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Hábeas Corpus – Para Desentranhar Confissão Obtida Por Meio de

Tortura – Prova Ilícita e Adiamento do Júri.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR


DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE ............

DISTRIBUIÇÃO POR PREVENÇÃO HC nº ........


............... Câmara Criminal
Rel. Desor. ..................

"HABEAS CORPUS"
(Com Pedido de LIMINAR)
CÓDIGO TJ..... - .....

Colenda Câmara,
Eminente Relator,

........................, brasileiro(a),
(Est.civil), advogado regularmente inscrito na OAB..... sob o nº .....,
permissa máxima vênia vem perante a esta Egrégia Corte, com
fundamento no artigo 5º, LXVIII, da Constituição Federal, combinado
com artigo 647 e seguinte do Código de Processo Penal, impetrar uma
ordem de

"HABEAS CORPUS PREVENTIVO


COM PEDIDO DE LIMINAR
em favor do Paciente, ........................., brasileiro(a), Est.civil),
(Profissão), natural de ....................., filho de ..........................,
residente a rua ..........................., contra ato do Juíz da ....... Vara
Criminal de ......., face atraso na prestação jurisdicional, visando a
exclusão de seu interrogatório prestado perante a autoridade policial,
no dia ....................., (doc...), dos autos .........., vez que fora obtido
através de tortura, (doc...), com franca violação do art. 5º, inciso LVI,
da Constituição Federal, combinado com art. 157, do Código de
Processo Penal, com a nova redação dada pela neonata Lei
11.690/2008, constituindo notório constrangimento ilegal, com pedido
de ORDEM LIMINAR, para adiar a sessão de julgamento pelo
Tribunal do Júri da Comarca de ........, designada para dia ......... do
corrente ano, e no mérito determinar o desentranhamento do referido
depoimento face ao fatos e fundamentos a seguir perfilados:

SÚMULA DOS FATOS


1 O Paciente responde a ação penal
acima epigrafada, com julgamento pelo tribunal do Júri, na comarca
de ....., designado para a próxima ......................, tendo protocolizado o
pedido de desentranhamento de prova obtida por meio ilícito no
dia ...., (doc...), sem que até a presente data tenha a ilustre Juíz
da .......... Vara Criminal, apreciado o pedido, o que em caso de
indeferimemento na abertura dos trabalhos em plenário, acarretará um
irreparável prejuízo para a defesa do Paciente, vez que
inquestionavelmente o Ministério Público utilizará a versão
apresentada na fase policial, obtida através de tortura (doc......),
portanto inadmissível no processo, conforme comando normativo dos
dispositivos ut retro alinhados.

2 Conforme Termo de Declaração, em


apenso doc..., prestado perante a ..ª Promotoria de Justiça da Comarca
de ....., O Paciente, apresentou-se espontaneamente, incólume, no
quartel do ..º .... de ........, no dia ............., para delatar o famigerado
assassino e co-réu ......................, pela prática do homicídio perpetrado
contra a jovem ........................., cuja autoria até então estava ignorada
pelas autoridades policiais.
3 Porém, dois policiais militares,
conduziram o Acusado até o “lixão” da cidade de ......, onde o
torturaram barbaramente, com o objetivo de extorquir-lhe a versão
apresentada no interrogatório questionado, causando-lhe as lesões
descritas no Exame Médico em apenso, doc.., cujo original está
acostado nos autos da representação pela prisão preventiva, fato
também confirmado por familiares e amigos ouvidos durante o
persecutio criminnis in judicio (doc....).

4 É inquestionável, que embora a versão


fora introduzida por meio legal nos autos, através de interrogatório
policial, seu conteúdo é fruto de ação ilegítima por parte dos policiais
militares que o espancaram provocando lesões graves, com fratura do
braço, nariz, além de torturarem “rodando caneta nos dedos”, e
submetendo a espancamentos generalizados, o que contamina a
referida prova de ilicitude, sendo que sua utilização pela acusação e
permanência nos autos constitui constrangimento ilegal atentatório ao
seu status libertatis, sanável com o presente remédio heróico de
hábeas corpus.

DO DIREITO
Edita o neonato art. 157, do Código de
Processo Penal, acrescentado pela Lei 11.690/08:

Art. 157 - São inadmissíveis, devendo ser


desentranhadas do processo, as provas ilícitas,
assim entendidas as obtidas em violação a
normas constitucionais ou legais.

Parágrafo primeiro - São também inadmissíveis


as provas derivadas das ilícitas, salvo quando
não evidenciado o nexo de causalidade entre
umas e outras, ou quando as derivadas puderem
ser obtidas por uma fonte independente das
primeiras.
Parágrafo segundo - Considera-se fonte
independente aquela que por si só, seguindo os
trâmites típicos e de praxe, próprios da
investigação ou instrução criminal, seria capaz
de conduzir ao fato objeto da prova.

Parágrafo terceiro - Preclusa a decisão de


desentranhamento da prova declarada
inadmissível, esta será inutilizada por decisão
judicial, facultado às partes acompanhar o
incidente.
Parágrafo quarto - (VETADO)

A doutrina e a jurisprudência, já há
muito clamava pela regulamentação da matéria referente a
inadmissibilidade da utilização da prova ilícita no sistema jurídico
brasileiro, e somente, agora a partir da reforma introduzida pela nova
a Lei 11.690/2008, é que Lei ordinária tratou, de modo claro, da
disposição já vigorante na Lei Maior, (art. 5º, LVI, CF), que de forma
taxativa e garantista declarava inadmissíveis, no processo, as provas
obtidas por meios ilícitos”.

Com a novel sistemática legal poderia


até surgir eventual discussão, se o conceito de ilicitude previsto na
nova lei seria atinente ao significado de restrito, ou seja proibido por
lei, ou sob o prisma amplo: no sentido de contrário aos bons
costumes, à moral e os princípios gerais de direito, porém, à toda
evidência, a doutrina de forma unânime, já inclinou para a aceitação
no sentido de dar guarida à interpretação mais condizente com o texto
constitucional: toda prova ilegal ou ilegítima é ilícita, portanto
inadmissível no processo. A obtidas por meio de tortura é uma delas,
portanto: está vedada por lei.

No ensinamento de Nucci extrai-se


que “Constitucionalmente, preferimos o entendimento amplo do termo
ilícito, vedando-se a prova ilegal e a ilegítima. Nesse contexto,
abrem-se duas óticas, envolvendo o que é materialmente ilícito (a
forma de obtenção da prova é proibida por lei) e o formalmente
ilícito (a forma de introdução da prova no processo é vedada por lei).
(...) Em síntese, portanto, pode-se concluir que o processo penal deve
formar-se em torno da produção de provas legais e legítimas,
inadmintindo-se qualquer prova obtida por meio ilícito.”1

Assim sendo, não se poderia


questionar que no momento do interrogatório questionado, o Paciente
não estava sendo torturado, embora momentos antes fora
barbaramente espancado pelos policiais militares, presentes naquele
ato, exercendo manifesto poder intimidatório abusivo e ilegal.

Do escólio de Ada Pellegrini Grinover,


em sua obra “Nulidades do Processo Penal”:

“É por isso que a investigação e a luta contra


criminalidade devem ser conduzidas de uma
certa maneira, de acordo com um rito
determinado, na observênciade regras pré-
estabelecidas. Se a finalidade do processo não é
a de aplicar a pena ao réu de qualquer modo, a
verdade deve ser obtida de acordo com uma
forma moral inatacável”2

A novel legislação, regulamentando o


tema já inscrito na Constituição Federal, quer dizer que a prova é
ilegal toda vez que sua obtenção caracterize violação de normas legais
ou de princípios gerais do ordenamento, seja de natureza processual
ou de ordem material. Ou seja se a prova teve seu nascedouro na
tortura praticada pelos truculentos policiais militares pouco importa se
ela ingressou nos autos através de interrogatório válido. É ilícita e
deve ser extirpada dos autos, para não exercer seu efeito pernicioso no
espírito dos jurados que irão de forma soberana decidir o destino do
Réu.

1
Guilherme de Souza Nucci “Código de Processo Penal Comentado”, 2008, Ed. RT, pág. 349;
2
Ada Pellegrini Grionoves, e Outros “ As Nulidades no Processo Penal, Ed. Malheiros, 2ª Ed. pág.
105;
O Julgamento do Paciente pelo
Tribunal do Júri de ..............., está designado para a
próxima ....................., (doc...), o que importa em evidente periculum
in mora, caso de apreciação serôdia da ordem de liminar e o fumus
boni juris, evidencia-se na violação da norma constitucional inscrita
no art. 5º, LVI CF e artigo 157 do Código de Processo Penal.

Assim sendo é imperioso a concessão


da ORDEM LIMINAR determinando a suspensão da sessão de
julgamento pelo Tribunal do Júri de Anápolis, acima aludida, até
apreciação do mérito do presente writ, inaudita altera pars, como
forma de prevenir prejuízo irreparável ao satus libertatis do Paciente.

EX POSITIS
espera o Impetrante, seja a presente ordem de HABEAS CORPUS,
conhecida e deferida, para fazer cessar o constrangimento ilegal de
que está sendo vítima, o Paciente, pelos fatos e fundamentos ut retro
perfilados, oficiando-se a autoridade aqui nominada coatora, para
prestar suas informações em caráter de urgência, pois desta forma esse
Egrégio Sodalício, estará como de costume restabelecendo o império
da Lei, do Direito e da Excelsa JUSTIÇA.

Local, data

_________________
OAB

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