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USAR CARTEIRA PARA SE LOCOMOVER PARA O TRABALHO:

Presenciamos, por exemplo, muitos autos de infração serem


preenchidos sem a anotação da marca, modelo e número de
série do aparelho bafômetro, que é exigência do Contran,
mesmo no caso de recusa ao teste. É uma ilegalidade.
ILUSTRÍSSIMO (A) SENHOR (A) PRESIDENTE DA JUNTA ADMINISTRATIVA DE RECURSO DE
INFRAÇÃO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

RECORRENTE..., nacionalidade..., inscrito (a) no RG sob o nº..., CNH nº..., e CPF nº..., residente
e domiciliado (a) em..., nº..., Bairro..., Cidade..., UF..., CEP..., tendo sido autuado através do
auto de infração em anexo, vem, a presença de Vossa Senhoria, com fundamento no artigo 285
do Código de Trânsito Brasileiro, interpor

Recurso por Recusa ao teste do bafômetro

em face da decisão da autoridade de trânsito que indeferiu a defesa prévia apresenta contra o
auto de infração de trânsito nº..., pelas razões de fato e de direito que passa a expor.

DA INFRAÇÃO DE TRÂNSITO E DO VEÍCULO

A infração objeto do presente recurso é a seguinte:

Auto de Infração de Trânsito nº...

Código Órgão Denatran...

Código Órgão Autuador...

Placa do Veículo Autuado...

RENAVAN...

DOS FATOS
Trata-se de recurso administrativo interposto em razão da autoridade de trânsito ter indeferido
a defesa prévia apresentada, mantendo equivocadamente a penalidade ao recorrente, como
será demonstrado a seguir.

Consta no Auto de Infração de Trânsito, que no dia..., por volta das... horas, o recorrente teria
infringido o artigo... do Código de Trânsito Brasileiro - CTB, ocasião em que restou aplicada a
penalidade de multa no valor de R$... e perda de... pontos na – Carteira Nacional de
Habilitação - CNH.

Ocorre que o Auto de Infração de Trânsito é flagrante nulo, razão pela qual a decisão da
autoridade de trânsito que manteve a penalidade merece ser reformada.

DA RECUSA AO TESTE DO BAFÔMETRO

O Recorrente foi autuado pelo cometimento de infração de trânsito consistente em Recusar-se


a ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro procedimento que permita certificar
influência de álcool ou outra substância psicoativa, na forma estabelecida pelo art. 277 ,
prevista no artigo 165-A do CTB.

Acontece que a mera recusa do condutor em se submeter aos exames de alcoolemia, sem que
haja suspeita pautada em elementos plausíveis para desconstituir a presunção de inocência de
que milita a seu favor, não é suficiente para sustentar a punição por recusa ao teste do
bafômetro.

De acordo com a redação do artigo 165-A do CTB, e a lógica que dele se depreende, somente é
possível autuar o condutor que se recuse a realizar os testes caso esse apresente sinais
externos de influência de álcool -, os quais deverão ser devidamente certificados por meio do
Termo próprio, com descrição de todas as características que levam à conclusão e na presença
de testemunha idônea, ou outros meios, descritos no art. 277 do CTB.

Desse modo, não sendo constatado formalmente que o cidadão conduzia veículo automotor
sob sinais externos de álcool ou substância psicoativa, não há infração de trânsito.

Destarte, autuar o condutor que não apresenta qualquer ameaça à segurança no trânsito, pela
mera recusa em realizar os testes oferecidos pelos agentes de trânsito, configura
arbitrariedade.

Assim, a infração aplicada com fundamento no artigo 165-A do CTB, viola frontalmente os
Princípios Constitucionais de Liberdade.
Ora, somente é possível certificar uma situação quando houver, pelo menos, indícios mínimos
de tal estado. Desse modo, não sendo constatado formalmente pelo agente de trânsito
qualquer sinal de que o autor estava conduzindo veículo sob efeito de álcool ou substância
psicoativa, a autuação pelo artigo 165-A do CTB configura ato arbitrário e sem motivação.

Não é demasia relembrar que os atos da Administração devem ser revestir de LEGALIDADE, isto
é, devem se dar na forma estritamente prevista na lei (ou em regulamentos). Exorbitado isso,
trata-se de ato ilegal.

Registre-se, por oportuno, que a penalidade prevista no tipo administrativo em questão é de


“multa (dez vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses”, ou seja, idêntica a da
infração ao artigo 165 do CTB, que penaliza a comprovada condução sob influência de álcool
ou substância psicoativa.

Assim, o artigo 165-A do CTB, quando aplicado de maneira avulsa de qualquer prova do sinal
externo de embriaguez do condutor, fere frontalmente o Princípio da Proporcionalidade, na
medida em que a reprovação social da infração por mera recusa aos testes de comprovação da
alcoolemia é muito menor do que no caso da infração ao artigo 165 do CTB, propriamente,
pois nesta hipótese o condutor comprovadamente dirige veículo sob a influência de álcool e/ou
substâncias psicoativas, o que hipoteticamente, à luz princípios constitucionais, exigiria maior
rigidez no tratamento.

Cabe destacar que o artigo 277, § 3º, do CTB continua em vigor, o qual indica outros meios
capazes de aferir a embriaguez:

Art. 277. O condutor de veículo automotor envolvido em acidente de trânsito ou que for alvo
de fiscalização de trânsito poderá ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro
procedimento que, por meios técnicos ou científicos, na forma disciplinada pelo Contran,
permita certificar influência de álcool ou outra substância psicoativa que determine
dependência.

§ 2º A infração prevista no art. 165 também poderá ser caracterizada mediante imagem, vídeo,
constatação de sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da
capacidade psicomotora ou produção de quaisquer outras provas em direito admitidas.

Ou seja, caberia ao Agente descrever quaisquer outros elementos capazes de aferir a


INFLUÊNCIA do ÁLCOOL. O que em momento algum restou evidenciada.
Ademais os artigos 3º e 5º da Resolução nº 432/13 do CONTRAN, que dispõe sobre os
procedimentos a serem adotados pelas autoridades de trânsito e seus agentes na fiscalização
do consumo de álcool, dispõem:

Art. 3º A confirmação da alteração da capacidade psicomotora em razão da influência de álcool


ou de outra substância psicoativa que determine dependência dar-se-á por meio de, pelo
menos, um dos seguintes procedimentos a serem realizados no condutor de veículo
automotor:

I – exame de sangue;

II – exames realizados por laboratórios especializados, indicados pelo órgão ou entidade de


trânsito competente ou pela Polícia Judiciária, em caso de consumo de outras substâncias
psicoativas que determinem dependência;

III – teste em aparelho destinado à medição do teor alcoólico no ar alveolar (etilômetro);

IV – verificação dos sinais que indiquem a alteração da capacidade psicomotora do condutor.

§ 1º Além do disposto nos incisos deste artigo, também poderão ser utilizados prova
testemunhal, imagem, vídeo ou qualquer outro meio de prova em direito admitido.

§ 2º Nos procedimentos de fiscalização deve-se priorizar a utilização do teste com etilômetro.

§ 3º Se o condutor apresentar sinais de alteração da capacidade psicomotora na forma do art.

5º ou haja comprovação dessa situação por meio do teste de etilômetro e houver


encaminhamento do condutor para a realização do exame de sangue ou exame clínico, não
será necessário aguardar o resultado desses exames para fins de autuação administrativa.

(...)

DOS SINAIS DE ALTERAÇÃO DA CAPACIDADE PSICOMOTORA

Art. 5º Os sinais de alteração da capacidade psicomotora poderão ser verificados por:


I – exame clínico com laudo conclusivo e firmado por médico perito; ou,

II – constatação, pelo agente da Autoridade de Trânsito, dos sinais de alteração da capacidade


psicomotora nos termos do Anexo II.

§ 1º Para confirmação da alteração da capacidade psicomotora pelo agente da Autoridade de


Trânsito, deverá ser considerado não somente um sinal, mas um conjunto de sinais que
comprovem a situação do condutor.

§ 2º Os sinais de alteração da capacidade psicomotora de que trata o inciso II deverão ser


descritos no auto de infração ou em termo específico que contenha as informações mínimas
indicadas no Anexo II, o qual deverá acompanhar o auto de infração.

Destaca-se que o Anexo II da referida resolução estabelece informações mínimas que deverão
constar no termo mencionado no Auto de Infração, para constatação dos sinais de alteração da
capacidade psicomotora pelo agente da Autoridade de Trânsito, sendo que nenhum dos sinais
ali previstos foram incluídos no Auto de Infração.

Desse modo, não sendo constatado formalmente pelo agente de trânsito qualquer sinal de que
o autor estava conduzindo veículo sob efeito de álcool ou substância psicoativa, a autuação
pelo artigo 165-A do CTB configura ato arbitrário e sem motivação.

Não obstante, mesmo examinando apenas as disposições dos artigos 277 e 165-A do CTB, fica
evidente que o objetivo da reprimenda não é punir quem, sem externar nenhum sinal ou
sintoma de que esteja sob a influência de álcool ou outra substância psicoativa, se recuse a se
submeter aos testes e exames para apuração da alcoolemia.

Se não há suspeita, não há o que ser certificado, tornando-se arbitrária a submissão do


condutor ao teste e, portanto, incabível a imputação pela infração do art. 165-A do CTB.

Por essa razão, quando optar por fazê-lo é imperioso que se esclareça o porquê da medida, sob
pena dessa providência se tornar arbitrária, discriminatória, parcial, tendenciosa e ilegal.

Sob essa perspectiva, a mera recusa do condutor em se submeter aos exames de alcoolemia,
sem que haja suspeita pautada em elementos plausíveis para desconstituir a presunção de
inocência que milita a seu favor, não é suficiente para sustentar a punição prevista no art. 165-
A do CTB.

Portanto, configura sanção abusiva a aplicação de penalidade tão gravosa à simples recusa do
teste do etilômetro, cabendo a anulação aqui pleiteada.

VIOLAÇÃO DE PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

A invalidação de um ato administrativo por violação dos princípios constitucionais não importa,
necessariamente, no exame de mérito, mas sim, da investigação acerca do atendimento dos
limites impostos pelo Direito ao administrador quando do exercício de sua discricionariedade.

No caso em tela, os fatos narrados, somente evidenciam a inobservância à lei, ferindo de


morte o princípio constitucional da legalidade, que limita e vincula as decisões administrativas,
conforme refere Hely Lopes Meirelles:

A legalidade, como princípio de administração ( CF, art. 37, caput), significa que o
administrador público está, em toda a sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei
e às exigências do bem comum, e deles não se pode afastar ou desviar, sob pena de praticar
ato inválido e expor-se a responsabilidade disciplinar, civil e criminal, conforme o caso.

A eficácia de toda atividade administrativa está condicionada ao atendimento da Lei e do


Direito. É o que diz o inc. I do parágrafo único do art. 2º da lei9.784/99. Com isso, fica evidente
que, além da atuação conforme à lei, a legalidade significa, igualmente, a observância dos
princípios administrativos.

Na Administração Pública não há liberdade nem vontade pessoal. Enquanto na administração


particular é lícito fazer tudo que a lei não proíbe, na Administração Pública só é permitido fazer
o que a lei autoriza. A lei para o particular significa ‘poder fazer assim’; para o administrador
público significa ‘deve fazer assim’."(in Direito Administrativo Brasileiro, Editora Malheiros, 27ª
ed., p. 86),

No mesmo sentido, leciona Diógenes Gasparini:

O Princípio da legalidade significa estar a Administração Pública, em toda sua atividade, presa
aos mandamentos da lei, deles não se podendo afastar, sob pena de invalidade do ato e
responsabilidade do seu autor. Qualquer ação estatal sem o correspondente calço legal ou que
exceda o âmbito demarcado pela lei, é injurídica e expõe à anulação. Seu campo de ação, como
se vê, é bem menor que o do particular. De fato, este pode fazer tudo que a lei permite e tudo
o que a lei não proíbe; aquela só pode fazer o que a lei autoriza e, ainda assim, quando e como
autoriza. Vale dizer, se a lei nada dispuser, não pode a Administração Pública agir, salvo em
situação excepcional (grande perturbação da ordem, guerra)” (in GASPARINI, Diógenes, Direito
Administrativo, Ed. Saraiva, SP, 1989, p.06)

Com efeito, no controle da discricionariedade administrativa, aos princípios constitucionais da


legalidade, impessoalidade, moralidade, eficiência devem ser aliados o princípio da
razoabilidade e o postulado da proporcionalidade como parâmetros de ponderação de valores.

Dessa forma, somente é válido o auto de infração de trânsito que preenche todos os requisitos
estabelecidos na lei de regência, fornecendo ao autuado os elementos necessários e
indispensáveis à plenitude de sua defesa.

Portanto, uma vez demonstrado o descumprimento ao devido processo legal e ao princípio da


legalidade, tem-se por inequívoco o direito à nulidade do Auto de Infração.

DA AUSÊNCIA DE MOTIVIAÇÃO DA DECISÃO QUE MANTEVE A PENALIDADE

Os atos administrativos questionados decorrem do genuíno Poder de Império de Estado. Daí


por que, embora possam restringir direitos dos administrados em prol da coletividade, hão de
ser expedidos de maneira fundamentada, a fim de que, não só o administrado, como também
toda a sociedade civil possa manter um controle sobre a sua juridicidade.

Em outras palavras, o dever de fundamentação decorre tanto da necessidade de se assegurar a


ampla defesa e o devido processo ao administrado, quanto o princípio constitucional da
publicidade - pelo qual a cidadania pode exercer o controle da administração, sobretudo a
partir da análise dos motivos que deflagram a expedição de atos que limitam direitos dos
administrados.

Não é em vão, por exemplo, que o artigo 50 da Lei de Processo Administrativo preveja que
deve ser fundamentado o ato que:

Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos
fundamentos jurídicos, quando:

I- neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;


II- imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;

Sobre a motivação dos atos jurisdicionais, Diogo de Figueiredo Moreira Neto explana que:

Motivar é enunciar expressamente – portanto explícita ou implicitamente – as razões de fato e


de direito que autorizam ou determinam a prática de um ato jurídico. O Estado, ao assim
decidir, vincula-se tanto ao dispositivo legal invocado como aos fatos sobre os quais se baseou,
explícita ou implicitamente, para formar sua convicção: no Direito Público, portanto, decidir é
vincular-se, pois inexistem decisões livres.

Os motivos são os pressupostos jurídicos e factuais que fundamentam a aplicação casuística de


um comando legal, tanto quando o Estado deva decidir ex of icio, quando deva fazê-lo sob
provocação, não importando se o ato de concreção for parcial, definindo, ainda em tese, um
resíduo normativo, ou total, alcançando e esgotando o comando legal editado para o caso em
hipótese.

Como se indicou, o princípio da motivação é instrumental e corolário do princípio do devido


processo da lei (art. 5.º, LIV, da Constituição), tendo necessária aplicação às decisões
administrativas e às decisões judiciárias, embora se encontre, também, implícito no devido
processo de elaboração das normas legais no sentido amplo (cf. arts. 59 a 69 da Constituição e
Regimentos das casas legislativas).

Por decisão, não se deve entender, porém, qualquer ato administrativo ou judiciário que
apenas contenha um mandamento, senão aquele cujo comando aplique uma solução a litígios,
controvérsias e dúvidas, conhecendo, acolhendo ou denegando pretensões, através das
adequadas vias processuais, ainda que atuando de ofício; essa, a ratio do art. 50 da Lei 9.784,
de 29 de janeiro de 1999 (Lei de Processo Administrativo Federal), que impõe à Administração
Pública o dever de motivar os atos administrativos que neguem, limitem ou afetem direitos ou
interesses dos administrados.

A obrigatoriedade de motivar decisões, tradicional no Direito Processual, geralmente expressa


quanto aos atos decisórios jurisdicionais típicos do Poder Judiciário, estendeu-se, com a Carta
de 1988, a seus próprios atos administrativos com características decisórias (art. 93, X). Por via
de consequência, o princípio da motivação abrange as decisões administrativas tomadas por
quaisquer dos demais Poderes, corolário inafastável do princípio do devido processo da lei.

Com efeito, se o Poder Judiciário, a quem caberá sempre o controle final da juridicidade de
qualquer decisão, está obrigado à motivação das suas decisões administrativas, com mais
razão, a ela também estarão os Poderes Legislativo, Executivo e os órgãos constitucionalmente
autônomos, cada um em suas respectivas decisões administrativas, pois só assim ficará
garantida a efetividade do controle (Curso de direito administrativo: parte introdutória, parte
geral e parte especial / Diogo de Figueiredo Moreira Neto. – 16. ed. rev. e atual. – Rio de
Janeiro : Forense, 2014, p.153-154).

Em resumo: ato desprovido de motivação é ato insuscetível de compor objeto do controle


analítico de legalidade. Logo, se impõe a anulação do auto de infração de trânsito, sob pena de
se criar um processo administrativo de nítido cunho inquisitório, na medida em que tolhe o
interessado de expender, dialeticamente, os argumentos necessários à pretensão anulatória.

DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto REQUER:

a) Seja julgado PROCEDENTE o presente recurso, para cancelar a penalidade imposta, nos
termos do art. 281, do CTB, anulando todos os seus efeitos;

b) Caso o presente recurso não seja julgado em 30 dias, requer a concessão de efeito
suspensivo nos termos do Art. 285, § 3º do CTB.

Pede deferimento.

Local e data.

Assinatura

Neste artigo vamos apresentar um modelo de recurso de multa por recusa ao teste do
bafômetro. Sem dúvidas, com a alteração do Código de Trânsito e inserção do art. 165-A ao
diploma legal, criou-se a tese, equivocada, a nosso ver, de que a simples recusa ao teste do
etilômetro seria capaz de presumir a embriaguez.

Embora saibamos que devem existir métodos para coibir a prática direção-bebida, não
podemos aceitar que a Lei estipule presunção de embriaguez.
Até porque já verificamos casos em que a pessoa pela simples ingestão de bombom de licor foi
multada. Multa esta que foi posteriormente anulada pelo Judiciário pelo óbvio motivo de
ausência de álcool capaz de interferir na capacidade psicomotora para a direção.

Indubitável, todavia, que o motorista, sabendo que seria injustamente multado, recusaria o
teste. Não pode, porém. Ser penalizado sem que hajam elementos concretos ou pelo menos
indícios de embriaguez.

Neste contexto nos inclinamos pela inconstitucionalidade do art. 165-A do Código de Trânsito
Brasileiro, como sustentamos no recurso ora apresentado. Vamos a ele!

ILUSTRÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DA JUNTA ADMINISTRATIVA DE RECURSOS DE INFRAÇÕES


DO ESTADO DE [XXXXXX] - DETRAN/XX

[NOME], [ESTADO CIVIL], [PROFISSÃO], inscrito no CPF sob o nº XXX. XXX. XXX-XX, identidade
nº XX. XXX. XXX-X, órgão expedidor: XXXXXXXXXXXXXXX CNH de nº XXXXXX, telefone: XXXX-
XXXX, celular: XXXX-XXXX, e-mail: XXXXXXXXXXXXX, domiciliado na Rua XXXX, [Bairro], [Cidade],
[Estado], Cep XXXXX-XX, vem, tempestivamente, à presença de V. Senhoria, apresentar
RECURSO ADMINISTRATIVO, pelos fatos e fundamentos abaixo elencados:

DA SUPOSTA INFRAÇÃO COMETIDA

Art. 165-A. Recusar-se a ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro procedimento
que permita certificar influência de álcool ou outra substância psicoativa, na forma
estabelecida pelo art. 277:

Infração - gravíssima;

Penalidade - multa (dez vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses;

Medida administrativa - recolhimento do documento de habilitação e retenção do veículo,


observado o disposto no § 4º do art. 270.

DO VEÍCULO
Modelo: XXXXXX

Ano: XXXX

Marca: XXXXXXXXXX

Placa: XXXXXXX

Renavam: XXXXXXX

DOS FATOS E FUNDAMENTOS

O recorrente, no dia XX/XX/XXXX, foi autuado, nos termos do art. 165 - A do CTB, por ter se
recusado a utilizar o etilômetro, conhecido popularmente como teste do bafômetro.

Ainda que a recente modificação da legislação indique que a simples recusa em efetuar o teste
constitui infração, não deve prevalecer este entendimento, uma vez que incompatível com a
legislação vigente.

A norma extraída do artigo em debate visa proteger o cidadão e o próprio motorista contra
acidentes que gerem transtornos e/ou acidentes. Para tanto, é necessário que haja
combinação de determinados elementos para que seja configurada a infração.

Não é razoável punir o condutor/recorrente se, após a verificação pessoal do agente de


trânsito, restar comprovado que o condutor não apresenta sinais de ter utilizado bebida
alcoólica.

É cediço que a interpretação literal, aplicada isoladamente, é insuficiente para atingir o


“espírito da Lei”.

Pelo princípio da universalidade do direito ao trânsito seguro, previsto no art. 1º, § 2º, CTB c/c
art. 144, § 10, I, II, da Constituição Federal, o agente autuador, através da fiscalização, um dos
tripés que norteiam este ramo do Direito (educação – engenharia – fiscalização), deve
trabalhar para que haja a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
seu patrimônio. Todavia, não se pode chegar ao exagero de punir quem não oferece nenhum
risco, como no caso em tela.
Apesar de a autuação constituir um ato administrativo vinculado, é necessário que seja
observado o caso concreto para determinar a presença ou não do risco que o condutor ofereça
naquele determinado momento.

A jurisprudência já se pronunciou no sentido de que a quantidade irrelevante de álcool,


incapaz de atingir a capacidade psicomotora do indivíduo, não devem ser punidas. Neste
sentido:

APELAÇÃO CÍVEL. MANDADO DE SEGURANÇA. INFRAÇÃO DE TRÂNSITO. RECUSA EM REALIZAR


TESTE DE ALCOOLEMIA (BAFÔMETRO). APLICAÇÃO DE MULTA E DE SUSPENSÃO DO DIREITO DE
DIRIGIR. SENTENÇA QUE DENEGOU A SEGURANÇA. IRRESIGNAÇÃO DO IMPETRANTE. O
impetrante foi autuado em fiscalização conhecida como Lei Seca por estar conduzindo veículo
e ter-se negado à realização do teste de alcoolemia. Denegada a segurança, sob o fundamento
de falta de provas capazes de elidir a presunção de legalidade e legitimidade de que gozam os
atos administrativos, apelou o autor. A recusa em submeter-se ao teste do bafômetro não
implica, por si só, em inexorável reconhecimento de estado de embriaguez, sob pena de
violação da vedação a autoincriminação, do direito ao silêncio, da ampla defesa e do princípio
da presunção de inocência. Se o indivíduo não pode ser compelido a se autoincriminar, nemo
tenetur se detegere, não pode ser obrigado a efetuar o referido teste do bafômetro,
competindo à autoridade fiscalizadora provar a embriaguez por outros meios de modo a
aplicar as sanções previstas pelo artigo 165 do Código de Trânsito Brasileiro. Não há qualquer
menção sequer sobre a tentativa de realização de prova indireta que pudesse atestar o estado
de ebriedade do condutor no momento da abordagem. Concessão da segurança ao
impetrante, ora recorrente, para que o impetrado se abstenha de apreender a sua carteira de
habilitação, devolvendo-lhe o prazo legal para apresentação de recurso, com o devido
contraditório e ampla defesa. CONCESSÃO DA ORDEM. RECURSO CONHECIDO e PROVIDO
(XXXXX-17.2014.8.19.0001 – APELAÇÃO; Des (a). CEZAR AUGUSTO RODRIGUES COSTA -
Julgamento: 14/02/2017 - OITAVA CÂMARA CÍVEL).

Importante a observação de que a não autoincriminação está prevista no Pacto de São José da
Costa Rica, que possui status de supralegalidade, devendo prevalecer sobre legislação ordinária
que o contrarie.

Oportuna a menção de que o Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito determina que no


campo de observações deve ser pormenorizada a situação, com os elementos que
demonstrem o verdadeiro estado que em que se encontrava o condutor: se apresentava sinais
de embriaguez na fala, ao andar, de consciência, bem como outros elementos que conduzam
ao entendimento de que a capacidade psicomotora se encontrava atingida, o que não ocorreu
no caso em tela.

Não é outro o entendimento da Resolução 432/13 do CONTRAN:


Art. 5º Os sinais de alteração da capacidade psicomotora poderão ser verificados por:

I – exame clínico com laudo conclusivo e firmado por médico perito; ou

II – constatação, pelo agente da Autoridade de Trânsito, dos sinais de alteração da capacidade


psicomotora nos termos do Anexo II.

§ 1º Para confirmação da alteração da capacidade psicomotora pelo agente da Autoridade de


Trânsito, deverá ser considerado não somente um sinal, mas um conjunto de sinais que
comprovem a situação do condutor.

Frisa-se, ainda, que os sinais de alteração devem ser mencionados no campo de observação do
auto de infração e corresponder aqueles enumerados no anexo II da Resolução 432/13, o que
não ocorreu.

Resolução 432/13. Art. 5º, § 2º. Os sinais de alteração da capacidade psicomotora de que trata
o inciso II deverão ser descritos no auto de infração ou em termo específico que contenha as
informações mínimas indicadas no Anexo II, o qual deverá acompanhar o auto de infração.

Por fim, porém não menos importante, ressalta-se que não houve, no momento da abordagem
e realização do teste, a apresentação do certificado de calibração do etilômetro, sendo
impossível verificar seu exato funcionamento. Tal fato, por si, é capaz de justificar a recusa ao
teste do bafômetro. Assim caminha a melhor jurisprudência:

... Além dos fatores já mencionados, é também admissível que a recusa do motorista possa
estar lastreada no receio quanto à exatidão do aparelho. A preocupação merece guarida, tanto
que a própria Resolução Contran 432, em seu artigo 4º., assim estabelece:

“Art. 4º. O etilômetro deve atender aos seguintes requisitos:

I - ter seu modelo aprovado pelo INMETRO;

II - ser aprovado na verificação metrológica inicial, eventual, em serviço e anual realizadas pelo
Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia - INMETRO ou por órgão da Rede
Brasileira de Metrologia Legal e Qualidade - RBMLQ;
Parágrafo único. Do resultado do etilômetro (medição realizada) deverá ser descontada
margem de tolerância, que será o erro máximo admissível, conforme legislação metrológica, de
acordo com a "Tabela de Valores Referenciais para Etilômetro" constante no Anexo I”.

De tal sorte, a desconfiança de que o aparelho apresentado para a realização do exame não
preencha todos os requisitos de segurança exigidos, pode sim, gerar o comportamento
negativo por parte do motorista.

Entretanto, nada impede a autoridade local, responsável pela abordagem, na rua, de obter
outros modos de aferição da embriaguez, ou simples ingestão de bebida alcoólica, conforme já
mencionado anteriormente... (APELAÇAO CÍVEL XXXXX-96.2014.8.19.001).

Pelos argumentos e provas apresentados, não deve prevalecer a penalidade pela suposta
infração cometida pelo recorrente.

Diante de todo o exposto, requer:

1. O deferimento do presente recurso, com consequente cancelamento da multa


indevidamente imposta, bem como restabelecimento dos pontos retirados da CNH do
recorrente, assim como devolução da carteira de habilitação e desconsideração da suspensão
do direito de dirigir.

Nestes termos,

Pede deferimento.

[DATA]

_____________________________________

[ASSINATURA]

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ILUSTRÍSSIMO SENHOR SUPERINTENDENTE DA POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL

Auto de Infração nº XXXXXX

NOME, brasileiro, solteiro, inscrito no CPF sob o número xxxx, residente e domiciliado no
endereço...., vem à presença de V. Sra. apresentar

DEFESA DE AUTUAÇÃO

nos termos do art. 286 do CTB, pelas razões a seguir.

I – BREVE RELATO DOS FATOS

O condutor, na data de 29/08/2015, por voltas das 04:00h, dirigia seu veículo REUNAULT
SYMBOL, placas XXXX, pela BR 116, quando foi abordado pela autoridade matrícula nº xxxxxx,
lotado no órgão xxxxx.

Quando da abordagem a autoridade requereu que o condutor fizesse teste de etilômetro


(bafômetro), contudo, o mesmo preferiu recusar-se a fazê-lo.

Imediatamente, a autoridade lavrou o auto de infração, ora objeto da presente impugnação,


enquadrando o condutor na infração de trânsito descrita como “Condutor que se recusar a se
submeter a qualquer dos proc prev no art. 277 do CTB”, promovendo em seguida a apreensão
da CNH e veículo do condutor.

O condutor permaneceu no local, demonstrando à autoridade policial estar plenamente apto a


conduzir o veículo, sem esboçar qualquer sinal de alteração da capacidade psicomotora, razão
pela qual seriam insubsistentes a multa aplicada e a retenção do veículo.

A autoridade policial manteve a aplicação da multa e reteve o documento do condutor,


contudo, liberou o ora impugnante a se retirar do local conduzindo o veículo, o que por si só
configura ato contraditório à aplicação da multa e prova da ausência de qualquer incapacidade
psicomotora por parte do condutor autuado.

Destaca-se que, diferente da descrição da infração, a autoridade não solicitou ou realizou


quaisquer dos procedimentos complementares e essenciais à aplicação da multa prevista pelo
art. 165 do CTB, conforme dispõe o art. 277, § 2º, do CTB.

Dessa forma, patente que o auto de infração não atendeu a todos os requisitos
procedimentais, devendo o mesmo ser anulado, como ficará demonstrado ao final.

-->

II – A LEGISLAÇÃO SOBRE A MATÉRIA

O art. 165 do CTB prevê como conduta ilícita dirigir sob influência de álcool ou qualquer outra
substância psicoativa que determine dependência, infração gravíssima passível de multa:

Art. 165. Dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que
determine dependência: (Redação dada pela Lei nº 11.705, de 2008)

Infração - gravíssima; (Redação dada pela Lei nº 11.705, de 2008)

Penalidade - multa (dez vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses. (Redação
dada pela Lei nº 12.760, de 2012)

Medida administrativa - recolhimento do documento de habilitação e retenção do veículo,


observado o disposto no § 4o do art. 270 da Lei no 9.503, de 23 de setembro de 1997 - do
Código de Trânsito Brasileiro. (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012)

Parágrafo único. Aplica-se em dobro a multa prevista no caput em caso de reincidência no


período de até 12 (doze) meses. (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012)

Portanto, conforme o dispositivo legal em destaque, além da penalidade de multa e suspensão


do direito de dirigir, deve ser aplicada medida administrativa de recolhimento do documento
de habilitação e retenção do veículo.

Para identificação do estado de embriaguez o art. 277 do CTB determina “teste, exame clínico,
perícia ou outro procedimento que, por meios técnicos ou científicos, na forma disciplinada
pelo Contran, permita certificar influência de álcool ou outra substância psicoativa que
determine dependência”. O parágrafo 2º ainda prevê a utilização de imagem, vídeo e outras
provas em direito admitidas.
Art. 277. O condutor de veículo automotor envolvido em acidente de trânsito ou que for alvo
de fiscalização de trânsito poderá ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro
procedimento que, por meios técnicos ou científicos, na forma disciplinada pelo Contran,
permita certificar influência de álcool ou outra substância psicoativa que determine
dependência. (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012)

§ 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012)

§ 2º A infração prevista no art. 165 também poderá ser caracterizada mediante imagem, vídeo,
constatação de sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da
capacidade psicomotora ou produção de quaisquer outras provas em direito admitidas.
(Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012)

§ 3º Serão aplicadas as penalidades e medidas administrativas estabelecidas no art. 165 deste


Código ao condutor que se recusar a se submeter a qualquer dos procedimentos previstos no
caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008)

Os procedimentos de fiscalização do consumo de álcool ou de outras substâncias psicoativas


são regulamentados pela Resolução nº 432/2013 do Conselho Nacional de Trânsito –
CONTRAN. Para a regular identificação da alteração da capacidade psicomotora a referida
resolução exige a realização de, pelo menos um dos seguintes itens: i) exame de sangue; ii)
exames realizados por laboratórios especializados; iii) teste em etilômetro (bafômetro); e, de
extrema pertinência ao caso, iv) verificação dos sinais que indiquem a alteração da capacidade
psicomotora do condutor:

Art. 3º A confirmação da alteração da capacidade psicomotora em razão da influência de álcool


ou de outra substância psicoativa que determine dependência dar-se-á por meio de, pelo
menos, um dos seguintes procedimentos a serem realizados no condutor de veículo
automotor:

I – exame de sangue;

II – exames realizados por laboratórios especializados, indicados pelo órgão ou entidade de


trânsito competente ou pela Polícia Judiciária, em caso de consumo de outras substâncias
psicoativas que determinem dependência; III – teste em aparelho destinado à medição do teor
alcoólico no ar alveolar (etilômetro);IV – verificação dos sinais que indiquem a alteração da
capacidade psicomotora do condutor.

§ 1º Além do disposto nos incisos deste artigo, também poderão ser utilizados prova
testemunhal, imagem, vídeo ou qualquer outro meio de prova em direito admitido.

§ 2º Nos procedimentos de fiscalização deve-se priorizar a utilização do teste com

etilômetro.

§ 3º Se o condutor apresentar sinais de alteração da capacidade psicomotora na forma do art.


5º ou haja comprovação dessa situação por meio do teste de etilômetro e houver
encaminhamento do condutor para a realização do exame de sangue ou exame clínico, não
será necessário aguardar o resultado desses exames para fins de autuação administrativa.

Para identificação dos sinais de alteração da capacidade psicomotora prevista no inciso IV do


art. 3º a referida resolução exige, ao menos, a constatação pela autoridade de trânsito, que
deverá considerar o conjunto de sinais previstos no Anexo II da resolução:

DOS SINAIS DE ALTERAÇÃO DA CAPACIDADE PSICOMOTORA

Art. 5º Os sinais de alteração da capacidade psicomotora poderão ser verificados por:

I – exame clínico com laudo conclusivo e firmado por médico perito; ou

II – constatação, pelo agente da Autoridade de Trânsito, dos sinais de alteração da

capacidade psicomotora nos termos do Anexo II.

§ 1º Para confirmação da alteração da capacidade psicomotora pelo agente da Autoridade de


Trânsito, deverá ser considerado não somente um sinal, mas um conjunto de sinais que
comprovem a situação do condutor.

§ 2º Os sinais de alteração da capacidade psicomotora de que trata o inciso II deverão ser


descritos no auto de infração ou em termo específico que contenha as informações mínimas
indicadas no Anexo II, o qual deverá acompanhar o auto de infração.

Por fim, como medida administrativa, a resolução determina não só a apreensão do


documento de habilitação (art. 10), mas também o veículo conduzido (art. 9º). O veículo só
será liberado para condutor habilitado que não demonstre qualquer alteração da capacidade
psicomotora:

DAS MEDIDAS ADMINISTRATIVAS

Art. 9º O veículo será retido até a apresentação de condutor habilitado, que também será
submetido à fiscalização.

Parágrafo único. Caso não se apresente condutor habilitado ou o agente verifique que ele não
está em condições de dirigir, o veículo será recolhido ao depósito do órgão ou entidade
responsável pela fiscalização, mediante recibo.

Art. 10. O documento de habilitação será recolhido pelo agente, mediante recibo, e ficará sob
custódia do órgão ou entidade de trânsito responsável pela autuação até que o condutor
comprove que não está com a capacidade psicomotora alterada, nos termos desta Resolução.

§ 1º Caso o condutor não compareça ao órgão ou entidade de trânsito responsável pela


autuação no prazo de 5 (cinco) dias da data do cometimento da infração, o documento será
encaminhado ao órgão executivo de trânsito responsável pelo seu registro, onde o condutor
deverá buscar seu documento.

§ 2º A informação de que trata o § 1º deverá constar no recibo de recolhimento do documento


de habilitação.
A simples análise do auto de infração e do recibo de recolhimento de documentos em anexo é
suficiente para demonstrar o descumprimento das regras definidas pelo CTB e pela Resolução
CONTRAN 432/2013 pela autoridade de trânsito.

III – DA INCONSISTÊNCIA DO AUTO DE INFRAÇÃO

“Não é a chancela da autoridade que valida o ato e o torna respeitável e obrigatório. É a


legalidade a pedra de toque de todo o ato administrativo” [1]

A doutrina do direito administrativo ensina que os atos administrativos devem ser motivados
para produzir efeitos válidos sob os administrados.

Ensina a doutrina de Bandeira de Mello que entre os pressupostos de validade do ato


administrativo encontra-se o ‘motivo’, que configura pressuposto objetivo de validade:

“Motivo é o pressuposto de fato que autoriza ou exige a prática do ato. É, pois, a situação do
mundo empírico que deve ser tomada em conta para a prática do ato. Logo, é externo ao ato.
Inclusive o antecede. Por isso não pode ser considerado como parte, como elemento do ato.”
[2]

Existindo o motivo para atuação administrativa cabe à autoridade administrativa formalizar o


ato, o que ocorre por meio da motivação. Bandeira de Mello aponta que na motivação são
enunciados: a) a regra de Direito habilitante, b) os fatos em que o agente se estribou para
decidir e, muitas vezes, obrigatoriamente, c) a enunciação da relação de pertinência lógica
entre os fatos ocorridos e o ato praticado [3].

Perante a legislação federal, os pressupostos objetivos de validade do ato administrativo estão


positivados no art. 50 da Lei 9.784/1999, o qual determina de forma taxativa a necessidade de
motivação dos atos administrativos:

Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos
fundamentos jurídicos, quando:

I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;

II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;

III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;

IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;

V - decidam recursos administrativos;

VI - decorram de reexame de ofício;


VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de pareceres,
laudos, propostas e relatórios oficiais;

VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato administrativo.

§ 1º A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração de


concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas,
que, neste caso, serão parte integrante do ato.

§ 2º Na solução de vários assuntos da mesma natureza, pode ser utilizado meio mecânico que
reproduza os fundamentos das decisões, desde que não prejudique direito ou garantia dos
interessados.

§ 3º A motivação das decisões de órgãos colegiados e comissões ou de decisões orais constará


da respectiva ata ou de termo escrito.

Dessa forma, seja em razão do ensinamento doutrinário ou pela norma positivada, claro está
que o motivo é condição de validade de qualquer ato administrativo, sendo a motivação o ato
que transparece aquilo que o agente apresenta como causa do ato administrativo.

Partindo para o exame do caso em tela, o confronto da legislação de trânsito com os fatos
ocorridos é suficiente para comprovar a inconsistência do auto de infração, irregularidade que
clama pela sua anulação.

Sobre a multa aplicada, observa-se que a autoridade policial não realizou quaisquer dos
procedimentos definidos no art. 5º da Resolução CONTRAN 432/2013, sendo que o auto de
infração não consta quaisquer dos sinais enumerados no Anexo II da referida resolução.

A doutrina de Hely Lopes é taxativa: “O simples fato de não haver o agente público exposto os
motivos de seu ato bastará para torná-lo irregular; o ato não motivado, quando o devia ser,
presume-se não ter sido executado com toda a ponderação desejável, nem ter tido em vista
um interesse público da esfera de sua competência funcional” [4].

Vale destacar que a multa tem como pressuposto o estado de embriaguez e não a simples
negativa em se submeter ao teste do “bafômetro”. Assim, a ausência de constatação de
alteração psicomotora por si só é causa de sua nulidade, a teor do princípio da motivação. É da
jurisprudência:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE. AUTO DE INFRAÇÃO. TESTE DE


ALCOOLEMIA (BAFÔMETRO). PEDESTRE. PRELIMINAR DE JULGAMENTO EXTRA PETITA.
REJEIÇÃO. MÉRITO: SUBMISSÃO DE PEDESTRE À REALIZAÇÃO DE TESTE DE BAFÔMETRO.
NEGATIVA. APLICAÇÃO DE MULTA. MOTIVAÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO. INSUBSISTÊNCIA.
MEDIDA ANTECIPATÓRIA DE TUTELA. MULTA DIÁRIA (ASTREINTES). CRITÉRIOS DE FIXAÇÃO.
RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. REDUÇÃO. NÃO CABIMENTO. SENTENÇA MANTIDA.
1. CONSTATADO QUE O PROVIMENTO JURISDICIONAL EXARADO GUARDA CORRELAÇÃO COM O
PEDIDO FORMULADO NA INICIAL, DEVE SER REJEITADA A PRELIMINAR DE NULIDADE DA
SENTENÇA POR JULGAMENTO EXTRA PETITA. 2. DEMONSTRADO QUE A ABORDAGEM POLICIAL
OCORREU QUANDO A PARTE SE ENCONTRAVA NA CONDIÇÃO DE PEDESTRE, E TENDO EM VISTA
NÃO HAVER COMPROVAÇÃO DE QUE O AUTOR HAVIA INGERIDO BEBIDA ALCOÓLICA EM
MOMENTO ANTERIOR, TEM-SE POR CONFIGURADA A NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO POR
NEGATIVA DE REALIZAÇÃO DO TESTE DE ALCOOLEMIA (BAFÔMETRO). 3. O VALOR DA MULTA
DIÁRIA (ASTREINTES) TEM POR ESCOPO COMPELIR O OBRIGADO AO CUMPRIMENTO DA
DECISÃO JUDICIAL, DEVENDO SER MANTIDO O VALOR ARBITRADO, QUANDO SE MOSTRAR
RAZOÁVEL E PROPORCIONAL. 4. RECURSO DE APELAÇÃO CONHECIDO. PRELIMINAR REJEITADA.
NO MÉRITO, NÃO PROVIDO. (TJ-DF - APC: XXXXX DF XXXXX-72.2011.8.07.0001, Relator: NÍDIA
CORRÊA LIMA, Data de Julgamento: 09/04/2014, 3ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado
no DJE : 29/04/2014 . Pág.: 132)

No mais, a autoridade também agiu contra legis ao autorizar o ora impugnante a conduzir o
veículo. Esse ato contraditório não só demonstra nova violação ao procedimento definido pela
Resolução CONTRAN 432/2013 como é suficiente para confirmar a inexistência de alteração
psicomotora do condutor. Assim, inexiste no auto relação de pertinência lógica entre os fatos
ocorridos e o ato praticado.

Perante vício insanável a administração deve anular seus próprios atos. Esse é o comando do
princípio da autotutela administrativa, positivada no art. 53 da Lei 9.784/1999 (Processo
Administrativo Federal):

Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de vício de legalidade,
e pode revogá-los por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos
adquiridos.

Portanto, em razão dos vícios insanáveis no procedimento que acarretou na expedição do auto
de infração impugnado e pela completa inexistência de qualquer sinal de alteração
psicomotora ou embriaguez do condutor, o reconhecimento da nulidade do auto de Infração nº
XXXXX é medida que se impõe.

IV – PEDIDO

Por todo o exposto, demonstrada a inconsistência do auto de infração, REQUER o acolhimento


da presente impugnação e o reconhecimento da insubsistência do auto de Infração nº xxxxxxx,
determinando-se o arquivamento do mesmo, nos termos do art. 281, I, do CTB.

Pede deferimento

Cidade, 04 de setembro de 2015.


NOME

CPF nº XXXXX

Documentos em anexo:

Doc. 01 – Requerimento de defesa;

Doc. 02 – Cópia do auto de infração;

Doc. 03 – Documento de identidade do condutor.

[1] MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 35 ed. p. 102.

[2] MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 28 ed. p. 397.

[3] Ob. Cit. p. 400.

[4] MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 35 ed. p. 102.

Enviar por e-mail


ILUSTRÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DA JUNTA DE DEFESA PRÉVIA DO DETRAN-RJ

(Nome), brasileiro, solteiro, assistente de recursos humanos, portador da cédula de identidade


nº xxxx, inscrito no CPF sob o nº xxxx, residente e domiciliado na Rua ................., Rio de
Janeiro, vem respeitosamente à presença de Vossa Senhoria, nos termos da lei 9.503/97
alterada pela lei 11.705/2008, com base no artigo 285 do CTB, opor:

DEFESA PRÉVIA

Em desfavor ao auto de infração promovido pelo Detran-RJ, pelas razões de fato e de Direito a
seguir aduzidas:

PRELIMINARMENTE QUANTO A TEMPESTIVIDADE

O recorrente recebeu a notificação em 11/09/2017, sendo, portanto, seu ultimo dia de prazo o
dia 26/09/2017, conforme art. 3º, § 2º, da Resolução 149/2003.

I – DOS FATOS:

Em 00/00/0000 por volta das 22:30hs o recorrente foi parado por uma Blitz da Operação Lei
Seca montada na Rua ..................., Rio de Janeiro .

Na abordagem, a autoridade policial solicitou ao condutor que realizasse o teste etilômetro


(bafômetro), contudo, o mesmo invocou o seu direito constitucional e com toda a
tranquilidade informou que não iria realizar o teste.

Imediatamente a autoridade lavrou o termo de infração, ora objeto da presente impugnação,


enquadrando o condutor na infração descrita como: “dirigir sob a influência de álcool”, artigo
277 § 3º c/c 165 CTB, promovendo em seguida a apreensão da CNH do condutor.

Em seguida, o recorrente solicitou a presença de um condutor habilitado, para que pudesse


dirigir o seu veículo até a sua residência.
No entanto, esclarece a parte autora, que NÃO estava sob influência de substância alcoólica e,
ainda, o recorrente estaria disposto a realizar todos os testes para aferir o seu estado de
embriaguez, tais quais previstos no artigo 277 do CTB, no entanto, o agente recusou-se a fazer
os testes, sendo eles não realizados pela autoridade policial.

Destaca-se fica evidente que a abordagem do agente não cumpriu todos os requisitos legais
quando no verifica-se que não houve, sequer, sua assinatura. Os protocolos de abordagem não
foram seguidos na forma da lei.

Em nenhum momento houve a orientação sobre o teste do etilometrô e muito menos sobre
outras formas de constatar a embriaguez (art. 269, IX, do CTB), como dispõe a lei e que o não
cumprimento dessas medidas administrativas poderá acarretar no cancelamento das
autuações, conforme requer o presente recurso. Este fato está comprovado no auto de
infração, tendo em vista a omissão do agente.

Conforme exposto alhures, o autor não se viu com alternativa, a não ser recorrer da infração
imposta, uma vez que as consequências são enormes, principalmente quando se trata de um
profissional que utiliza o seu veículo todos os dias para ir e voltar do trabalho.

II- CONSIDERAÇÕES INICIAIS:

Requer a parte autora o imediato arquivamento do presente processo administrativo, sem


incorrer o recorrente na penalidade descrita no artigo 165 do CTB, uma vez que não havia
qualquer alteração na capacidade psicomotora do condutor, não restando comprovado o seu
estado alcoólico ou sob uso de qualquer substancia entorpecente.

Conforme resolução 432 do CONTRAN, deverá haver sinais claros que indiquem a alteração da
capacidade do condutor, conforme inciso IV, bem como uma avaliação testemunhal, o que não
esta presente no caso.

Há ainda, uma falha gravíssima, quanto ao não encaminhamento do recorrente para o exame
de sangue, conforme expressa claramente o § 3º do artigo 3º da resolução em questão, ou
testes alternativos. Assim não há de se falar em recusa no exame de sangue, o meio mais
comprobatório possível do estado alcoólico.

Devido ao exposto, demanda contra a notificação, pela presença dos vícios insanáveis, não
devendo assim incorrer em penalidade administrativa ou sequer penal.
II- DO DIREITO:

O recorrente se insurge contra medida administrativa contida no artigo 165, do CTB, qual seja
dirigir sob a influência de álcool, caracterizando infração gravíssima com a perda de 7 pontos
na CNH, multa e medida administrativa de suspensão do direito de dirigir pelo prazo de 12
(doze) meses.

Para configurar a tipicidade do artigo 165, do CTB deve o condutor apresentar sinais evidentes
de embriaguez. Ressalta-se que não deve apresentar apenas um sinal de embriaguez, mas um
conjunto de sinais, conforme será demonstrado a seguir, o que não restou comprovado, não
sendo sequer declarado nos autos de infração.

Conforme artigo 3º, da Resolução 432 CONTRAN, deverá haver sinais que indiquem a alteração
da capacidade do condutor, conforme inciso IV, bem como avaliação testemunhal. Não há
qualquer observação sobre alterações na capacidade psicomotora do recorrente e nem prova
testemunhal desta alteração, conforme podemos ver abaixo:

Art. 3º A confirmação da alteração da capacidade psicomotora em razão da influência de álcool


ou de outra substância psicoativa que determine dependência dar-se-á por meio de, pelo
menos, um dos seguintes procedimentos a serem realizados no condutor de veículo
automotor:

I – exame de sangue;

II – exames realizados por laboratórios especializados, indicados pelo órgão ou entidade de


trânsito competente ou pela Polícia Judiciária, em caso de consumo de outras substâncias
psicoativas que determinem dependência; III – teste em aparelho destinado à medição do teor
alcoólico no ar alveolar (etilômetro);

IV – verificação dos sinais que indiquem a alteração da capacidade psicomotora do condutor.

§ 1º Além do disposto nos incisos deste artigo, também poderão ser utilizados prova
testemunhal, imagem, vídeo ou qualquer outro meio de prova em direito admitido.

§ 2º Nos procedimentos de fiscalização deve-se priorizar a utilização do teste com etilômetro.


§ 3º Se o condutor apresentar sinais de alteração da capacidade psicomotora na forma do art.
5º ou haja comprovação dessa situação por meio do teste de etilômetro e houver
encaminhamento do condutor para a realização do exame de sangue ou exame clínico, não
será necessário aguardar o resultado desses exames para fins de autuação administrativa.

Afirma a autoridade no auto de infração que o condutor estava dirigindo o veículo sob
influência de substância alcoólica, o que não ocorreu e tampouco a recusa de realizar o
bafômetro enseja tal penalidade, uma vez que há outras maneiras de identificação de um
condutor embriagado. Portanto, com a recusa feita pelo condutor, a autoridade policial deveria
ter realizado outras manobras de identificação, tais quais previstas no § 2º do artigo 277 do
CTB, por exemplo: um vídeo, testemunhas , testes de reflexo, alteração da capacidade
psicomotora, e etc, e tais meios de prova além de não terem sido utilizadas pela autoridade
policial, não foram em nenhum momento recusadas pelo presente condutor. Ademais, não
consta no auto de infração que o condutor se negou a realizar tais condutas.

Artigo 277, § 2º, do CTB: “A infração prevista no art. 165 também poderá ser caracterizada
mediante imagem, vídeo, constatação de sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo
Contran, alteração da capacidade psicomotora ou produção de quaisquer outras provas em
direito admitidas”.

Há ainda a falta do encaminhamento do recorrente para exame de sangue na data do ocorrido,


conforme expressa o § 3º do artigo 3º da resolução em questão, supracitado. Não há que se
falar em recusa do exame de sangue, um dos meios comprobatórios de direção sob influência
de álcool, uma vez que não houve qualquer encaminhamento.

Deste modo, também não há que se falar em estado de embriaguez e nem mesmo presunção
desta, uma vez não estando presentes os requisitos em questão.

Ainda sobre os possíveis sinais de embriaguez e alteração psicomotora do recorrente, destaca-


se o artigo 5º, da Resolução 432 do CONTRAN, que em seu § 1º estabelece que deverá ser
considerado não apenas um sinal, mas um conjunto de sinais que comprovem a alteração
psicomotora do condutor. Os sinais de alteração deverão constar no auto de infração ou em
termo anexo, conforme descrito no § 2º do mesmo artigo e, conforme os autos de infração
anexo, não há qualquer observação quanto a possíveis sinais de alteração.

Art. 5º. Os sinais de alteração da capacidade psicomotora poderão ser verificados por:

I - exame clínico com laudo conclusivo e firmado por médico perito; ou


II - constatação, pelo agente da Autoridade de Trânsito, dos sinais de alteração da capacidade
psicomotora nos termos do Anexo II.

§ 1º Para confirmação da alteração da capacidade psicomotora pelo agente da Autoridade de


Trânsito, deverá ser considerado não somente um sinal, mas um conjunto de sinais que
comprovem a situação do condutor.

Vale salientar que, no auto de infração não consta qualquer observação de testes alternativos,
conforme dispõe a lei e, caso houvesse, a autoridade policial deveria imediatamente promover
a prisão em flagrante do mesmo, e prosseguir para as sanções penais cabíveis, o que também
não ocorreu. E ao exame de sangue, previsto no artigo 3º da resolução 432 do CONTRAN.

Nesse sentido, verifica-se que o art. 277, caput, do CTB (com redação dada pela Lei
11.275/2006), previu que todo condutor de veículo que for alvo de fiscalização de trânsito, sob
suspeita de dirigir sob influência de álcool, será submetido a exames para certificar seu estado.

Art. 277. Todo condutor de veículo automotor, envolvido em acidente de trânsito ou que for
alvo de fiscalização de trânsito, sob suspeita de dirigir sob a influência de álcool será submetido
a testes de alcoolemia, exames clínicos, perícia ou outro exame que, por meios técnicos ou
científicos, em aparelhos homologados pelo CONTRAN, permitam certificar seu estado.

Assim, discutir-se-ia se a modificação da lei permitiria ao agente administrativo, ao seu arbítrio,


entender pela submissão de condutor a exames mesmo que não haja suspeita de ingestão de
álcool e/ou sinais claros e evidentes de sua embriaguez. As condutas dos agentes
administrativos devem se pautar pelo princípio da razoabilidade e proporcionalidade, não
possuindo substrato em autorizações legislativas “em branco”.

Ainda, não foi o recorrente devidamente encaminhado à realização de demais exames clínicos
que pudessem comprovar seu estado alcoólico, conforme determinação do artigo supracitado.
Deste modo, não restou comprovado seu estado alcoólico e sua capacidade psicomotora
alterada, não devendo assim incorrer em penalidade administrativa.

Assim sendo, não obstante a relevância dos programas públicos destinados à redução dos
acidentes de trânsito, o auto de infração objeto da lide carece de regularidade formal. Seguem
abaixo decisões recentes do TJRJ neste sentido:
XXXXX-78.2011.8.19.0001 - APELACAO - 1ª Ementa - DES. MARCOS ALCINO A TORRES -
Julgamento: 21/02/2013 - DECIMA NONA CÂMARA CIVEL

Apelação. Ato administrativo. Direito do trânsito. Aplicação das sanções e medidas do art. 165
do CTB (multa, suspensão do direito de dirigir e retenção do veículo) ao condutor que, alvo de
fiscalização policial, recusou-se a submeter-se a exame de alcoolemia, vulgarmente chamado
de "teste do bafômetro". A incidência do § 3º do art. 277 do Código de Trânsito Brasileiro, o
qual determina a aplicação dessas penalidades ao condutor recalcitrante, estava limitada,
antes do advento da Lei nº 12.760/2012, à condição de estar ele "sob suspeita de dirigir sob a
influência de álcool". Não podendo haver na lei expressão inútil ou inócua, essa cláusula
impunha à polícia de trânsito o ônus de, no mínimo, relatar pormenorizadamente as razões por
que suspeitava do condutor. Ainda que a referida suspeita envolva juízo consideravelmente
subjetivo, e portanto discricionário, daí não segue que possa ser infundada. Na míngua de
quaisquer elementos que permitam sequer indicar razões que justificassem pesar sobre o
apelante a suspeita de embriaguez, o ato deve ser declarado nulo, porque praticado fora dos
limites que a lei atribui ao poder de polícia de trânsito. Provimento do recurso.

Por todo o exposto, não deve incorrer em medida administrativa de suspensão da habilitação
contida no artigo 165, do CTB.

III – DOS PEDIDOS:

Por todo exposto, requer:

a. Que seja mantida a CNH do Recorrente até que se esgotem todas as possibilidades do
mesmo exercer seu amplo direito de defesa, conforme dicção do artigo 265 do CTB c/c artigo
5º, inciso LV, da Constituição Federal;

b. Que sejam acolhidas as preliminares, não incorrendo o recorrente em penalidade


administrativa contida no artigo 165 CTB pela falta de comprovação de seu estado alcoólico
bem como falta de indicações de alteração da atividade psicomotora, em desconformidade
com o artigo 3º e 5º da Resolução 432 CONTRAN, conforme já exposto;

c. Que seja o presente recurso julgado TOTALMENTE PROCEDENTE, declarando o auto de


infração objeto da lide INSUBSISTENTE, gerando assim a ANULAÇÃO E ARQUIVAMENTO do
mesmo e de suas penalidades, por medida da mais lídima e salutar JUSTIÇA, uma vez que não
restou comprovado que o requerente estava sob efeito de álcool;
d. Caso não seja julgado em até 30 dias da data de seu protocolo, na conformidade do art. 285,
parágrafo 3º do CTB, requer seja atribuído efeito suspensivo, abstendo-se de lançar qualquer
restrição, inclusive para fins de licenciamento e transferência, nos arquivos do órgão ou
entidade executivo de trânsito responsável pelo registro do veículo até que a presente
demanda seja julgada;

e. Que toda e qualquer sanção oriunda da presente infração fique suspensa até a decisão do
órgão competente final.

Termos em que,

Pede Deferimento.

Niterói, 20 de setembro de 2017.

______________________________________

GUILHERME VALENTE ALMEIDA CARDOSO GUIMARÃES

OAB/RJ 197.115
Neste artigo vamos apresentar um modelo de recurso de multa por recusa ao teste do
bafômetro. Sem dúvidas, com a alteração do Código de Trânsito e inserção do art. 165-A ao
diploma legal, criou-se a tese, equivocada, a nosso ver, de que a simples recusa ao teste do
etilômetro seria capaz de presumir a embriaguez.

Embora saibamos que devem existir métodos para coibir a prática direção-bebida, não
podemos aceitar que a Lei estipule presunção de embriaguez.

Até porque já verificamos casos em que a pessoa pela simples ingestão de bombom de licor
foi multada. Multa esta que foi posteriormente anulada pelo Judiciário pelo óbvio motivo de
ausência de álcool capaz de interferir na capacidade psicomotora para a direção.

Indubitável, todavia, que o motorista, sabendo que seria injustamente multado, recusaria o
teste. Não pode, porém. Ser penalizado sem que hajam elementos concretos ou pelo menos
indícios de embriaguez.

Neste contexto nos inclinamos pela inconstitucionalidade do art. 165-A do Código de Trânsito
Brasileiro, como sustentamos no recurso ora apresentado. Vamos a ele!

ILUSTRÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DA JUNTA ADMINISTRATIVA DE RECURSOS DE


INFRAÇÕES DO ESTADO DE [XXXXXX] - DETRAN/XX

[NOME], [ESTADO CIVIL], [PROFISSÃO], inscrito no CPF sob o nº XXX. XXX. XXX-XX, identidade
nº XX. XXX. XXX-X, órgão expedidor: XXXXXXXXXXXXXXX CNH de nº XXXXXX, telefone: XXXX-
XXXX, celular: XXXX-XXXX, e-mail: XXXXXXXXXXXXX, domiciliado na Rua XXXX, [Bairro],
[Cidade], [Estado], Cep XXXXX-XX, vem, tempestivamente, à presença de V. Senhoria,
apresentar RECURSO ADMINISTRATIVO, pelos fatos e fundamentos abaixo elencados:

DA SUPOSTA INFRAÇÃO COMETIDA

Art. 165-A. Recusar-se a ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro procedimento
que permita certificar influência de álcool ou outra substância psicoativa, na forma
estabelecida pelo art. 277:
Infração - gravíssima;

Penalidade - multa (dez vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses;

Medida administrativa - recolhimento do documento de habilitação e retenção do veículo,


observado o disposto no § 4º do art. 270.

DO VEÍCULO

Modelo: XXXXXX

Ano: XXXX

Marca: XXXXXXXXXX

Placa: XXXXXXX

Renavam: XXXXXXX

DOS FATOS E FUNDAMENTOS

O recorrente, no dia XX/XX/XXXX, foi autuado, nos termos do art. 165 - A do CTB, por ter se
recusado a utilizar o etilômetro, conhecido popularmente como teste do bafômetro.

Ainda que a recente modificação da legislação indique que a simples recusa em efetuar o
teste constitui infração, não deve prevalecer este entendimento, uma vez que incompatível
com a legislação vigente.

A norma extraída do artigo em debate visa proteger o cidadão e o próprio motorista contra
acidentes que gerem transtornos e/ou acidentes. Para tanto, é necessário que haja
combinação de determinados elementos para que seja configurada a infração.
Não é razoável punir o condutor/recorrente se, após a verificação pessoal do agente de
trânsito, restar comprovado que o condutor não apresenta sinais de ter utilizado bebida
alcoólica.

É cediço que a interpretação literal, aplicada isoladamente, é insuficiente para atingir o


“espírito da Lei”.

Pelo princípio da universalidade do direito ao trânsito seguro, previsto no art. 1º, § 2º, CTB
c/c art. 144, § 10, I, II, da Constituição Federal, o agente autuador, através da fiscalização, um
dos tripés que norteiam este ramo do Direito (educação – engenharia – fiscalização), deve
trabalhar para que haja a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
seu patrimônio. Todavia, não se pode chegar ao exagero de punir quem não oferece nenhum
risco, como no caso em tela.

Apesar de a autuação constituir um ato administrativo vinculado, é necessário que seja


observado o caso concreto para determinar a presença ou não do risco que o condutor
ofereça naquele determinado momento.

A jurisprudência já se pronunciou no sentido de que a quantidade irrelevante de álcool,


incapaz de atingir a capacidade psicomotora do indivíduo, não devem ser punidas. Neste
sentido:

APELAÇÃO CÍVEL. MANDADO DE SEGURANÇA. INFRAÇÃO DE TRÂNSITO. RECUSA EM


REALIZAR TESTE DE ALCOOLEMIA (BAFÔMETRO). APLICAÇÃO DE MULTA E DE SUSPENSÃO DO
DIREITO DE DIRIGIR. SENTENÇA QUE DENEGOU A SEGURANÇA. IRRESIGNAÇÃO DO
IMPETRANTE. O impetrante foi autuado em fiscalização conhecida como Lei Seca por estar
conduzindo veículo e ter-se negado à realização do teste de alcoolemia. Denegada a
segurança, sob o fundamento de falta de provas capazes de elidir a presunção de legalidade
e legitimidade de que gozam os atos administrativos, apelou o autor. A recusa em submeter-
se ao teste do bafômetro não implica, por si só, em inexorável reconhecimento de estado de
embriaguez, sob pena de violação da vedação a autoincriminação, do direito ao silêncio, da
ampla defesa e do princípio da presunção de inocência. Se o indivíduo não pode ser
compelido a se autoincriminar, nemo tenetur se detegere, não pode ser obrigado a efetuar o
referido teste do bafômetro, competindo à autoridade fiscalizadora provar a embriaguez por
outros meios de modo a aplicar as sanções previstas pelo artigo 165 do Código de Trânsito
Brasileiro. Não há qualquer menção sequer sobre a tentativa de realização de prova indireta
que pudesse atestar o estado de ebriedade do condutor no momento da abordagem.
Concessão da segurança ao impetrante, ora recorrente, para que o impetrado se abstenha de
apreender a sua carteira de habilitação, devolvendo-lhe o prazo legal para apresentação de
recurso, com o devido contraditório e ampla defesa. CONCESSÃO DA ORDEM. RECURSO
CONHECIDO e PROVIDO (XXXXX-17.2014.8.19.0001 – APELAÇÃO; Des (a). CEZAR AUGUSTO
RODRIGUES COSTA - Julgamento: 14/02/2017 - OITAVA CÂMARA CÍVEL).
Importante a observação de que a não autoincriminação está prevista no Pacto de São José
da Costa Rica, que possui status de supralegalidade, devendo prevalecer sobre legislação
ordinária que o contrarie.

Oportuna a menção de que o Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito determina que no


campo de observações deve ser pormenorizada a situação, com os elementos que
demonstrem o verdadeiro estado que em que se encontrava o condutor: se apresentava
sinais de embriaguez na fala, ao andar, de consciência, bem como outros elementos que
conduzam ao entendimento de que a capacidade psicomotora se encontrava atingida, o que
não ocorreu no caso em tela.

Não é outro o entendimento da Resolução 432/13 do CONTRAN:

Art. 5º Os sinais de alteração da capacidade psicomotora poderão ser verificados por:

I – exame clínico com laudo conclusivo e firmado por médico perito; ou

II – constatação, pelo agente da Autoridade de Trânsito, dos sinais de alteração da


capacidade psicomotora nos termos do Anexo II.

§ 1º Para confirmação da alteração da capacidade psicomotora pelo agente da Autoridade de


Trânsito, deverá ser considerado não somente um sinal, mas um conjunto de sinais que
comprovem a situação do condutor.

Frisa-se, ainda, que os sinais de alteração devem ser mencionados no campo de observação
do auto de infração e corresponder aqueles enumerados no anexo II da Resolução 432/13, o
que não ocorreu.

Resolução 432/13. Art. 5º, § 2º. Os sinais de alteração da capacidade psicomotora de que
trata o inciso II deverão ser descritos no auto de infração ou em termo específico que
contenha as informações mínimas indicadas no Anexo II, o qual deverá acompanhar o auto
de infração.

Por fim, porém não menos importante, ressalta-se que não houve, no momento da
abordagem e realização do teste, a apresentação do certificado de calibração do etilômetro,
sendo impossível verificar seu exato funcionamento. Tal fato, por si, é capaz de justificar a
recusa ao teste do bafômetro. Assim caminha a melhor jurisprudência:

... Além dos fatores já mencionados, é também admissível que a recusa do motorista possa
estar lastreada no receio quanto à exatidão do aparelho. A preocupação merece guarida,
tanto que a própria Resolução Contran 432, em seu artigo 4º., assim estabelece:

“Art. 4º. O etilômetro deve atender aos seguintes requisitos:

I - ter seu modelo aprovado pelo INMETRO;

II - ser aprovado na verificação metrológica inicial, eventual, em serviço e anual realizadas


pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia - INMETRO ou por órgão da
Rede Brasileira de Metrologia Legal e Qualidade - RBMLQ;

Parágrafo único. Do resultado do etilômetro (medição realizada) deverá ser descontada


margem de tolerância, que será o erro máximo admissível, conforme legislação metrológica,
de acordo com a "Tabela de Valores Referenciais para Etilômetro" constante no Anexo I”.

De tal sorte, a desconfiança de que o aparelho apresentado para a realização do exame não
preencha todos os requisitos de segurança exigidos, pode sim, gerar o comportamento
negativo por parte do motorista.

Entretanto, nada impede a autoridade local, responsável pela abordagem, na rua, de obter
outros modos de aferição da embriaguez, ou simples ingestão de bebida alcoólica, conforme
já mencionado anteriormente... (APELAÇAO CÍVEL XXXXX-96.2014.8.19.001).

Pelos argumentos e provas apresentados, não deve prevalecer a penalidade pela suposta
infração cometida pelo recorrente.

Diante de todo o exposto, requer:

1. O deferimento do presente recurso, com consequente cancelamento da multa


indevidamente imposta, bem como restabelecimento dos pontos retirados da CNH do
recorrente, assim como devolução da carteira de habilitação e desconsideração da suspensão
do direito de dirigir.
Nestes termos,

Pede deferimento.

[DATA]

_____________________________________

[ASSINATURA]

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Ilustríssimo Senhor Diretor do DETRAN-MA – São Luís/MA

Recurso Administrativo

Auto de Infração: xxxx

Processo nº: xxxx

2ª Instância

XXXXXX, brasileiro, solteiro, estudante, portador do RG nº, inscrito no CPF (MF) sob n.º,
residente e domiciliado . Registro de CNH n.º, proprietário do veículo sob placa n.º, Renavam
n., de cor ,MODELO, licenciado nesta cidade e Estado, particular.

RECURSO ADMINISTRATIVO

Em face à aplicação de penalidade por suposta infração de trânsito prevista no artigo 165-A
do Código de Trânsito Brasileiro, processo nos autos de infração em epígrafe.

DA TEMPESTIVIDADE:

Após a decisão da defesa prévia que ocorreu em 26/03/2018, na qual não obteve êxito, o
recorrente foi notificado em 14/05/2018 da decisão para caso quisesse apresentar recurso ao
CETRAN em 30 dias.

Assim, é de se concluir pela tempestividade deste recurso.

DOS FATOS:

No dia 08/10/2017, o recorrente foi autuado como incurso no artigo 165-A do CTB:

Quando da abordagem a autoridade requereu que o condutor fizesse teste de etilômetro


(bafômetro), contudo, o mesmo preferiu recusar-se a fazê-lo.
Imediatamente, a autoridade lavrou o auto de infração, ora objeto da presente impugnação,
enquadrando o condutor a infração de trânsito descrita como “Recusar-se a ser submetido a
teste, exame clínico, perícia ou outro procedimento que permita certificar influência de
álcool ou outra substância psicoativa, na forma estabelecida pelo art. 165-A do Código de
Trânsito Brasileiro, promovendo em seguida a apreensão da CNH e veículo do condutor. O
automóvel foi liberado na mesma data.

O recorrente impetrou defesa prévia quanto ao auto de infração porém não obteve êxito em
seus pedidos, o que ocasionou a impetração do presente recurso administrativo que visa o
arquivamento desse processo administrativo e a anulação do auto de infração.

Ocorre que o auto de infração não atendeu a todos os requisitos procedimentais, devendo o
mesmo ser anulado, como ficará demonstrado ao final.

DO DIREITO:

Em decisão do 2º JARI quanto a defesa prévia anteriormente apresentada na qual os pedidos


do recorrente foram indeferidos, fundamentaram que em relação a prova do estado de
embriaguez do recorrente não há que se falar, uma vez que a tipicidade da infração
administrativa do art. 165-A, do CTB consiste na simples recusa ao teste, sendo irrelevante
para a configuração da infração o efetivo estado de embriaguez do condutor.

A decisão consta ainda que a conduta do autoridade foi legítima, uma vez que diante da
recusa deve proceder a autuação do condutor, não cabendo ao condutor definir, à sua
escolha, outro procedimento que permita certificar influência de álcool. Porém, como
veremos com o decorrer dos fundamentos elencados, a conduta da autoridade não foi
pautada de legalidade e, dessa forma, o auto de infração deve ser anulado.

3.1 DA RECUSA E DA PROVA DO ESTADO DE EMBRIAGUEZ:

Como anteriormente exposto na defesa prévia, a autoridade que aplicou a penalidade afirma
que o condutor supostamente se recusou a realizar o exame do etilômetro, autuando-o,
conforme artigo 165-A do Código de Trânsito Brasileiro que dispõe: Recusar-se a ser
submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro procedimento que permita certificar
influência de álcool ou outra substância psicoativa, na forma estabelecida pelo art. 277.

Sendo assim, é cediço que a interpretação literal, aplicada isoladamente do artigo 165-A do
CTB, é insuficiente para atingir a finalidade da lei.
O artigo 277, § 3º do Código de Trânsito Brasileiro dispõe que:

Art. 277. O condutor de veículo automotor envolvido em acidente de trânsito ou que for alvo
de fiscalização de trânsito poderá ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro
procedimento que, por meios técnicos ou científicos, na forma disciplinada pelo Contran,
permita certificar influência de álcool ou outra substância psicoativa que determine
dependência.

§ 3o Serão aplicadas as penalidades e medidas administrativas estabelecidas no art. 165


deste Código ao condutor que se recusar a se submeter a qualquer dos procedimentos
previstos no caput deste artigo.

Quanto ao teor do § 3º do art. 277 do CTB, por regra de hermenêutica os parágrafos devem
ser interpretados em consonância com o caput, que, reitere-se, estabeleceu como verdadeiro
pré-requisito a suspeita de ingestão de álcool ao dirigir, o que não pôde ser constatado neste
caso.

Sendo assim, não é razoável punir o recorrente que, após a verificação pessoal do agente de
trânsito, ficou comprovado que o condutor não apresentava sinais de ter utilizado bebida
alcoólica.

O próprio artigo 277, em seu parágrafo 2º preceitua que tendo o condutor se negado a
realizar o exame etilômetro, caberia a autoridade constatar eventuais sinais que denotassem
possível estado de embriaguez do motorista utilizando-se de outros meios de verificação, o
que não ocorreu e nem foi comprovado, vejamos:

§ 2o A infração prevista no art. 165 também poderá ser caracterizada mediante imagem,
vídeo, constatação de sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da
capacidade psicomotora ou produção de quaisquer outras provas em direito admitidas.

Observe que o Código de Trânsito Brasileiro deixa clara a necessidade de ser comprovada a
ingestão de substâncias psicoativas que determinem o estado de embriaguez para que possa
ser imputada ao condutor a infração administrativa.

Além disso, a própria Resolução do COTRAN nº 432/2013 deixa claro em seu artigo 3º que
deve haver sinais que indiquem a alteração da capacidade do condutor, bem como avaliação
testemunhal, vejamos:
Art. 3º. A confirmação da alteração da capacidade psicomotora em razão da influência de
álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência dar-se-á por meio de,
pelo menos, um dos seguintes procedimentos a serem realizados no condutor de veículo
automotor.

I – exame de sangue;

II – exames realizados por laboratórios especializados, indicados pelo órgão ou entidade de


trânsito competente ou pela Polícia Judiciária, em caso de consumo de outras substâncias
psicoativas que determinem dependência;

III – teste em aparelho destinado à medição do teor alcoólico no ar alveolar (etilômetro);

IV – verificação dos sinais que indiquem a alteração da capacidade psicomotora do condutor.

§ 1º Além do disposto nos incisos deste artigo, também poderão ser utilizados prova
testemunhal, imagem, vídeo ou qualquer outro meio de prova em direito admitido.

§ 2º Nos procedimentos de fiscalização deve-se priorizar a utilização do teste com etilômetro.

§ 3º Se o condutor apresentar sinais de alteração da capacidade psicomotora na forma do


art. 5º ou haja comprovação dessa situação por meio do teste de etilômetro e houver
encaminhamento do condutor para a realização do exame de sangue ou exame clínico, não
será necessário aguardar o resultado desses exames para fins de autuação administrativa.

Verifica-se que o condutor não fez nenhum dos procedimentos mencionados e não foi
constatado nenhum sinal de embriaguez, não existindo, assim, provas para que a punição
seja aplicada.

Há ainda a falta do encaminhamento do recorrente para exame de sangue na data do


ocorrido, conforme expressa o § 3º do artigo 3º da resolução em questão, supracitado. Não
há que se falar em recusa do exame de sangue, um dos meios comprobatórios de direção sob
influência de álcool, uma vez que não houve qualquer encaminhamento.
Não obstante a necessidade de suspeita de ingestão de álcool enquanto na direção, não há
qualquer anotação no sentido de que no momento da blitz havia sinais de embriaguez ou
mesmo de recipientes de bebidas no veículo.

Note-se, o ato administrativo tem presunção de veracidade e legitimidade e caso houvesse


anotação no auto de infração de sinal de embriaguez, essa presunção existiria em desfavor
do condutor, contudo, ausente indicação neste sentido, não se pode aplicar a penalidade tão
somente pela recusa em realizar o teste do bafômetro

Deste modo, também não há que se falar em estado de embriaguez e nem mesmo presunção
desta, uma vez não estando presentes os requisitos em questão.

Ainda sobre os possíveis sinais de embriaguez e alteração psicomotora do recorrente,


destaca-se o artigo 5º da Resolução 432 do CONTRAN, que em seu § 1º estabelece que
deverá ser considerado não apenas um sinal, mas um conjunto de sinais que comprovem a
alteração psicomotora do conduzente. Os sinais de alteração deverão constar nos autos de
infração ou em termo anexo, conforme descrito no § 2º do mesmo artigo, e, conforme os
autos de infração contra o recorrente, não há qualquer observação quanto a possíveis sinais
de alteração.

Art. 5º. Os sinais de alteração da capacidade psicomotora poderão ser verificados por:

I - exame clínico com laudo conclusivo e firmado por médico perito; ou

II - constatação, pelo agente da Autoridade de Trânsito, dos sinais de alteração da capacidade


psicomotora nos termos do Anexo II.

§ 1º Para confirmação da alteração da capacidade psicomotora pelo agente da Autoridade de


Trânsito, deverá ser considerado não somente um sinal, mas um conjunto de sinais que
comprovem a situação do condutor.

§ 2º Os sinais de alteração da capacidade psicomotora de que trata o inciso II deverão ser


descritos no auto de infração ou em termo específico que contenha as informações mínimas
indicadas no Anexo II, o qual deverá acompanhar o auto de infração.

Além disso, o artigo 8º, incisos I a IV da mesma resolução dispõem da forma em que o auto
de infração deve ser lavrado, não estabelecendo em nenhum momento que só poderia ser
escolhida uma forma para a comprovação do estado de embriaguez, vejamos:
Art. 8º Além das exigências estabelecidas em regulamentação específica, o auto de infração
lavrado em decorrência da infração prevista no art. 165 do CTB deverá conter:

I – no caso de encaminhamento do condutor para exame de sangue, exame clínico ou exame


em laboratório especializado, a referência a esse procedimento;

II – no caso do art. 5º, os sinais de alteração da capacidade psicomotora de que trata o Anexo
II ou a referência ao preenchimento do termo específico de que trata o § 2º do art. 5º;

III – no caso de teste de etilômetro, a marca, modelo e nº de série do aparelho, nº do teste, a


medição realizada, o valor considerado e o limite regulamentado em mg/L;

IV – conforme o caso, a identificação da (s) testemunha (s), se houve fotos, vídeosnou outro
meio de prova complementar, se houve recusa do condutor, entre outras informações
disponíveis.

Teríamos, portanto, um quadro em que as normas editadas pela Resolução do CONTRAN


exigem a necessidade de comprovação da infração, não importando a simples recusa de uma
das formas de comprovação, uma vez que a própria resolução traz outros meios de se obter
tal prova de embriaguez, as quais não foram utilizadas no presente caso. Assim temos, que o
auto de infração lavrado em desfavor do recorrente foi medida arbitrária, devendo portando
ser anulado e arquivado.

Dessa forma, percebemos que tais medidas que constam no CTB e na Resolução do COTRAN
não foram adotadas pelo agente de trânsito, ficando este apenas limitado ao exame
etilômetro não se utilizando de outros meios, e como a própria lei preceitua, o exame
etilômetro não é a única e nem principal forma de se constatar a embriaguez do condutor
autuado, não dispondo a lei se o agente de trânsito possui a legitimidade de decidir sobre a
aplicação de outros meios ou não.

Assim, não se pode concluir pela existência do estado de embriaguez como consequência
automática da recusa em fazer o teste do etilômetro por parte do condutor do veículo, sendo
necessárias provas que demonstrem que o recorrente estava realmente embriagado.

Além dos artigos expostos anteriormente que fundamentam a necessidade de prova do


estado de embriaguez do recorrente para a aplicação de medida administrativa, constatamos
que igual entendimento é do doutrinador Luiz Flávio Gomes que dispõe o seguinte:
“sabe-se que é uma faculdade do condutor do veículo automotor se submeter à realização
do exame de sangue ou do teste do etilômetro ou bafômetro. A submissão decorre de sua
livre vontade, ao passo que o § 3 do art. 277 do Código de Trânsito Brasileiro impõe sua
realização compulsória sob pena de nova incidência das penalidades previstas no art. 165.
Este preceito fere portanto, o princípio constitucional à não autoincriminação.

... Esse parágrafo tem previsão no capítulo das medidas administrativas, ou seja, ele não
reveste natureza de infração administrativa. Logo, sua incidência com fim sancionador se
revela abusiva ao princípio da legalidade, aplicável por analogia, pois não há infração
administrativa sem prévia cominação legal.

Em último lugar, não há sentido em punir o condutor que não se submete à perícia pelo
bafômetro quando o legislador ordinário previu a possibilidade de caracterização da infração
do art. 165 da Lei de Trânsito por quaisquer provas em direito admitidas. O testemunho dos
policiais, nesse contexto, apenas se revestiria e fé pública mediante colaboração do próprio
condutor?”

Sendo assim, a simples recusa a uma das formas de constatação do estado de embriaguez
não é suficiente para a aplicação da medida prevista no art. 165-A do CTB, devendo ser
utilizada as outras formas ali previstas no próprio artigo de lei.

Da mesma forma é o entendimento da Jurisprudência como veremos abaixo:

“ADMINISTRATIVO. AÇÃO ORDINÁRIA. AUTO DE INFRAÇÃO DE TRÂNSITO. TESTE DO


BAFÔMETRO. RECUSA. NECESSIDADE DE OUTROS MEIOS DE PROVA. ANULAÇÃO.1) O art. 277
do CTB dispõe que a verificação do estado de embriaguez, ao menos para cominação de
penalidade administrativa, pode ser feita por outros meios de prova que não o teste do
etilômetro. A despeito das discussões acerca do art. 277, 3º, CTB, a jurisprudência exige que
a embriaguez esteja demonstrada por outros meios de prova, não podendo ser decorrência
automática da recusa em realizar o teste. 2) Quando, além de não ter se envolvido em
acidente de trânsito, não há nenhum indício externo de que o condutor esteja dirigindo sob o
efeito de bebidas alcoólicas, a simples recusa em fazer o teste do etilômetro (‘bafômetro’)
não pode ser considerada como caracterizadora do estado de embriaguez. Deve constar no
auto de infração a fundamentação da exigência do etilômetro. Anulação do Auto de Infração.
(TRF4, AC nº 500806964.2013.404.7102/RS, 3ª Turma, Rel. Juíza Federal Salise Monteiro
Sanchotene, D.E. 14/04/2015)”

“APELAÇÃO CÍVEL. PEDIDO DE ANULAÇÃO DE AUTO DE INFRAÇÃO. ACIDENTE DE TRÂNSITO.


ESTADO DE EMBRIAGUEZ DO CONDUTOR DO VEÍCULO. CONSTATAÇÃO. EXAME CLÍNICO.
HIGIDEZ. PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO. REGULARIDADE. O artigo 277 do Código de
Trânsito Brasileiro preconiza que o estado de embriaguez do condutor de veículo pode ser
atestado por diversos meios e, dentre eles, se encontra o exame clínico. Se aludido exame foi
formalizado por profissional preparado para lidar com situações desse jaez, incogitável falar-
se em inconsistência dessa prova, tanto mais quando a mesma descreve o real estado do
autor logo após o acidente, tais como alteração na coordenação motora, marcha ebriosa,
forte odor etílico, sonolência, olhos vermelhos etc., circunstâncias essas que induzem
conclusão de que o condutor havia consumido bebida alcoólica suficiente a caracterizar o seu
estado de embriaguez, em patamar superior a seis decigramas. 2. Incogitável falar-se em
anulação do auto de infração de que os autos dão notícia, tanto mais quando observado que
o procedimento administrativo instaurado transcorreu dentro dos lindes da regularidade e
legalidade, havendo a estrita observância e preservação do amplo direito de defesa do
apelado. Recurso não provido.Acórdão n.537317, 20090111784998APC, Relator: J. J. COSTA
CARVALHO, Revisor: SÉRGIO ROCHA, 2ª Turma Cível, Data de Julgamento: 21/09/2011,
Publicado no DJE: 27/09/2011. Pág.: 126)

Por fim, porém não menos importante, ressalta-se que não houve, no momento da
abordagem e realização do teste, a apresentação do certificado de calibração do etilômetro,
sendo impossível verificar seu exato funcionamento. Tal fato, por si, é capaz de justificar a
recusa ao teste do etilômetro. Vejamos a jurisprudência sobre o tema:

“... Além dos fatores já mencionados, é também admissível que a recusa do motorista possa
estar lastreada no receio quanto à exatidão do aparelho. A preocupação merece guarida,
tanto que a própria Resolução Contran 432, em seu artigo 4º., assim estabelece:

Art. 4º. O etilômetro deve atender aos seguintes requisitos:

I - ter seu modelo aprovado pelo INMETRO;

II - ser aprovado na verificação metrológica inicial, eventual, em serviço e anual realizadas


pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia - INMETRO ou por órgão da
Rede Brasileira de Metrologia Legal e Qualidade - RBMLQ;

Parágrafo único. Do resultado do etilômetro (medição realizada) deverá ser descontada


margem de tolerância, que será o erro máximo admissível, conforme legislação metrológica,
de acordo com a "Tabela de Valores Referenciais para Etilômetro" constante no Anexo I”.

De tal sorte, a desconfiança de que o aparelho apresentado para a realização do exame não
preencha todos os requisitos de segurança exigidos, pode sim, gerar o comportamento
negativo por parte do motorista.
Entretanto, nada impede a autoridade local, responsável pela abordagem, na rua, de obter
outros modos de aferição da embriaguez, ou simples ingestão de bebida alcoólica, conforme
já mencionado anteriormente... (APELAÇAO CÍVEL XXXXX-96.2014.8.19.001).”

Desta feita, diante da ausência de elementos que justifiquem a medida aplicada, como
comprovado anteriormente requer a anulação do auto de infração e arquivamento do
presente processo.

3.2 DO ÔNUS DA PROVA:

Cumpre destacar ainda que o ônus da prova da alegação da recusa em se submeter a


qualquer verificação do estado de embriaguez é de quem alega, ou seja, do agente público
que lavrou o auto de infração. Cabe destacar que não há qualquer comprovação da recusa do
recorrente em se submeter aos outros testes que evidenciem sua suposta embriaguez, o que
restringe o recorrente a ser submetido a imputação do art. 165-A do CTB apenas pela sua
recusa do teste do etilômetro, o que inclusive vai contra o que dispõe o próprio artigo de lei.

O artigo 165-A do CTB afirma que recusar-se a ser submetido a teste, exame clínico, perícia
ou outro procedimento que permita certificar influência de álcool ou outra substância
psicoativa é causa de imputação de infração administrativa, porém tal dispositivo não dispõe
quantas recusas devem ocorrer para a configuração da infração, não existindo nem na
doutrina um entendimento consolidado sobre o tema.

Veja, o recorrente não se recusou a realizar qualquer exame clínico ou outro procedimento
que atestasse seu suposto estado de embriaguez, este se recusou apenas em ser submetido
ao exame do etilômetro. É sabido que os agentes administrativos devem pautar seus atos
segundo os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. Dessa forma, se torna
desproporcional o recorrente ser responsabilizado de forma tão gravosa por uma conduta
que a própria legislação deixa margem a dúvidas e que para uma parte dos doutrinadores vai
de encontro contra a Constituição Federal.

Pelo princípio da universalidade do direito ao trânsito seguro, previsto no art. 1º, § 2º, do
Código de Trânsito Brasileiro c/c art. 144, § 10, I, II, da Constituição Federal, o agente
autuador, através da fiscalização, deve trabalhar para que haja a preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas e do seu patrimônio. Todavia, não se pode chegar ao
exagero de punir quem não oferece nenhum risco, como no caso em tela.

Por esse motivo, e seguindo o princípio da razoabilidade e da proporcionalidade, pautado


pelos prejuízos que o recorrente pode sofrer caso lhe seja imputado a infração prevista no
art. 165-A, requer a anulação e arquivamento do auto de infração.
DO CABIMENTO DO PRINCÍPIO DA NÃO AUTO-INCRIMINAÇÃO:

A decisão ainda afirma que quanto a recursos administrativos a lei distinguiu claramente a
esfera criminal, onde o acusado não pode ser punido por se negar a produzir prova contra si,
já na esfera administrativa, não é possível a aplicação da regra probatória derivada do
princípio da presunção de inocência, uma vez que a infração de trânsito é ilícito civil, ou seja,
tal princípio só é cabível na esfera criminal.

É sabido que o princípio da não auto-incriminarão tem base constitucional, estando disposto
em seu artigo 5º, mas também é previsto de forma expressa no Pacto de São José da Costa
Rica, no artigo 8º, inciso 2, alínea g, cuja redação é a seguinte:

Art. 8º – Garantias judiciais:

2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto
não for legalmente comprovada sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em
plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:

g) direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada

Importante a observação de que o princípio da não auto-incriminação está prevista no Pacto


de São José da Costa Rica, que possui status de supra legalidade, devendo prevalecer sobre
legislação ordinária que o contrarie.

Concluímos com o enunciado do artigo que por força do Tratado, ou em face da Constituição
Federal tal princípio não se limita apenas na esfera criminal, podendo ser utilizado em
qualquer esfera, incluindo a administrativa. Seria inclusive contraditório a não incidência de
tal princípio na esfera administrativa, uma vez que o mesmo pode ser invocado no PAD
(Processo administrativo disciplinar) que faz parte da esfera administrativa.

Dessa forma é o entendimento consolidado do Superior Tribunal de Justiça, vejamos:

“RECURSO ORDINÁRIO – MANDADO DE SEGURANÇA – PROCESSO ADMINISTRATIVO


DISCIPLINAR – EMBRIAGUEZ HABITUAL NO SERVIÇO – COAÇÃO DO SERVIDOR DE PRODUZIR
PROVA CONTRA SI MESMO, MEDIANTE A COLETA DE SANGUE, NA COMPANHIA DE POLICIAIS
MILITARES – PRINCÍPIO DO NEMO TENETUR SE DETEGERE – VÍCIO FORMAL DO PROCESSO
ADMINISTRATIVO – CERCEAMENTO DE DEFESA – DIREITO DO SERVIDOR À LICENÇA PARA
TRATAMENTO DE SAÚDE E, INCLUSIVE, À APOSENTADORIA POR INVALIDEZ – RECURSO
PROVIDO1. É inconstitucional qualquer decisão contrária ao princípio nemo tenetur se
detegere, o que decorre da inteligência do art. 5º, LXIII, da Constituição da Republica e art.
8º, § 2º, g, do Pacto de São José da Costa Rica. Precedentes.2. Ocorre vício formal no
processo administrativo disciplinar, por cerceamento de defesa, quando o servidor é
obrigado a fazer prova contra si mesmo, implicando a possibilidade de invalidação da
penalidade aplicada pelo Poder Judiciário, por meio de mandado de segurança.3. A
embriaguez habitual no serviço, ao contrário da embriaguez eventual, trata-se de patologia,
associada a distúrbios psicológicos e mentais de que sofre o servidor.4. O servidor acometido
de dependência crônica de alcoolismo deve ser licenciado, mesmo compulsoriamente, para
tratamento de saúde e, se for o caso, aposentado por invalidez, mas nunca demitido, por ser
titular de direito subjetivo à saúde e vítima do insucesso das políticas públicas sociais do
Estado.5. Recurso provido (RMS 18007, 6ª T., Rel. Min. Paulo Medina, DJU 02.05.2006, p.
390)

Como decorrência deste princípio, o cidadão ao se negar a se submeter à prova do etilômetro


atesta um mero exercício regular de um direito. Como tal, ato perfeitamente lícito, a teor do
artigo 23, inciso III, do Código Penal, não devendo ser punível como expressa o Código de
Trânsito Brasileiro.

O recorrente ao recusar-se a soprar o etilômetro, em que não pode ser obrigado a fazer,
sendo uma faculdade, e a sua negativa não deve ser de qualquer modo prejudicial à sua
defesa, seja no âmbito criminal, quanto no administrativo. Posto isto, não será lícito fazê-lo
sofrer a incidência das penalidades previstas no art. 165-A, do CTB, a menos que se aceite
que em um Estado Democrático de Direito possa alguém vir a ser penalizado por estar no
exercício regular de um direito previsto na Constituição Federal, qual seja, a não auto-
incriminação.

Da mesma forma é o entendimento do doutrinador Luiz Flávio Gomes que afirma que: “as
dimensões do direito de não auto-incriminação que acabamos de elencar valem (são
vigentes, incidem) tanto para a fase investigatória (qualquer que seja ela: inquérito policial,
CPI etc.) como para a fase processual (propriamente dita). Vale também perante qualquer
outro juízo (trabalhista, civil, administrativo etc.) ... É irracional imaginar que alguém possa
invocar a garantia perante o juízo penal, sendo obrigado a se incriminar perante um juízo
trabalhista, civil, administrativo etc. A prova decorrente dessa auto-incriminação lhe
compromete”.

Da mesma forma é o entendimento da jurisprudência quanto à recusa em se submeter a


teste do etilômetro com base no princípio da não auto-incriminação:

“APELAÇÃO CÍVEL. MANDADO DE SEGURANÇA. INFRAÇÃO DE TRÂNSITO. RECUSA EM


REALIZAR TESTE DE ALCOOLEMIA (BAFÔMETRO). APLICAÇÃO DE MULTA E DE SUSPENSÃO DO
DIREITO DE DIRIGIR. SENTENÇA QUE DENEGOU A SEGURANÇA. IRRESIGNAÇÃO DO
IMPETRANTE. O impetrante foi autuado em fiscalização conhecida como Lei Seca por estar
conduzindo veículo e ter-se negado à realização do teste de alcoolemia. Denegada a
segurança, sob o fundamento de falta de provas capazes de elidir a presunção de legalidade
e legitimidade de que gozam os atos administrativos, apelou o autor. A recusa em submeter-
se ao teste do bafômetro não implica, por si só, em inexorável reconhecimento de estado de
embriaguez, sob pena de violação da vedação a autoincriminação, do direito ao silêncio, da
ampla defesa e do princípio da presunção de inocência. Se o indivíduo não pode ser
compelido a se autoincriminar, nemo tenetur se detegere, não pode ser obrigado a efetuar o
referido teste do bafômetro, competindo à autoridade fiscalizadora provar a embriaguez por
outros meios de modo a aplicar as sanções previstas pelo artigo 165 do Código de Trânsito
Brasileiro. Não há qualquer menção sequer sobre a tentativa de realização de prova indireta
que pudesse atestar o estado de ebriedade do condutor no momento da abordagem.
Concessão da segurança ao impetrante, ora recorrente, para que o impetrado se abstenha de
apreender a sua carteira de habilitação, devolvendo-lhe o prazo legal para apresentação de
recurso, com o devido contraditório e ampla defesa. CONCESSÃO DA ORDEM. RECURSO
CONHECIDO e PROVIDO (XXXXX-17.2014.8.19.0001 – APELAÇÃO; Des (a). CEZAR AUGUSTO
RODRIGUES COSTA - Julgamento: 14/02/2017 - OITAVA CÂMARA CÍVEL).”

“AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE ATO ADMINISTRATIVO. OPERAÇÃO "LEI SECA".


RECUSA EM REALIZAR TESTE DE ALCOOLEMIA (BAFÔMETRO). AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO NO
AUTO DE INFRAÇÃO DE SINAIS DE EMBRIAGUEZ. ART. 277, CAPUT, DO CÓDIGO DE TRÂNSITO
BRASILEIRO. NULIDADE DO AUTO. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO. REFORMA.
Vigia à época dos fatos narrados a redação dada pela Lei 11.275/2006 ao art. 277, caput, do
Código de Trânsito Brasileiro, a dispor que o condutor de veículo alvo de fiscalização seria
submetido a exame caso houvesse suspeita de ingestão de álcool. Contudo, no auto de
infração impugnado, ou em qualquer outro elemento dos autos, não há anotação de indícios
nesse sentido, ao passo que o art. 277, § 3º, do referido diploma (ao prever a penalidade a
quem se recusar a realizar o teste do bafômetro), deve ser interpretada em harmonia com o
disposto no caput. Por outro lado, sabendo-se que o ato administrativo tem presunção de
veracidade e legitimidade, com a indicação de sinais de embriaguez passaria a militar
presunção em desfavor do condutor, que poderia ser desfeita com a realização do teste de
alcoolemia (bafômetro). Mas diante da ausência de anotação dos referidos indícios,
nenhuma presunção foi feita contra o demandante. Finalmente, a recusa em realizar o teste
é legítima, diante do direito de não autoincriminação previsto no Pacto de San José da Costa
Rica, do qual o Brasil é signatário, não podendo ser aplicada penalidade pela simples
negativa de realização. Assim, diante da ausência de regularidade no auto de infração, e
sendo legítima a recusa em realizar o teste do bafômetro, mostra-se nulo o auto de infração,
devendo ser reformada a sentença. Precedentes. PROVIMENTO DO RECURSO. (TJ-RJ - APL:
XXXXX20118190001 RJ XXXXX-14.2011.8.19.0001, Relator: DES. CARLOS SANTOS DE
OLIVEIRA, Data de Julgamento: 20/08/2013, VIGÉSIMA SEGUNDA CÂMARA CIVEL, Data de
Publicação: 25/09/2013 14:02)

Sendo assim, não é cabível a aplicação do art. 165-A do CTB contra o recorrente que na
recusa em realizar o teste do etilômetro estava resguardado pelo princípio da não auto-
incriminação, devendo ter sido utilizada outras formas de atestar o estado de embriaguez,
como consta na legislação que trata do tema, caso que não ocorreu com o recorrente.
Por todo o exposto, o recorrente não deve incorrer na penalidade de multa e suspensão de
dirigir por 12 (doze) meses e em medida administrativa de recolhimento de habilitação e
retenção do veículo, contida no artigo 165-A do CTB.

DOS PEDIDOS:

Por todo exposto, requer:

a) que seja mantida a CNH do Recorrente e que seja suspensa a multa a ele acometida até
que se esgotem todas as possibilidades do mesmo exercer seu amplo direito de defesa,
conforme dicção do artigo 265 do CTB c/c artigo 5º, inciso LV, da Constituição Federal;

b) requer que seja o presente recurso julgado TOTALMENTE PROCEDENTE, declarando o auto
de infração objeto da lide INSUBSISTENTE, gerando assim a ANULAÇÃO E ARQUIVAMENTO
do mesmo e de suas penalidades, por medida da mais lídima e salutar JUSTIÇA.

c) Caso não seja julgado em até 30 dias da data de seu protocolo, na conformidade do art.
285, parágrafo 3º do CTB, requer seja atribuído efeito suspensivo, abstendo-se de lançar
qualquer restrição, inclusive para fins de licenciamento e transferência, nos arquivos do
órgão ou entidade executivo de trânsito responsável pelo registro do veículo até que a
presente demanda seja julgada.

Protesta provar o alegado por todos os meios de provas em direito admitidos.

Nestes termos,

Pede deferimento.

São Luís - MA, 04 de junho de 2018.

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