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ILUSTRÍSSIMO (A) SENHOR (A) PRESIDENTE DA JUNTA ADMINISTRATIVA DE

RECURSO DE INFRAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO

JOAÕ MIGUEL DE FREITAS DELIBERTO FERREIRA, brasileiro, solteiro, inscrito no RG


sob o nº485150785 e CPF nº 409.354.618-50, com inscrição na CNH nº 05246332125, residente
e domiciliado na Rua Joao Machado Garcia, n° 544, jardim Paulista, Orindiuva - SP, CEP
15.480-000, tendo sido autuado através do auto de infração n° 1DA683705 em anexo, vem, a
presença de Vossa Senhoria, com fundamento no artigo 285 do Código de Trânsito Brasileiro,
interpor

RECURSO POR RECUSA AO TESTE DO BAFÔMETRO


A infração objeto do presente recurso é a seguinte:
Auto de Infração de Trânsito nº 1DA6875
Código Órgão Autuador n° 126200
Placa do Veículo Autuado – ETR-7465
RENAVAN - 284906859
DOS FATOS
Consta no Auto de Infração de Trânsito, que no dia 30/07/2022, por volta das 03:10 horas, o
recorrente teria infringido o artigo 165-A Recusar-se a ser submetido a teste, exame clínico,
perícia ou outro procedimento que permita certificar influência de álcool ou outra substância
psicoativa, na forma estabelecida pelo art. 277 do Código de Trânsito Brasileiro - CTB, ocasião
em que restou aplicada a penalidade.
Ocorre que o Auto de Infração de Trânsito é flagrante nulo, razão pela qual a decisão da
autoridade de trânsito que manteve a penalidade merece ser reformada.

DA RECUSA AO TESTE DO BAFÔMETRO


O Recorrente foi autuado pelo cometimento de infração de trânsito consistente em Recusar-se a
ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro procedimento que permita certificar
influência de álcool ou outra substância psicoativa, na forma estabelecida pelo art. 277 , prevista
no artigo 165-A do CTB.
Acontece que a mera recusa do condutor em se submeter aos exames de alcoolemia, sem que
haja suspeita pautada em elementos plausíveis para desconstituir a presunção de inocência de
que milita a seu favor, não é suficiente para sustentar a punição por recusa ao teste do
bafômetro.
De acordo com a redação do artigo 165-A do CTB, e a lógica que dele se depreende, somente é
possível autuar o condutor que se recuse a realizar os testes caso esse apresente sinais externos
de influência de álcool -, os quais deverão ser devidamente certificados por meio do Termo
próprio, com descrição de todas as características que levam à conclusão e na presença de
testemunha idônea, ou outros meios, descritos no art. 277 do CTB.
Desse modo, não sendo constatado formalmente que o cidadão conduzia veículo automotor sob
sinais externos de álcool ou substância psicoativa, não há infração de trânsito.
Ademais, autuar o condutor que não apresenta qualquer ameaça à segurança no trânsito, pela
mera recusa em realizar os testes oferecidos pelos agentes de trânsito, configura arbitrariedade.
Assim, a infração aplicada com fundamento no artigo 165-A do CTB, viola frontalmente os
Princípios Constitucionais de Liberdade.
Ora, somente é possível certificar uma situação quando houver, pelo menos, indícios mínimos
de tal estado. Desse modo, não sendo constatado formalmente pelo agente de trânsito qualquer
sinal de que o autor estava conduzindo veículo sob efeito de álcool ou substância psicoativa, a
autuação pelo artigo 165-A do CTB configura ato arbitrário e sem motivação.
Não é demasia relembrar que os atos da Administração devem ser revestir de LEGALIDADE,
isto é, devem se dar na forma estritamente prevista na lei (ou em regulamentos). Exorbitado
isso, trata-se de ato ilegal.
Registre-se, por oportuno, que a penalidade prevista no tipo administrativo em questão é de
“multa (dez vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses”, ou seja, idêntica a da
infração ao artigo 165 do CTB, que penaliza a comprovada condução sob influência de álcool
ou substância psicoativa.
Assim, o artigo 165-A do CTB, quando aplicado de maneira avulsa de qualquer prova do sinal
externo de embriaguez do condutor, fere frontalmente o Princípio da Proporcionalidade, na
medida em que a reprovação social da infração por mera recusa aos testes de comprovação da
alcoolemia é muito menor do que no caso da infração ao artigo 165 do CTB, propriamente, pois
nesta hipótese o condutor comprovadamente dirige veículo sob a influência de álcool e/ou
substâncias psicoativas, o que hipoteticamente, à luz princípios constitucionais, exigiria maior
rigidez no tratamento.
Cabe destacar que o artigo 277, § 3º, do CTB continua em vigor, o qual indica outros meios
capazes de aferir a embriaguez:
Art. 277. O condutor de veículo automotor envolvido
em acidente de trânsito ou que for alvo de
fiscalização de trânsito poderá ser submetido a teste,
exame clínico, perícia ou outro procedimento que, por
meios técnicos ou científicos, na forma disciplinada
pelo Contran, permita certificar influência de álcool
ou outra substância psicoativa que determine
dependência.
§ 2º A infração prevista no art. 165 também poderá
ser caracterizada mediante imagem, vídeo,
constatação de sinais que indiquem, na forma
disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade
psicomotora ou produção de quaisquer outras provas
em direito admitidas.
Ou seja, caberia ao Agente descrever quaisquer outros elementos capazes de aferir a
INFLUÊNCIA do ÁLCOOL. O que em momento algum restou evidenciada.
Ademais os artigos 3º e 5º da Resolução nº 432/13 do CONTRAN, que dispõe sobre os
procedimentos a serem adotados pelas autoridades de trânsito e seus agentes na fiscalização do
consumo de álcool, dispõem:
Art. 3º A confirmação da alteração da capacidade
psicomotora em razão da influência de álcool ou de
outra substância psicoativa que determine
dependência dar-se-á por meio de, pelo menos, um
dos seguintes procedimentos a serem realizados no
condutor de veículo automotor:
I – exame de sangue;
II – exames realizados por laboratórios especializados,
indicados pelo órgão ou entidade de trânsito
competente ou pela Polícia Judiciária, em caso de
consumo de outras substâncias psicoativas que
determinem dependência;
III – teste em aparelho destinado à medição do teor
alcoólico no ar alveolar (etilômetro);
IV – verificação dos sinais que indiquem a alteração
da capacidade psicomotora do condutor.
§ 1º Além do disposto nos incisos deste artigo,
também poderão ser utilizados prova testemunhal,
imagem, vídeo ou qualquer outro meio de prova em
direito admitido.
§ 2º Nos procedimentos de fiscalização deve-se
priorizar a utilização do teste com etilômetro.
§ 3º Se o condutor apresentar sinais de alteração da
capacidade psicomotora na forma do art.
5º ou haja comprovação dessa situação por meio do
teste de etilômetro e houver encaminhamento do
condutor para a realização do exame de sangue ou
exame clínico, não será necessário aguardar o
resultado desses exames para fins de autuação
administrativa.
(...)
DOS SINAIS DE ALTERAÇÃO DA CAPACIDADE
PSICOMOTORA
Art. 5º Os sinais de alteração da capacidade
psicomotora poderão ser verificados por:
I – exame clínico com laudo conclusivo e firmado por
médico perito; ou,
II – constatação, pelo agente da Autoridade de
Trânsito, dos sinais de alteração da capacidade
psicomotora nos termos do Anexo II.
§ 1º Para confirmação da alteração da capacidade
psicomotora pelo agente da Autoridade de Trânsito,
deverá ser considerado não somente um sinal, mas um
conjunto de sinais que comprovem a situação do
condutor.
§ 2º Os sinais de alteração da capacidade psicomotora
de que trata o inciso II deverão ser descritos no auto
de infração ou em termo específico que contenha as
informações mínimas indicadas no Anexo II, o qual
deverá acompanhar o auto de infração.
Destaca-se que o Anexo II da referida resolução estabelece informações mínimas que deverão
constar no termo mencionado no Auto de Infração, para constatação dos sinais de alteração da
capacidade psicomotora pelo agente da Autoridade de Trânsito, sendo que nenhum dos sinais ali
previstos foram incluídos no Auto de Infração.
Desse modo, não sendo constatado formalmente pelo agente de trânsito qualquer sinal de que o
autor estava conduzindo veículo sob efeito de álcool ou substância psicoativa, a autuação pelo
artigo 165-A do CTB configura ato arbitrário e sem motivação.
Não obstante, mesmo examinando apenas as disposições dos artigos 277 e 165-A do CTB, fica
evidente que o objetivo da reprimenda não é punir quem, sem externar nenhum sinal ou sintoma
de que esteja sob a influência de álcool ou outra substância psicoativa, se recuse a se submeter
aos testes e exames para apuração da alcoolemia.
Se não há suspeita, não há o que ser certificado, tornando-se arbitrária a submissão do condutor
ao teste e, portanto, incabível a imputação pela infração do art. 165-A do CTB.
Por essa razão, quando optar por fazê-lo é imperioso que se esclareça o porquê da medida, sob
pena dessa providência se tornar arbitrária, discriminatória, parcial, tendenciosa e ilegal.
Sob essa perspectiva, a mera recusa do condutor em se submeter aos exames de alcoolemia, sem
que haja suspeita pautada em elementos plausíveis para desconstituir a presunção de inocência
que milita a seu favor, não é suficiente para sustentar a punição prevista no art. 165-A do CTB.
Portanto, configura sanção abusiva a aplicação de penalidade tão gravosa à simples recusa do
teste do etilômetro, cabendo a anulação aqui pleiteada.

VIOLAÇÃO DE PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS


A invalidação de um ato administrativo por violação dos princípios constitucionais não importa,
necessariamente, no exame de mérito, mas sim, da investigação acerca do atendimento dos
limites impostos pelo Direito ao administrador quando do exercício de sua discricionariedade.
No caso em tela, os fatos narrados, somente evidenciam a inobservância à lei, ferindo de morte
o princípio constitucional da legalidade, que limita e vincula as decisões administrativas,
conforme refere Hely Lopes Meirelles:
“A legalidade, como princípio de administração (CF, art. 37, caput), significa que o
administrador público está, em toda a sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da
lei e às exigências do bem comum, e deles não se pode afastar ou desviar, sob pena de
praticar ato inválido e expor-se a responsabilidade disciplinar, civil e criminal, conforme o
caso.
A eficácia de toda atividade administrativa está condicionada ao atendimento da Lei e do
Direito. É o que diz o inc. I do parágrafo único do art. 2º da lei9.784/99. Com isso, fica
evidente que, além da atuação conforme à lei, a legalidade significa, igualmente, a
observância dos princípios administrativos.
Na Administração Pública não há liberdade nem vontade pessoal. Enquanto na
administração particular é lícito fazer tudo que a lei não proíbe, na Administração Pública só
é permitido fazer o que a lei autoriza. A lei para o particular significa ‘poder fazer assim’;
para o administrador público significa ‘deve fazer assim’."(in Direito Administrativo
Brasileiro, Editora Malheiros, 27ª ed., p. 86),”
No mesmo sentido, leciona Diógenes Gasparini:
“O Princípio da legalidade significa estar a Administração Pública, em toda sua atividade,
presa aos mandamentos da lei, deles não se podendo afastar, sob pena de invalidade do ato e
responsabilidade do seu autor. Qualquer ação estatal sem o correspondente calço legal ou
que exceda o âmbito demarcado pela lei, é injurídica e expõe à anulação. Seu campo de ação,
como se vê, é bem menor que o do particular. De fato, este pode fazer tudo que a lei permite e
tudo o que a lei não proíbe; aquela só pode fazer o que a lei autoriza e, ainda assim, quando e
como autoriza. Vale dizer, se a lei nada dispuser, não pode a Administração Pública agir,
salvo em situação excepcional (grande perturbação da ordem, guerra)” (in GASPARINI,
Diógenes, Direito Administrativo, Ed. Saraiva, SP, 1989, p.06)”
Com efeito, no controle da discricionariedade administrativa, aos princípios constitucionais da
legalidade, impessoalidade, moralidade, eficiência devem ser aliados o princípio da
razoabilidade e o postulado da proporcionalidade como parâmetros de ponderação de valores.
Dessa forma, somente é válido o auto de infração de trânsito que preenche todos os requisitos
estabelecidos na lei de regência, fornecendo ao autuado os elementos necessários e
indispensáveis à plenitude de sua defesa.
Portanto, uma vez demonstrado o descumprimento ao devido processo legal e ao princípio da
legalidade, tem-se por inequívoco o direito à nulidade do Auto de Infração.
DA AUSÊNCIA DE MOTIVIAÇÃO DA DECISÃO QUE MANTEVE A PENALIDADE
Os atos administrativos questionados decorrem do genuíno Poder de Império de Estado. Daí por
que, embora possam restringir direitos dos administrados em prol da coletividade, hão de ser
expedidos de maneira fundamentada, a fim de que, não só o administrado, como também toda a
sociedade civil possa manter um controle sobre a sua juridicidade.
Em outras palavras, o dever de fundamentação decorre tanto da necessidade de se assegurar a
ampla defesa e o devido processo ao administrado, quanto o princípio constitucional da
publicidade - pelo qual a cidadania pode exercer o controle da administração, sobretudo a partir
da análise dos motivos que deflagram a expedição de atos que limitam direitos dos
administrados.
Não é em vão, por exemplo, que o artigo 50 da Lei de Processo Administrativo preveja que
deve ser fundamentado o ato que:
Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos
fundamentos jurídicos, quando:
I- neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
II- imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
Sobre a motivação dos atos jurisdicionais, Diogo de Figueiredo Moreira Neto explana que:
Motivar é enunciar expressamente – portanto explícita ou implicitamente – as razões de fato e
de direito que autorizam ou determinam a prática de um ato jurídico. O Estado, ao assim
decidir, vincula-se tanto ao dispositivo legal invocado como aos fatos sobre os quais se baseou,
explícita ou implicitamente, para formar sua convicção: no Direito Público, portanto, decidir é
vincular-se, pois inexistem decisões livres.
Os motivos são os pressupostos jurídicos e factuais que fundamentam a aplicação casuística de
um comando legal, tanto quando o Estado deva decidir ex of icio, quando deva fazê-lo sob
provocação, não importando se o ato de concreção for parcial, definindo, ainda em tese, um
resíduo normativo, ou total, alcançando e esgotando o comando legal editado para o caso em
hipótese.
Como se indicou, o princípio da motivação é instrumental e corolário do princípio do devido
processo da lei (art. 5.º, LIV, da Constituição), tendo necessária aplicação às decisões
administrativas e às decisões judiciárias, embora se encontre, também, implícito no devido
processo de elaboração das normas legais no sentido amplo (cf. arts. 59 a 69 da Constituição e
Regimentos das casas legislativas).
Por decisão, não se deve entender, porém, qualquer ato administrativo ou judiciário que apenas
contenha um mandamento, senão aquele cujo comando aplique uma solução a litígios,
controvérsias e dúvidas, conhecendo, acolhendo ou denegando pretensões, através das
adequadas vias processuais, ainda que atuando de ofício; essa, a ratio do art. 50 da Lei 9.784, de
29 de janeiro de 1999 (Lei de Processo Administrativo Federal), que impõe à Administração
Pública o dever de motivar os atos administrativos que neguem, limitem ou afetem direitos ou
interesses dos administrados.
A obrigatoriedade de motivar decisões, tradicional no Direito Processual, geralmente expressa
quanto aos atos decisórios jurisdicionais típicos do Poder Judiciário, estendeu-se, com a Carta
de 1988, a seus próprios atos administrativos com características decisórias (art. 93, X). Por via
de consequência, o princípio da motivação abrange as decisões administrativas tomadas por
quaisquer dos demais Poderes, corolário inafastável do princípio do devido processo da lei.
Com efeito, se o Poder Judiciário, a quem caberá sempre o controle final da juridicidade de
qualquer decisão, está obrigado à motivação das suas decisões administrativas, com mais razão,
a ela também estarão os Poderes Legislativo, Executivo e os órgãos constitucionalmente
autônomos, cada um em suas respectivas decisões administrativas, pois só assim ficará
garantida a efetividade do controle (Curso de direito administrativo: parte introdutória, parte
geral e parte especial / Diogo de Figueiredo Moreira Neto. – 16. ed. rev. e atual. – Rio de
Janeiro : Forense, 2014, p.153-154).
Em resumo: ato desprovido de motivação é ato insuscetível de compor objeto do controle
analítico de legalidade. Logo, se impõe a anulação do auto de infração de trânsito, sob pena de
se criar um processo administrativo de nítido cunho inquisitório, na medida em que tolhe o
interessado de expender, dialeticamente, os argumentos necessários à pretensão anulatória.
DOS PEDIDOS
Diante de todo o exposto REQUER:

a) Que seja acolhida a preliminar de nulidade de vício de formação do auto de infração,


declarando-o nulo de pleno direito

b) Que a Constituição da República Federativa do Brasil não seja violada a fim de que um
erro do legislador infraconstitucional prevaleça.

c) Que seja concluída a ausência imprestabilidade da única prova utilizada e, por


consequência, reconhecer a ausência de comprovação de que o Recorrente dirigia sob
efeito de álcool,

d) procedender-se pelo arquivamento do Auto de Infração e que julgue seu registro


insubsistente, conforme inciso I do art.  281 da Lei 9.503/97 e, por consequência, o
cancelamento da multa aplicada.

Termos em que,
Pede e espera Deferimento,

Orindiuva – SP, 31 de agosto de 2022

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JOAO MIGUEL DE FREITAS DELIBERTO FERREIRA
CNH N° 05246332125

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