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ILUSTRÍSSIMO (A) SENHOR (A) PRESIDENTE DO DETRAN-RS.

JUNTA ADMINISTRATIVA
DE RECURSO DE INFRAÇÃO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL.

RECORRENTE GIOVANI CORREA, nacionalidade BRASILEIRO, inscrito (a) no RG


sob o nº3114345981 ssp/DI, CNH nº 06818787073, e CPF nº 043.871.000-26, residente
e domiciliado NA RUA DA CAMPINA, nº165, Bairro CENTRO, Cidade DE HORIZONTINA,
UF: RIO GRANDE DO SUL, CEP 98920-000, tendo sido autuado através do auto de
infração em anexo, vem, a presença de Vossa Senhoria, com fundamento no artigo 285
do Código de Trânsito Brasileiro, interpor
DEFESA por Recusa ao teste do bafômetro
Em face NOTIFICAÇAO DA AUTUAÇÃO ELETRONICA Nº TE52267124 DOS AGENTES DE
TRÂNSITO NA CIDADE DE Horizontina, apresenta contra o auto de infração de trânsito,
pelas razões de fato e de direito que passa a expor.
DA INFRAÇÃO DE TRÂNSITO E DO VEÍCULO
A infração objeto do presente recurso é a seguinte:
Auto de Infração de Trânsito nº Nº TE52267124
Código Órgão detra-rs 121100
Código Órgão Autuador 121100
Placa do Veículo Autuado CVL 6220
RENAVAN 00769830340

DOS FATOS
Trata-se de recurso administrativo interposto em razão da autoridade de
trânsito Notificado e apresentada, mantendo equivocadamente a o auto de infração ao
recorrente, como será demonstrado a seguir.

Consta no Auto de Infração de Trânsito, que no dia 30/09/2023, por volta das
02:05 horas, o recorrente teria infringido o artigo 277 do Código de Trânsito Brasileiro -
CTB, ocasião em que restou aplicada a penalidade de multa no valor de R$ 5869,40. e
perda de.pontos na – Carteira Nacional de Habilitação - CNH.
Ocorre que o Auto de Infração de Trânsito é flagrante nulo, razão pela qual a
decisão da autoridade de trânsito que manteve a penalidade merece ser reformada.

DA RECUSA AO TESTE DO BAFÔMETRO

O Recorrente foi autuado pelo cometimento de infração de trânsito consistente


em Recusar-se a ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro procedimento
que permita certificar influência de álcool ou outra substância psicoativa, na forma
estabelecida pelo art. 277 , prevista no artigo 165-A do CTB.

Acontece que a mera recusa do condutor em se submeter aos exames de


alcoolemia, sem que haja suspeita pautada em elementos plausíveis para desconstituir
a presunção de inocência de que milita a seu favor, não é suficiente para sustentar a
punição por recusa ao teste do bafômetro.

De acordo com a redação do artigo 165-A do CTB, e a lógica que dele se


depreende, somente é possível autuar o condutor que se recuse a realizar os testes
caso esse apresente sinais externos de influência de álcool -, os quais deverão ser
devidamente certificados por meio do Termo próprio, com descrição de todas as
características que levam à conclusão e na presença de testemunha idônea, ou outros
meios, descritos no art. 277 do CTB.

Desse modo, não sendo constatado formalmente que o cidadão conduzia


veículo automotor sob sinais externos de álcool ou substância psicoativa, não há
infração de trânsito.

Destarte, autuar o condutor que não apresenta qualquer ameaça à segurança


no trânsito, pela mera recusa em realizar os testes oferecidos pelos agentes de trânsito,
configura arbitrariedade.

Assim, a infração aplicada com fundamento no artigo 165-A do CTB, viola frontalmente
os Princípios Constitucionais de Liberdade.

Ora, somente é possível certificar uma situação quando houver, pelo menos,
indícios mínimos de tal estado. Desse modo, não sendo constatado formalmente pelo
agente de trânsito qualquer sinal de que o autor estava conduzindo veículo sob efeito
de álcool ou substância psicoativa, a autuação pelo artigo 165-A do CTB configura ato
arbitrário e sem motivação.

Não é demasia relembrar que os atos da Administração devem ser revestir de


LEGALIDADE, isto é, devem se dar na forma estritamente prevista na lei (ou em
regulamentos). Exorbitado isso, trata-se de ato ilegal.

Registre-se, por oportuno, que a penalidade prevista no tipo administrativo em


questão é de “multa (dez vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses”,
ou seja, idêntica a da infração ao artigo 165 do CTB, que penaliza a comprovada
condução sob influência de álcool ou substância psicoativa.

Assim, o artigo 165-A do CTB, quando aplicado de maneira avulsa de qualquer


prova do sinal externo de embriaguez do condutor, fere frontalmente o Princípio da
Proporcionalidade, na medida em que a reprovação social da infração por mera recusa
aos testes de comprovação da alcoolemia é muito menor do que no caso da infração
ao artigo 165 do CTB, propriamente, pois nesta hipótese o condutor comprovadamente
dirige veículo sob a influência de álcool e/ou substâncias psicoativas, o que
hipoteticamente, à luz princípios constitucionais, exigiria maior rigidez no tratamento.

Cabe destacar que o artigo 277, § 3º, do CTB continua em vigor, o qual indica outros
meios capazes de aferir a embriaguez:

Art. 277. O condutor de veículo automotor envolvido em acidente de trânsito


ou que for alvo de fiscalização de trânsito poderá ser submetido a teste, exame clínico,
perícia ou outro procedimento que, por meios técnicos ou científicos, na forma
disciplinada pelo Contran, permita certificar influência de álcool ou outra substância
psicoativa que determine dependência. § 2º A infração prevista no art. 165 também
poderá ser caracterizada mediante imagem, vídeo, constatação de sinais que indiquem,
na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade psicomotora ou produção
de quaisquer outras provas em direito admitidas, Ou seja, caberia ao Agente descrever
quaisquer outros elementos capazes de aferir a INFLUÊNCIA do ÁLCOOL. O que em
momento algum restou evidenciada.
Ademais os artigos 3º e 5º da Resolução nº 432/13 do CONTRAN, que dispõe
sobre os procedimentos a serem adotados pelas autoridades de trânsito e seus agentes
na fiscalização do consumo de álcool, dispõem:

Art. 3º A confirmação da alteração da capacidade psicomotora em razão da


influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência dar-
se-á por meio de, pelo menos, um dos seguintes procedimentos a serem realizados no
condutor de veículo automotor:

I – exame de sangue;

II – exames realizados por laboratórios especializados, indicados pelo órgão ou


entidade de trânsito competente ou pela Polícia Judiciária, em caso de consumo de
outras substâncias psicoativas que determinem dependência;

III – teste em aparelho destinado à medição do teor alcoólico no ar alveolar


(etilômetro);

IV – verificação dos sinais que indiquem a alteração da capacidade psicomotora do


condutor.

§ 1º Além do disposto nos incisos deste artigo, também poderão ser utilizados prova
testemunhal, imagem, vídeo ou qualquer outro meio de prova em direito admitido.§
2º Nos procedimentos de fiscalização deve-se priorizar a utilização do teste com
etilômetro. § 3º Se o condutor apresentar sinais de alteração da capacidade
psicomotora na forma do art.5º ou haja comprovação dessa situação por meio do teste
de etilômetro e houver encaminhamento do condutor para a realização do exame de
sangue ou exame clínico, não será necessário aguardar o resultado desses exames para
fins de autuação administrativa.

(...)

DOS SINAIS DE ALTERAÇÃO DA CAPACIDADE PSICOMOTORA

Art. 5º Os sinais de alteração da capacidade psicomotora poderão ser verificados por:


I – exame clínico com laudo conclusivo e firmado por médico perito; ou,

II – constatação, pelo agente da Autoridade de Trânsito, dos sinais de alteração da


capacidade psicomotora nos termos do Anexo II.

§ 1º Para confirmação da alteração da capacidade psicomotora pelo agente da


Autoridade de Trânsito, deverá ser considerado não somente um sinal, mas um
conjunto de sinais que comprovem a situação do condutor. § 2º Os sinais de alteração
da capacidade psicomotora de que trata o inciso II deverão ser descritos no auto de
infração ou em termo específico que contenha as informações mínimas indicadas no
Anexo II, o qual deverá acompanhar o auto de infração.

Destaca-se que o Anexo II da referida resolução estabelece informações


mínimas que deverão constar no termo mencionado no Auto de Infração, para
constatação dos sinais de alteração da capacidade psicomotora pelo agente da
Autoridade de Trânsito, sendo que nenhum dos sinais ali previstos foram incluídos no
Auto de Infração.

Desse modo, não sendo constatado formalmente pelo agente de trânsito


qualquer sinal de que o autor estava conduzindo veículo sob efeito de álcool ou
substância psicoativa, a autuação pelo artigo 165-A do CTB configura ato arbitrário e
sem motivação.

Não obstante, mesmo examinando apenas as disposições dos artigos 277 e 165-
A do CTB, fica evidente que o objetivo da reprimenda não é punir quem, sem externar
nenhum sinal ou sintoma de que esteja sob a influência de álcool ou outra substância
psicoativa, se recuse a se submeter aos testes e exames para apuração da alcoolemia.

Se não há suspeita, não há o que ser certificado, tornando-se arbitrária a submissão do


condutor ao teste e, portanto, incabível a imputação pela infração do art. 165-A do
CTB.

Por essa razão, quando optar por fazê-lo é imperioso que se esclareça o porquê
da medida, sob pena dessa providência se tornar arbitrária, discriminatória, parcial,
tendenciosa e ilegal.
Sob essa perspectiva, a mera recusa do condutor em se submeter aos exames
de alcoolemia, sem que haja suspeita pautada em elementos plausíveis para
desconstituir a presunção de inocência que milita a seu favor, não é suficiente para
sustentar a punição prevista no art. 165-A do CTB.

Portanto, configura sanção abusiva a aplicação de penalidade tão gravosa à


simples recusa do teste do etilômetro, cabendo a anulação aqui pleiteada.

VIOLAÇÃO DE PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

A invalidação de um ato administrativo por violação dos princípios constitucionais não


importa, necessariamente, no exame de mérito, mas sim, da investigação acerca do
atendimento dos limites impostos pelo Direito ao administrador quando do exercício
de sua discricionariedade.

No caso em tela, os fatos narrados, somente evidenciam a inobservância à lei,


ferindo de morte o princípio constitucional da legalidade, que limita e vincula as
decisões administrativas, conforme refere Hely Lopes Meirelles:

A legalidade, como princípio de administração ( CF, art. 37, caput), significa que
o administrador público está, em toda a sua atividade funcional, sujeito aos
mandamentos da lei e às exigências do bem comum, e deles não se pode afastar ou
desviar, sob pena de praticar ato inválido e expor-se a responsabilidade disciplinar, civil
e criminal, conforme o caso.

A eficácia de toda atividade administrativa está condicionada ao atendimento


da Lei e do Direito. É o que diz o inc. I do parágrafo único do art. 2º da lei9.784/99.
Com isso, fica evidente que, além da atuação conforme à lei, a legalidade significa,
igualmente, a observância dos princípios administrativos.

Na Administração Pública não há liberdade nem vontade pessoal. Enquanto na


administração particular é lícito fazer tudo que a lei não proíbe, na Administração
Pública só é permitido fazer o que a lei autoriza. A lei para o particular significa ‘poder
fazer assim’; para o administrador público significa ‘deve fazer assim’."(in Direito
Administrativo Brasileiro, Editora Malheiros, 27ª ed., p. 86),

No mesmo sentido, leciona Diógenes Gasparini:


O Princípio da legalidade significa estar a Administração Pública, em toda sua
atividade, presa aos mandamentos da lei, deles não se podendo afastar, sob pena de
invalidade do ato e responsabilidade do seu autor. Qualquer ação estatal sem o
correspondente calço legal ou que exceda o âmbito demarcado pela lei, é injurídica e
expõe à anulação. Seu campo de ação, como se vê, é bem menor que o do particular.
De fato, este pode fazer tudo que a lei permite e tudo o que a lei não proíbe; aquela só
pode fazer o que a lei autoriza e, ainda assim, quando e como autoriza. Vale dizer, se a
lei nada dispuser, não pode a Administração Pública agir, salvo em situação excepcional
(grande perturbação da ordem, guerra)” (in GASPARINI, Diógenes, Direito
Administrativo, Ed. Saraiva, SP, 1989, p.06)

Com efeito, no controle da discricionariedade administrativa, aos princípios


constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralidade, eficiência devem ser aliados
o princípio da razoabilidade e o postulado da proporcionalidade como parâmetros de
ponderação de valores.

Dessa forma, somente é válido o auto de infração de trânsito que preenche


todos os requisitos estabelecidos na lei de regência, fornecendo ao autuado os
elementos necessários e indispensáveis à plenitude de sua defesa.

Portanto, uma vez demonstrado o descumprimento ao devido processo legal e


ao princípio da legalidade, tem-se por inequívoco o direito à nulidade do Auto de
Infração.

DA AUSÊNCIA DE MOTIVIAÇÃO DA DECISÃO DE MANTER A PENALIDADE

Os atos administrativos questionados decorrem do genuíno Poder de Império


de Estado. Daí por que, embora possam restringir direitos dos administrados em prol
da coletividade, hão de ser expedidos de maneira fundamentada, a fim de que, não só
o administrado, como também toda a sociedade civil possa manter um controle sobre
a sua juridicidade.
Em outras palavras, o dever de fundamentação decorre tanto da necessidade
de se assegurar a ampla defesa e o devido processo ao administrado, quanto o
princípio constitucional da publicidade - pelo qual a cidadania pode exercer o controle
da administração, sobretudo a partir da análise dos motivos que deflagram a expedição
de atos que limitam direitos dos administrados.

Não é em vão, por exemplo, que o artigo 50 da Lei de Processo Administrativo


preveja que deve ser fundamentado o ato que:

Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos
e dos fundamentos jurídicos, quando:

I- neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;

II- imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;

Sobre a motivação dos atos jurisdicionais, Diogo de Figueiredo Moreira Neto explana
que: Motivar é enunciar expressamente – portanto explícita ou implicitamente – as
razões de fato e de direito que autorizam ou determinam a prática de um ato jurídico.
O Estado, ao assim decidir, vincula-se tanto ao dispositivo legal invocado como aos
fatos sobre os quais se baseou, explícita ou implicitamente, para formar sua convicção:
no Direito Público, portanto, decidir é vincular-se, pois inexistem decisões livres.

Os motivos são os pressupostos jurídicos e factuais que fundamentam a


aplicação casuística de um comando legal, tanto quando o Estado deva decidir ex of
icio, quando deva fazê-lo sob provocação, não importando se o ato de concreção for
parcial, definindo, ainda em tese, um resíduo normativo, ou total, alcançando e
esgotando o comando legal editado para o caso em hipótese.

Como se indicou, o princípio da motivação é instrumental e corolário do


princípio do devido processo da lei (art. 5.º, LIV, da Constituição), tendo necessária
aplicação às decisões administrativas e às decisões judiciárias, embora se encontre,
também, implícito no devido processo de elaboração das normas legais no sentido
amplo (cf. arts. 59 a 69 da Constituição e Regimentos das casas legislativas).

Por decisão, não se deve entender, porém, qualquer ato administrativo ou


judiciário que apenas contenha um mandamento, senão aquele cujo comando aplique
uma solução a litígios, controvérsias e dúvidas, conhecendo, acolhendo ou denegando
pretensões, através das adequadas vias processuais, ainda que atuando de ofício; essa,
a ratio do art. 50 da Lei 9.784, de 29 de janeiro de 1999 (Lei de Processo Administrativo
Federal), que impõe à Administração Pública o dever de motivar os atos
administrativos que neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses dos
administrados.

A obrigatoriedade de motivar decisões, tradicional no Direito Processual,


geralmente expressa quanto aos atos decisórios jurisdicionais típicos do Poder
Judiciário, estendeu-se, com a Carta de 1988, a seus próprios atos administrativos com
características decisórias (art. 93, X). Por via de consequência, o princípio da motivação
abrange as decisões administrativas tomadas por quaisquer dos demais Poderes,
corolário inafastável do princípio do devido processo da lei.

Com efeito, se o Poder Judiciário, a quem caberá sempre o controle final da


juridicidade de qualquer decisão, está obrigado à motivação das suas decisões
administrativas, com mais razão, a ela também estarão os Poderes Legislativo,
Executivo e os órgãos constitucionalmente autônomos, cada um em suas respectivas
decisões administrativas, pois só assim ficará garantida a efetividade do controle (Curso
de direito administrativo: parte introdutória, parte geral e parte especial / Diogo de
Figueiredo Moreira Neto. – 16. ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro : Forense, 2014, p.153-
154).

Em resumo: ato desprovido de motivação é ato insuscetível de compor objeto


do controle analítico de legalidade. Logo, se impõe a anulação do auto de infração de
trânsito, sob pena de se criar um processo administrativo de nítido cunho inquisitório,
na medida em que tolhe o interessado de expender, dialeticamente, os argumentos
necessários à pretensão anulatória.

DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto REQUER:


a) Seja julgado PROCEDENTE o presente recurso, para cancelar a penalidade imposta,
nos termos do art. 281, do CTB, anulando todos os seus efeitos;

b) Caso o presente recurso não seja julgado em 30 dias, requer a concessão de efeito
suspensivo nos termos do Art. 285, § 3º do CTB.

Pede deferimento.

Horizontina 02 de novembro de 2023.

Giovani Correia
Assinatura

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