Você está na página 1de 19

Direito Comercial

1º - Delimitação do Objeto e Âmbito do Direito Comercial


Existem atualmente duas conceções que tentam definir o objeto e âmbito do direito comercial.
Conceção Subjetiva
Segundo esta, o direito comercial é o conjunto de normas que regem os atos ou atividades dos
comerciantes relativamente ao seu comercio.
Conceção Objetiva
Segundo esta, o direito comercial é o ramo de direito que rege os atos de comercio, sejam ou não
comerciantes as pessoas que os pratiquem.
Pergunta-se, assim, se estas são incompatíveis.
Por um lado, a conceção subjetiva, para caraterizar a qualidade de comerciante não pode prescindir de ter
em conta que esta advém da prática de certos atos e atividades, havidas como comerciais. Para alem disso,
nem todos os ato dos comerciais são comerciais.
Por outro lado, a conceção objetiva reconhece a existência dos comerciantes. Dai resulta que esta
conceção admite a existência de regras e institutos de direito comercial próprios para os comerciantes.
Não há pois sistemas puros, uma vez que em ambos existem atos de comercio objetivos e atos de
comercio subjetivos.
O nosso código comercial tem como prevalência a conceção objetiva como revelam os seus Art’s 1º 2 º P,
tal como rodo o livro II que trate dos atos de comercio objetivos.
No entanto, existem neste código aspetos significantes da conceção subjetiva como consta na 2ºP do
Art.2º e pelas disposições relativas aos comerciantes.

2º - Interpretação e integração de lacunas do direito comercial


Quanto a questão da interpretação das normas do direito comercial esta não levanta qualquer problemas
específicos, pelo que haverá que ter em conta o Art.9º do C.Civil.
Já a questão da integração das lacunas da lei mercantil levanta alguns problemas:
A) As normas de direito mercantil formam um corpo autónomo o que torna admissível a sua aplicação , o
que não seria possível se estas fossem normas excecionais . O mesmo resulta do Art.3º do C.Com
B) Por outro lado, o Art.3º do C.Com permite o recurso `às normas do direito civil para preencher lacunas do
direito comercial. Trata-se da concretização da ideia de que o direito civil é subsidiário em relação ao direito
comercial.
C) Por sua vez, é no direito civil que se encontra regulada determinados aspetos de uma relação mercantil.
D) Por outro lado, não é necessário esgotar previamente as possibilidades de analogia dentro do direito civil.
Perante uma situação de lacuna, deve o interprete procurar um caso verdadeiramente afim com o caso
omisso.
3º - Fontes do Direito Comercial
A Lei
Esta é a fonte predial do direito comercial. A lei, aqui, é entendida no seu sentido mais amplo, isto é, a lei
constitucional, a lei ordinária e as normas regulamentares.
O seu núcleo fundamental é constituído pelo código comercial de 1888. A este acresce-se hoje
abundantemente legislação extravagante de grande importância
Entres estas encontram-se 5 outros códigos:
1º Das Sociedades Comerciais
2º Do Registo Comercial
3 Dos Valores Mobiliários
4 Da Propriedade Industrial
5 Da Insolvência e da Recuperação da Empresa

Os Usos e Costumes

O Art.3º não refere os usos e costumes entre as fontes do direito mercantil.

No entanto, o próprio código comercial, por vezes, remete para os usos comerciais. Todavia, tais remissões
não fazem com que se acolhe tais usos como fonte de direito

Costume Usos

Pratica constante e reiterada dos sujeitos de Pratica constante e reiterada dos sujeitos de direito
direito, socialmente revestidos de opinio juris à qual falta a convicção de obrigatoriedade

Quanto a lei remete para os usos, apenas os usa como elementos integradores da norma legal. Este valor
não consiste em aplicarem-se como normas jurídicas, mas sim como elementos de facto que vão integrar/
complementar o comando da norma que os invoca.

Quanto aos costumes, o direito não os acolhe como fonte de direito. Só por via de remissão da norma legal
ou em sede de integração de lacunas é que eles poderão ser objeto de adoção.

4º - Comerciantes

O legislador, no Art.13º, define duas categorias de comerciantes:


A) As pessoa (singulares), tendo capacidade (De Gozo) para a praticar atos de comercio, fazem deste sua
profissão
B) As Sociedades Comerciais

De notar a que a qualidade de comerciante é sempre originaria. Dai resulta que, quem organizar ou
adquirir uma empresa comercial tem de preencher em si meso os requisitos para adquirir a qualidade de
comerciante.
4.1º - Âmbito do Art. 13º, nº1 do C.Com

A doutrina dominante é que, o nº1 do Art.13º quando se refere a pessoas, refere-se a pessoas singulares.

Todavia, já houve quem sustentasse que estes poderiam abranger outras pessoas coletivas, para alem das
sociedades comerciais. Tal opinião funda-se no argumento de que, não se entendendo a palavra pessoa
neste sentido, as proibições do Art.14º, nº1 e do Art.17º do C.Com seriam inúteis.

No entanto, este entendimento parece destituído de razão de ser pois:


1º - Por força do princípio da especialidade, as pessoas coletivas sem fins lucrativos não podem dedicar-se
ao exercício habitual do comercio.
2º - O Art.14º , nº1 do C.Com ao proibir tais pessoas coletivas de exercer o comercio, configura que o
exercício deste por tais entidades como um ato ilícito.
3º - O Art.17º do C.Com, para alem de configurar que o estado e outros entes não podem exercer o
comercio, para proteção da segurança e boa-fé dos contraentes sujeitos os atos de comercio praticados por
estes a lei comercial.

4.1.1º - Casos Especiais

Sociedades Civis em Forma Comercial

A solução tradicional que sustenta que estas não são comerciais foi posta em causa pelo Art.3º do CRC que
sujeita tais sociedades à matrícula.

Todavia, este preceito surge de mera equiparação destas às Sociedades Comerciais, logo, estas não são
comerciantes.

As sociedades civis em forma comercial estão apenas sujeitas por equiparação, ao regime das sociedades,
não lhes sendo genericamente aplicável o regia dos comerciantes..

4.2º - Incompatibilidades e Impedimentos

A lei define certas incompatibilidades e impedimentos proibindo o comércio a certas pessoas que exercem
certas funções.

Os atos praticados por estas pessoas não são sancionados com invalidade, mas sim, através da
responsabilidade civil ou da responsabilidade disciplina.

Estes podem decorrer do direito publico ou do direito privado.


5º - Atos de Comercio

Atos de Comercio Objetivos

Lê-se na 1º parte do Art.2º: “Serão considerados atos de comercio todos aqueles que se acharem
especialmente regulados neste código”.

O direito comercial é um ramo de direito especial face ao direito civil. Pode, assim, acontecer que certos
atos se encontrem regulados simultaneamente no C.Civil. Ora, em princípio, estes atos serão civis. No
entanto, serão comerciais quando neles se verificarem aquelas caraterísticas especificas que a lei comerciar
estabelece como atributivas da comercialidade.

Por sua vez, quer os atos exclusivamente regulados no Cod.Com e em legislação comercial extravagante,
são aqueles que se acharem direta e explicitamente referidos na 1º parte do Art.2º do C.Com.

Ainda mesmo no C.Civil surgem certas disposições que constituem normas extravagantes referidas na 1º
parte do Art.2º do C.Com.

Para se poder definir um ato regulado numa disposição avulsa como comercial, importa atentar ao critério
da necessidade ou interesse que o legislador visou satisfazer como regime em questão. Assim, serão atos de
comercio todos aqueles que se acharem especialmente regulados tendo em atenção as necessidades ou
interesses da vida comercial.

Pode perguntar-se sobre a possibilidade de se poder qualificar certos atos como objetivamente comerciais
com recurso a analogia. Esta ideia é de rejeitar. O recurso a analogia parece incompatível com a certeza
jurídica que deve rodear tal qualificação. Ora, é da prática reiterada de atos de comercio objetivos que
resulta a aquisição da qualidade de comerciante individual. Por sua vez, são estes atos que caraterizam o
objeto comercial das sociedades comerciais.

Atos de Comercio Subjetivos

Lê-se na 2º parte do Art.2º do C.Com que: “Serão considerados atos de comercio todos os contratos e
obrigações dos comerciantes que não forem de natureza exclusivamente civil, se o contrário do próprio ato
não resultar”

Daqui verifica-se que a lei presume que os atos jurídicos praticados por comerciantes estão ligados ao seu
comercio.
No entanto, esta presunção pode ser ilidida de duas formas previstas no Art.2º:
A) Se o ato for de natureza exclusivamente civil
B) Se o contrário do próprio ato resultar que este não tem conexão com o exercício do comercio do
comerciante
Atos de Comercio Absolutos ou Acessórios
Os ato de comercio absolutos são comerciais devido à sua natureza intrínseca do próprio ato.
Por sua vez, os atos de comercio acessórios são comerciais pelo fato de estarem ligados a um ato de
comercio absoluto.
Atos Bilateralmente Comercias e Atos Unilateralmente Comerciais
São bilaterais os atos que tem carater comercial em relação a todas as partes.
São unilateralmente comerciais os atos que apenas são comerciais a uma das partes e civil em relação à
outra parte.
Ora, segundo o Art.99º do C.Com, sendo o ato um ato misto, a lei comercial é a aplicável a ambas as
partes. No entanto, este prevê uma exceção. As disposições da lei mercantil que só forem aplicáveis a parte
em relação a qual o ato é comercial não se aplicam a outra parte.

6º - Obrigações Especiais dos Comerciantes


Firma
Atualmente existem duas conceções de firma.
Conceito Objetivo: Para este, a firma é um sinal distintivo do estabelecimento comercial. Dai decorre a
possibilidade da designação ser comporta livremente e ser transmitida com o estabelecimento.
Conceito Subjetivo: Para este conceito, a firma é um sinal distintivo do comerciante, ou seja, é o nome
comercial do comerciante.
Em relação ao comerciante individual a firma deve ser formulada a partir do seu nome civil e, em princípio,
intransmissível. No entanto, na maioria dos sistemas jurídicos que adotam este conceito, permite-se que,
em certas condições, a firma seja transmitida.
O sistema português assenta na conceito subjetivo. Segundo o Art.18º do C.Com, a constituição da firma é
obrigatória. A par da firma, podem os comerciantes usar outros sinais distintivos, tais como o logotipo e a
marca.
A firma pode ser:
A) Firma-Nome, quando é formulada com o nome de uma ou mais pessoas
B) Firma-Denominação, quando é formulada por um elemento de fantasia aditado, ou não, com uma
expressão relativa ao ramo da atividade
C) Firma-Mista, quando é formulada com o nome/nomes de uma pessoa/pessoas e indicação da atividade
comercial
Dos Art’s 32 e 33 do RNPC, encontram-se limitações quando aos dizeres, elementos e expressões que
podem constar das formas e denominações.
A fima é regulada por 5 princípios fundamentais:
A) Obrigatoriedade: Por força deste princípio, é dever de todo o comerciante adotar uma firma. Este esta
consagrada no nº1 do Art.18º do C.Com e na al.c) do nº1 do CSC.
B) Verdade: Segundo este princípio, a firma deve corresponder a situação real do comerciante a quem
pertence. A firma não pode conter elementos suscetíveis de provocar confusão quer quanto a identidade do
comerciante em nome individual e ao objeto do seu comercio, quer nos tocantes ás SC, quanto à
identificação dos sócios ao tipo e natureza da sociedade, à atividade objeto do seu comercio e outros
aspetos a ele relativos. Este esta consagrado no Art.32º do RNPC e no Art.10º do CSC.
C) Licitude: Diz-nos este princípio que é proibida a inclusão nas firmas de expressões ofensivas aos bons
costumes, incompatíveis com as liberdades políticas, religiosas ou ideologias e desrespeitadoras ou
apropriadoras de símbolos e designação de salvaguardas por razoes de interesse geral atendível.
D) Novidade/Exclusivo: Este princípio distinga-se a assegurar a função identificadora das firmas, permitindo a
fácil identificação por 3’s dos comerciantes com os quais se relacionam. Este é também designado por
princípio do exclusivo, porque confere ao titular da firma um direito exclusivo ao seu usso num determinado
âmbito territorial de proteção.
E) Unidade: Este princípio define que o comerciante em nome individual só deve adotar uma firma. No
entanto, há uma exceção. Se o comerciante possuir simultaneamente um estabelecimento individual de
responsabilidade de responsabilidade limitada e um ou mais estabelecimentos tradicionais terá de usar duas
firmas distintas.
O direito à firma acha-se garantindo no Art.62º do RNPC. O comerciante cuja firma registada for
individualmente usada por outrem tem o direito de :
A) Pedir que o autor do uso ilícito seja proibido de a usar, independentemente de tal uso causar ou não
danos ao titular. Alias, pode o comerciante pedir ao tribunal que condene o abusador numa sanção
pecuniária compulsória se aquele não respeitar a proibição
B) Pedir uma indemnização por danos que sofrer nos termos gerais da responsabilidade civil aquiliana
C) Desencadear procedimento por contraordenação contra o infrator

Escrituração Mercantil

A escrituração mercantil é o registo dos factos que podem influir nas operações e na situação patrimonial
dos comerciantes.

Esta é obrigatória e deves ser feita de acordo com a lei (Art.29º do C.Com)

O comerciante deve arquivar a correspondência emitida e recebida, a sua escrituração mercantil e os


documentos a ele relativos , devendo conservar tudo pelo prazo de 10 anos (Art.40º do C.Com)

No caso de dissolução das sociedades comercias, os seus livros e documentos devem ser conservados por
um depositário durante 5 anos (Art.157º do CSC)

O Art.30º do C.Com atribui aos comerciantes liberdades para escolher o modo e o suporte físico para a
escrituração mercantil.

Ora, um dos aspetos mais relevantes do regime jurídico da escrituração mercantil consiste no regime do
Art.44º do C.Com, que define a eficácia daquela escrituração como meio de prova.

Antes de mais importa salientar que este regime apenas se aplica entre comerciantes e relativamente a
factos do seu comercio. Logo, não se aplica às questões entre comerciantes e não comerciantes, mesmo
que relativamente a factos ocorridos no âmbito do comercio daqueles, nem a questões entre comerciantes
mas relativamente a factos estranhos ao seu comercio.

O regime do Art.44º reconduz-se a 3 hipóteses:


1º - Se os livros de ambos não estiveram regularmente arrumados, os lançamentos feitos nos livros de cada
um fazem prova contra ele; mas se a outra parte se pretender prevalecer dessa prova, terá igualmente que
aceitar os lançamentos feitos que lhes fossem prejudiciais, sem prejuízo de os poder ilidir.
2º - Se os livros de ambos estiverem regularmente arrumados, os de cada um fazem prova quer no que for
favorável quer no que for desfavorável seu proprietário. Se houver divergência entre os livros de ambos, ela
será dirimida com recurso a outros meios de prova.
3º - Se um dos livros estiver regularmente arrumados e os outros não, os regularmente arrumados fazem
prova a favor e contra o seu dono. Os não regularmente arrumados fazem prova apenas no que for
prejudicial ao comerciante a quem pertencem. Se houver divergência entre os livros prevalecem os
regularmente arrumados.

Balanço
Este consiste a síntese da situação patrimonial do comerciante em determinado momento, através de
indicação abreviada dos elementos do ativo, do passivo e respetivos valores.

A lei impõem a realização de um balanço anual, referida ao último dia de cada exercício anual, que deve
ser elaborado no 1º trimestre do exercício imediato.

Registo

Para regular o registo comercial temos, atualmente, o código do registo comercial.

A sua finalidade consiste em dar publicidade à situação jurídica dos comerciantes individuais, das
sociedades comerciais, das sociedades civis sob forma comercial e dos estabelecimentos individuais de
responsabilidade limitada, tendo em vista a segurança jurídica (Art.1º do CRC).

O registo pode ser feito:


A) Por transcrição. Este consiste na extração dos elementos que definem a situação das entidades sujeitas a
registo constates dos documentos apresentados
B) Por deposito. Este consiste no arquivamento dos documentos que titulam factos sujeitos a registo

O registo comercial é condição de eficácia contra 3º’s dos factos a ele sujeitos, só que, se os factos
estiverem sujeitos a publicação obrigatória, esta também condiciona aquela eficácia.

7º - O Estabelecimento Comercial

O EC entende-se como a organização comercial do comercial. Este é, assim, a forma como o comerciante vai
organizar os vários elementos de que se vai servir para desenvolver a sua atividade.

Pode perguntar-se se um comerciante pode não ter um estabelecimento comercial?

Quanto as sociedades comerciais estas são comerciantes natos e não carecem, para adquiri essa qualidade,
de exercer efetivamente o comercio. Dai ser concebível que estas não tenham um estabelecimento
comercial.

Por sua vez, os comerciantes em nome individual não será possível que mantenham essa qualidade sem
terem um estabelecimento comercial, por muito embrionário que seja. Logo, enquanto for comerciante e
para o ser, o empresário individual necessita de ter um estabelecimento.

7.1 – Elementos do Estabelecimento Comercial

A) Elementos Corpóreos

Neste categoria incluem-se as mercadorias, as máquinas e os restantes utensílios destinados a serem


diretamente utilizados nas tarefas próprias do estabelecimento comercial, a mobília das instalações, etc..

Fazem também parte do estabelecimento o imóvel onde este se situem as instalações, quando o seu dono
seja o comerciante.

B) Elementos Incorpóreos

Aqui consideram-se os direitos resultantes de contratos ou de outras fontes que dizem respeito à vida do
estabelecimento.
São também elementos incorpóreos do estabelecimento as obrigações a ele relativas, quer o seu passivo,
quer as demais obrigações que formam o correspetivo direitos.

C) Clientela

A clientela é simultaneamente uma certeza e uma virtualidade.

Sendo esta um elemento do EC, ela goza de proteção inerente à tutela da própria empresa:
1º - O regime concorrência desleal
2º - O alienante/locador de um EC fica obrigado a não exercer uma atividade idêntica em termos que o
levem a manter ou recuperar a clientela do estabelecimento alienado/locado.

7.2 - Trespasse

Diz-se trespasse todo e qualquer negócio jurídico pelo qual seja transmitida, definitivamente e inter vivos
um estabelecimento comercial.

O essencial para que haja trespasse é que o EC seja alienado como um todo unitário, abrangendo a
globalidade dos elementos que o integram. Podem, no entanto, algum/alguns desses elementos ser
especificamente dele retirados e subtraídos, que ainda assim haverá trespasse. O que importa é que seja
respeitado o âmbito mínimo que integrem o EC, sem os quais não se pode dizer que exista um trespasse.

Quanto a forma do trespasse, este deve ser celebrado por escrito, ainda seja por mero documento
particular.

Por sua vez, se o EC estiver em prédio arrendado o senhorio tem o direito de preferência no caso de
trespasse por venda ou dação em cumprimento. Ainda neste caso, o senhorio tem o direito e ser informado
deste. No entanto, a transmissão não depende do seu consentimento.

No que diz respeito as dividas do comerciante inerentes ao EC, para que estas se transmitirem, é
necessário a concordância do credor de cada uma, tendo em conta o disposto nos Art’s. 595º e 596º do
C.Civil

Por outro lado, o trespasse fez surgir para o trespassante a obrigação de não concorrência com o
trespassário. A violação desta obrigação pode ter como consequência a responsabilidade civil por danos
causados ao trespassário, bem como a aplicação de uma sanção pecuniária compulsória enquanto essa
conduta permanecer.

7.3 - Cessão de Exploração

Este é um contrato de locação do EC, mediante o qual o locador proporciona ao locatário o gozo e fruição,
temporário e mediante uma retribuição, do estabelecimento comercial, ou seja, a sua exploração mercantil.

Para que haja cessão de exploração, do EC é necessário que se verifiquem duas condições cumulativas:
A) Que o EC mantenha a sua identidade na transmissão do cedente para o cessionário
B) Que o cessionário continue a exercer nele a mesma atividade
A locação do EC esta sujeita a forma escrita, ainda que simples documento particular.
Se a locação do EC versar sobre EC que esteja em prédio arrendado, a sua validade não depende do
consentimento do senhorio, no entanto, esta deve ser-lhe comunicada.
8º - O Estabelecimento Individual de Responsabilidade Limitada
Em princípio todo o património do comerciante em nome individual responsa pelas respetivas obrigações,
sejam elas originarias pelo exercício do comercio ou alheias a este. Isto é oque decorre do Art.601º do
C.Civil, no qual transparece o princípio da unidade do património.
Uma forte corrente doutrinária sustenta a conveniência de ser permitida a limitação da responsabilidade
do comerciante em nome individual. As razoes pelas quais estes defendem tal posição é pelo facto de a
atividade mercantil implica pesados riscos para o comerciante, uma vez que, para alcançar benefícios
importa correr o risco de suportar graves prejuízos que podem levar a ruína da emprense, e por ventura, a
ruína do próprio comerciante. Por outro lado, estas não iria prejudicar os seus credores, um vez que, sendo
certo que estes perderão a possibilidade de poderem executar todo o património do comerciante, todavia
terão a contrapartida de os bens afetos ao EC ficarem exclusivamente responsável pela divida contraídas na
respetiva atividade.
Optou-se por admitir no nosso ordenamento jurídico, a figura do Estabelecimento Individual de
Responsabilidade Limitada.
Assim prevê-se o Estabelecimento Individual de Responsabilidade Limitada como um património autónomo
destinado ao prosseguimento da atividade mercantil do seu titular e duplamente isolado do restante
património do comerciante.
Enquanto o Estabelecimento Individual de Responsabilidade Limitada é diferente do EC tradicional, uma
vez que este último não constitui um património autónomo, não quer isto dizer que o Estabelecimento
Individual de Responsabilidade Limitada não seja um estabelecimento comercial, só que é uma outra
modalidade de estabelecimento comercial.
A lei prevê que o Estabelecimento Individual de Responsabilidade Limitada possa ser alienado por ato
gratuito ou oneroso inter vivos e também mortis causa, objeto de locação, usufruto ou penhor, bem como
que possa ser objeto de penhora em execução contra o seu titular.
Por outro lado, a transmissão do Estabelecimento Individual de Responsabilidade Limitada implica a
transferência para o novo titular das dividas geradas na atividade do estabelecimento como elementos que
são do seu passivo
O legislador, com a intenção de proteger os interesses de 3’sº de quaisquer condutas do comerciante
visando prejudicá-los com o abuso da situação criada pela separação patrimonial instituiu:
A) Responsabilidade do comerciante no caso de não realização da sua entrada para o capital do
estabelecimento
B) Responsabilidade do comerciante como todo o seu património se s provar que o princípio da separação
do património não foi observada na gestão do Estabelecimento Individual de Responsabilidade Limitada
C) Limitação da renumeração do titular do Estabelecimento Individual de Responsabilidade Limitada pela
sua administração a 3 vezes o salário mínimo nacional
D) A posição dos credores do comerciante por dividas alheias à exploração do Estabelecimento Individual de
Responsabilidade Limitada, penhorarem este, se provarem a insuficiência dos restantes bens do devedor
E) Proibição de uma pessoa ter mais do que um Estabelecimento Individual de Responsabilidade Limitada
F) Responsabilidade penal do comerciante
9º - Contrato de Consórcio
O contrato de consórcio está regulado no DL n.º 23/81 de 28/07.

O consorcio é aquilo a que se chama de unincorporeted joint ventures. Esta é uma figura contratual da
qual não surge um novo ente jurídico como acontece, por exemplo, nas sociedades comerciais.
Segundo o nº1 desse diploma, o contrato de consórcio é “ o contrato pelo qual duas ou mais pessoas se
obrigam entre si a. de forma consertada, realizar certa atividade ou efetuar certa contribuição como fim de
prosseguir qualquer dos objetos referidos no artigo seguinte”.
Ao contrário do que acontece quando estamos perante uma sociedade, no consorcio não há um objetivo
de auferir lucros, ou seja, não há um objetivo de realizar conjuntamente certa atividade económica, mas sim
uma concertação de realizar certa atividade ou de efetuar certa contribuição com o fim de prosseguir
qualquer um dos objetivos previstos no Art.2º. Quer isto dizer, que cada um dos associados tem autonomia
económica fase aos outros.
O consórcio pode ter um dos objetivos previstos no Art. 2º. Quanto a sua forma, prevê o Art. 3º que o
contrato de consórcio está sujeito a forma escrita (pelo menos documento particular).
No contrato de consorcio não é típico que o objeto de cada consorte consista na prestação de qualquer
contribuição. No entanto, quando assim seja, o Art.4º prevê que, havendo uma contribuição essa deva
consistir em coisa ou corpórea ou em uso de coisa corpórea, sendo que só se admite contribuições em
dinheiro, quando estas sejam obrigatórias para todos os membros do consórcio.
O consórcio pode ser interno ou externo.
Este é interno, quando as atividades ou os bens são fornecidos a um dos membros do consórcio e só este é
que estabelece relações com terceiros ou quando as atividades (Art.5º, nº1 al).a) ou bens são fornecidos
direitamente a um terceiro por cada um dos membros do consórcio, sem expressa invocação dessa
qualidade (Art.5º, nº1, al).b).
Este é externo quando as relações de prestação de bens ou serviços forem estabelecidos com terceiros por
cada um dos consortes, com expressa invocação desta qualidade de membros do consórcio (Art.5º, nº2).
Este pode ter uma denominação, tal como prevê o Art.15º. No entanto, juridicamente não é o consorcio
que, por exemplo na construção de uma ponte, faz essa construção, mas sim os seus membros. Isto porque
como já se disse, o consorcio não é uma pessoa coletiva.
No caso de consórcio externo, prevê-se a possibilidade da criação de um conselho de orientação e
fiscalização, constituído por todos os membros
Por sua vez, no consorcio externo, um dos membros do consorcio, de forma a facilitar as relações com
terceiros, será designado como chefe do consorcio (Art.12º). As suas funções vem previstas no Art.13º.
Pode perguntar-se se o chefe de consorcio, nas relações com terceiros é uma espécie de administrador.
Ora, se isto se trata-se de uma sociedade assim o seria, uma vez que, o administrador é um órgão da própria
sociedade. No entanto, como no consorcio não há órgãos, uma vez que este não é uma pessoa coletiva,
para que o chefe de consorcio possa falar em nome dos outos tem de ter poderes para tal, mediante uma
procuração. Por sua vez, ainda para a prática de certos atos, o chefe de consorcio não se basta com um
procuração “normal”, tendo de ter uma procuração especial para a sua prática (nº2 do Art.14º).
Ora, os membros dos consórcios podem, mediante procuração, atribuir certos poderes de representação,
tais como, a possibilidade de negociar contratos com terceiro, no âmbito do consorcio, a possibilidade de
receber de terceiros quaisquer importâncias por eles devidas aos membros do consórcio, bem como
reclamar dos mesmo o cumprimento das suas obrigações para com algum dos membros do consórcio.
Ainda nas relações com terceiros no consorcio externo havendo dividas para com terceiros, não se
presume a solidariedade ativa ou passiva entre aqueles membros (Art.19º, nº1).
Quando a extinção do consórcio, esta pode ocorrer por uma das causas previstas nas alíneas do nº1 do Art.
11º, ou, não se verificado uma dessas causas, diz o nº 2 desse mesmo artigo que o contrato de consórcio
extingue-se decorridos 10 anos apos a data da sua celebração.
Pode um dos membros do consorcio, caso se verifiquem uma das causas previstas no Art.9º exonerar-se do
contrato.
Por sua vez, o contrato de consorcio pode ser resolvido, quanto a alguns dos contraentes por declarações
escritas emanadas de todos os outros, ocorrendo justa causa. Quanto as razões que se definem como justa
causa, estas estão previstas no nº 2 do Art. 10º.

9.1 - Agrupamentos Complementares de Empresas (ACE)


Este vem regulado na Lei nº4/73, de 4 de Junho e no DL. nº 430/73.
Dá-se um ACE quando pessoas (singulares ou coletivas) se juntam a fim de melhorar as condições de
exercício ou de resultado das suas atividades económicas.
Ora, estas empresas, afim de prosseguirem esse objetivo, criam um ente novo (ou seja o ACE).
Apesar de criarem um ente novo, estas pessoas não perdem a sua personalidade jurídica, nem esse ente
pode ter como fim principal a realização e a partilha de lucros.
Segundo a Base IV da Lei nº4/73, a ACE adquire personalidade jurídica com a inscrição do ato constitutivo
no registo comercial.

10º - Contrato de Associação em Participação


A associação em participação é o contrato pelo qual uma pessoa associa-se a uma atividade económica
exercida por outra, ficando a primeira a participar nos lucros, ou nos lucros e nas despesas.
Este contrato vem regulado no DL n.º 23/81 de 28/07.
Dispõem o Art. 23º que este contrato não está sujeito a forma especial, exceto se a lei exigir for especial
para os bens tendo em conta a sua natureza. No entanto, ainda que não seja exigida forma para o contrato,
só podem ser provadas por escrito a clausula que exclua a participação do associado nas perdas do negócio
e aquela que estabeleça a que o associado responde ilimitadamente pelas perdas do negócio.
Quanto a extinção do contrato de associação, esta ocorre por uma das causas previstas no Art. 27º.
Por sua vez, o Art. 30 º prevê a resolução e a denuncia do contrato de associação. Quanto a resolução, esta
pode ocorrer por vontade de uma das partes havendo justa causa, sendo que se essa justa causa consistir
num facto doloso ou culposo de uma das parte, deve esta indemnizar os prejuizões que a extinção causam.
Por sua vez, a denuncia por vontade de uma das partes só se pode dar corridos 10 anos da celebração do
contrato, e quando esta deva considerar-se ilegítima de acordo com o Art. 334º do CC, esta não exonera,
aquele que denuncia o contrato, de responsabilidade.
Ora, a caraterização legal afasta a associação em participação do modelo societário. A atividade económica
é exercida pelo associante, que mantem a sua gestão, pelo que não se verifica o exercício em comum de
uma atividade económica, que integra o conceito de sociedade. Até porque, não há uma constituição de um
património autónomo, uma vez que a contribuição do associado ingressa no património do associante.

11º - Contrato de Mandato


O contro de mandato tem a sai definição legal no Art. 1157º do CC. Segundo este, o mandato é o contrato
pelo qual uma das partes se obriga a praticar um ou mais atos jurídicos por conta de outra.
O mandato pode ter duas caraterísticas essências, ou é mandato com representação e mandato sem
representação.
No mandato com representação o mandatário, para alem de agir por conta do mandante, age também em
nome do mandante. Como tal, os efeitos dos atos por este praticado vão repercutir-se diretamente na
esfera jurídica do mandante. Este é o regime do mandato no código comercial.
Por sua vez, no mandato sem representação o mandatário age por conta do mandante, mas em nome
próprio, dai que, os efeitos resultantes dos atos por si praticados refletem-se inicialmente na sua esfera
jurídica, obrigando-se, num segundo momento, a transferir para o mandante os direitos e obrigações
gerados pela prática de tais atos. Este é o regime regra no mandato civil.
Como sucedo no mandato civil, o mandatário comercial obriga-se a praticar um ou mais atos jurídicos por
conta do mandante, sendo que a diferença é que no mandato comercial, esses atos jurídicos são atos de
comercio.
Outro aspeto que os diferencia é o facto de o mandato comercial ser sempre uma mandato com
representação.
Também diferentemente do que ocorre com o mandato civil, o mandato comercial presume-se oneroso,
enquanto o civil se presume gratuito.
Entre as obrigações do mandatário comercial encontramos:
1º - Cumprir o mandato segundo as instruções do mandante, e na falta destes, em conformidade com os
usos do comercio. (Art. 238º)
2º - Informar o manante de todos os factos que o possam levá-lo a modificar ou revogar o mandato. (Art.
239º)
3º - Avisar o mandante logo que tenha executado o mandato (Art. 240º)

Entre as obrigações do mandante comercial temos:


1º - Fornecer as mandatário os meios necessários a execução do mandatário, salvo convenção em contrário.
(Art. 243º)
2º - Pagar a renumeração acordada, ou na sua falta, de acordo com os usos da praça. (Art. 232º)
3º - Reembolsar o mandatário das despesas por este efetuadas. (Art. 234º / 243º / 246º)

Quanto a forma de extinção do mandato, esta pode ocorrer pelo cumprimento das obrigações assumidas
pela mandatário, ou extingue-se por revogação, denuncia, caducidade ou resolução.
12º - Contrato de Comissão
O Art. 266º define o contrato de comissão como aquele que “ o mandatário executa o mandado mercantil
sem menção ou alusão alguma ao mandante, contratando por si e me sue nome, como principal e único
contraente”. O contrato de comissão é o equivalente ao mandato sem representação do CC.
Na comissão, o comissario age por conta do comitente, mas ao contrário do que se passa no mandato, este
atua em nome próprio.
No contrato de comissão, os negócios celebrados pelo comissario vinculam-no a ele próprio, sendo que,
este obriga-se a transmitir para o comitente os bens que tenha adquirido ou os efeitos dos negócios que
tenha celebrado no interesse deste.
Regra geral, o comissario não responde pelo cumprimento das obrigações por parte da pessoa com quem
contratou, a menos que isto tenha sido convencionado entre o comissario e o comitente ou que esses sejam
os usos da praça.
Ora, tendo o comissario assumido a responsabilidade pelo cumprimento das obrigações da pessoa com
quem contrata, para alem da renumeração resultante da sua atividade, este tem também direito a uma
renumeração adicional denominada de comissão del credere.
Por sua vez, o comissario poderá, eventualmente, adquirir a qualidade de comerciante construindo a sua
empresa autónoma e assumindo o risco da sua atividade.

13º - Contrato de Agência


O contrato de agência encontra-se regulado no DL n.º 178/86.
Segundo o Art 1º desse DL, o contrato de agência é aquele pelo qual uma parte se obriga a promover por
conta da outra a celebração de contratos, de modo autónomo e estável e mediante retribuição, podendo
ser-lhe atribuída certa zona ou determinado círculo de clientes. Como resulta deste artigo, a obrigação
principal do agente é de promover contratos.
A atividade do agente é assim uma atividade tipicamente material. Este difere do mandatário, uma vez que
este tipicamente pratica atos jurídicos.
Quanto as despesas da sua atividade, dispõem o Art. 20º que, na falta de convenção em contrário, estas
serão suportadas pelo próprio, uma vez que não terá reembolso as mesmas.
Ainda que o agente não esteja juridicamente subordinado ao principal, isto não quer dizer que este não
esteja economicamente ou funcionalmente subordinado.
Quanto ao tipo de contrato, este é um contrato consensual, no sentido de que a lei não exige forma para a
sua celebração. No entanto o DL exige para que certas cláusulas, para serem validas, tenham de ser
reduzidas a escrito.
Estabelece o Art. 2º, que o agente poderá intervir na celebração de contratos se o principal, por escrito, lhe
tenha conferido os poderes necessários para tal. Nesta caso, o agente estará a atuar quer por conta quer
por nome do principal.
Quanto a cobrança de créditos, o agente pode também ser autorizado pelo principal, por escrito, a tal (Art.
3º). Presume-se, no entanto, que este estará autorizado a cobrar créditos decorrentes dos contratos que
foram por ele celebrados caso tenha recebido poderes de representação.
Se o agente concluir contratos ou cobrar créditos sem que para tal esteja habilitado, estes não serão
oponível perante o principal, a menos que este os ratifique. Quando ao regime da ratificação, estipula o nº 2
do Art 22º, que se considera ratificado se o principal, logo que tenha conhecimento da celebração/cobrança
do crédito e do seu conteúdo essencial, não manifestar, no prazo de 5 dias a contar do seu conhecimento, a
sua oposição ao negócio/cobrança de créditos.
Por sua vez, o Art 23º prevê a figura da representação aparente. Segundo este regime, o negócio / a
cobrança de crédito, celebrado por um agente que não tenha poderes de representação, será, ainda assim,
eficaz perante o principal se:
1º - Tenham existido razões ponderosas que possam ser objetivamente apreciadas, tendo em conta as
circunstâncias em que a ação decorreu
2º - Que o terceiro tenha agido de boa-fé
3º - Que o principal tenha contribuído para fundar a confiança do terceiro
Ora, o agente tem o direito a receber uma retribuição pelo trabalho que desenvolve na promoção dos
produtos do principal.
Prevê-se também a possibilidade de o Agente poder garantir o cumprimento das obrigações de terceiro, ou
seja, a possibilidade de haver uma convenção del credere. Para que tal seja possível, é necessário que esta
esteja reduzida a escrito, sendo que, ao contrário do que se passa na comissão, esta não pode surgir por
força de usos. Ainda quando a sua validade, deve-se especificar quais os contratos ou pessoas é que o
agente fia na obrigação de garantir.
Este tem ainda direito a uma indeminização de clientela dando-se a resolução ou a denuncia do contrato.
Esta indeminização só não será exigível pelo agente se o contrato tiver cessado por razões imputáveis a
este. No entanto, quando se refere a razoes imputáveis ao agente, entenda-se que essas razoes devem ser
as previstas na al. a) do Art. 30º
Quanto aos seus requisitos, prevê o Art. 33º:
1º - Que da atuação do agente resulte para o principal um aumento de clientela ou um aumento substancial
do volume de negócios com a clientela já existente
2º - Que o principal venha a beneficiar consideravelmente, apos a cessação do contrato, da atividade
exercida pelo agente
3º - Que o agente deixe de receber qualquer retribuição por contratos negociados ou concluídos, apos a
cessação do contrato, com os clientes por si angariados.
Quanto a cessação do contrato, o Art. 24º prevê que este pode dar-se por acordo entre as partes, pela
caducidade, pela denuncia e pela resolução.
Para o caso de denuncia do contrato, o Art. 28º prevê para esta que deve haver uma antecedência mínima
de pré-aviso, dependendo este prazo da duração do contrato. Entenda-se, no entanto, que esta
antecedência mínima pode não ser a necessária para o caso concreto.
Por sua vez, diz o Art. 29º que ainda que não tenha havido o pré-aviso mínimo, o contrato dá-se por
extinto.
Só que, nesse caso, aquele que denunciar o contrato sem respeitar o pré-aviso deve indemnizar o outro
pelos danos que essa falta lhe causar.
Por sua vez, caso seja o principal a denunciar o contrato sem respeitar o pré-aviso, o agente, em
substituição da indeminização prevista no n.º 1 pode ser substituída por uma quantia calculada com base na
renumeração media mensal auferida no decurso do ano precedente, multiplicada pelo tempo em falta.
Quanto a resolução, esta dá-se por vontade de uma das partes, tendo de estar fundamentada numa justa
causa, sendo que, o Art. 30º define como justa causa duas situações:
1º - Se a outra parte faltar ao cumprimento das suas obrigações, quando, pela sua gravidade ou reiteração,
não seja exigível a subsistência do vínculo contratual. (Justa Causa Subjetiva)
2º - Se ocorrerem circunstâncias que tornem impossível ou prejudiquem gravemente a realização do fim
contratual, em termos de não ser exigível que o contrato se mantenha até expirar o prazo convencionado
ou imposto em caso de denuncia. (Justa Causa Objetiva)
Ora, ao afirmar-se que o agente atua por conta do principal é a mesma coisa de dizer que os efeitos dos
atos por si praticados refletem na esfera jurídica daquele. É esta a caraterística que permite distinguir entre
o contrato de agência e o contrato de concessão e de franquia.
Por sua vez, o agente exerce a sua atividade de forma totalmente autónoma e independente do principal.
Apesar disto, estando agente integrado numa estratégia de distribuição gizada pelo principal. Como tal, leva
a que o agente tenha de submeter-se às orientações genéricas que lhe possam ser indicadas pelo principal.

14º - Contrato de Concessão Comercial


O contrato de concessão é atualmente um contrato legalmente atípico enquanto sendo um contrato
socialmente típico.
Este contrato faz surgir entre os contraentes uma relação obrigacional, por força do qual uma das partes se
obriga a vender à outra e esta se vincula a comprar àquela, para revenda, uma dada quantidade de
determinados bens, aceitando certas obrigações próprias de um distribuidor, nomeadamente relativas à sua
organização, à politica comercial e à assistência a prestar aos clientes e sujeitando-se a certo controlo e
fiscalização do concedente.
Ora, o concessionário atua em nome e por conta própria, adquirindo para si a propriedade dos produtos
que ira colocar nos mercados por si explorados. Assim, o concessionário assume diretamente o risco da
comercialização dos produtos já que os adquiriu ao concedente integrando-se no seu património.
O facto de o concessionário se integrar na rede de distribuição do concedente, faz com que este tipo
contratual assuma, de ponto de vista económico, uma função bastante semelhante à desempenhada pelo
agente.
Tal aproximação faz com que a doutrina e a jurisprudência reconheçam a necessidade de aplicação
analógica ao contrato de concessão o regime do DL n.º 178/86. O mesmo é assumido no próprio preâmbulo
do DL n.º 178/86.

15º - Contrato de Franquia


O contrato de franquia, tal como o contrato de concessão, é um contrato socialmente típico. Como tal,
tem-se entendido que a este se deve aplicar também o DL n.º 178/86 analogicamente, pois, também na
franquia, existe uma forte integração do franquiador na rede de distribuição do franquiado. Este aspeto é de
tal como relevante, por vezes é difícil distinguir-se o franquiador do franquiado.
O contrato de franquia pode definir-se como aquele em que o franquiador autoriza o franquiado a utilizar a
sua imagem empresarial de forma estável, obrigando-se este a dar-lhe contrapartidas para essa utilização.
Esta técnica de distribuição permite, assim ao franquiado a possibilidade de se integrar numa rede de
distribuição já bastante organizada e que goza de grande prestígio, evitando dessa forma a necessidade de
dispêndio de esforço e capital na promoção dos produtos por si vendidos.
Não obstante o forte grau de integração do franquiado na rede do franquiador, o franquiado no ponto de
vista jurídico, este continua a ser uma entidade com personalidade jurídica própria e independente do
franquiador. Assim, tal como na concessão, também franquiado age por conta e por nome próprio,
assumindo para si o risco inerente a sua atividade.

16º - Títulos de Crédito


Letra
A letra é um título de crédito através do qual o emitente do título (sacador) dá uma ordem de pagamento
(saque) de uma dada quantia, em dadas circunstâncias de tempo e lugar, a um devedor (sacado), ordem
essa a favor de uma terceira pessoa (tomador).
Sendo esta destinada à circulação, a sua circulação, uma vez que é um título à ordem, faz-se através de
endosso.
Ora, o sacado só assume a obrigação mencionada no título (obrigação cambiaria) se e quando aceitar a
ordem através do de um ato denominado aceite, o qual converte o sacado em aceitante.
O principal obrigado em virtude d letra é o aceitante, que assume a obrigação de pagar a quantia nela
mencionada ao portador legitimo ao tempo do vencimento e no local devido.
No entanto, não é só o aceitante que obriga em virtude da letra. Todos os subscritores do título se obrigam
a efetuar a prestação nela mencionada. E essa obrigação é solidaria, embora as obrigações sejam, a menos
que se trate do aceitante, de garantia.
Assim, o sacador obriga-se perante o tomador e os sucessivos endossados a pagar a letra caso o sacado
não a aceite ou se este a aceitar mas não a pagar.
Livrança
A livrança consiste numa promessa de pagamento de uma certa quantia, em dadas condições de tempo e
lugar, pelo seu subscritor ou emitente, a favor do tomador ou de um posterior endossado que for seu
portador legitimo no vencimento.
Este é também um titula à ordem, sendo, assim, transmissível por endosso.
Por sua vez, também nesta, todos os subscritores são coobrigados solidariamente.
Para a letra, segundo o Art. 77º da LULL, valem também, as notas caraterizadoras da letra, na mediada em
que estas sejam aplicáveis.
Cheque
Tal como a letra, o cheque exprime, também, uma ordem de pagamento de determinada quantia, dada
por um sacador a um sacado, com a peculiaridade de este ser necessariamente uma instituição bancaria, e a
favor de uma pessoa denominada de tomador, que pode ser ou não individualizada.
Quando este contenha o nome do beneficiário da ordem de pagamento, este é tido como um título a
ordem, podendo ser endossado. Por sua vez, se este não contiver o nome de beneficiário da ordem, sendo
transmissível por mera entrega real do título. É ainda possível que o cheque pagável a certa pessoa tenha a
clausula “não há ordem”, o qual só será transmissível pela forma e com os efeitos de uma cessão ordinária
de créditos.
16.1º - Negócios Jurídicos Cambiários
Saque
Este é o ato pelo qual o emitente cria a letra e, pela indicação dos elementos correspondentes aos
respetivos requisitos de forma essenciais lhe confere a sua especifica identidade como título.
O beneficiário da ordem contida no saque é o tomador que, regra é um terceiro, mas que pode ser o
próprio sacador.
O saque pode também ser sobre o próprio sacador, fazendo com que o sacado e o sacado sejam ao mesmo
tempo a mesma pessoa.
Aceite
O aceite é a declaração de vontade pela qual o destinatário só saque assume a obrigação cambiaria
principal, passando-se a designar de aceitante. Só através deste ato é que o sacado se obriga, não bastando
que este seja designado como tal através da letra.
Este deve ser puro e simples, não podendo estar sujeito a qualquer condição ou aditado de qualquer
modificação ao conteúdo da letra. No entanto, ainda que o aceite seja feito com reservas, dai não advém
que ele seja considerado nulo, tendo-se o aceitante por obrigado nos termos da sua declaração.
Endosso
O endosso é o negócio através do qual se da a transmissão dos titulas a ordem. Este deve ser puro e
simples e abranger a totalidade do crédito cartular, sendo nulo se apenas incidir sobre parte do direito
cartular.
A letra poderá não ser endossável, se nela for aposta cláusula de “não à ordem” ou chamado endosso
proibido (art.º 11 LULL), neste caso a letra não se poderá transmitir através de endosso, o que quer dizer
que só se poderá transmitir aplicando as regras da cessão de créditos (art.º 563 CC).

Este confere ao endossado legitimidade ativa para exercer o direito cambiário. Por outro lado, este
transmite a propriedade do título como coisa.

O endossante assume a obrigação de garantir tanto o aceite como do pagamento da letra para com o
endossado (art.º 15 LULL), pelo que todos os endossantes são solidariamente responsáveis pelo
cumprimento da obrigação cambiária.
Aval
O aval constitui um negócio cambiário unilateral pelo qual um terceiro, ou mesmo um signatário da letra,
se obriga ao seu pagamento, como garante de um dos coobrigados cambiários.
Este pode respeitar a totalidade ou apenas parte do montante da obrigação do avalizado.
Ainda que a obrigação do avalizado seja declarado nula por vícios de fundo, a obrigação o avalista mantém-
se. Por sua vez, se aa obrigação do avalizado for nula por vícios de forma, j não se mantém a obrigação do
avalista.
O avalista que pagar a letra ficará sub-rogado nos direitos dela emergentes para com a avalizado e as
demais pessoas obrigadas para com ele em virtude da letra.
16.2º - Caraterísticas Gerais dos Títulos de crédito
Incorporação
Esta caraterística significa que a detenção do título é indispensável para o exercício e a transmissão do
direito nele mencionado.
Ora, é a posse do título que confere ao seu possuidor a legitimação formal para exercer ou transmitir o
direito que o título refere.
Por sua vez, há igualmente que considerar uma legitimação passiva relativa à posição e interesse do
devedor. Este pode desonerar-se validamente da sua obrigação, correspondente ao direito cartular, se a
cumprir perante o detentor do título, segundo a lei de circulação. Para este basta-se assim, de verificar da
legitimação formal do possuidor do título.
Circulabilidade
Tal como decorre da sua função jurídico-económica, os títulos de crédito destinam-se a circulação. Ainda
que isso não ocorre, o que isso seja limitado por acordo das partes, os títulos de crédito comportam sempre
a possibilidade de serem transmitidos da titularidade do direito incorporado no título.
Como tal, os documentos que não comporte a possibilidade de circulação não podem ser considerados
títulos de crédito.
Literalidade
O direito cartular diz-se literal pois, para se poder determinar a sua existência, conteúdo, limites e
modalidades do direito é exclusivamente decisivo olhar para o título.
Assim, os sucessivos portadores do título, merce desta caraterística, podem estar seguros de que só os
termos do próprio título é que os vinculam, não podendo, por isso, ser colhidos de surpresa através da
invocação contra eles de quaisquer convenções ou condições que não transpareçam literalmente do
documento.
Por sua vez, o possuidor não pode exigir ao devedor o que não conste do título, nem o devedor, nas
relações mediatas, pode invocar meios de defesa que o título não mencione.
Autonomia
Este princípio pode ter dois sentidos:
1º - Existe autonomia face ao direito subjacente
O direito cartular tem a sua origem numa relação jurídica logicamente anterior ao surgimento do título de
crédito e que ele é novo e diferente do direito subjacente, tendo um regime próprio.
2º - Existe autonomia face aos portadores anteriores
Segundo este sentido, cada possuidor do título, ao adquiri-lo segundo a sua lei de circulação, adquire o
direito nele referido de um modo originário, isto é, independentemente da titularidade do seu antecessor e
dos possíveis vícios dessa titularidade, como se o direito tivesse nascido ex novo nas suas mãos.
Abstração
A caraterística da abstração da obrigação cambiaria diz respeito à posição desta em face da relação
subjacente preexistente.
Esta é abstrata em dois sentidos:
1º - A obrigação cambiaria não uma causa-função típica, antes pode prosseguir uma multiplicidade de
causas-funções, inerentes a diversos negócios jurídicos que podem estar na origem da relação subjacente.
2º - Por sua vez, a obrigação cambiaria é independente da causa e, por consequência, não sofre as
consequências dos vícios da sua causa.

Você também pode gostar