.2º
pressupõe que é comerciante.

Esta compra não é um ato de comércio, mas sim um ato civil.


não é comerciante porque ele não faz daquilo profissão, logo não temos que ir para a 2º
parte do art.2º.

Ele vende a máquina a associação dos estudantes.


A associação é um comerciante?
-Não, as associações não tenho fins lucrativos, a atividade principal não é o comércio, a
associação não pode ser vista como um comerciante.

C.Ramos 22
Como estamos perante ato civil e ato civil nunca aplicaríamos a lei comercial, mas sim a
lei civil.

O “A” comprou a máquina um comerciante.


Estaremos aqui perante um contrato unilateral, onde apenas é comercial para a empresa
que vendeu a máquina, mas não é comercial para o “A”, no entanto diz o código comercial
que nos contratos unilaterais apesar de um deles não ser comercial aplica-se a lei
comercial, com exceção de algumas situações, nomeadamente da regra das obrigações
solidárias que não se aplicam

Reformular a resposta: acresce que quando o “A” faz a compra a uma empresa ou uma
sociedade que venda máquinas e, em relação à sociedade que vende máquinas a venda
que ela faz ao “A” é um ato de comércio.
diz o artigo 99º embora o ato seja mercantil relativamente a uma das partes será regulado
pelas disposições da lei comercial, ISTO é, embora uma das partes não seja comerciante
aplica-se a lei comercial às 2, só não se aplica o artigo 100 das obrigações solidárias

Extrai-se assim um princípio geral de direito comercial, segundo o qual qualquer


atividade de prestação de serviços exercida por uma empresa transforma-a em empresa
comercial, assim as empresas de prestação de serviços são em regra comerciais.

Para podermos classificar os sujeitos em causa temos de analisar se eles são ou não
comerciantes. Como sabemos com base no art.º 13. CCM são comerciantes “As pessoas,
que, tendo capacidade para praticar atos de comércio, fazem deste profissão” Assim é
necessário além da capacidade, que o indivíduo faça da prática de comércio profissão e o
exerça em nome próprio. Contudo, a nossa lei é muito lacunosa, na qualificação de
atividades como comerciais, por isso, existem determinados princípios de direito
comercial basilares que são essenciais, para qualificar certas atividades, que de outra
forma não seriam qualificáveis como comerciais.

Nestes termos para enquadrarmos certas atividades teremos de nos socorrer de um


mecanismo conhecido como analogia iuris, trata-se da analogia feita a partir de princípios
jurídicos gerais de direito comercial, mas que não possuem consagração legal.
Contudo, a prestação de serviços para ser encarada como atividade comercial, tem de ser
feita no âmbito de uma empresa. Neste caso, A apesar de exercer uma prestação de
serviços, não a presta integrado numa organização empresarial, não existe na sua
atividade vetores de organização e exploração que possam ser negociados, por isso, A
não pode ser qualificado como comerciante. Temos assim uma prestação de serviços civil,
que não se rege pelo direito comercial.

Quanto à Associação de Estudantes, sendo uma entidade que não tem por objeto fins
lucrativos, não pode ser classificada como comerciante. Isto não impede contudo que as
entidades sem fins lucrativos não possam exercer atos de comércio, desde que tal respeite
o princípio da especialidade do fim consagrado no art. 160.º CC, nada impede a
associação de explorar um bar, isso não a torna, todavia, um comerciante, porque tal
atividade é exercida não a título principal, mas a título meramente instrumental.

C.Ramos 23
Uma vez concluído que os sujeitos em causa não são comerciais segue-se a qualificação
dos atos praticados, a compra da máquina e a sua posterior revenda.
A compra efetuada pelo estudante é uma compra civil, por interpretação a contrario dos
artigos art.º 463.º e 464.º n.º 1 CCM, pelo que estabelece este artigo que “Não são
consideradas comerciais: As compras de quaisquer cousas móveis destinadas ao uso ou
consumo do comprador ou da sua família, e as revendas que porventura desses objetos se
venham a fazer;

A compra não foi destinada à revenda, este ato acontece por motivos supervenientes, pelo
que não se trata de uma compra comercial, nos termos do art. 463.º CCM, mas de uma
compra civil.

Temos agora que saber qual o regime que segue compra, porque apesar desta ser civil,
poderá seguir os trâmites do CCM.

O estudante, comprou a máquina numa loja, tudo leva a concluir que a venda foi
comercial, assim, a comercialidade da atividade apenas se verifica em relação a uma das
partes, o ato é deste modo, unilateralmente comercial. Para estes, estabelece o art. 99.º
CCM “Embora o ato seja mercantil só com relação a uma das partes será regulado pelas
disposições da lei comercial quanto a todos os contratantes, salvo as que só forem
aplicáveis àquele ou àqueles por cujo respeito o ato é mercantil, ficando, porém, todos
sujeitos à jurisdição comercial”

Assim os atos unilateralmente comerciais são regulados pela lei comercial excetuando-se
as disposições da lei comercial que só forem aplicáveis àquele ou àqueles por cujo
respeito a lei é mercantil. Nestes termos basta que uma das partes seja comercial para se
aplicar o regime do CCM.

Conclui-se, portanto, que apesar da compra ser civil, vai estar sujeita ao regime comercial,
por força da lei mandar aplicar ao ato unilateralmente comercial o regime do CCM.
Todavia, apesar disto, não será aplicado à compra o regime da solidariedade previsto no
art.100.º CCM por tal preceito estabelecer que “Esta disposição não é extensiva aos não
comerciantes quanto aos contratos que, em relação a estes, não constituírem atos
comerciais”

Relativamente ao negócio efetuado com a AE, consideramos que a venda é civil, porque
a máquina não foi adquirida como intuito de revenda, art.463.º n.º 3 CCM contrario.
Contudo, a compra já é comercial, porque foi comprada pela AE com intuito de explorar
uma atividade comercial. Assim, temos uma situação semelhante à acima explicada, um
ato unilateralmente comercial, que leva a que os efeitos comerciais se estendam também
à venda que é neste caso civil, por força do art.99 CCM, salvo a exceção prevista no
art.100. º do mesmo diploma.

Caso prático 9

Frederico, advogado e amante de pintura, comprou um conjunto de quadros de


Júlio Resende numa galeria de arte, no Porto, pretendendo fazer uma surpresa a
Helena, sua mulher. Helena, contudo, não gostou dos quadros e exigiu que Frederico
os tirasse rapidamente de casa. Triste, Frederico decidiu vender os quadros.

C.Ramos 24
Jeremias, comerciante de arte, mostrou-se logo interessado e a venda realizou-se.
Ficou, no entanto, combinado que Frederico guardaria os quadros durante 15 dias,
pelo que este contratou o depósito dos quadros com a galeria de arte onde os
comprara, por aquele período. Para garantir a segurança dos quadros, Frederico
contratou ainda um guarda para vigiar as pinturas.

Qual a natureza dos vários atos descritos?

Resolução:
Compra dos quadros por F: natureza civil. Não é AC objetivo (não é compra para revenda:
463.º, nº1) nem subjetivo (F não é comerciante, nos termos do artigo 13.º.) Coloca-se
aqui a problemática tradicional das pessoas semelhantes a comerciantes e dos
profissionais liberais: Chegamos, assim, à ideia de ‘pessoa semelhante a comerciante’:
uma entidade que não sendo comerciante em si, suscita, não obstante, a aplicação das
diversas regras do Direito Comercial.

Seria necessária a reunião de três critérios para estarmos perante uma pessoa semelhante
a comerciante:
(a) autonomia [i.e. ausência de sujeição a direção e subordinação];
(b) prática de atos lucrativos, a título regular;
(c) organização mínima, comparável a uma empresa.
Menezes Cordeiro, Manual de Direito Comercial (2009), 246.

Perante cada figura – assim como perante profissionais liberais que disponham de
verdadeiras empresas – haverá que ponderar. Uma resposta unívoca, baseada em
raciocínios conceptuais e abstratos, é impossível.

⎯ Venda dos quadros por F: natureza civil: revenda de quadro que não foi comprado com
intuito de revenda (intenção + cognoscibilidade mínima desta), logo 463.º/3 não se aplica
e não temos AC objetivo; não é AC subjetivo porque F não é comerciante.

⎯ Compra dos quadros por J: AC objetivo (compra para revenda 463.º/1 e 2.º/ 1.ª parte) e
AC subjetivo (2.º/2 parte + 13.º CCom.). AC unilateral (apenas a compra é comercial)
⎯ Contrato de depósito: 403.º CCom (exemplo de AC por acessoriedade ou conexão;
outros exemplos). Não é depósito de bens destinados ao comércio. Natureza civil. Não é
AC subjetivo (F não é comerciante)

- Contrato de prestação de serviços do guarda: não é AC subjetivo (F não é


comerciante) nem AC objetivo (não está especialmente regulado no CCom: discussão
sobre a teoria da acessoriedade; relação com o problema da qualificação de AC por
analogia)

Pode um determinado ato ser qualificado comercial por analogia (i.e. considerarmos
comerciais atos que não recebam regulação especial no Código Comercial ou em
legislação comercial extravagante?).

Segundo o Prof. Menezes Cordeiro, este debate corresponde a uma verdadeira inversão
metodológica: perante determinado ato ou facto jurídico, que não encontra regulação no
Código Comercial ou em legislação extravagante, haverá que indagar do regime
aplicável, como primeiro passo corretamente dado (metodologicamente).

C.Ramos 25
Se o regime aplicável (não qualificação) for encontrado por analogia, então o ato será
objetivamente comercial. Pode duvidar-se da possibilidade de aplicar analogicamente o
regime comercial, mas sem muito fundamento, uma vez que não estamos perante regras
excecionais, mas, na grande parte, perante regras especiais (artigo 11.º CCIV). Assim,
perante um ato não especialmente regulado, o intérprete recorrerá aos critérios
hermenêuticos estabelecidos no artigo 10.º CCIV: o regime pode ser encontrado através
de aplicação analógica - leges ou iuris –, ou através da norma que o intérprete criaria; se
estas forem comerciais, o ato é comercial.

Um exemplo deste percurso, mas percorrido com ordem metodológica, é-nos dado pelo
Prof. Menezes Cordeiro: as obrigações resultantes da culpa in contrahendo, verificada
aquando da preparação de um contrato comercial devem reger-se por regras comercias,
próprias do contrato definitivo.

O artigo 3.º do CCOM não pode colocar obstáculos a este percurso hermenêutico, na
medida em que leva a um ciclo vicioso: “Não sabendo qual o regime de uma questão,
como decidir se ela é comercial ou não?”

CASO N.º 10

(16.11.2021-
A 10 de agosto de 2006, Fernando, proprietário do prédio sito na Rua Faria de
Oliveira, no qual administra um estabelecimento de comércio de pneus, efetuou, a
Carlos, o trespasse do mesmo, cedendo, igualmente, o gozo temporário e oneroso do
local. Convencionou-se que o contrato vigoraria por dois anos e que quaisquer obras
de conservação ordinária ou extraordinária ficariam a cargo do
locatário/trespassário.
Em outubro de 2006, Carlos trespassou a Rita o estabelecimento comercial referido,
transmitindo, igualmente, a sua posição de arrendatário, sem, porém, comunicar ao
senhorio. A latere, o contrato foi acompanhado das instalações e de alguns utensílios,
pese embora o facto de muitas ferramentas e maquinaria terem ficado na posse de
Carlos. Tendo em conta:

a) Enquanto o contrato de Carlos vigorou, este realizou obras de conservação


extraordinária (condutas de extração de fumos), cujas saídas passaram a
apontar para o domicílio de Fernando.

2- Rita explorava, no estabelecimento, o comércio de pneus, mas passou a utilizá-lo,


sem que Carlos soubesse, como escritório de advocacia.

3- A 10 de novembro de 2006, o senhorio, que havia estado de férias prolongadas no


estrangeiro, teve conhecimento dos factos apontados e pretende, agora, através de
ação intentada em primeira instância:

a) Ver destruída a construção das condutas de extração e, consequentemente,


obter, de Carlos, uma indemnização para a recuperação das antigas, visto não
ter dado o seu aval para aquelas.

C.Ramos 26
b) Resolver o contrato de trespasse de Rita por força de estar a ser exercida, no
estabelecimento, atividade diferente daquela que para o qual o mesmo foi
delineado.

4- Rita faleceu em 2 de novembro de 2006 e o seu filho, Ricardo, que nunca havia
trabalhado com ela, assumiu, após o seu decesso, a exploração do estabelecimento.

CASO PRÁTICO N.º 11

José, arrendatário de Jasmim, explorava, desde há muito tempo, um


estabelecimento comercial cujo atividade se prende com “centro de fotocópias e
encadernações”. No entanto, cansado daquela atividade, e já de idade avançada,
decidiu, em 02 de fevereiro de 2015, celebrar um contrato de locação de
estabelecimento informal com Pedro, através do qual Pedro passaria a explorar
aquela mesma atividade. Convencionaram que que o contrato teria a duração de 2
anos, nada ficou convencionado quanto a eventuais renovações ou a matéria sobre
denúncia. Da nova situação não foi dado conhecimento a Jasmim. Pedro, um homem
altruísta, decidiu assumir as obrigações decorrentes de 2 contratos de trabalho que
haviam sido celebrados entre José e dois trabalhadores. Em finais de 2016, Pedro
comunicou a José que pretendia renovar o contrato, visto estar a mostrar-se um
negócio lucrativo. José opôs-se à renovação do contrato, dizendo que, no respeito
pelo princípio da liberdade contratual, ambos acertaram que o contrato teria apenas
a duração de 2 anos, pelo que não o iria renovar. José decidiu, então, denunciar o
contrato de locação, a que Pedro se opôs. José, para evitar aborrecimentos, cedeu, e
o contrato “arrastou-se” até 31.07.2019, altura em que Pedro, também já cansado
daquela atividade, denuncia o contrato. José inicialmente não aceitou de bom
agrado a denúncia, justificando que Pedro não respeitou o prazo de 1 ano de
antecedência. Ainda assim, cedeu, mas informou Pedro que iria intentar uma ação
judicial, reclamando o pagamento dos bens que constituíam o capital fixo do EC, e
que Pedro substituiu, visto este não ser proprietário desses bens. QUID JURIS?

Enquanto Pedro explorava o EC, abriu nova atividade concorrente com a que
exercia, na área geográfica onde se situava o EC locado. Assim, que José soube do
sucedido acusou Pedro de violar a obrigação de não concorrência. Pedro ripostou
dizendo que José é que estava obrigado a não exercer atividade concorrente com a
dele, pois tirar-lhe-ia a clientela.

CASO N.º 12 (16.11.2021-PL)

Daniel é proprietário de uma tabacaria na Avenida de Roma. Com já tem alguma


idade acordou com Estêvão que este passaria a explorar a tabacaria por sua conta
pagando-lhe, em troca, 10% sobre o valor da faturação anual. No mesmo momento
constituiu um penhor sobre a tabacaria a favor do seu amigo Francisco como
garantia do mútuo destinado à realização de pequenas obras na fachada da loja.

1 – Como qualifica o negócio jurídico celebrado entre Daniel e Estêvão?

C.Ramos 27
2 – Que regime se aplica ao penhor da tabacaria?

1- A cessão de estabelecimento será a transferência temporária do


estabelecimento, efetuada a qualquer título, incluindo o comodato; a locação de
estabelecimento implicaria a cessão titulada por um negócio decalcado da locação
(designadamente com uma obrigação periódica de pagamento de retribuição, tipo
renda ou aluguer). A construção do regime da transferência temporária do
estabelecimento teve sempre como principal propósito a exclusão das regras do
arrendamento, que não fariam sentido neste contexto: pense-se nos prazos
mínimos de duração do arrendamento, ou nas renovações automáticas; o
art.1109.º veio concretizar esta linha interpretativa, já que manda aplicar à
locação as regras da subsecção VIII, que são todas dispositivas;

– O negócio parece configurar uma cessão já que a retribuição afasta-se do arquétipo da


locação (a renda não pode ser eventual (1038.º/alínea a) e normas seguintes); devem
procurar-se as regras, onde as partes nada tenham disposto, no regime geral da locação (e
não, sublinhe-se, no regime do arrendamento);

2 – Sublinhar que para além da locação (1109.º do CC) o EC pode ser objeto de
diversos negócios jurídicos atípicos ou com tipicidade social (usufruto – artigo
1439.º e extensão a usufruto de direitos nos artigos 1463.º a 1467.º; penhor de
estabelecimento – quem pode o mais (transmissão definitiva ou temporária),
parece poder o menos (oneração para fins de garantia). Será um penhor mercantil,
nos termos do artigo 397.º CCOM, pelo que o desapossamento pode ser simbólico
(artigo 398.º/§ único).

2 – Que regime se aplica ao penhor da tabacaria?

– Penhor de estabelecimento – quem pode o mais (transmissão definitiva ou temporária),


parece poder o menos (oneração para fins de garantia). Será um penhor mercantil, nos
termos do art.397.º CCOM, pelo que o desapossamento pode ser simbólico (art.398.º/§
único);

– A favor da admissibilidade da figura, temos ainda a possibilidade de empenhar o EIRL


(artigo 21.º, nº1, do regime jurídico do EIRL – DL 248/86, de 25 de Agosto); e de
penhorar o estabelecimento comercial, unitariamente – artigo 782.º, CPC [atenção ao n.º
2: A penhora do estabelecimento comercial não obsta a que possa prosseguir o seu
funcionamento normal, sob gestão do executado, nomeando-se, sempre que necessário,
quem a fiscalize, ao qual se aplicam, com as necessárias adaptações, os preceitos
referentes ao depositário).

CASO N.º 13

Francisco arrendou uma loja sita na Rua do Alecrim por € 500,00. Fez obras e
montou uma pastelaria com todo o equipamento necessário, pronta a funcionar.

C.Ramos 28
Acordou de seguida com Gustavo que este passaria a explorar a pastelaria e que, em
troca, lhe pagaria a quantia mensal de €3.500,00. Gustavo contratou trabalhadores,
fornecedores, etc., e dois meses depois iniciou a exploração do estabelecimento.

No dia da inauguração, o senhorio foi tomar café à nova pastelaria e deu-se conta
que, afinal, quem explorava a pastelaria era Gustavo e não Francisco.

Dias depois, Gustavo recebeu uma carta com o seguinte teor: “Informa-se V.Exa.
que o presente subarrendamento não foi autorizado pelo senhorio e que, ainda que
houvesse sido, o valor da sublocação excede o disposto no art.1062.º do CC.”.
➢ Discutir se uma loja totalmente montada, mas sem estar em funcionamento é um EC.

– Se se disser que não por falta de aptidão funcional, de aviamento e clientela, etc., trata-
se de uma sublocação e não de uma locação de EC: o senhorio terá razão.

– Se se disser que sim, que ainda assim é um EC, trata-se de uma locação de EC
(art.1109.º), e devia ter sido comunicada ao senhorio no prazo de 1 mês (n.º2). Mas de
resto não se aplica a necessidade de consentimento, nem o limite da sublocação (as regras
da subsecção VIII não incluem limitações à sublocação;

Estabelecimento Comercial
É a organização do empresário mercantil, o conjunto de elementos reunido e organizado
pelo empresário para através dele exercer a sua atividade comercial, de produção ou
circulação de bens ou prestação de serviços.

O que pressupõe um estabelecimento comercial?

► Um titular: ele é um conjunto de meios predestinados por um empresário, titular de


um determinado direito sobre ele, para exercer a sua atividade.

► Um acervo patrimonial: engloba um conjunto de bens e direitos, das mais variadas


categorias e naturezas, que têm em comum a afectação à finalidade coerente a que o
comerciante os destina.

► Um conjunto de pessoas: pode reduzir-se à pessoa do empresário o seu suporte


humano, nas formas mais embrionárias de estrutura empresarial; mas normalmente
engloba uma pluralidade de pessoas, congregadas por diversos vínculos jurídicos, para
atuarem com vista à prossecução da finalidade comum da empresa.

► Uma organização: os seus elementos não são meramente reunidos, mas sim entre si
conjugados, interrelacionados, hierarquizados, segundo as suas especificas naturezas e
funções especificas, por forma que do seu conjunto possa emergir um resultado global:
a atividade mercantil visada.

C.Ramos 29
► Uma organização funcional: a sua estrutura e configuração, a sua identidade própria
advém-lhe de um determinado objecto, que é uma atividade de determinado ramo da
economia; atividade que, entretanto, será́ necessariamente uma atividade de fim
lucrativo das que cabem na matéria mercantil, ou seja, no âmbito material do direito
comercial. Só́ assim se pode falar de um estabelecimento comercial (sem embargo de,
com aquela, se poderem conjugar atividades de outra ordem).

O termo estabelecimento admite no nosso direito positivo diversos


significados:

• 1º lugar - Arts.1109º e 1112º do Código Civil «Transmissão da posição do


arrendatário».
• 2º lugar - Art.95º, nº2 e 263º § único do Código Comercial «Armazéns,
escritórios, lojas abertas, etc, ao público».

Não existe um único e rigoroso conceito de estabelecimento comercial, válido para todos
os efeitos legais, sendo que o que está em 1º lugar é o mais abrangente e adequado em
termos técnico-jurídicos.

Um comerciante pode não ter um estabelecimento comercial visto que, uma sociedade
comercial, são comerciantes natos e não carecem, para adquirirem essa qualidade, de
exercer efectivamente o comércio.
Já os comerciantes em nome individual necessitam de ter um estabelecimento , porque só
é comerciante individual quem exerça profissionalmente o comércio, se cessa de o
exercer, perde a qualidade de comerciante.

Elementos do estabelecimento comercial

• Elementos corpóreos ( mercadorias, que são bens moveis destinados a serem


vendidos; as máquinas e utensílios, etc)
• Elementos incorpóreos (direito de arrendamento, direito reais de gozo, etc)
• A clientela ( a clientela é uma certeza e uma virtude, isto é, há clientela certa e há
clientela virtual)
• Aviamento ( é a capacidade lucrativa da empresa)

Natureza jurídica do estabelecimento comercial

• No caso de trespasse do estabelecimento, as dívidas referentes ao


estabelecimento se transferem para o adquirente ( o que fica com o negócio),
sem que, alias, o alienante (o que trespassa) fique delas desvinculado, salvo
consentimento dos credores. Haveria assim, uma aderência do passivo ao ativo
do estabelecimento, que justificaria a concepção deste como um património
separado ou autónomo.

C.Ramos 30
Trespasse:

Alienante ( o que transfere para o domínio de outrem) diz-se trespassante


Aquirente denomina-se trespassário

Trespasse - é todo o negócio pelo qual seja transmitido definitivamente e inter vivos um
estabelecimento comercial, como unidade. Ficam excluídas do conceito os casos de
transmissão mortis causa.

Para que haja trespasse, o estabelecimento tem que ser alienado como um todo unitário,
isto é, abrangendo a globalidade dos elementos que o integram art.1112º, nº2, al.a) do
CC.
No entanto antes de outro espaço e com a concordância da outra parte, alguns elementos
podem ser retirados e subtraídos à Transmissão, mas como foi dito precisa da
concordância da outra parte.

Art.1112º «Transmissão da posição do arrendatário».

1. É permitida a transmissão por acto entre vivos da posição do arrendatário, sem


dependência da autorização do senhorio:
a) No caso de trespasse de estabelecimento comercial ou industrial.

b) A pessoa que no prédio arrendado continue a exercer a mesma profissão liberal,


ou a sociedade profissional de objecto equivalente.

2. Não há trespasse:

a) Quando a transmissão não seja acompanhada de transferência, em conjunto, das


instalações, utensílios, mercadorias ou outros elementos que integram o
estabelecimento;

b) Quando a transmissão vise o exercício, no prédio, de outro ramo de comercio ou


indústria ou, de um modo geral, a sua afectação a outro destino.

3. A transmissão deve ser celebrada por escrito e comunicada ao senhorio.

4. O senhorio tem direito de preferência no trespasse por venda ou dação em


cumprimento, salvo convenção em contrário.

5. Quando, após a transmissão, seja dado outro destino ao prédio, ou o transmissário


não continue o exercício da mesma profissão liberal, o senhorio pode resolver o contrato.

O primeiro aspecto do regime do trespasse é forma, deve ser celebrado por escrito
art.1112º, nº3 do CC.
O segundo aspecto é o direito de preferência que é atribuído ao senhorio do prédio
arrendado art.1112º, nº4, aplica-se também ao direito de preferência os arts.416º a 418º
e 1410º do CC.

C.Ramos 31
No trespasse no caso do direito ao arrendamento e conforme o art.1112º, nº1 dispensa a
autorização ao senhorio quando a transmissão daquele direito ocorrer no âmbito de
trespasse de estabelecimento ao qual se achar adstrito o imóvel arrendado, mas para que
a transmissão da posição de arrendatário produza efeito em relação ao senhorio, é
indispensável a comunicação do trespasse seja feita dentro de 15 dias a contar da
celebração da respectiva escritura art.1038º, nº1, al.g).

Ação jurídica de empregador transmite para o adquirente, por qualquer título, em caso de
alineação da empresa ou estabelecimento, ou parte delas art.285º CTrab.
Com o trespasse faz nascer para o trespassante, obrigação de não-concorrência ao
trespassário, não podendo exercer uma atividade análoga, em condições do local, tempo
e outras, de forma ao não retorno a clientela do estabelecimento alienado.
As consequências da violação da não-concorrência é ilícita e constituirá indemnização
pelos danos causados, comportando sansões de responsabilidade pecuniária, enquanto
persistir na conduta ao abrigo do art.829º-A do CC.

Cessação da exploração ou locação de estabelecimento art.1109º do CC

A cessação é um contrato de locação (art.1022º) do estabelecimento como unidade


jurídica, é um negócio jurídico pelo qual o titular do estabelecimento proporciona a
outrem, temporariamente e mediante retribuição, o gozo e fruição do estabelecimento,
isto é, a sua exploração mercantil.

O cedente/ locador demite-se temporariamente do exercício da actividade comercial, e


quem o assume é o cessionário/ locatário

É importante termos presente que o objecto da cessão de exploração não é o imóvel em


si, mas sim o estabelecimento com um bem unitário, compreendendo a globalidade dos
elementos que o integram e a sua destinação ao prosseguimento de uma dada actividade
mercantil, mas tem que se verificar duas condições cumulativas:
• O estabelecimento mantenha a sua identidade na transição do cedente para o
cessionário, isto é, que sejam globalmente transferidos os elementos constitutivos
do estabelecimento.
• E que o cessionário continue a exercer nele a mesma actividade

Entende-se assim pela doutrina e a jurisprudência, que quando o estabelecimento cedido


esteja em imóvel arrendado, não é devida a autorização prévia ao senhorio

Art.1109º «Locação de estabelecimento»:

1.A transferência temporária e onerosa do gozo de um prédio ou de parte dele, em


conjunto com a exploração de um estabelecimento comercial ou industrial nele
instalado, rege-se pelas regras da presente subsecção, com as necessárias adaptações.

2.A transferência temporária e onerosa de estabelecimento instalado em local arrendado


não carece de autorização do senhorio, mas deve ser-lhe comunicada no prazo de um
mês .

C.Ramos 32
A locação de estabelecimento à semelhança do trespasse, está sujeita a exigência de forma
escrita, por força da redação dada pela lei nº6/2006, de 27 de fevereiro ao art.1109, nº1
do CC, que remete para o art.1112º, nº3 do CC.
Observe-se, no entanto, que, a eficácia para com o senhorio da cedência temporária da
posição de arrendatário inerente à cessação de exploração dependerá sempre de esta lhe
ter sido tempestivamente comunicado, no prazo de 15 dias, previsto no art.1038º, nº1,
al.g) do CC

Transmissão do estabelecimento no seu todo ou como uma universalidade.

O trespasse não deixará de o ser até ao limite de o conjunto transmitido ficar de tal
modo descaracterizado que já não possa considerar-se um “estabelecimento” em
condições de funcionar.

A universalidade de transmissão pressupõe a manutenção do exercício do mesmo


comércio.

Forma: por escrito particular e não já por escritura publica – Art.1112º, nº3 do Código
Civil «Transmissão da posição do arrendatário», “acompanhado da comunicação ao
senhorio”.

Efeitos: - Transmissão com carácter definitivo;


- Direito de preferência do senhorio – Art.1112º, nº4 do Código Civil “venda ou dação
em cumprimento”;

- Obrigação de Não Concorrência – violada poderá́ acarretar dever de indemnizar o


lesado e dever de cessar a atividade concorrente.

O conceito de empresa

É um conjunto de bens materiais ou não, organizados por um sujeito ( pessoa), para


prática de uma determinada actividade designadamente económica para a produção de
bens e prestações de serviços, cuja o objetivo não é meramente solidário nem
meramente humanitário, mas sim, na obtenção de lucros.

Empresa como sujeito – Pessoa que exerce uma atividade de produção ou distribuição
de bens ou serviços.

Empresa como atividade – Atividade económica exercida pelo empresário de forma


profissional e organizada com o objetivo de produzir bens ou serviços.

Empresa como objecto – Organização do conjunto de fatores de produção e outros


elementos congregados pelo empresário para o exercício da sua atividade.

Empresa como conjunto ativo de elementos – Organismo vivo polarizado da criação de


riqueza

C.Ramos 33
Empresário
Comerciante:

Noção

No domínio do direito comercial, deve de prevalecer, em geral, a noção de comerciante


que resulta do art.13º do C.Com, isto é, são comerciantes as pessoas que tendo
capacidade para praticar atos de comercio, fazem deste profissão prática regular,
prática profissional, em nome individual, de forma independente e autónoma, mas tem
que cumprir os seguintes requisitos, nascimento completo e com vida art.66º a plena
capacidade jurídica art.130ºCC e art.7º CCom).

Por outras palavras Comerciante é quem, enquadrando-se numa das 2 categorias do


art.13º, seja titular de uma empresa que exerce uma das atividades comerciais, tais
como as qualificam o art.230º do C.Com cadeiras e as demais disposições avulsas que
caracterizam e englobam no direito comercial certas atividades económicas. A aquisição
da qualidade de comerciante é sempre originária, não podendo transmitir-se, nem inter
vivos, nem mortis causa. Portanto, quem organizar ao adquirir uma empresa comercial
terá de preencher, em si mesmo, os requisitos necessários para obter a qualidade de
comerciante.

Sendo proibido a profissão do comercio art.14º CCom.

Incompatibilidades e impedimentos

Estas incompatibilidades e impedimentos proibe o exercício do comércio às pessoas


que exercessem certas funções, ou detenham posições que poderiam ser
prejudicadas por esse exercício, por motivos éticos o de política legislativa.

Estes impedimentos ou estas incompatibilidades podem dividir-se em 2 grandes


grupos:

• Decorrentes de disposições de direito Público, ex: as que inibem do


comercio: os juízes, os magistrados do MP, titulares de cargos políticos, etc...
• Os estabelecimentos por disposições de direito comercial – logo, de direito
privado .

Categorias de Empresários não comerciantes

C.Ramos 34
• Agricultores: o art.230 no §§1º e 2º e o art.464º, nº2 C.Com exclui a agricultura
do elenco das actividades comerciais.
Considera-se como não-comerciais as compras e vendas de animais feitas pelos
criadores e engordadores art.464º C.Com. Além disso, a agricultura envolve
também, seguramente, a exploração florestal e a criação de animais aparece
hoje em certas modalidades não tradicionais, tais como a piscicultura, a
ostreicultura, etc.
• Artesões: o art.230 no §§1º considera como atividades não comerciais as que
integram o artesanato.
Trabalhador que exerce uma actividade artesanal, por conta própria ou por
conta de outrem, inserido em unidade produtiva artesanal reconhecida, o
exercício da actividade artesanal supõe o domínio dos saberes e técnicas que lhe
são inerentes, bem como um apurado sentido estético e perícia manual.
• Profissionais liberais: Quando são exercidas por conta própria e de modo
individualizado, as actividades dos advogados, jurisconsultos, médicos,
engenheiros, economistas, professores, etc., não têm natureza mercantil.

Não obstante, pode ocorrer que um profissional liberal se torne comerciante se praticar
com habitualidade actos de comércio. Será́ o caso, por ex., de um médico que explore
uma clínica.

Obrigações especiais dos comerciantes

É no art.18º do C.Com que vem a definição das chamadas obrigações especiais dos
comerciantes.
Sem esgotarem os deveres profissionais dos comerciantes, todavia têm a peculiar
importância de definirem um estatuto jurídico- comercial de profissão mercantil.

Firma

O direito comprado apresenta-nos dois conceitos de firma, o objectivo e o subjectivo.


O nosso sistema jurídico assenta no conceito subjectivo, resultante anteriormente do
art.19º C.Com, que foi revogado e substituído pelo DL nº42/89, de 3.2, que por sua vez
revogado e substituído pela vigente REG.RNPC, aprovado pelo DL nº129798, de 13.5.

A firma é o nome comercial dos comerciantes, o sinal que os individualiza ou os


identifica, tendo como obrigação de ter um nome, identificação.
O comerciante pode vender a própria firma, mas em nome individual, a firma não se
vende porque o nome é do próprio comerciante
O art.38º C.Com diz-nos quem pode fazer escrituração, “ todo o comerciante pode
fazer escrituração mercantil por si ou por outra pessoa a quem para tal fim autorizar” e
se, o comerciante por si próprio não fizer a escrituração, presumir-se-á que autorizou a
pessoa que a fizer.

• Constituição da firma

C.Ramos 35
Consoante os casos, pode ser formada com o nome de uma ou mais pessoas (firma-nome),
com uma expressão relativa aos ramos de atividade, aditada ou não de elementos de
fantasia ( firma-denominação ou simplesmente denominação), ou englobar uns e outros
desses elementos (firma mista).
Em todo o caso, ele será um sinal nominativo e nunca emblemático: sempre uma
expressão verbal, com exclusão de qualquer elemento figurativo.

• Princípios

Princípio da obrigatoriedade- este princípio aparece por força do qual é dever de todo
o comerciante adoptar uma firma, consagrando-se, no art.18º, nº1 do C.Com, e no art.9,
nº1, al.c), do CSC.

Princípio da verdade- como o próprio nome indica, a firma deve de corresponder a uma
situação real do comerciante a quem pertence, isto é, não pode conter elementos
susceptíveis de a falsear ou de provocar confusão, seja quanto à identidade do
comerciante em nome individual e ao objecto do seu comércio, quer, no tocante à
sociedade, quanto à identidade dos sócios, ao tipo e natureza da sociedade, à actividade
objecto do seu comércio e outros aspectos a ele relativos.
Como mecanismo de salvaguarda deste princípio o art.32º, n º4, al.a) e art.10, nº5, al. a
nº4 e 5 do CSC proíbem o uso de elementos e expressões de uso corrente capazes de
induzir em erro nas firmas.
Este princípio apresenta consagração diversa conforme se refere à firma originária ou à
firma adquirida.

Princípio da licitude- é um princípio que se encontra consagrado no art.32º, nº4, als. b),
c) e d) do Reg-RNPC e do art.10º, nº5, al.b) CSC.
Este princípio diz-nos que é proibido a inclusão nas firmas de expressões, como:
ofensivas da moral ou dos bons costumes; expressões incompatíveis com a liberdade
política, religiosa ou ideológica; e desrespeitadoras ou apropriadas de símbolos e
designações dignas de salvaguardar por razões de interesse geral atendíveis.

Princípio da novidade ou da exclusividade- este princípio aparece-nos consagrado no


art.33º do Reg-RNPC, que nos diz no seu nº1 “as firmas e denominações devem ser
distintas e não susceptíveis de confusão ao erro com as registadas ou licenciadas no
mesmo âmbito da exclusividade, mesmo quando a lei permita a inclusão de elementos
utilizados por outros já registadas, ou com a designação de instituições notoriamente
reconhecidas”.
Já no seu nº2, explica os elementos a ter em conta para apurar tal distinção e susceptíveis
de confusão ao erro,” os juízos sobre a distinção e a não suscetibilidade de confusão o
erro devem ter em conta o tipo de pessoa, o seu domicílio ou sede, a afinidade ou
proximidade das suas atividades e o âmbito territorial destas”.

Princípio da unidade- este é um princípio que embora tenha sido omitido pelo art.3º do
Reg-RNPC, a verdade é que o art.38º do mesmo diploma refeira que “o comerciante
individual deve adoptar uma só firme...”, bem como o art.9º, nº1, al.c) do CSC, alude a:
“a firma da sociedade”.

C.Ramos 36
• Direito à firma

Encontra-se consagrado no art.62º do Reg-RNPC: O comerciante cuja firma registada


for indevidamente usada por outrem tem o direito de:
- Pedir que o autor do uso ilícito seja proibido de usá-lo, e isto independentemente de tal
uso causar ou não dano ao titular. Aliás, o comerciante pode também pedir ao tribunal
que comine ao abusador uma sanção pecuniária compulsória para o caso de aquele não
respeitar a proibição art.829º-A do CC.
Pedir indemnização por perdas e danos, se os sofreu, nos termos gerais da
responsabilidade civil dos actos ilícitos art.483º e SS do CC.
Esta proteção só cabe às firmas registadas no RNPC, como decorre do art.3º do Reg-
RNPC

• Extinção da firma

São causas de extinção da firma:

a) Quanto aos comerciantes em nome individual:


- A cessação da actividade, com a liquidação do estabelecimento ou, se este não
for liquidado, pela transmissão do estabelecimento sem a firma
- A morte, se não prosseguirem os sucessores com a actividade do de cujus, e se
não alienarem a firma e o estabelecimento
- Insolvência

b) Quanto às sociedades:
- Se se dissolverem e liquidarem e não for transmitida a sua firma com o
estabelecimento (na fase de liquidação, à firma deve acrescentar-se a expressão “
sociedade em liquidação” ou “ em liquidação”, art.146º, nº3 do CSC

• Escritura mercantil

• Balanço

O balanço constitui a síntese da situação patrimonial do comerciante em determinado


momento, através do passivo e do activo e da situação líquida e respectivos valores.
A lei impõe a que se realize um balanço anual, referido ao último dia de cada exercício
anual, que deve de ser elaborado no primeiro trimestre do exercício imediato art.62º do
C.Com.

• Registo Comercial

A finalidade do registo comercial é dar publicidade à situação jurídica dos comerciantes


individuais, das sociedades comerciais, das sociedades civis sob forma comercial e dos
estabelecimentos individuais de responsabilidade limitada, tendo em vista a segurança do
comercio jurídico conforme art.1º, nº1 do CRC.
O registo comercial é efectuado por transcrição e deposito.

C.Ramos 37
É publico, podendo qualquer pessoa pedir certidões dos actos de registo e dos documentos
arquivados, podendo também pedir informações verbais ou escritas sobre o conteúdo de
uns e de outros, incluindo cópias não certificadas dos registos e documentos art.73º e 74º
do CRC.

Comerciantes em nome individual

O art.13, nº1 do C.Com só abrange pessoas físicas, “ comerciantes em nome individual”


Uma pessoa física diz-se comerciante o art.18, nº3 responde a isso, “ os comerciantes
são especialmente obrigados: “a fazer inscrição no registo comercial os atos a ele
sujeitos”.

O empresário pessoa casada

No tocante às dívidas contraídas pelos cônjuges, é aquele princípio que tem como
corolário o disposto no nº1 do art.1690º do CC (princípio da igualdade de direitos e
deveres), qualquer dos cônjuges tem legitimidade para contrair dívidas sem
consentimento do outro.
O art.1691º enuncia quais são as dívidas que são da responsabilidade de ambos os
cônjuges, pelas quais respondem os bens comuns do casal e, na falta ou insuficiência
deles, solidariamente, os bens próprios de ambos os com art.1695º n.1
O art.1692º e numera as dívidas da exclusiva responsabilidade do cônjuge a que dizem
respeito, sendo que por estas dívidas respondem os bens próprios do cônjuge devedor e,
solidariamente, a sua meação nos bens com uns art.1696º, n.1

Responsabilidade pelas dívidas contraídas por um dos cônjuges no exercício do


COMERCIO

Quando o regime de casamento não seja da separação de bens, serão da responsabilidade


de ambos os cônjuges as dívidas contraídas porque qualquer um deles no exercício do
comércio art.1691º, nº1, al. d). Ou Seja, quando um dos cônjuges for comerciante, isto
é, exerça profissionalmente o comércio, responderão pelas dívidas que ele contrair nessa
atividade os bens comuns do casal e, na falta ou insuficiência destes bens, os bens próprios
de ambos os cônjuges, solidariamente art. 1695º nº1, isto se o regime de bens do casal
não for a separação de bens, só se aplica aos casos em que o casamento se rege pela
comunhão geral, comunhão de adquiridos ou outro regime de bens convencional.

Mas o legislador por uma questão de equilíbrio entre os interesses mercantis e os


interesses da família admitiu que as dívidas do cônjuge comerciante possam deixar de
responsabilizar ambos os cônjuges, se for feita a prova de que não foram contraídas em
proveito comum do casal, al. d) do nº1 do art.1691º.

C.Ramos 38
As dívidas contraídas por um do cônjuge podem ser da responsabilidade dos 2 se o credor
provar que elas foram contraídas em proveito comum do casal e nos limites dos poderes
de administração do cônjuge que as contraiu al. c), do nº1 do art.1691º

Em suma: se um credor de um comerciante fizer a prova que a dívida é comercial e o


devedor é comerciante, presume-se que a dívida foi contraída por este no exercício do
comércio e, portanto, a dívida é da responsabilidade de ambos os cônjuges nos termos do
art.1691º, nº1, alínea d) e 1695º do CC e do art.15º do CCom.
Para afastar este regime é preciso que o cônjuge do comerciante, ou mesmo este ilida a
presunção do Art.15º CCom provando que a dívida do comerciante, apesar de ser
comercial, não foi contraída no exercício da atividade comercial daquele, ou, em todo o
caso, ilida a presunção implícita do art.1691º, nº1 alínea d), provando que a dívida não
foi contraída em proveito comum do casal.

Sociedade civil, comercial e civil sob forma comercial.

Sociedade Civil (980º CC)

- Contrato de sociedade é aquele em que duas ou mais pessoas se obrigam a contribuir


com bens ou serviços para o exercício em comum de certa atividade económica, que
não seja de mera fruição, a fim de repartirem os lucros resultantes dessa atividade.
(profissionais liberais, atividade agrícola, pecuária e artesanal (230º, n.1 e 2 e 464º C.
Com)

Sociedades comercias

Por motivos essencialmente da segurança do comercio jurídico, o legislador admite um


número muito restrito de tipos sociais, através de 3 características
• Responsabilidade dos sócios pela obrigação de entrada: no que toca à formação
do património inicial desta
• Responsabilidade dos sócios pelas dividas da sociedade:
• Modalidades da composição e titulação das participações na sociedade:
caracteriza a natureza e a forma de cada parte do sócio na sociedade

Temos 4 tipos de sociedades comerciais


• Sociedades em nome colectivo art.175º e 176º do CSC
• Sociedades por quotas art.197º, 198º, 201º e 219º
• Sociedades anónimas art.276º, 271º
• Sociedades em comandita, com 2 sub-tipos: comandita simples e por acções art.
465º, 479º

Sociedade civil sob forma comercial (1o, n.o4 CSC)

C.Ramos 39
– Sociedades que não têm por objeto a prática de atos de comércio (art.13º C. Com.),
objeto civil, mas têm forma comercial.

Cooperativas

As cooperativas são pessoas coletivas autónomas, de livre constituição, de capital e


composição variáveis, que, através da cooperação e entreajuda dos seus membros, com
obediência aos princípios cooperativos, visam, sem fins lucrativos, a satisfação das
necessidades e aspirações económicas, sociais ou culturais daqueles. (Lei 119/2015 de
31 de Agosto)

Artigo 80.o Responsabilidade

1 - Só o património da cooperativa responde para com os credores pelas dívidas desta,


salvo o disposto no número seguinte.
2 - Cada cooperador limita a sua responsabilidade ao montante do capital social
subscrito, sem prejuízo de cláusula estatutária em sentido diverso.
3 - Sendo estipulada a responsabilidade de cooperadores por dívidas da cooperativa, ela
é subsidiária em relação à cooperativa e solidária entre os responsáveis.

Contrato sinalagmático – é um contrato bilateral, assinado necessariamente por duas


partes, havendo uma porção de direitos de deveres igualitária de ambas as partes que o
assinam.

14-12

C.Ramos 40
C.Ramos 41
Títulos de crédito

Em Portugal existem vários tipos de títulos previstos na lei, entre os quais se


destacam a letra de câmbio, a livrança e o cheque, regulados pela Lei Uniforme
relativa às Letras e Livranças (LULL) e pela Lei Uniforme relativa ao Cheque (LUC),
que têm funcionado como protótipo legislativo.
Tradicionalmente os títulos de crédito são considerados matéria comercial.
Estes instrumentos jurídicos são, desde logo, atos de comércio no sentido do
art.2º, já que foi a legislação comercial que desde sempre coube a regulação dos
principais títulos de crédito.
Nos dias de hoje, uma boa parte destes títulos, são emitidos pelos empresários
no desenvolvimento das suas atividades próprias, ainda que alguns deles
tenham acabado por cair no domínio comum, sendo utilizados indistintamente
no âmbito de atividades comerciais ou civis.
Estes títulos são fundamentais, uma vez que são instrumentos de circulação
indireta de riqueza, destinados a tornar mais simples, rápida e segura a
movimentação de bens e direitos no tráfico jurídico-comercial.
Os títulos de crédito representam um instrumento fundamental do
capitalismo moderno, tornando mais fácil, rápida e segura a circulação de dinheiro,
direitos e bens, eles representam uma força motriz do desenvolvimento económico,
fomentando a circulação mais intensa da riqueza atual e a criação
de nova riqueza.

C.Ramos 42
• letra de câmbio

O saque, é o ato gerador da letra, que lhe confere valor, identidade própria e implica
o nascimento da obrigação cambiária do sacador.
A letra é um título de crédito através do qual o emitente do título (sacador), dá uma
ordem de pagamento (saque) de uma quantia, em dadas circunstâncias de tempo e
lugar, a um devedor (sacado), ordem essa a favor de uma terceira pessoa (tomador),
ou à ordem deste, uma determinada quantia em dinheiro.

A letra constitui um documento que envolve, em princípio, a presença de


três sujeitos, o sacador, o sacado e o tomador, e uma pluralidade de negócios e
obrigações que têm por objeto idêntico uma determinada prestação pecuniária –
saque, aceite, endosso, aval.

O sacador é o sujeito que emite a letra de câmbio.


O saque é, assim, o negócio jurídico-cambiário que cria o título, consistindo numa
ordem de pagamento que o sacador dá ao sacado para pagar uma quantia
pecuniária ao tomador; e a obrigação do sacador é uma simples obrigação de
garantia pela aceitação e pagamento da letra, através da qual o sacador promete
ao tomador que o sacado aceitará e pagará a letra na data e termos
convencionados, obrigando-se, caso este não o faça, a pagar ele próprio.

O tomador é o beneficiário da referida ordem de pagamento. Sendo a letra de


câmbio um título à ordem, transmissível por endosso, o tomador pode cobrar a letra
na data do seu vencimento ou, em vez disso, endossar a letra a um terceiro.
O endosso art.11º e SS da LULL é o negócio jurídico cambiário que faz a letra
circular, consistindo numa nova ordem de pagamento dada pelo endossante ao
sacado em benefício de um novo terceiro (endossado);
A obrigação do endossante, tal como a do sacador, é uma obrigação de garantia
pela aceitação e pagamento da letra, com a diferença de que, o sacador garante
todos os signatários da letra, o tomador ou qualquer outro endossante apenas
se obriga em face dos posteriores portadores da mesma.
O endosso deve de ser puro e simples e abranger a totalidade do crédito cartular,
sendo nulo se for apenas de parte dele art.12º.
Constitui forma natural de transmissão da letra, que só pode deixar de circular desta
forma mediante cláusula expressa em contrário

O sacado é o destinatário da ordem de pagamento dada pelo sacador. Sendo


evidente que ninguém pode ficar obrigado a pagar uma letra só porque alguém, o
sacador, prometeu que ele o faria, torna-se ainda necessário que o sacado aceite a
letra.
O aceite é a declaração de vontade pela qual o destinatário do saque (sacado)
assume a obrigação cambiária principal, ou seja, a de pagar, à data do vencimento
a quantia mencionada na letra a quem for portador legítimo desta art.28º da LULL,
passando a designar-se como aceitante.

C.Ramos 43
O aval constitui um negócio cambiário unilateral, pelo qual um terceiro ou mesmo
um signatário da letra se obriga ao seu pagamento, como garante de um dos
coobrigados combinários art.30º e 31º.
O aval pode respeitar à totalidade ou apenas a parte do montante da obrigação do
avalizado art.30º

Tradicionalmente, são atribuídas à letra de câmbio as funções económicas


essenciais de instrumento de pagamento, de crédito e de garantia. Na atualidade,
sobretudo com o advento da moeda escritural e dos meios eletrónicos de
pagamento, a letra de câmbio deixou de funcionar como um meio de pagamento,
para passar a representar, quase exclusivamente, um instrumento de garantia e
cobrança de crédito.

Ex: o António (sacador) vem-me comprar um livro por 50€, mas não tem dinheiro,
faz uma letra de cambio para me (tomador) pagar, porque o seu irmão (sacado) lhe
deve dinheiro 50€. Então o seu irmão irá me pagar a mim, mas para isso o seu irmão
terá de aceitar, se aceitar a divida dos 50€ passa a ser dele e não do António. Caso
o seu irmão não pague, o António será responsável de me pagar os 50€.

Requisitos formais da letra


A letra é um título rigorosamente formal, o que implica que o ato gerador da sua
emissão (o saque) têm de respeitar um conjunto de requisitos de forma, que são
indispensáveis para que o documento produz efeitos como letra art.2º LULL. Esses
requisitos encontram-se no art.1 da LULL:

1º A palavra “letra”

2º Mandato puro e simples de pagar uma quantia determinada


Mandato é “ordem”.
Deve conter uma ordem de pagamento, que deve ser pura e simples e respeitar a uma
quantia determinada.
Esta ordem ao saque da letra, ou seja, o ato pelo qual o sacador emite a letra lhe confere
a sua identidade própria como título de crédito.
Pura e simples, que significa que ela não pode ter cláusulas acessórios que lhe
condicionem ou restrinjam o sentido e ao caso.
Qualquer condição de restrição fará com que o documento não produza efeitos como letra
art.2º.

3º Nome daquele que deve pagar (sacado)


É demissível que a letra conténha vários sacados.
Os vários sacados terão de ser obrigados solidariamente art.47º e não conjuntamente,
nem algum ou alguns deles subsidiariamente em relação aos outros.
O sacado pode ser o próprio sacador, como permite expressamente o art.3º

4º Época do pagamento
A letra pode ser sacada art.33º da LULL
-À Vista, ou seja, pagável no ato de apresentação ao sacado art.33º
-A um certo termo de vista, isto é, vence-se decorrido um certo prazo sobre o aceite ou
o protesto por falta de aceite art.35º

C.Ramos 44
-A um certo termo de data, quer dizer, decorrido um certo prazo sobre a data do saque
-Como pagável no dia fixado na própria letra para esse efeito.
Se não houver qualquer menção da época do pagamento o art.2º determinas
supletivamente que a letra se entendera pagável à vista.

5º Indicação do lugar em que se deve efetuar o pagamento


Se não constar da letra é suprida nos termos do art.2º, valendo para este efeito o lugar
indicado ao lado do nome do sacado, como o seu domicílio

6º O nome da pessoa a quem deve ser paga (tomador)


Deve ser feito a indicação do nome do tomador de modo a possibilitar a sua identificação,
em termos semelhantes aos referidos quanto ao nome do sacado.
O art.3º, permite que o sacador se identifica assim mesmo como tomador, prática bastante
frequente.

7º A indicação da data e do lugar onde a letra é passada


A falta de data do saque, terá consequências previstas no art.2º.
A falta do lugar do saque, vale como tal o lugar indicado ao lado do nome do sacador
art.2º

8º A assinatura de quem passa a letra (sacador)

• livrança

Menciona uma promessa de pagamento de uma certa quantia, em dadas condições


de tempo e de lugar, pelo seu subscritor ou emitente, a favor do tomador ou de um
posterior endossado que for seu portador legítimo no vencimento.
É um título à ordem, transmissível por endosso, e rigorosamente forma, como se
consta pelos requisitos mencionados no art.75º da LULL
Ao contrário da letra, na livrança existem apenas, inicialmente, os dois personagens
(subscritor ou emitente e o tomador), já na letra são 3: sacado, sacador e tomador.
Assim, também na livrança todos os subscritores são co-obrigados solidariamente e
formando uma cadeia cambiaria, dependendo também do protesto a efetivação das
obrigações de garantia, que são as dos endossantes e avalistas.

• Cheque

O cheque é um título de crédito através do qual o emitente (sacador)


ordena a uma instituição de crédito, maxime um banqueiro (sacado), onde
dispõe de fundos disponíveis para o efeito (provisão), o pagamento à vista de
determinada quantia pecuniária, a favor de si próprio ou de terceiro (tomador).
O cheque integra, tal como a letra e a livrança, o núcleo duro dos títulos de crédito.
É, à semelhança daqueles, um título de crédito de natureza creditícia, que
incorpora um direito a uma prestação pecuniária; abstrata, que pode ter a si
subjacente uma pluralidade de causas típicas; e individual, emitido de forma
singular e infungível.

C.Ramos 45
Todavia, ele apresenta especialidades: incorpora uma ordem de pagamento
necessariamente dirigida a um determinado sacado, a instituição de crédito ou
bancária onde o emitente possui uma provisão de fundos; pode circular à ordem,
mas também ao portador, podendo ser emitido sem identificação do seu
titular e ser transmitido por mera tradição ou entrega real; e, enquanto a letra e a
livrança são instrumentos de crédito, desempenha uma função primordial de
instrumento de pagamento.
O cheque é, assim, um meio ou instrumento de pagamento; a sua função
económica primordial consiste em ser um meio de execução e extinção de
dívidas pecuniárias, representando assim um sucedâneo da moeda legal (notas e
moeda metálica).
O cheque desempenha ainda outras importantes funções conexas. É um
instrumento de levantamento de fundos, isto é, um meio de dispor das
importâncias pecuniárias depositadas ou creditadas na conta bancária do
sacador, nas condições convencionadas; e um instrumento de compensação,
isto é, um mecanismo destinado a permitir liquidações recíprocas de cheques, e
correspetivas ordens de pagamento, através das câmaras de compensação.

Requisitos
O cheque é um título de crédito que deve conter um conjunto de menções
obrigatórias do art.1º da LUC, sob pena de não poder valer como tal.
A inobservância dos requisitos previstos no art.1º da LUC é sancionada com o vício
mais grave, a inexistência.

Também no cheque o sacador e os endossantes são solidariamente responsáveis pelo


pagamento do cheque, na falta de cumprimento do sacado art.12º, 18º e 44º da LUC,
devendo a falta deste, em princípio, ser comprovada por protesto, a realizar no prazo
da apresentação apagamento art.29º e 41º da LUC.
E também as obrigações dos demais subscritores podem ser garantidas por terceiro,
mediante aval art.25º da LUC.
Deste modo, também todos os subscritores do cheque são co-obrigados
solidariamente e formando uma cadeia cambiária, que abrange o sacador, os
endossantes e os avalistas, como obrigados em garantia.

O cheque em branco, ou seja, aquele cheque que, não contendo todas as


menções legais obrigatórias, esteja já assinado pelo sacador e haja acordo expresso
ou tácito com o tomador para o seu preenchimento futuro.

Regime
À semelhança dos demais títulos, o cheque é objeto de negócios jurídicos
fundamentais vocacionados à sua emissão (saque), transmissão (endosso e
entrega) ou garantia (aval), bem como de um conjunto variado de relações
(relação de cobertura, relação de valuta), de operações (apresentação,
pagamento, ação cambiária, revogação, prescrição, rescisão) e até de modalidades
(cheque cruzado, visado, para depositar em conta, etc.).

C.Ramos 46
Forma de circulação
O cheque pode ser:
Título à ordem, quando tem um nome do beneficiário está à ordem de pagamento, que
o pode transmitir por endosso art.14º da LUC, denominando-se de cheque nominativo.
Título ao portador art.5º da LUC, Quando não contém o nome do beneficiário da ordem,
sendo transmissível por mera entrega real.
É ainda concebível o cheque pagável a determinada pessoa, mas com a cláusula não à
ordem, ou qual, à semelhança da letra, só é transmissível pela forma e com os efeitos
de uma cessão ordinária de créditos art.14º da LUC
Apenas os cheques nominais que não tenham a expressão “não à ordem” podem ser
endossados.
Para endossar um cheque, é necessário assinar o verso do papel e escrever o nome do
novo beneficiário do valor ali discriminado. Mas, reafirmando, endossa-lo só será
possível caso seja um cheque nominal à ordem.

Modalidades
O cheque pode revestir determinados tipos ou modalidades especiais.

O cheque cruzado art.37º e 38º da LUC é aquele que, mediante a aposição de


duas linhas paralelas, em regra, oblíquas, na face do título, apenas pode ser pago
pelo sacado a uma instituição de crédito ou a um cliente do sacado – cruzamento
geral – ou a uma instituição de crédito designada –
cruzamento especial.

O cheque para depositar em conta art.39º da LUC é aquele que, mediante aposição
de cláusula “para levar em conta” ou equivalente na face do título, deve ser
necessariamente depositado na conta bancária do portador, não admitindo o
pagamento em numerário.

O cheque visado é aquele em que, mediante aposição de menção “visto” realizada


pelo banco sacado a pedido do sacador ou de um portador, assegura que o
saque tem provisão, bloqueando a quantia
respetiva na conta bancária do sacador, o que garante o pagamento.

O cheque bancário (circular) é aquele que é sacado por um banco sobre si próprio,
sendo usualmente emitido a pedido de um cliente do banco (mediante débito em
conta) e visando, tal como o cheque visado (mas com custos inferiores a este),
assegurar o respetivo pagamento ao portador art.6º/3 da LUC.
Existem ainda outras modalidades especiais de cheque, que foram perdendo
importância prática – ex.: cheque de viagem e eurocheque – e que apenas
impropriamente se podem designar como tal
– ex.: cheques postais, cheques-restaurante, cheques-brinde, cheques de gasolina.

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