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I. Introdução:
1. Processos instaurados para apurar infrações do art. 165 do CTB, nos quais o
condutor se negou a realizar o exame de alcoolemia e o agente de trânsito preencheu o termo
de constatação de sinais de alteração da capacidade psicomotora, conduzindo o autuado à
presença da autoridade de polícia civil competente para apuração do crime do art. 306 do
mesmo diploma legal, têm aportado nesta Casa trazendo como ponto de controvérsia a
diferença de resultados entre o aludido termo e o laudo do exame clínico ao qual o suspeito é
submetido pela polícia judiciária. O assunto tem gerado polêmica e, para auxiliar os órgãos
integrantes do Sistema Nacional de Trânsito existentes no Estado de Santa Catarina a
enfrentarem essa questão, este Conselheiro, de ofício, realizou o presente estudo que agora
submete aos demais membros deste Colegiado para análise e discussão.
3. Partindo desse princípio, conforme a regra contida art. 332 do CPC articulado
com o art. 131 (o sistema de persuasão racional, como modelo de valoração da prova), é de se
notar não há hierarquia de provas, podendo ser utilizados meios de prova típicos e mesmo
atípicos, desde que moralmente legítimos.
7. Deve-se considerar, também, que mesmo que o exame clínico ateste que o
examinado não se encontrava sob influência de álcool quando da sua realização isso não
significa que, no momento da abordagem pelo agente de trânsito, a situação não fosse outra,
dada a efemeridade dos sinais e sintomas da embriaguez e, principalmente, considerando o
tempo médio que o organismo humano leva para absorver o álcool.
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(Fonte: http://www.alcoologia.net/Frames/fr_inftemsaude03.htm)
9. A figura acima evidencia que o corpo humano metaboliza até 20mg de álcool
em duas horas. Isso demonstra que uma hora, por exemplo, é tempo suficiente para que o
organismo metabolize mais álcool do que o necessário para configurar a infração
administrativa.
12. Outro aspecto a ser levado em consideração é que no caso da embriaguez, tanto
o exame clínico quanto a avaliação do agente de trânsito são baseados em indícios e vestígios
(meio de prova indireto), que, diferentemente do exame sanguíneo e daquele realizado por
apuração etílica do ar alveolar exalado pelo condutor (etilômetro), são vulneráveis na medida
em que o seu resultado depende do comportamento do avaliado durante o exame e de sinais
que, como visto acima, gradativamente vão se dissipando ou mesmo podem ser dissimulados.
13. De acordo com o art. 239 do Código de Processo Penal, considera-se indício a
circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o fato, autorize, por indução,
concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias. Assim são o laudo do exame clínico
e o auto de constatação de sinais de alteração da capacidade psicomotora que, partindo da
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análise dos sinais externados pelo avaliado, induzem a uma conclusão acerca de ele estar, ou
não, sob a influência de álcool. Todavia, por melhor que seja a técnica empregada, tais
exames não têm o condão de mensurar a quantidade de bebida alcoólica ingerida, e são
suscetíveis a subjetivismos, razão pela qual o § 2º do art. 3º da Resolução nº 432/13 do
Contran determina que nos procedimentos de fiscalização deve-se priorizar a utilização do
teste com etilômetro.
14. Neste ponto convém assinalar que se a produção da prova direta da presença de
álcool no organismo do avaliado mediante etilômetro não foi possível em decorrência da
oposição do acusado, não é lícito que ele se valha desta circunstância para se eximir da
responsabilidade decorrente do ato ilícito praticado, pois, com fundamento no art. 231 do
Código Civil, temos que aquele que se nega a submeter-se a exame necessário não pode se
aproveitar de sua recusa.
15. É bom deixar claro que não se está defendendo a prevalência do auto de
constatação do agente em face do laudo assinado pelo legista. O que se esta dizendo é que
cada episódio deve ser analisado de forma criteriosa pelo julgador, levando em consideração
as peculiaridades do caso concreto, não bastando simplesmente desmerecer um documento
em detrimento do outro quando houver divergência entre as conclusões neles averbadas.
a) havendo contradição entre o resultado do exame clínico com laudo conclusivo firmado por
médico perito e a constatação, pelo agente da Autoridade de Trânsito, dos sinais de alteração
da capacidade psicomotora do avaliado, não é lícito afirmar que a primeira sempre
prevalecerá em relação à segunda, pois não há hierarquia entre os meios de prova e o julgador
não está adstrito ao laudo;
b) mesmo que o exame clínico ateste que o examinado não se encontra sob influência de
álcool quando da sua realização isso não significa que, no momento da abordagem pelo
agente de trânsito, a situação não fosse outra, dada a efemeridade dos sinais e sintomas da
embriaguez e, principalmente, considerando o tempo médio que o organismo humano leva
para absorver o álcool, razão pela qual cada episódio deve ser analisado de forma criteriosa
pelo julgador, levando em consideração as peculiaridades do caso concreto, não bastando
simplesmente desmerecer um documento em detrimento do outro quando houver divergência
entre as conclusões neles averbadas.
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Contribuiu na elaboração do presente parecer o especialista em trânsito e ex-
conselheiro, Rubens Museka Junior.
Notas e Referências:
(1) CETRAN/SC, Parecer nº 179/2012, Relator Conselheiro José Vilmar Zimmermann, data
22/10/2012, disponível no endereço http://www.cetran.sc.gov.br, consulta realizada em
30/04/2014;