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ILUSTRÍSSIMO SENHOR DIRETOR DA JUNTA ADMINISTRATIVA DE INFRAÇÃO DA COMARCA DE

FORTALEZA-CE.

DA BREVE SÍNTESE DO OCORRIDO

A condutora no DIA 21 de Fevereiro de 2023, HORÁRIO 06:12, na RV CE 187 KM 153, em frente


a Policia Rodoviária Estadual fora atuada por infringir o disposto no art. 277 do CTB no
município de Ubajara.

Conforme descrição na notificação de autuação REC SUB TEST.EX CLIN, PERIC OU PROC Q
PERM CERT INFL ALC/SUB PSIC FORT ART.277. Quando da abordagem, a autoridade requereu
que a condutora realizasse o teste de etilômetro (bafômetro), não tendo recusa da
condutora em nenhum momento para fazê-lo.

Ocorre, que a condutora perguntou a autoridade se o teste havia mostrado alguma


alteração, pois em nada foi falado para a condutora, mesmo com a insistência dela em pedir
para visualizar o aparelho com os dados da medição. Imediatamente, a autoridade lavrou o
auto de infração, ora objeto da presente impugnação, enquadrando o condutor na infração
de trânsito descrita como “Condutor que se recusar a se submeter a qualquer dos proc prev
no art. 277 do CTB”, sendo que não houve a recusa em nenhum momento. A condutora
permaneceu no local, demonstrando à autoridade policial estar plenamente apta a conduzir
o veículo, sem esboçar qualquer sinal de alteração da capacidade psicomotora, razão pela
qual seriam insubsistentes a multa aplicada.

A autoridade policial manteve a aplicação da multa contudo, liberou a ora impugnante a se


retirar do local conduzindo o veículo, o que por si só configura ato contraditório à aplicação
da multa e prova da ausência de qualquer incapacidade psicomotora por parte do condutor
autuado. Destaca-se que, diferente da descrição da infração, a autoridade não solicitou ou
realizou quaisquer dos procedimentos complementares e essenciais à aplicação da multa
prevista pelo art. 165 do CTB, conforme dispõe o art. 277, § 2º, do CTB.

Cabe ressaltar, que no próprio documento de notificação de autuação, no campo de


tipificação de infração, onde consta MEDIÇÃO REALIZADA, informa “ não disponível”, assim
como também no campo onde diz: limite regulamentado, informa “ não disponível”, e
continua, onde deveria constar valor considerado, pasmem, também “ não disponível”.

Dessa forma, patente que o auto de infração não atendeu a todos os requisitos
procedimentais, devendo o mesmo ser anulado, como ficará demonstrado ao final.

DA LEGISLAÇÃO SOBRE A MATÉRIA

Para identificação do estado de embriaguez o art. 277 do CTB determina “teste, exame


clínico, perícia ou outro procedimento que, por meios técnicos ou científicos, na forma
disciplinada pelo Contran, permita certificar influência de álcool ou outra substância
psicoativa que determine dependência”. O parágrafo 2º ainda prevê a utilização de imagem,
vídeo e outras provas em direito admitidas.
Art. 277. O condutor de veículo automotor envolvido em acidente de trânsito ou que for alvo
de fiscalização de trânsito poderá ser subme tido a teste, exame clínico, perícia ou outro
procedimento que, por meios técnicos ou científicos, na forma disciplinada pelo Contran,
permita certificar influência de álcool ou outra substância psicoativa que determine
dependência.  (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012)

§ 1º  (Revogado).  (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012)


§ 2º A infração prevista no art. 165 também poderá ser caracterizada mediante imagem,
vídeo, constatação de sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da
capacidade psicomotora ou produção de quaisquer outras provas em direito
admitidas.  (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012)
§ 3º Serão aplicadas as penalidades e medidas administrativas estabelecidas no art. 165
deste Código ao condutor que se recusar a se submeter a qualquer dos procedimentos
previstos no caput deste artigo.  (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008)
Os procedimentos de fiscalização do consumo de álcool ou de outras substâncias psicoativas
são regulamentados pela Resolução nº 432/2013 do Conselho Nacional de Trânsito –
CONTRAN. Para a regular identificação da alteração da capacidade psicomotora a referida
resolução exige a realização de, pelo menos um dos seguintes itens: i) exame de sangue; ii)
exames realizados por laboratórios especializados; iii) teste em etilômetro (bafômetro); e, de
extrema pertinência ao caso, iv) verificação dos sinais que indiquem a alteração da
capacidade psicomotora do condutor:
Art. 3º  A confirmação da alteração da capacidade psicomotora em razão da influência de
álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência dar-se-á por meio de,
pelo menos, um dos seguintes procedimentos a serem realizados no condutor de veículo
automotor:
I – exame de sangue;
II – exames realizados por laboratórios especializados, indicados pelo órgão ou entidade de
trânsito competente ou pela Polícia Judiciária, em caso de consumo de outras substâncias
psicoativas que determinem dependência; III – teste em aparelho destinado à medição do
teor alcoólico no ar alveolar (etilômetro);IV – verificação dos sinais que indiquem a alteração
da capacidade psicomotora do condutor.
§ 1º Além do disposto nos incisos deste artigo, também poderão ser utilizados prova
testemunhal, imagem, vídeo ou qualquer outro meio de prova em direito admitido.
§ 2º Nos procedimentos de fiscalização deve-se priorizar a utilização do teste com
etilômetro.
§ 3º Se o condutor apresentar sinais de alteração da capacidade psicomotora na forma do
art. 5º ou haja comprovação dessa situação por meio do teste de etilômetro e houver
encaminhamento do condutor para a realização do exame de sangue ou exame clínico, não
será necessário aguardar o resultado desses exames para fins de autuação administrativa.

Para identificação dos sinais de alteração da capacidade psicomotora prevista no inciso IV do


art. 3º a referida resolução exige, ao menos, a constatação pela autoridade de trânsito, que
deverá considerar o conjunto de sinais previstos no Anexo II da resolução:
DOS SINAIS DE ALTERAÇÃO DA CAPACIDADE PSICOMOTORA

Art. 5º Os sinais de alteração da capacidade psicomotora poderão ser verificados por:


I – exame clínico com laudo conclusivo e firmado por médico perito; ou
II – constatação, pelo agente da Autoridade de Trânsito, dos sinais de alteração da
capacidade psicomotora nos termos do Anexo II.
§ 1º Para confirmação da alteração da capacidade psicomotora pelo agente da Autoridade
de Trânsito, deverá ser considerado não somente um sinal, mas um conjunto de sinais que
comprovem a situação do condutor.
§ 2º Os sinais de alteração da capacidade psicomotora de que trata o inciso II deverão ser
descritos no auto de infração ou em termo específico que contenha as informações mínimas
indicadas no Anexo II, o qual deverá acompanhar o auto de infração.

Por fim, como medida administrativa, a resolução determina não só a apreensão do


documento de habilitação (art. 10), mas também o veículo conduzido (art. 9º). O veículo só
será liberado para condutor habilitado que não demonstre qualquer alteração da capacidade
psicomotora:

DAS MEDIDAS ADMINISTRATIVAS


Art. 9º O veículo será retido até a apresentação de condutor habilitado, que também será
submetido à fiscalização.
Parágrafo único. Caso não se apresente condutor habilitado ou o agente verifique que ele
não está em condições de dirigir, o veículo será recolhido ao depósito do órgão ou entidade
responsável pela fiscalização, mediante recibo.
Art. 10. O documento de habilitação será recolhido pelo agente, mediante recibo, e ficará
sob custódia do órgão ou entidade de trânsito responsável pela autuação até que o condutor
comprove que não está com a capacidade psicomotora alterada, nos termos desta
Resolução.
§ 1º Caso o condutor não compareça ao órgão ou entidade de trânsito responsável pela
autuação no prazo de 5 (cinco) dias da data do cometimento da infração, o documento será
encaminhado ao órgão executivo de trânsito responsável pelo seu registro, onde o condutor
deverá buscar seu documento.
§ 2º A informação de que trata o § 1º deverá constar no recibo de recolhimento do
documento de habilitação.

A simples análise do auto de infração e do recibo de recolhimento de documentos em anexo


é suficiente para demonstrar o descumprimento das regras definidas pelo CTB e pela
Resolução CONTRAN 432/2013 pela autoridade de trânsito.

DA INCONSISTÊNCIA DO AUTO DE INFRAÇÃO


“Não é a chancela da autoridade que valida o ato e o torna respeitável e obrigatório. É
a  legalidade  a pedra de toque de todo o ato administrativo”  [1]

A doutrina do direito administrativo ensina que os atos administrativos devem ser motivados
para produzir efeitos válidos sob os administrados. Ensina a doutrina de Bandeira de Mello
que entre os pressupostos de validade: “Motivo  é o pressuposto de fato que autoriza ou
exige a prática do ato. É, pois, a situação do mundo empírico que deve ser tomada em conta
para a prática do ato. Logo, é externo ao ato. Inclusive o antecede. Por isso não pode ser
considerado como parte, como elemento do ato.”  [2]

Perante a legislação federal, os pressupostos objetivos de validade do ato administrativo


estão positivados no art. 50 da Lei 9.784/1999, o qual determina de forma taxativa a
necessidade de motivação dos atos administrativos:
Art. 50. Os atos administrativos  deverão  ser motivados, com indicação dos fatos e dos
fundamentos jurídicos, quando:
I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;
IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;
V - decidam recursos administrativos;
VI - decorram de reexame de ofício;
VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de pareceres,
laudos, propostas e relatórios oficiais;
VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato administrativo.
§ 1º  A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração
de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou
propostas, que, neste caso, serão parte integrante do ato.
§ 2º Na solução de vários assuntos da mesma natureza, pode ser utilizado meio mecânico
que reproduza os fundamentos das decisões, desde que não prejudique direito ou garantia
dos interessados.
§ 3º A motivação das decisões de órgãos colegiados e comissões ou de decisões orais
constará da respectiva ata ou de termo escrito.

Dessa forma, seja em razão do ensinamento doutrinário ou pela norma positivada, claro está
que o motivo é condição de validade de qualquer ato administrativo, sendo a motivação o
ato que transparece aquilo que o agente apresenta como causa do ato administrativo.

Partindo para o exame do caso em tela, o confronto da legislação de trânsito com os fatos
ocorridos é suficiente para comprovar a inconsistência do auto de infração, irregularidade
que clama pela sua anulação.

Sobre a multa aplicada, observa-se que a autoridade policial não realizou quaisquer dos
procedimentos definidos no art. 5º da Resolução CONTRAN 432/2013, sendo que o auto de
infração não consta quaisquer dos sinais enumerados no Anexo II da referida resolução.

Vale destacar que a multa tem como pressuposto o estado de embriaguez e não a simples
negativa em se submeter ao teste do “bafômetro”. Ademais, a condutora não negativa da
condutora em realizar o teste. Assim, a ausência de constatação de alteração psicomotora
por si só é causa de sua nulidade, a teor do princípio da motivação. É da jurisprudência:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE. AUTO DE INFRAÇÃO. TESTE


DE ALCOOLEMIA (BAFÔMETRO). PEDESTRE. PRELIMINAR DE JULGAMENTO EXTRA PETITA.
REJEIÇÃO. MÉRITO: SUBMISSÃO DE PEDESTRE À REALIZAÇÃO DE TESTE DE BAFÔMETRO.
NEGATIVA. APLICAÇÃO DE MULTA.  MOTIVAÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO.
INSUBSISTÊNCIA.  MEDIDA ANTECIPATÓRIA DE TUTELA. MULTA DIÁRIA (ASTREINTES).
CRITÉRIOS DE FIXAÇÃO. RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. REDUÇÃO. NÃO
CABIMENTO. SENTENÇA MANTIDA. 1. CONSTATADO QUE O PROVIMENTO JURISDICIONAL
EXARADO GUARDA CORRELAÇÃO COM O PEDIDO FORMULADO NA INICIAL, DEVE SER
REJEITADA A PRELIMINAR DE NULIDADE DA SENTENÇA POR JULGAMENTO EXTRA PETITA. 2.
DEMONSTRADO QUE A ABORDAGEM POLICIAL OCORREU QUANDO A PARTE SE
ENCONTRAVA NA CONDIÇÃO DE PEDESTRE, E  TENDO EM VISTA NÃO HAVER
COMPROVAÇÃO DE QUE O AUTOR HAVIA INGERIDO BEBIDA ALCOÓLICA EM MOMENTO
ANTERIOR, TEM-SE POR CONFIGURADA A NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO POR
NEGATIVA DE REALIZAÇÃO DO TESTE DE ALCOOLEMIA (BAFÔMETRO).  3. O VALOR DA
MULTA DIÁRIA (ASTREINTES) TEM POR ESCOPO COMPELIR O OBRIGADO AO CUMPRIMENTO
DA DECISÃO JUDICIAL, DEVENDO SER MANTIDO O VALOR ARBITRADO, QUANDO SE
MOSTRAR RAZOÁVEL E PROPORCIONAL. 4. RECURSO DE APELAÇÃO CONHECIDO.
PRELIMINAR REJEITADA. NO MÉRITO, NÃO PROVIDO. (TJ-DF - APC: 20110110557849 DF
0016139-72.2011.8.07.0001, Relator: NÍDIA CORRÊA LIMA, Data de Julgamento:
09/04/2014, 3ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE : 29/04/2014 . Pág.: 132)

Por fim, a autoridade também agiu contra legis ao autorizar o ora impugnante a conduzir o
veículo. Tal ato contraditório, deixa claro nova violação ao procedimento definido pela
Resolução CONTRAN 432/2013 como é suficiente para confirmar a inexistência de alteração
psicomotora do condutor. Portanto, inexiste no auto de infração relação de pertinência
lógica entre os fatos ocorridos e o ato praticado.
Diante de vício insanável, a administração deve anular seus próprios atos. Esse é o comando
do princípio da autotutela administrativa, positivada no art.  53 da Lei 9.784/1999 (Processo
Administrativo Federal):

Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de vício de
legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os
direitos adquiridos.

Por fim, em razão dos vícios insanáveis no procedimento que acarretou na expedição do
auto de infração impugnado e pela completa inexistência de qualquer sinal de alteração
psicomotora ou embriaguez da condutora, assim, como o próprio documento não informa os
valores minimamente necessários para constatar que ocorreu a infração. Portanto, o
reconhecimento da nulidade do auto de Infração nº sc00239728 é medida que se impõe.

PEDIDO
Por todo o exposto, ficou demonstrada a inconsistência do auto de infração, REQUER o
acolhimento da presente impugnação e o reconhecimento da insubsistência do auto de
Infração nº sc00239728, determinando-se o arquivamento do mesmo, nos termos do
art. 281, I, do CTB.

Pede deferimento.

Fortaleza, 10 de Abril de 2023

CPF nº XXXXX
Documentos em anexo:
Doc. 01 – Requerimento de defesa;
Doc. 02 – Cópia do auto de infração;
Doc. 03 – Documento de identidade do condutor.

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