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III. Como faz o objeto deste ensaio a mentira — sobre a qual triunfa
sempre a verdade —, não será despropositado trazer à colação o
acórdão seguinte:
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE A LÇADA CRIMINAL
OITAVO G RUPO DE C ÂMARAS
Voto nº 2175
Relator
É o relatório.
Ora:
das suas alegações, não merece deferimento o pedido” (Rev. Forense, vol.
171, p. 384).
Carlos Biasotti
Relator
1. “Do réu confesso é bem que se amerceie a Justiça: pois, ainda nos lábios
daqueles que resvalaram pela trilha sinuosa da delinquência, dizer verdade
passa por ato sempre louvável” (TACrimSP; Ap. nº 1.099.813/5).
4. “Até à mentira tem o réu licença de recorrer, como meio de defesa; não lhe
é lícito, entretanto, atribuir-se falsa identidade, que isto a lei define e pune
como crime (art. 307 do Cód. Penal)” (TJSP; Ap. Crim. nº 1.198.048-
3/2-00).
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5. “Há pessoas que mentem com mais firmeza do que os tímidos dizem a
verdade” (Edgard de Moura Bittencourt, Vítima, 1a. ed., p. 104).
11. “Mentir, como define Santo Agostinho, é dizer ou ir quem fala contra o
que entende: Mentiri est contra mentem ire” (Pe. Antônio Vieira,
Sermões, 1959, t. XIII, p. 413; Lello e Irmão – Editores; Porto).
12. “Só dos poetas gostava, porque quem mente por profissão, fala verdade”
(Idem, ibidem, t. XV, p. 292).
13. “De maneira que o Sol, que em toda a parte é a regra certa e infalível por
onde se medem os tempos, os lugares, as alturas, em chegando à terra do
Maranhão, até ele mente. E terra onde até o Sol mente, vede que verdade
falarão aqueles sobre cujas cabeças e corações ele influi” (Idem, ibidem,
t. IV, p. 158).
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15. “Toda a minha vida pública se resume neste lema: não mentir” (Rui
Barbosa, A Imprensa e o Dever da Verdade, 1920, p. 66).
16. “Que lugar haverá no mundo sem falsidades? Até no céu se entroniza a
mentira” (Rafael Bluteau, Prosas Portuguesas, 1728, vol. I, p. 32).
18. “Verdade: conformidade do nosso juízo com certo objeto” (Idem, ibidem,
p. 226).
21. “Fala todos os idiomas da mentira” (Luís Viana Filho, Antologia de Rui
Barbosa, p. 82).
22. “Mentia com tanta ênfase, que até mesmo o contrário do que dizia estava
longe de ser a verdade” (Stanislaw Ponte Preta, Máximas Inéditas de
Tia Zulmira, p. 94).
24. “Os homens não são todos mentirosos, porque alguns já estão mortos”
(Bartle Quinker; apud Ambrose Bierce, O Dicionário do Diabo,
p. 120).
27. “Sob color duma verdade dizer mil mentiras” (Heitor Pinto, Imagem da
Vida Cristã, vol. II, p. 160).
35. “Uma mentira dita mil vezes torna-se verdade” (Joseph Goebbels,
ministro da propaganda de Hitler). Sofisma retórico alçado
à categoria de quinta-essência da pseudopublicidade, mas
repudiado com veemência por todos os sistemas doutrinários
que professam o primado da dignidade da inteligência humana.
39. “Mentira branca — Mentira inocente, sem intenção de causar dano. Por
exemplo: mandar a criada responder que não se está em casa quando há
trabalho urgente a fazer, ou que se está doente para não ir a uma reunião
aborrecida” (R. Magalhães Júnior, Dicionário de Provérbios e
Curiosidades, l960, p. 168; Editora Cultrix; São Paulo).
40. “Isto de trazer alguém nome suposto para velar seus acidentes biográficos e
eximir-se do castigo é prática ignominiosa a que, de cotio, se entregam
sujeitos inescrupulosos. E, o que é mais: não raro granjeiam a terceiros
alguma benevolência, quando lhes afirmam que o fizeram sob a capa de
meio ou recurso de defesa (art. 307 do Cód. Penal). Desenganem-se,
porém, os que obram segundo este indigníssimo estalão: ao acoroçoar a
mentira e perverter o fim natural da palavra (que é dizer verdade), não
estão quebrantando apenas preceitos da Moral; estão de igual passo
infringindo regras de Direito” (TACrimSP; Ap. nº 1.021.323/5).
41. “A mentira, suposto sirva muita vez de recurso de defesa, não na admite a
Lei quando constitui violação de direitos de terceiros. Nesta censura
incorre aquele que, para ocultar passos de sua biografia penal, atribui-se
identidade de outrem a quem, por isto, causa danos morais graves. O
intuito de autodefesa não exclui, pois, o crime de falsa identidade” (art.
307 do Cód. Penal)” (TACrimSP; Ap. Crim. nº 1.099.779/9).
42. “Embora a mentira não deva entrar no templo da Justiça, que lhe fecha de
contínuo as portas como a inimigo público, a conduta do sujeito que faz
declaração falsa de pobreza para beneficiar-se de assistência judiciária
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43. “Incorre nas penas da lei (art. 342, § 1º, do Cód. Penal) a testemunha
que, ao depor em processo-crime, falta com a verdade acerca de fato
juridicamente relevante, com o intuito de favorecer o réu. A mentira não
pode ter entrada no templo da Justiça” (TJSP; Ap. Crim. nº
990.08.090617-8).
— Supus que era mais fácil ver um boi a voar do que um frade a mentir…
46. Para quem tem “pernas curtas”, a mentira já foi longe demais; por
isso, aqui faço ponto, com este belo pensamento do clássico Pe.
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Antônio Vieira: “Quem fala muito não pode ser verdadeiro em tudo”
(Cartas, 1971, t. I, p. 110; Imprensa Nacional; Lisboa).
Notas:
(5) “Veritas vel mendacio corrumpitur, vel silentio” (De Off., I,23).