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Direitos Reais

1º - Definição de Direito Real


Existe atualmente duas conceções sobre o que é um direito real:
Teoria Realista
Segundo esta existe um direito real quando uma pessoa tenha o direito de utilizar uma coisa,
desde que o possa fazer de uma forma direta.
Dito de outra forma, há um direito real quando há um poder jurídico que autoriza o seu titular a
praticar atos materiais sobre uma coisa.
Esta conceção, assim descrita, restringe os direitos reais a uma única classe de direitos,
nomeadamente aos direitos de gozo, uma vez que só nestes é que existe um poder de praticar atos
matérias sobre uma coisa.
Se pensarmos nos direitos reais de garantia e de aquisição, nestes não esta presente qualquer
poder material sobre a coisa. Assim estes não seriam considerados direitos reais. Ora, isto contraria
o entendimento atualmente predominante quer na doutrina, quer na jurisprudência sobre quais os
tipos de direitos reais.
No entanto, existe uma conclusão que se pode tirar desta teoria, e é que, um direito real é um
direito que incide necessariamente sobre uma coisa.
Teoria Personalista
Esta teoria pressupõem que todos os fenómenos jurídicos devem ser visto no panorama de uma
relação jurídica. Ora, uma relação jurídica pressupõem sempre a existência de, pelo menos, dois
sujeitos, um ativo e um passivo.
Assim, definia-se direito real como aquele que, conferido ao seu titular um direito de atuação,
implicaria para todos os não titulares do direito em causa, uma obrigação universal de não
interferência.
Pondo isto em prática, iria significar que o detentor de um direito real estará numa relação jurídica
com o mundo inteiro.
Logo, atualmente voltou-se a teoria realista, mas com diversos aperfeiçoamentos:
A) Incidem sobre coisas, logo os poderes que o titular do direito tem são poderes sobre uma coisa e
não em relação a outra pessoa.
B) Esses poderes são diretos autónomos, no sentido de que para os exercer o titular do direito real
não dependa da colaboração de outra pessoa.
C) Estes direitos tem Oponibilidade Erga Omnes. Ou seja, estas valem perante todas as pessoa,
ainda que essas pessoas não saibam da sua existência.
2º - Publicidade

De modo geral, a oponibilidade pressupõe a cognoscibilidade, ou seja, só se pode opor aquilo que,
antes de ser oposto pudesse ser previamente conhecido.

Pressupõem-se assim a publicidade, pois, em geral só se pode opor aquilo que é publico, ou seja,
que possa ser conhecido. Há, no entanto, situações onde se obtém oponibilidade mesmo que a
situação não pudesse ser anteriormente conhecido antes de ser oposto.

Do ponto de vista jurídico a publicidade pode ser:

1º - Espontânea: Quando o meio que se utiliza para dar conhecimento não está especialmente
concebido para esse efeito

2º - Provoca: Quando é feita por meios próprios que existem para dar conhecimento
2.1º - Registal – Esta da a conhecer uma situação jurídica global e não apenas um simples
acontecimento. Ex: Registo Predial
2.2º - Não Registal – Apenas da a conhecer um acontecimento. Ex: Diário da República

3º - Registo Predial

Segundo o seu Art.1º, a função do registo predial é dar publicidade à situação jurídica dos imoveis.

Este registo contém dois tipos de informação, uma é a descrição do imóvel e a segunda é os factos
que sucederam sobre esse imóvel. As estas últimas chamam-se inscrições.

Ora são as inscrições que beneficiam da presunção do Art.7º, sendo que, a descrição do imóvel
não beneficia desta presunção, e como tal, ninguém pode invocar direitos pelo facto de aquele
imóvel não ter as caraterísticas descritas no registo.

3.1º - Processo de Qualificação

O registo predial é dotado de fé publica, ou seja, quem consulta o registo pode assumir que o que
la esta inscrito é a reprodução fiel daquilo que realmente aconteceu sobre o dito imóvel.

Ora O pedido de registo é sempre submetido a uma apreciação por parte da conservatória, ou
seja, o registo não é feito automaticamente.

A esta apreciação chama-se Qualificação, e consiste no juízo formulado pela conservatória acerca
da viabilidade do registo. Esta apreciação não se limita aos aspetos do registo, mas analisa também
a validade formal dos documentos apresentados e a validade substancial. Assim, tudo o que possa
impedir a produção de efeitos, ou interferir com a validade do próprio ato sujeito a registo deve ser
apreciado pela conservatória.

Esta qualificação esta, no entanto, limitada em função dos documentos apresentados e dos
registos anteriores (Art.68º do Cod.Predial), não podendo recorrer a outros meios de prova. Por sua
vez, a conservatória só pode fundamentar a recusa de registo com fundamento num dos casos
previsto no Art.69º.
3.2º - O Registo
Terminada a qualificação este pode tomar uma de duas decisões:
A) Recusa o registos com fundamento nos casos previstos do Art. 69º
B) Regista.
O registo pode ser um de dois tipos:
1º - Definitivo (Aqueles que tem prazos longos)
2º - Provisório (Estes tem prazos de 6 meses)
2.1º - Por Natureza: É assim quando a lei o define (Art. 92º do Cod.Predial)
2.2º - Por Duvida: É assim quando o conservador tenha dúvidas sobre a viabilidade do pedido de
registo.
Ora, o provisório por duvidas não faz fé-publica, pois, tal como o próprio nome indica, o próprio
conservador ter dúvidas sobre a viabilidade do registo, não faz sentido que lhe seja dado esse
efeito.
Por sua vez, segundo o Art.7º do Cod.Predial, só o registo definitivo é que é dotado de fé-publica.
No entanto, tem-se entendido que o Provisório por natureza também é dotado de fé-publica na
medida em que o pode ser.

3.3º - Efeitos do Registo para 3’s


Para terceiros o efetivo do registo é sempre a fé-publica. Este autoriza terceiros a depositar
confiança no conteúdo do registo e, portanto, a atuar com fundamento no que se encontre
registado.
Este efeito pode ter dois sentidos, um positivo e um negativo
Pelo sentido negativo presume-se que o registo está completo, ou seja, presume-se que todos os
factos que sucederam sobre aquele imóvel estão registados. Protege-se, assim, terceiros contra
factos, que ainda que na realidade tenham acontecido, não estão inscritos. Nega-se, assim a
eficácia dos atos não registados.
Pelo sentido positivo presume-se a exatidão do registo, ou seja, que tudo o que esta no registo é
valido e eficaz, logo, até prova do contrário é valido.

3.4º - Efeitos do Registo para o seu Beneficiário


Efeito Enunciativo
O registo tem o efeito enunciativo quando se regista um facto que em se mesmo já é publico.
Estes casos são, normalmente, casos de registo inútil. Assim, a lei só admite o registo destes factos
em casos excecionais.
Efeito Constitutivo
O registo tem efeito constitutivo quando o seja um elemento da própria aquisição, dai que
enquanto este não for efetuado, a aquisição não sucede. Assim, o facto sujeito a registo não tem
quaisquer efeitos enquanto este não for feito.
Efeito Consolidativo
Este é o efeito geral do registo. O registo não interfere com os efeitos do facto sujeito a registo.
Isto significa que o registo não é condição de desencadeamento dos efeitos do facto sujeito a
registo. Só que, o registo da a garantia de que esses efeitos que já se produziram ficam
consolidados.
Efeito Atributivo
Pode ocorre que, o facto de que se inscreveu no registo ser invalido. Ainda que haja a qualificação,
pode acontecer que o conservador não se aperceba que existe uma invalidade e como esta inscrito,
parte-se do princípio de que esse facto corresponde a realidade.
Ex: A estava inscrito como proprietário e vende X a B que não regista a sua aquisição, logo
aparentemente o proprietário é ainda o A. Mais tarde A vende X a C. Ainda que na realidade A esteja
a vendar algo que já não lhe pertence, C pode presumir que este é que é o proprietário, visto que, B
nem consta do registo. C regista a sua aquisição.
Ex: A vende Z a B que regista a sua aquisição e, por sua vez, B vende a C que regista a sua aquisição.
Prova-se mais tarde que a venda A-B não é valida, logo o registo a favor de B não deveria ter sido
feito. Surge, assim um problema visto que aparentemente B é titular do direito quando de facto não
é.
Em ambos os exemplos, regra geral, o C não prevalece uma vez que a sua aquisição não é valida,
isto porque a pessoa que lhe transmitiu o direito não o podia fazer.
No entanto, em certas situações se o C adquirir certas condições previstas na lei, este pode vir a
adquirir o direito. Diz-se assim que este adquire pelo facto (mas não só) por ter registado, uma vez
que, em última análise é o registo que lhe dá esse direito.
Logo o registo é atributivo para este, uma vez que lhe atribui um direito que de outro modo não
poderia obter.

3.5º - Critérios distintivos entre o Art.291º do C.Civil e o Art.17º, nº2 do CRP


Para uma perspetiva
No art. 17, nº2 do Cod. Predial pressupõem dois registos, um a favor de quem esta a alienar e o
registo um a favor de quem esta a adquirir.
Neste estatui-se que a nulidade do registo de quem esta a alienar não prejudica os direito de
aquele que esta a adquirir.
Já o art. 291º do CC não pressupõem o registo prévio do causante, mas sim que o adquirente
tenha registo.
Só que na prática, o 291º nunca seria aplicável. Não havendo registo a favor de B o conservador
nunca iria registar a favor de C. Logo, é, a menos que haja muita incompetência, impossível que o C
tenha registo a seu favor sem que B tenha previamente registo a seu favor
Para outra perspetiva
Importa antes de mais distinguir que, uma coisa é o facto sujeito a registo, outra coisa é o registo
desse facto. Existe assim dois factos diferentes, distintos um do outro.
Sendo estes dois atos diferentes, significa que pode haver invalidades dos dois lados.
Como tal, o que se refere no Art. 17º, nº2 do Cod. Predial é que, se o ato do registo for nulo (Art.
16º do Cod. Predial) essa declaração de nulidade não prejudica 3º’s se este estiver nas suas
condições.
Ex: A vende a B que regista e este vende a C que regista. Se o registo de B for considerado nulo, a
vantagem do C em invocar o Art. 17º, nº2 é que não vai ter de fazer novo registo. Isto tem
implicação quanto as prioridades de registo, uma vez que se C tivesse de pedir novo registo perdia a
prioridade que o anterior tivesse.
Por sua vez, havendo invalidades do próprio ato registado este aplica-se o disposto no Art. 291º do
CC. É o 291º que atribuir ao 3º o direito que deveria ter adquirido, mas que não o pode fazer.
Quando aos requisitos do 291º (cumulativos):
A) Pressupõem-se que o causante (a pessoa de quem o 3º adquire) tem um registo de um facto
invalido
B) A aquisição do 3º tenha sido a título oneroso. As aquisições gratuitas não estão protegidas.
C) Que a aquisição do 3º esteja isenta de vícios próprios
D) Que o 3º esteja de boa-fé
E) Que o causante tenha registo prévio a seu favor, ou seja, que a altura da aquisição por parte do
3º, o causante já tenha registo a seu favor
F) Que decorra um prazo de 3 anos sem que seja intentada uma ação de invalidade do negócio
anterior

3.6º - Conceito de 3º nas situações triangulares


O registo da uma informação que interessa para 3º e, de uma modo geral, não para as próprias
partes, uma vez que para estas, regra geral este tem efeito consolidativo.
A questão é saber quem é que é 3º para efeitos do registo? Isto tem importância para saber quem
é que pode mais tarde vir invocar a exatidão e/ou a compleição do registo.
Atualmente existem dois conceitos de 3º possíveis:
Conceito Restrito
Neste conceito 3º é apenas aquele que tenha adquirido (pretensamente) direitos a partir de um
transmitente comum.
Ex: Na situação triangular, C há de ser 3º registal se adquiriu (pretensamente) direitos a parir de A
que também foi transmitente para B.
Quando se refere a transmitente, leva a conclusão que a transição ocorreu por negócio jurídico.
Assim, no exemplo supra, C será 3º se adquiriu direitos através de um negócio jurídico, a partir de
um pessoa que também já tinha transmitido para outra
Conceito Amplo
Para este conceito, 3º é aquele eu, independentemente de como isso ocorreu, obtém um
pretenso direito a partir de um autor comum.
Ex: A vende X a B que não regista. C que é credor de A intenta uma ação executiva contra esse,
sendo que obtém uma penhora sobre X, penhora essa que é registada.
A consequência entre a adoção de um ou outro conceito é que, ao adotarmos o conceito restrito,
só será 3º registal aquele que obtém direitos fundados em negócio jurídico. Por sua vez, será 3º
registal no conceito amplo aquele que obtém um direito, independentemente da forma como
adquiriu.
O exemplo típico em que importa esta discussão é:
A vende a B que não regista. Mais tarde, C credor de A intenta uma ação executiva contra este.
Como é próprio desta, são penhorados os bens do devedor e como B não tinha registado a sua
aquisição, o bem ainda aparecia como património de A e a penhora incidiu sobre este.
Levanta-se a questão de saber se B ainda pode reagir contra isto, ainda que C esteja de boa-fé e
tenha feito o registo da penhora?
Se adotamos o conceito amplo, o C é terceiro pois adquiriu um direito que, juridicamente provem
do A, ainda que este não tenha proveio por vontade própria.
No conceito restrito C não é terceiro, uma vez que este não adquiri a partir de um transmitente
comum.
Isto deve-se ao facto de A não ter intervindo com a sua vontade, ou seja, não há negócio jurídico
entre A-C.
Assim sendo, C, para o conceito restrito, não poderia invocar o registo a seu favor pois nem é tido
como 3º registal.
Se dizemos que uma pessoa não é considerada 3º registal, ainda que tenha feito registo a seu
favor, não vai poder tirar consequências dai. Logo, não pode invocar a seu favor a fé-publica
registal.
A adoção do conceito restrito leva a que, nas situações triangulares, sempre que o 3º adquira
pretensamente direitos que não se fundam em negócio jurídico não são 3º’s.
Ora, será assim: Na penhora; Nas hipotecas legais/judiciais; Servidões Legais quando constituídas
por decisão judicial.

4º - Direito de Propriedade
O direito de propriedade é visto como o principal direito real.
Em rigor, não é possível dar-se uma definição de direito de propriedade, uma vez que este apenas
se consegue delimitar pela negativa. Este é aquele que atribui todos os poderes e faculdades que a
lei não tiver retirado.
A definição de propriedade data no CC, é de que a propriedade é aquele direito que atribui
plenamente o uso, a fruição e a disposição.
No entanto, não é impossível que exista propriedade, sem que se verifique um desses elementos.
Ex: Se o proprietário constitui usufruto, este não deixa de o ser, apesar de não ter uso ou fruição
Tal como esta no CC, o direito de propriedade esta concebido para incidir sobre coisas corpóreas.
Dai se extrai, que o mesmo sucede para os outros direitos reais, uma vez que, o direito de
propriedade é a matriz de todos os outros. Assim, por exemplo, o Usufruto só possa incidir sobre
coisas corporais.
Ora, existem disposições no CC, que no entanto parecem desmentir esta ideia de que os direitos
reais apenas podem incidir sobre coisas corporais (ex: 1467º). Nestas situações, tem-se entendido
que estes não são direitos reais
Outra caraterística do direito de propriedade, que se retira do Art.1307 nº2, é que esta é um
direito tendencialmente perpetuo. Assim, este não pode ser temporário.
Este só pode ser temporário em duas hipóteses (não unanimes):
Os casos de propriedade superficiária.
Este é o direito de usar o solo de pessoa alheia com vista a construir ou plantar. Feita uma das
duas, estas coisas pertencem ao superficiário. Estes tem assim dois direitos, o de sobre o solo
superfície e de propriedade sobre a coisa de construiu ou plantou.
Este direito, posse ser construído temporariamente ou perpetuamente.
Se este for temporário, a propriedade sobre a construção ou sobre a plantação também é
temporária, uma vez que, findo o prazo, este direito transfere-se para o dono do solo (Art.1538º).
Quando através de testamento tenha sido instituída a substituição fideicomissária.
Ex: A proprietário de X, por testamento designa um sucessor (B) e ao mesmo tempo nomeia C para
este suceder quando B falecer.
Assim quando B falecer, o bem vai passar a pertencer a C e não aos herdeiros de B.
Por isso, a propriedade de B é temporária.
Porquê?
Juridicamente os sucessores mortis causa podem ser de duas espécies, ou herdeiros ou legatários.
Os legatários são aqueles que sucedem em bens determinados. Os herdeiros são aqueles que
sucedem em bens indeterminados.
Os legatários são credores da herança, e por isso tem o direito de exigir aos herdeiros o que lhes
foi deixado.
Os herdeiros, juridicamente, são tidos como continuadores do autor da susceção, logo,
juridicamente, é como fossem a mesma pessoa. É por isto que a propriedade se pode afirmar como
perpetua.
Ora, no caso, B não tem continuadores para aquele bem, uma vez que, quando este falecer, o bem
ira passar para C.

4.1º - Self-Ownership
Tem-se perguntado se nos somos o corpo, ou se o corpo apenas é um instrumento ao serviço de
cada um?
De ponto de vista jurídico, o corpo pertence a cada um, ou seja, nos somos donos do nosso corpo.
No entanto, dizer que somos donos do nosso próprio corpo, não significa ser dono no sentido de
proprietário.
Se ser dono significa sermos proprietários, iria implicar que estávamos sujeitos ao regime da
propriedade e todas as consequências que esse regime implica.
Para evitar os exageros desta for de ver o corpo humano, tem-se entendido que a pertença do
corpo humano é um direito de personalidade.
Pode perguntar-se se, quando uma parte do corpo é separada, se o direito que incide sobre esta é
o direito de propriedade ou não. A resposta é afirmativa, desde que, essas partes tenham sido
licitamente retiradas.

4.2º - Defesa da Propriedade


Ainda que estes meios estejam pensados para a defesa da propriedade, por força do Art 1315º do
CC também são aplicáveis para a defesa de outros direitos reais que impliquem a posse da coisa.
As ações para defesa do direito sobre uma coisa pode ser ações petitórias ou ações possessórias.
As ações petitória pressupõem a prova da existência do direito cujo reconhecimento se pede
judicialmente. Entra estas temos a ação de reivindicação, a ação negatória e a ação de demarcação.
As ações possessórias destinam-se a defesa da posse, e não pressupõem a prova da existência do
direito, mas apenas a prova que existe a posse.
Ação de reivindicação (Art.1311º)
Esta pressupõem que o proprietário não tenha o domínio de facto e serve para pedir a entrega ou
a restituição daquilo que lhe pertence.
Tem legitimidade ativa quem for proprietário, o que significa que tem de provar que o é, não
bastando alegar que o é.
Tem legitimidade passiva quem tiver posse da coisa, seja a que titulo for e independentemente da
boa-fé ou da má-fé.
Ação negatória (Não prevista na lei)
O que o autor pretende é que se negue o direito que outra pessoa alegue ter sobre algo que
pertence ao autor da ação.
Ex: A proprietário de X e B efetua uma passagem para a via publica através deste.
Segundo A, B não tem direito de passar, e por isso intenta uma ação negatória para que se
demonstre que de facto o direito de passagem de B não existe.
Ação de demarcação (Art.1353º)
Esta é exclusivamente para a propriedade.
A ação de demarcação pressupõem que existe duvidas quando a linha divisória entre dois prédios
e assim de quanto é que cada parte é proprietário.
Se os meios de prova forem insuficientes, o tribunal tem, ainda assim, que proceder a
demarcação. Quando isto ocorre, o tribunal decide dividido o terreno em litígio em partes iguais.

5º - Contitularidade (Compropriedade)
Distinção de comunhão em mão comum e comunhão por quotas
Na comunhão em mão comum, a contitularidade é apenas o efeito da existência de uma outra
comunhão (Social) que serve de fundamento a contitularidade.
Ex: Terrenos baldios. Estas são os terrenos que pertencem a um grupo designado de pessoas,
designadamente as pessoas de uma determinada freguesia.
Nestas situações, ninguém tem direitos individuas de participação e por isso, ninguém pode
alienar individualmente as suas percentagens de participação enquanto esta realidade subsistir.
Por sua vez, na comunhão por quotas cada contitular tem um direito de participação expresso
numericamente que permite praticar atos de alienação ou de oneração.
Distinção entre comunhão pro diviso ou comunhão pro indiviso
Na comunhão pro indiviso, o direito de cada um dos contitulares incide sobre a totalidade da
coisa, sem individualizar alguma parte.
Ex: Se duas pessoas são comproprietários de um terreno, as duas são titulares da totalidade do dito
terreno. Ainda que dividam o seu uso, não significa que deixem de ser comproprietários do terreno
no seu todo.
Na comunhão pro diviso, o direito de cada um dos titulares incide sobre parte especifica da coisa
comum.
Ex: Paredes de Meação

5.1º - Concessão de Contitularidade


Um direito, dois ou mais titulares
Esta serve para a comunhão de mão comum, no entanto, é uma conceção que não serve para a
comunhão por quotas.
Isto implicaria que cada qual não pode praticar atos de alienação do seu direito, uma vez que este
não é só seu.
Um direito para cada titular
Haverá, assim tantos direitos quanto tantos titulares. Assim, há contitularidade quando duas ou
mais pessoas tem direitos da mesma qualidade sobre determinada coisa.
Surge então a questão de saber se esse direito de cada um incide diretamente sobre a coisa
comum, ou se por sua vez, incide sobre aquilo a que se refere como a quota ideal da coisa comum.
No 1408º, a lei faz uma distinção entre quota ideal e parte especificada. Quota ideal é a medida de
participação de cada contitular. Assim, cada pessoa tem uma proporção que indica a sua
participação na coisa comum, que serve para definir direitos e deveres. A parte especifica é uma
parte individualizada da coisa comum.
A lei especifica estes conceitos para dizer o que é que o comproprietário pode e não pode.
A quota ideal da direitos e deveres ao comproprietário, ou seja, é em função desta que esses se
definem.
A parte especificada serve para definir aquilo a que os comproprietários não têm direito. Dai que,
se algum dos comproprietários alienar ou onerar parte especificada da coisa, esta é tida como
oneração ou alienação de coisa alheia. (Art.1408º, nº 1 e 2 do CC).
5.2º - Atuação dos Contitulares
Se numa situação de contitularidade cada contitular tem um direito que incide sobre a totalidade
da coisa, e se estes são todos titulares de direitos da mesma espécie, isto implica que ninguém
pode ter mais direitos que os outros. São todos qualitativamente iguais.
Em princípio, serão todos, também quantitativamente iguais, ou seja, a menos que exista
indicação em sentido contrário, presume-se que as quotas de cada um são todas
proporcionalmente iguais.
Isto implica que, de um modo geral devem atuar todos em conjunto, ou seja, prevê-se que deve
haver unanimidade.
No entanto, a lei prevê exceções a unanimidade:
A) Para os atos de administração ordinários da coisa, a lei prevê que basta a maioria. Só que aqui a
maioria tem de representar, pelo menos, metade das quotas e não apenas metade dos
contitulares. Tratando-se de um ato de administração extraordinário, este já deve ser praticado por
todos os contitulares.
B) Existem, também atos que podem ser praticados individualmente, apesar da situação de
comunhão.
B1) Entre eles estão os atos de utilização da coisa comum. (Art.1406º). A coisa comum pode ser
utilizada por cada um individualmente e independentemente dos outros. Só que esta utilização não
pode prejudicar a utilização por parte dos outros.
B2) Outra espécie de atos que podem ser praticados individualmente, são os atos de disposição ou
oneração. Cada contitular tem o direito de dispor ou onerar o seu direito, na medida da sua quota.
Quando a alienação da quota seja feita através de compra e venda ou dação em cumprimento, os
demais contitulares tem direito de preferência, desde que esta seja feita a 3º

5.3º - Divisão da Coisa Comum


A lei prevê que cada um dos contitulares pode pedir que seja feita a divisão da coisa comum. Este
é um direito que pode ser praticado individualmente.
Isto pressupõem, também que não haja clausula que impeça a divisão.
No entanto, a validade desta cláusula pressupõem:
A) Que tenha sido estabelecida unanimemente
B) Seja estabelecida durante a contitularidade
C) Que não tenha um prazo superior a 5 anos
D) Que seja levada a registo para poder ser oponível a terceiros

Ora, a divisão pode ser material ou jurídica.


Esta será material quando a coisa comum possa ser dividida em partes e que os contitulares
queiram a divisão material.
Esta divisão tem os mesmos efeitos que a partilha dos bens hereditários, ainda que estas realidade
não sejam totalmente idênticas. Assim, por aplicação do Art.2119º do C.C, esta divisão tem efeitos
retroativos.
Mas se houver direitos de terceiros que afetados, nestas situações é necessário que esse de o seu
consentimento na divisão.
A divisão jurídica só pode ser feita por venda da coisa comum ou por adjudicação. No primeiro
caso, a coisa comum é vendida e o produto da venda é repartido pelos contitulares. No segundo
casos, a coisa comum e adjudicada a um dos (ex)contitulares que fica com a obrigação de
compensar os outros pelo valor das respetivas quotas.
Quando a divisão seja feita extrajudicialmente, importa ter em conta que esta sujeita a forma
exigida para a alienação onerosa da coisa.
Assim, se a coisa for um imóvel, será necessário escritura publica ou doc.autenticado. Caso a
divisão não seja feita desta forma, ainda que materialmente esta tenha sido feita, para todos os
efeitos a divisão não existe logo, subsiste a contitularidade.

6º - Propriedade Horizontal
A propriedade horizontal resulta de uma união entre a propriedade individual e a
compropriedade.
Esta esta pensada para um edifício juridicamente fracionado em unidades autónomas (frações
autónomas), propriedade singular de uma pessoa e com partes comuns do edifício que se
encontram ao serviço das frações e que pertencem a todos os proprietários dessas frações.
Esta serve igualmente para quando estamos presentes um conjunto de edifícios que entre eles
tenha partes comuns (Art.1438º-A).

6.1º - Constituição
A constituição da propriedade horizontal deve respeitar requisitos materiais e requisitos jurídicos.
Requisitos Materiais (Art.1415º)
É necessário que a parte que se pretenda autonomizar, permita uma utilização independente das
outra e que essa não interfira com as outras.
Requisitos Jurídicos (Art’s 1417 e 14128º)
Negócio unilateral.

Através de escritura publica ou documento autenticado e identifique as frações de forma a


delimitar os direitos que iram recair sobre essas. Aqui, o dito edifício, fica potencialmente em
regime de propriedade horizontal, pois onde existia uma coisa, passam a existir várias coisa.
Contrato entre comproprietários.

Esta supõem que o edifício esteja e compropriedade, e que os comproprietários queiram dividir o
objeto da compropriedade, mas que essa seja feita através da constituição da propriedade
horizontal.

Usucapião.
Supõem-se que existe um regime de compropriedade e que os comproprietários se tenham
comportados, durante os prazos do usucapião, como certa fração pertence-se a cada um deles
exclusivamente. No entanto, até que os prazos se verifiquem, estes não deixam de ser
comproprietários.
Por decisão judicial.

Supõem-se que o edifico esta em compropriedade e que os comproprietários queiram dividir a


coisa comum, mas como não se entendem, recorrem aos tribunais.
É usual antes do edifico estar construído, é usual que aí se faça contratos de promessa de compra
e venda. Havendo uma ação de execução especifica, pode-se pedir ao tribunal que coloque o
edifico em propriedade horizontal, para, assim, se poder execução a promessa.

Ora, o título constitutivo da propriedade horizontal deve especificar ao pormenor cada fração, isto
porque, existe uma presunção que tudo o que não seja identificado como fração, é parte comum.
Se esta especificação não for feita com este tipo de pormenor, corre-se o risco de algo que deveria
ser excluído da compropriedade não o ser.
O título constitutivo, pode também, designar o fim a que se destina cada fração comum. No
entanto, esta não é obrigatória, sendo que, esta menção é obrigatória sim no projeto de construção
que foi aprovado, uma vez que a sua aprovação pela Camara Municipal fica dependente do seu fim.
Havendo divergência entre o que esta entre o título e o projeto, prevalece o que esta no projeto, e
o título é nulo nesse ponto me que esteja desconforme.

6.2º - Partes Comuns


As partes comuns podem ser de duas especeis:
A) Necessariamente comuns, logo nunca o podem deixar de ser.
B) Presumivelmente comuns, são aquelas que assim o são por no título não se especificar que estas
não são comuns.
Estas últimas podem deixar de ser comum por uma de duas vias. Ou o título logo a partida define
que estas não são comuns e as atribui a um condomínio, ou então se ocorrer a modificação do
título, que pressupõem a unanimidade, podes as partes presumivelmente comuns ser atribuídas a
certo condómino.

6.3º - Administração das Partes Comuns


No que toca a propriedade horizontal, ao contrário da compropriedade, existem órgão próprios
que administram as partes comuns: A assembleia de condóminos e o Administrador.
As deliberações na assembleia de condóminos são sempre tomadas atendendo ao capital que
cada um representa, independentemente de haver a maioria de pessoas. Deve, assim atender a
percentagem/permilagem de cada fração.
A repartição de despesas é feita de acordo com a percentagem/permilagem de cada fração. No
entanto pode haver acordo que esta repartição seja feita de outra forma. Mas, para este acordo
seja valido, aqueles condóminos que, com este critério passam a pagar mais, tem de aprovar esse
critério.
Quanto as despesas com inovações, a maioria necessário para as aprovar é de 2/3. Se estas forem
aprovadas, todos os condóminos são obrigados a contribuir para essas despesas.
Pelas obrigações decorrentes do 1424º/1425º/1425º não há uma especial afetação da fração para
o seu cumprimento. Assim, o condómino em divida responde com todo o seu património.

7º - Usufruto
O Usufruto, é aquele direito que da ao Usufrutuário os poderes de usar e fruir uma coisa
(Art.1439º). Este pode também transmitir ou onerar o seu direito de usufruto pela duração que o
usufruto tiver (Art.1444º). Salvo se o pacto constitutivo impedir algum desses atos.
Este não tem, no entanto, o poder de disposição material, ou seja, não pode alterar a forma ou a
substância da coisa. Quando ao que significa a alteração da forma, tem-se entedio que isto significa
que o usufrutuário não pode alterar a estrutura material da coisa. Quanto a substância, isto
significa que este não pode alterar o valor económico da coisa.
No entanto, se a alteração da forma for benéfica para o proprietário, esta não tem quaisquer
consequência para o usufrutuário, podendo até gerar uma obrigação de restituir com fundamento
no enriquecimento sem causa contra o proprietário.
Se por sua vez, a alteração prejudica a forma ou a substância esta pode ter consequência. Sendo a
alteração prejudicial, mas sem que seja substancial, haverá no máximo responsabilidade extra-
obrigacional para o usufrutuário. Por sua vez, se a alteração prejudicial for considerável, o
proprietário pode exigir que a coisa lhe seja a ele restituída ou entregue a 3º, ficando o usufrutuário
apenas com direito aos rendimentos da coisa, pressupondo que este existam. O usufrutuário perde,
assim, o poder de usar a coisa.
Quanto ao tempo de duração do Usufruto, este pode ser estabelecido de forma vitalícia, ou seja
até a morte do usufrutuário. Por sua vez pode também ser estabelecido no prazo máximo de 30
anos. Por sua vez, sendo este um direito intuitu personae, ou seja, é concedido em atenção a
pessoa do usufrutuário. Logo, quando o usufrutuário morre este direito extingue-se.
Pode o Usufruo ser constituído a favor de mais do que uma pessoa.
Quando assim seja, se o usufruto delas todas for exercido simultâneo, aplica-se a esta as regras da
compropriedade uma vez que estamos perante um caso de contitularidade.
Por sua vez admite-se o chamado Usufruto sucessivo. Este ocorre quando temos vários
usufrutuários em simultâneo, mas o exercício do seu direito está hierarquizado no tempo.
No entanto, a lei dispõem que a constituição do usufruto sucessivo só é valido para aqueles que, a
altura em que o primeiro começa a exercer estejam vivos. Evita-se, assim que se nomeia pessoas
por sucessão, tornando este um direito perpetuo. Não se considera, assim aqueles que ao
momento em que o primeiro começa a exercer o direito inda não estejam vivos.
Tendo em conta o facto de este ser um direito intuitu personae, dai retira-se que o usufruto não
possa ser transmitido por sucessão mortis causa, uma vez que o usufrutuário quando morre, o seu
direito extingue-se. Há, no entanto uma exceção a esta regra. Tem-se admitida a transmissão do
usufruto por mortis causa, por se entender que esta não prejudica o proprietário de raiz, sempre
que exista um prazo de duração e haja transmissão do usufruto para outra pessoa.
Ex: A constitui usufruto a favor de B e por sua vez este transmite a C. Como o que marca o usufruto é
o B, uma vez que é a favor deste que ele se constitui, se o C falece antes do B não há prejuízo para o
A se o usufruto se transmitir para os herdeiros de C. Isto porque, o prazo do direito é marcado pela
vida de B e não pela vida de C, e é com esse prazo que A tem de contar.

8º - Uso e Habitação
Estes são direitos de usufruto uma vez que dão direitos de uso e fruição e distinguem-se tendo em
conta o seu objeto. O direito de habitação incide sobre uma casa de morada enquanto o uso incide
sobre qualquer outro objeto que não seja uma casa de morada.
A grande especialidade deste é que são constituídas em função das necessidades quer do seu
titular, quer da sua família.
Como consequência desta especialidade, dispõem a lei que estes são direitos que:
A) Não podem ser transmitidos ou onerados
B) Não podem ser adquiridos por usucapião
Por sua vez, tendo em conta que estes são direitos constituídos tento em conta as necessidades
do seu titular, deixando essas necessidades de existir, o direito extingue-se por desnecessidade. No
entanto, isto não é automático, é necessário provar essa desnecessidade.

9º - Habitação Periódica
Este é uma modalidade do time sharing do uso e fruição de um imóvel durante um certo período
em cada ano civil.
É também um direito que só pode ser constituído sobre empreendimentos turísticos. O que
significa que se integra num conjunto imobiliário.
Pergunta-se, assim, como é que se trata da conservação e da administração quer das unidades
habitacionais quer das partes comuns dessas unidades.
Tendo isto em conta, no extremo poderíamos ter numa só unidade habitacional 52 titular de um
direito, isto a multiplicar ainda pelo número de unidades habitacionais existentes em cada conjunto
imobiliário.
Ora, em termos de administração, isto iria levantar grandes problemas se vise-mos isto como
compropriedade, uma vez que sempre que fosse necessário tomar uma decisão importante seria
reunir todos, o que em termos logísticos pode levar ao exagero.
Inventou-se, assim, um esquema em que os utentes são titulares de um direito menos parecido
com o usufruto. Assim, há um proprietário, que há de ser aquele construiu/adquiriu/etc., o
empreendimento turístico em causa.
Consegue-se, assim arranjar alguém para administrar e conservar as unidades habitacionais e as
partes comuns, sendo que os utentes apenas tem o direito de usar e fruir da coisa com os limites
do usufruto.
O titular do direito de habitação periódica tem o dever de contribuir para o proprietário para as
suas despesas de administração e conservação. A esta contribuição pode acrescer até 20% de
renumeração para o proprietário pelo facto de explorara o empreendimento.
A prestação devida configura-se como um ónus real. Esta tem uma como garantia o próprio direito
de habitação periódica sem necessidade de um ato constitutivo prévio.
10º - Servidão Predial
A servidão é um direto subjetivamente real, uma vez que a respetiva titularidade não é defenda
pela pessoa que beneficia, mas sim pela titularidade de outro direito real a que a servidão esta
associada.
Para haver servidão predial pressupõem-se:
A) Dois imoveis
B) Pertencentes a pessoas diferentes
C) Um dos prédios deve estar a proporcionar uma utilidade qualquer ao outro imóvel

Essa utilidade é dada ao titular do prédio que beneficia da utilidade. O prédio que da a utilidade é
o prédio serviente, o prédio que beneficia da servidão é o prédio dominante.

Só é servidão predial aquele que é concedida a um prédio. Se a servidão for concedia a uma
pessoa será uma servidão pessoal. A grande diference entre estas duas, é que, a servidão pessoal
não é um direito real, mas sim um direito de crédito.
Ex: Num café o proprietário queria conceder o direito de frequentar uma piscina que pertencia ao
prédio de um vizinho e esse estava disponível para permitir o acesso mediante uma renumeração.
Poem-se assim a questão de saber se a servidão é pessoal ou real. Se o direito de utilizar a piscina é
concedido ao prédio dominante onde esta esse café, trata-se de um benéfico para esse prédio. Por
sua vez se este fosse concedido ao proprietário do café para sua utilização exclusiva o direito que
esta a ser concedido já não é real.

10.1º - Classes de Servidões

Legais vs. Voluntarias

As servidões legais são aquelas que, na falta de outro ato de constituição podem ser constituídas
por decisão judicial ou decisão administrativa. Ora, estas tem sempre de ser constituídas, no
entanto, se não forem constituídas por negócio jurídico podem ser constituídas por decisão judicial
ou decisão administrativa.

As servidões voluntarias são aquelas que não poem ser constituídas por decisão judicial ou decisão
administrativa.
A relevância da distinção é de que as legais estão tipificas, no sentido de que, a concretização das
leais é diferente das voluntarias. Enquanto as segundas apenas necessitam de seguir a tipificação
do Art. 1543º, as primeiras devem cumprir no só esse modelo mas também o modelo específico
dessa servidão.
Quando as servidões legais tenham sido constituídas por decisão judicial, representam uma forma
de expropriação para utilidade particular. Sendo assim, aquele que constitui unilateralmente o
direto (servidão) tem de indemnizar pelos danos causados.

Quer as servidões legais quer as servidões voluntarias podem extinguir-se pelos modos do 1569º,
nº1. Já as legais, podem ainda extinguir-se por desnecessidade qualquer que tenha sido a sua forma
de constituição. Quando as voluntarias, só as constituídas por usucapião é que podem ser extintas
por desnecessidade.

Aparentes vs. Não Aparentes

As servidões aparentes são àquelas que se revelam por sinais visíveis e permanentes.
As servidões não aparentes são aquelas que não se revelam por sinais visíveis e permanentes.
Estas não podem ser constituídas por usucapião nem por destinação do pai de família.
Outra consequência da distinção entre as servidões aparentes, é que, para as aparentes, o efeito
do registo é o enunciativo, sendo que para as não aparentes o efeito é o consolidativo.
Finalmente, as servidões aparentes podem ser defendidas por ações petitórias como por ações
possessórias. Tratando-se de servidões não aparentes, estas só podem ser defendidas por ações
petitórias.

Desvinculativas vs. Não Desvinculativas

O proprietário de um imóvel está sujeito a limitações legais ao exercício desse direito.

Estas limitações legais podem ser impostas para defesa de interesses privados ou interesses
públicos. As primeiras podem ser afastadas através da constituição de uma servidão predial que
seja desvinculativa.

11º - Direito de Superfície


Este consiste no direito de construir e manter uma obra em terreno alheio. A pessoa proprietária
do terreno é o Fundeiro e pessoa proprietário da construção é a Superficiária.
O direito de superfície também pode ser constituído para uma plantação. No entanto, tem-se
entendido que o direito de plantar em solo alheia serva apenas para aquelas plantações duradoras.
Apensar de se chamar direito do superfície, o direito de construir pode ser concedido para
construções literalmente as superfícies ou para construções no subsolo.
O direito de superfície pode ser um direito perpetuo ou temporário. Extinguindo-se a superfície, o
fundeiro, regra geral, adquira a propriedade da plantação e da construção.
Este direito também pode consistir no direito de obre elevação, ou seja, o direito de construir
sobre edifício alheio. Concluída a obra, existe um edifício que passa a pertencer, pelo menos a duas
pessoas. Sendo assim, se a sobrelevação foi feito de forma a respeitar os requisitos do 1414º, o
todo fica em propriedade horizontal, caso contrário, estes ficam em compropriedade.

12º - Posse
Distinção entre Posse Formal e Posse Causal
Há posse é causal quando a aparência da titularidade esta justificada na titularidade efetiva do
direito que aparenta ter. A causa da posse é assim o direito que esta subjacente.
Há posse é formal quando a aparência da titularidade não se fundamenta na titularidade efetiva,
ou seja, quando existe a aparência do direto que realmente não existe. Não há assim, um direito
que justifique a posse.

Distinção entre posse e detenção


A posse é uma situação em que uma pessoa exerce um poder de facto sobre uma coisa. Em
matéria de poderes de facto sobre uma coisa, uma pessoa ou tem posse ou tem detenção.

A relevância entre esta distinção é que o possuidor tem os benefícios que a posse possa dar,
enquanto o detentor não pode servir-se desse benefícios

Existem atualmente duas teses que pretendem fazer estas distinção

Conceção Objetiva da Posse


Segundo esta, em princípio quando alguém tenha um poder factual (corpus) sobre uma coisa tem
posse. Assim, havendo corpus há posse, a menos que a lei qualifique aquela situação como
detenção.
Esta conceção tem vantagem pela sua simplificação, uma vez que, basta ver se a lei qualifica a
situação como detenção, caso contrário será posse. Por sua vez, em termos formais, esta é
compatível com a ele, uma vez que como o 1253º esta redigido parece apontar que só naquelas
situações é que há detenção.
Ora, isto seria verdade não fosse a última parte da al.c) do 1253º. Ora isto é o que define a
detenção, uma vez que esta é a posse a favor de outra pessoa. Ora, se aquele que exerce os
poderes de facto é mero detentor, alguém tem de ser possuidor.
Outro argumento é que, mesmo que se adote este posição, se nesta basta haver poder de facto
para se ter posse, está-se a ampliar bastante as situações em que esta existe.
Só que o 1251º esta a restringir as situações em que há posse. Por este artigo, só aqueles que
atuam por forma a correspondente ao exercício de um direito real é que tem posse. Assim, se o
exercício de um direito corresponder a um direito que não seja real, não haverá posse.
Ora, por esta conceção haverá posse ainda que o exercício do direito não corresponda a um
direito real. Assim, nos casos em que a lei não qualifique como detenção, mas também não
corresponde ao exercido de um direito real, não haverá posse, por força da restrição do 1251º.
Conceção Subjetiva da Posse
Para esta, haverá posse quando, alem do corpus, exista, também um animus possidendi (Intenção
de atura como fosse titular do direito).
Assim, haverá detenção quando haja o corpus mas não exista a detenção.
Ora há duas formas de avaliar o animus possidendi, ou se avalia em abstrato, ou se avalia em
concreto.
A avaliação em concreto faz-se atendendo aos atos concretamente praticados de forma a ver se
tem intensidade suficiente para revelar o animus ou não.
A avaliação em abstrato, faz-se atendendo ao ato jurídico que esta subjacente há aquisição do
corpus. Se o ato jurídico que esta subjacente for abstratamente idóneo para conceder um direito
real, há animus, logo há posse.

12.1º - Espécies de Posse


Posse de Boa-fé/ de Má-fé
A posse é de boa-fé quando o possuidor, ao adquiri-la, desconhecia estar a lesar o direito de
outrem. Por sua vez, se ao adquiri-la sabia que estava a lesar o direito de outrem.
No entanto, a avaliação faz-se por critérios objetivos e não olhado para o que o possuidor
conhecia ou desconhecida.
Por outro lado, como esta se fixam no momento da aquisição da posse, o que acontece depois não
tem relevância, ou seja, a posse não deixa de ser posse de boa-fé ainda que depois o possuidor
venha a sabe, mais tarde que está a prejudicar o direito de outrem.
Só que, no que toca aos frutos que a cousa produza, a má-fé superveniente tem relevância, isto
porque, ate ela se verificar, ou seja, enquanto o possuidor desconhecer que esta a lesar o direito de
outrem faz seus os frutos, sendo que, a partir do momento em que toma esse conhecimento deve
restituir todos os frutos que provenham da posse.
Posse Titulada/ Não Titulada
A aquisição da posse esta sempre fundamentada num ato jurídico que lhe da origem a posse.
Ora, uma coisa é a aquisição da posse, outra coisa é a aquisição do direito subjacente a essa posse.
Ex: Se A vendeu a B o imóvel, a CV é o modo de aquisição da posse, mas esse não é o modo de
aquisição da posse.
A posse adquire-se através de modos próprios. Pode dar-se o caso de a posse ser adquirida sem
que exista um ato jurídico destinado a aquisição do direito.
Ex: Se A subtrai um produto do supermercado, adquiriu posse, mas não há qualquer ato jurídico
destinado a aquisição da posse.
Para efeitos do 1259º, o ato jurídico que esta eventualmente subjacente a aquisição da posse é o
título dessa. Na linguagem deste artigo, o título da posse é : ”qualquer modo legitimo de adquirir”
Assim, a posse é titulada quando haja um ato jurídico translativo ou constitutivo de um direito
real.
No entanto, ainda que este exista materialmente, se juridicamente for considerado como
inexistente, para todos os efeitos considera-se que não há título. É também necessário que esse ato
jurídico esteja a fundamentar a aquisição da posse. Finalmente, supõem-se que esse ato jurídico
seja invalido, mas apenas substancialmente e não formalmente.
Por sua vez, será não titulada a posse que não respeite todos os requisitos do 1259º
Ora, desta distinção, o 1260º, nº2 presume que a posse titula é de boa-fé enquanto a posse não
titulada é de má-fé
Posse Pacifica/Violenta
A posse é violenta quando tenha sido obtida mediante coação moral ou coação física. Fora destes
dois casos a posse é tida como pacifica.
A lei prevê no 1279º uma providencia cautelar especial, no pressuposto de ter havido coação na
aquisição da posse, o esbulhado pode reagir através a esta providencia cautelar especifica. A
especialidade desta, é que ela é decretada sem observância do princípio do contraditório.
Por sua vez, enquanto a posse for violenta os prazos possessórios estão suspensos.
Posse Publica/Oculta
A posse é publica quando o seu exercido poder ser conhecido pelos interessados, logo, é oculta
nos outros casos.
Desta definição pode tirar-se a conclusão que, para a posse ser publica não é necessário por parte
dos interessados que haja um conhecimento efetivo, mas sim, apenas a possibilidade de a
conhecer.
A posse oculta, tal como a posse violenta, impede que se contém os prazos possessórios enquanto
estas perdurar.
Posse Efetiva/Não efetiva
É efetiva a posse que se exerce de modo continuo. Será não efetiva a posse que apenas se
mantém por não haver obstáculos ao seu exercício, sem que haja um exercício efetivo.
Regra Geral, para se conservar a posse, não é exigida uma posse continua, no pressuposto que
ninguém cria obstáculos a possibilidade do seu exercício.
No entanto, para efeitos de usucapião pressupõem-se que a posse seja efetiva.

12.2º - Modos de Aquisição da Posse


Há modos originários e modos derivados de aquisição da posse.
Os modos derivados de aquisição da posse, são aqueles em que o anterior possuidor consentiu na
aquisição da posse do novo possuidor. Sempre que exista um modo derivado de aquisição da posse,
implica que o antigo possuidor a perdeu por cedência. Assim, havendo posse derivada, do outro
lado há necessariamente a cedência da posse.
Nos modos de aquisição originários, estamos no pressuposto que o novo possuidor adquiriu posse
sem o consentimento do anterior possuidor.
Ora, não havendo consentimento na aquisição de posse por parte do anterior possuidor, isto
implica que o anterior possuidor continua a ser possuidor.
Estamos assim na situação em que alguém adquire posse contra a vontade da anterior possuidor e
como tal, este último continua a ser possuidor, ainda que só o primeiro é que está efetivamente a
exercer a posse. O anterior possuidor conserva a posse pois mantem a possibilidade de a voltar a
adquirir através das ações possessória, logo, enquanto estiver dentro dos prazos para intentar estas
ações conserva a sua posse, logo, é tido como possuidor.
Significa assim, que enquanto os prazos possessórios não caducarem existem dois possuidores em
conflito e não como compossuidores. Ora, o que priva o outro da sua posse é o esbulhador,
enquanto que aquele que se vê privado da posse designa-se como esbulhado
12.2.1º - Modos originários de aquisição da Posse
Apossamento
Pressupõem-se que aquele adquiriu posse, não tinha qualquer domínio de fato sobre a coisa, e é
através do apossamento que adquire a posse.
Para alem do apossamento (apreensão material da coisa), é necessário que esse se revele através
da prática de atos materiais, não bastando a prática de atos jurídicos.
Ex: A vende o imóvel de C a B. Só isto não chega para haver aquisição da posse.
Por sua vez, a pratica desses atos matérias deve ter intensidade suficiente para revelar a intenção
de apropriação.
Quanto a publicidade dos atos, entende-se que esta é aquela publicidade em que basta haver a
possibilidade por parte dos interessados de conhecer a prática dos atos materiais.
Inversão do título da posse
Nesta situação supõem-se que haja um detentor que vai adquirir a posse, por iniciativa própria e
sem consentimento do possuidor.
Ora, sempre que há um detentor, há um possuidor. Isto porque o detentor é aquele que exerce a
posse por outra pessoa.
Ex: A, proprietário de X, constitui usufruto a favor de B. Nesta hipótese há dois possuidor e um
detentor. A tem a posse da propriedade e B tem a posse do usufruto. No entanto só há uma coisa,
sendo que, quem esta factualmente a dominar a sua utilização é o B, logo pode perguntar-se como
é que A exerce a sua posse. Ora, juridicamente, A exerce a sua posse através de B, logo, B é nesta
hipótese detentor da propriedade e possuidor do usufruto. Se em vez de usufruto fosse locação, a
hipótese é parecida. Só que, como se tem entendido que a locação é um direito pessoal e não um
direito real, B neste caso apenas seria detentor da propriedade, não havendo posse sobre o direito
de locação uma vez que a posse diz respeito apenas ao exercício de um direito real.
Ora, para efeitos de inversão supõem-se que alguém é detentor, não importando se ao mesmo
tempo é possuidor em relação ao título. Sendo-se detentor, não pode adquirir posse por
apossamento uma vez que já existe um poder sobre a coisa.
Pode dar-se o caso de o detentor começar a atuar sobre a coisa como tivesse um direito real sobre
a coisa, ou seja, atuando com o propósito de ser titular desse direito. Se isto acontecer, o detendo
deixa de reconhecer a posse de outra pessoa e passa ele próprio a atuar como fosse titular do
direito.
A inversão do título da posse também pode dar-se por ato de 3º.
Nesta caso, o detentor passa a possuidor porque beneficia de um ato jurídico translativo ou
constitutivo proveniente de 3º.
Supõem-se que esse ato é de 3º, ou seja, esse 3º não é titular de um direito logo o ato não é
valido. Só que, do ponto de vista do detentor passa a existir uma justificação para a mudança da sua
atuação.
Ex: A proprietário de X arrendo este a B. Depois disso, A prometeu vender esse imóvel a C e o seu
com base nesse contrato C vendeu o imóvel a B. Ora, a venda de C para B é venda de bem alheio
uma vez que C é apenas promitente comprador. Assim, B não adquire nem a propriedade nem a
posse por ter celebrado o contrato com C, mas, se o B tinha um contrato de arrendamento e agora
tem um contrato de CV, o logico é que passe a atuar como proprietário.

12.2.2º - Modos derivados de aquisição da posse


Traditio
Dá-se nos casos e que a aquisição da posse se baseia na entrega da coisa ao novo possuidor por
parte do anterior possuidor.
O anterior possuidor perde, assim, a sua posse por cedência ao novo possuidor.
Aqui, para alem da entregar ter de ser feita pelo anterior possuidor, pressupõem-se, também que
é feita no intuito de ceder a posse.
Constitutivo Possessório
Este é um modo de aquisição sem que haja a entrega da coisa, ou seja, sem que o adquirente
obtenha o domínio de facto sobre por si próprio, na medida de que a coisa ira permanecer na
detenção do alienante ou de um terceiro.
Ex: A vende um imóvel a B, mas fica acordado ira la permanecer como locatário, o B adquire a posse
sem a entrega uma vez que o imóvel ira ficar no domínio de A.
Ex: A dá um imóvel de arrendamento a B e depois vendeu esse imóvel a C. Ora, a mudança na
titularidade da propriedade não implica a extinção da locação. O C vai assim, adquirir a posse ainda
que a coisa não lhe seja entregue.
Traditio Brevi Manu
Nesta situação não há propriamente a entrega da coisa. Aqui, a entrega da coisa já foi feita
anteriormente, mas a título de detenção.
Ex: A deu o imóvel X de arrendamento a B. O B torna-se detentor. Se mais tarde B vender x a B, este
adquire posse por efeito do ato translativo.
Sucessão Mortis Causa
Os sucessores mortis causa podem ser herdeiros ou legatários. Os legatários adquirem a posse ou
pela entrega, ou pelo constituo possessório ou pela traditio brevi manu.
Os herdeiros, juridicamente são tidos como continuadores do autor da sucessão, e como tal,
adquirem os direitos tal como eles existiam na esfera jurídica do autor da sucessão.
Ora, a sucessão na posse prevista no 1255º apenas funciona para os herdeiros e não para os
legatários. Assim, a posse do autor da sucessão é a posse do herdeiro em todas as consequências
que isso implicam.
Assim, a posse dos herdeiros conta-se desde o momento em que o autor da sucessão começou a
possuir e não no momento em que estas adquiriram por sucessão. Por sua vez, as caraterísticas da
posse dos herdeiros são as mesma que essa posse tinha na titularidade na posse do autor da
sucessão.
12.3º - Efeitos da Posse
Presunção da titularidade do direito
O primeiro efeito da posse consiste na presunção da titularidade do direito. Assim, se o possuidor
atua como fosse proprietário, a lei presume que ele é proprietário.
Sendo assim, o possuidor, ainda que seja arriscado não o fazer uma vez que sendo uma presunção
legal esta é ilidível nos termos do Art. 350º , não tem de provar que tem o direito que consiste a
posse, bastando provar que tem a posse.
Pode dar-se o caso de haver conflito de presunções. Neste caso, a lei estabelece que me princípio
atende-se a data do respetivo e início, sendo que a data mais atinga prevalece. Assim, se a data
proveniente do registo for mais antiga é esta que prevalece, por sua vez, se a mais antiga for a
presunção derivada da posse, então é esta que prevalece.
Se se dá o casa de ambas as presunções terem a mesma data, prevalece a presunção derivada da
posse, sendo que a de o registo só prevalece se for mais antiga.
Frutos e as Benfeitorias
O segundo efeitos da posse diz respeito aos frutos e as benfeitorias.
O possuidor de boa-fé torna-se proprietário dos frutos que a coisa objeto da posse eventualmente
proporcionar até a data em que souber que está a lesar o direito de outrem.
Já o possuidor de má-fé deve restituir todos os frutos que a coisa objeto da posse proporcionar e
responde por aqueles que um proprietário diligente tivesse obtido, ainda que na realidade o
proprietário não os tivesse obtido.
Possibilidade de recorrer as Ações Possessórias.
Terceiro efeito da posse consiste na possibilidade de recorrer as ações possessórias.
As ações possessórias no CC são 4: Ação de Prevenção / Ação de Manutenção / Ação de
Restituição / Embargos de 3º
Ação de Prevenção

A ação de prevenção é aquela que se intenta quando o possuidor antecipa a possibilidade da sua
posse ser perturbada ou esbulhada, ou seja, receio que isso aconteça.
Tem legitimidade ativa para essa ação o possuidor e legitimidade passiva a pessoa que se
apresente como o possível esbulhador ou perturbador.
Em termos de prazo, este não existe e pode ser intentada enquanto o receio do possuidor
subsistir.
Ação de Restituição

A ação de restituição é o equivalente possessório a ação de reivindicação.


Esta pressupõem que tenha ocorrido o esbulho, ou seja, que tenha ocorrido a privação do domínio
de facto, em virtude de o esbulhador ter constituído posse para si próprio.
Se o esbulho for violento, pode o esbulhado recorrer a providencia especificada no Art. 1279º.
Tem legitimidade ativa o possuidor esbulhado ou os seus herdeiros e legitimidade passiva o
esbulhador e os seus herdeiros e ainda 3º que esteja na posse da coisa e esteja de má-fé, ou seja,
que conheça do esbulho.
Se o 3º possuir estiver de boa-fé, ou seja, não tem conhecimento do esbulho, a ação não pose
prosseguir contra ele, e como tal, em termos possessórios já nada se posse fazer. Assim, a posse do
esbulhado extinguiu-se desde o momento que exista o possuidor de boa-fé.
O prazo para intentar a ação é de um ano a contar da data do esbulho se este não for violento
nem oculto. Sendo o esbulho violento ou oculto, os prazos só começam a contar a desta a data em
que cessa a violência ou cessa a posse ser torne publica.
Embargo de Terceiro

Este é uma incidência de instância, mas funciona como uma ação declarativa enxertada no
processo principal.
Ora, esta pressupõe que a posse tenha sido afetada, ou haja o perigo de ser afetada por causa de
um ato judiciário.
Tem legitimidade para a ação o terceiro cuja posse seja afetada e tem legitimidade passiva a
pessoa que tenha dado causa aquela diligencia judicial.
Quanto aos prazos, este tem de ser deduzido no prazo de 30 a contar da data em que o ofendido
tenha conhecimento da sua execução, mas nunca depois do processo dentro do qual a diligencia foi
executada estar extinto.

12.4º - Usucapião
O usucapião tem dois pressupostos, a posse e o prazo. A posse é requisito uma vez que o
possuidor não pode invocar usucapião e o prazo porque a aquisição por usucapião não só uma
atividade por parte do possuidor, mas pressupõem também uma inercia das pessoas afetadas por
aquele que esta em condições de invocar o usucapião.
A posse tem de ser Efetiva, Publica e Pacifica.
Efetividade
De um modo geral, a posse para se conservar não tem de ser efetiva, bastando a possibilidade de
esta ser exercida (Art. 1257º).
Mas, para efeitos de usucapião o que esta em causa, e a concessão de um direito ao possuidor e
não apenas a manutenção da posse, mas sim, ter a posse para adquirir um direito.
Ora, a lei em lado nenhum diz que a posse para efeitos de usucapião tem de ser efetiva, sendo que
a única menção do assunto é feita no 1257º que refere que a posse se mantém ainda que não seja
efetiva.
Só que, de um modo geral, tirando a propriedade, os direitos reais extinguem-se pelo seu não
exercício do direito. O normal é que o não exercício de um direito provoque a sua extinção (Art.
298).
Logo, seria ilógico que o possuidor pudesse adquirir um direito pelo não exercício da posse. A
consequência seria afirmar que se podia adquirir um direito pelo seu não exercício, ainda que, regra
geral, o não exercício provoque a sua extinção.
Dai se entender que o primeiro requisito da possibilidade de invocar o usucapião é ter atuado de
forma efetiva.
Publica e Pacifica
A consequência de a posse ao ser publica e/ou pacifica é de que os prazos do usucapião não
começam a contar (Art. 1297º).
Prazo
A distinção principal é saber se a coisa objeto da posse é imóvel ou móvel, e dentro dos moveis
interessa saber se é um móvel sujeito a registo. Os prazos sãos mais longos para os imóvel e dentro
dos moveis, os prazos são mais longos para os moveis sujeitos a registo.
Subjacente aos prazos está e ideia de que os prazos são mais longos para aqueles bens que são
economicamente mais importantes.
Outros fator que mexe com os prazos é se a posse é de boa ou de má-fé, sendo mais curtos no
primeiro caso e mais longos no segundo.
Tratando-se de imoveis ou de moveis registáveis, a posse titulada só por si não tem relevância. O
título da posse só diminui o prazo se esse título for a registo. Ainda que haja título, se este não tiver
sido registado, o prazo é o mais longo.
Por sua vez, no casos dos móveis não sujeitos a registo, a mera existência do título tem relevância
nos prazos, sendo que este diminui os prazos de usucapião.
Existe ainda a possibilidade no caso dos imoveis ou dos moveis sujeitos a registo, chamado registo
da mera posse. É possível fazer o registo da mera posse.
Esta é a posse não titulada ou a titulada em que não houve registo do título. Para que esta posse
proceder, aquele que pretende o registo da mera posse tem de, perante o registo, através de um
processo de justificação, provar que é possuidor a mais de 5 anos e que essa posse é publica e
pacífica.
O possuidor que tiver cumprido o prazo aplicável ao caso, pode invocar o usucapião, não sendo
este um efeito automático, sendo que este só produz efeitos apos a sua invocação.

13º - Vicissitudes dos Direitos Reais


Sempre que há diversos direitos reais sobre a mesma coisa, entende-se que são possíveis duas
explicações:
1º Teoria do Desmembramento
Segundo este, de cada vez que se constituiu um DR menor, transfere-se para o titular alguns dos
poderes contidos no direito de propriedade.
Assim por exemplo, quando se constituiu usufruto sobre uma coisa, os direitos de uso e fruição do
proprietário transferem-se para o usufrutuário. Come tal, ambos passam proprietários, só que são
proprietários imperfeitos uma fez que ambos só tem uma parcela da propriedade.
Levando isto a letra, significa que quando ocorrer o facto extintivo do direito menor, em rigor não
será um facto extintivo mas sim transitivo. Logo, em teoria tem de haver um ato de transmissão.
2º Princípio da Elasticidade
Segundo este, o direito real pode ser objeto de limitações que isso não implica a perda de
identidade, ou seja, continua a ser o mesmo direito.
Assim, por exemplo, se o proprietário constitui usufruto a favor de alguém, o direito que este tem
continua a ser o mesmo.
Dai decorre que quando se adquire o usufruto não há qualquer transmissão, mas sim uma
aquisição constitutiva, passando a existir dois direitos concorrentes.
Assim, quer o proprietário quer o usufrutuário tem ambos o direito de usar e fruir, acontece que,
como só há uma coisa, tem de se estabelecer uma ordem de procedência entre o dois direitos, e
neste caso o usufruto prevalece sobre a propriedade.
Assim, quando o usufruto chegar ao fim, dá-se a extinção desse direito, e o direito de propriedade
estica-se, uma vez que o proprietário passa a poder, novamente, usar e fruir, o que não podia por
força do usufruto.

13.1º -Factos Constitutivos dos Direitos Reais


Factos constitutivos com eficácia genérica
Estes são aqueles que serem para a maioria dos direitos reais.
1º - Contrato
Em tese pode haver dois sistemas de aquisição de diretos reais que se opõem, o sistema do título
e do modo e o sistema do título.
No primeiro sistema, não basta o contrato para que a aquisição suceda, sendo que este apenas
tem eficácia obrigacional.
Assim, por exemplo na compra e venda, não basta o contrato, uma vez que enquanto não operar
um modo de aquisição, o credor continua a ser proprietário da coisa. Tratando-se de coisa imoveis
o modo é o registo, tratando-se de coisa móvel (não sujeito a registo) este sucede quando a
entrega for efetuada.
No segundo sistema, o contrato tem eficácia real e eficácia obrigacional. Assim, este basta para
haver a aquisição do direito.
Mas mesmo neste sistema existem quer desvios quer exceções, ou seja, são situações que o
contrato não é suficiente para a aquisição do direito.
Há exceções nos caos em que a aquisição do direito esta dependente de um modo. As situações
são:
Nos contratos reais quanto a constituição, ou seja, no caso em que o contrato nem sequer esta
completo enquanto a entrega da coisa objeto de contrato não for efetuada. Ex: Constituição de
Penhor; Doação feita sem documento escrito; Reserva de propriedade onde se fazer depender a
aquisição do direto da entrega da coisa objeto do negócio.
Os desvios verifica nas situações em que o contrato não chega, mas também não se exige a
entrega da coisa para que o direito se constitua. Ex: As hipóteses do 408º, nº2; 409º quando este é
estipulada para garantia das obrigações assumidas pelo adquirente perante o vendedor ou perante
terceiro.
2º - Negócio Unilateral
O 457º prevê que só se admite os negócios unilaterais previstos na lei. Mas esta restrição só se
aplica quando os negócios unilaterais constitutivos de obrigações contra o próprio autor do
negócio.
Assim, negócios unilaterais com outros efeitos não cabe nesta restrição, e consequência há
liberdade de celebração e estipulação, e entre eles estão os negócios unilaterais constitutivos de
direito reais.
No entanto, há um princípio segundo o qual não se podem atribuir direitos se o beneficiário não
consentir. Como tal, o negócio fica sujeito a uma condição.
Caso o ato vá a registo, continua a ser necessária a inscrição da aceitação para que se constitua o
direito real. Só que, a aceitação não tem um efeito constitutivo mas sim consolidativo. Assim,
mesmo que ainda não haja aceitação registada, os efeitos do registo produzem-se na mesma.
Factos constitutivos específicos da propriedade
1º- Ocupação
Este resulta do apossamento da coisa móvel sem dono.
Os pressuposto da ocupação são:
A) Que haja apossamento
B) Que a coisa seja coisa móvel
C) Que a coisa móvel não tenha dono

Sobre coisas imoveis não há ocupação, uma vez que as coisas imoveis sem dono fazem parte do
património do estado.
A diferença entre o apossamento para a aquisição da propriedade do apossamento para a
aquisição da posse (formal) esta em saber qual a situação da coisa. Se a coisa não tem dono então é
para a aquisição da posse, se por sua vez a coisa tem dono então é para a aquisição da posse
(formal).
2º - Achamento
Este é, na sua essência, o mesmo que a ocupação. Este dá-se, essencialmente quando alguém se
apossa de coisa móvel que tenha dono, mas que esta perdida.
Como tem dono a simples ocupação não aquisição da propriedade. Por isso é necessário cumprir
um procedimento para que o achador possa ser proprietário.
Para tal, o achado tem de ser anunciado ou tem de se dar aviso aos autoridades. Sobre a data em
que o achado seja anunciado ou que sejam avisadas as autoridades conta-se um ano, ao fim do qual
se a coisa não for reclamada o autor adquire a propriedade.
Em relação aos animais, há regras especiais. Aquele que encontra animal perdido tem o dever de
restituir ao dono se este o reclamar. Ora se o achador tiver suspeitas de que o proprietário que
reclama o ira maltratar pode não proceder a entrega. Isto não quer dizer que isto faça dele
proprietário.
3º - Acessão
Esta dá-se quando duas coisas pertencentes a donos diferentes unem-se de uma forma
inseparável, seja qual for a razão.
A acessão pode ser natural ou industrial. A natural revolta de factos da natureza. A industrial
pressupõem a ação humana.
A acessão distingue-se em mobiliaria e imobiliária. Esta é mobiliaria quando as coisas que se unem
são moveis, por sua vez, é imobiliária quando uma das coisas é imóvel.
Tratando-se de acessão mobiliaria importa saber se a junção é feita de boa ou de má-fé. Se atuou
de má-fé tem de indemnizar o outro pelo valor que este perdeu e por outros prejuízos que tenha
causado. Se atuou de boa-fé, ai importa saber o que é que valia mais antes da incorporação, sendo
que, o dono da coisa de maior valor passa a ser o dono do todo e tem de compensar o outro pelo
valor que este perdeu.
Tratando-se acessão imobiliária as regras são diferentes.
Classicamente segue-se o a regra de superfícies solo cedit, quer isto dizer que o que esta instalado
a superfície cede perante a propriedade do solo. Assim, o que for incorporado no solo passa a
pertencer ao seu proprietário. Ora, esta regra só vale perante nos caos do 1339º e do 1341º
quando a incorporação seja feita de má-fé.
Se o incorporador, que não o proprietário do solo, esta de má-fé o dono do solo tem dois direitos
pelos quais pode optar. Ou exige que as coisas sejam repostam da forma como estavam antes da
incorporação, ou em alternativa pode ficar proprietário do que foi incorporado indemnizando pelo
enriquecimento sem causa.
Havendo boa-fé de quem incorpora importa saber quais dais coisas é que vale, ficando
proprietário o dono da parte que vale mais, ficando na obrigação de indemnizar o outro pelo valor
que perdeu.
A acessão em sempre um beneficiário, uma vez que, dos dois proprietário, um deles vai ficar dono
do todo. A este chama-se o beneficiário da acessão.
A questão é de saber se esse beneficiário adquire automaticamente ou potestativamente, ou seja,
este adquire a direito logo que se de a junção das coisas ou se é necessário que o beneficiário
apareça a declarar que quer adquiri.
A opinião tradicional é no primeiro sentido, sendo que em algumas hipóteses a lei determina que
tenha de ser assim. No entanto, isto implica dizer que o beneficiário mesmo que não o queira tem
de adquirir. Ora, isto para alem de quebrar a regra de que qualquer aquisição depende do
consentimento do seu beneficiário, no caso concreto o beneficiário fica automaticamente com uma
obrigação de compensar o outro pelo valor que este perdeu, ou então pelo seu enriquecimento
sem causa.
Por força deste argumento, o professo entende que a acessão deve ser potestativa. Ora sendo ela
potestativa, isto significa que o montante da indemnização é determinado pelo valor das coisas ao
momento em que o beneficiário da acessão declara que quer adquirir e não o valor que as coisas
tinham a altura da sua junção.
Outra questão é saber quando é que estamos perante benfeitoria ou acessão, uma vez que esta
primeira também se da quando existe a junção de coisas pertencentes a pessoas diferentes. Isto
porque as regras para o levantamento das benfeitorias e para determinação de compensações são
diferentes da acessão.
O critério tradicional é o da existência de uma relação jurídica que justifica a realização da
benfeitoria. Assim, se aquele que faz a incorporação a faz porque tem uma relação jurídica
qualquer que lhe atribui o domínio de ato sobre a coisa, o caso é de benfeitoria. Logo, haverá
acessão quando a relação jurídica não exista que justifique o domínio de facto sobre a coisa.
O problema deste critério é de que, muito raramente se aplica o regime da acessão,
principalmente no caso dos imoveis. O segundo é que se altere as regras normais da avaliação, ou
seja, há certas coisas que já podem ultrapassar o que se entende como simples melhoria.
Dai que, para o professor, será mais adequado utilizar o critério que faz a distinção pela definição
de benfeitoria. Ora, há letra, benfeitoria é melhoramento. Assim só se pode de melhoramento
enquanto for possível distinguir uma coisa principal de uma coisa acessória. Assim que essa
distinção não for possível, trata-se de acessão.
No entanto, mesmo quando se trate de um caso de benfeitoria, se o levantamento da coisa não
for possível o proprietário da coisa que recebe a melhoria adquire por acessão, uma vez que este é
o modo de aquisição por junção de coisas.
4º - Especificação
A questão surge quando alguém, mediante o seu trabalho, transforma coisa móvel pertencente a
outra pessoa. O problema é saber é a quem pertence a coisa transformada.
Ora, antes de mais importa saber se o especificador esta e boa ou má-fé, ou seja, se sabe que a
coisa que esta a transforma é, ou não, alheia.
Estando de má-fé não adquire qualquer direito sobre aquilo que transformo.
Estando de boa-fé é necessário saber o que vale mais. Se o trabalho valer mais que a coisa, o
especificador adquire a propriedade para si e tem de compensar o dono da coisa. Se por sua vez a
coisa valer mais, o proprietário da coisa mantem-se, tendo este que compensar o especificador.

13.2º -Factos Modificativos dos Direitos Reais


Usualmente distingue-se a modificação subjetiva da objetiva.
A primeira resulta da modificação do titular do direito. Quase todos os direitos reais são
transmissíveis, logo, quase todos admitem a modificação subjetiva.
A segunda resulta da modificação o conteúdo do direito. Aqui a duas hipóteses.
A primeira é quando se constitui um direito real concorrente. Assim sempre que sobre a mesma
coisa se constitui outro direito real, o conteúdo do direito real que sofre a sobreposição é
modificado.
A segunda é da hipótese da sub-rogação real, ou seja, alteração do objeto. A questão que se pode
colocar esta em saber se a mudança de objeto é apenas um caso de modificação, ou então se é um
caso de extinção e constituição de um novo direito.

13.3º -Factos Extintivos dos Direitos Reais


1º - Renuncia
Esta consiste na declaração unilateral do titular do direito de que não pretende continuar titular.
Esta pode ser abdicativa ou liberatória.
A renuncia abdicativa dá-se quando o titular do direito declara expressamente que não quer
continuar a ser titular desse direito. Tratando-se de imoveis, esta declaração tem de respeitar a
forma.
A renuncia liberatória pressupõem que o titular de direito real esta nessa qualidade vinculado a
realização de uma qualquer prestação. Nestas situações a pessoa esta obrigado por esta ser titular
do direito real. Como tal admite-se que essa pessoa possa liberar-se do cumprimento dessa
obrigação renunciando ao seu direito a favor do credor.
Esta pode implicar não a extinção mas sim a modificação subjetiva.
O abandono consiste na declaração tacita, por força da qual, a partir de um comportamento, ou
uma seria deles, se pode deduzir a intenção de a pessoa se querer desligar do direito. Este não é
possível para imoveis.
Ora, o normal é que a renuncia provoque a extinção do direito. No entanto, tratando de renuncia
da propriedade de imoveis, não estaremos perante um ato extintivo, mas sim translativo, uma vez
que, os imoveis sem dono fazem parte do património do estado.
2º - Não uso
Este é um modo de extinção de direitos reais, mas só para direitos reais de gozo. Para os outros
direitos reais o decurso do tempo funciona através da caducidade ou da prescrição.
O não uso consiste na situação em que o titular do direito não o exerce, logo não obtém as
utilidades que este proporciona. De um modo geral, o não uso só opera como modo extintivo se
perdurar por um prazo mais ou menos longo.
O próprio direito de propriedade pode extinguir pelo não uso, mas só nos casos previstos na lei,
sendo que esta só prevê um caso, que ainda assim é muito discutido, a propósito da propriedade
das águas. Neste caso o não uso não tem o um prazo associado, logo fica ao arbítrio de quem julga.
O não uso, decorridos os prazos, tem efeito automático
3º - Usucapio Libertatis
Esta esta prevista só para as servidões, mas tem-se entendido que se aplica a qualquer direito
menos de goza.
A situação supõem que o titular do prédio serviente impede o exercício da servidão. Ora, isto é um
ato ilícito, logo o beneficiário da servidão pode reagir. Mas, se não reagir e depois de criada a
oposição decorrem os prazos de usucapião, o proprietário do prédio serviente pode invocar a
usucapião para se ver livre da servidão.
Esta não tem eficácia automática, sendo que deve ser invocado pelo proprietário do prédio
serviente.
4º - Termo e Condição (Resolutiva)
Em princípio todos os direitos podem ser constituídos temporariamente ou perpetuamente.
Ora, a propriedade temporário normalmente não é admitida. Mas há duas exceções:
A) Direito de propriedade superficiária
B) Direito de propriedade fiduciária

5º - Consolidação
Se na titularidade da mesma pessoa se reúnem direito real maior e direito real menor, o direito real
menor extingue-se.
No enanto, havendo direitos de terceiros, a extinção por consolidação pode não ocorrer durante
algum tempo.
6º - Perda ou Desaparecimento
A perda da coisa, ou ato equiparável implica a extinção dos direitos que incidiam sobre essa coisa.

14º - Conteúdo dos direitos reais


Para os direitos de crédito, vigora o princípio da autonomia contratual. Assim, as partes podem
criar os direitos e obrigações que entenderem.
No que toca aos direitos reais vigora uma regra de numerus clausus.
Assim só se admitem os direitos reais que a lei prevê como direitos reais. Quais quer outros não se
admitem como direitos reais.
Esta regra funciona apenas para os direitos reais por contratos. Logo, em tese podem ser
constituídos direitos reais não previstos na lei por decisão administrativa ou judicial.
Por outro lado, o que é certo é que não pode haver direitos reais legalmente atípicos, ou seja, não
pode haver direitos reais que não tenham o mínimo de expressão da lei. Assim, é possível fazer a
classificação de um direito como real, uma vez que a lei não qualifica nenhum direito como real,
salvo um.
Há unanimidade que para ser real tem d incidir sobre uma coisa. Mas dentro dos direitos sobre as
coisas saber qual é real advém sobretudo de uma tradição histórica.
Assim, esta de todo afastado a possibilidade de dar eficácia real a tudo o que não esteja previsto
na lei. Do que estas previsto na lei, todos os direitos poem em tese ser reais, só que há uma
restrição. Primeiro tem de ser direito sobre coisa e segundo tem de ser direito com eficácia perante
terceiros.
Ora, isto resulta 1306º. Só que a linguagem usada não é esta. O que este artigo refere é que não
podem ser constituídas com eficácia real restrições ao direito de propriedade ou figuras parcelares
deste se não nos casos previstos na lei.
Para aquele que sofre a restrição ou a figura parcelar, é tudo igual pois o seu direito fica sempre
limitado. A diferenciação vê-se assim pelo lado daquele que beneficia.
Uma restrição é uma limitação que não tem sujeito ativo, ou seja, não há alguém que daqui tire
um benefício.
Na figura parcelar o que se faz é retirar poderes ao titular do direito para dar a outra pessoa.
Assim o proprietário fica sem poderes, mas para que outra pessoa os possa exercer.
Assim, da restrição não surge qualquer direito para terceiro, enquanto da figura parcelar surge um
direito para outra pessoa.
Se por negócio jurídico se constitui uma restrição prevista na lei, esta tem carater real. Logo
vincula eventuais terceiros que se ponham na situação daqueles que inicialmente contrataram. Se
eventualmente se constitui por negócio uma restrição que a lei não prevê esta não tem eficácia
real, mas sim com carater obrigacional.
Para a figura parcelar a ideia é a mesma. Assim constituindo-se um direito menor a favor de
terceiro previsto na lei, este tem carater legal. Se se pretende constituir um direito menor que a lei
não prevê, este não tem carater real. Consequentemente, o que se tem entendido é se pode
aproveitar-se os que as partes fizeram através da conversão do 293º.
A taxatividade do 1306º é aberta, no sentido que se permite que por negócio jurídico as partes
possam introduzir algumas modificações as direito sem que alterem o sistema central do direito.
Assim, neste caso as modificais tem carater real.

14.1º - Conteúdo positivo e conteúdo negativo dos direitos reais.


Ora qualquer direito é um conjunto de poderes/faculdades. Mas este conjunto de
poderes/faculdades normalmente é limitado e circunscrito por limitações e deveres.
Assim, todos os direito reais tem um conteúdo positivo, constituído pelos poderes/faculdades e
um conteúdo negativo constituído pelos deveres, limitações e obrigações que circunscrevem o
âmbito dos poderes.
Os direito reais podem ser de gozo, de aquisição e de garantia.
Os de gozo são aqueles que permitem o uso e a fruição de uma coisa.
Os de garantia são aqueles que se destinam a assegurar o cumprimento de uma obrigação. Como
tal estes são sempre assessórios de um direito de crédito.
Os de aquisição são aqueles que tem em vista a aquisição de outro direito.
Conteúdo Positivo
Nos direitos de gozo, os poderes que formam o seu conteúdo positivo podem ser de uso e/ou
fruição e/ou disposição.
Nos direitos de garantia, o poder atribuído é de promover a alienação forçada da coisa objeto da
garantia. Na consignação de rendimentos, se a coisa lhe for entregue para que este retire dai
frutos, aqui haverá um direito parecido com o usufruto.
Nos direitos de aquisição, o poder atribuído é de impor forçadamente a aquisição do direito.
Conteúdo Negativo
O conteúdo negativo é formado por limitações e obrigações que limitem o conteúdo positivo dos
direitos reais.
As restrições impõem apenas limites ao exercício. Assim, o titular do direito não o pode exercer no
sentido que estiver interditado
As obrigações impõem ao titular do direito deveres de conduta positiva em benéfico de outra
pessoa.
Limites
Dentro dos limites, temos aqueles que são instituídos no interesse predominantemente publico e
no interesse predominantemente privado. Os primeiros são para benéfico de pessoas
indeterminadas, os segundos são para o benéfico de pessoas determinadas.
Um grupo importante de limitações no interesse privado são as limitações de vizinhança previstas
nos Art´s 1334 e ss.
Apesar destas limitações serem impostas na lei, a pessoa que beneficiam podem por vontade
própria pode abdicar desse benefício. Ora a forma mais vinculativa desta perda de benéfico é feito
por uma servidão desvinculativa.
Nas limitações de interesse publica há uma que tem provoca uma forte discussão que diz respeito
ao direito de edificação.
Ora, tradicionalmente, o direito de edificar foi considerado uma componente do direito de
propriedade privada, nomeadamente a edificação de imoveis. Esta é a ideia presente no Art.1345º.
Mais recentemente, o surgimento dos planos de edificação e dos PDM, passou a ser o estado a
definir as zonas do território que podem ter um ou outro uso. Assim, será o estado que define em
que medida é que alguém pode construir.
Se continuamos a entender que o proprietário do solo tem necessariamente o direito de
construção, de cada vez que um PDM proibir a construção estará a retirar do solo a principal
utilidade que este tem. A relevância deste facto é de que isto pode ser visto como um caso de
expropriação.
No código civil distingue-se expropriação de requisição. Na constituição aparece a nacionalização.
A nacionalização é a apropriação do estado mediante o pagamento de uma indemnização, mas com
fundamento em razoes de ordem política. A expropriação é a apropriação do estado mediante o
pagamento de uma justa indemnização, mas com fundamento na utilidade publica. A requisição é a
apropriação do estado mediante o pagamento de uma justa indemnização, mas com carater
temporário, logo em rigor é apenas utilização pelo estado. Disto distingue-se o confisco, sendo que
este se trata da apropriação por parte do estado mas sem pagamento de uma indemnização.
Ora a expropriação pode dar-se por utilidade por publica ou por utilidade privada. Esta última é o
poder dado há um privado de apropriar-se de coisa alheia mediante o pagamento de indemnização.
Atualmente na lei, no código das expropriações admite-se a figura da quase expropriação. Esta
figura é próxima da expropriação para utilidade pública, mas em que formalmente a expropriado
não perde o direito que tinha. Acontece é que na prática o conteúdo do direito fica esvaziado.
Ora, na exclusão do direito de construção pode colocar-se este problema de estarmos perante
uma quase-expropriação. Em prática isto significa que o estado de cada vez que proibir-se a
construção teria de pagar uma indemnização ao proprietário pelo valor económico que perdeu.
Dai que para o estado não é conveniente dizer que o proprietário do solo tem o direito de
construção por inerência. Consequentemente, hoje em dia na doutrina administrativa, tem-se
entendido que o poder de edificação não estado contido na propriedade do solo, mas sim que este
é, ou não, concedido pelo estado.
Obrigações
Dentro da obrigações ao titular de um direito real existem essencialmente duas categorias. As
obrigações reais (propter rem) e os ónus reais.
Em ambos os casos são vínculos obrigacionais em que o titular do direito real aparece pode dever
e outra pessoa como credora. Ambas tem também conteúdo positivo, ou seja, o devedor fica
vinculado a realizar uma certa prestação de carater positivo que pode consistir num facere ou num
dare. E ainda em ambas as situações, estas só existem na medida em que estejam previstas na lei.
A principal caraterística das obrigações reais é o facto de estas serem funcionais, ou seja,
desempenham uma certa função. Essa função esta sempre ligada a conservação da coisa. Assim a
conservação da coisa esta dependente do cumprimento da obrigação.
Outra caraterística destas é a ambulatoriedade. Este no entanto é uma caraterística discutida, e
que para o professor não esta presente. A questão esta em saber se estas acompanham, ou não, a
transmissão do direito.
O exemplo dado é que A compro uma fração autónoma a B. Este há um ano que não contribui
para as despesas de manutenção das partes comuns. Surge assim a questão de saber se A esta
obrigado, ou não, ao pagamento da divida que esta para trás.
Ora, de um modo geral estas não são ambulatórias. A razão de ser desta solução é de sensatez.
Sendo que as obrigações desempenham uma função, seria absurdo obrigador no novo titular do
direito a ter de suportar as despesas necessárias conservação que dizem respeito a um período que
ele não deu qualquer uso a coisa.
No entanto, apesar de a lei na dizer acerta disto, há unanimidade que, se for aparente na coisa os
pressuposto de vencimento da obrigação, então esta é ambulatória. No entanto se este declara
perante o credor de que não assume essa despesa.
Nos ónus reais não há funcionalidade, uma vez que estes não desempenham uma função
especifica. Outra caraterística deste, é que o ónus implica que a coisa/coisas sobre o qual este
incide esteja a garantir automaticamente o cumprimento. Assim não havendo cumprimento, o
credor do ónus pode penhorar o bem sobre o qual o ónus incide.

15º - Colisão de Direitos Reais


Sobre uma coisa, para alem da propriedade, podem existir outros direitos reais.
Estes designam-se direitos reais sobre coisa alheia, uma vez que, na normalidade das coisa estes
assentam sobre uma coisa alheia, sendo direitos reais menores, uma vez que atribuem menos
direitos que a propriedade.
Quando sobre a mesma coisa incidam mais do que um direito real, temos aquilo a que se chama
sobreposição.
Esta pode ser de uma de 3 espécies:
A) Paralela: Quando os diversos direitos que incidem sobre a coisa são da mesma qualidade, dai que
nenhum prevalece. Ex: Compropriedade; Usufruto simultâneo
B) Hierárquica: Os direitos que incidem sobre a mesma coisa são de diferente qualidade. Assim, na
área em que haja sobreposição, o exercício de um deles exclui, necessariamente o exercido do
outro.
Ex: Usufruto em colisão com a Propriedade. Neste exemplo, o Usufruto vai prevalecer sobre a
propriedade mas só no direito de fruir e usar.
C) Prevalente: Isto ocorre quando na área que haja sobreposição, um direito prevaleça sobre o
outro, mas só na medida em que isso seja necessário para o exercício do direito prevalente.
Ex: A constitui hipoteca sobre o apartamento x a favor de B (1º) e a favor de C (2º). O direito de B,
vai prevalecer, sobre o direito de C, mas só na medida em que seja necessário.

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