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02/10/23, 00:05 Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães
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C) Convicção (transcrição)
« A convicção do Tribunal quanto aos factos
provados e não provados baseou-se na análise
cuidada dos documentos e autos juntos ao processo,
no conjunto das declarações dos arguidos e da demais
prova testemunhal produzida em sede de audiência de
julgamento, aliada às regras da experiência comum.
Os arguidos negaram a prática dos crimes descritos
na acusação, referindo não terem qualquer ligação
com o que se praticava no anexo e/ou qualquer
fomento, facilitação ou favorecimento da prática da
prostituição de forma profissional ou com intenção
lucrativa.
O arguido NUNO A... referiu que era apenas
empregado de mesa no bar em causa, sendo que o
arguido VERÍSSIMO era empregado de balcão, o
arguido ANTÓNIO era um mero cliente e o arguido
MANUEL era o porteiro. Sobre o anexo referiu não
saber o que se fazia lá e nunca teve chave do mesmo.
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2. Conforme é sabido, sem prejuízo das questões de
conhecimento oficioso, as conclusões do recurso
delimitam o âmbito do seu conhecimento e destinam-
se a habilitar o tribunal superior a conhecer as razões
pessoais de discordância do recorrente em relação à
decisão recorrida (artigos 402º, 403º, 412º, n.º 1,
todos do Código de Processo Penal e, v.g., Ac. do
STJ de 19-6-1996, BMJ n.º 458, pág. 98).
Neste recurso, são as seguintes as questões a apreciar:
· Descriminalização do crime de lenocínio.
· Inconstitucionalidade do artigo 170º do Código
Penal;
· Insuficiência da matéria de facto dada como
provada;
· Erro notório;
· Erro de julgamento por errada valoração da prova
produzida;
· Violação dos princípios da presunção de inocência e
do “in dubio pro reo”;
· Excessiva severidade da pena;
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3. Sustenta o recorrente que ocorreu uma
descriminalização do crime de lenocínio previsto no
n.º1 do artigo 170º.
Para o efeito socorre-se de transcrições das Actas da
Comissão Revisora do Código Penal .
Mas, a argumentação do recorrente é manifestamente
improcedente.
Como bem assinalou o Ministério Público junto do
tribunal recorrido, na sua douta resposta, na situação
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conduta.
Poder-se-á, porventura, defender (como o faz a Prof.
Anabela Miranda Rodrigues, op. cit. págs. 518-520)
que de iure condendo, a solução mais adequada
passaria pela descriminalização da conduta, o que
nem sequer se tem por seguro (cfr. a proposta
alternativa de Sénio Alves, Crimes Sexuais, pág. 68,
nota 3).
Mas, de iure condito, é inquestionável que o
comportamento em questão constitui crime, porque
“descrito e declarado passível de pena por lei anterior
ao momento da sua prática” - artigo 1º, n.º 1 do
Código Penal.
Em conclusão: no plano do direito a constituir é
legítimo questionar a necessidade de dar dignidade
penal ao lenocínio entendido como a actividade
descrita no n.º 1 do artigo 170º do Código Penal
(como também é discutível a necessidade de manter a
punição de outros ilícitos como, v.g. o estupro,
denominado de actos sexuais com adolescentes).
Porém, no plano do direito constituído, é indiscutível
que o lenocínio é crime previsto e punido no artigo
170º do Código Penal.
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§1. Dado que no caso houve documentação da prova
produzida em audiência, com a respectiva transcrição
integral, pode o tribunal de recurso reapreciá-la na
perspectiva ampla prevista no art. 431º do C. P. Penal.
Com efeito, estatui o citado preceito que “Sem
prejuízo do disposto no art. 410°, a decisão do
tribunal de 1ª instância pode ser modificada (…): b)
Se, havendo documentação da prova produzida em
audiência, esta tiver sido impugnada, nos termos do
art. 412, n.º3 (…)”.
No entanto, ao contrário do que por vezes se pensa, o
recurso não tem por finalidade nem pode ser
confundido com um "novo julgamento" da matéria de
facto, assumindo-se antes como um “remédio”
jurídico.
Como já em diversos lugares salientou o Prof.
Germano Marques da Silva, presidente da Comissão
para a Reforma do Código de Processo Penal que
justamente introduziu o recurso também em matéria
de facto nos crimes julgados perante tribunal
colectivo:
- “E o recurso não é tudo, é um remédio para os erros,
não é novo julgamento” (conferência parlamentar
sobre a revisão do Código de Processo Penal, in
Assembleia da República, Código de Processo Penal,
vol.II, tomo II, Lisboa 1999, pág. 65);
- “o recurso em matéria de facto não se destina a um
novo julgamento, constituindo apenas um remédio
para os vícios do julgamento em primeira instância”
(Forum Justitiae, Maio/99);
- “Recorde-se que o recurso ordinário no nosso
Código é estruturado como um remédio jurídico, visa
corrigir a eventual ilegalidade cometida pelo tribunal
a quo. O tribunal ad quem não procede a um novo
julgamento, verifica apenas da legalidade da decisão
recorrida, tendo em conta todos os elementos de que
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pág.229).
A fundamentação ou motivação permite o controle
por parte do tribunal superior, pela via do recurso, do
exame do processo lógico ou racional que subjaz à
decisão.
Mas, o recurso em matéria de facto não constitui,
como acima referimos, um segundo julgamento, mas
um remédio, uma solução para obviar à manutenção
de decisões arbitrárias e ilegais
O juízo de censura que a este respeito há-de formular-
se não pode fundamentar-se na simples discordância
com a convicção do legislador.
É que assim não fosse, como bem salienta o Prof.
Damião da Cunha, o tribunal de recurso transformar-
se ia “num ‘substitutivo do sistema de provas legais
(por tal forma que o tribunal de recurso fizesse ele
próprio, uma valoração da prova, acabando, ao invés
de censurar a decisão, por proceder a um juízo, mas
com inversão das regras de julgamento) ou, então,
numa espécie de juízos por parâmetros” (O Caso
julgado Parcial, cit. págs. 566-567).
Por isso, conclui aquele ilustre processualista penal:
“Aquilo que o tribunal de recurso pode
essencialmente censurar, é a violação de todo o
conjunto de princípios que estão subtraídos à livre
apreciação da prova (que limitam o ‘arbítrio’ na sua
apreciação), exactamente: as regras da experiência
comum, o princípio in dubio pro reo, o princípio da
presunção de inocência e, em especial, aquele que
está directamente ligado à afirmação de uma
culpabilidade pelo facto, isenta de qualquer
referência a características pessoais do arguido.
Deverá ainda ter-se em conta este aspecto: o de que a
convicção só é verdadeiramente livre, quando se
realiza numa audiência regida pelos princípios da
publicidade, da imediação e da contraditoriedade na
produção da prova, bem como da concentração na
apreciação complexa de todos os argumentos
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Sempre se dirá que ao contrário do que por vezes se
pensa e se ouve a todo o tempo, a prova indiciária,
devidamente valorada, permite fundamentar uma
condenação (cfr., v.g., Cavaleiro de Ferreira, Curso
de Processo Penal, vol. II, reimp. Lisboa, 1981, págs.
288-295, Id., Curso de Processo Penal, 2º vol.,
Lisboa, 1986, págs. 207- 208, Germano Marques da
Silva, Curso de Processo Penal, Lisboa/ S. Paulo,
1993, vol. II, pág. 83 e Ac. do S.T.J. de 8-1-1995,
B.M.J. n.º 451, pág. 86 e Ac. da Rel. de Coimbra de
6-3-1996, Col. de Jur. ano XXI, tomo 2, pág. 44).
Ponto é que os indícios sejam graves, precisos e
concordantes, como se exprime o artigo 192º, n.º2 do
Código de Processo Penal Italiano.
Segundo Paolo Tonini, são graves os indícios que são
resistentes às objecções e que, portanto, têm uma
elevada capacidade de persuasão; são precisos
quando não são susceptíveis de diversas
interpretações, desde que a circunstância indiciante
esteja amplamente provada; são concordantes quando
convergem todos para a mesma direcção (La prova
penale, 4ª ed., Pádua, 2000, apud Eduardo Araújo da
Silva, Crime Organizado-procedimento probatório,
editora Atlas, São Paulo, 2003, pág. 157).
Ora, no caso em apreço os indícios recolhidos são
graves, precisos e concordantes, de molde a permitir
inferir pela participação do arguido recorrente como
co-autor do crime de lenocínio m causa nos autos.
Antes do mais, o arguido/recorrente encontrava-se no
estabelecimento em causa, quer quando das
vigilâncias, quer da operação policial que esteve na
origem da sua detenção. O próprio arguido não nega
este facto alegando que se tratava de um mero
assalariado, empregado de mesa.
No momento da intervenção policial, encontravam-se
nos anexos ao estabelecimento diversas cidadãs
brasileiras a relacionar-se sexualmente com clientes
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III- Dispositivo
Em face do exposto, acordam os juízes desta Relação
em negar provimento ao recurso, confirmando a
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