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RECORRENTE..., nacionalidade..., inscrito (a) no RG sob o nº..., CNH nº..., e CPF nº..., residente
e domiciliado (a) em..., nº..., Bairro..., Cidade..., UF..., CEP..., tendo sido autuado através do
auto de infração em anexo, vem, a presença de Vossa Senhoria, com fundamento no artigo 285
do Código de Trânsito Brasileiro, interpor
em face da decisão da autoridade de trânsito que indeferiu a defesa prévia apresenta contra o
auto de infração de trânsito nº..., pelas razões de fato e de direito que passa a expor.
RENAVAN...
DOS FATOS
Trata-se de recurso administrativo interposto em razão da autoridade de trânsito ter indeferido
a defesa prévia apresentada, mantendo equivocadamente a penalidade ao recorrente, como
será demonstrado a seguir.
Consta no Auto de Infração de Trânsito, que no dia..., por volta das... horas, o recorrente teria
infringido o artigo... do Código de Trânsito Brasileiro - CTB, ocasião em que restou aplicada a
penalidade de multa no valor de R$... e perda de... pontos na – Carteira Nacional de
Habilitação - CNH.
Ocorre que o Auto de Infração de Trânsito é flagrante nulo, razão pela qual a decisão da
autoridade de trânsito que manteve a penalidade merece ser reformada.
Acontece que a mera recusa do condutor em se submeter aos exames de alcoolemia, sem que
haja suspeita pautada em elementos plausíveis para desconstituir a presunção de inocência de
que milita a seu favor, não é suficiente para sustentar a punição por recusa ao teste do
bafômetro.
De acordo com a redação do artigo 165-A do CTB, e a lógica que dele se depreende, somente é
possível autuar o condutor que se recuse a realizar os testes caso esse apresente sinais
externos de influência de álcool -, os quais deverão ser devidamente certificados por meio do
Termo próprio, com descrição de todas as características que levam à conclusão e na presença
de testemunha idônea, ou outros meios, descritos no art. 277 do CTB.
Desse modo, não sendo constatado formalmente que o cidadão conduzia veículo automotor
sob sinais externos de álcool ou substância psicoativa, não há infração de trânsito.
Destarte, autuar o condutor que não apresenta qualquer ameaça à segurança no trânsito, pela
mera recusa em realizar os testes oferecidos pelos agentes de trânsito, configura
arbitrariedade.
Assim, a infração aplicada com fundamento no artigo 165-A do CTB, viola frontalmente os
Princípios Constitucionais de Liberdade.
Ora, somente é possível certificar uma situação quando houver, pelo menos, indícios mínimos
de tal estado. Desse modo, não sendo constatado formalmente pelo agente de trânsito
qualquer sinal de que o autor estava conduzindo veículo sob efeito de álcool ou substância
psicoativa, a autuação pelo artigo 165-A do CTB configura ato arbitrário e sem motivação.
Não é demasia relembrar que os atos da Administração devem ser revestir de LEGALIDADE, isto
é, devem se dar na forma estritamente prevista na lei (ou em regulamentos). Exorbitado isso,
trata-se de ato ilegal.
Assim, o artigo 165-A do CTB, quando aplicado de maneira avulsa de qualquer prova do sinal
externo de embriaguez do condutor, fere frontalmente o Princípio da Proporcionalidade, na
medida em que a reprovação social da infração por mera recusa aos testes de comprovação da
alcoolemia é muito menor do que no caso da infração ao artigo 165 do CTB, propriamente,
pois nesta hipótese o condutor comprovadamente dirige veículo sob a influência de álcool e/ou
substâncias psicoativas, o que hipoteticamente, à luz princípios constitucionais, exigiria maior
rigidez no tratamento.
Cabe destacar que o artigo 277, § 3º, do CTB continua em vigor, o qual indica outros meios
capazes de aferir a embriaguez:
Art. 277. O condutor de veículo automotor envolvido em acidente de trânsito ou que for alvo
de fiscalização de trânsito poderá ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro
procedimento que, por meios técnicos ou científicos, na forma disciplinada pelo Contran,
permita certificar influência de álcool ou outra substância psicoativa que determine
dependência.
§ 2º A infração prevista no art. 165 também poderá ser caracterizada mediante imagem, vídeo,
constatação de sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da
capacidade psicomotora ou produção de quaisquer outras provas em direito admitidas.
I – exame de sangue;
§ 1º Além do disposto nos incisos deste artigo, também poderão ser utilizados prova
testemunhal, imagem, vídeo ou qualquer outro meio de prova em direito admitido.
(...)
Destaca-se que o Anexo II da referida resolução estabelece informações mínimas que deverão
constar no termo mencionado no Auto de Infração, para constatação dos sinais de alteração da
capacidade psicomotora pelo agente da Autoridade de Trânsito, sendo que nenhum dos sinais
ali previstos foram incluídos no Auto de Infração.
Desse modo, não sendo constatado formalmente pelo agente de trânsito qualquer sinal de que
o autor estava conduzindo veículo sob efeito de álcool ou substância psicoativa, a autuação
pelo artigo 165-A do CTB configura ato arbitrário e sem motivação.
Não obstante, mesmo examinando apenas as disposições dos artigos 277 e 165-A do CTB, fica
evidente que o objetivo da reprimenda não é punir quem, sem externar nenhum sinal ou
sintoma de que esteja sob a influência de álcool ou outra substância psicoativa, se recuse a se
submeter aos testes e exames para apuração da alcoolemia.
Por essa razão, quando optar por fazê-lo é imperioso que se esclareça o porquê da medida, sob
pena dessa providência se tornar arbitrária, discriminatória, parcial, tendenciosa e ilegal.
Sob essa perspectiva, a mera recusa do condutor em se submeter aos exames de alcoolemia,
sem que haja suspeita pautada em elementos plausíveis para desconstituir a presunção de
inocência que milita a seu favor, não é suficiente para sustentar a punição prevista no art. 165-
A do CTB.
Portanto, configura sanção abusiva a aplicação de penalidade tão gravosa à simples recusa do
teste do etilômetro, cabendo a anulação aqui pleiteada.
A invalidação de um ato administrativo por violação dos princípios constitucionais não importa,
necessariamente, no exame de mérito, mas sim, da investigação acerca do atendimento dos
limites impostos pelo Direito ao administrador quando do exercício de sua discricionariedade.
A legalidade, como princípio de administração ( CF, art. 37, caput), significa que o
administrador público está, em toda a sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei
e às exigências do bem comum, e deles não se pode afastar ou desviar, sob pena de praticar
ato inválido e expor-se a responsabilidade disciplinar, civil e criminal, conforme o caso.
O Princípio da legalidade significa estar a Administração Pública, em toda sua atividade, presa
aos mandamentos da lei, deles não se podendo afastar, sob pena de invalidade do ato e
responsabilidade do seu autor. Qualquer ação estatal sem o correspondente calço legal ou que
exceda o âmbito demarcado pela lei, é injurídica e expõe à anulação. Seu campo de ação, como
se vê, é bem menor que o do particular. De fato, este pode fazer tudo que a lei permite e tudo
o que a lei não proíbe; aquela só pode fazer o que a lei autoriza e, ainda assim, quando e como
autoriza. Vale dizer, se a lei nada dispuser, não pode a Administração Pública agir, salvo em
situação excepcional (grande perturbação da ordem, guerra)” (in GASPARINI, Diógenes, Direito
Administrativo, Ed. Saraiva, SP, 1989, p.06)
Dessa forma, somente é válido o auto de infração de trânsito que preenche todos os requisitos
estabelecidos na lei de regência, fornecendo ao autuado os elementos necessários e
indispensáveis à plenitude de sua defesa.
Não é em vão, por exemplo, que o artigo 50 da Lei de Processo Administrativo preveja que
deve ser fundamentado o ato que:
Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos
fundamentos jurídicos, quando:
Sobre a motivação dos atos jurisdicionais, Diogo de Figueiredo Moreira Neto explana que:
Por decisão, não se deve entender, porém, qualquer ato administrativo ou judiciário que
apenas contenha um mandamento, senão aquele cujo comando aplique uma solução a litígios,
controvérsias e dúvidas, conhecendo, acolhendo ou denegando pretensões, através das
adequadas vias processuais, ainda que atuando de ofício; essa, a ratio do art. 50 da Lei 9.784,
de 29 de janeiro de 1999 (Lei de Processo Administrativo Federal), que impõe à Administração
Pública o dever de motivar os atos administrativos que neguem, limitem ou afetem direitos ou
interesses dos administrados.
Com efeito, se o Poder Judiciário, a quem caberá sempre o controle final da juridicidade de
qualquer decisão, está obrigado à motivação das suas decisões administrativas, com mais
razão, a ela também estarão os Poderes Legislativo, Executivo e os órgãos constitucionalmente
autônomos, cada um em suas respectivas decisões administrativas, pois só assim ficará
garantida a efetividade do controle (Curso de direito administrativo: parte introdutória, parte
geral e parte especial / Diogo de Figueiredo Moreira Neto. – 16. ed. rev. e atual. – Rio de
Janeiro : Forense, 2014, p.153-154).
DOS PEDIDOS
a) Seja julgado PROCEDENTE o presente recurso, para cancelar a penalidade imposta, nos
termos do art. 281, do CTB, anulando todos os seus efeitos;
b) Caso o presente recurso não seja julgado em 30 dias, requer a concessão de efeito
suspensivo nos termos do Art. 285, § 3º do CTB.
Pede deferimento.
Local e data.
Assinatura
Neste artigo vamos apresentar um modelo de recurso de multa por recusa ao teste do
bafômetro. Sem dúvidas, com a alteração do Código de Trânsito e inserção do art. 165-A ao
diploma legal, criou-se a tese, equivocada, a nosso ver, de que a simples recusa ao teste do
etilômetro seria capaz de presumir a embriaguez.
Embora saibamos que devem existir métodos para coibir a prática direção-bebida, não
podemos aceitar que a Lei estipule presunção de embriaguez.
Até porque já verificamos casos em que a pessoa pela simples ingestão de bombom de licor foi
multada. Multa esta que foi posteriormente anulada pelo Judiciário pelo óbvio motivo de
ausência de álcool capaz de interferir na capacidade psicomotora para a direção.
Indubitável, todavia, que o motorista, sabendo que seria injustamente multado, recusaria o
teste. Não pode, porém. Ser penalizado sem que hajam elementos concretos ou pelo menos
indícios de embriaguez.
Neste contexto nos inclinamos pela inconstitucionalidade do art. 165-A do Código de Trânsito
Brasileiro, como sustentamos no recurso ora apresentado. Vamos a ele!
[NOME], [ESTADO CIVIL], [PROFISSÃO], inscrito no CPF sob o nº XXX. XXX. XXX-XX, identidade
nº XX. XXX. XXX-X, órgão expedidor: XXXXXXXXXXXXXXX CNH de nº XXXXXX, telefone: XXXX-
XXXX, celular: XXXX-XXXX, e-mail: XXXXXXXXXXXXX, domiciliado na Rua XXXX, [Bairro], [Cidade],
[Estado], Cep XXXXX-XX, vem, tempestivamente, à presença de V. Senhoria, apresentar
RECURSO ADMINISTRATIVO, pelos fatos e fundamentos abaixo elencados:
Art. 165-A. Recusar-se a ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro procedimento
que permita certificar influência de álcool ou outra substância psicoativa, na forma
estabelecida pelo art. 277:
Infração - gravíssima;
Penalidade - multa (dez vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses;
DO VEÍCULO
Modelo: XXXXXX
Ano: XXXX
Marca: XXXXXXXXXX
Placa: XXXXXXX
Renavam: XXXXXXX
O recorrente, no dia XX/XX/XXXX, foi autuado, nos termos do art. 165 - A do CTB, por ter se
recusado a utilizar o etilômetro, conhecido popularmente como teste do bafômetro.
Ainda que a recente modificação da legislação indique que a simples recusa em efetuar o teste
constitui infração, não deve prevalecer este entendimento, uma vez que incompatível com a
legislação vigente.
A norma extraída do artigo em debate visa proteger o cidadão e o próprio motorista contra
acidentes que gerem transtornos e/ou acidentes. Para tanto, é necessário que haja
combinação de determinados elementos para que seja configurada a infração.
Pelo princípio da universalidade do direito ao trânsito seguro, previsto no art. 1º, § 2º, CTB c/c
art. 144, § 10, I, II, da Constituição Federal, o agente autuador, através da fiscalização, um dos
tripés que norteiam este ramo do Direito (educação – engenharia – fiscalização), deve
trabalhar para que haja a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
seu patrimônio. Todavia, não se pode chegar ao exagero de punir quem não oferece nenhum
risco, como no caso em tela.
Apesar de a autuação constituir um ato administrativo vinculado, é necessário que seja
observado o caso concreto para determinar a presença ou não do risco que o condutor ofereça
naquele determinado momento.
Importante a observação de que a não autoincriminação está prevista no Pacto de São José da
Costa Rica, que possui status de supralegalidade, devendo prevalecer sobre legislação ordinária
que o contrarie.
Frisa-se, ainda, que os sinais de alteração devem ser mencionados no campo de observação do
auto de infração e corresponder aqueles enumerados no anexo II da Resolução 432/13, o que
não ocorreu.
Resolução 432/13. Art. 5º, § 2º. Os sinais de alteração da capacidade psicomotora de que trata
o inciso II deverão ser descritos no auto de infração ou em termo específico que contenha as
informações mínimas indicadas no Anexo II, o qual deverá acompanhar o auto de infração.
Por fim, porém não menos importante, ressalta-se que não houve, no momento da abordagem
e realização do teste, a apresentação do certificado de calibração do etilômetro, sendo
impossível verificar seu exato funcionamento. Tal fato, por si, é capaz de justificar a recusa ao
teste do bafômetro. Assim caminha a melhor jurisprudência:
... Além dos fatores já mencionados, é também admissível que a recusa do motorista possa
estar lastreada no receio quanto à exatidão do aparelho. A preocupação merece guarida, tanto
que a própria Resolução Contran 432, em seu artigo 4º., assim estabelece:
II - ser aprovado na verificação metrológica inicial, eventual, em serviço e anual realizadas pelo
Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia - INMETRO ou por órgão da Rede
Brasileira de Metrologia Legal e Qualidade - RBMLQ;
Parágrafo único. Do resultado do etilômetro (medição realizada) deverá ser descontada
margem de tolerância, que será o erro máximo admissível, conforme legislação metrológica, de
acordo com a "Tabela de Valores Referenciais para Etilômetro" constante no Anexo I”.
De tal sorte, a desconfiança de que o aparelho apresentado para a realização do exame não
preencha todos os requisitos de segurança exigidos, pode sim, gerar o comportamento
negativo por parte do motorista.
Entretanto, nada impede a autoridade local, responsável pela abordagem, na rua, de obter
outros modos de aferição da embriaguez, ou simples ingestão de bebida alcoólica, conforme já
mencionado anteriormente... (APELAÇAO CÍVEL XXXXX-96.2014.8.19.001).
Pelos argumentos e provas apresentados, não deve prevalecer a penalidade pela suposta
infração cometida pelo recorrente.
Nestes termos,
Pede deferimento.
[DATA]
_____________________________________
[ASSINATURA]
NOME, brasileiro, solteiro, inscrito no CPF sob o número xxxx, residente e domiciliado no
endereço...., vem à presença de V. Sra. apresentar
DEFESA DE AUTUAÇÃO
O condutor, na data de 29/08/2015, por voltas das 04:00h, dirigia seu veículo REUNAULT
SYMBOL, placas XXXX, pela BR 116, quando foi abordado pela autoridade matrícula nº xxxxxx,
lotado no órgão xxxxx.
Dessa forma, patente que o auto de infração não atendeu a todos os requisitos
procedimentais, devendo o mesmo ser anulado, como ficará demonstrado ao final.
-->
O art. 165 do CTB prevê como conduta ilícita dirigir sob influência de álcool ou qualquer outra
substância psicoativa que determine dependência, infração gravíssima passível de multa:
Art. 165. Dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que
determine dependência: (Redação dada pela Lei nº 11.705, de 2008)
Penalidade - multa (dez vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses. (Redação
dada pela Lei nº 12.760, de 2012)
Para identificação do estado de embriaguez o art. 277 do CTB determina “teste, exame clínico,
perícia ou outro procedimento que, por meios técnicos ou científicos, na forma disciplinada
pelo Contran, permita certificar influência de álcool ou outra substância psicoativa que
determine dependência”. O parágrafo 2º ainda prevê a utilização de imagem, vídeo e outras
provas em direito admitidas.
Art. 277. O condutor de veículo automotor envolvido em acidente de trânsito ou que for alvo
de fiscalização de trânsito poderá ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro
procedimento que, por meios técnicos ou científicos, na forma disciplinada pelo Contran,
permita certificar influência de álcool ou outra substância psicoativa que determine
dependência. (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012)
§ 2º A infração prevista no art. 165 também poderá ser caracterizada mediante imagem, vídeo,
constatação de sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da
capacidade psicomotora ou produção de quaisquer outras provas em direito admitidas.
(Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012)
I – exame de sangue;
§ 1º Além do disposto nos incisos deste artigo, também poderão ser utilizados prova
testemunhal, imagem, vídeo ou qualquer outro meio de prova em direito admitido.
etilômetro.
Art. 9º O veículo será retido até a apresentação de condutor habilitado, que também será
submetido à fiscalização.
Parágrafo único. Caso não se apresente condutor habilitado ou o agente verifique que ele não
está em condições de dirigir, o veículo será recolhido ao depósito do órgão ou entidade
responsável pela fiscalização, mediante recibo.
Art. 10. O documento de habilitação será recolhido pelo agente, mediante recibo, e ficará sob
custódia do órgão ou entidade de trânsito responsável pela autuação até que o condutor
comprove que não está com a capacidade psicomotora alterada, nos termos desta Resolução.
A doutrina do direito administrativo ensina que os atos administrativos devem ser motivados
para produzir efeitos válidos sob os administrados.
“Motivo é o pressuposto de fato que autoriza ou exige a prática do ato. É, pois, a situação do
mundo empírico que deve ser tomada em conta para a prática do ato. Logo, é externo ao ato.
Inclusive o antecede. Por isso não pode ser considerado como parte, como elemento do ato.”
[2]
Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos
fundamentos jurídicos, quando:
§ 2º Na solução de vários assuntos da mesma natureza, pode ser utilizado meio mecânico que
reproduza os fundamentos das decisões, desde que não prejudique direito ou garantia dos
interessados.
Dessa forma, seja em razão do ensinamento doutrinário ou pela norma positivada, claro está
que o motivo é condição de validade de qualquer ato administrativo, sendo a motivação o ato
que transparece aquilo que o agente apresenta como causa do ato administrativo.
Partindo para o exame do caso em tela, o confronto da legislação de trânsito com os fatos
ocorridos é suficiente para comprovar a inconsistência do auto de infração, irregularidade que
clama pela sua anulação.
Sobre a multa aplicada, observa-se que a autoridade policial não realizou quaisquer dos
procedimentos definidos no art. 5º da Resolução CONTRAN 432/2013, sendo que o auto de
infração não consta quaisquer dos sinais enumerados no Anexo II da referida resolução.
A doutrina de Hely Lopes é taxativa: “O simples fato de não haver o agente público exposto os
motivos de seu ato bastará para torná-lo irregular; o ato não motivado, quando o devia ser,
presume-se não ter sido executado com toda a ponderação desejável, nem ter tido em vista
um interesse público da esfera de sua competência funcional” [4].
Vale destacar que a multa tem como pressuposto o estado de embriaguez e não a simples
negativa em se submeter ao teste do “bafômetro”. Assim, a ausência de constatação de
alteração psicomotora por si só é causa de sua nulidade, a teor do princípio da motivação. É da
jurisprudência:
No mais, a autoridade também agiu contra legis ao autorizar o ora impugnante a conduzir o
veículo. Esse ato contraditório não só demonstra nova violação ao procedimento definido pela
Resolução CONTRAN 432/2013 como é suficiente para confirmar a inexistência de alteração
psicomotora do condutor. Assim, inexiste no auto relação de pertinência lógica entre os fatos
ocorridos e o ato praticado.
Perante vício insanável a administração deve anular seus próprios atos. Esse é o comando do
princípio da autotutela administrativa, positivada no art. 53 da Lei 9.784/1999 (Processo
Administrativo Federal):
Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de vício de legalidade,
e pode revogá-los por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos
adquiridos.
Portanto, em razão dos vícios insanáveis no procedimento que acarretou na expedição do auto
de infração impugnado e pela completa inexistência de qualquer sinal de alteração
psicomotora ou embriaguez do condutor, o reconhecimento da nulidade do auto de Infração nº
XXXXX é medida que se impõe.
IV – PEDIDO
Pede deferimento
CPF nº XXXXX
Documentos em anexo:
[2] MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 28 ed. p. 397.
DEFESA PRÉVIA
Em desfavor ao auto de infração promovido pelo Detran-RJ, pelas razões de fato e de Direito a
seguir aduzidas:
O recorrente recebeu a notificação em 11/09/2017, sendo, portanto, seu ultimo dia de prazo o
dia 26/09/2017, conforme art. 3º, § 2º, da Resolução 149/2003.
I – DOS FATOS:
Em 00/00/0000 por volta das 22:30hs o recorrente foi parado por uma Blitz da Operação Lei
Seca montada na Rua ..................., Rio de Janeiro .
Destaca-se fica evidente que a abordagem do agente não cumpriu todos os requisitos legais
quando no verifica-se que não houve, sequer, sua assinatura. Os protocolos de abordagem não
foram seguidos na forma da lei.
Em nenhum momento houve a orientação sobre o teste do etilometrô e muito menos sobre
outras formas de constatar a embriaguez (art. 269, IX, do CTB), como dispõe a lei e que o não
cumprimento dessas medidas administrativas poderá acarretar no cancelamento das
autuações, conforme requer o presente recurso. Este fato está comprovado no auto de
infração, tendo em vista a omissão do agente.
Conforme exposto alhures, o autor não se viu com alternativa, a não ser recorrer da infração
imposta, uma vez que as consequências são enormes, principalmente quando se trata de um
profissional que utiliza o seu veículo todos os dias para ir e voltar do trabalho.
Conforme resolução 432 do CONTRAN, deverá haver sinais claros que indiquem a alteração da
capacidade do condutor, conforme inciso IV, bem como uma avaliação testemunhal, o que não
esta presente no caso.
Há ainda, uma falha gravíssima, quanto ao não encaminhamento do recorrente para o exame
de sangue, conforme expressa claramente o § 3º do artigo 3º da resolução em questão, ou
testes alternativos. Assim não há de se falar em recusa no exame de sangue, o meio mais
comprobatório possível do estado alcoólico.
Devido ao exposto, demanda contra a notificação, pela presença dos vícios insanáveis, não
devendo assim incorrer em penalidade administrativa ou sequer penal.
II- DO DIREITO:
O recorrente se insurge contra medida administrativa contida no artigo 165, do CTB, qual seja
dirigir sob a influência de álcool, caracterizando infração gravíssima com a perda de 7 pontos
na CNH, multa e medida administrativa de suspensão do direito de dirigir pelo prazo de 12
(doze) meses.
Para configurar a tipicidade do artigo 165, do CTB deve o condutor apresentar sinais evidentes
de embriaguez. Ressalta-se que não deve apresentar apenas um sinal de embriaguez, mas um
conjunto de sinais, conforme será demonstrado a seguir, o que não restou comprovado, não
sendo sequer declarado nos autos de infração.
Conforme artigo 3º, da Resolução 432 CONTRAN, deverá haver sinais que indiquem a alteração
da capacidade do condutor, conforme inciso IV, bem como avaliação testemunhal. Não há
qualquer observação sobre alterações na capacidade psicomotora do recorrente e nem prova
testemunhal desta alteração, conforme podemos ver abaixo:
I – exame de sangue;
§ 1º Além do disposto nos incisos deste artigo, também poderão ser utilizados prova
testemunhal, imagem, vídeo ou qualquer outro meio de prova em direito admitido.
Afirma a autoridade no auto de infração que o condutor estava dirigindo o veículo sob
influência de substância alcoólica, o que não ocorreu e tampouco a recusa de realizar o
bafômetro enseja tal penalidade, uma vez que há outras maneiras de identificação de um
condutor embriagado. Portanto, com a recusa feita pelo condutor, a autoridade policial deveria
ter realizado outras manobras de identificação, tais quais previstas no § 2º do artigo 277 do
CTB, por exemplo: um vídeo, testemunhas , testes de reflexo, alteração da capacidade
psicomotora, e etc, e tais meios de prova além de não terem sido utilizadas pela autoridade
policial, não foram em nenhum momento recusadas pelo presente condutor. Ademais, não
consta no auto de infração que o condutor se negou a realizar tais condutas.
Artigo 277, § 2º, do CTB: “A infração prevista no art. 165 também poderá ser caracterizada
mediante imagem, vídeo, constatação de sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo
Contran, alteração da capacidade psicomotora ou produção de quaisquer outras provas em
direito admitidas”.
Deste modo, também não há que se falar em estado de embriaguez e nem mesmo presunção
desta, uma vez não estando presentes os requisitos em questão.
Art. 5º. Os sinais de alteração da capacidade psicomotora poderão ser verificados por:
Vale salientar que, no auto de infração não consta qualquer observação de testes alternativos,
conforme dispõe a lei e, caso houvesse, a autoridade policial deveria imediatamente promover
a prisão em flagrante do mesmo, e prosseguir para as sanções penais cabíveis, o que também
não ocorreu. E ao exame de sangue, previsto no artigo 3º da resolução 432 do CONTRAN.
Nesse sentido, verifica-se que o art. 277, caput, do CTB (com redação dada pela Lei
11.275/2006), previu que todo condutor de veículo que for alvo de fiscalização de trânsito, sob
suspeita de dirigir sob influência de álcool, será submetido a exames para certificar seu estado.
Art. 277. Todo condutor de veículo automotor, envolvido em acidente de trânsito ou que for
alvo de fiscalização de trânsito, sob suspeita de dirigir sob a influência de álcool será submetido
a testes de alcoolemia, exames clínicos, perícia ou outro exame que, por meios técnicos ou
científicos, em aparelhos homologados pelo CONTRAN, permitam certificar seu estado.
Ainda, não foi o recorrente devidamente encaminhado à realização de demais exames clínicos
que pudessem comprovar seu estado alcoólico, conforme determinação do artigo supracitado.
Deste modo, não restou comprovado seu estado alcoólico e sua capacidade psicomotora
alterada, não devendo assim incorrer em penalidade administrativa.
Assim sendo, não obstante a relevância dos programas públicos destinados à redução dos
acidentes de trânsito, o auto de infração objeto da lide carece de regularidade formal. Seguem
abaixo decisões recentes do TJRJ neste sentido:
XXXXX-78.2011.8.19.0001 - APELACAO - 1ª Ementa - DES. MARCOS ALCINO A TORRES -
Julgamento: 21/02/2013 - DECIMA NONA CÂMARA CIVEL
Apelação. Ato administrativo. Direito do trânsito. Aplicação das sanções e medidas do art. 165
do CTB (multa, suspensão do direito de dirigir e retenção do veículo) ao condutor que, alvo de
fiscalização policial, recusou-se a submeter-se a exame de alcoolemia, vulgarmente chamado
de "teste do bafômetro". A incidência do § 3º do art. 277 do Código de Trânsito Brasileiro, o
qual determina a aplicação dessas penalidades ao condutor recalcitrante, estava limitada,
antes do advento da Lei nº 12.760/2012, à condição de estar ele "sob suspeita de dirigir sob a
influência de álcool". Não podendo haver na lei expressão inútil ou inócua, essa cláusula
impunha à polícia de trânsito o ônus de, no mínimo, relatar pormenorizadamente as razões por
que suspeitava do condutor. Ainda que a referida suspeita envolva juízo consideravelmente
subjetivo, e portanto discricionário, daí não segue que possa ser infundada. Na míngua de
quaisquer elementos que permitam sequer indicar razões que justificassem pesar sobre o
apelante a suspeita de embriaguez, o ato deve ser declarado nulo, porque praticado fora dos
limites que a lei atribui ao poder de polícia de trânsito. Provimento do recurso.
Por todo o exposto, não deve incorrer em medida administrativa de suspensão da habilitação
contida no artigo 165, do CTB.
a. Que seja mantida a CNH do Recorrente até que se esgotem todas as possibilidades do
mesmo exercer seu amplo direito de defesa, conforme dicção do artigo 265 do CTB c/c artigo
5º, inciso LV, da Constituição Federal;
e. Que toda e qualquer sanção oriunda da presente infração fique suspensa até a decisão do
órgão competente final.
Termos em que,
Pede Deferimento.
______________________________________
OAB/RJ 197.115
Neste artigo vamos apresentar um modelo de recurso de multa por recusa ao teste do
bafômetro. Sem dúvidas, com a alteração do Código de Trânsito e inserção do art. 165-A ao
diploma legal, criou-se a tese, equivocada, a nosso ver, de que a simples recusa ao teste do
etilômetro seria capaz de presumir a embriaguez.
Embora saibamos que devem existir métodos para coibir a prática direção-bebida, não
podemos aceitar que a Lei estipule presunção de embriaguez.
Até porque já verificamos casos em que a pessoa pela simples ingestão de bombom de licor
foi multada. Multa esta que foi posteriormente anulada pelo Judiciário pelo óbvio motivo de
ausência de álcool capaz de interferir na capacidade psicomotora para a direção.
Indubitável, todavia, que o motorista, sabendo que seria injustamente multado, recusaria o
teste. Não pode, porém. Ser penalizado sem que hajam elementos concretos ou pelo menos
indícios de embriaguez.
Neste contexto nos inclinamos pela inconstitucionalidade do art. 165-A do Código de Trânsito
Brasileiro, como sustentamos no recurso ora apresentado. Vamos a ele!
[NOME], [ESTADO CIVIL], [PROFISSÃO], inscrito no CPF sob o nº XXX. XXX. XXX-XX, identidade
nº XX. XXX. XXX-X, órgão expedidor: XXXXXXXXXXXXXXX CNH de nº XXXXXX, telefone: XXXX-
XXXX, celular: XXXX-XXXX, e-mail: XXXXXXXXXXXXX, domiciliado na Rua XXXX, [Bairro],
[Cidade], [Estado], Cep XXXXX-XX, vem, tempestivamente, à presença de V. Senhoria,
apresentar RECURSO ADMINISTRATIVO, pelos fatos e fundamentos abaixo elencados:
Art. 165-A. Recusar-se a ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro procedimento
que permita certificar influência de álcool ou outra substância psicoativa, na forma
estabelecida pelo art. 277:
Infração - gravíssima;
Penalidade - multa (dez vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses;
DO VEÍCULO
Modelo: XXXXXX
Ano: XXXX
Marca: XXXXXXXXXX
Placa: XXXXXXX
Renavam: XXXXXXX
O recorrente, no dia XX/XX/XXXX, foi autuado, nos termos do art. 165 - A do CTB, por ter se
recusado a utilizar o etilômetro, conhecido popularmente como teste do bafômetro.
Ainda que a recente modificação da legislação indique que a simples recusa em efetuar o
teste constitui infração, não deve prevalecer este entendimento, uma vez que incompatível
com a legislação vigente.
A norma extraída do artigo em debate visa proteger o cidadão e o próprio motorista contra
acidentes que gerem transtornos e/ou acidentes. Para tanto, é necessário que haja
combinação de determinados elementos para que seja configurada a infração.
Não é razoável punir o condutor/recorrente se, após a verificação pessoal do agente de
trânsito, restar comprovado que o condutor não apresenta sinais de ter utilizado bebida
alcoólica.
Pelo princípio da universalidade do direito ao trânsito seguro, previsto no art. 1º, § 2º, CTB
c/c art. 144, § 10, I, II, da Constituição Federal, o agente autuador, através da fiscalização, um
dos tripés que norteiam este ramo do Direito (educação – engenharia – fiscalização), deve
trabalhar para que haja a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
seu patrimônio. Todavia, não se pode chegar ao exagero de punir quem não oferece nenhum
risco, como no caso em tela.
Frisa-se, ainda, que os sinais de alteração devem ser mencionados no campo de observação
do auto de infração e corresponder aqueles enumerados no anexo II da Resolução 432/13, o
que não ocorreu.
Resolução 432/13. Art. 5º, § 2º. Os sinais de alteração da capacidade psicomotora de que
trata o inciso II deverão ser descritos no auto de infração ou em termo específico que
contenha as informações mínimas indicadas no Anexo II, o qual deverá acompanhar o auto
de infração.
Por fim, porém não menos importante, ressalta-se que não houve, no momento da
abordagem e realização do teste, a apresentação do certificado de calibração do etilômetro,
sendo impossível verificar seu exato funcionamento. Tal fato, por si, é capaz de justificar a
recusa ao teste do bafômetro. Assim caminha a melhor jurisprudência:
... Além dos fatores já mencionados, é também admissível que a recusa do motorista possa
estar lastreada no receio quanto à exatidão do aparelho. A preocupação merece guarida,
tanto que a própria Resolução Contran 432, em seu artigo 4º., assim estabelece:
De tal sorte, a desconfiança de que o aparelho apresentado para a realização do exame não
preencha todos os requisitos de segurança exigidos, pode sim, gerar o comportamento
negativo por parte do motorista.
Entretanto, nada impede a autoridade local, responsável pela abordagem, na rua, de obter
outros modos de aferição da embriaguez, ou simples ingestão de bebida alcoólica, conforme
já mencionado anteriormente... (APELAÇAO CÍVEL XXXXX-96.2014.8.19.001).
Pelos argumentos e provas apresentados, não deve prevalecer a penalidade pela suposta
infração cometida pelo recorrente.
Pede deferimento.
[DATA]
_____________________________________
[ASSINATURA]
Veja também:
Conheças as estratégias eficazes para recorrer das multas de trânsito: teoria e modelos
Recurso Administrativo
2ª Instância
XXXXXX, brasileiro, solteiro, estudante, portador do RG nº, inscrito no CPF (MF) sob n.º,
residente e domiciliado . Registro de CNH n.º, proprietário do veículo sob placa n.º, Renavam
n., de cor ,MODELO, licenciado nesta cidade e Estado, particular.
RECURSO ADMINISTRATIVO
Em face à aplicação de penalidade por suposta infração de trânsito prevista no artigo 165-A
do Código de Trânsito Brasileiro, processo nos autos de infração em epígrafe.
DA TEMPESTIVIDADE:
Após a decisão da defesa prévia que ocorreu em 26/03/2018, na qual não obteve êxito, o
recorrente foi notificado em 14/05/2018 da decisão para caso quisesse apresentar recurso ao
CETRAN em 30 dias.
DOS FATOS:
No dia 08/10/2017, o recorrente foi autuado como incurso no artigo 165-A do CTB:
O recorrente impetrou defesa prévia quanto ao auto de infração porém não obteve êxito em
seus pedidos, o que ocasionou a impetração do presente recurso administrativo que visa o
arquivamento desse processo administrativo e a anulação do auto de infração.
Ocorre que o auto de infração não atendeu a todos os requisitos procedimentais, devendo o
mesmo ser anulado, como ficará demonstrado ao final.
DO DIREITO:
A decisão consta ainda que a conduta do autoridade foi legítima, uma vez que diante da
recusa deve proceder a autuação do condutor, não cabendo ao condutor definir, à sua
escolha, outro procedimento que permita certificar influência de álcool. Porém, como
veremos com o decorrer dos fundamentos elencados, a conduta da autoridade não foi
pautada de legalidade e, dessa forma, o auto de infração deve ser anulado.
Como anteriormente exposto na defesa prévia, a autoridade que aplicou a penalidade afirma
que o condutor supostamente se recusou a realizar o exame do etilômetro, autuando-o,
conforme artigo 165-A do Código de Trânsito Brasileiro que dispõe: Recusar-se a ser
submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro procedimento que permita certificar
influência de álcool ou outra substância psicoativa, na forma estabelecida pelo art. 277.
Sendo assim, é cediço que a interpretação literal, aplicada isoladamente do artigo 165-A do
CTB, é insuficiente para atingir a finalidade da lei.
O artigo 277, § 3º do Código de Trânsito Brasileiro dispõe que:
Art. 277. O condutor de veículo automotor envolvido em acidente de trânsito ou que for alvo
de fiscalização de trânsito poderá ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro
procedimento que, por meios técnicos ou científicos, na forma disciplinada pelo Contran,
permita certificar influência de álcool ou outra substância psicoativa que determine
dependência.
Quanto ao teor do § 3º do art. 277 do CTB, por regra de hermenêutica os parágrafos devem
ser interpretados em consonância com o caput, que, reitere-se, estabeleceu como verdadeiro
pré-requisito a suspeita de ingestão de álcool ao dirigir, o que não pôde ser constatado neste
caso.
Sendo assim, não é razoável punir o recorrente que, após a verificação pessoal do agente de
trânsito, ficou comprovado que o condutor não apresentava sinais de ter utilizado bebida
alcoólica.
O próprio artigo 277, em seu parágrafo 2º preceitua que tendo o condutor se negado a
realizar o exame etilômetro, caberia a autoridade constatar eventuais sinais que denotassem
possível estado de embriaguez do motorista utilizando-se de outros meios de verificação, o
que não ocorreu e nem foi comprovado, vejamos:
§ 2o A infração prevista no art. 165 também poderá ser caracterizada mediante imagem,
vídeo, constatação de sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da
capacidade psicomotora ou produção de quaisquer outras provas em direito admitidas.
Observe que o Código de Trânsito Brasileiro deixa clara a necessidade de ser comprovada a
ingestão de substâncias psicoativas que determinem o estado de embriaguez para que possa
ser imputada ao condutor a infração administrativa.
Além disso, a própria Resolução do COTRAN nº 432/2013 deixa claro em seu artigo 3º que
deve haver sinais que indiquem a alteração da capacidade do condutor, bem como avaliação
testemunhal, vejamos:
Art. 3º. A confirmação da alteração da capacidade psicomotora em razão da influência de
álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência dar-se-á por meio de,
pelo menos, um dos seguintes procedimentos a serem realizados no condutor de veículo
automotor.
I – exame de sangue;
§ 1º Além do disposto nos incisos deste artigo, também poderão ser utilizados prova
testemunhal, imagem, vídeo ou qualquer outro meio de prova em direito admitido.
Verifica-se que o condutor não fez nenhum dos procedimentos mencionados e não foi
constatado nenhum sinal de embriaguez, não existindo, assim, provas para que a punição
seja aplicada.
Deste modo, também não há que se falar em estado de embriaguez e nem mesmo presunção
desta, uma vez não estando presentes os requisitos em questão.
Art. 5º. Os sinais de alteração da capacidade psicomotora poderão ser verificados por:
Além disso, o artigo 8º, incisos I a IV da mesma resolução dispõem da forma em que o auto
de infração deve ser lavrado, não estabelecendo em nenhum momento que só poderia ser
escolhida uma forma para a comprovação do estado de embriaguez, vejamos:
Art. 8º Além das exigências estabelecidas em regulamentação específica, o auto de infração
lavrado em decorrência da infração prevista no art. 165 do CTB deverá conter:
II – no caso do art. 5º, os sinais de alteração da capacidade psicomotora de que trata o Anexo
II ou a referência ao preenchimento do termo específico de que trata o § 2º do art. 5º;
IV – conforme o caso, a identificação da (s) testemunha (s), se houve fotos, vídeosnou outro
meio de prova complementar, se houve recusa do condutor, entre outras informações
disponíveis.
Dessa forma, percebemos que tais medidas que constam no CTB e na Resolução do COTRAN
não foram adotadas pelo agente de trânsito, ficando este apenas limitado ao exame
etilômetro não se utilizando de outros meios, e como a própria lei preceitua, o exame
etilômetro não é a única e nem principal forma de se constatar a embriaguez do condutor
autuado, não dispondo a lei se o agente de trânsito possui a legitimidade de decidir sobre a
aplicação de outros meios ou não.
Assim, não se pode concluir pela existência do estado de embriaguez como consequência
automática da recusa em fazer o teste do etilômetro por parte do condutor do veículo, sendo
necessárias provas que demonstrem que o recorrente estava realmente embriagado.
... Esse parágrafo tem previsão no capítulo das medidas administrativas, ou seja, ele não
reveste natureza de infração administrativa. Logo, sua incidência com fim sancionador se
revela abusiva ao princípio da legalidade, aplicável por analogia, pois não há infração
administrativa sem prévia cominação legal.
Em último lugar, não há sentido em punir o condutor que não se submete à perícia pelo
bafômetro quando o legislador ordinário previu a possibilidade de caracterização da infração
do art. 165 da Lei de Trânsito por quaisquer provas em direito admitidas. O testemunho dos
policiais, nesse contexto, apenas se revestiria e fé pública mediante colaboração do próprio
condutor?”
Sendo assim, a simples recusa a uma das formas de constatação do estado de embriaguez
não é suficiente para a aplicação da medida prevista no art. 165-A do CTB, devendo ser
utilizada as outras formas ali previstas no próprio artigo de lei.
Por fim, porém não menos importante, ressalta-se que não houve, no momento da
abordagem e realização do teste, a apresentação do certificado de calibração do etilômetro,
sendo impossível verificar seu exato funcionamento. Tal fato, por si, é capaz de justificar a
recusa ao teste do etilômetro. Vejamos a jurisprudência sobre o tema:
“... Além dos fatores já mencionados, é também admissível que a recusa do motorista possa
estar lastreada no receio quanto à exatidão do aparelho. A preocupação merece guarida,
tanto que a própria Resolução Contran 432, em seu artigo 4º., assim estabelece:
De tal sorte, a desconfiança de que o aparelho apresentado para a realização do exame não
preencha todos os requisitos de segurança exigidos, pode sim, gerar o comportamento
negativo por parte do motorista.
Entretanto, nada impede a autoridade local, responsável pela abordagem, na rua, de obter
outros modos de aferição da embriaguez, ou simples ingestão de bebida alcoólica, conforme
já mencionado anteriormente... (APELAÇAO CÍVEL XXXXX-96.2014.8.19.001).”
Desta feita, diante da ausência de elementos que justifiquem a medida aplicada, como
comprovado anteriormente requer a anulação do auto de infração e arquivamento do
presente processo.
O artigo 165-A do CTB afirma que recusar-se a ser submetido a teste, exame clínico, perícia
ou outro procedimento que permita certificar influência de álcool ou outra substância
psicoativa é causa de imputação de infração administrativa, porém tal dispositivo não dispõe
quantas recusas devem ocorrer para a configuração da infração, não existindo nem na
doutrina um entendimento consolidado sobre o tema.
Veja, o recorrente não se recusou a realizar qualquer exame clínico ou outro procedimento
que atestasse seu suposto estado de embriaguez, este se recusou apenas em ser submetido
ao exame do etilômetro. É sabido que os agentes administrativos devem pautar seus atos
segundo os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. Dessa forma, se torna
desproporcional o recorrente ser responsabilizado de forma tão gravosa por uma conduta
que a própria legislação deixa margem a dúvidas e que para uma parte dos doutrinadores vai
de encontro contra a Constituição Federal.
Pelo princípio da universalidade do direito ao trânsito seguro, previsto no art. 1º, § 2º, do
Código de Trânsito Brasileiro c/c art. 144, § 10, I, II, da Constituição Federal, o agente
autuador, através da fiscalização, deve trabalhar para que haja a preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas e do seu patrimônio. Todavia, não se pode chegar ao
exagero de punir quem não oferece nenhum risco, como no caso em tela.
A decisão ainda afirma que quanto a recursos administrativos a lei distinguiu claramente a
esfera criminal, onde o acusado não pode ser punido por se negar a produzir prova contra si,
já na esfera administrativa, não é possível a aplicação da regra probatória derivada do
princípio da presunção de inocência, uma vez que a infração de trânsito é ilícito civil, ou seja,
tal princípio só é cabível na esfera criminal.
É sabido que o princípio da não auto-incriminarão tem base constitucional, estando disposto
em seu artigo 5º, mas também é previsto de forma expressa no Pacto de São José da Costa
Rica, no artigo 8º, inciso 2, alínea g, cuja redação é a seguinte:
2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto
não for legalmente comprovada sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em
plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:
g) direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada
Concluímos com o enunciado do artigo que por força do Tratado, ou em face da Constituição
Federal tal princípio não se limita apenas na esfera criminal, podendo ser utilizado em
qualquer esfera, incluindo a administrativa. Seria inclusive contraditório a não incidência de
tal princípio na esfera administrativa, uma vez que o mesmo pode ser invocado no PAD
(Processo administrativo disciplinar) que faz parte da esfera administrativa.
O recorrente ao recusar-se a soprar o etilômetro, em que não pode ser obrigado a fazer,
sendo uma faculdade, e a sua negativa não deve ser de qualquer modo prejudicial à sua
defesa, seja no âmbito criminal, quanto no administrativo. Posto isto, não será lícito fazê-lo
sofrer a incidência das penalidades previstas no art. 165-A, do CTB, a menos que se aceite
que em um Estado Democrático de Direito possa alguém vir a ser penalizado por estar no
exercício regular de um direito previsto na Constituição Federal, qual seja, a não auto-
incriminação.
Da mesma forma é o entendimento do doutrinador Luiz Flávio Gomes que afirma que: “as
dimensões do direito de não auto-incriminação que acabamos de elencar valem (são
vigentes, incidem) tanto para a fase investigatória (qualquer que seja ela: inquérito policial,
CPI etc.) como para a fase processual (propriamente dita). Vale também perante qualquer
outro juízo (trabalhista, civil, administrativo etc.) ... É irracional imaginar que alguém possa
invocar a garantia perante o juízo penal, sendo obrigado a se incriminar perante um juízo
trabalhista, civil, administrativo etc. A prova decorrente dessa auto-incriminação lhe
compromete”.
Sendo assim, não é cabível a aplicação do art. 165-A do CTB contra o recorrente que na
recusa em realizar o teste do etilômetro estava resguardado pelo princípio da não auto-
incriminação, devendo ter sido utilizada outras formas de atestar o estado de embriaguez,
como consta na legislação que trata do tema, caso que não ocorreu com o recorrente.
Por todo o exposto, o recorrente não deve incorrer na penalidade de multa e suspensão de
dirigir por 12 (doze) meses e em medida administrativa de recolhimento de habilitação e
retenção do veículo, contida no artigo 165-A do CTB.
DOS PEDIDOS:
a) que seja mantida a CNH do Recorrente e que seja suspensa a multa a ele acometida até
que se esgotem todas as possibilidades do mesmo exercer seu amplo direito de defesa,
conforme dicção do artigo 265 do CTB c/c artigo 5º, inciso LV, da Constituição Federal;
b) requer que seja o presente recurso julgado TOTALMENTE PROCEDENTE, declarando o auto
de infração objeto da lide INSUBSISTENTE, gerando assim a ANULAÇÃO E ARQUIVAMENTO
do mesmo e de suas penalidades, por medida da mais lídima e salutar JUSTIÇA.
c) Caso não seja julgado em até 30 dias da data de seu protocolo, na conformidade do art.
285, parágrafo 3º do CTB, requer seja atribuído efeito suspensivo, abstendo-se de lançar
qualquer restrição, inclusive para fins de licenciamento e transferência, nos arquivos do
órgão ou entidade executivo de trânsito responsável pelo registro do veículo até que a
presente demanda seja julgada.
Nestes termos,
Pede deferimento.
__________________________________________________
NOME