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II – QUESTÃO A DECIDIR.
ALTERAÇÃO DO ENQUADRAMENTO JURÍDICO.
III – FUNDAMENTAÇÃO.
ALTERAÇÃO DO ENQUADRAMENTO JURÍDICO.
1. O tribunal “a quo” deu como provados os seguintes factos:
1 - O arguido e o menor T___ (nascido em 30/07/2005) eram colegas
de turma na Escola Matilde Rosa Araújo, sita em Matarraque, São
Domingos de Rana.
2 - No dia 14 de Abril de 2021, o arguido e T___ iniciaram uma
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gravidez; (...).
"Pessoa particularmente indefesa, no contexto da al. c) do n.º 2 do
art.º 132.º do CPP, é aquela que se encontra à mercê do agente,
incapaz de esboçar uma defesa minimamente eficaz, em função de
qualquer das qualidades previstas na norma." (cfr. Ac. do STJ, de
26/11/2015, Proc.º nº 119/14.0JAPRT.P1.S1, disponível in
www.dgsi.pt.).
De situação de desamparo fala o Prof. Figueiredo Dias (in
Comentário, Tomo I, página 31). Estará nessa situação a pessoa que,
em razão da idade, doença ou deficiência física ou psíquica, não tem
capacidade de movimentos, destreza ou discernimento para tomar
conta de si e, logo, para verdadeiramente se defender de uma
agressão. Certamente não por acaso o Prof. Figueiredo Dias, no
mesmo local, referindo uma situação susceptível de preencher este
exemplo-padrão, fala de "uma ausência total de defesa". E, na
verdade, se pessoa indefesa é aquela que não se pode defender, pessoa
particularmente indefesa, fazendo justiça ao sentido das palavras,
será aquela que se encontra numa situação de completa ausência de
defesa.
Pode assim concluir-se que, seja em função da idade, deficiência,
doença, gravidez ou dependência económica, o que importa
determinar para efeitos do preenchimento da norma penal, e para
desse modo se respeitar o princípio da legalidade e da tipicidade, é,
antes de mais, que a vítima se encontrava, face aos factos
concretamente dados como provados, numa situação de particular ou
especial incapacidade de se defender. Não basta por isso que se
demonstre que a vítima tinha, como no caso dos autos, 15 anos de
idade, porquanto é sabido que nem sempre as pessoas com esta idade,
só por a terem, se encontram numa situação de especial incapacidade
de se defenderem ou em estado de desamparo, sendo aliás do
conhecimento geral a existência de pessoas que, pese embora esta
idade, estão longe de poderem ser consideradas nessa situação,
porquanto o seu vigor intelectual, físico e psicológico, o desmentem.
Ou seja, para que se possa considerar preenchida esta circunstância
qualificativa do homicídio, determinável a partir ou em função da
idade da vítima, será necessário que, por causa da sua idade, a
mesma se encontre numa situação de incapacidade de defesa
especialmente relevante, em virtude de não ser minimamente capaz
de reagir ou de se defender das agressões a si dirigidas, nem
contemporânea nem posteriormente a elas, designadamente por não
ter a destreza ou o vigor físico ou psicológico necessários para a elas
reagir, defendendo-se ou queixando-se a quem lhe pudesse dar
protecção, por dificuldades, face também às características físicas e
psicológicas do agressor, em se opor ou responder.
- A al. e) do n.º 2 do artigo 132º do Código Penal refere-se à
circunstância de o agente ser determinado por avidez, pelo prazer de
matar ou de causar sofrimento, para excitação ou para satisfação do
instinto sexual ou por qualquer motivo torpe ou fútil (...).
Ser determinado a matar por avidez significa a pulsão para satisfazer
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incapacidade para tomar conta de si, tendo também ele feito uso de
um canivete quando caminhou na direcção do arguido para o
confronto que já se tinha apercebido que ia existir. Acabou por ser
vencido, seguramente porque o arguido revelou ser mais forte,
certamente pela vantagem que a sua compleição física lhe deu no
confronto com a vítima. Mas, como vimos, o exemplo-padrão em
discussão não se preenche com a simples superioridade em razão da
idade, que não vai além de uma agravante de carácter geral - a
especial maior culpa subjacente a esta circunstância qualificativa
exige uma atitude bem mais distanciada dos valores e que, no caso
em apreço, não se verifica.
Também quanto à circunstância qualificativa prevista na alínea e) do
n.º 2 do artigo 132º do Código Penal, entendemos que a conduta do
arguido não a preenche.
Como supra referido, motivo fútil é aquele que não tem relevo,
avaliado do ponto de vista do agente; motivo torpe é o que ofende a
moralidade média ou o sentimento ético-social.
No caso em apreço, provou-se que o arguido actuou como descrito
porque pretendia vingar-se de T___, na decorrência da desavença
anteriormente ocorrida, e que teve um significado relevante, tendo em
conta que o arguido foi agredido por T___ com um instrumento com
aparência de uma faca, não podendo considerar-se a motivação do
arguido como gratuita, despropositada ou leviana, avaliada segundo
os padrões éticos geralmente aceites na comunidade.
O arguido não agiu por motivo irrisório ou insignificante, posto que
toda a sua actuação delituosa vem motivada por uma quezília
precedente, entre o arguido e a vítima T___ , em que o arguido terá
sido agredido por este, dois dias antes, com um objecto que
aparentava ser uma faca, razão pela qual, a actuação do arguido, não
a justificando, explica a acção delituosa. E se é certo, ser tal conduta
injustificável, retirando a vida a T___, a verdade é que não é a
circunstância de o motivo não justificar o facto que o torna fútil.
O homicídio, não deixando de ser, como qualquer outro, altamente
censurável, não surgiu como resultado de um processo pautado pela
ilógica, ou de plena irracionalidade, em que uma culpa do arguido
acentuada por um alto grau de censurabilidade levaria a tirar a vida
T___ por razões fúteis.
Também quanto à circunstância qualificativa prevista na alínea i) do
n.º 2 do artigo 132º do Código Penal, entendemos que a conduta do
arguido não a preenche.
Na verdade, o arguido decidiu matar T___, munindo-se para tal de
uma faca de cozinha, cujas características e natureza corto-
perfurante conhecia, resolveu ir ao encontro do mesmo, não tendo tal
encontro constituído qualquer surpresa para a vítima que, também
ela, esperando tal encontro, muniu-se de um canivete e caminhou na
direcção do arguido com o mesmo. Sabia T___ o que poderia advir do
confronto com o arguido e, mesmo assim, não evitou o encontro com
este.
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censura acerca da sua culpa, pois esta não excede, a nosso ver, o
grau da mera censurabilidade.
Temos, pois, por mais seguro, que o arguido agiu dentro dos padrões
de uma actuação comum, subsumindo-se a sua conduta no crime de
homicídio, p. e p. pelo artigo 131º, n.º 1, do Código Penal.
*
Posto isto, cumpre apreciar se estão verificados os requisitos da
legítima defesa, conforme também foi entendimento do arguido, nas
alegações orais que foram produzidas em julgamento.
Face ao Código Penal, a legítima defesa é uma causa de exclusão da
ilicitude (cfr. artigo 31º, n.º 2, al. a), do Código Penal), resultando da
sua integração que o facto típico não é punível porque a sua ilicitude
é excluída pela ordem jurídica considerada na sua totalidade - artigos
31º, n.º 1 e n.º 2, alínea a) e 32º do Código Penal.
A consagração legal da legítima defesa no Código Penal mais não é
do que a explicitação do princípio constitucional fixado no artigo 21º,
da CRP, que estabelece que "Todos têm o direito de resistir a
qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias e
de repelir pela força qualquer agressão, quando não seja possível
recorrer à autoridade pública".
A legítima defesa apresenta-se como uma causa de exclusão da
antijuridicidade do facto, tendo por base uma prevalência que à
ordem jurídica cumpre dar ao justo sobre o injusto, à defesa do
direito contra a sua agressão, ao princípio de que o direito não deve
recuar ou ceder nunca perante a ilicitude.
Independentemente das dúvidas que possam existir sobre a questão
de saber que bens ou interesses estritamente individuais é que devem
considerar-se incluídos no direito de legítima defesa, cremos ser
pacífico que ali se incluem a vida, a integridade física, a saúde, a
liberdade, o domicílio e o património (neste sentido, cfr. Taipa de
Carvalho, in "A Legítima Defesa", 1995, pág. 318).
Constitui legítima defesa, nos termos do artigo 32.º do Código Penal,
o facto praticado como meio necessário para repelir a agressão ilícita
ou antijurídica, enquanto ameaça de lesão de interesses ou valores,
não préordenada, actual, no sentido de, tendo-se iniciado a execução,
não se ter verificado ainda a consumação, e necessária, ou seja,
quando o agente, nas circunstâncias do caso, se limite a usar o meio
de defesa adequado — menos gravoso, por a todo o direito
corresponderem «limites imanentes» — a sustar o resultado iminente
— cfr. Eduardo Correia, in "Direito Criminal", II, págs. 45 e 59.
São pressupostos da legítima defesa: a actuação em defesa de uma
agressão e o elemento subjectivo a que a doutrina dá o nome de
animas defendendi.
São requisitos da agressão: a ilegalidade, a actualidade e a falta de
provocação e requisitos da defesa: a impossibilidade de recurso à
força pública, a necessidade e a racionalidade do meio.
A necessidade de defesa há-de apurar-se segundo a totalidade das
circunstâncias em que ocorre a agressão, e em particular, com base
na intensidade daquela, da perigosidade do agressor e da sua forma
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de 24/07.
Impõe-se, por isso, condenar o arguido também pela prática deste
tipo legal de crime.
3. São as seguintes as conclusões que a recorrente apresenta:
1. O homicídio qualificado é uma forma agravada de homicídio em
que a morte é produzida em circunstâncias reveladoras de especial
censurabilidade ou perversidade.
2. Ora entendemos que o crime de homicídio perpetrado e levado a
cabo pelo arguido preencheu o requisito da alínea c) do n.º 2 do
artigo 132º do Código do Penal.
3. Ora no caso em concreto entende a ora Recorrente que a vítima
jovem, pouco nutrida e de baixa estatura em circunstâncias normais
seria sempre por si enquadrável no pessoa particularmente indefesa
perante um arguido adulto, alto e forte munido de uma faca de
cozinha e acompanhado de 20 amigos.
4. A vítima foi caçada à porta de casa, local onde qualquer pessoa se
encontra mais vulnerável por se sentir seguro.
5. A vítima foi encurralada por um grupo de 20 pessoas sem contar
com o arguido.
6. Acontece que no caso em concreto temos um miúdo de 15 anos,
franzino, mal nutrido, um autêntico pirolito atacado por um grupo de
20 pessoas encabeçado pelo arguido.
7. Completamente apanhado desprevenido sem perceber a armadilha
que lhe foi montada junto à sua casa.
8. A diferença de estatura física, a diferença da força entre arguido e
vítima era carne para canhão.
9. A vítima não tinha condições de defender-se e tal é assim que o
arguido com um único golpe desferiu uma facada mortal num
segundo.
10. As imagens nos autos demonstram bem a rapidez e a frieza do
arguido ao matar T___.
11. A alínea e) do n.º 2 do artigo 132 do Código Penal refere que a
circunstância de o agente ser determinado por qualquer motivo torpe
ou fútil.
12. Ora entende a jurisprudência que o motivo fútil é aquele que não
tem relevo, que não chega a ser motivo, que não pode razoavelmente
explicar a conduta do agente.
13. O arguido não explicou qual o motivo que o levou a matar de
forma tão selvática o jovem T___.
14. Refere um desentendimento entre os dois.
15. Desentendimento que ninguém viu, ninguém presenciou e que
apenas temos a palavra do arguido.
16. Mas mesmo depois deste desentendimento já o arguido tinha
desferido um pontapé no T___ tivesse reagido.
17. E mesmo assim procurou o T___ no dia 15 de abril para o matar
só não o conseguindo apanhar graças à intervenção de terceiros que
permitiu ao T___ colocar-se em fuga.
18. Não tendo conseguido apanhar a 15 de abril voltou a casa da
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No caso que ora nos ocupa, entende a assistente que o crime que o
arguido cometeu se enquadra dentro da tipologia de crime de
homicídio qualificado, pelas razões que enumera, considerando que
se mostram preenchidas as três alíneas do art.º 132 nº2 que a
acusação referia (als. c), e) e i), bem como que, ainda que se
entenda que nenhuma daquelas se mostra adequada, se deveria
considerar que a conduta do arguido, objectivamente apreciada,
revela especial censurabilidade e perversidade.
5. Vejamos então.
Desde logo haverá que realçar que a fundamentação que o tribunal
“a quo” realizou a respeito da questão da não verificação de
qualquer circunstância qualificativa agravante, nos merece total
acordo, aí se mostrando exaustivamente apreciadas e enquadradas
as circunstâncias cujo conhecimento a lei impõe. Por tal razão,
subscrevemos, integralmente, o que aí se mostra prolatado, que
supra transcrevemos e que aqui damos por reproduzido.
6. Caberá então apreciar apenas as circunstâncias que a recorrente
invoca e que não se mostram expressamente referidas no decidido.
7. No que toca à questão do preenchimento da alínea c), alega a
recorrente, sinteticamente, que a vítima jovem, pouco nutrida e de
baixa estatura em circunstâncias normais seria sempre por si
enquadrável na pessoa particularmente indefesa perante um arguido
adulto, alto e forte munido de uma faca de cozinha e acompanhado
de 20 amigos. A vítima foi caçada à porta de casa, local onde
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está a passar - isto é, que o arguido vai à sua procura e quer matá-
lo.
A frieza de ânimo, enquanto circunstância qualificativa agravante,
pressupõe, em sede legal, serenidade, fria reflexão, ponderação
sobre o modo de actuação, sangue-frio e consideração
desapaixonada quanto à actividade que se vai prosseguir e não é
esse o caso dos autos.
25. Neste circunstancialismo, não vemos como a actuação do
arguido preenche as noções acima referidas, em termos
qualificativos.
Na verdade, a lei exige especial censurabilidade e perversidade. E o
acento tónico reside efectivamente nessa especialidade, nesse grau
fora do comum e acima do que já é altamente censurável e
perverso, que é o acto de tirar a vida a alguém.
No caso, a censurabilidade e a perversidade existem, sem dúvida,
mas no patamar ínsito à censura do comportamento homicida,
previsto no art.º 131 do C.Penal, não em grau superior (especial)
que potenciaria o preenchimento do requisito legal qualificativo.
Não assiste assim razão à recorrente, no entendimento da
verificação, no caso presente, de ocorrência da circunstância
qualificativa agravante prevista no art.º 132 do C.Penal.
IV – DECISÃO.
Face ao exposto, acorda-se em julgar improcedente o recurso
interposto pela assistente, mantendo-se a decisão recorrida.
Condena-se a recorrente no pagamento da taxa de justiça de 3 UC.
Lisboa, 9 de Novembro de 2022
Maria Margarida Almeida
Maria Leonor Botelho
Ana Paula Grandvaux
turma, foi uma discussão que arguido e vítima tiveram dois antes,
na casa de banho da escola, tendo então a vítima “picado” o
arguido com um objecto que aparentava ser uma faca, donde
resultou uma inimizade entre ambos, vindo o arguido a agir como
agiu, dois dias depois, com o intuito de se vingar de T___ pela
discussão que tinham tido na escola no dia 14.04.2021.
Quanto a tal aspecto, ficou provado:
«2- No dia 14 de Abril de 2021, o arguido e T___ iniciaram uma
discussão na casa de banho da Escola, por motivos não
concretamente apurados, mas na sequência da qual T___ picou a
perna do arguido com um objecto que aparentava ser uma faca e que
trazia consigo, daí resultando uma inimizade entre ambos.
19-Agiu o arguido com o intuito de se vingar de T___ pela discussão
que
haviam tido na escola no dia 14/04/2021.»
Resulta da referida factualidade julgada provada que foi a referida
discussão com
a mencionada “picadela”, da qual não resultou qualquer ferida ou
lesão para o arguido, que motivou o arguido a tirar a vida ao seu
colega T___ , pretendendo o mesmo vingar-se da conduta que
aquele tivera para consigo, dois dias antes.
E a vontade do arguido de se vingar de tal conduta está também
patente na demais
factualidade julgada provada, tendo o mesmo procurado T___ , no
bairro onde este residia, logo no dia seguinte (15.04.2021),
encetando com ele uma discussão que só não avançou para o
confronto físico entre ambos devido à intervenção de terceiros
(facto provado sob o n.º 3).
E, nas mensagens que arguido e vítima trocaram após tal
confronto, veio o
arguido a ameaçar de morte o ofendido, vindo ainda, já no dia
16.04.2021, quando foi abordado pela mãe de T___, que lhe pedia
para não levar a sua ideia avante e deixar o seu filho em paz, a
responder-lhe: ”avisa ele que eu lhe vou dar uma facada” (factos
provados sob os n.ºs 4 e 5)
Foi a discussão com a referida “picadela” na perna e a vontade que
daí surgiu de se vingar de tal acto que determinou o arguido a
matar T___, seu colega de turma, motivo que se afigura
insignificante ou com uma importância mínima, afigurando-se que,
para qualquer homem normal, tal motivo é menor e irrelevante,
sendo manifesta a desproporcionalidade existente entre o referido
motivo, de reduzidíssima importância, e a gravíssima reacção
adoptada pelo arguido.
Afigura-se, de facto, incompreensível que o arguido tenha
considerado que a “ofensa” que lhe foi feita, dois dias antes, ao ter
sido “picado”, sem quaisquer sequelas ou lesões físicas, no meio de
uma discussão, justificava a morte de quem o ofendeu.
Como se lê no Aresto do STJ de 18.01.2012, in www.dgsi.pt:
www.dgsi.pt/jtrl.nsf/33182fc732316039802565fa00497eec/92d48db8e176a90880258909003dd7a1?OpenDocument&Highlight=0,homicídio 31/34
02/02/2023 15:42 Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa
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respondeu: ”avisa ele que eu lhe vou dar uma facada” (factos
provados sob os n.ºs 4 e 5).
E, na tarde desse dia 16.04.2021, o arguido telefona ao ofendido
para o desafiar para uma luta, sendo que, como T___ não lhe diz
onde se encontra, decide ir procurá-lo, junto da residência do
mesmo.
Porém, previamente, o arguido dirige-se para a sua própria casa,
onde, para além de vestir dois casacos, um deles grosso e
almofadado, se muniu de uma faca de cozinha com 33 cm de
comprimento, sendo 20 cm de lâmina em aço inoxidável, seguindo
depois à procura da vítima (factos provados sob os n.ºs 7 e 8).
Mas vai à procura da vítima não com intenção de com ele lutar - o
que poderia aceitar-se no âmbito da discussão tida dois dias antes e
dada a juventude dos dois - mas com intenção de o matar, o que
concretiza de imediato quando dele se aproxima, utilizando para o
efeito a faca com 20 cm de lâmina de que previamente se munira.
E isto apesar de ter ficado também provado que dois dos seus
acompanhantes o tentaram dissuadir e de, como dissemos, a mãe
do ofendido o ter abordado ainda nesse dia, pedindo-lhe para
abandonar a sua ideia e deixar o seu filho em paz.
Ficou efectivamente provado:
«9 - De seguida, cerca das 19h15m, o arguido deslocou-se ao Bairro
dos Sete Castelos, com intenção de esfaquear e tirar a vida a T___,
não obstante um dos elementos que o acompanhava (MR____), após
se aperceber que o arguido tinha uma faca, tentado dissuadir dessa
intenção.
10 - Ali chegado, na Avenida Castelo de São Jorge, o arguido
deparou-se com T___ na via pública e, de imediato, retirou a faca de
cozinha que trazia no interior da mochila e colocou-a junto ao peito,
escondida por baixo do casaco que trajava.
11 - R___, um dos elementos do grupo de amigos do arguido, ao vê-lo
com a faca, ainda o puxou para evitar que este se aproximasse de
T___ mas, sem sucesso, dado que o arguido continuou a avançar na
direcção do mesmo.»
Acresce que nem a circunstância de a vítima empunhar um
canivete demoveu o arguido da intenção que tinha de esfaquear e
tirar a vida a T___ , o que veio efectivamente a concretizar, pondo-
se de seguida em fuga.
Ficou efectivamente provado:
«12 - De seguida, o arguido e T___ dirigiram-se um para o outro,
empunhando T___ um canivete e o arguido, com a aproximação de
T___, retirou faca de cozinha que trazia escondida no interior do
casaco e empunhou-a.
13 - Acto contínuo, T___ desferiu dois golpes na manga do casaco do
arguido e o arguido desferiu com a faca um golpe no hemi-tórax
esquerdo de T___, perfurando-lhe a sexta costela esquerda, músculos
intercostais, pericárdio e coração.
14 - Após, o arguido colocou-se em fuga.
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