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APONTAMENTOS TEÓRICOS
APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Bons estudos!
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
A companhia detinha poderes que lhe eram atribuídos pelo Estado: um exército,
marinha! Tinham a possibilidade de ocupar outros territórios, mas não em nome do
Estado – mas da própria companhia privada. Isto permite arrecadar capitais avultados
numa entidade puramente privada.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Muitos dos institutos típicos do direito comercial vieram a ser utilizados fora do
âmbito estrito desse ramo do direito. Assiste-se a uma “comercialização do direito
privado”: as letras de câmbio ou as livranças nasceram no direito comercial, mas são
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atualmente utilizadas fora dele. Deixaram, assim, de ser institutos exclusivos desse ramo
de direito.
Mas o legislador permite que as figuras dos direitos comerciais sejam utilizadas
fora do direito comercial. A insolvência passou a ser a impossibilidade de cumprir as
obrigações vencidas. A noção de insolvência passou a coincidir com a antiga noção de
falência, com uma particularidade: a insolvência não se aplica só aos comerciantes, mas
a toda a gente.
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ATOS DE COMÉRCIO
O relevo desta qualificação, hoje em dia, não é tanto como já foi. Mas esse relevo ainda
existe a 3 níveis:
● Nas obrigações comerciais (ou seja, nas obrigações resultantes de atos
comerciais), os coobrigados são solidários (art.º 100 CCom);
● As dívidas dos comerciantes casados derivadas de atos mercantis presumem-se
contraídas no exercício do respetivo comércio (art.º 15 CCom);
● O art.º 102 CCom estabelece um regime com particularidades para os juros
relacionados com atos comerciais (juros comerciais).
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A noção de ato comercial decorre do art.º 2 do CCom. que contempla uma vertente
objetiva e uma subjetiva. Os atos de comércio são sobretudo contratos. Mas além dos
negócios jurídicos bilaterais, podem ser atos mercantis:
● Os negócios jurídicos unilaterais, como é o caso dos negócios cambiários e dos
negócios de constituição de sociedades comerciais unipessoais (art.º 483 CCom e
LULL; art.º 270-A e art.º 488 CSC);
● Simples atos jurídicos, como é o caso das interpelações e avisos efetuados por
sociedades mercantis a sócios remissos (art.º 203/3, art.º 204 e art.º 285 a art.º 286
CSC);
● Factos jurídicos ilícitos, em certos casos, desde logo, quando estejam previstos na
lei mercantil, como, por exemplo, a abalroação culposa de navios (art.º 665 e ss
CCom).
Atos de comércio
subjetivos
Atos de comércio
objetivos
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Para além disso, em certos casos, temos atos comerciais para os quais a lei não estabelece
um regime jurídico, limitando-se a qualificá-los como tal. É o que acontece com as
operações de banco (art.º 362 CCom). Aquilo que o CCom faz é indicar algumas delas,
nem sequer indica todas.
Não é, contudo, razoável petrificar um catálogo de atos num código datado (1888). Há
de ser possíveis leis posteriores, acompanhando a evolução económica, preverem atos
comerciais. Daí que se deva fazer uma interpretação extensiva da expressão «neste
Código» do art.º 2 do CCom.
A lei substituta será em princípio comercial, os atos nela regulados serão mercantis.
Vejamos exemplos:
● Atos constituintes das sociedades comerciais previstos no CSC, que substitui os
art.º 104 e ss do CCom;
● Negócios respeitantes às letras, livranças e cheques, basicamente hoje regulados
nas LULL e LUCh e antes nos art.º 278 ss do CCom.
2ª hipótese: a lei auto qualifica-se como lei comercial ou, mais precisamente,
qualifica atos como comerciais:
Há matérias que estão previstas no CC e que são matérias materialmente comerciais. Por
exemplo, no capítulo da «locação», o CC contém «disposições especiais do arrendamento
para fins não habitacionais (art.º 1108 a art.º 1113 CC). entre esses fins conta-se o
comércio. E a locação de estabelecimento «comercial ou industrial» e o trespasse desses
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A verdade é que o legislador acabou por regular um conjunto de figuras que não estão
previstas no CCom mas que têm importância para o comércio. Além disso, o nosso CC,
na parte do direito das obrigações, inspirou-se muito no CC italiano. Ora, o CC italiano é
um código unificado (unifica o direito das obrigações e o direito comercial). A
empreitada, por exemplo, é um contrato comercial e está no CC.
Nada é dito: não há substituição nem outro regime que seja norma de comercial. Na
maioria das vezes, as leis não se auto qualificam explicitamente (direta ou indiretamente)
como comerciais, civis, etc.. Como saber, então, se estamos perante uma lei mercantil,
prevendo de algum modo atos objetivos de comércio?
O art.º 230 do CCom faz uma qualificação como empresas (singulares ou coletivas) em
função do seu objeto. Temos aqui um conjunto de atos que são objetivamente comerciais,
mas que são enquadrados organizacionalmente, ou seja, no âmbito de uma empresa. Para
além destes, há outros que sejam comerciais? Vamos ver.
● Em primeiro lugar, muitos destes casos comportam interpretação extensiva. Por
exemplo, tem-se entendido que se enquadra no nº7 o fornecimentos de água, gás
ou eletricidade.
● Quando não é possível fazer uma interpretação extensiva do art.º, recorre-se a
analogia legis. Por exemplo, quando no nº6 se fala em construção de casas,
devemos incluir aqui a construção de estradas, pontes, barragens).
● Por último, caso não seja possível recorrer à analogia legis, poderemos recorrer à
analogia iuris. Esta esta prevista no art.º 10/3 CC e permite formular um
princípio.
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Então, como qualificar essas empresas (de prestação) de serviços (designemo-las agora
assim para as distinguir das empresas de fornecimento de serviços propriamente ditas –
implicantes de contratos de fornecimento), que têm crescido consideravelmente nos
últimos decénios, mas que não são análogas às previstas no art.º 230/2 CCom, nem às
incluíveis noutras normas do CCom, nem consideradas comerciais em diplomas
posteriores? Se aquelas empresas de serviços não podem ser qualificadas como
comerciais pelo recurso à analogia legis, já podem sê-lo pelo recurso à teologia imanente
ao sistema legal mercantil, ao seu espírito – analogia iuris (art.º 10/3 CC).
Nota: a maioria da doutrina vai pela analogia legis e chega lá; Abreu Coutinho vai pela
analogia iuris.
Tendo por base um pensamento indutivo, tendo em conta que há uma previsão do
trespasse e do arrendamento comercial (logo, são atos comerciais pois estão previstos no
CCom), todos os negócios sobre empresas comerciais são atos objetivamente comerciais.
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Daqui decorre o seguinte: são atos comerciais os atos previstos na lei comercial e também
os atos análogos.
Em segundo lugar, os atos em causa não podem ter natureza exclusivamente civil.
Entendemos serem atos de natureza exclusivamente civil os que, por sua natureza, não
são conexionáveis com o exercício do comércio, não se concebendo nem dirigidos a
auxiliar, promover ou levar a cabo o exercício do comércio, nem a deste dependerem.
Alguns exemplos de atos de natureza exclusivamente civil são o casamento, a perfilhação,
a designação de tutor pelos pais.
Em terceiro lugar, o ato será comercial «se o contrário do próprio ato não resultar»,
ou seja, se do próprio ato não resultar a não ligação ou conexão com o comércio. Assim,
incluem-se aqui:
è Os atos dos quais resulta a ligação com o comércio. Por exemplo, um merceeiro
compra uma furgoneta a um agricultor, declarando destinar-se a mesma ao
transporte de mercearias de e para a sua mercearia.
è Os atos dos quais não resulta a sua não ligação com o comércio. Por exemplo, o
merceeiro compra uma furgoneta ao seu conhecido agricultor sem nada declarar
acerca do destino da viatura.
O ato já não será comercial se dele resultar uma não ligação com o comércio. Por
exemplo, o merceeiro, ao comprar a furgoneta, declara que a utilizará como caravana de
férias.
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Vejamos alguns exemplos: a fiança (art.º 101 CCom)[1], o mandato (art.º 231 CCom), o
empréstimo (art.º 394 CCom), o penhor (art.º 397 CCom), o depósito (art.º 403 CCom).
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À pergunta «aos atos unilateralmente comerciais aplica-se a lei civil ou a lei comercial?»
responde-nos o art.º 99 CCom. Mesmo que o ato seja só unilateralmente comercial,
aplica-se o regime mercantil, a não ser que haja normas que apenas são aplicáveis ao
sujeito relativamente ao qual o ato é mercantil.
E quais são estas disposições de que falamos? Hoje, será especialmente o art.º 100 CCom.
A solidariedade de devedores só se verifica relativamente àqueles «por cujo respeito o
ato é mercantil». Suponhamos que dois comerciantes, num único contrato, compram
peças de artesanato a dois artesãos. O ato é unilateralmente comercial: a compra é
mercantil (art.º 463/1 CCom) e a venda é civil (art.º 464/3 CCom). O ato fica sujeito à
disciplina jurídico-comercial, mas os artesãos não são devedores solidários quanto à
entrega das peças.
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O regime das obrigações de juro consta do art.º 102 CCom. De acordo com o nº1, a taxa
de juro tem de ser fixada por escrito
Temos uma regras específica para os juros moratórios e para os juros estabelecidos sem
determinação da taxa, no nº3:
● Âmbito subjetivo do regime: estamos a falar de créditos pecuniários de que
sejam titulares empresas comerciais. O regime que temos neste momento decorre
da transposição da diretiva 2013 relativa ao atraso no pagamento das transações
comerciais e que foi transposta para o nosso OJ pelo DL 62/2013. Qual é este
regime desta diretiva? A taxa de juro corresponde à principal operação de
refinanciamento do BCE, antes de 1 de janeiro e antes de 1 de julho, acrescida de
7 pontos percentuais. Desta taxa é dada publicidade através de um aviso da direção
geral de tesouro e finanças. Depois temos um outro regime que decorre do DL
62/2013. Ela estabelece um regime específico com um valor adicional para estes
juros de mora. Nestes casos, há um acréscimo de 1 ponto percentual. Isso acontece
e quando estiverem preenchidos os requisitos subjetivos e objetivos deste
diploma:
● Que estejamos perante transações entre empresas, embora a lei tenha ampliado
aqui o conceito de empresa.
● O contrato tem de ter por objeto fornecimento de bens/serviços contra
remuneração.
Há um regime excecional relativamente àquelas obrigações pecuniárias para as
quais não tenha sido fixado prazo. A regra central é de que há vencimento
decorridos 30 dias, sem necessidade de interpelação. Esta regra varia em função
da emissão da fatura e da entrega dos bens.
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O regime está previsto no art.º 463 do CCom. Este artigo faz uma listagem
exemplificativa de circunstâncias que levam a que uma CV seja qualificada como
comercial.
● Sempre que se trate de uma compra de coisas móveis para revenda ou compra de
coisas móveis para as alugar;
● Venda de coisas móveis, bem como de fundos públicos ou título de crédito
negociáveis, desde que essa aquisição tenha sido feita com a finalidade de
revender;
● A compra e revenda de bens imóveis ou de direitos a eles inerentes, sempre que
as compras tiverem sido feitas para revenda;
● A compra para revenda de títulos públicos emitidos pelo estado ou de outros
títulos negociáveis;
● A compra e venda de partes da sociedade ou de ações. Aqui não é necessário
qualquer intuito de revenda[2].
O art.º 464, por sua vez, vem elencar que compras e vendas não podem ser consideradas
comerciais:
● A compra de bens para serem usados pessoalmente ou de forma familiar;
● A venda de bens que resultem da atividade agrícola de uma pessoa. Esta venda é
feita com intuito lucrativo, mas não será mercantil. Por exemplo, a compra de
madeira para ser transformada numa fábrica. O Dr. Cassiano defende aqui a
aplicação do regime comercial por analogia, mas o prof não acha isso claro;
● CV realizadas no âmbito de atividade dos profissionais liberais previstos no nº3;
● CV de animais.
Em primeiro lugar, temos o regime relativo ao preço – art.º 466 CCom. A CV, quer civil
quer comercial, exige sempre um preço. No âmbito do direito comercial trata-se
necessário que decorra do contrato um critério de determinabilidade do preço ou então a
indicação de um terceiro que o determine. Se tal não acontecer, o contrato não tem
eficácia. No regime de direito civil (art.º 883 CC) é ligeiramente diferente: a não fixação
do preço leva a que possa ser fixado o valor de mercado do bem e, em última instância,
pelo tribunal segundo juízos de equidade, mas não impede a eficácia do contrato.
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Porquê esta diferença de regimes? O regime comercial foge à equidade porque o lucro
não é consentâneo com ela: à partida, não funciona de forma plena no âmbito comercial
pois aqui visa-se o lucro e as partes gostam de saber o preço que vão pagar pelos bens.
Relativamente à venda de coisa alheia, no direito civil esta é nula (art.º 892 CC). no
âmbito do direito comercial, a venda de bens alheios não é nula (art.º 467, 1º parágrafo),
é válida. Contudo, nasce daqui uma obrigação para o vendedor: ele tem de adquirir a coisa
para a entregar depois a outro sujeito. Se não o fizer, responde contratualmente, pois do
contrato nasce a obrigação de adquirir e entregar. Se não o fizer, tem de indemnizar pelo
interesse contratual positivo. O regime é idêntico sempre que for uma CV de bens
seguros.
Art.º 1301 CC: Este artigo, ligado à venda de bens alheios, vem-nos dizer que se
estivermos a falar de um bem que foi vendido no âmbito da atividade de um comerciante,
o terceiro que adquiriu esse bem pode ficar obrigado a entregar esse bem ao real
proprietário do mesmo, desde que este proprietário lhe pague o preço que ele pagou ao
comerciante. Temos 3 personagens para este artigo:
● A – Proprietário original
● B – Comerciante que tem como atividade a venda de um bem específico
● C – Terceiro de boa fé que adquire um determinado bem
A Bosch produz 300 micro-ondas e vende-os à Worten. E vende os bens sob reserva de
propriedade. A propriedade só se transmite à Worten quando esta pagar. Para a Worten
fazer dinheiro com estes micro-ondas tem de vendê-los primeiro. E paga à Worten e à
Bosch o dinheiro que fez com eles. O CC não permite isto; o CCom permite.
O CC diz que se alguém vai à Worten e compra um destes micro-ondas se estiver de boa
fé, pode a Bosch ir exigir-lhe o micro-ondas de volta. Mas, para poder exigir de volta o
micro-ondas, é exigido que a Bosch pague ao terceiro o preço que o terceiro pagou à
Worten.
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Sempre que estivermos face a uma venda feita sob amostra ou fazenda ou se a coisa se
determinar só por uma qualidade conhecida no comércio, essa venda é sempre feita
sob condição de a coisa depois entregue ser conforme/idêntica ou àquela da amostra ou
da qualidade que define a coisa (art.º 469 CCom).
Regime relativo às coisas que não estejam à vista nem possam designar-se por um padrão
Depois, há uma outra modalidade de venda no art.º 470. Este artigo refere-se àquelas
coisas que não tenham sido compradas à vista (com o sujeito ali a vê-las à frente) ou por
uma qualidade definida no comércio (ex.: parafuso 5 mm de aço). Estas compras são
feitas sob condição de o comprador poder fazer cessar o negócio se depois de as examinar
elas não lhe convierem.
Temos a regra fundamental do art.º 471. Suponhamos que o sujeito adquire uma coisa
definida em termos de qualidade do comércio (por exemplo um berbequim com a potência
x). Sendo-lhe a coisa entregue, no caso de ele não os examinar no prazo de 8 dias, o
contrato consolida-se. Isto acontece por ele não ter examinado as coisas na data em que
lhe foram entregues; mas pode acontecer que o vendedor exija ao comprador que as
examine imediatamente quando lhe entregar as coisas- medida de proteção da
estabilidade das transações. Mesmo que se verifique uma desconformidade
posteriormente, como houve esta exigência, depois não poderá fazer cessar o NJ.
Relativamente ao prazo para entrega da coisa, nos termos do art.º 473 do CCom há
duas possibilidades:
No que diz respeito ao regime civil (art.º 777), se o prazo não tiver sido determinado, o
credor pode exigir o preço a qualquer altura.
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Suponhamos que eu tenho um pomar e tinha combinado com a Compal que lhes ia vender
a minha fruta e que eles iam fazer uma edição especial do sumo tutti frutti dedicado ao
meu pomar. Eles compraram a fruta e eu entrego. Mas a edição especial nunca mais chega.
Eu posso resolver o contrato de compra e venda? o art.º 886 parte do pressuposto que o
incumprimento é o do preço. aqui não foi o preço que não foi pago. Só se aplica o art.º
886 quando estão reunidos os 4 requisitos. Estavam aqui todos preenchidos menos 1: o
incumprimento não era fundado no não pagamento, mas numa outra obrigação.
Vejamos o art.º 934 que prevê uma regra ainda mais especial para a resolução do contrato
quando este contrato for um contrato de compra e venda a prestações. mesmo que tenha
havido reserva de propriedade e tenha sido feita a entrega do bem, o vendedor só tem
direito a resolver o contrato por não pagamento do preço quando este não pagamento
incidir sobre duas prestações ou sobre uma prestação de valor superior à oitava parte do
preço.
O regime do CCom é bastante mais limitado, o que significa que muitas vezes este regime
do CC se vai também aplicar às CV mercantis.Neste âmbito, temos o art.º 474. Diz-nos
que, na falta de pagamento do preço e na medida em que não tenha havido ainda entrega
da coisa, pode o vendedor fazer uma de duas coisas:
● Depositar a coisa;
● Vendê-la em hasta pública, sendo que do produto da venda vai ficar com o valor
que lhe é devido pelo comprador e o restante, se existir, terá de devolver ao próprio
comprador; ou se se tratar de um bem com valor fixado em bolsa ou com valor de
mercado, fazê-lo vender ao preço corrente.
Neste âmbito temos o art.º 476. O comprador tem de emitir fatura e tem de a entregar
com as coisas – a fatura discrimina as coisas e o preço. Com a fatura é liquidado o IVA.
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Este regime tem uma importância acrescida por causa dos atrasos de pagamento das
transações comerciais. Em certos casos, este prazo de 30 dias decorre da entrega da fatura
e não da entrega das mercadorias. O vendedor tem que emitir fatura e tem que entregá-la
em conjunto com as coisas. Isto decorre do CCom. Este regime tem uma importância
acrescida por causa dos atrasos de pagamento nas transações comerciais. Em certos casos,
esta entrega de mercadorias decorre da entrega de fatura.
O caso mais relevante desta venda é precisamente no âmbito da venda comercial, uma
vez que nesta acontece frequentemente o crédito comercial (é entrega a coisa, mas dá-se
um prazo para se pagar). De acordo com o regime geral de Direito Civil, a venda comporta
a automática transferência da propriedade (art.º 879 CC). ele vendeu- transmitiu- a
propriedade (artigo 876º CC) ele não pode resolver o contrato por falta de pagamento do
preço e só lhe resta um crédito comum.
Ora, no âmbito comercial isto não é propriamente eficiente, pelo que o que ele pode fazer,
se possível, é introduzir uma reserva de propriedade que é conhecida em termos económicos
como a garantia do comerciante. Assim, ele pode vender, entregar e se o outro não pagar
ele pode resolver o contrato e exigir que a coisa lhe seja restituída, uma vez que a coisa ainda
é do vendedor. Pode, inclusive, permitir o pagamento de prestações.
Esta venda é importante não só em Portugal, mas em todo lado (Exemplo: um sujeito
vendia máquinas para exportação, mas com reserva de propriedade).
Acontece, no entanto, que aquilo que o legislador deu com uma mão acabou, em parte, a
tirar com a outra porque foi criar um regime no âmbito dos direitos reais- artigo 1301º
CC- que visa proteger o comprador.
Suponhamos que compramos uma máquina de lavar e pagamos. Ora, nunca nos passa
pela cabeça se o sujeito a quem compramos a comprou com reserva de propriedade. Ora,
se a coisa ainda não era do nosso vendedor, este vendeu uma coisa alheia e nós não
compramos nada. Ora, daí que no âmbito daquele artigo, aquele que adquirir a
comerciante e se estiver de boa fé (desconhecer que o comerciante não é dono e não se
tratar de um bem sujeito a registo, caso em que se tem de registar a reserva), o comprador
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pode recusar-se face ao titular do bem- vendedor inicial- a entregar-lhe o bem, enquanto
esse vendedor não lhe pagar aquilo que ele próprio pagou por ele.
O vendedor inicial pode recusar-se a entregar o bem enquanto o vendedor não lhe pagar
aquilo que ele próprio pagou por ele. Por outras palavras, temos um sujeito- imaginemos
um revendedor- que vende uma bike por 500 euros. Enquanto ele não pagar, ele pode
exigir-lhes que lhe entregue a bike porque há reserva de propriedade.
[1] Por exemplo, para explicitar, a fiança será um ato acessóriamente comercial quando
seja comercial a obrigação que se pretende garantir.
[2] Onde se lê «partes ou ações de sociedades comerciais» no parágrafo 5, deve ler-se «participações sociais». Estas
incluem as quotas das sociedades por quotas. Porque é que estas compras são na mesma mercantis? Primeiro pelo seu
objeto: são partes da sociedade comercial. Mas, para além disso, à partida, uma participação numa sociedade comercial
tem como objetivo o lucro que se vai receber da própria sociedade comercial.
COMERCIANTES
Se ele for comerciante, tem um estatuto próprio: tem de adotar uma firma, tem
de ter escrituração mercantil, tem de estar inscrito no registo comercial; tem de dar
balanço e prestar contas (art. 18º CCom).
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
O direito comercial não tem uma unidade interna, sendo um conjunto de temas
que se desenvolveram histórica e culturalmente.
As cooperativas, por sua vez, não visam o lucro (podendo, todavia, ter excedentes) –
podem ser titulares de empresas comerciais, mas não são comerciantes por não visarem
o lucro
Visam o lucro as sociedades constituídas mas que ainda não tenham sido
registadas – têm já uma capacidade de gozo e de exercício para a prática de atos de
comércio, mas não sendo os sócios que os praticam.
DIREITO BANCÁRIO
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Atendendo somente ao elemento subjetivo, são atividades bancárias aquelas que podem
ser praticadas pela banca, embora não sejam direito bancário. Focando-nos apenas no
conjunto de atividades que os bancos podem desempenhar, rapidamente vemos que
algumas delas nada têm a ver, nem com especialidades do comércio bancário, nem com
a atividade financeira em geral. É o que sucede com a simples locação de bens móveis.
Podemos desde já afirmar que o cerne do direito bancário consiste na atividade que só
é e só pode ser desenvolvida pelos bancos: a intermediação financeira. Mais
recentemente, junta-se aqui também a função de intermediário no seio do sistema de
pagamentos.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
locação financeira, desconto, etc.). A concessão dos créditos por parte dos Bancos é feita
a entidades coletivas, a particulares e ao próprio Estado.
É ainda importante referir que os bancos criam moeda. Não se trata de moeda legal com
efeito liberatório legal, composta, como se sabe, em notas e moedas que consiste num
monopólio estatal. Os bancos, entes privados, criam moeda escritural, que consiste em
saldos de contas bancárias. Essa criação tem limites, dos quais são especialmente
relevantes os que decorrem da política monetária. Assim, por exemplo, a concessão de
um crédito decorrente de um empréstimo concedido ao banco cira moeda, porque vai
levar à constituição de um crédito a favor do mutuário e do correspondente depósito.
Nessa medida, é a concessão de crédito que cria a moeda e que, portanto, gera os
depósitos, ou seja, os novos créditos a eles correspondentes. A concessão de crédito é que
gera o depósito e conduz à criação de moeda escritural.
Relação Bancária
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A relação de um sujeito com o banco não se esgota num único contrato de abertura de
conta. Ela passa pela celebração de múltiplos contratos, de conta corrente, de cheque, de
cartões, de transferências, de crédito, etc..
A questão que se coloca consiste em determinar se, para além destes contratos singulares,
as partes não estariam ligadas por um contrato, o contrato bancário geral, que fundaria
a relação de negócios entre eles.
Um dos aspetos mais relevantes deste contrato quadro são os serviços de pagamento, uma
vez que é neste âmbito que eles vão sendo celebrados.
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Alguns destes contratos podem, e muitas vezes são, de imediato concluídos entre o cliente
e o banco. O que significa que se alarga ab initio a amplitude do relacionamento entre as
partes.
Temos também um conjunto de negócios que potencialmente podem ser realizados pelas
partes:
● Contratos de hipoteca;
● Contratos de abertura de crédito;
● Mútuo;
● Contrato de cheque.
Alguns deles decorrem da lei em termos gerais, como o dever de informação (art.º 77
RGICSF), ou em âmbitos mais restritos, como no crédito ao consumo (art.º 6 e 7 do DL
133/2009). O art.º 77 RGICSF que impõe deveres de informação, sendo que este dever é
sempre intensificado quando estivermos perante crédito ao consumo; e também o art.º 74.
Por outro lado, o art.º 74 RGICSF impõe ao banco o «respeito consciencioso dos
interesses que lhe estão confiados».
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Nota: O STJ tem já jurisprudência recente quanto aos deveres dos intermediários
financeiros.
Se estivermos perante uma relação bancária ou perante uma relação em que estejam em
jogo apenas produtos bancários e não produtos financeiros, o regime é um. Se estivermos
já no âmbito de aplicação do CVM temos regras específicas, e aí há um dever de avaliação
do caráter adequado da operação. Nesse dever de adequação há mesmo um dever de
informar a outra parte quando haja desadequação ao art.º 314/1 e 2 do CVM.
Ora, o cliente espera que o banco o auxilie a defender os seus interesses patrimoniais e
espera também algum aconselhamento. E o banco sabe que é isto que o cliente espera. É
assim que surgem estes deveres de informação, proteção do património e
aconselhamento.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
É de notar que estes deveres não exigem para a sua constituição em concreto uma ação
do cliente, mas, muitas vezes, uma iniciativa da instituição de crédito. Em particular
quando esta saiba que o cliente não tem capacidade para tomar as iniciativas necessárias.
Este aspeto tem de ser precisado: é que não basta um défice de informação por parte do
cliente. Sabendo da sua existência, das suas insuficiências, é ele que deverá procurar as
informações e aconselhamento, adequado a formular o seu juízo. Se a pessoa não tem
capacidade para superar o défice de informação através da colocação de perguntas
adequadas, aí sim há um dever de iniciativa de esclarecimento por parte do banco. Isto
decorre do art.º 77 que há pouco vimos, mas também no art.º 762/2 porque temos um caso
de boa fé intensificada pela relação de confiança.
Por exemplo, um sujeito tinha duas contas num banco: uma conta corrente e uma conta
caucionada relativamente à qual estava a prestar juros. O banco não o informa que existe
valor positivo numa conta e que pode fazer transferências de uma para a outra, o que
diminui os juros. Aqui há claramente uma falta de informação por falta do banco.
Importa, por último, advertir que uma coisa é a existência destes deveres e outra coisa são
as decisões que cada um, cumpridos os deveres do banco (na medida e com a extensão
que existam), têm que tomar. Essas só são da sua inteira responsabilidade, assim como
são seus os riscos que corre. Ou seja, um sujeito informado toma uma decisão, é ele que
comporta os riscos que dela advêm, não podendo tentar transferir esse risco para um dever
de informação.
CONTRATOS DE CRÉDITO
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
MÚTUO
A modalidade de mútuo que interessa para o nosso estudo é o mútuo pecuniário oneroso.
O mútuo é o modelo básico dos contratos de crédito. Isto não significa que não haja
contratos de crédito que não sejam mútuos (como é o caso da locação financeira, que não
tem elementos deste contrato).
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
O regime do mútuo comercial assenta no regime de mútuo civil. O mesmo sucede com o
mútuo bancário.
O seu objeto são coisas fungíveis, das quais se dá especialmente relevância ao dinheiro.
Contudo, estão ainda dentro dos limites do mútuo aqueles casos em que as retribuições
não constituem juros. A retribuição do mutuante pode consistir em parte dos lucros
decorrentes da utilização da quantia pelo mutuário (por exemplo, nas operações de project
finance quanto aos lucros da sociedade veículo ou da sociedade cuja recuperação se
financia). Trata-se de uma prestação retributória atípica. Estamos face a uma
modalidade de negócio parciário.
O contrato de mútuo presume-se oneroso – art.º 1145/2, 2ª parte CC. O Dr. Pestana
Vasconcelos não percebe o porquê desta presunção: na realidade deparamo-nos muitas
vezes com mútuos gratuitos.
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empréstimos da sociedade estarem garantidos por garantias pessoais dos sócios, muitas
vezes por via de letras/livranças em branco avalizadas. Se a sociedade restituir o crédito,
há uma abertura de crédito e pode o banco demandar e atingir o património pessoal dos
sócios e, eventualmente, o património dos cônjuges destes.
O mútuo pode ser simples ou de escopo. Será simples quando o mutuário não assume
qualquer dever quanto ao destino da quantia emprestada; será de escopo quando a
contraparte do mutuante se obriga a emprestar essa quantia para um determinado fim. A
empresta a B 1000 euros para ele fazer o que ele quiser; A empresta a B 1000 euros para
ele comprar uma casa.
O mútuo, tal como a nossa lei o prevê, é um contrato real quanto à sua constituição.
Isto significa que o contrato não está concluído enquanto, para além das declarações de
vontade, não for também feita a entrega da coisa, do dinheiro, ao mutuário.
Nada obsta, porém, a que se celebre um contrato de mútuo consensual atípico, ao abrigo
da liberdade contratual. Este será um mútuo atípico. Nesse caso, já será um contrato
bilateral, sinalagmático. Este é um mútuo atípico. Neste caso, o mútuo não será real
quanto à sua constituição. Obtido o acordo, o contrato conclui-se, daí decorrendo a
obrigação para o mutuante de entregar o capital. Caso não o faça, a outra parte pode
recorrer à ação de cumprimento (o que fortalece a sua posição face ao mútuo real, em que
a defesa dos interesses do mutuário antes da entrega é bastante mais ténue).
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Contudo, não se pode dizer que a recusa da entrega seja despida de consequências. Na
verdade, se ela não se realizar ou não for aceite, haverá lugar à responsabilidade pré-
contratual, mas, ainda assim, não pode haver substituição do tribunal ao mutuante.
Acresce que a execução específica, tal como prevista no art.º 830, não permite obter esse
resultado. Os meios de reação do promitente-mutuário estão limitados à indemnização.
O mútuo é, por natureza, um contrato que exige um período mínimo de tempo de gozo
do bem por parte do mutuário. Esse prazo, na interpretação que o Dr. Pestana
Vasconcelos faz do art.º 1148/2, terá de ser de pelo menos 30 dias.
Há contratos que são os de «crédito à vista»: significa que o mutuante pode, a qualquer
momento, exigir a restituição da quantia. Esses contratos são admissíveis ao abrigo da
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
liberdade contratual, mas não são contratos de mútuo: são contratos de crédito atípicos.
O mútuo exige sempre um determinado período de tempo para ser usada a quantia. Temos
um prazo estipulado para ser cumprida a obrigação de reembolso.
Falamos de uma figura muito importante no âmbito das sociedades comerciais. Este
regime é típico de financiamento das sociedades comerciais e está previsto e regulado no
art.º 243 do CSC.
A restituição dos suprimentos pode ser realizada a qualquer altura. Porém, o seu regime
é extremamente desfavorável:
● Os credores dos suprimentos, ou seja, os sócios, não podem requerer a insolvência
da sociedade;
● Perante a declaração de insolvência da sociedade, os créditos de suprimentos são
os últimos a ser pagos;
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Os sócios podiam ainda, perante os seus créditos, pedir garantias reais à sociedade e dizer
«eu só te empresto 10000 € se ficar com uma hipoteca sobre o imóvel da sociedade». Isto
faria com que, perante a declaração de insolvência, enquanto credores com uma garantia
real, os sócios passassem à frente dos restantes credores ordinários, prejudicando-os a
todos. Para evitar isto, temos o art.º 245/6 CSC.
Se o devedor incumprir e o contrato for resolvido, não há lugar a qualquer restituição dos
juros já recebidos – art.º 434/3. Igualmente, não há perda do benefício do prazo
relativamente aos restantes juros que ainda não se constituíram, tal como decorre do AUJ
25/3/2009 (Cardoso de Albuquerque). Segundo este acórdão, o vencimento da obrigação
de restituição, por implicação do art.º 871, não implica o vencimento dos juros futuros
que não se constituíram ainda. Por exemplo, A celebra com B um contrato de mútuo por
3 anos a uma taxa de juro anual de 3%. Suponhamos que, decorrido 1 ano, cesse o
contrato. A obrigação de restituir a quantia emprestada vence-se imediatamente.
Relativamente aos juros, só são devidos os juros que correspondam ao ano durante o qual
o contrato esteve em vigor. Os juros relativos ao 2º e 3º ano não podem ser exigidos
porque eles não se venceram; o que é há é uma mera expectativa da sua aquisição.
Prazo
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
As partes podem ter acordado num prazo ou ter concluído o contrato sem prazo (caso não
se tenha fixado prazo, vigora a regra do art.º 1148 CC).
Caso tenha havido fixação de prazo, este presume-se estipulado a benefício de ambas as
partes. Permite-se, porém, que o mutuário antecipe o pagamento, desde que satisfaça os
juros por inteiro (art.º 1147 CC), o que tutela o interesse do credor à sua perceção. Ou
seja, o mutuário, caso queira pagar antecipadamente, terá de pagar os juros já constituídos
e também os que se iriam constituir no futuro.
A presunção prevista no art.º 1147 é ilidível, pelo que nada obsta a que se convencione o
pagamento antecipado do capital e, somente, dos juros corridos até esse momento. Pelo
contrário, também se poderá acordar que nem com o pagamento antecipado de juros o
devedor pode cumprir antes de decorrido o prazo. Uma outra hipótese, também
admissível. Consiste na imposição de um prazo mínimo de duração do contrato, dentro
do qual o mutuário não poderá pagar o capital em dívida. Por último, também nos parece
admissível a fixação, dentro do prazo do contrato, de um período mínimo dentro do qual
o credor não pode exigir a restituição do capital, embora o possa vir a fazer decorrido esse
espaço temporal.
b) Mútuo comercial
O mútuo comercial denomina-se empréstimo mercantil e está previsto nos art.º 394 a
396 CCom. As diferenças de regime do empréstimo mercantil face ao mútuo civil são
muito reduzidas. O mútuo é mercantil, nos termos do art.º 394 CCom, quando a coisa
cedida, aqui o dinheiro, for destinada a um ato mercantil. Por exemplo, um empréstimo à
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
sociedade comercial será sempre mercantil. Não é necessário que o mutuante seja
comerciante. Em rigor, o mutuário também não.
c) Mútuo bancário
O mútuo bancário é composto pelas disposições do regime geral do mútuo civil oneroso
que tenha por objeto dinheiro, que são «atraídas» para o direito bancário. Integram-se
também nesta disciplina, se aplicáveis, as regras do empréstimo mercantil. Temos
também regras quanto ao regime do empréstimo bancário em si.
Sendo o mutuante o banco (ou outra instituição de crédito), aplica-se o artigo único do
DL 32 765 de 29/04/1943, que aligeira os requisitos de forma, bastando o escrito
particular, mesmo quando a outra parte não seja comerciante, independentemente do seu
valor.
Como se disse, o empréstimo comercial não carece de forma, mas para tal é necessário
que seja celebrado entre comerciantes – art.º 396 CCom. Esta norma continua a ser
aplicável, sempre que o contrato de empréstimo mercantil tenha sido celebrado pelo
banco com um comerciante.
Não se trata, ao contrário do que sucede com o mútuo civil, de um contrato real quanto à
sua constituição, mas sim de um mútuo consensual socialmente típico no comércio
bancário. O que as partes pretendem é que, tendo sido alcançado o acordo, o banco fique
desde logo vinculado à entrega da quantia, obrigação que ele cumpre por crédito em
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
conta. Os interesses aqui, em que o mutuante é um banco (um mutuante profissional), são
diferentes daqueles do mútuo civil).
● Simples;
● De escopo.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Os juros serão pagos decorrido um determinado período de tempo que as partes tenham
acordado. É ainda comum, em particular em alguns empréstimos, com enfase nos
empréstimos para habitação, que as prestações de capital sejam repartidas e que se fixe
um valor a ser pago mensalmente, que é composto em proporções diversas à medida que
elas vão sendo satisfeitas, por capital e juros. São prestações compósitas (aspeto que
trataremos mais adiante).
1. ABERTURA DE CRÉDITO
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
No que toca à sua finalidade, a abertura de crédito pode ser simples ou de escopo.
Quanto à forma, a abertura de crédito em si, sendo um contrato atípico legalmente, não
está sujeita a forma, a não ser que a lei o imponha. Estamos perante uma figura
socialmente típica e que, portanto, dentro de certas balizas, é livremente conformada pelas
partes. Isso significa que ela pode ter uma estrutura jurídica diferente, no que diz respeito
à forma de utilização do capital. Assim, um dos aspetos mais debatidos nesta figura
consiste precisamente na sua estrutura. Há duas estruturas que o contrato de abertura de
crédito pode assumir:
● Estrutura unitária: recorre-se a um único contrato do qual decorre um direito
potestativo de utilização do crédito nos termos aí definidos;
● Estrutura plural: celebra-se um contrato inicial seguido de posteriores contratos,
que podem ter natureza diversa entre si, e pelos quais se faria a mobilização do
crédito. Por exemplo, a abertura de crédito pode vir a fazer-se mediante sucessivos
contratos de mútuo.
Pode usar-se a abertura de crédito simplesmente por ser a possibilidade que o banco tem
de conceder ao cliente a possibilidade de decidir por ato unilateral usar essa quantia.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Suponhamos que a abertura de crédito é objeto de uma conta própria e que o beneficiário
pode determinar por ato próprio a transferência desses valores para outra conta. Aqui a
forma de execução da abertura de crédito é através dessas ordens de transferência que o
beneficiário vai dando ao banco.
É ainda possível que o banco permita a mobilização da conta para valores negativos. Ou
seja, não tendo a conta saldo, o banco não paga. Mas o banco pode permitir mobilizar a
conta ainda que com saldo negativo até determinados valores.
Quanto ao tempo, abertura de crédito pode ser realizada a prazo/termo certo, geralmente
curto, automaticamente renovável por igual período de tempo. É também possível que a
abertura de crédito seja celebrada por tempo indeterminado, mas será menos comum.
Neste caso, qualquer das partes pode fazer cessar o contrato por denúncia sem ter de o
justificar; porém, tem de haver sempre lugar a um pré-aviso. O banco não tem obrigação
de renovar a abertura de crédito. Pode ter, no entanto, o dever decorrente da boa fé de,
caso o contrato já se tenha vindo a renovar sucessivamente por um largo período de tempo
e se banco quiser deixar de o renovar no futuro, avisar previamente o cliente (num prazo
adequado) que irá deixar de renovar o contrato no futuro.
Utilização da quantia
A abertura de crédito, sendo um negócio atípico, permite que haja uma configuração
diversa para a utilização da quantia.
a) Em estrutura plural
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
b) Em estrutura unitária
Sempre que for adotada esta estrutura, não são concluídos contratos subsequentes de
mobilização do crédito. A contraparte do banco é titular de um direito potestativo cujo
exercício gera a obrigação de entrega da quantia por parte do banco, sendo possível, na
eventualidade de o banco não cumprir, o recurso a uma ação de cumprimento.
É de referir que a abertura de crédito pode assumir a forma de descoberto. Nestes casos,
o banco permite a mobilização da conta a saldos negativos até um determinado montante.
Esta possibilidade pode estar logo prevista no contrato de abertura de crédito e nessa
medida é um contrato de abertura de crédito. Coisa diferente é o que sucede muitas vezes
na prática bancária: o chamado descoberto tolerado. Ou seja, o banco permite que um
seu cliente vá mobilizando a conta mesmo quando ela não tenha saldo positivo. Isso não
será uma abertura de crédito, mas antes uma tolerância por parte do banco. Portanto, o
cliente não tem direito a exigir que isso seja feito no futuro. Porém, se este comportamento
for permitido pelo banco ao longo do tempo, há um dever de boa fé por parte deste de
avisar o cliente de que deixará de lhe conceder essa facilidade, sob pena de o banco
incorrer na violação do princípio da boa fé (art.º 762/2). Notamos que, embora não haja
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
um contrato de abertura de crédito, as partes não deixam de estar ligadas pelo contrato-
quadro de abertura de conta, da qual emerge a relação bancária que as une. Neste seio,
como foi observado, pontificam, com especial intensidade, os deveres de boa fé.
2. CONTRATO DE DESCONTO
Após a celebração do contrato de desconto, é o banco que irá cobrar junto do comprador
essa quantia. E das duas umas:
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
de desconto no valor de 10 000 €. O valor dos juros são 200 € e o valor das taxas
são 300 €. O valor que o banco vai entregar ao cliente será 10 000 – (200+300) =
9 500 €. Ora, no caso de o devedor depois não cumprir, o banco vai reendossar o
título ao comerciante e exigir-lhe 10 000 € de volta (e não apenas 9.500 €).
Portanto, o risco de incumprimento corre sempre por conta do comerciante,
e não por conta do banco.
Neste caso, aplica-se o regime da LULL. Temos, neste caso, não só a relação base,
mas também o negócio cambiário, o endosso. Se, depois de o banco ter
apresentado a letra a pagamento na data do seu vencimento, o devedor (aceitante
– letra –, ou subscritor – livrança) não cumprir, a instituição de crédito exigirá o
pagamento ao descontário (endossante).
Ambos os contratos têm por função o financiamento de curto prazo e operam com
transmissão de um crédito para que o creditante cobre a um terceiro e se satisfaça pelo
valor obtido, o que extingue a obrigação de restituição e o dever de pagar juros (e outras
despesas). Todavia, o título social do desconto opera com título de crédito, sujeito a um
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
regime específico, mas o factoring tem por objeto créditos ordinários. Apesar disso, a
verdade é que, ainda assim, embora de forma pouco frequente, o desconto pode operar
com créditos ordinários e, nesse ponto, há uma maior aproximação deste contrato ao
factoring.
O adquirente deverá exigir o pagamento ao devedor. Caso este pague, restitui-se dessa
forma a quantia emprestada e os juros, através do pagamento do terceiro. Se ele não pagar,
terá de ser o descontário a satisfazer a obrigação de restituição do capital e dos juros ao
banco. Daí a exigência do valor nominal do crédito, porque essa foi a quantia emprestada.
[1] De acordo com Fernando Olavo, são duas as comissões em causa: a comissão de desconto (considerada, por uns,
como remuneração pelos serviços prestados e, por outros, como compensação dos riscos corridos) e a comissão de
cobrança.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Este contrato é típico (desde 1978), tendo nascido nos EUA em inícios do séc.
XX (leasing). Neste caso específico, o que temos é financial leasing (distinguindo-se do
mero leasing, de “arrendar”). O legislador quis consagrar um regime jurídico que
conferisse segurança aos operadores económicos para celebrarem este contrato.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Temos o locador financeiro (sujeito que pode exercer a título profissional: art.
8º nº2 RGIC), só podendo exercer estes direitos as instituições financeiras de crédito e as
sociedades de locação (em certos casos, também, as sociedades de crédito agrícolas): art.
4º RGIC.
Prazos
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
negócio não pode ter uma duração superior a 30 anos. Não tendo sido fixado prazo (o que
é raro), os prazos supletivos são de 18 meses (móveis) e de 7 anos (imóveis).
Modalidades
Não há transferência do bem ao vendedor para esse efeito; na locação financeira, ele tanto
pode adquirir como não. Por fim, a venda a prestações pode ser aplicada pelo comerciante.
Este negócio é diferente do que sucede no ALD: contrato misto composto por elementos
de locação, mais uma promessa de CV.
FACTORING
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
o pagamento do preço (um crédito comercial); o valor não é exigido a pronto, exigindo-
se nos 30, 60 ou 90 dias seguintes.
Muitas vezes, o que fazem é transferir essa cobrança de créditos para outra
entidade. O factoring visa, de forma distinta e controlada, satisfazer essas funções, em
termos financeiros e de garantias, de que as empresas carecem por causa do crédito
comercial. Ora, o que uma tem quando vende é um crédito pecuniário: o núcleo do
factoring é a cessão desse crédito de curto prazo a um ente financeiro (uma instituição de
crédito ou uma sociedade de factoring).
O factoring pode, assim, definir-se como um contrato pelo qual uma entidade
(em regra, um comerciante, vendedor ou prestador de serviços) cede ou se obriga a ceder
a uma outra entidade (o factor) os créditos de que venha a ser titular sobre um conjunto
de devedores definidos no contrato por um determinado período de tempo, obrigando-se
a cobrar esses créditos e podendo conceder um adiantamento sobre o valor nominal do
crédito; e podendo, também, eventualmente, garantir o cumprimento de um ou mais dos
devedores cedidos. Pela cobrança, o factor tem direito a uma comissão, tem direito a
financiamento a juros; e, pela prestação da garantia, a uma comissão de garantia
também.[1]
Ex. A vende a B mercadoria por mil euros, com prazo de pagamento de 60 dias.
A cederá esse crédito ao factor, C, que o irá cobrar ao devedor decorridos esses 60 dias.
O factor poderá antecipar parte do valor desse crédito (em regra, 80%); e poderá ou não
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Depois, o factorizado pega na cópia da fatura e envia ao factor, que vai aceitá-
la, procedendo-se deste modo à transmissão do crédito (no primeiro modelo, já que no
segundo não é necessário este contrato, dado que há transmissão automática). Aquando
do envio da cópia da fatura, o factorizado solicitará ao factor a concessão de um
adiantamento (em regra, sobre 80% do valor nominal do crédito) e/ou a prestação da
garantia do cumprimento do devedor cedido. O factor poderá estar, ou não, obrigado a
conceder o adiantamento e/ou a conceder a garantia, de acordo com o que estiver previsto
no contrato de factoring em si.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
O regime da transmissão de créditos decorre do art. 577º CC. O devedor não tem
de consentir na cessão, sendo esta livre (ao contrário do que sucede, p ex., da cessão da
posição contratual, em que é necessário o consentimento do outro contraente (art. 424º).
Para quadro se transmitir é sempre necessário um negócio, artigo 578º que tenha
por efeito a transmissão desse crédito, que é um bem na esfera do credor.
Por acordo das partes pode ser feita a separação, mas supletivamente
transmitem.se , só não se transmite os acessórios inseparáveis da pessoa do credor.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
A cessão é livre, mas o devedor tem de ter conhecimento da cessão e por isso a
cessão não produz efeitos face ao devedor (583º/1) antes de ele ter sido notificado ou
antes que ele aceite a cessão. A notificação pode ser extrajudicial, mera comunicação.
Se o crédito for cedido mais do que uma vez, for duplamente cedido(há uma
dupla cessão) há uma cessão que tem de prevalecer , não sendo a primeira realizada, mas
a que foi em primeiro lugar notificada ou aquela que em primeiro lugar tiver sido aceite
(584º)
Se este crédito é cedido ao factor, que adquire o direito, passa ele a ter outro
credor. Mas a posição contratual mantém-se entre cedente e devedor cedido. Há um
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
elemento da posição contratual que passa ao terceiro, sim (o crédito). Mas a posição
contratual, essa mantém-se entre o cedente e o devedor cedido.
Se este contra crédito (adquirido dia 10 de junho) tem vencimento apenas no dia
30 do mesmo mês, ele pode compensar! (O relevante não é a data de vencimento do
contra-crédito, mas da sua constituição.)
Meios de defesa
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Também a exceção de não cumprimento do contrato (art. 428º CC). Ex. A vende
a B uma mercadoria, transmitindo o crédito. A notificação é feita de imediato ao devedor
cedido; a mercadoria não é entregue (ou é entregue com defeito) – o devedor cedido, nos
termos gerais, poderia recorrer à exceção de não cumprimento. Mas ele foi notificado
imediatamente com a cessão, numa altura em que ele não podia ainda recorrer à exceção
de não cumprimento do contrato (não tinha fundamento).
Ele pode, mais tarde, vir a recorrer a ela? Aparentemente, por força do art. 585º
CC, não poderia. O professor defende (numa posição acolhida pelo STJ) que este meio
de defesa radica no sinalagma; se assim é, o devedor cedido não pode ficar privado dele,
qualquer que seja a data em que tenha conhecimento do contrato. Este é um mecanismo
fulcral do caráter sinalagmático do contrato.
Vamos analisar agora o disposto no art. 577º nº1 CC e no art. 587º CC. O
primeiro é a garantia da existência e da exigibilidade do crédito; a segunda é a garantia
da solvência do devedor cedido. As duas primeiras são automáticas; a segunda (garantia
da solvência do devedor cedido) exige que tenha sido expressamente prestada.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Diferente é a questão de o devedor cedido não estar solvente, não tendo meios
pecuniários para cumprir. Isso, o cedente não garante, a não ser que se tenha obrigado a
isso. Se o devedor cedido se tornar insolvente, ele tem de entregar o valor do crédito ao
cessionário – porque garantiu a solvência.
No factoring, há uma particularidade: se o factor prestar a sua garantia, surge uma figura
atípica, porque é o cessionário que vai garantir ao cedente que o devedor cedido vai pagar.
No art. 587º/2, é o cedente que garante ao cessionário que o devedor é solvente; no
factoring, é o cessionário que garante ao cedente (factorizado) que o devedor cedido vai
pagar.
Uma parte do efeito do negócio é a transmissão do crédito (art. 577º e ss.). Mas
há mais conteúdo, a que se aplica articuladamente o regime do negócio respetivo (numa
CV, os art. 874º e ss.).
O crédito cedido pode sê-lo com recurso a __. Quando assim é, esse negócio de
segundo grau é um contrato misto, com elementos de mútuo (no que diz respeito ao
adiantamento) mas também de mandato para cobrança (é o factor que vai cobrar o crédito,
praticando um ato jurídico por conta de outro sujeito). Mas é um mandato sem
representação que consubstancia uma dação em função do pagamento.
O factor vai fazer a cobrança do crédito. Se o devedor cedido pagar isso vai levar
à extinção do crédito à restituição do adiantamento que o factor tem face ao cedente. O
factor vai obter satisfação do crédito cobrando ao devedor cedido: se o devedor cedido
lhe pagar, ele recebe essa quantia, e satisfaz-se. Ex. A celebra um contrato de CV com B,
adquirindo um crédito no valor de mil euros, pagos com vencimento equivalente a 3
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Se o facto garantir o pagamento do devedor, ele está a prestar uma garantia ao factorizado,
especialmente importante no âmbito do comércio internacional. Ele cede o crédito ao
factor sem recurso, pelo que este presta uma garantia – uma fiança atípica, na medida em
que o factor vai afiançar ao factorizado a dívida.
INSOLVÊNCIA
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
O nosso regime da insolvência decorre hoje do CIRE. Este CIRE é recente (2005) e
introduziu um conjunto de alterações muito relevantes no direito insolvencial português.
Falência vs Insolvência
Antes, a falência valia apenas para os comerciantes e a insolvência valia apenas para os
não comerciantes.
passivo superior ao ativo. Era este desequilíbrio patrimonial que gerava uma situação
de insolvência.
Esta distinção veio a ser eliminada no CIRE, sendo que já tinha sido eliminada no
CPEREF (1995).
A falência foi substituída pela insolvência que deixou de se aplicar só aos comerciantes,
passando a ter uma aplicação universal (tanto a comerciantes como a não comerciantes).
Noção de Insolvência
Agora, a atual noção de insolvência coincide com a anterior noção de falência. De facto,
nos termos do art.º 3/1 CIRE, o devedor está insolvente quando esteja impossibilitado de
cumprir as obrigações vencidas. No fundo, o que o CIRE fez foi aplicar a falência também
aos não comerciantes, mas deu-lhe o nome de insolvência.
Em termos de DUE a noção de falência está a ser substituída pela noção de insolvência.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
O importante aqui não é o património do sujeito, mas sim que ele tenha liquidez para
pagar. Assim: Existem dois critérios para a declaração da insolvência de pessoas coletivas
e singulares:
Segundo este critério, considerar-se-á insolvente uma entidade na medida em que esta
seja incapaz de, a cada momento, cumprir com as obrigações que se vão vencendo. Este
é o critério que vem previsto no art.º 3/1 CIRE.
O grande problema da insolvência das empresas prende-se com o facto de elas deixarem
dívidas superiores ao seu ativo. Se uma empresa tem um crédito de 1 milhão € e uma
dívida de 500 €, segundo este critério, a empresa estará insolvente. Ora, esta diferença de
ativo e passivo não tem grande impacto no mercado (são apenas 500 €). Como tal, foi
sendo proposto outro critério: o critério do balanço.
b) Critério do balanço
De acordo com este critério, uma certa entidade estará insolvente quando o seu passivo
for superior ao seu ativo.
Também este critério está sujeito a algumas críticas. É que o que interessa não é o
património do sujeito em si, mas sim a sua liquidez. Deste modo:
→ O sujeito pode ter um ativo superior ao passivo e, ainda assim, não conseguir
cumprir as suas obrigações. Para isso acontecer, basta que os bens do ativo sejam
ilíquidos e, portanto, difíceis de colocar rapidamente no mercado. Pensemos, por
exemplo, numa quinta.
→ O sujeito pode ter um passivo superior ao ativo e, ainda assim, conseguir cumprir
as suas obrigações, ou seja, ter liquidez. O sujeito pode, por exemplo, conseguir crédito
bancário ou financiamento dos sócios.
Para além disso, este critério pode ser relativamente instável. É que é muito possível que
uma empresa, num certo momento, esteja solvente e se, por exemplo, o seu ativo for em
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
ações, uma pequena desvalorização das mesmas faça com que de repente esteja insolvente
(e vice-versa).
O legislador, então, no art.º 3/1 CIRE previu o critério do fluxo de caixa (critério geral)
e no art.º 3/2 CIRE veio prever o critério do balanço para as pessoas coletivas e para
alguns patrimónios autónomos.
Para evitar algumas das críticas que se fazem a estes critérios, o legislador criou algumas
regras para o seu aperfeiçoamento.
→ Já não se exige que o ativo seja inferior ao passivo, mas sim que o ativo seja
manifestamente inferior ao passivo – art.º 3/2 CIRE. Porém, este critério não é muito
seguro: o que é que se entende por manifestamente inferior? 10%? 20%?
→ O art.º 3/3 CIRE tem um conjunto de outras correções que foram sendo feitas:
a): os valores previstos na contabilidade da empresa que levavam à
determinação do ativo e do passivo devem ser corrigidos de acordo com o
seu justo valor. Isto porque os valores ativos e passivos de uma empresa
podem estar previstos na sua contabilidade, por exemplo, através de
valores históricos (valores de aquisição do bem que pode já não ser o valor
atual do bem). Por outro lado, há elementos ativos que não constam do
balanço e que devem, ainda assim, ser contabilizados.
b): a consideração dos ativos e dos passivos de uma empresa é normalmente
cega à consideração de um conjunto de valores que não são
contabilisticamente mesuráveis. Por exemplo, o valor de uma marca, o
valor da relação da empresa com os seus clientes.
c): há dívidas no passivo que não devem ser tidas em conta para efeitos da
insolvência de uma empresa. Falamos, sobretudo, dos créditos por
suprimentos.
Quem é que pode ser declarado insolvente? Qualquer entidade prevista no art.º 2/1
CIRE.15/12/2021
Estão excluídas, porém, deste âmbito, as entidades elencadas no art.º 2/2 CIRE:
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
sociedades financeiras. São excluídas porque têm regimes próprios. Portanto, na parte
em que estes regimes afastem o regime geral da insolvência, este não se aplica.
Podemos colocar a seguinte questão: como é que sabemos em que dia é que o devedor
tomou conhecimento da insolvência? O art.º 18 CIRE vem prever uma série de
presunções, um conjunto de factos que, quando verificados, são suficientes para presumir
que o devedor tinha conhecimento da insolvência.
Perante esta obrigação, o devedor pode, porém, não se apresentar à insolvência. Quid
iuris? Esta não apresentação à insolvência terá uma série de consequências:
→ Nos termos do art.º 186, a não apresentação à insolvência faz com que a insolvência
se considere culposa. Nos termos do art.º 189, caso uma insolvência se considere
culposa, o tribunal poderá, por exemplo, decretar que as pessoas responsáveis pela
insolvência deixem de poder administrar patrimónios ou pertencer a órgãos sociais por
um período de 2 a 10 anos. Mais: os responsáveis pela insolvência podem perder os
créditos a que teriam direito sobre a entidade insolvente. Para além disso, podem ainda
ficar responsáveis pelo pagamento das dívidas da sociedade relativamente a terceiros.
→ Nos termos do art.º 227 CP, estaremos perante um crime.
Para haver lugar a tal requerimento, a lei estabelece algumas limitações. Um credor só
poderá requerer a insolvência se se verificarem um conjunto de factos índice previstos no
art.º 20 CIRE. Ou seja, o credor não vai ter de demonstrar que o devedor está insolvente:
ele tem de demonstrar pelo pelos um dos factos previstos na norma.
O devedor poderá opor-se à declaração de insolvência, mas terá o ónus de provar a sua
solvência ou a inexistência do fator-índice – art.º 30/3 CIRE.
Nos termos do art.º 22 CIRE, o pedido infundado de declaração de insolvência poderá dar
lugar à responsabilidade civil.
61
APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
O que é que acontece se o devedor praticar atos relativos a bens integrantes da massa? Os
negócios são válidos e eficazes; todavia, há uma restrição a esta eficácia. Esses atos não
produzem efeitos relativamente à massa insolvencial – ineficácia relativa. Não há
qualquer efeito transmissivo do bem integrado na massa. Se o devedor, por exemplo,
vender um bem integrado na massa, esse contrato produz efeitos, constituindo-se, por
exemplo, o crédito ao preço. O que sucede é que o bem, porque está integrado na massa,
não é transmitido para o comprador.
Em segundo lugar, nos termos do art.º 36 CIRE, haverá lugar à apreensão dos bens do
devedor para que estes sejam controlados pelo administrador de insolvência.
Caso haja indícios da prática de um crime, pode haver lugar à remissão para o MP dos
factos que se consideram como preenchendo o tipo legal de crime.
A massa insolvente é composta pelos bens penhoráveis do devedor e outros que ele venha
a adquirir no decurso do processo. Estes bens formam um património autónomo – a
62
APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Quando é que se decide o recurso a uma ou outra das vias? É, na prática, quase sempre
aquando da realização dessa assembleia. Isto porque o administrador da insolvência tem
de fazer um relatório que apresenta nessa assembleia relativo à perspetiva de recuperação
do devedor ou da empresa integrada na massa. Com base neste relatório, esta assembleia
de credores pode determinar que o administrador faça essa proposta de recuperação ou
então podem outros credores fazê-lo ou o próprio devedor. Depois haverá, no fim da linha,
uma assembleia de credores com vista à aprovação do plano.
63
APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
nesta assembleia for decidido não elaborar um plano de recuperação, o administrador terá
de proceder com prontidão à alienação dos bens incorporados na massa. Nesta fase, já é
quase impossível a recuperação da empresa porque os bens começam a ser alienados.
Por fim, todos os créditos e todas as dívidas da sociedade insolvente vencem-se com a
declaração da insolvência.
As dívidas da massa vêm previstas no art.º 51 CIRE. São as dívidas que resultam do
próprio decurso do processo de insolvência.
As dívidas da massa não estão sujeitas a reclamação dos credores, porque elas decorrem
do próprio processo de insolvência, o que significa que o administrador da insolvência já
tem conhecimento delas.
Para além disso, é ainda possível em algumas situações, caso estas dívidas não sejam
pagas, responsabilizar o próprio administrador da insolvência. Quando ele, por exemplo,
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
determina que um certo contrato vai continuar a ser executado, sabe que se no final não
tiver dinheiro para pagar esses créditos, ele próprio poderá ser responsabilizado por eles.
Os créditos são garantidos quando o seu cumprimento está garantido por uma garantia
real ou por um privilégio especial.
Estes créditos são compostos tanto pelo capital em si como pelos juros decorrentes do
não cumprimento desses créditos.
Não são créditos garantidos aqueles que possuam uma garantia pessoal.
Os créditos garantidos são os segundos a serem pagos, logo depois das dívidas da massa.
Se a garantia real não for bastante para cumprir a totalidade do crédito, o que restar deste
crédito será considerado como crédito comum. Por exemplo, se há um crédito no valor
de 100 e a garantia real for 80, há 20 que não estão cobertos pela garantia. Estes 20 irão
passar para os créditos comuns.
O exemplo mais importante destes créditos é o dos créditos resultantes do não pagamento
dos honorários aos trabalhadores – art.º 333 CT.
Créditos comuns
Os créditos comuns não tem nenhuma garantia nem nenhum privilégio associado, mas
também não existe nenhum facto que permita classificá-los como créditos subordinados.
O pagamento destes créditos é feito depois de terem sido pagos os créditos sobre a massa
insolvente, os créditos garantidos e os créditos privilegiados. Suponhamos que há 2
créditos sobre a insolvência: um no valor de 700 e outro no valor de 300. Suponhamos
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
que os bens integrados na massa valem 100. Significa que 1 será satisfeito em 70 e outro
em 30.
Esses créditos têm uma situação de desprivilegio face aos demais créditos. Os créditos
subordinados não atribuem a possibilidade de os seus credores votarem na assembleia de
credores. Para além disso, os credores subordinados não podem compensar os créditos
através de dívidas que tenham.
Dentro dos credores subordinados, eles não são todos tratados igualmente. Antes, são
pagos pela ordem prevista no art.º 48 CIRE. Notemos que no fim desta hierarquia estão
os créditos por suprimento.
insolvente, desde que essa declaração existisse à data da aquisição do crédito. Neste
→ Créditos que resultem a título gratuito, ou seja, créditos que não tenham
Como há esta hierarquia muito extensa de credores, a graduação dos créditos é muito
importante. A situação do credor aqui é substancialmente diferente consoante a
qualificação do seu crédito.
A lei contempla ainda um regime para os chamados negócios em curso. Regulam-se aqui
os efeitos que a insolvência terá sobre os negócios que estão a ser executados ainda no
momento da declaração.
66
APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
A ideia geral prevista no art.º 102 CIRE é a de que, à partida, com a declaração de
insolvência, caberá ao administrador da insolvência decidir quais dos negócios em curso
vão ser executados e quais não vão ser mais executados. O objetivo desta norma é permitir
que o administrador da insolvência determine quais os contratos essenciais à obtenção do
máximo de crédito possível para distribuir pelos credores.
a) Executar o contrato
b) Resolver o contrato
Nos artigos seguintes, a lei prevê um regime específico para determinados contratos
(elenco bastante amplo). Por exemplo, a compra e venda, a locação financeira, a revenda
com reserva de propriedade, a locação, o mandato.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
responsabilidade dos comerciantes e dos seus cônjuges. Isto resulta do art.º 15 CCom
conjugado com o art.º 1691/1/b) CC (fazer a remissão).
O regime da firma vem no regime do registo nacional de pessoas coletiva (RRNPC) que
foi aprovado pelo DL 199/98, essencialmente nos art.º 32 e ss.
Qual a diferença entre firma e denominação? Neste momento ninguém sabe bem.
Tradicionalmente, falava-se em firma quando ela era constituída pelo nome das pessoas;
e em denominação quando estavam em causa expressões que indicavam essencialmente
o objeto social da atividade do comerciante. A verdade é que, atualmente, essa distinção
perdeu clarividência na medida em que o RRNPC utiliza normalmente o termo «firma»
para se referir a todos os nomes comerciais dos comerciantes, contenham ou não estes
expressões que não o nome. Ou seja, usa-se «firma» quer para as firmas quer para as
denominações dos comerciantes; e usa-se a expressão «denominação» para os não
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
comerciantes. Mas a verdade é que isto não é rigoroso, pois às vezes o legislador usa os
dois termos indefinidamente. Normalmente, a lei refere-se mais a «firma».
Os comerciantes em nome individual estão a voltar em força por razões fiscais. Isto
acontece muito ao nível das start-ups. Outra coisa que voltou em força foram as
cooperativas, também ao nível das start-ups.
A matéria das firmas das sociedades em nome coletivo vem no art.º 177/1 CSC. A firma
deve ser composta:
Apesar de o art.º 177 CSC não o dizer, nada impede a firma das sociedades em nome
coletivo de ter uma expressão alusiva ao objeto comercial por analogia com o art.º 38 do
RRNPC; assim como siglas, iniciais, expressões de fantasia ou composições por analogia
com o art.º 42 do RRNPC.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Quanto às sociedades por quotas temos o art.º 200/1 CCom. A firma deve ser formada
com ou sem sigla:
Quanto às sociedades anónimas, temos o art.º 275/1 CSC. A firma é igual à das
sociedades por quotas, ou seja, deve ser formada com ou sem sigla:
Quanto às sociedades em comandita temos o art.º 467 CSC. Deve ser composta pelo nome
completo ou abreviado ou firma de algum, alguns ou de todos os sócios comanditados e:
Nestas firmas é possível que constem o nome ou firma de sócios comanditários e de não
sócios se consentirem expressamente, mas ficam sujeitos às consequências do art.º 467/3
e 4 do CSC. Quanto aos nomes de fantasia, aplicamos o art.º 42 RRNPC por analogia
também.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
No caso das sociedades comerciais – todo o território nacional – art.º 37/2 RRNPC.
71
APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Têm alguns autores defendido não valer este princípio em relação a comerciantes não
concorrentes. Na verdade, dizem, o risco de confusão entre firmas/denominações em
casos tais é inexistente ou quase. Confortando este entendimento estaria também o art.º
33/2 RRNPC ao referir expressamente a «afinidade ou proximidade das suas atividades».
Para outros autores, como Coutinho de Abreu, porém, tal princípio vale também para
comerciantes não concorrentes. Entendem que a lei não faz essa distinção, e, portanto,
não cabe ao intérprete fazê-lo. Não obstante, o critério da concorrência é um critério que
deve ser ponderado na confundibilidade. Ou seja, não é um critério de exclusão da
inconfundibilidade, mas sim um critério de ponderação dessa inconfundibilidade.
Art.º 33/3 RRNPC e art.º 10/4 CSC – Princípio da capacidade distintiva: O problema
da capacidade distintiva não se coloca nas firmas de nome, mas sim nas firmas de
denominação ou firmas-mistas, sobretudo que tenham elementos de fantasia. Por
exemplo, uma firma que contenha apenas referência à atividade do comerciante não tem
capacidade distintiva (por exemplo, «sociedade de seguros SA»). O que temos de fazer
para contornar essa violação é acrescentar elementos de nome ou de fantasia para conferir
essa indistintibilidade. Isto resulta do art.º 33/3 RRNPC e art.º 10/4 CSC.
Art.º 38/1 RRNPC e art.º 9/1/c) CSC – Princípio da unidade: Este é o princípio que mais
divide a doutrina. Ele não existe, por exemplo, no direito alemão. Entre nós, Ferrer
Correia defendia que os comerciantes podiam ter tantas firmas quantas as empresas que
tivesse.
À luz do direito português, o comerciante apenas pode adotar uma firma – art.º 38/1
RRNPC e art.º 9/1/c) CSC. Isto com uma exceção: o comerciante em nome individual
que tenha uma atividade dentro de um EIRL e uma atividade fora de um EIRL, pode ter
duas firmas – art.º 40/1 RRNPC.
Nos termos do art.º 44/1 e 3 RRNPC, o comerciante que adquirir a firma de outro, poderá
adquirir as firmas associadas à empresa que adquiriu. Isto significa, portanto, que as
firmas são transmissíveis. O comerciante que compra essa empresa com outra firma terá
de lhe aditar a sua firma.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Princípio da licitude: As firmas não podem conter certas expressões – art.º 32/4 RRNPC.
Diz o Dr. Coutinho de Abreu que as firmas são coisas incorpóreas, sendo que são
transmissíveis em certos contextos, nomeadamente aquando da transmissão do
estabelecimento comercial em que se inserem. A ligação da firma à empresa é inevitável.
O modo como a escrituração mercantil está organizada sofreu uma alteração muito grande
com o DL 76-A/2006. Atualmente, o comerciante pode escolher o modo de organização
da sua escrituração mercantil, bem como o suporte físico – art.º 30 CCom. No entanto, as
sociedades comerciais continuam obrigadas a ter livros de atas – art.º 31 CCom. É preciso
ter em atenção que esta obrigação de ter livro de atas não é só das sociedades comerciais:
tende a alargar-se a todas as entendidas coletivas.
Esta matéria tem relevância fiscal e está também regulada na lei fiscal.
Vem prevista no art.º 62 CCom. Os comerciantes são obrigados a dar balanço anual ao
seu ativo e passivo, nos primeiros três meses do ano relativamente ao ano anterior. Ou
seja, em entre janeiro e março de 2022 eu terei de dar o balanço das contas de 2021.
73
APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
A escrituração mercantil deve ser guardada durante o prazo de 10 anos, bem como a
correspondência emitida e recebida – art.º 40 CCom. Quanto aos livros de escrituração, o
prazo conta-se a partir da data do último assento ou do último lançamento. No entanto,
sendo uma sociedade comercial e havendo liquidação da sociedade comercial, o prazo
passa a ser de 5 anos que se contam da data da deliberação que aprova o relatório e contas
finais dos liquidatários e designa o depositário dos livros e demais documentos de
escrituração. Isto decorre do art.º 157/4 CSC.
Os factos sujeitos a registo obrigatório estão no art.º 15 CRCom assim como noutros
diplomas legais.
O registo tem caráter público, pelo que qualquer pessoa pode pedir certidões dos atos de
registo e dos documentos arquivados, assim como obter declarações verbais ou escritas
sobre o conteúdo dos atos registados – art.º 73/1 CRCom.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Há atos de registo que são obrigatoriamente publicados. Nos termos do art.º 70/2 CRCom,
essas publicações devem ser feitas num site de acesso público.
Há casos excecionais em que o registo é constitutivo. Neste caso, eles são inoponíveis a
qualquer pessoa enquanto não forem registados.
Este regime é diferente do regime das dívidas comuns dos cônjuges porque aqui há duas
presunções:
● art.º 1691/1/d) CC
● art.º 15 CCom
Ora, decorre do art.º 1691/1/d) CC e do art.º 342/1 CC que os credores que pretendam
valer-se do regime nela previsto têm de provar terem as dívidas sido contraídas «no
75
APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
exercício do comércio». Mas não tem de ser assim quando um comerciante a contraí-las.
Reforçando a tutela dos credores dos comerciantes, o art.º 15 CCom presume que as
dívidas do cônjuge comerciante são contraídas no exercício do seu comércio. Ou seja,
para beneficiarem desta presunção, credores têm apenas de provar que o sujeito
contraente das dívidas é comerciante e que as dívidas são comerciais – resultantes de atos
de comércio, objetivos ou subjetivos, ou de obrigação comerciais não derivadas de atos
mercantis. Ora, em geral, é mais fácil provar que um ato é comercial do que provar que
esse ato foi praticado no exercício do comércio do seu autor.
O que é que não tem de provar? Não tem de provar que esse ato de comércio é um ato
comercial do comerciante porque isso resulta da presunção do art.º 15 CCom.
Ora, tanto a presunção do art.º 1691/1/d) CC como a presunção do art.º 15 CCom são
ilidíveis, sendo que essa ilação cabe aos cônjuges. Porém, não podemos deixar de referir
que a presunção de proveito comum do casal é de muito difícil afastamento, uma vez que
não se exige a prova do resultado efetivo. O que está em causa nem proveito comum é o
fim a que a dívida presidiu. A grande questão é que este proveito comum não tem de ser
necessariamente económico: pode ser moral, intelectual (por exemplo, a escola do filho,
uma viagem de férias, obras na casa de família, uma festa – tudo isto é considerado
proveito comum do casal).
EMPRESAS
76
APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Portanto, a sobreposição entre os dois fenómenos não é total. Quando falamos em direito
comercial e nas suas especificidades, o que a realidade económica retrata é a exigência
da atividade empresarial. O que está subjacente em termos de realidade económica e de
realidade social é esta especificidade da atividade empresarial.
Art.º 3 da Lei de Defesa da Concorrência – para este artigo a empresa é «qualquer entidade
que exerça uma atividade económica que consista na oferta de bens ou serviços num
determinado mercado, independentemente do seu estatuto jurídico e do modo de
funcionamento» - exemplo da aceção subjetiva da empresa.
Art.º 5 do CIRE – este artigo determina que «para efeitos deste código, considera-se
empresa toda a organização de capital e de trabalho destinada ao exercício de qualquer
atividade económica» - exemplo da aceção objetiva da empresa.
Em termos de nomenclatura, uma das principais questões que se coloca é saber se empresa
e estabelecimento comercial são sinónimos. Durante muito tempo a resposta foi
afirmativa. No entanto, crescentemente a doutrina, sobretudo a Escola de Lisboa, tem
defendido a distinção entre a empresa e o estabelecimento comercial. Como?
Uma coisa é certa: não se usa o termo «estabelecimento comercial» para identificar a
empresa em sentido subjetivo. Mas o contrário acontece muito: usar o termo empresa
quer para a empresa em sentido objetivo quer para o sentido subjetivo. Isto acontece muito
na legislação. Portanto, isto significa que podemos fazer esta distinção tendencial, mas
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
não podemos fazer esta distinção em termos normativos. Neste momento, deveremos
acautelar a possibilidade de, perante uma certa norma, os termos serem usados como
sinónimos e, portanto, ter de se tirar do contexto o seu significado.
Numa aceção subjetiva, olhamos as empresas como sujeitos jurídicos que exercem uma
atividade económica. As empresas em sentido subjetivo evidenciam-se principalmente no
direito (de defesa) da concorrência.
Estes sujeitos jurídicos, para serem considerados empresas, têm de exercer uma atividade
económica – implicante de troca de bens e/ou serviços. Todavia, tal atividade não tem
necessariamente de ser dirigida à obtenção de lucros. Por outro lado, tal atividade também
não tem de ser suportada por uma organização de trabalho dependente de outros fatores
produtivos (não se exige uma organização de meios autonomizável face ao sujeito): a
atividade pode depender tão-só da pessoa do sujeito. Nessa medida, é possível serem
considerados empresas inventores que comercializem as respetivas invenções, artistas
que explorem comercialmente as suas prestações artísticas, profissionais liberais.
a) Consumidores privados
b) Estado e outros entes públicos que adquirem bens para satisfação de necessidades
próprias sem intenção de os reintroduzir no mercado
c) Estado e outros entes públicos que atuem somente no exercício de prerrogativas
de autoridade de poder público
d) Trabalhadores dependentes
e) Entidades que exercem atividades exclusivamente sociais baseadas no princípio
da solidariedade sem fins lucrativos recebendo os beneficiários prestações
gratuitas ou mediante contraprestações não proporcionais aos custos daquela
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Tendo em mente a alínea e), as universidades públicas não são empresas para efeitos de
direito da concorrência. Isto porque há uma total desproporção entre aquilo que os
estudantes implicam a nível de custos para o estado e aquilo que os estudantes pagam
para poder frequentar a universidade (a propina). O mesmo sucede com os hospitais
públicos. Se estas entidades fossem consideradas empresas no âmbito do direito da
concorrência, provocariam distorções inaceitáveis no mercado.
As empresas do setor privado podem ser entidades coletivas com ou sem personalidade
jurídica. As mais comuns serão sociedades comerciais, mas poderão ser ACEs, AEIE, e
podem também ser associações e fundações. Podem também ser pessoas singulares:
comerciantes, artesãos, cientistas, agricultores, profissionais liberais. Daqui resulta logo
que existem empresas em sentido subjetivo que não são empresas em sentido objetivo.
No setor público temos sobretudo as empresas públicas. Porém, temos de ter em atenção
que algumas destas empresas podem não respeitar o requisito do exercício da atividade
económica que acima vimos. Um exemplo disso são os hospitais EPE.
Nos termos do art.º 3/2 da Lei da Defesa da Concorrência, considera-se como uma única
empresa o conjunto de empresas juridicamente distintas que constituam uma unidade
económica ou mantenham laços de interdependência. Isto permite-nos perceber que o que
revela mais no direito da concorrência é a substância económica.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Não é necessário que atividade se dirija à obtenção de lucros, nem que seja
suportada por uma organização de meios autonomizável face ao sujeito, daí que
ao contrário da empresa em sentido objetivo caibam nesta noção em sentido
inventores que comercializam as suas próprias invenções; artistas que explorem
comercialmente as sua prestações artísticas; comerciais liberais, etc.
● consumidores privados;
● O estado e outros entes públicos que adquirem bens para satisfação de
necessidades própria sem intenção de os reintroduzir no mercado;
● O estado e outros entes públicos que têm somente no exercício de prerrogativas
de autoridade ou poder público;
● Trabalhadores dependentes;
● Entidades que exercem atividades exclusivamente sociais, baseadas no princípio
da solidariedade , sem fins lucrativos, recebendo beneficiais prestações gratuitas
ou mediante contraprestações não proporcionais ao custos daquelas;
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Existem empresas em sentido subjetivo que não são empresas em sentido objetivo. No
setor público temos sobretudo as empresas públicas, mas algumas destas empresas podem
não respeitar o requisito do exercício da atividade económica que vimos à pouco. No setor
cooperativo temos cooperativas de 1º grau e algumas uniões de cooperativas. Nos termos
do artigo 3º /2 da lei de defesa da concorrência considera-se como uma única empresa o
conjunto de empresas juridicamente distintas que constituam um unidade económica ou
mantenham laços de interdependência,
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
A finalidade lucrativa gera discussões na doutrina, e por isso se procura, cada vez
mais, autonomizar o direito comercial na sua qualidade de direito das empresas (isto
sucede, já, no Brasil, no tratamento dado ao ramo de Direito em si, nos manuais e na
legislação). Em Portugal, a especialização começa a ser em jurídico-empresariais. No
entanto, há dificuldades de fronteira: Não existe uma coincidência total entre direito
comercial e empresarial.
Há atos que a lei qualifica como objetivamente comerciais ,mas não lhe pode ser
identificada uma estrutura empresarial subjacente, p.e, um trabalhador subordinado numa
fábrica que compra um automóvel antigo para restaurar e revender. É um ato
objetivamente comercial ,não havendo no entanto uma estrutura empresarial subjacente
Pestana de Vasconcelos dá o ex. do vendedor ambulante, que é um comerciante, mas não
ser empresário, porque pode exercer a sua atividade comercial sem a estrutura
organizacional complexa que justifique autonomia e, assim, uma empresa. Estes casos
são cada vez mais esporádicos, de facto (Coutinho de Abreu) e mesmo os vendedores-
ambulantes têm vindo a adotar modelos de organização mais complexos (ex. das bolas de
Berlim no Algarve).
Pais de Vasconcelos defende que não há comércio sem empresa, por mais simples
que seja , o exercício de comércio implica sempre uma. Se há comércio sem ser
82
APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
empresarial a grande limitação é o facto de haver empresas que não são comerciais, o
problema está nas empresas fora do comércio. Há inúmeras empresas que não exercem
atividade comercial.
Ex. A trespassa a B um café, mas leva as cadeiras, porque pertenciam a C, seu pai,
que apenas emprestou ao primeiro as cadeiras. Se deixa o frigorífico, mas leva a carne do
seu interior, está em incumprimento contratual? E um quadro valioso pendurado na
parede do EC? Uma guitarra autografada por um músico famoso, pode tirar a guitarra da
parede e levá-la para casa? E as dívidas associadas ao estabelecimento comercial? Ou
créditos? Há um comprador que deve, na exploração do EC, 150 mil euros, que ainda não
pagou, e A trespassa o estabelecimento comercial com todos os bens – B tem direito a
cobrar os 150 mil? São de B ou de A? E os contratos de trabalho? Os trabalhadores
continuam vinculados ao alienante, ou passam a estar vinculados ao adquirente? E se o
estabelecimento funciona num prédio numa fração autónoma que pertence ao alienante?
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Tem a ver com o regime do arrendamento, trespassa-se muitas vezes para aproveitar as
fendas baixas em determinadas áreas da cidade
Conceção ampla (Ferrer Correia + Orlando de Carvalho): São elementos todos estes que
acabamos de ver e mais situações e relações de facto com valor económico detidas pela
empresa(relações de facto com cliente, fornecedores e financiadores) e própria
organização interna da empresa, denominado por aviamento. Estamos a falar da imagem
da empresa com os seus stakeholders; direitos de crédito; direitos reais e outros direitos
de caráter absoluto ligados À empresa e obrigações ligadas à exploração da empresa
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
clientes e financiados, estes estão ligados externamente à empresa e por isso não são
componentes. O problema principal surge a propósito da clientela que segundo Coutinho
de Abreu “ é o círculo ou quota de pessoas (consumidores em sentido amplo) que com
essa empresa contactam, quer em França , quer na Alemanha a clientela é considerada
um elemento da empresa. Em Portugal a doutrina divide-se :
Quanto aos débitos, não podem ser considerados elementos empresariais, segundo
Coutinho de Abreu, os débitos resultantes da exploração do EC. Ex. uma dívida que
resulta da compra de uma máquina para a empresas – o elemento é a máquina, o débito
que resultou dessa compra é que não é.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Esta posição não é partilhada pelos defensores da posição ampla, que incluem nos
elementos da empresa os créditos e os débitos (Barbosa de Magalhães, Ferrer Correia,
Oliveira ascensão, Menezes Cordeiro, Pupo Correia). Mas qual a relevância disto? Ex.
na Alemanha, a posição maioritária é a de incluir os créditos e os débitos. Já em França e
na Bélgica, predomina a conceção restrita. Em Itália, a doutrina divide-se.
Esta questão dos elementos da empresa relaciona-se com o facto de ela ser uma
organização intencional de meios apta à promoção do exercício relativamente estável e
autónomo de uma atividade de produção. A empresa não tem de visar o lucro, mas deve
ter capacidade de sobreviver. Os fatores produtivos de uma empresa não se organizam de
uma forma neutra, sendo articulados e interrelacionados estavelmente com vista à
prossecução de um determinado fim económico. A empresa é, por isso, um sistema ou
uma unidade complexa, global e original – não um mero somatório dos seus elementos.
O modo como os elementos estão interrelacionados identifica a empresa, mas, ao mesmo
tempo, ela é uma organização aberta ao mercado – entram objetos e instrumentos de
trabalho e saem produtos. Trata-se de um sistema tendencialmente autossuficiente, e tem
uma identidade própria, global, diferente da soma das partes – sendo, como tal,
reconhecida no mercado pela sua identidade própria.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Ex. num determinado local, há mesas, cadeiras, balcão, banca, máquinas de lavar
louça, fornos, bancadas para exposição de comida, bancadas com exposição de bebidas,
frigoríficos, etc. Tudo indica que ali funcionará um EC ligado à restauração (um café, p
ex.). Não é por não estar aberto que não há ali EC. Se o espaço for explorado por uma
associação ou uma fundação (sujeito que, pelas suas caraterísticas, suscite dúvidas quanto
à natureza empresarial) – mas podem explorar empresas, se não tiverem finalidade
lucrativa. Quando a estes sujeitos estiverem associadas outras circunstâncias que
permitam concluir que aquela não é uma atividade produtiva geradora de valor
económico, apesar de estarem reunidos todos os elementos para o tal fim económico-
produtivo, não há EC.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
88
APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Há autores que defendem que o EC é uma universalidade de facto, como Antunes Varela.
Qual é a dificuldade desta definição e porque é que o Dr. CA a rejeita? É que a
universalidade de facto pressupõe um conjunto de coisas homogéneas e o EC não respeita
este pressuposto.
Quem entende que o EC é uma universalidade de facto, então tem de classificá-lo como
coisa móvel porque a universalidade de facto pressupõe que é uma coisa móvel.
O Dr. AC entende que o EC é uma coisa imaterial. Não só porque contém coisas móveis
e imóveis, mas a verdade é que a própria organização e o sistema é que dão
individualidade ao EC. Esta é a posição maioritária.
EIRL
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
a) A lei apenas permite um EIRL por comerciante e, portanto, quem tiver mais do
que um EC não tem resposta.
A posição maioritária atual é de que nem todas as empresas são comerciais, portanto,
há empresas que desenvolvem atividades civis. Quando é que as empresas são
comerciais? Quando o seu objeto se traduz na realização de atos/atividades objetivamente
mercantis com caráter de estabilidade. Ou seja, há aqui um paralelo entre as sociedades
comerciais e as sociedades civis sob forma comercial. Isto remete-nos novamente para o
problema do art.º 230 CCom e a sua conjugação com o art.º 434. Empresas que exerçam
atividades consagradas no art.º 230 são empresas comerciais. Dito de outra forma: serão
comerciais as empresas que exercem atividades que a própria lei qualifica como
comerciais.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
A propósito do art.º 230 surgem algumas divisões doutrinais quanto à amplitude das
empresas comerciais.
O Dr. Coutinho de Abreu tem a posição mais restritiva (com a qual a Prof. Mariana não
concorda). Diz Coutinho de Abreu que uma empresa de indústria extrativa (por exemplo,
uma empresa de recursos geológicos) não é comercial, mas sim civil porque não há
qualquer menção a esta atividade no art.º 230 e o autor entende que não há razões
analógicas que justifiquem essa integração. Não estando prevista expressamente no art.º
230 e não havendo fundamento para a aplicação analógica do art.º 230, conclui Coutinho
de Abreu que estas empresas são civis.
Pensemos nas empresas agrícolas. Vejamos o art.º 230/1. Aqui cabem não só as empresas
em sentido estrito mas também silvícolas e pecuárias. Daí que o Dr AC entenda que estas
empresas não são comerciais. O Dr. Pais de Vasconcelos e Cassiano dos Santos entendem
que o que o art.º 230/1 pretende é excluir atividades que, pela sua essenciais, não
constituem sequer um exercício em contexto empresarial. Portanto, dizem estes autores
que, se essa atividade for exercida num contexto que pela sua complexidade organizativa
deve ser encarado comercial, então estamos perante empresas comerciais- o exemplo
paradigmático é o exemplo da Agros. Alguém acredita que a Agros não é uma empresa
comercial?
Raciocínio paralelo deve ser aplicado para as empresas de transformação exploradas por
artesãos que exercem diretamente a atividade, ainda que cumulando outros operários e
operários e máquinas. Quando falamos em artesão falamos de produtores qualificados
que utilizam prevalentemente o seu trabalho manual. Aqui é a lógica exatamente igual à
de Coutinho de Abreu. Quando estas atividades são exercidas em contexto empresarial,
estas atividades são civis desde que o artesão exerça diretamente a sua atividade, mesmo
que seja só dirigindo tecnicamente o processo. O Dr. Coutinho de Abreu defende que este
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Por fim, temos o caso dos profissionais liberais. Falamos de profissões liberais que se
traduzem no exercício habitual e autónomo (=juridicamente não subordinado) de
atividades primordialmente intelectuais, suscetíveis de regulamentação e controlo
próprios. Falamos dos advogados, de engenheiros, de arquitetos e de economistas. E,
aqui, a doutrina volta a não ser unânime. Parece à prof. que o critério deve ser este: quando
o que avulta é a pessoa que exerce a atividade em termos tais que a sua ausência retira
identidade e valor aos restantes meios produtivos utilizados, então não estaremos perante
uma empresa. Nos casos em que a pessoa que exerça a atividade intelectual se dilui na
estrutura produtiva em que se insere em termos que propiciam o anonimato e a
substituibilidade sem prejuízo para o valor global da empresa, então estaremos, não
perante o exercício de atividade profissional liberal, mas perante uma verdadeira empresa.
Estes são os casos das megas sociedades de advogados. São sociedades onde a entrada e
saída de pessoas é relativamente irrelevante para o valor económico da sociedade.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
é a do Dr. Cassiano dos Santos, que defende a eliminação da distinção entre empresas
comerciais e não comerciais, defendendo que, fora do Direito Comercial, deveriam ficar
apenas as chamadas atividades económicas não capitalistas que são exercidas não
empresarialmente e as que, por opção do legislador, são excluídas da empresarialidade.
Suscita-se agora uma questão que tem dividido muito a doutrina: a questão da intenção
lucrativa. A pergunta é simples: uma empresa, para o ser, tem de ter uma intenção
lucrativa? A intenção lucrativa tem de ser um elemento essencial da atividade empresarial
ou não? Parece que é um elemento tendencial, mas um elemento não essencial. O Prof.
Paulo Tarso não concorda: defende que são tão poucas as situações em que as empresas
não têm finalidade lucrativa que esse deve ser um elemento essencial.
Portanto, a grande questão aqui é esta: parece ser de admitir que a tónica deve ser
colocada na atividade produtiva no mercado e não na intenção do empresário. Ou seja, o
que releva deve ser a natureza económica da atividade, rejeitando-se a qualificação
empresarial sempre que a atividade assenta numa pura lógica de liberalidade, mas
bastando-se o preenchimento deste requisito com uma lógica remunerativa que cubra
custos e permita, em abstrato, a autossuficiência económica da empresa. esta questão da
autossuficiência prende-se com o requisito da estabilidade do exercício da atividade. A
isto escapam as empresas públicas: nas empresas públicas é permitido a autossuficiência
económica deficitária. As empresas públicas são uma exceção em que esta
autossuficiência é afastada. Mas, nas restantes empresas, é necessária essa
autossuficiência.
TIPOS DE EMPRESAS
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Nos termos do art.º 5/1 do regime do setor público empresarial, são empresas públicas as
organizações empresariais constituídas sob a forma de sociedade de responsabilidade
limitada nos termos da lei comercial nas quais o Estado ou outras entidades públicas
possam exercer isolada ou conjuntamente, de forma direta ou indireta, influência
dominante.
A noção de influência dominante vem no art.º 9 do RSPE. O Dr. CA desenvolve isto até
à exaustão – nós não vamos fazê-lo (ler porque é importante, mas não sai em exame).
c) Empresas públicas societárias que podem adotar a forma de sociedade por quotas
ou de sociedade anónima
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
d) EPEs (Entidades Públicas Empresariais). Por exemplo, o Hospital de São João. São
pessoas coletivas de Direito Público criadas pelo Estado que formam e/ou exploram
organizações de meios produtivos de bens para troca de modo a satisfazerem
interesses público-estaduais. A criação das EPEs é feita por decreto-lei.
No caso das empresas públicas societárias com capital inteiramente público e no caso
das EPEs, o escopo lucrativo não faz parte da essência destas figuras.
Não podemos confundir empresas locais com serviços municipalizados. Os últimos são
criados pela assembleia municipal sob proposta da câmara municipal e não gozam de
personalidade jurídica, ou seja, integram a estrutura organizacional do município. Não
significa, porém, que não sejam empresas em sentido objetivo.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Uma característica do trespasse é que ele se identifica pelo objeto que se trespassa e não
pelo contrato que lhe subjaz. Essa transmissão pode resultar de uma compra e venda, de
uma troca, de uma dação em cumprimento, de uma venda judicial, da realização de uma
entrada social. Ou seja, a fonte da transmissão é irrelevante para a caracterização do
objeto.
Para a maior parte das regras que regulam o trespasse, é irrelevante se o trespasse é
gratuito ou oneroso. Mas há uma situação em que não é: nos casos do art.º 1112/4 CC.
Este artigo prevê o direito de preferência do senhorio em caso de venda ou dação em
cumprimento. Outra situação em que não é irrelevante é nos casos de liquidação da
sociedade (art.º 152/2 CSC) porque aí estão salvaguardados interesses patrimoniais dos
envolvidos.
Forma do trespasse
Qual a forma a que deve obedecer o trespasse? A única norma que aborda a forma do
trespasse é o art.º 1112/3 CC. Este artigo refere-se expressamente à transmissão da
posição de arrendatário. Ou seja, vale para situações em que o estabelecimento funciona
em imóveis arrendados.
Mas há autores que entendem que a forma consagrada no art.º 1112/3 deve ser aplicada
a todos os trespasses com recurso a uma interpretação extensiva. A forma consagrada
no art.º 1112/3 é o simples escrito particular.
O Dr. Cassiano dos Santos entende que o trespasse não está sujeito a nenhuma forma,
fora os casos do art.º 1112/3. Para os demais casos, vigora a liberdade de forma.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Vamos seguir a divisão proposta pelo Dr. Coutinho de Abreu, este distingue entre 3
âmbitos de entrega:
a) Âmbito mínimo
b) Âmbito natural
c) Âmbito convencional
1. Âmbito mínimo
Abrange aqueles elementos que são necessários ou essenciais para identificar ou exprimir
a empresa objeto do negócio. A não transmissão destes elementos afasta a qualificação
do negócio como trespasse. Todos os elementos do âmbito mínimo têm de ser
transmitidos sob pena de não haver trespasse. Sendo todos estes elementos transmitidos,
temos trespasse.
Sem a transmissão dos elementos do âmbito mínimo não temos trespasse, mas sim a
transmissão individualizada do conjunto de bens em causa.
2. Âmbito natural
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
3. Âmbito convencional
Cabem no âmbito convencional firma, logótipo e marca quando neles figura o nome
individual, a firma ou denominação do titular do estabelecimento – art.º 3 CPI. É a
contrario do que vimos para o âmbito mínimo. Também neste âmbito se inserem os
créditos do trespassante ligados à exploração da empresa, mas cujos objetos não sejam
meios do estabelecimento. Aplicam-se a estes créditos os art.º 577 e ss CC.
Estando em causa a cessão da posição contratual, nos termos dos art.º 424 e ss CC,
exige-se a autorização da contraparte (que é terceira face ao trespasse). Há, no entanto,
casos em que a lei consagra esta transmissão no âmbito natural. O exemplo é o dos
seguros associados ao estabelecimento – integram-se no âmbito natural do trespasse.
O problema que suscita maiores dúvidas é a transmissão de dívidas. Se, por um lado,
temos os credores com interesse de que a dívida acompanhe o estabelecimento, por outro
lado, temos o trespassário que tem de ser protegido de dívidas que não conhece e não
aceitou. Temos aqui um jogo que temos de fazer entre, por um lado, os interesses dos
credores em não haver uma diminuição da garantia associada ao pagamento da dívida
com a transmissão do estabelecimento; mas, por outro lado, temos a necessidade de
proteger o trespassário de dívidas que ele não aceitou e não conhece.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
O Dr. Nuno Aureliano e Dr. Pais de Vasconcelos defendem que não há obrigação de não
concorrência no trespasse. E fazem-nos por analogia ao art.º 9 do DL 178/86 (DL que
regula o contrato de agência e ao art.º 136 do CT que admitem que apenas há obrigação
de não concorrência nos casos em que ela é acordada por escrito pelas partes. O
argumento é o art.º 161 da CRP e o princípio da liberdade de iniciativa económica.
Outros autores como o Dr. Coutinho de Abreu, entendem que não há analogia entre o art.º
9 e o art.º 136 e a situação do trespasse porque quer o art.º 9, quer o art.º 136 dizem
respeito a situações em que cessaram contratos e isso aqui não aconteceu. Esta situação é
gerada pela celebração do contrato e não pela sua cessação. Defende Coutinho de Abreu
que a obrigação de não concorrência deriva do dever de o alienante entregar a coisa
alienada e assegurar o gozo pacífico dela. Portanto, o conhecimento especial que o
trespassante tem da empresa tornaria esta atividade concorrente especialmente perigosa
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
para a subsistência da empresa alienada. Diz Coutinho de Abreu que precisamente por
isto é que não está abrangido por esta obrigação o trespassante que não conhece
verdadeiramente a estrutura organizativa da empresa. Imaginemos um sucessor que
recebeu a empresa e a trespassou de imediato e nunca trabalhou nela. Aí não há obrigação
de não concorrência. Já diferentemente, diz Coutinho de Abreu que estão abrangidos por
esta obrigação os cônjuges e os filhos do titular do estabelecimento face aos quais se
preenche este pressuposto, bem como o alienante de participações sociais que detinha
uma posição de controlo na sociedade que o coloca em posição especialmente qualificada
para concorrer com o estabelecimento que acompanhou a sociedade na transmissão das
participações sociais. Quanto a este alargamento há dúvidas. Quer dizer, imaginemos que
o marido explorou a vida toda o restaurante que pertenceu à mulher; zangam-se; ele não
pode abrir um restaurante?
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Este artigo 1112º foi muito utilizado para fraude, sobretudo ao abrigo dos regimes de
arrendamento urbano anteriores a 2012, ou seja, anteriores à liberalização das rendas.
Quando tínhamos um regime de rendas controladas, a diferença entre transmitir a posição
de arrendatário à luz do trespasse ou não ser possível essa transmissão era a diferença de
continuar a beneficiar da renda controlada ou passar a ter uma renda não controlada.
Vem dizer o art.º 2/b) que também não há trespasse se, no momento do contrato, o
trespassário tinha a intenção de dar outro destino ao crédito, ou seja, já tinha em vista a
substituição daquele estabelecimento por outro.
Difícil é a interpretação do art.º 1112/5. Aqui a doutrina divide-se. Há quem entenda que
este nº5 é um reforço do nº2/b). Coutinho de Abreu diz que, se assim fosse, o nº5 era
completamente desnecessário. Portanto, a interpretação que ele dá a esta nº5 é de que este
constitui um nova causa de resolução do contrato de arrendamento que é a decisão
posterior de o trespassário de alterar o destino do prédio, o que, em regra, não é proibido
no contrato de arrendamento. A propulsão do art.º 1112 é proteger o estabelecimento
comercial; se ele muda o EC, então deixa de precisar dessa proteção. Portanto, se mesmo
em momento posterior o trespassário altera o destino do EC, parece que não se justifica
que o senhorio continue ligado contratualmente a uma parte que lhe foi imposta pelo
contrato de trespasse. Tudo isto é muito influenciado pela própria convicção político-
económica que tivermos.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Locação do estabelecimento:
A locação é o contrato pelo qual uma das partes se obriga a proporcionar à outra o gozo
temporário de um estabelecimento comercial ou não mediante retribuição.
Aqui não se coloca o problema do uso dos objetos de licença de exploração, porque o
direito não é alienado para o locatário ,não sendo necessário o consentimento escrito do
titular licenciante. A obrigação de não concorrência na locação está presente na lei,
nomeadamente o artigo 1037º do CC , que proíbe o locador de praticar atos que diminuam
ou começam o gozo da coisa locada.
Parece de admitir também que o locatário não pode iniciar atividade concorrente com a
praticada no estabelecimento, durante a vigência do contrato de locação, porque isso
implicaria a redução do valor do estabelecimento , e violação do artigo 1043º do CC.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Artigo 1102º do CC- O senhorio não tem de autorizar a cedência do gozo do prédio em
contexto de locação do estabelecimento, no entanto, esta transferência tem de ser
comunicada no prazo de 1 mês sob pena de ineficácia.
Portanto, todo o regime dos TC está marcado por esta função de circulação de créditos.
Assim, associado aos TC está uma espécie de coisificação dos direitos através da sua
incorporação em documentos (os chamados títulos) que seguem depois as regras de
circulação das coisas móveis.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
→ Literalidade
→ Autonomia
→ Incorporação
→ Legitimação
→ Circulabilidade
1) Literalidade
O conteúdo e extensão do direito incorporado no título são aqueles que dele constarem
escritos. Ou seja, o direito vale com o exato conteúdo e extensão que constar do título.
Isto permite, a quem examinar o título, ter conhecimento completo e preciso do direito
incorporado, possibilitando assim a sua circulação e mobilização.
A lei estabelece, em relação a cada título de crédito, quais os requisitos para esta
literalidade.
→ Por exemplo, vejamos os art.º 1 quer da LULL quer da LUC. Em ambos os casos,
o art.º 2 estabelece que a falta de qualquer destes requisitos faz com que o título não
produza efeitos como título de crédito. Por exemplo, o art.º 2 da LUC diz que, na
falta de qualquer requisito do art.º 1, o título não produz efeitos como cheque e no
art.º 2 da LULL diz-se que, na falta destes elementos, o documento poderá valer como
documento probatório (ou seja, como quirógrafo) mas não como título de crédito.
conter.
→ Temos ainda o art.º 370 CCom a propósito da guia-transporte, o art.º 408 CCom
298 CSC a propósito das ações, o art.º 348 CSC a propósito das obrigações.
O que é que estes artigos têm em comum? Todos eles estabelecem elementos que o título
tem de conter para valer como título de crédito e preencher o requisito da literalidade. O
não preenchimento destes requisitos afasta a qualificação do título como título de
crédito.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Preenchidos e emitidos regularmente, os títulos de crédito valem nos precisos termos que
deles constam. Portanto, em princípio, não podem ser contestados com o auxílio de
elementos estranhos ao título.
Além disso, há aqui um elemento fundamental: é que nos títulos de crédito, o elemento
declarativo tem um valor ainda mais acentuado face ao elemento volitivo. Por
exemplo, isto manifesta-se, no caso das letras, cheques e livranças: havendo uma
diferença entre o montante em algarismos e o montante por extenso, prevalece o montante
por extenso. Se houver vários valores diferentes por extenso, prevalece o mais exíguo.
Isto é o que resulta do art.º 9 LUC e do art.º 6 LULL.
A literalidade é mais intensa nos chamados títulos de credito abstratos do que nos títulos
de crédito causais. Os títulos de crédito abstratos são as letras, livranças, cheques e
extratos de fatura. Nos títulos de crédito abstratos só podem ser invocadas pelo obrigado
exceções extracartulares originadas em convenções exteriores ao título que o liguem
diretamente ao portador credor e não exceções extracartulares que o liguem a qualquer
outro dos titulares cambiários – isto sai sempre em exame. É o que se chamam as relações
mediatas e as relações imediatas. Nos títulos de crédito, só se podem invocar exceções
extracartulares nas exceções imediatas. Isto vale mesmo para vícios de vontade.
Nos títulos de créditos causais (como as ações nas sociedades anónimas) a literalidade
existe apenas por referência, existe muito esbatida. Isto desde logo porque o conteúdo do
título é remetido para o contrato de sociedade. Grande parte do conteúdo encontra-se fora
do título nos títulos causais.
2) Autonomia
O direito incorporado no título é autónomo face ao direito não cambiário subjacente que
lhe deu origem.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
diferentes para pagar uma dívida única e, nesse caso, cada cheque tem um montante
inferior ao da dívida única.
Sempre que o título tenha circulado, há mais do que um direito subjacente, ou seja,
subjacente a cada negócio ou a cada ato de circulação do título há pelo menos um direito
subjacente.
Daqui se retira que esta autonomia entre o direito cartular e o direito subjacente atinge a
sua máxima concretização nos art.º 17 LULL e art.º 22 LUC que são aqueles que dizem
que só é possível invocar exceções nas relações imediatas.
Ou seja, o portador do título, desde que esteja legitimado, de acordo com a respetiva lei
de circulação, tem a sua titularidade protegida, mesmo que na cadeia de circulação
anterior algum titular tenha sido ilicitamente desapossado. Isto exceto se adquiriu o título
de má fé ou se, ao adquiri-lo, cometeu falta grave.
3) Incorporação
4) Legitimação
A posse do título, de acordo com a lei de circulação, legitima o portador a exercer o direito
cartular. Ou seja, o portador não precisa de provar a titularidade.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Isto significa que o obrigado está legitimado a cumprir perante quem se apresentar
portador de acordo com a lei de circulação. E ao cumprir perante esse portador, o
obrigado fica desonerado sem que lhe possa ser oposta a eventual ilegitimidade da
pessoa a quem pagou – art.º 35 LUC e art.º 40/3 LULL.
5) Circulabilidade
Significa que o título de crédito circula de acordo com o regime que a lei lhe atribui e que
se designa normalmente por lei de circulação. Consoante o modo de circulação, os títulos
de crédito podem ser:
→Nominativos: são as ações e obrigações nominativas e caracterizam-se por
identificar no próprio título o seu titular. Estes títulos circulam por declaração do
transmitente escrita no título, pelo pertence lavrado no mesmo e pelo averbamento
no livro de ações da sociedade que os emitiu.
→Ao portador: circulam por entrega real; portanto, aquele que tivesse o título podia
exercê-lo. Era o caso das ações e obrigações ao desapareceram que foram extintas
pela lei 15/2017.
Os títulos impróprios são documentos que, na prática, podem circular, embora não sejam
tipicamente vocacionados para essa circulação. É o caso dos bilhetes de cinema ou dos
bilhetes de metro.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Os títulos de créditos públicos são emitidos por entidade pública no exercício da sua
atividade pública. São privados todos os restantes.
Por exemplo, os títulos de dívida pública e as obrigações do estado português são títulos
de crédito públicos.
Os propriamente ditos são os que incorporam direitos pecuniários. É o caso das letras,
cheques e livranças.
Este critério prende-se com a invocabilidade contra o portador que cobra o título de
exceções extracartulares.
Atenção que esta é uma classificação de espectro. Portanto, os títulos podem ser mais ou
menos causais consoante o seu grau de exposição às exceções cartulares.
Já vimos.
Os títulos de crédito em série são emitidos em massa, em número muitas vezes avultado,
e destinam-se a diferentes pessoas. É o caso das ações e das obrigações.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Os títulos individuais são infungíveis porque têm relações subjacentes próprias; enquanto
os títulos em série, em regra, são fungíveis porque têm uma relação subjacente comum
na mesma emissão.
1) Saque
O saque da letra é o negócio jurídico pelo qual o sacador dá uma ordem ao sacado para
que pague uma certa quantia ao tomador ou à sua ordem e, simultaneamente, promete ao
tomador que o sacado vai aceitar e tomar a letra.
2) Aceite
O aceite é o negócio pelo qual o sacador declara ao sacador que aceita pagar a letra ao
tomador ou à sua ordem e promete pagar a letra ao tomador ou à sua ordem.
3) Endosso
4) Aval
O aval é o negócio jurídico pelo qual o avalista promete pagar a letra se aquele por quem
der o aval a não pagar.
O sacador pode ser o tomador; o sacado é o aceitante. O tomador, que tem uma dívida,
mas que tem um crédito sobre o sacado, diz ao sacado para pagar ao sacador.
Normalmente é assim que funciona. Por exemplo, no caso dos cheques, o sacado é sempre
o banco onde o tomador tem a sua conta bancária. Portanto, o tomador tem um débito
extracartular para com o sacador, diz ao sacado para pagar o valor do título ao sacador.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Todos estes são negócios jurídicos unilaterais que incorporam promessas abstratas.
O crédito cartular é só um, embora possa ter vários devedores. E o título não prova a
relação subjacente.
Portanto, a diferença entre a dação pro solvendo e a dação pro soluto é que na primeira
só há pagamento na medida em que a obrigação cambiária for cumprida para extinguir o
direito subjacente. Na dação pro soluto basta a transmissão da obrigação cambiária, seja
esta ou não cumprida, para extinguir o direito subjacente.
Quando temos dois intervenientes num título e entre eles existe uma relação subjacente,
diz-se que a sua relação é imediata. Quando os intervenientes não estão ligados por uma
relação subjacente, então a sua relação é mediata. Vimos já que nos termos do art.º 17
LULL, salvo se o portador ao adquirir a letra tenha procedido conscientemente em
detrimento do devedor, ao portador que se apresenta a cobrar a letra, não podem ser
opostas exceções fundadas nas relações extracartulares vigentes entre outras pessoas que
não o próprio portador e a pessoa a quem ele demanda o pagamento. Ou seja, com exceção
de uma atuação consciente em detrimento do devedor, o portador da letra só pode opor
ao devedor as exceções extracartulares emergentes das relações imediatas.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Como já vimos nos termos do art.º 16 LULL, o desapossado involuntário não pode
reivindicar a letra contra o terceiro portador de boa fé que seja legitimado por uma série
ininterrupta de endossos. Mas se lhe for exigido o pagamento, ele pode excecionar e
provar o desapossamento involuntário, sem que isso afete a validade das obrigações dos
outros signatários da letra – art.º 7 da LULL.
O direito incorporado não se extingue pela extinção do título. O direito cartular não se
extingue pela destruição do título. Porém, não pode ser exercido sem ele. Portanto, para
que se possa exercer o direito cartular que se mantém, é preciso reconstruir o título.
O título também se pode extinguir por ineficácia. Por exemplo, depois do protesto por
falta de pagamento ou depois de decorrido o prazo para apresentação a protesto, a letra
deixa de circular como letra e passa a circular de acordo com o regime da cessão de
créditos do CC.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
Nos termos do art.º 367 CC, podem ser reformados judicialmente os documentos escritos
que, por qualquer modo, tenham desaparecido. Reformar aqui significa reconstituir um
título que se destruiu, danificou ou desapareceu.
É ainda por isto que o beneficiário da reforma, ao exercer o direito cartular, tem de prestar
caução válida durante 5 anos em garantia dos direitos de um outro titular que possam
surgir e tenha melhor direito sobre o título.
6. LETRAS DE CÂMBIO
A letra e a livrança são dois títulos muito parecidos. A livrança distingue-se da letra
porque a letra é, em regra, emitida por um sacador que ordena ao sacado que pague uma
quantia ao tomador ou à sua ordem. A livrança é emitida por um subscritor que promete
pagar uma quantia ao beneficiário ou à sua ordem. Daí que a letra seja, em regra, uma
ordem de pagamento; e a livrança seja, em regra, uma promessa de pagamento.
O respeito pelo modelo de letra que vem previsto do código de imposto de selo constitui
uma formalidade fiscal e não condição de validade da letra como título cambiário.
Nos termos do art.º 1/2, art.º 2, art.º 12, art.º 26 e art.º 31, o saque, o aceite, o endosso e o
aval são incondicionáveis.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
● Uma letra não é letra se o saque vier com condição associada. O saque
condicionado impede a qualificação da letra como tal.
● O aceite condicionado é tido como recusa de aceite.
● O endosso condicionado tem-se por não escrito.
● No caso do aval, a única condição que o avalista pode colocar é quantitativa, ou
seja, ele pode limitar quantitativamente o aval. Quanto ao resto, o conteúdo da
obrigação do avalista determina-se pela do avalizado. Isto significa que o
condicionamento do aval tem as mesmas consequências do condicionamento do
ato avalizado, exceto se a expressão do aval, incluindo a da condição, se não puder
ter por fórmula equivalente, caso em que não é considerado como aval.
Um dos maiores problemas suscitados pelos títulos de crédito é o problema das letras ou
livranças em branco.
Uma letra em branco é uma letra que foi criada e posta em circulação sem estar
completamente preenchida com o objetivo de vir a ser preenchida mais tarde. Esta
incompletude é intencional. O preenchimento posterior deve ser feito de acordo com o
designado pacto de preenchimento – convenção pela qual se estipula o modo como o
título virá a ser preenchido mais tarde.
Se a falta de preenchimento não for intencional, e se não tiver sido convencionado o modo
do futuro preenchimento, a letra é incompleta e não vale como letra, tendo mero efeito
probatório.
Estas letras e livranças em branco, talvez até mais a livrança, estão muito associadas a
aberturas de crédito em contas correntes caucionadas. Ou seja, o banco mantém em
carteira a letra ou livrança e preenche a data de vencimento e o valor quando decide cobrar
judicialmente o crédito em caso de incumprimento do cliente.
Para autores como Pinto Coelho e Oliveira Ascensão, a letra em branco não é ainda uma
letra; como tal, não tem ainda natureza cambiária. Mais: numa posição ainda mais radical,
que é defendida pela Dra. Carolina Cunha, enquanto a letra não estiver preenchida, os
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
atos como o aceite, o saque, o endosso e o aval, são apenas atos preparatórios e, portanto,
não são vinculativos para os seus autores que se podem desvincular livremente deles.
Uma outra posição, defendida nomeadamente por Pais de Vasconcelos, defende que a
letra de câmbio em branco já tem natureza cambiária e, portanto, já é vinculativa, bem
como todos os atos a ela associados. Fundamentam esta posição no art.º 10 LULL que
permite que, após criado o título em branco, o primeiro portador pode transmiti-lo ainda
em branco por endosso e o título pode circular em branco por sucessivos portadores.
Portanto, Pais de Vasconcelos diz que depois estes sucessivos portadores se podem
desvincular da letra. Se a lei permite a circulação de uma letra em branco, ela tem de ter
validade cambiária; caso contrário, qualquer pessoa se poderia desvincular dela
livremente.
Uma das questões mais impactantes na vida dos comerciantes é o chamado aval em
branco ou a pretensão de desvinculação do avalista. Normalmente o aval é prestado
por sócios gerentes (ou pelos cônjuges) de sociedades que são os sacados. Um dos grandes
problemas que se coloca é quando esse sócio gerente deixa de ser sócio gerente.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
ele fica vinculado pelo acordo entre o subscritor e o portador, sendo que o pacto de aval
entre avalista e avalizado apenas vincula as partes com eficácia meramente obrigacional.
Resulta do AUJ 4/2013 «que, tendo o aval sido prestado de forma irrestrita e ilimitada,
não é admissível a sua denúncia por parte do avalista sócio de uma sociedade a favor de
quem ele foi prestado em contrato em que a mesma é interessada, mesmo que, entretanto,
venha a ceder a sua posição social na sociedade avalizada».
→Se esse acordo foi apenas celebrado entre avalista e avalizado e não abrange o
contraparte que não respeitou o cumprimento, mas não pode ser invocado
contra o portador.
Um outro argumento que tem sido utilizado para permitir a desvinculação de avalistas é
a invalidade da fiança omnibus. Isto vem do AUJ 4/2001. Este AUJ diz isto: é nula, por
indeterminabilidade do seu objeto, a fiança de obrigações futuras quando o fiador se
constitua garante de todas as responsabilidades provenientes de qualquer operação em
direito sem menção expressão da sua origem ou natureza e independentemente da
qualidade em que o afiançado intervém.
No entanto, diz Pais de Vasconcelos que não é transponível este juízo da fiança para o
aval. A fiança é causal; o aval é abstrato. Portanto, esta invalidade, a existir, apenas
afetaria o acordo entre o avalizado e o avalista, mas nunca poderia ser oposta a portadores
terceiros de boa fé.
1) Saque
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
O saque é ato, sendo um negócio jurídico unilateral, que tem por conteúdo uma ordem
que é dirigida ao sacado pelo sacador para que pague uma determinada quantia ao
tomador ou à sua ordem.
É também uma promessa do sacador dirigida ao tomador ou à sua ordem de que o sacado
irá aceitar e pagar a letra e que, se isso não acontecer, o sacador a pagará ele próprio.
Também pode acontecer que a letra seja sacada sobre o próprio sacador, ou seja, o sacador
é também sacado. Ele promete ao tomador pagar-lhe uma determinada quantia.
De acordo com o art.º 9 LULL, normalmente o sacador responde pelo aceite e pelo
pagamento da letra. Ou seja, assume a responsabilidade de o sacado aceitar e assume o
pagamento da letra se o sacado não pagar.
O sacador pode ainda estipular juros no momento dos juros e tem de fazer constar essa
estipulação na letra.
Se a letra for sacada à vista ou a certo termo de vista, nos termos do art.º 33 LULL, os
juros têm estipulação autónoma inscrita no texto da letra – art.º 5 LULL.
Se a letra for sacada a certo termo de data ou a data certa – art.º 33 LULL – os juros
são inseridos no montante do saque e não podem ser objeto de estipulação própria. Se
existir essa estipulação, ela tem-se por não escrita – art.º 5 LULL.
Os art.º 7 e art.º 8 LULL tratam com aspetos relacionados com a assinatura da letra.
Assim, por exemplo, se a letra contiver assinatura de pessoas incapazes para o ato ou
assinaturas falsas ou de pessoas fictícias, as obrigações dos demais signatários continuam
válidas. Nos casos consagrados no art.º 8 LULL, temos casos de representação sem
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
2) Aceite
O aceite é também um negócio jurídico unilateral pelo qual o sacado aceita a ordem de
pagamento que lhe foi dirigida pelo sacador e promete pagar a letra no vencimento ao
tomador ou à sua ordem – art.º 28 LULL.
Pelo aceite, o sacado passa a designar-se aceitante. Fica, assim, responsabilizado pelo
pagamento da letra no vencimento.
Atenção que o sacado não é obrigado a aceitar a letra. Portanto, quando há um protesto
por falta de aceite, esse protesto é feito contra o sacador e não contra o sacado.
O sacador pode ainda determinar que a letra não pode ser apresentada a aceite antes
de determinada data.
O aceite não pode ser condicionado, mas pode ser um aceite parcial ou modificado.
Se o sacado riscar o aceite antes de restituir a letra, o aceite considera-se recusado, exceto
se o sacado informou por escrito o sacador ou outro dos intervenientes que aceita a letra
Sendo a letra pagável a certo termo de vista, o aceite deve ser datado, para que a partir
dessa data possa ser contado o prazo de vencimento.
O portador pode, porém, exigir que o aceite seja datado não da data em que tenha sido
dado, mas daquela em que a letra foi apresentada a aceite.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
O aceite também deve ser datado nas letras que devam ser aceites num determinado
prazo. Não sendo, o portador deve fazer constar a omissão da data por um protesto feito
em tempo útil sob pena de perder os direitos emergentes da letra contra o sacador e os
endossantes – art.º 25 LULL.
3) Endosso
Tem também uma promessa de que ele endossante pagará a letra se o sacado não aceitar
ou não pagar ou se algum dos demais obrigados o não fizer.
Cada endossante responde pelo aceite e pelo pagamento da letra, pelo que se a letra
não for paga ou não for aceite, o portador pode exigir o pagamento a qualquer dos
endossantes. Mais: uma vez paga a letra, o endossado pode cobrá-la de qualquer um dos
endossantes anteriores.
O endossante pode ainda proibir um novo endosso e, neste caso, fica exonerado da
responsabilidade pelo pagamento da letra perante os endossatários subsequentes.
Nos termos do art.º 18 LULL, o endossante pode ainda apor cláusulas ao endosso no
sentido de que o endossatário não se torna proprietário da letra, mas um mero
procurador do endossante.
Nos termos do art.º 19 LULL, o endossante pode colocar na letra uma menção pela qual
os obrigados não podem opor ao endossatário as exceções oponíveis ao endossante, a
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
4) Aval
O aval é um negócio também unilateral que tem por conteúdo uma promessa de pagar
a letra e por função a garantia desse pagamento.
O aval pode ser prestado por um terceiro ou por um signatário da letra e tem de ser
prestado a favor de um dos obrigados.
Não constando da letra o obrigado a favor de quem o aval é prestado, considera-se que é
a favor do sacador.
O aval pode ser parcial e é escrito na letra ou numa folha anexa. A simples assinatura
na face anterior da letra, se não for do sacador nem do sacado, vale como aval.
O avalista que é chamado a pagar a letra fica sub-rogado nos direitos emergentes da letra
contra a pessoa a quem foi dado aval e contra os obrigados para com esta em virtude da
letra.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
São nulas as letras com vencimentos diferentes ou com vencimentos sucessivos. Portanto,
para cada data de vencimento tem de haver uma letra.
A letra à vista é pagável no momento de apresentação. Daí que, nesse caso, não existe
aceite. O aceite é absorvido pelo pagamento. Esta letra deve ser apresentada a pagamento,
em princípio no prazo de 1 ano a contar da sua data. O sacador pode, contudo, reduzir ou
alargar este prazo e os endossantes podem reduzi-lo.
As letras sacadas a termo de data ou pagáveis em dia fixado vencem-se nos termos
dos respetivos prazos e devem ser apresentadas a pagamento ou numa câmara de
compensação no próprio dia de vencimento ou nos dois dias úteis seguintes
O portador não pode recusar o pagamento parcial, mas pode recusar o pagamento
antecipado.
6) Protesto
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
O protesto por falta de aceite deve ser feito dentro do prazo para apresentação a
aceite. Mas se a letra foi apresentada no último dia do prazo, o protesto pode ser feito no
dia útil seguinte.
No caso de letra pagável em data certa ou a certo termo de data o protesto tem de ser feito
nos dois dias úteis seguintes à data que o pagamento deveria ser feito.
Se for uma letra pagável à vista, o protesto segue o regime do protesto por falta de aceite
e é dispensado o protesto por falta de pagamento, bem como a apresentação a pagamento.
O portador que protesta a letra deve, no prazo de 4 dias, avisar da falta de aceite ou de
pagamento aquele que lhe endossou a letra e o sacador. Cada um dos endossantes deve,
por sua vez, avisar aquele que o antecede na cadeia cambiária no prazo de dois dias e
assim sucessivamente até chegar ao sacador.
Em caso de falta de protesto, o portador passa a poder cobrar a letra apenas do aceitante
e do seu avalista.
O protesto pode ser dispensado se houver cláusula nesse sentido. Se a cláusula for
aposta pelo sacador produz efeitos em relação a todos os intervenientes da letra. neste
caso, os beneficiários não perdem os seus direitos de ação por falta ou intempestividade
do protesto.
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APONTAMENTOS TEÓRICOS DE DIREITO COMERCIAL
A diferença principal entre estas duas é que as primeiras identificam produtos cuja
qualidade está ligada ao meio geográfico e as segundas designam produtos que podem
ser produzidos com a mesma qualidade noutras zonas mas que devem a sua fama ou certas
características à área territorial de onde deriva a identificação geográfica.
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