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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

DLDT
Nº 70049842909 (N° CNJ: 0290882-97.2012.8.21.7000)
2012/CRIME

APELAÇÃO CRIME. ROUBO DUPLAMENTE


MAJORADO. EMPREGO DE ARMA DE FOGO E
CONCURSO DE AGENTES. PROVA SUFICIENTE.
DOSIMETRIA DA PENA. REDUÇÃO.
1. PRELIMINAR DE NULIDADE DOS ATOS
PROCESSUAIS A PARTIR DA AUDIÊNCIA DE
INSTRUÇÃO. OFENSA AO ARTIGO 212, DO CPP. A
não-observância da regra do art. 212 da lei
processual penal, pela simples inversão da ordem
de inquiridores da testemunha, enseja, no máximo,
nulidade relativa. Jurisprudência pacificada no
âmbito das Cortes Superiores. Configuração da
nulidade obstada pela ausência de demonstrado
prejuízo à parte interessada (art. 563, CPP), pela
contribuição da defesa ao descumprimento da
forma (art. 565, CPP) e, ainda, pela irrelevância da
ocorrência à apuração da verdade substancial e ao
julgamento da causa (art. 566, CPP).
2. PRELIMINAR DE NULIDADE DO ATO DE
RECONHECIMENTO. OFENSA AO ARTIGO 226 DO
CPP. Quanto à forma do procedimento de
reconhecimento do acusado, mister ressaltar que é
tranqüila a jurisprudência no sentido da
desnecessidade de estrita observância das
formalidades do art. 226 do CPP quando o ato de
reconhecimento é realizado pela vítima com
segurança, em Juízo e com observância do
contraditório.
3. MANUTENÇÃO DO DECRETO CONDENATÓRIO.
As provas existentes no caderno processual são
suficientes para o julgamento de procedência do
pedido condenatório deduzido na denúncia.
Materialidade e autoria suficientemente
demonstradas. Uníssonos relatos das vítimas em
todas as oportunidades em que foram ouvidas,
narrando em detalhes a subtração perpetrada pelo
réu e outros dois elementos (um adolescente
infrator e a comparsa Jussara) e indigitando o
apelante como o roubador que estava armado com
uma faca. Reconhecimento policial e judicial.
4. PALAVRA DA VÍTIMA. VALOR PROBANTE.
Conforme tranqüilo entendimento jurisprudencial,
a prova testemunhal consistente na palavra da
vítima tem suficiente valor probante para o amparo
de um decreto condenatório, especialmente
quando se trata de delito praticado sem
testemunhas presenciais. Os relatos das vítimas,
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ao se mostrarem seguros e coerentes, merecem


ser considerados elementos de convicção de alta
importância.
5. MAJORANTES. INCIDÊNCIA. EMPREGO DE
ARMA. Segundo o entendimento tranqüilo desta
Câmara, são prescindíveis para a configuração da
majorante descrita no artigo 157, § 2º, inciso I, do
Código Penal, a apreensão da arma e a certificação
de sua efetiva potencialidade lesiva, se nos autos
do processo criminal restou suficientemente
comprovado, por outros meios, a utilização do
artefato para a intimidação da vítima.
Circunstância reiteradamente afirmada pelo casal.
CONCURSO DE AGENTES. Conforme tranqüilo
entendimento jurisprudencial e doutrinário, para a
configuração do concurso é desnecessária a
demonstração do prévio ajuste de vontades. E
quanto à realização da conduta típica pelo réu, a
prova dos autos não deixa dúvidas, evidenciando
claramente a conjunção de esforços e a divisão de
tarefas com outros dois agentes.
6. DOSIMETRIA DA PENA. Confirmada a nota
negativa atribuída ao vetor conseqüências do
crime, em razão das lesões corporais causadas às
vítimas, impositiva a redução da pena-base em 03
meses, considerando que a violência e a grave
ameaça empregadas, como elementares do tipo
penal, não podem justificar também a nota
desfavorável atribuída às circunstâncias do crime.
Basilar reduzida para 04 anos e 06 meses de
reclusão, sem reflexos na pena provisória, que já
foi reconduzida ao mínimo legal pela sentenciante,
por força da menoridade do agente, dada a
impossibilidade das atenuações conduzirem a
pena abaixo do mínimo previsto em lei. Esse é o
entendimento tranqüilo do STF e do STJ,
consolidado no verbete 231 deste último, refletido
nos julgados desta Câmara. Na terceira fase, a
majoração da pena deve ser de 3/8, em
conformidade com o critério adotado por esta
Câmara - proposto pelo Ministro Arnaldo Esteves
Lima quando do julgamento do Habeas Corpus n.º
42459/SP, nada havendo de excepcional a ponto de
justificar a adoção de maior fracionamento. Pena
privativa de liberdade redimensionada para 05
anos e 06 meses de reclusão. Mantido o regime
semi-aberto.
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7. PENA DE MULTA CUMULATIVA. Redução da


sanção pecuniária para 15 dias-multa, em
consonância com as circunstâncias judiciais do
caso e a basilar aplicada.
8. CUSTAS PROCESSUAIS. Apelo provido no ponto
para conceder o benefício da AJG e suspender a
exigibilidade da obrigação de pagar custas
processuais.
PRELIMINARES REJEITADAS. APELO
PARCIALMENTE PROVIDO.

APELAÇÃO CRIME OITAVA CÂMARA CRIMINAL

Nº 70049842909 (N° CNJ: 0290882- COMARCA DE PELOTAS


97.2012.8.21.7000)

LUIS FERNANDO LOPES ANTUNES APELANTE

MINISTERIO PUBLICO APELADO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.


Acordam os Magistrados integrantes da Oitava Câmara
Criminal do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em AFASTAR AS
PRELIMINARES E DAR PARCIAL PROVIMENTO ao apelo para, reduzida a
basilar e a fração de aumento operada pela incidência das majorantes,
redimensionar a pena privativa de liberdade de LUIS FERNANDO LOPES
ANTUNES para 05 (cinco) anos e 06 (seis) meses de reclusão e, a
pecuniária, para 15 (quinze) dias-multa, à razão de 1/30 do salário mínimo
vigente à época do fato, bem como para suspender a exigibilidade do
pagamento das custas processuais.
Custas na forma da lei.

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Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes


Senhores DES.ª ISABEL DE BORBA LUCAS (PRESIDENTE E
REVISORA) E DR. JOSÉ LUIZ JOHN DOS SANTOS.
Porto Alegre, 15 de outubro de 2014.

DESEMBARGADOR DÁLVIO LEITE DIAS TEIXEIRA,


Relator.

RELATÓRIO
DESEMBARGADOR DÁLVIO LEITE DIAS TEIXEIRA (RELATOR)
O MINISTÉRIO PÚBLICO ofereceu denúncia contra JUSSARA
FERREIRA FONSECA, com 25 anos de idade à época dos fatos, por
incursa nas sanções do artigo 157, parágrafo 2º, incisos I e II, do Código
Penal.
A denúncia foi recebida em 19.06.2006 (fl. 98).
A ré foi citada (fl. 104,v.), interrogada (fls. 109/110) e, por
Defensor constituído, apresentou defesa prévia (fl. 112). O menor
adolescente foi ouvido na Promotoria da Infância e Juventude (fl. 151).
Em aditamento à inicial acusatória, LUIS FERNANDO
LOPES ANTUNES foi também denunciado por incurso nas sanções do
artigo 157, parágrafo 2º, incisos I e II, do Código Penal, pela prática do
seguinte fato delituoso (fls. 173/174):
“No dia 03 de junho de 2006, por volta das 03h30min,
na Rua Gonçalves Ledo, s/nº, em via pública, nesta Cidade, os
denunciados Jussara e Luis Fernando, em comunhão de
esforços e ajustes de vontades entre si com o adolescente
infrator Michael Siqueira Acunha, subtraíram, para si e para o
comparsa, mediante grave ameaça exercida com o emprego de
uma faca, uma mochila contendo vários objetos e uma jaqueta
de couro preta, conforme auto de apreensão de fl. 07 do
inquérito policial, pertencentes às vítimas Tiago Araújo
Maschendorf e Patrícia Costa Botini.

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Na oportunidade, as vítimas caminhavam em via


pública quando foram abordadas pelos denunciados e seu
comparsa, momento em que um dos indivíduos imobilizou
Tiago, agarrando-o pelas costas e calçando-o com uma faca,
exigindo que entregassem seus pertences. Ato contínuo, a
vítima Tiago entrou em luta corporal com os dois meliantes e
conseguiu desarmar o indivíduo que lhe imobilizava, enquanto
a denunciada Jussara tentava imobilizar a vítima Patrícia,
segurando-a pelos cabelos. Após, os meliantes pegaram a
mochila pertencente à vítima Patrícia e a jaqueta que a vítima
Tiago vestia e fugiram do local na posse da res furtiva.
Acionada, a Brigada Militar saiu em diligências, tendo
localizado a denunciada Jussara e o menor infrator Michael a
poucas quadras do local dos fatos. Ao procederem uma revista
pessoal, os policiais militares encontraram, na posse da
denunciada, parte dos bens pertencentes às vítimas.”

O aditamento foi recebido em 07.05.2007 (fl. 175).


Luis Fernando Lopes Antunes foi citado por edital (fls. 192/194)
e, não tendo comparecido em audiência realizada em 09.10.2007, tampouco
constituído defensor, foi determinada a cisão, com a suspensão do
processo e do curso do lapso prescricional (fl. 195).
Após nova tentativa de localização, o réu foi mais uma vez
citado por edital e, o processo e o prazo prescricional, novamente suspensos
(fl. 209).
Na seqüência, o réu foi citado pessoalmente em 17.08.2009
(fls. 213/214) e, por intermédio da Defensoria Pública, apresentou resposta à
acusação (fl. 216).
Afastadas as hipóteses de absolvição sumária, o feito foi
instruído com cópia dos depoimentos colhidos no feito original, processo n.º
022/2.06.0005048-1 (fls. 218/223). Na seqüência, foram ouvidas as vítimas e
quatro testemunhas e o réu foi declarado revel (fls. 238/242 e 261/262).
Atualizados os antecedentes criminais do acusado (fl.
263/264).
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Em seus memoriais, o Ministério Público postulou a


condenação do réu nos termos da denúncia (fls. 265/266); a Defesa
constituída, por seu turno, pediu sua absolvição por insuficiência de provas
(fls. 270).
A Magistrada sentenciante, por sentença publicada em
12.04.2011, JULGOU PROCEDENTE o pedido, condenando LUIS
FERNANDO LOPES ANTUNES por incurso nas sanções do artigo 157, §
2.º, incisos I e II, c/c o artigo 65, inciso I, ambos do Código Penal, à pena de
05 (cinco) anos, 07 (sete) meses e 06 (seis) dias de reclusão, regime inicial
semi-aberto, e 21 (vinte e um) dias-multa, à razão unitária mínima.
Concedido o direito de apelar em liberdade. Custas pelo condenado (fls.
272/274).1
O réu foi intimado da sentença por edital (fl. 301/304).
A Defensoria Pública apelou (fl. 307).

1
O réu não tem antecedentes criminais e nada há nos autos que permita analisar sua
conduta social ou personalidade. Motivo comum à espécie. Além da grave ameaça, as duas
vítimas sofreram violência real, tendo sido agredidas tanto pelo réu como pelos dois
comparsas, resultando com várias lesões corporais, conforme registram os autos de exame
de corpo de delito de fls. 118 e 119. Agiu o réu com dolo direto, ciente da ilicitude da
conduta e podendo evitá-la, conforme essa ciência. A pena base, considerando as
circunstâncias e consequências do fato, é de 4 (quatro) anos e 9 (nove) meses de reclusão
e multa de 15 (quinze) dias-multa, calculado o dia-multa à mínima razão legal, tendo em
vista a situação econômica do réu.
A menoridade ao temo do fato (CP, art. 65, I) atenua de 9 (nove) meses a pena base,
resultando a pena provisória de 4 (quatro) anos de reclusão.
Considerando o emprego de arma no exercício da grave ameaça e que o denunciado se
uniu a mais dois indivíduos para a prática do assalto, sendo que todos agrediram
violentamente as vítimas, majoro de 2/5 (dois quintos) as penas acima fixadas, o que
representa 1 (um) ano, 7 (sete) meses e 6 (seis) dias de reclusão e 6 (seis) dias-multa,
resultando as penas definitivas de 5 (cinco) anos, 7 (sete) meses e 6 (seis) dias de reclusão
e multa de 21 (vinte e um) dias-multa.
Isso posto, julgo procedente a denúncia e CONDENO o réu LUÍS FERNANDO LOPES
ANTUNES, já qualificado, às penas de 5 (CINCO) ANOS, 7 (SETE) MESES E 6 (SEIS)
DIAS DE RECLUSÃO E MULTA DE 21 (VINTE E UM) DIAS-MULTA, fixado o dia-multa à
razão de um trigésimo do salário mínimo vigente em junho de 2006, por incurso no art. 157,
§ 2º, I e II, c/c art. 65, I, do Código Penal, pela prática do crime de roubo majorado pelo
emprego de arma e pelo concurso de agentes, atenuado pela menoridade.

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Em suas razões recursais, em preliminar, argüiu a nulidade do


feito a partir da instrução por ofensa ao disposto no artigo 212 do CPP,
tendo em vista que a Magistrada formulou perguntas diretamente às
testemunhas e, somente depois, passou a palavra ao agente ministerial.
Ainda em preliminar, aduziu que o procedimento de reconhecimento foi
realizado em desacordo aos ditames do artigo 226, inciso II, do CPP. No
mérito, pediu a absolvição por insuficiência de provas para a condenação e,
subsidiariamente, o afastamento das majorantes pelo emprego de arma e
concurso de agentes. Por fim, postulou a redução da pena-base ao mínimo
legal e, caso mantida a incidência das majorantes, a aplicação da menor
fração de aumento (fls. 310/317).
O Ministério Público apresentou contra-razões recursais (fls.
319/329). Após, subiram os autos a esta Corte.
O órgão do Ministério Público neste grau opinou pelo parcial
provimento do apelo (fls. 332/337).
É o relatório.

VOTOS
DESEMBARGADOR DÁLVIO LEITE DIAS TEIXEIRA (RELATOR)
O recurso atende aos seus pressupostos de admissibilidade,
razão pela qual dele conheço.
Trata-se de recurso de apelação da defesa de LUIS
FERNANDO LOPES ANTUNES, interposto contra a sentença que o
condenou por incurso nas sanções do artigo 157, § 2.º, incisos I e II, c/c o
artigo 65, inciso I, ambos do Código Penal, à pena de 05 (cinco) anos, 07
(sete) meses e 06 (seis) dias de reclusão, regime inicial semi-aberto, e 21
(vinte e um) dias-multa, à razão unitária mínima.

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Passo a analisar as questões trazidas pela interposição do


recurso.
Advirto desde logo que, em consulta ao site de informações
desta Corte, verifiquei a extinção da punibilidade da co-ré, Jussara Ferreira
Fonseca, nos autos do processo cindido (022/2.06.0005048-1).
Das preliminares
Em suas razões recursais, a defesa argüiu a nulidade do
processo desde o ato em que ocorreu a instrução probatória, em razão da
inobservância da norma do art. 212 do Código de Processo Penal,
considerando a redação conferida pela Lei n.º 11.690/2008:

Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes


diretamente à testemunha, não admitindo o juiz
aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem
relação com a causa ou importarem na repetição de
outra já respondida.
Parágrafo único. Sobre os pontos não esclarecidos,
o juiz poderá complementar a inquirição.

Sobre o tema, este é o entendimento já consolidado na


jurisprudência deste Colegiado:
APELAÇÃO CRIME. CRIMES CONTRA O
PATRIMÔNIO. FURTO QUALIFICADO PELA
ESCALADA E PELO ROMPIMENTO DE
OBSTÁCULO. TENTATIVA. PRELIMINARES
REJEITADAS. NULIDADE DA INSTRUÇÃO. ART.212
DO CPP. O art. 212 do CPP, com a redação dada
pela Lei 11.680/08, permite que as partes façam
perguntas diretamente aos que são ouvidos em
audiência. Porém, tal faculdade não retirou do juiz
a possibilidade de também questioná-las.
NULIDADE DO AUTO DE AVALIAÇÃO INDIRETA.
(...) PRELIMINARES REJEITADAS. APELO
DEFENSIVO PARCIALMENTE PROVIDO. (Apelação
Crime Nº 70060286317, Oitava Câmara Criminal,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Isabel de Borba
Lucas, Julgado em 27/08/2014)
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APELAÇÃO CRIME. ESTUPRO DE VULNERÁVEL.


CONTINUIDADE DELITIVA. 1. PRELIMINARES.
Pena-base. (...) Art. 212 do CPP. Embora a Lei
11.690/2008 tenha alterado a redação do art. 212 do
CPP, possibilitando que as partes formulem suas
indagações diretamente à testemunha, ao juiz é
dado interferir nos questionamentos, nada
impedindo que as argua primeiramente, sem que
com isso esteja a imiscuir-se na função de
acusador. Na hipótese dos autos, conquanto a
magistrada monocrática tenha permitido à acusação
perguntar diretamente às testemunhas, e, quanto à
defesa, adotado o sistema anterior das reperguntas,
no que diz com a vítima e uma das três testemunhas,
não se observa prejuízo capaz de macular o ato.
Preliminares rejeitadas. (...) PRELIMINARES
REJEITADAS. APELO IMPROVIDO. CORREÇÃO DE
ERRO MATERIAL PARA FAZER CONSTAR QUE A
CONDENAÇÃO TAMBÉM SE DÁ COM BASE NO
INCISO VI DO ART. 1º DA LEI Nº 8.072/90. (Apelação
Crime Nº 70057767113, Oitava Câmara Criminal,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Fabianne Breton
Baisch, Julgado em 27/08/2014)

APELAÇÃO CRIME. CRIMES CONTRA O


PATRIMÔNIO. ROUBO DUPLAMENTE MAJORADO.
PRELIMINAR. NULIDADE DA SENTENÇA.
AUSÊNCIA DE ENFRENTAMENTO DE TESE
DEFENSIVA. REJEIÇÃO. (...) INQUIRIÇÕES
REALIZADAS PELO MAGISTRADO. ARTIGO 212 DO
CPP. AUSÊNCIA DE NULIDADE. A nova redação do
artigo 212 do CPP, introduzida pela Lei nº
11.690/2008, não proibiu o magistrado de realizar
inquirições que entender cabíveis ao
esclarecimento dos fatos, homenageando os
princípios processuais da iniciativa do juiz e da
busca da verdade. (...) APELAÇÃO PARCIALMENTE
PROVIDA. (Apelação Crime Nº 70059781245, Oitava
Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Naele Ochoa Piazzeta, Julgado em 13/08/2014)

Ademais, o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal


Federal, ao examinarem a questão, assentaram que a não observância da

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regra do art. 212 da lei processual penal, pela simples inversão da ordem de
inquiridores da testemunha, enseja, no máximo, nulidade relativa. Colaciono
decisões recentes de ambas as Cortes:

HABEAS CORPUS. ROUBO CIRCUNSTANCIADO.


NULIDADE. RITO ADOTADO EM AUDIÊNCIA DE
INSTRUÇÃO E JULGAMENTO. SISTEMA
ACUSATÓRIO. EXEGESE DO ARTIGO 212 DO
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, COM A REDAÇÃO
DADA PELA LEI N.º 11.690/08. EIVA RELATIVA.
DEFESA SILENTE DURANTE A REALIZAÇÃO DO
ATO. PRECLUSÃO. PRINCÍPIO DA
INSTRUMENTALIDADE DAS FORMAS. AUSÊNCIA
DE DEMONSTRAÇÃO DO PREJUÍZO CONCRETO À
DEFESA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO
CARACTERIZADO.
1. A nova redação dada ao artigo 212 do Código de
Processo Penal, em vigor a partir de agosto de 2008,
determina que as testemunhas sejam ouvidas direta e
primeiramente pelas partes, possibilitando ao
magistrado complementar a inquirição quando
entender necessário quaisquer esclarecimentos.
2. É cediço que no terreno das nulidades no âmbito do
processo penal vige o sistema da instrumentalidade
das formas, no qual se protege o ato praticado em
desacordo com o modelo legal caso tenha atingido a
sua finalidade, cuja invalidação é condicionada à
demonstração do prejuízo causado à parte, ficando a
cargo do magistrado o exercício do juízo de
conveniência acerca da retirada da sua eficácia, de
acordo com as peculiaridades verificadas no caso
concreto.
3. Na hipótese em apreço, o ato impugnado atingiu a
sua finalidade, ou seja, as provas requeridas foram
produzidas, sendo oportunizada às partes, ainda que
em momento posterior, a formulação de questões às
testemunhas ouvidas, respeitando-se o contraditório e
a ampla defesa constitucionalmente garantidos, motivo
pelo qual não houve qualquer prejuízo efetivo ao
paciente.
4. Eventual inobservância à ordem estabelecida no
artigo 212 do Código de Processo Penal caracteriza
vício relativo, devendo ser arguido no momento
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processual oportuno, com a demonstração da


ocorrência do dano sofrido pela parte, sob pena de
preclusão, porquanto vige no cenário das nulidades o
brocado pas de nullité sans grief positivado na letra do
artigo 563 do Código de Processo Penal.
5. Constatando-se que a defesa do paciente
permaneceu silente durante a audiência, vindo a arguir
a irregularidade somente em preliminar de alegações
finais, a pretensão do impetrante de invalidação da
instrução criminal se encontra fulminada pelo
fenômeno da preclusão.
(...)
(HC 222.917/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI,
QUINTA TURMA, julgado em 06/03/2012, DJe
20/03/2012)

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS.


PROCESSUAL PENAL. AUDIÊNCIA DE
INSTRUÇÃO. INVERSÃO DA ORDEM DE
INQUIRIÇÃO DAS TESTEMUNHAS. ARTIGO 212 DO
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. ARGUIÇÃO DE
NULIDADE. PREJUÍZO. DEMONSTRAÇÃO.
AUSÊNCIA. RECURSO IMPROVIDO. I – Não é de se
acolher a alegação de nulidade em razão da não
observância da ordem de formulação de perguntas às
testemunhas, estabelecida pelo art. 212 do CPP, com
redação conferida pela Lei 11.690/2008. Isso porque a
defesa não se desincumbiu do ônus de demonstrar o
prejuízo decorrente da inversão da ordem de
inquirição das testemunhas. II – Esta Corte vem
assentando que a demonstração de prejuízo, a teor do
art. 563 do CPP, é essencial à alegação de nulidade,
seja ela relativa ou absoluta, eis que “(...) o âmbito
normativo do dogma fundamental da disciplina das
nulidades pas de nullité sans grief compreende as
nulidades absolutas” (HC 85.155/SP, Rel. Min. Ellen
Gracie). Precedentes. III – A decisão ora questionada
está em perfeita consonância com o que decidido pela
Primeira Turma desta Corte, ao apreciar o HC
103.525/PE, Rel. Min. Cármen Lúcia, no sentido de
que a inobservância do procedimento previsto no art.
212 do CPP pode gerar, quando muito, nulidade
relativa, cujo reconhecimento não prescinde da
demonstração do prejuízo para a parte que a suscita.
IV – Recurso improvido.
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(RHC 110623, Relator(a): Min. RICARDO


LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em
13/03/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-061
DIVULG 23-03-2012 PUBLIC 26-03-2012)

Na hipótese, convém destacar que a defesa participou


ativamente das audiências (fls. 238/242 e 261), fazendo perguntas às
vítimas e às testemunhas, sempre que entendeu oportuno.
E em sendo assim, a configuração da nulidade resta obstada
pela ausência de demonstrado prejuízo à parte interessada (art. 563, CPP),
pela contribuição da defesa ao descumprimento da forma (art. 565, CPP) e,
ainda, pela irrelevância da ocorrência à apuração da verdade substancial e
ao julgamento da causa (art. 566, CPP).
Além disso, da análise do referido ato processual, infere-se que
não houve nenhum desvio de função por parte do Julgador. Anote-se que o
dispositivo legal não impede o magistrado de formular questionamentos às
partes e sim inova no tocante à formulação de perguntas por parte da defesa
e da acusação, que agora devem dirigi-las diretamente às testemunhas.
Referido dispositivo legal não objetiva tornar o magistrado mero observador
da colheita probatória.
A preliminar, então, não merece acolhida.
Alega a defesa também a nulidade do ato de
reconhecimento realizado em Juízo pela vítima Patrícia, por ofensa ao
disposto no inciso II do artigo 226 do CPP.
Nesse ponto, quanto à validade desse reconhecimento, mister
ressaltar que é tranqüila a jurisprudência no sentido da desnecessidade de
estrita observância das formalidades do art. 226 do Código de Processo
Penal quando o ato é realizado pelas vítimas com segurança, em Juízo e
com observância da ampla defesa e do contraditório.

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Nesse sentido, julgado do Superior Tribunal de Justiça:


PENAL. AGRAVO REGIMENTAL. ALEGAÇÃO DE
NULIDADE NO ATO DE RECONHECIMENTO DO
ACUSADO. IMPROCEDÊNCIA. PEDIDO DE
ABSOLVIÇÃO. EXAME APROFUNDADO DAS
PROVAS. VEDAÇÃO NA VIA ELEITA.
CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DESFAVORÁVEIS.
PENA-BASE FIXADA ACIMA DO MÍNIMO LEGAL.
REGIME MAIS GRAVOSO. POSSIBILIDADE.
1. Não se proclama a existência de nulidade do ato
de reconhecimento do agravante, visto que sua
condenação está amparada em idôneo conjunto
fático-probatório, notadamente nos depoimentos
prestados na fase judicial, impondo-se notar que o
reconhecimento realizado com segurança pelas
vítimas, em juízo, sob o pálio do contraditório,
prescinde das formalidades previstas no artigo 226
do Código de Processo Penal.
2. A análise do pedido de absolvição por falta de
provas demandaria o exame aprofundado das provas,
providência incompatível com a via estreita do recurso
especial.
3. Havendo circunstâncias judiciais negativas a
recomendar o regime mais gravoso, mostra-se correta
a estipulação do regime fechado, de acordo com o que
preceitua o art. 33, §§ 2º e 3º, do Código Penal.
4. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no Ag 972.087/SC, Rel. Ministro PAULO
GALLOTTI, SEXTA TURMA, julgado em 26/05/2008,
DJe 16/06/2008)

No caso concreto, Patrícia Costa Bottini, em juízo, não apenas


reconheceu Luis Fernando Lopes Antunes como um dos roubadores, como
também o apontou como o elemento que estava armado com a faca e “pulou
em cima do Tiago” (fl. 238, v.).
E em sendo assim, rejeito as preliminares.

Do Pleito de Absolvição

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O exame detido dos autos permite concluir que a Julgadora do


primeiro grau obrou de modo irretocável na sentença no exame do conjunto
probatório formado no processamento da demanda.
Com efeito, as provas existentes no caderno processual -
consistentes nos relatos das vítimas Patrícia Costa Bottini (fls. 218 e
238/239) e Tiago Araújo Maschendorf (fls. 218/219 e 261), uníssonos acerca
do roubo ocorrido em frente ao “mercadinho”, oportunidade em que três
elementos, dois homens, um deles armado, e uma mulher, depois de
embate corporal, lograram êxito em subtrair a mochila da primeira e a
jaqueta de couro do segundo, empreendendo fuga do local -, são suficientes
para o julgamento de procedência do pedido condenatório deduzido na
denúncia.
Destaca-se que ambos os ofendidos indigitaram o réu, com
segurança, como o criminoso que estava armado.
E conforme tranqüilo entendimento jurisprudencial, a prova
testemunhal consistente na palavra da vítima tem suficiente valor probante
para o amparo de um decreto condenatório, especialmente quando se trata
de delito praticado sem testemunhas presenciais. Assim que, em se
mostrando sempre seguros e coerentes, os relatos de Patrícia e Tiago
merecem ser considerados elementos de convicção de alta importância.
Além disso, não se pode olvidar que a atuação do réu apelante
no roubo restou assentada também a partir dos relatos da própria comparsa
que, ao ser interrogada nos autos do processo originário (fls. 109/110),
revelou ter presenciado a briga do casal (Patrícia e Tiago) com um tal de
“Careca”, codinome do réu, circunstância que permitiu a identificação do
comparsa e, por conseqüência, determinou o aditamento da denúncia.
E para evitar a tautologia, transcrevo excerto dos bem lançados
termos do parecer exarado pelo ilustre Procurador de Justiça Paulo Antonio

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Todeschini, que muito bem equacionou a questão posta a julgamento por


este Colegiado, adotando-os como razão de decidir (fls. 332/337):
3.- No mérito, a condenação é irreprochável.
Com efeito, a materialidade restou positivada
pelos autos de apreensão (fl.12) e restituição (fl.13), além da
prova oral coligida aos autos.
Tangentemente à autoria, inexiste nos autos a
versão judicial do réu acerca do fato, na medida em que deixou
de comparecer ao respectivo interrogatório judicial, sendo
declarado revel (fl. 261,verso). Na fase apuratória, negou a
prática delitiva.
Nada obstante, o restante da prova
judicializada bem atrelou o apelante ao evento subtrativo.
Senão vejamos. A vítima Patrícia Costa
Bottini, no ambiente judicial (fls. 238/239), bem dissecou o
desenrolar delitivo. Nesse passo, aduziu que, quando estava
voltando para casa na companhia da vítima e seu ex-namorado
Tiago, começou a chover, razão pela qual abrigaram-se
embaixo do toldo de um mercado. Nessa ocasião, foram
abordados por dois rapazes e uma moça. Ato contínuo, no seu
dizer, “Um guri me jogou no chão, o outro segurou o Tiago e a
guria pulou em cima do Tiago também”. Após travarem luta
corporal, os malfeitores encetaram fuga com os pertences
arrebatados, sendo a declarante acudida pela vítima Tiago. No
desdobramento, chegando em casa, acionaram a Brigada
Militar, culminando os policiais por deterem Jussara e o menor
Michael, sendo recuperados com Jussara seu isqueiro e um de
seus brincos. Posteriormente, na Delegacia de Polícia,
identificou, através de fotografia, o réu Luis Fernando como
sendo o outro protagonista do roubo. Na respectiva cerimônia
judicial, apontou, como certeza irresoluta, o ora apelante como
um dos envolvidos na prática delitiva, ratificando, pois, o aponte
primitivo. Em acréscimo, aduziu que Luis Fernando portava
uma faca, tendo sido ele quem, inicialmente, “pulou”, em Tiago.
Especificou, ainda, que Tiago conseguiu, em meio a luta
corporal, desarmar o réu Luis Fernando, máxime porque perito
em artes marciais.
Mesmo enredo foi professado pela outra vítima
– Tiago Araújo Maschendorf. Com efeito, no âmbito judicial
(fls. 218/219 e 261), confirmou que foram abordados por três
indivíduos, os quais, ao mesmo tempo em que exigiam a
entrega de seus pertences, passaram a agredi-los. No entanto,
como possui formação em artes marciais, conseguiu reagir,
inclusive retirando uma faca da posse de um dos agentes. Sem

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embargo disso, os roubadores levaram sua mochila e sua


jaqueta. Por conta do ocorrido, ficaram lesionados, sendo, de
imediato, acionada a Polícia Militar, quando, então, localizados
e detidos nas imediações dois dos responsáveis pela
empreitada criminosa. No mais, ainda que de forma não usual,
acabou por ratificar o reconhecimento fotográfico do ora
apelante realizado na fase investigativa, ao mencionar que não
conhecia o réu Luis Fernando, “Só daquele dia assim”
(fl.261).
Os policiais envolvidos na diligência Jaqueline
Furtado da Costa, Eno Marcel Rodrigues Nóbrega e José
Francisco Santos Silveira, ainda no contraditório (fls.
239,verso/241), corroboraram o teor da prova acusatória.
Nesse passo, veicularam que, após informados acerca de um
roubo, depararam-se com um casal –Jussara e Michael, sendo
identificados pelas vítimas como dois dos autores do assalto.
Afirmaram, ainda, que parte dos bens subtraídos foi apreendida
em poder dos flagrados. José Francisco adicionou, em outra
medida, que, consoante informação das vítimas, o terceiro
elemento envolvido no evento, o qual portava uma faca, teria
logrado fugir na posse da jaqueta de Tiago.
Esse panorama probatório, concessa venia, se
desvelou suficiente para atrelar o acusado ao roubo em
epígrafe. Resumindo: as vítimas, nas duas fases
procedimentais, jamais titubearam em indigitar o réu, ora
apelante, como sendo um dos asseclas envolvidos na prática
delitiva. Em outra medida, os reconhecimentos fotográficos
operados na fase policial (fls. 168 e 169), adquiriram inegável
valor probante porque foram convalidados em juízo pelas
vítimas, especialmente pela ofendida Patrícia. De resto, advirta-
se que o reconhecimento judicial não está jungido às
formalidades do artigo 226 do CPP, sendo essa regra
meramente enunciativa. Logo, não existe espaço para se
cogitar de dúvida no campo da autoria.
4.- Destarte, inexpugnável a condenação,
inclusive, no que diz com as majorantes em tela. Com efeito, o
concurso de agentes veio bem delineado pelas declarações
das vítimas quando descreveram que os agentes atuaram de
forma conjunta visando mesmo fim subtrativo. Já a outra
adjetivadora, também foi enaltecida pelas vítimas, as quais
deixaram claro que a abordagem se deu mediante a utilização
de uma faca. De resto, conforme trivialmente sabido, este
instrumento tem intrínseco poder vulnerante, dispensando, por
tal, qualquer perícia visando se concluir pelo óbvio e ululante.
Portanto, deve ser mantida a condenação, nos termos em que
foi lançada.

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Nesse panorama, tenho que a autoria delitiva restou


plenamente comprovada, não havendo falar em insuficiência de provas para
a condenação do réu pela prática do roubo descrito no aditamento à
denúncia.
De igual modo, não prospera o pleito de afastamento das
majorantes.
No que se refere à majorante pelo emprego de arma,
segundo o entendimento tranqüilo desta Câmara, são prescindíveis para a
configuração desta causa de aumento descrita no artigo 157, § 2º, inciso I,
do Código Penal, a apreensão da arma e a certificação de sua efetiva
potencialidade lesiva, se nos autos do processo criminal restou
suficientemente comprovado, por outros meios, a utilização do artefato para
a intimidação das vítimas.
Ademais, na doutrina e na jurisprudência, é pacífico o
entendimento no sentido de que faca configura arma branca, justificando,
portanto, a incidência da causa de aumento descrita no art. 157, §2º, inc. I,
do Código Penal, que não é restrita ao emprego de arma de fogo.
Ainda, conforme tranqüilo entendimento jurisprudencial e
doutrinário, para a configuração do concurso de agentes é desnecessária a
demonstração do prévio ajuste de vontades. Nesse sentido, a jurisprudência
recente deste Colegiado:
APELAÇÃO CRIME. ROUBO DUPLAMENTE
MAJORADO. 1. (...) 3. CONCURSO DE PESSOAS.
Devidamente configurado nos autos a conjunção de
esforços e vontades do réu e seu comparsa na prática
delitiva, sendo desnecessária demonstração de prévio
ajuste de vontade para caracterização da majorante. O
que não se pode desprezar é a existência de liame
subjetivo. 4. PENA DE MULTA. Redução para 20 dias-
multa, por duas circunstâncias judiciais desfavoráveis,
que se mostra melhor ajustada ao caso. RECURSO
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PARCIALMENTE PROVIDO. UNÂNIME. (Apelação


Crime Nº 70031469521, Oitava Câmara Criminal,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Danúbio Edon
Franco, Julgado em 07/10/2009)

APELAÇÃO CRIME. CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO.


FURTO QUALIFICADO PELO ROMPIMENTO DE
OBSTÁCULO E CONCURSO DE AGENTES. PROVA.
CONDENAÇÃO MANTIDA.
(...) CONCURSO DE AGENTES. A testemunha foi
contundente em relatar a ação de mais de um
indivíduo, no dia do fato. Sabido é que, para que
se caracterize o concurso de pessoas,
desnecessário se faz o ajuste prévio entre os
agentes, bastando a adesão de um à conduta do
outro, mesmo que essa ocorra durante a
empreitada delituosa. Qualificadora
caracterizada. PENA. DOSIMETRIA. MANUTENÇÃO. A
presença de vetores negativos do artigo 59 do Código
Penal (circunstâncias e consequências do crime)
autoriza o afastamento em 06 meses da pena-base do
mínimo, sendo tornada definitiva, na ausência de
causas modificadoras, em 02 (dois) anos e 06 (seis)
meses de reclusão, substituída por duas restritivas de
direitos, consistentes em prestação de serviços à
comunidade e prestação pecuniária. Mantida a pena de
multa em 15 (quinze) dias-multa, no valor unitário
mínimo. Em caso de conversão, fixado o regime inicial
aberto para o cumprimento da pena privativa de
liberdade, fulcro no artigo 33, §2º, c, do Código Penal.
APELO DEFENSIVO DESPROVIDO. (Apelação Crime Nº
70054176888, Oitava Câmara Criminal, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Isabel de Borba Lucas, Julgado
em 13/08/2014)

Quanto à realização da conduta típica pelo réu, conforme já


destacado, a prova dos autos não deixa dúvidas, evidenciando claramente a
conjunção de esforços e a divisão de tarefas, incumbindo-se inicialmente, o
menor infrator, de imobilizar Patrícia, enquanto o réu (armado) e a comparsa
se ocupavam em segurar Tiago, como reiteradamente afirmado por ambos
os ofendidos.
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Ao recurso se nega provimento, portanto, também nesses


pontos.
Do apenamento
A Magistrada fixou a pena-base em 04 (quatro) anos e 09
(nove) meses de reclusão, por entender desfavoráveis ao réu os vetores
circunstâncias e conseqüências do crime.
A defesa pede a redução.
Razão lhe assiste, em parte.
Com efeito, a moduladora conseqüências do crime
efetivamente merecia nota negativa, considerando que as vítimas resultaram
gravemente lesionadas, conforme atestam os autos de exame de corpo de
delito das folhas 118 e 119; Patrícia, com equimose na região orbitária
esquerda, escoriação na região bucal direita e erosão na mucosa jugal, e
Tiago, com equimose na mucosa da região oral, erosões na mucosa jugal,
equimose na região orbitária direita e, ainda, com o pavilhão auditivo direito
arroxeado.
Contudo, a grave ameaça e o emprego de violência física
constituem elementares do tipo descrito no artigo 157 do Código Penal,
razão pela qual não podem, sob pena de incorrer em bis in idem, justificar
também o aumento da basilar.
E em sendo assim, reduzo a pena-base do réu para 04
(quatro) anos e 06 (seis) meses de reclusão, sem reflexos, contudo, na
pena provisória.
Isso porque, conquanto mantida a redução de 09 (nove) meses
operada em virtude da menoridade do réu, a pena provisória deve ficar no
patamar proposto pela Magistrada, de 04 (quatro) anos de reclusão,
tendo em vista a impossibilidade de atenuações conduzirem a pena abaixo
do mínimo previsto pelo legislador. Esse é o entendimento tranqüilo do
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Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, consolidado no


verbete 231 deste último (“A incidência da circunstância atenuante não pode
conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal”), refletido nos julgados
desta Câmara.
Na terceira fase da dosimetria, considerando que a ameaça foi
exercida pelo emprego de uma faca e unicamente por um dos agentes,
entendo demasiado o aumento de 2/5 operado na sentença pela incidência
das majorantes. Isto porque a jurisprudência consolidada deste Colegiado
adota o parâmetro proposto pelo Ministro Arnaldo Esteves Lima quando do
julgamento do Habeas Corpus n.º 42459/SP, o qual prevê, para a incidência
de duas causas de aumento, a fração de 3/8. Desse modo, nada havendo de
excepcional a ponto de justificar a adoção de maior fracionamento, faço
incidir o aumento de 3/8, redimensionando a pena privativa de liberdade do
réu para 05 (cinco) anos e 06 (seis) meses de reclusão.
Por fim, olvidada pelo magistrado a figura do concurso formal
(os denunciados, mediante ação única, atingiram o patrimônio de vítimas
diferentes), fica apenas o registro, pois ausente recurso da acusação.
No que toca à sanção pecuniária, que, segundo o método
bifásico (STJ, REsp n.º 897876/RS e REsp n.º 671.195/RS), deve guardar
proporção com a pena-base, considerando-se os vetores do art. 59 do
Código Penal, por reflexo do acima exposto na primeira fase da dosimetria
da pena, a redução é medida que se impõe. Segue, então, fixada em 15
(quinze) dias-multa, mantida a razão unitária mínima, em razão da situação
econômica do denunciado.
O regime prisional para cumprimento da pena privativa de
liberdade deve mesmo ser o semi-aberto, considerando o total da pena
imposta e a não-reincidência do sentenciado, conforme dispõe o art. 33, §2º,
alínea b, do Código Penal.

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Por fim, tratando-se de acusado que teve a sua defesa


patrocinada pela Defensoria Pública, deve ser suspensa a exigibilidade das
custas processuais pela concessão do benefício da assistência judiciária
gratuita (Lei n.º 1.060/50).

Diante do exposto, voto no sentido de AFASTAR AS


PRELIMINARES E DAR PARCIAL PROVIMENTO ao apelo para, reduzida
a basilar e a fração de aumento operada pela incidência das
majorantes, redimensionar a pena privativa de liberdade de LUIS
FERNANDO LOPES ANTUNES para 05 (cinco) anos e 06 (seis) meses
de reclusão e, a pecuniária, para 15 (quinze) dias-multa, à razão de 1/30
do salário mínimo vigente à época do fato, bem como para suspender a
exigibilidade do pagamento das custas processuais.

DES.ª ISABEL DE BORBA LUCAS (PRESIDENTE E REVISORA) - De


acordo com o(a) Relator(a).
DR. JOSÉ LUIZ JOHN DOS SANTOS - De acordo com o(a) Relator(a).

DES.ª ISABEL DE BORBA LUCAS - Presidente - Apelação Crime nº


70049842909, Comarca de Pelotas: "À UNANIMIDADE, AFASTARAM AS
PRELIMINARES E DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO APELO PARA,
REDUZIDA A BASILAR E A FRAÇÃO DE AUMENTO OPERADA PELA
INCIDÊNCIA DAS MAJORANTES, REDIMENSIONAR A PENA PRIVATIVA
DE LIBERDADE DE LUIS FERNANDO LOPES ANTUNES PARA 05
(CINCO) ANOS E 06 (SEIS) MESES DE RECLUSÃO E, A PECUNIÁRIA,

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PARA 15 (QUINZE) DIAS-MULTA, À RAZÃO DE 1/30 DO SALÁRIO


MÍNIMO VIGENTE À ÉPOCA DO FATO, BEM COMO PARA SUSPENDER
A EXIGIBILIDADE DO PAGAMENTO DAS CUSTAS PROCESSUAIS."

Julgador(a) de 1º Grau: SONIA ARAUJO PEREIRA

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