Você está na página 1de 128

Carlos Biasotti

Álibi
(Doutrina e Jurisprudência)

2a. ed.

2021
São Paulo, Brasil
O Autor

Carlos Biasotti foi advogado criminalista, presidente da


Acrimesp (Associação dos Advogados Criminalistas do Estado de
São Paulo) e membro efetivo de diversas entidades (OAB, AASP,
IASP, ADESG, UBE, IBCCrim, Sociedade Brasileira de
Criminologia, Associação Americana de Juristas, Academia Brasileira
de Direito Criminal, Academia Brasileira de Arte, Cultura e História,
etc.).

Premiado pelo Instituto dos Advogados de São Paulo, no


concurso O Melhor Arrazoado Forense, realizado em 1982, é autor de
Lições Práticas de Processo Penal, O Crime da Pedra, Tributo aos Advogados
Criminalistas, Advocacia Criminal (Teoria e Prática), Da Prova, Da Pena,
Direito Ambiental, O Cão na Literatura, etc., além de numerosos artigos
jurídicos publicados em jornais e revistas.

Juiz do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo


(nomeado pelo critério do quinto constitucional, classe dos
advogados), desde 30.8.1996, foi promovido, por merecimento, em
14.4.2004, ao cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça.

Condecorações e títulos honoríficos: Colar do Mérito


Judiciário (instituído e conferido pelo Poder Judiciário do Estado
de São Paulo); medalha cívica da Ordem dos Nobres Cavaleiros de
São Paulo; medalha cultural “ Brasil 500 anos”; medalha “ Prof. Dr.
Antonio Chaves”, etc.
Álibi
(Doutrina e Jurisprudência)
Carlos Biasotti

Álibi
(Doutrina e Jurisprudência)

2a. ed.

2021
São Paulo, Brasil
Índice

I. Preâmbulo........................................................................................11

II. Álibi: Ementas de Jurisprudência..................................................13

III. Casos Especiais...............................................................................37


Preâmbulo

É princípio de lógica jurídica e dogma processual


venerando que aquele que invoca a seu favor álibi(1) deve
comprová-lo sem falta, aliás não se eximirá da tacha de réu
confesso (art. 156 do Cód. Proc. Penal).
A força do argumento que assenta na “negativa loci”
pode-a abalar, com efeito, a menor dúvida, pois o réu que
afirma álibi, e não o prova, como que admite a própria culpa.
Lição é esta que abraçam os doutores e a jurisprudência
dos Tribunais:
a) “Álibi. Quem alega deve prová-lo, sob pena de confissão”
(Damásio E. de Jesus, Código de Processo Penal Anotado, 23a. ed.,
p. 59; Editora Saraiva; São Paulo).

(1) “Alibi – Alhures. Em Direito: ausência do acusado no lugar do crime,


provada pela sua presença noutro lugar. Já considerado palavra vernácula (álibi)
por muitos dicionaristas” (Paulo Rónai, Não Perca o seu Latim, 1980, p. 23;
São Paulo). O lexicógrafo Antônio Houaiss registrou o vocábulo,
aportuguesando-o (cf. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, 1a. ed.; v. álibi).
12

b) “É de se ter por confesso o réu que, tentando elidir a


responsabilidade penal que lhe é imputada mediante álibi, deixa de
fazer qualquer prova roborativa de sua afirmação” (JTACrSP, vol.
33, p. 335; rel. Roberto Martins).
Enfim, é deste meio de defesa — de emprego frequente
em matéria criminal — que trata o opúsculoque ora lhe
apresento, caro leitor. Bem haja!

O Autor
Ementário Forense
(Votos que, em matéria criminal, proferiu o Desembargador
Carlos Biasotti, do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
Veja a íntegra dos votos no Portal do Tribunal de Justiça:
http://www.tjsp.jus.br).

• Álibi
(Art. 156 do Cód. Proc. Penal)

Voto nº 890

Apelação Criminal nº 1.088.145/1


Art. 157, § 2º, nº I, do Cód. Penal

– É princípio doutrinário indisputável que o álibi (ou “negativa loci”)


constiui exceção de defesa e, pois, toca ao réu prová-lo, sob pena de
confissão da autoria do fato incriminado.
– Para a caracterização da causa de aumento de pena do art. 157, § 2º, nº I,
do Cód. Penal, não importa a apreensão da arma, se lhe afirmar a
existência, além da vítima, testemunha presencial idônea.
14

Voto nº 936

Apelação Criminal nº 1.096.637/7


Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal

– São muito para considerar as palavras da vítima. Deveras, protagonista


do fato delituoso, quem mais autorizado que ela para descrever-lhe as
circunstâncias e, sobretudo, indicar-lhe o autor?!
– É princípio doutrinário indisputável que o álibi (ou “negativa loci”)
constitui exceção de defesa e, pois, toca ao réu prová-lo, sob pena de
confissão da autoria do fato criminoso.
– O silêncio, em face de leviana e falsa acusação, é virtude em grau
heroico, de que só os mártires e os santos foram capazes; no comum dos
mortais, passa por confissão de culpa.
–“As atenuantes não permitem a redução da pena abaixo do mínimo previsto na
lei para o crime” (STJ, RT vol. 644, p. 379; apud Celso Delmanto,
Código Penal Comentado, 3a. ed., p. 108).
15

Voto nº 937

Apelação Criminal nº 1.094.253/1


Arts. 157, § 2º, ns. I e II, e 70 do Cód. Penal

– Segundo a Doutrina mais bem reputada e a Jurisprudência dominante


em nossos Tribunais, a norma do art. 366 do Cód. Proc. Penal, com a
nova redação que lhe deu a Lei nº 9.271, de 17.6.96, não se aplica às
infrações penais cometidas antes de sua vigência. “A Lei nº 9.271/96 é
irretroativa por inteiro, não tendo aplicação aos processos em curso de réus revéis
citados por edital que praticaram infrações penais antes de 17 de junho de 1996”
(Damásio E. de Jesus, Revista Literária de Direito, nº 12, p. 8).
– Vício do inquérito policial, com ser peça de cunho eminentemente
informativo, não importa nulidade à ação penal.
– O álibi (ou “negativa loci”) constitui exceção de defesa e, pois, cabe ao
réu o ônus da prova, sob pena de confissão da autoria do fato
incriminado.
– Que melhor prova da culpabilidade do réu, do que terem sido
apreendidas em seu poder, sem explicação plausível, coisas roubadas à
vítima?!
– Não é crime único, senão concurso formal (art. 70 do Cód. Penal), a
prática, mediante uma só ação, de dois ou mais roubos contra vítimas
diversas.
16

Voto nº 1495

Apelação Criminal nº 1.139.007/4


Art. 171 do Cód. Penal

– A prova da alegação caberá a quem a fizer (art. 156 do Cód. Proc.


Penal).
– Apresentar álibi, e não o provar além de toda a dúvida, vale o mesmo
que ser réu confesso.

Voto nº 1501

Apelação Criminal nº 1.147.611/4


Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal

– Não quadra a nota de nula à sentença que, atendendo aos cânones


judiciários, expõe, ainda que em abreviado, as teses da Defesa (art. 381,
nº II, do Cód. Proc. Penal).
– É princípio de lógica jurídica e dogma processual venerando que aquele
que invoca a seu favor um álibi deve comprová-lo sem falta, aliás não se
eximirá da tacha de réu confesso (art. 156 do Cód. Proc. Penal).
– A inidoneidade das testemunhas não se presume; ao arguente impõe-se
demonstrar, além de toda a controvérsia, que faltaram à verdade ou
caíram em erro de informação. É que, na busca da verdade real — alma
e escopo do processo —, “toda pessoa poderá ser testemunha” (art. 202 do
Cód. Proc. Penal).
–“Ninguém tem o direito de negar o que a evidência mostra” (Bento de Faria,
Código de Processo Penal, 1960, vol. II, p. 131).
17

Voto nº 1513

Apelação Criminal nº 1.148.541/3


Art. 155, § 4º, ns. I e IV, do Cód. Penal

– Nisto de intimação de testemunha, é mister proceda a parte com


a máxima exação e escrúpulo, indicando ao Juízo os elementos
indispensáveis à sua localização, tais como o nome correto da rua e o
número da residência. Tratando-se de providência em que prepondera
o interesse da parte, não há exigir da Justiça lhe supra a inércia ou a
omissão.
–“É um exemplo da presunção de homem que aquele que mente em uma cousa se
presume mentir em tudo” (Trigo de Loureiro, Teoria e Prática do Processo,
1850, p. 127).
– É dogma fundamental da teoria da prova que o réu que afirma um álibi
e não o prova, como que admite a própria culpa.
18

Voto nº 1928

Apelação Criminal nº 1.180.773/8

Art. 157, § 2º, nº II, do Cód. Penal;


art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal

– É princípio de lógica jurídica e dogma processual venerando que aquele


que invoca a seu favor um álibi deve comprová-lo sem falta, aliás não se
eximirá da tacha de réu confesso (art. 156 do Cód. Proc. Penal).
– Se primário o réu, de bons antecedentes e menor de 21 anos ao tempo
do roubo praticado sem violência, pode o Juiz, com base no art. 33,
§ 2º, alínea b, do Cód. Penal, deferir-lhe o regime semiaberto, como
estímulo à sua recuperação e por evitar o excesso punitivo.

Voto nº 1984

Apelação Criminal nº 1.190.181/1

Art. 157, “caput”, do Cód. Penal

– O réu que invoca álibi e não o comprova entende-se que não pôde
negar a imputação. Donde a inferência lógica imediata: não provar álibi
e confessar o crime, tudo é um.
– Vítima que descreve pontualmente as circunstâncias do roubo e, com
firmeza, incrimina seu autor dá ao Juiz a base necessária e legítima à
edição do decreto condenatório, porque incrível quisesse prejudicar
pessoa inocente.
–“No crime de roubo, a intimidação com arma de brinquedo autoriza o aumento
da pena” (Súmula nº 174 do STJ).
19

Voto nº 2034

Apelação Criminal nº 1.183.827/9


Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 156 do Cód. Proc. Penal

– Segundo princípio geral, o réu que não prova seu álibi (ou “negativa
loci”), como que confessa a autoria do crime (art. 156 do Cód. Proc. Penal).
– O argumento de que a palavra da vítima se deva receber com um grão
de sal é especioso: desde que segura e coerente, constitui elemento
importantíssimo para o deslinde do fato criminoso; como sua
protagonista, é a vítima a pessoa, sobre todas, abalizada a descrevê-lo.
– Há concurso formal (art. 70 do Cód. Penal), e não crime único, se o
agente, num só contexto de fato, viola patrimônios de vítimas
diferentes.

Voto nº 2130

Revisão Criminal nº 352.776/1


Art. 157, § 2º, nº I, do Cód. Penal

– Em se tratando de revisão criminal, reclama tradicional e ortodoxa


jurisprudência dos Tribunais que o condenado deve provar, além de
toda a dúvida razoável, que a sentença andou em erro ou foi cometida
injustiça (art. 621 do Cód. Proc. Penal).
– É presunção comum (“praesumptio hominis”) que a apreensão de coisa
alheia na posse de quem a não justifique plenamente dá a conhecer o
criminoso.
– Na forja da sabedoria antiga foi batido o argumento de que, se o réu
não prova seu álibi, entende-se haver confessado o crime.
20

Voto nº 2145

Apelação Criminal nº 1.197.023/6


Arts. 157, § 3º, 1a. parte, e 14, nº II, do Cód. Penal

– Por força do preceito do art. 156 do Cód. Proc. Penal (“a prova da alegação
caberá a quem a fizer”), confessa o crime aquele que, invocando álibi,
não se empenha em prová-lo de modo suficiente.
– Conforme iterativa jurisprudência dos Tribunais, a palavra da vítima,
se ajustada aos mais elementos do processo, justifica decreto
condenatório.
–“Se o agente pratica homicídio tentado e subtração patrimonial tentada, a
doutrina unânime ensina que responde por tentativa de latrocínio (art. 157, §
3º, in fine, c/c o art. 14, II)” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado,
9a. ed., p. 121).
– Em pontos de coautoria, “quem, de qualquer modo, concorre para o crime
incide nas penas a este cominadas” (art. 29 do Cód. Penal), de tal arte que, no
caso de latrocínio tentado, irrelevante é a circunstância de não ter sido
o autor do disparo que feriu a vítima, pois todos os sujeitos obram com
identidade de propósitos.
21

Voto nº 2255

Apelação Criminal nº 1.209.285/0


Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal

– Vítima que incrimina categoricamente autor de roubo, oferece base


necessária ao decreto condenatório, desde que em harmonia com a
prova dos autos. A razão é que, havendo com ele mantido contacto
direto, passa pela pessoa mais apta a reconhecê-lo.
– Para caracterizar a qualificadora do art. 157, § 2º, nº I, do Cód. Penal,
irrelevante é a apreensão da arma utilizada pelo agente; basta que
testemunhos idôneos lhe comprovem a existência.
– O regime prisional fechado é, em linha de princípio, o que
verdadeiramente convém ao autor de roubo sobretudo se manifesta
sua propensão à vida de crimes.
– Confessa o crime aquele que invoca álibi e não o prova.
22

Voto nº 2066

Apelação Criminal nº 1.194.419/5


Arts. 157, § 2º, ns. I e II, e 29 do Cód. Penal;
Art. 156 do Cód. Proc. Penal

– Nos crimes de roubo, tem a palavra da vítima lugar eminente: ela foi a
que esteve à face do réu e, por isso, reúne, como ninguém, as condições
necessárias para discorrer do fato criminoso e de seu autor.
– Coisa é ressabida que o réu que invoca álibi e não o prova, como que
admite a própria culpa.
– A circunstância atenuante da menoridade relativa (art. 65, nº I, do Cód.
Penal) não permite a redução da pena abaixo do mínimo abstrato
cominado para o crime (cf. Rev. Tribs., vol. 737, p. 551).
23

Voto nº 2540

Apelação Criminal nº 1.226.025/3


Art. 157, “caput”, do Cód. Penal;
art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal

– Que seja direito de todo o preso permanecer calado ninguém o nega,


pois que o assegura o texto da Constituição da República (art. 5º, nº
LVII). Mas, que fique em silêncio o inocente, quando a própria lei
natural parece autorizar (e ainda determinar) que manifeste seu repúdio
ao acusador, é matéria que não cabe nas posses da razão. Daqui a
parêmia: aquele que, acusado de crime, permanece mudo, presume-se
que não é inocente, porque monta o mesmo calar que consentir (“qui
tacet, consentire videtur”).
– O réu que invoca álibi e o não comprova entende-se que não pôde
negar a imputação. Donde a inferência lógica imediata: não provar alibi
e confessar o crime, tudo é um.
– Não há proibição legal de o Juiz conceder regime semiaberto a
condenado não-reincidente a pena inferior a 8 anos (art. 33, § 2º, alínea
b, do Cód. Penal); a concessão de tal benefício unicamente é defesa ao
réu condenado a pena que exceda a 8 anos (não importando se
primário), ou ao reincidente, cuja pena seja superior a 4 anos.
24

Voto nº 2822

Apelação Criminal nº 1.250.559/6


Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 156 do Cód. Proc. Penal

– Protestos de inocência que irrompem somente em Juízo, durante o


interrogatório, são pelo comum notados de insinceros e suspeitos,
porque, se verdadeiros, já os haveria o réu formulado na ocasião mesma
em que, chamado a contas pela autoridade policial, preferiu retrair-se a
cômodo e extraordinário silêncio.
– O réu que, acusado de roubo, se defende mediante álibi (alegando que
estava preso ao tempo do crime), deve prová-lo cumpridamente,
máxime se permaneceu calado na fase extrajudicial e foi reconhecido,
sem falta, pela vítima e testemunhas. A força do argumento que assenta
na “negativa loci” pode-a abalar a menor dúvida. As crônicas policiais,
com efeito, registram mais de um caso de réu que, dado por
oficialmente preso, foi visto, à luz meridiana, a regalar suas entranhas
em casas de repasto da metrópole paulista (art. 156 do Cód. Proc. Penal).
– As palavras da vítima bastam a firmar a certeza da autoria do roubo:
personagem principal do evento delituoso, foi quem esteve em contacto
direto com o rapinador, e somente incriminará aquele de quem puder
reaver suas coisas roubadas.
25

Voto nº 3134

Apelação Criminal nº 1.253.413/4


Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 226 do Cód. Proc. Penal

– Para infirmar o teor da acusação, não basta que o réu invoque álibi; é
força que o prove cumpridamente, sob pena de confissão de autoria
(art. 156 do Cód. Proc. Penal).
– Ainda que não se tenha guardado severa obediência ao preceito do art.
226 do Cód. Proc. Penal, o reconhecimento do réu apresenta
inquestionável importância como elemento de prova, se a vítima o
indicou firme e espontaneamente por autor do delito.
– A qualificadora do inc. I do § 2º do art. 157 do Cód. Penal pode ser
reconhecida, mesmo no caso de falta de apreensão da arma, se
testemunhos idôneos lhe comprovaram a existência.
26

Voto nº 3830

Apelação Criminal nº 1.312.763/9


Art. 155, § 4º, ns. I e IV, do Cód. Penal;
art. 156 do Cód. Proc. Penal

– Ampara-se em bons fundamentos a condenação, por furto, do réu que,


além de não comprovar o álibi que invocou, testemunhas fidedignas
viram transportar coisas subtraídas à vítima.
– Por força da regra geral do ônus da prova (art. 156 do Cód. Proc. Penal), a
falta de demonstração cabal de álibi equivale a confissão da autoria do
crime e, pois, autoriza edito condenatório.

Voto nº 4083

Apelação Criminal nº 1.333.677/1

Art. 157, § 2º, nº I, do Cód. Penal;


art. 156 do Cód. Proc. Penal

– A palavra da vítima é em extremo valiosa, máxime nos processos de


roubo, visto representa o primeiro e mais eficaz elemento de
identificação de seu autor.
– Quem invoca álibi deve prová-lo bem, para não reduzir-se à condição
de réu confesso (art. 156 do Cód. Proc. Penal).
– O regime prisional fechado é, pelo comum, o próprio de autor de
roubo, crime grave e fator de permanente inquietação social.
27

Voto nº 4485

Apelação Criminal nº 1.352.123/8


Arts. 155, § 4º, nº IV, e 14, nº II, do Cód. Penal;
art. 156 do Cód. Proc. Penal

– Aquele que invoca álibi (ou “negativa loci”) deve prová-lo à saciedade,
sob pena de confissão do crime que lhe é imputado (art. 156 do Cód.
Proc. Penal).
– Ainda que singular o testemunho do fato, serve à fundamentação de
decreto condenatório se em harmonia com os mais elementos de
convicção do processo.

Voto nº 4811

Apelação Criminal nº 1.347.181/8


Art. 171, § 2º, nº V, do Cód. Penal;
art. 156 do Cód. Proc. Penal

– Ampara-se em bons fundamentos a condenação, por estelionato, do


sujeito que, no intento de receber o valor do seguro, comunica
falsamente à Polícia ocorrência de sinistro em sua empresa (art. 171,
§ 2º, nº V, do Cód. Penal).
– Por força da regra geral do ônus da prova (art. 156 do Cód. Proc. Penal), a
falta de demonstração cabal de álibi equivale a confissão da autoria do
crime e, pois, autoriza edito condenatório.
28

Voto nº 5058

Revisão Criminal nº 442.428/1


Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
arts. 395 e 621 do Cód. Proc. Penal

–“O fundamento da revisão está em que a intangibilidade da sentença transitada


em julgado há de ceder ante os imperativos da justiça substancial” (E.
Magalhães Noronha, Curso de Direito Processual Penal, 2002, p. 505).
– Não anula a ação penal a falta de apresentação de rol de testemunhas
pela Defesa, se teve oportunidade de fazê-lo (art. 395 do Cód. Proc.
Penal). “Dormientibus non succurrit jus”.
– A palavra da vítima é em extremo valiosa, máxime nos processos de
roubo, visto representa o primeiro e mais eficaz elemento de
identificação de seu autor.
– Quem invoca álibi deve prová-lo bem, não se reduza à condição de réu
confesso (art. 156 do Cód. Proc. Penal).
– O regime prisional fechado é, pelo comum, o próprio de autor de
roubo, crime grave e fator de permanente inquietação social.
29

Voto nº 6519

Revisão Criminal nº 495.772-3/0-00


Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
arts. 156 e 621 do Cód. Proc. Penal;
Súmula nº 523 do STF

– Nos casos de roubo, é a palavra da vítima a principal e mais segura


fonte de informação do Magistrado, pois manteve contacto com o seu
autor e não se propõe senão submetê-lo à Justiça. Pelo que, exceto lhe
prove o réu que mentiu ou se equivocou, suas declarações bastam a
acreditar um decreto condenatório (art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal).
–“Álibi. Quem alega deve prová-lo, sob pena de confissão” (apud Damásio E.
de Jesus, Código de Processo Penal Anotado, 22a. ed., p. 163).
–“No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua
deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu” (Súmula nº 523
do STF).
– No Juízo da Revisão Criminal cumpre ao condenado exibir provas
cabais e incontroversas da erronia ou injustiça da sentença, aliás nada
poderá contra a força da coisa julgada (art. 621 do Cód. Proc. Penal).
30

Voto nº 10.203

Apelação Criminal nº 1.194.042-3/6-00


Arts. 155, § 4º, nº II, e 344 do Cód. Penal

– A titularidade do direito de apelar não é do defensor, senão do réu, ao


qual toca portanto a decisão de fazê-lo. Desde que o réu se oponha ao
exercício de tal direito, haverá o advogado de catar-lhe respeito à
vontade, pois o que procura em Juízo está sujeito ao princípio geral que
informa o mandato: só procede segundo a lei aquele que pratica o ato a
que está expressamente autorizado (e o réu que renuncia ao direito de
recurso por isto mesmo desautoriza expressamente que outrem o
exercite).
– Para autorizar decisão condenatória não é mister prova perfeita e
exuberante, bastando a que dê ao Juiz o fundamento lógico suficiente
para não cair em erro crasso.
–“Álibi. Quem alega deve prová-lo, sob pena de confissão” (apud Damásio E.
de Jesus, Código de Processo Penal Anotado, 22a. ed., p. 163).
– É força reconhecer a qualificadora de escalada se, para praticar o furto,
o réu transpôs muro alto de 3 m (art. 155, § 4º, nº II, do Cód. Penal).
– Para a configuração do crime previsto no art. 344 do Cód. Penal (coação
no curso do processo), basta a ameaça grave a testemunha ou vítima,
capaz de infundir-lhes no ânimo justificável receio.
– Ao renitente e empedernido autor de furtos, que se atira sem freios à
estrada tortuosa dos ilícitos penais, só o regime prisional semiaberto
lhe servirá de contenção do impulso criminoso e forma de reparação do
mal que causou à sociedade.
31

Voto nº 10.268

Apelação Criminal nº 993.06.049428-7


Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 156 do Cód. Proc. Penal

– Nas declarações do réu, “todas as variações graves são um indício positivo de


mentira” (Mittermayer, Tratado da Prova em Matéria Criminal, 1871, vol.
II, p. 30; trad. Alberto Antônio Soares).
– Palavras de quem foi protagonista do fato delituoso, as da vítima são,
pelo comum, dignas de crédito; servem, pois, a lastrear condenação,
máxime se a roborarem outros elementos do processo mentir.
–“Álibi: quem alega deve prová-lo, sob pena de confissão” (Damásio E. de
Jesus, Código de Processo Penal Anotado, 22a. ed., p. 163).
32

Voto nº 10.382

Apelação Criminal nº 993.08.032216-3


Art. 155, § 4º, nº II, do Cód. Penal;
art. 5º da Lei de Introdução ao Cód. Civil

– Está acima de crítica (e merece confirmada) a sentença que condena,


por furto mediante escalada, o sujeito que penetra em armazém rural
pelo telhado e subtrai coisa alheia móvel (art. 155, § 4º, nº II, do Cód.
Penal).
–“Álibi: quem alega deve prová-lo, sob pena de confissão” (Damásio E. de
Jesus, Código de Processo Penal Anotado, 22a. ed., p. 163).
–“Escalada é o acesso a um lugar por meio anormal de uso, como v.g., entrar pelo
telhado, saltar muro, etc.” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado,
18a. ed., p. 573).
– Não repugna à consciência jurídica nem quebranta a vontade da lei
a decisão que defere a réu (mesmo reincidente) o regime aberto, se
condenado a pena de curta duração. Casado e chefe de família, os
efeitos de sua prisão alcançariam também pessoas inocentes (a mulher
e os filhos); donde o prescrever o direito positivo que, ao aplicar a lei,
deve o Juiz olhar o bem da sociedade (art. 5º da Lei de Introdução ao Cód.
Civil).
– A prisão, conforme o alto pensamento de Magarinos Torres, “a prisão é
um contrassenso que não regenera ninguém, mas só revolta, por contrariar
flagrantemente a natureza humana, deturpando funções e, sobretudo, atingindo
inocentes, como são a esposa e filhos do criminoso, privados, sem culpa, de
subsistência e do convívio do chefe de família” (apud José Luís Sales, Da
Suspensão Condicional da Pena, 1945, p. 13).
33

Voto nº 11.484

Apelação Criminal nº 990.08.135749-6


Arts. 157, § 2º, nº II, 14, nº II, 29, 61, nº II, alínea h,
e 83, parág. único, do Cód. Penal

– No caso de roubo, tem a palavra da vítima extraordinária importância


para comprovar-lhe a materialidade e a autoria: parte precípua no
evento criminoso, é a que está em melhores condições de, à luz da
verdade sabida, reclamar a punição unicamente do culpado.
– Há tentativa de roubo se o agente, após empregar violência contra a
vítima, não logra subtrair-lhe os bens.
–“Álibi. Quem alega deve prová-lo, sob pena de confissão” (apud Damásio E.
de Jesus, Código de Processo Penal Anotado, 23a. ed., p. 159).
– O regime prisional fechado, no início, é o que se ajusta ao autor de
roubo, pela necessidade de mais severa disciplina da vontade e intensa
força persuasiva, que o reeduquem para a vida em sociedade.
34

Voto nº 12.082

Apelação Criminal nº 993.07.022817-2


Arts. 155, “caput”, 14, nº II, 107, nº IV, e 110, § 1º, do Cód. Penal;
arts. 61 e 156 do Cód. Proc. Penal

–“A palavra da vítima é a viga mestra da estrutura probatória, e a sua acusação,


firme e segura, em consonância com as demais provas, autoriza a condenação”
(Rev. Tribs., vol. 750, p. 682).
– O regime prisional fechado, no início, é o que melhor responde à
natureza do roubo, crime gravíssimo, e à personalidade de quem o
pratica, infensa à disciplina social e orientada para a delinquência
violenta.
– Aquele que invoca álibi (ou “negativa loci”) deve prová-lo à saciedade,
sob pena de confissão do crime que lhe é imputado (art. 156 do Cód.
Proc. Penal).
– Ainda que singular o testemunho do fato, serve à fundamentação de
decreto condenatório se em harmonia com os mais elementos de
convicção do processo.
– O decurso do tempo apaga a memória do fato punível e a necessidade
do exemplo desaparece (Abel do Vale; apud Ribeiro Pontes, Código
Penal Brasileiro, 8a. ed., p. 154).
– A prescrição intercorrente (art. 110, § 1º, do Cód. Penal) “constitui forma
de prescrição da pretensão punitiva (da ação), que rescinde a própria sentença
condenatória” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 18a. ed.,
p. 358).
– Decretada a extinção da punibilidade do apelante pela prescrição da
pretensão punitiva estatal, já nenhuma outra matéria poderá ser
objeto de exame ou deliberação.
35

Voto nº 2463

Apelação Criminal nº 1.221.567/3


Art. 157, § 2º, nº I, do Cód. Penal;
art. 156 do Cód. Proc. Penal

– Segundo a comum opinião dos doutores, quem invoca álibi e não o


prova cabalmente é visto réu confesso.
– Nos casos de roubo, a palavra da vítima tem extraordinário valor e
peso, pois manteve contacto direto com seu autor, cuja punição
unicamente lhe interessa, não a de pessoa inocente.

Voto nº 3272

Apelação Criminal nº 1.273.427/5


Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 156 do Cód. Proc. Penal

– O réu que é inocente já o enuncia na primeira ocasião, quando arguido


pela autoridade policial; nada responder a injusta acusação é próprio
unicamente de quem se acha culpado.
– A vítima que incrimina, com segurança, autor de roubo oferece ao Juiz
a base lógica necessária à edição do decreto condenatório, sobretudo
quando houver outros adminículos de prova, pois repugna ao siso
comum queira alguém acusar inocentes.
– “A prova da alegação incumbirá a quem a fizer” (art. 156 do Cód. Proc. Penal).
– Apresentar álibi e não o provar além de toda a dúvida vale o mesmo
que ser réu confesso.
Casos Especiais
(Reprodução integral do voto)
PODER JUDICIÁRIO

1
TRIBUNAL DE ALÇADA CRIMINAL

DÉCIMA QUINTA CÂMARA

Apelação Criminal nº 1.147.611/4


Comarca: São Paulo
Apelante: CPS
Apelado: Ministério Público

Voto nº 1501
Relator

– Não quadra a nota de nula à sentença


que, atendendo aos cânones judiciários,
expõe, ainda que em abreviado, as teses
da Defesa (art. 381, nº II, do Cód. Proc.
Penal).

– É princípio de lógica jurídica e dogma


processual venerando que aquele que
invoca a seu favor um álibi deve
comprová-lo sem falta, aliás não se
eximirá da tacha de réu confesso (art. 156
do Cód. Proc. Penal).
40

– A inidoneidade das testemunhas não


se presume; ao arguente impõe-se
demonstrar, além de toda a controvérsia,
que faltaram à verdade ou caíram em
erro de informação. É que, na busca
da verdade real — alma e escopo do
processo —, “toda pessoa poderá ser
testemunha” (art. 202 do Cód. Proc. Penal).

–“Ninguém tem o direito de negar o que a


evidência mostra” (Bento de Faria, Código
de Processo Penal, 1960, vol. II, p. 131).

1. Contra a r. sentença proferida pelo MM. Juízo de


Direito da 14a. Vara Criminal da Comarca da Capital, que
o condenou a cumprir, no regime prisional fechado, a pena
de 6 anos, 2 meses e 20 dias de reclusão e 14 dias-multa,
por infração do art. 157, § 2º, ns. I e II, do Código Penal,
interpôs recurso para este Egrégio Tribunal, com o fito de
reformá-la, CPS.

Argui, nas razões de apelação que ofertou seu


dedicado e culto patrono, a nulidade da r. sentença, visto
ferira de frente o preceito do art. 381, nº II, do Código de
Processo Penal: não fizera a exposição sucinta da defesa.
No mérito, afirma que a prova dos autos, insegura e
controversa, não prestigiara a pretensão punitiva; pelo que,
era caso de absolvição. É o que espera desta colenda
Câmara. Mas, a ser confirmado o decreto condenatório,
pleiteia a redução da pena (fls. 274/282).
41

Apresentou contrarrazões a douta Promotoria de


Justiça, nas quais discorda da pretensão da Defesa e
enaltece os predicados da r. sentença apelada, merecedora,
a seu aviso, de subsistir (fls. 284/286).

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em


minucioso e firme parecer do Dr. José de Arruda Silveira
Filho, opina pelo improvimento da apelação (fls.
292/294).

É o relatório.

2. O Ministério Público instaurou processo contra o réu


porque, na madrugada de 12 de janeiro de 1997, no
interior de um bar da Rua Djalma Coelho (Vila
Madalena), obrando em concurso e unidade de propósitos
com outro indivíduo não-identificado, mediante emprego
de ameaças e violência, exercidas contra as vítimas Juraci
de Jesus Pereira, Evandro Ramos Sebastião e Valdelice de
Jesus Silva, com emprego de armas de fogo, subtraíram,
para si, a quantia em dinheiro de R$ 220,00 e uma dúzia
de refrigerantes da marca Coca-Cola, de propriedade de
Jurandi Silva Alves.

Teve curso regular o processo; o réu, esse foi ao final


condenado.
42

Pretende agora a reforma da r. sentença de fls.


261/264.

3. A preliminar de nulidade da r. decisão recorrida, por


alegada inobservância da regra do art. 381, nº II, do Código
de Processo Penal, não procede, “data venia”.

Com efeito, ao invés do que sustenta o apelante, a


r. sentença atendeu escrupulosamente ao referido cânon
judiciário, i.e., expôs as teses da Defesa, ainda que em
abreviado (e mais lhe não exigia a lei). Consignou às
expressas: “a Defesa pugnou pela absolvição por deficiência de
prova acerca da efetiva participação do acusado no crime de roubo
e inexistência de prova sobre a imputação do delito de extorsão”
(fl. 261).

Não omitiu a r. sentença, bem se viu, o resumo das


alegações da parte recorrente; pelo que, não lhe convém a
crítica de haver-se desabraçado das normas que regem a
prolação da sentença.

Rejeito, assim, a matéria prejudicial suscitada pelos


combativos patronos do recorrente.
43

4. No ponto do mérito, o recurso interposto não se


mostra digno de acolhida, uma vez que o decreto
condenatório era mesmo inevitável, em face da sólida
prova dos autos.

À verdade, interrogado em Juízo, negou o apelante a


imputação, ao mesmo passo que atribuiu à vingança de
indivíduos de má fama a instauração da presente lide
penal: “entendo que a presente ação é fruto de represálias do chefe
do tráfico da favela” (fl. 178).

Tal versão, porém, a vítima Jurandi Silva Rodrigues


refutou com veemência e destemor: conhecia o réu, o qual,
no dia dos fatos, acompanhado de certo indivíduo, entrou
em seu estabelecimento comercial e passou a exigir
“a entrega de três quilos de droga e armas” (fl. 199).

Como a vítima não as tivesse, ordenou o réu a


seu colega se postasse “atrás do balcão” e recolhesse o
numerário, coisa de R$ 220,00.

Evandro, que se achava na bodega da vítima, recebeu


do réu uma coronhada, o que sucedeu também a Valdelice,
que ali acabara de chegar.

Evandro e Juraci “foram obrigados a ficar nus”.


Valdelice e sua colega Maria das Graças, determinou-lhes o
réu que se voltassem contra a parede.
44

O réu, ato contínuo, ordenou à vítima que, no dia


seguinte, sob a ameaça de morte, lhe levasse a quantia de
“quinhentos reais”, a um endereço que declinou.

À saída, “desferiu dois tiros no interior do bar contra um


relógio de parede” (ibidem).

Esses relanços do depoimento da vítima eram os que


bastavam a acreditar a veracidade dos termos da denúncia.

Mas, não é só!

Juraci de Jesus Pereira, inquirido na instrução da


causa, confirmou que o réu golpeara a cabeça de Evandro e
a de uma mulher, com a coronha de seu revólver (fl. 201).
Disse também que alvejou o relógio de parede do
botequim com disparos de arma de fogo (ibidem).

Evandro Ramos Sebastião, de sua vez, abundou nas


declarações da vítima Jurandi Silva Alves: relatou haver-lhe
dado o réu “três coronhadas na cabeça” (fl. 203). Quanto ao
roubo, disse ter ouvido à vítima Jurandi que o réu e seu
companheiro “levaram cheques e dinheiro além de duas caixas
de refrigerantes” (ibidem).

Maria das Graças da Costa asseverou que “Calcídio


desferiu uma coronhada na testa de Valdelice” (fl. 205).
45

À derradeira, a testemunha Demerval Reis Silva,


inquirida em obséquio à Defesa, alegou que, por ocasião
dos fatos descritos na denúncia, estava na companhia do
réu, na residência da irmã deste (fl. 223). Depoimento é
esse, porém, que não pode ser recebido sem um grão de
sal. A razão é que se encontra em flagrante divergência
com a mais prova oral, de que se extrai a certeza de que, no
dia dos fatos, essa testemunha não podia achar-se na
residência da irmã de Calcídio, estando este presente, se o
contrário disseram quantos depuseram em Juízo.

Ao dar declarações perante a Corregedoria da Polícia


Militar (fl. 97), é certo que o réu apresentou álibi: na hora
do crime estaria na casa de sua irmã Rosa Maria,
juntamente com a mulher e os filhos.

Semelhante defesa — “negativa loci” — não tem


condições, todavia, de prevalecer, porque as pessoas (irmã,
mulher e filhos) a que se referiu o apelante, no processo
administrativo (fl. 97), não foram arroladas para
confirmar-lhe a versão de que teria estado junto delas no
dia e hora do fato. Além disso, a testemunha Demerval
Reis Silva, em cujo depoimento a Defesa pretendeu
assentar o álibi, essa o réu não nomeou entre as pessoas
com as quais estivera (pormenor de grande relevo que não
passaria em silêncio, no caso que fosse verdadeira a
alegação de sua ausência no local do delito).
46

Mas — e aqui bate o ponto —, comprovaram-lhe que


farte a presença ali as vítimas Jurandi, Evandro e Juraci e as
testemunhas Valdelice e Maria das Graças.

Ora, é princípio de lógica jurídica e dogma processual


venerando que aquele que invoca a seu favor um álibi deve
comprová-lo sem falta, aliás não se eximirá da tacha de réu
confesso (art. 156 do Cód. Proc. Penal).

Esta é a jurisprudência dominante nos Tribunais:

“Álibi. Quem alega deve prová-lo, sob pena de confissão”


(apud Damásio E. de Jesus, Código de Processo Penal
Anotado, 13a. ed., p. 142).

4. A acusação de coautor do roubo descrito na peça


vestibular depara nos autos prova inconcussa e inabalável.

De feito, a vítima Jurandi Silva Alves incriminou


diretamente o réu: “o policial Calcídio ordenou a seu comparsa
pulasse o balcão e procurasse por dinheiro, tendo o mesmo pego no
interior de uma gaveta a quantia de R$ 220,00”, além de
vasilhames de refrigerantes (fls. 17, 48 e 199); o que
também fizeram Juraci de Jesus Pereira (fl. 21), Evandro
Ramos Sebastião (fls. 75 e 203) e Valdelice de Jesus Silva
(fl. 102 v.).
47

A restrição que a digna Defesa opôs à prova oral —


visto a produziram indivíduos a que chamou “os fora-da-lei”
(fl. 279) — não é possível aceitar, aprioristicamente, sem
do mesmo passo fazer agravo à razão e aos mandamentos
da aferição da prova.

Com efeito, a inidoneidade dos testemunhos não se


presume; há o arguente de demonstrá-la; toca-lhe provar
que o depoente faltou com a verdade ou caiu em erro de
informação. É que, na busca da verdade real — alma e
escopo do processo —, “toda pessoa poderá ser testemunha”
(art. 202 do Cód. Proc. Penal).

Ora, não provou o apelante, objetivamente, que as


vítimas e testemunhas, em cujas palavras se louvou o órgão
da acusação, carecessem de carta de crença.

Ao invés do que inculca a Defesa, foram verazes as


vítimas e as testemunhas arroladas pelo Ministério Público:
afirmaram ter sofrido coronhadas do réu, e isto revelaram
os laudos de exame de corpo de delito de fls. 108/111.
Asseveraram que o réu efetuara disparos de arma de fogo
dentro do estabelecimento comercial da vítima, e as fotos
de fls. 135/137 mostram-lhes os vestígios. Até um cartucho
apreendido (fls. 138/139) diz em abono da veracidade de
suas declarações e depoimentos.
48

Ao demais, dois argumentos de grande vulto e tomo


fazem contra o réu, e são: a) não se desempenhara do ônus
de provar seu álibi (e isto vale o mesmo que ter admitido a
própria culpa); b) “a própria instituição militar a que o
apelante pertencia” — como observou o douto parecer de fl.
293 — não teve mão em si que o não expulsasse de suas
fileiras, pela prática dos fatos que lhe aqui foram
imputados (fls. 238/241).

Donde se mostra claro que, a despeito do denodo e


talentos de seu patrono, as razões articuladas em prol do
réu não conveliram os sólidos fundamentos da r. sentença
recorrida.

É que “ninguém tem o direito de negar o que a evidência


mostra” (Bento de Faria, Código de Processo Penal, 1960, vol.
II, p. 131).

5. A condenação do réu conformou-se, portanto, com


a prova. O roubo, esse foi duplamente qualificado: pelo
emprego de arma e concurso de agentes.

A absolvição do réu quanto ao crime de extorsão (art.


158, § 1º, do Cód. Penal) foi toque de sabedoria e prudência
da insigne Magistrada de Primeira Instância, pois a prova
dos autos era efetivamente frágil (fl. 263), reduzida que
ficou à palavra da vítima, sem algum indício que a
prestigiasse.
49

À vista da deficiência do conjunto probatório, pelo


que respeita ao delito de extorsão, foi a absolvição do réu
legítima e avisada.

A pena que lhe fixou a r. sentença pela perpetração do


roubo está correta e atendeu aos critérios legais: foi-lhe
imposta a pena-base acima do mínimo em razão do teor de
proceder do réu e das circunstâncias do crime que cometeu
(mediante exacerbada violência), demais de haver
disparado sua arma em recinto fechado, onde várias
pessoas eram presentes.

O regime prisional havia, por força, de ser o fechado,


ou pela quantidade da pena ou pela personalidade do réu,
infensa às regras que disciplinam o convívio social, e pelas
circunstâncias do crime grave que cometeu.

Estas, as razões por que nem a pena merece reduzida,


como quer a Defesa, nem ao réu se deve conceder regime
mais brando para início de seu cumprimento.

Em suma: como se compadece com a prova dos autos


e os ditames da Lei e do Direito, não há senão confirmar,
por seus fundamentos, a r. sentença que proferiu a distinta
e culta Juíza Dra. Carla Themis Lagrotta Germano.
50

6. Pelo exposto, nego provimento à apelação.

São Paulo, 26 de julho de 1999


Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

2
TRIBUNAL DE ALÇADA CRIMINAL

OITAVO GRUPO DE CÂMARAS

Revisão Criminal nº 352.776/1


Comarca: Campinas
Peticionário: CAR

Voto nº 2130
Relator

– Em se tratando de revisão criminal,


reclama tradicional e ortodoxa
jurisprudência dos Tribunais que o
condenado deve provar, além de toda a
dúvida razoável, que a sentença andou
em erro, ou foi cometida injustiça (art.
621 do Cód. Proc. Penal).
– É presunção comum (“praesumptio
hominis”) que a apreensão de coisa alheia,
na posse de quem a não justifique
plenamente, dá a conhecer o criminoso.
– Na forja da sabedoria antiga foi batido o
argumento de que, se o réu não prova seu
álibi, entende-se haver confessado o
crime.
52

1. Condenado à pena de 7 anos, 1 mês e 10 dias de


reclusão, além de 17 dias-multa, por infração do art. 157,
§ 2º, nº I, do Código Penal, CAR requer a revisão do processo
a que respondeu perante o MM. Juízo de Direito da 2a.
Vara Criminal da Comarca de Campinas.

Alega, na petição de fls. 2/12, que o decreto


condenatório assentou em provas frágeis e inseguras.

Afirma ainda que sempre negou, com veemência, a


imputação.

Destarte, a seu aviso, a causa-crime não poderia


desfechar senão em decreto absolutório.

É o que pede e espera, ao intentar a presente revisão


criminal.

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em


primoroso e firme parecer do Dr. Antonio Augusto Bello
Oricchio, opina pelo indeferimento do pedido (fls. 37/42).

É o relatório.

2. Foi o peticionário chamado à barra da Justiça


Criminal porque, aos 23 de abril de 1993, pelas 9h, na Rua
Quintino de Paula Maldonet (Bairro Taquaral), em
53

Campinas, subtraíra para si, mediante grave ameaça


exercida com emprego de arma de fogo, 130 maços de
cigarros, de várias marcas, de propriedade de Andréa
Domingos Modesto.

Rezam os autos que o peticionário entrou no


estabelecimento comercial da vítima, um bar, e pediu uma
dose de “caninha 51”.

Servida que lhe foi a cachaça, pediu um maço de


cigarros; quando a vítima lho entregava, o réu sacou de
arma de fogo.

Ato contínuo, exigiu que a vítima lhe entregasse o


dinheiro, mas porque havia somente trocados, decidiu
subtrair maços de cigarros, apoderando-se de grande
número deles.

Posteriormente, quando tentava vender o produto do


roubo para outro bar, foi descoberto, pois já corria a notícia
do fato e de seu autor.

Instaurada a persecução criminal, foi o réu, ao cabo,


condenado.

Agora, põe a mira de seus desejos na reforma do


julgado, em ordem a que seja absolvido.
54

3. A despeito de seus bons esforços e engenhosa


argumentação, não há deferir a súplica do requerente, que
isto equivalia a encadear o raciocínio lógico e fazer tábua
rasa das provas dos autos e de princípios fundamentais do
processo penal.

Ao invés do que afirma o peticionário, a prova era


assaz suficiente para justificar-lhe a condenação.

Consta, com certeza, dos autos que, no mesmo dia


em que roubara os maços de cigarros no bar situado
no Parque Taquaral, o réu tentou vendê-los noutro
estabelecimento comercial, este no bairro de Santa
Genebra.

Deu-se, porém, que — circunstância notável! —, os


referidos estabelecimentos pertenciam a um só e mesmo
proprietário: José Carlos Domingos.

A notícia da ocorrência do roubo e as características


de seu autor comunicaram-se imediatamente aos
empregados do botequim do bairro de Santa Genebra, de
tal arte que o réu, quando aí chegou para vender o produto
do roubo, a testemunha Márcia Regina Domingos, que o
reconheceu, deu logo o rebate, avisando o irmão e
comerciante José Carlos Domingos. Este se travou de
razões com o réu e reouve, à fina força, os cigarros que lhe
tinham sido subtraídos no bar do Parque Taquaral. Tudo
55

isto declarou, com vivacidade e pormenores, na instrução


criminal (fls. 13 e 117).

A vítima Andréa, depondo em Juízo, também narrou


os fatos. Indagada se reconhecia o réu como ao autor do
roubo, entrou em pranto convulsivo, explicando que o não
podia fazer: disse que lhe haviam pedido não reconhecesse
o réu… (fl. 115).

Tal pormenor, no entanto, não embaraça a liquidação


da autoria do roubo, antes a confirma: Márcia Regina
Domingos (fl. 116), com efeito, afiançou que o réu, havia 8
meses, estivera em seu bar e lhe recomendara não dissesse
palavra contra ele.

Análise atenta dos elementos reunidos no processado


põe de manifesto, portanto, que o peticionário cometeu o
roubo pelo qual foi condenado.

Sua afirmação, pois, de que a prova era tíbia e incapaz


de gerar convencimento de culpa deve receber-se como
mero artifício de retórica ou meio de defesa; não é possível
tomá-la ao sério.

4. Por outra parte, em se tratando de revisão criminal,


reclama tradicional e ortodoxa jurisprudência dos
Tribunais que o condenado deve provar, além de toda
56

a dúvida razoável, que a sentença andou em erro, ou foi


cometida injustiça.

No caso, porém, desse ônus não se desempenhou a


Defesa.

E, o que é mais, não logrou o peticionário elidir


circunstância que o comprometera visceralmente: estava na
posse da própria “res furtiva”.

Ora, é presunção comum (“praesumptio hominis”) que a


apreensão de coisa alheia, na posse de quem a não
justifique plenamente, revela o criminoso.

Entendimento é esse que sempre recebeu sufrágios


em todos os pretórios da Justiça Criminal:

“A apreensão da res em poder do agente gera presunção de


autoria do crime, invertendo-se o ônus da prova. Ao
suspeito incumbe oferecer justificativa plausível para a
comprometedora posse. Em o não fazendo, prevalece, para
efeito de condenação, a certeza possível de ter praticado a
subtração” (Rev. Tribs., vol. 739, p. 627; rel. Renato
Nalini).

É verdade que o réu, com grande assombro, afirmou,


de pés juntos, em seu interrogatório judicial, que, no dia
do fato, estava recolhido no Presídio Prof. Ataliba Nogueira
(fl. 103) e, pois, não poderia ter cometido o crime. Sem o
57

dom da ubiquidade, certamente não praticaria o roubo no


Parque Taquaral, estando preso.

Seu álibi, no entanto, foi impiedosamente fulminado


pela mensagem expedida pelo Presídio Prof. Ataliba
Nogueira, da qual consta que o peticionário se evadira do
Instituto Penal-Agrícola de Bauru no dia mesmo em que
praticara o roubo: 23.4.93 (fl. 109).

Donde o haver a sabedoria antiga forjado o


argumento de que, se o réu não prova seu álibi, entende-se
haver confessado o crime.

À derradeira, embora o passado ruim do homem não


seja prova inequívoca de responsabilidade criminal, não há
negar que os protestos de inocência do peticionário muito
se abateram e decaíram de prestígio à face de sua folha de
antecedentes, que registra inúmeros processos e condenações
por roubo (fls. 74/80 dos autos principais).

A condenação contra que se rebela, portanto, não fez


rosto à prova dos autos, antes respondeu rigorosamente ao
teor da prova neles coligida; merece, pois, prevalecer.

Com efeito:

“É princípio assente que, na instância revisional, o ônus da


prova passa ao requerente. Nessas condições, não trazendo
58

ele elementos novos em abono das suas alegações, não merece


deferimento o pedido” (Rev. Forense, vol. 171, p. 384).

5. Pelo exposto, indefiro o pedido de revisão criminal.

São Paulo, 4 de maio de 2000


Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

3
TRIBUNAL DE ALÇADA CRIMINAL

DÉCIMA QUINTA CÂMARA

Apelação Criminal nº 1.250.559/6


Comarca: São Paulo
Apelante: RRS
Apelado: Ministério Público

Voto nº 2822
Relator

– Protestos de inocência que irrompem


somente em Juízo, durante o
interrogatório, são pelo comum notados
de insinceros e suspeitos, porque, se
verdadeiros, já os haveria o réu formulado
na ocasião mesma em que, chamado a
contas pela autoridade policial, preferiu
retrair-se a cômodo e extraordinário
silêncio.
60

– O réu que, acusado de roubo, se defende


mediante álibi (alegando que estava preso
ao tempo do crime), deve prová-lo
cumpridamente, máxime se permaneceu
calado na fase extrajudicial e foi
reconhecido, sem falta, pela vítima e
testemunhas. A força do argumento que
assenta na “negativa loci” pode-a abalar a
menor dúvida. As crônicas policiais, com
efeito, registram mais de um caso de réu
que, dado por oficialmente preso, foi
visto, à luz meridiana, a regalar suas
entranhas em casas de repasto da
metrópole paulista (art. 156 do Cód. Proc.
Penal).
– As palavras da vítima bastam a firmar
a certeza da autoria do roubo:
personagem principal do evento
delituoso, foi quem esteve em contacto
direto com o rapinador, e somente
incriminará aquele de quem puder reaver
suas coisas roubadas.

1. Da r. sentença que proferiu o MM. Juízo de Direito


da 7a. Vara Criminal da Comarca da Capital, condenando-o
a cumprir, sob o regime fechado, a pena de 7 anos,
7 meses e 14 dias de reclusão, além de 19 dias-multa, por
infração do art. 157, § 2º, ns. I e II, do Código Penal, interpôs
recurso para este Egrégio Tribunal, com o intuito de
reformá-la, RRS.

Alega, nas razões de recurso que lhe apresentaram


seus esforçados e cultos patronos, que a prova dos autos,
precária e coxa, não ensejava decreto condenatório.
61

Invoca em seu prol álibi: no dia dos fatos, estava


preso na Penitenciária de Franco da Rocha; não poderia, a
essa conta, haver cometido o crime descrito na denúncia;
ao demais, nota de imprestável o reconhecimento que dele
fez a vítima, por inobservância das formalidades legais.

Pleiteia, por isso, absolvição, com adarga no art. 386,


nº VI, do Código de Processo Penal (fls. 279/290).

A douta Promotoria de Justiça contrapôs fortes


argumentos à pretensão da nobre Defesa e propugnou a
mantença da r. decisão de Primeiro Grau (fls. 292/296).

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em


percuciente e abalizado parecer do Dr. Paulo Hideo
Shimizu, opina pelo improvimento do recurso (fls.
305/307).

É o relatório.

2. Foi processado e condenado o réu porque, no dia 26


de novembro de 1998, cerca de 16h20, na Rua Antônio
das Chagas (Chácara Santo Antônio), nesta Capital,
obrando em concurso e unidade de propósitos com
mais oito indivíduos, subtraiu para si, mediante
grave ameaça, exercida com emprego de arma de fogo,
diversos suprimentos de informática, avaliados em
62

R$ 197.000,00, e o veículo Hyundai H100, placa RUM-


2778/SP, pertencentes à empresa Best Way Imp. Exp. Ltda.

Rezam os autos que o apelante e seus comparsas


entraram na empresa e, armas em punho, dominaram
clientes e empregados; ato contínuo, apoderaram-se dos
bens da vítima e transportaram-nos ao baú de um
caminhão Chevrolet, cor bege, que os aguardava na via
pública.

Após o que, abalaram do sítio dos fatos.

Instaurada a persecução penal, transcorreu o processo


conforme os cânones legais; ao cabo, a r. sentença de fls.
254/262 condenou o réu.

Mas, inconformado com o êxito da lide penal,


comparece perante esta augusta Corte de Justiça, com o
escopo de ser absolvido.

3. A despeito da dedicação de seus ilustres patronos e


dos perspicazes argumentos que deduziram no recurso de
apelo, a pretensão do réu não merece gasalhado.

Em verdade, inquiridos na fase de instrução criminal,


os prepostos da empresa-vítima não só narraram, com
todas as circunstâncias, o roubo descrito na denúncia, mas
ainda lhe imputaram a autoria ao réu, e isto sem hesitação
63

nem dúvida. Assinalaram que era o próprio apelante o que,


íncubo da empreitada criminosa, “comandava a retirada das
mercadorias” (fl. 168 v.).

A testemunha de fl. 169 v., por isso mesmo que o vira


durante o roubo, pôde reconhecer o réu, na Polícia, com
precisão e segurança. Tal reconhecimento, aliás, foi
confirmado pelo policial civil que atendeu à ocorrência (fl.
181).

À derradeira, faz muito ao caso a observação do


avisado parecer da Procuradoria-Geral de Justiça (fl. 307):
“Assim, se as vítimas apontaram com segurança, em audiência
judicial, o acusado presente como o autor do ilícito penal
praticado, essa prova possui eficácia jurídico-processual idêntica
àquela que emerge do reconhecimento efetuado com as
formalidades prescritas pelo artigo 226 do CPP. Esse meio
probatório, cuja validade é inquestionável, reveste-se de aptidão
jurídica suficiente para legitimar a prolação de um decreto
condenatório” (STF; 1a. T.; rel. Min. Celso de Mello, DJU
28.8.92, p. 13.453).

4. O réu, esse negou em Juízo a prática do roubo; e, o


que é mais, para armar a melhor efeito, invocou álibi: no
dia dos fatos estava recolhido na Penitenciária de Franco da
Rocha (fl. 144 v.); era, pois, coisa impossível ter cometido o
roubo.
64

Por falecer aos mortais o dom da ubiquidade, a versão


escusatória que o réu apresentou — ainda que faça alguma
impressão no espírito — não persuade o ânimo nem obriga
ao convencimento.

Primeiro que o mais, veio tarde ao processo, muito


tarde, sua autodefesa: fosse-lhe verdadeira a alegação, já a
teria exposto na ocasião mesma em que a autoridade
policial o chamara a contas pela prática do roubo; não se
retrairia a extraordinário e cômodo silêncio.

Nem o álibi é suficiente a eximi-lo de


responsabilidade criminal. A razão é que, sob o regime
semiaberto, tinha-o beneficiado a direção do presídio com
“saídas temporárias” (fls. 176 e 231).

Não há repugnância lógica, portanto, entre a


imputação ao réu e a circunstância de ser hóspede da
Penitenciária de Franco da Rocha.

Cabe notar e advertir que foi contra ele instaurado


procedimento inquisitorial por outro fato, ocorrido
também no período em que se achava na prisão (fls.
231/232).

Destarte, o reconhecimento firme que do réu fizeram


as testemunhas há de prevalecer contra a serôdia e
inconvincente defesa indireta baseada na “negativa loci”.
65

Aliás, mais de um caso registrou a crônica policial de


condenado que, sem embargo de estar oficialmente preso e
encarcerado, foi visto, à luz meridiana, a regalar suas
entranhas em casa de pasto da Capital.

Daqui por que, a só afirmação de que alguém se


achava preso à época do crime não é razão inconcussa nem
cabal de sua inocência, quando a contraria prova firme e
excelente (como a produzida pelos prepostos da vítima).

O valor das declarações da vítima, não é possível


recusá-lo, sem do mesmo passo incidir na censura da razão
e da Jurisprudência:

“Em crimes tocados de clandestinidade, como é o roubo, sua


palavra assume relevante significado probatório, sendo que
o reconhecimento pessoal do agente do delito, quando feito
com segurança e presteza e em harmonia com outras provas,
é fonte segura de prova da autoria” (RJDTACrimSP, vol.
18, p. 126; rel. S. C. Garcia).

A pretensão absolutória do apelante, a essa conta,


excede o campo da prova e quer-se rejeitada.

5. As penas, aplicadas com moderação e nos limites


legais, não toleram modificação.
66

O regime prisional (fechado) responde à gravidade do


crime e à personalidade do réu, sujeito infenso às regras
que disciplinam o convívio social.

Merece confirmada, portanto, por seus próprios e


jurídicos fundamentos, a r. sentença que proferiu o Dr.
Ronaldo Sérgio Moreira Silva.

6. Pelo exposto, nego provimento ao recurso.

São Paulo, 7 de março de 2001


Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

4
TRIBUNAL DE ALÇADA CRIMINAL

DÉCIMA QUINTA CÂMARA

Apelação Criminal nº 1.253.413/4


Comarca: Taubaté
Apelante: ILA
Apelado: Ministério Público

Voto nº 3134
Relator

– Para infirmar o teor da acusação, não


basta que o réu invoque álibi; é força que
o prove cumpridamente, sob pena de
confissão de autoria (art. 156 do Cód. Proc.
Penal).
– Ainda que não se tenha guardado severa
obediência ao preceito do art. 226 do Cód.
Proc. Penal, o reconhecimento do réu
apresenta inquestionável importância
como elemento de prova, se a vítima o
indicou firme e espontaneamente por
autor do delito.
68

– A qualificadora do inc. I do § 2º do art. 157


do Cód. Penal pode ser reconhecida,
mesmo no caso de falta de apreensão da
arma, se testemunhos idôneos lhe
comprovaram a existência.

1. Da r. sentença que proferiu o MM. Juízo de Direito


da 2a. Vara Criminal da Comarca de Taubaté,
condenando-o a cumprir, sob o regime semiaberto, a pena
de 5 anos e 4 meses de reclusão e 13 dias-multa, por
infração do art. 157, § 2º, nº I, do Código Penal, interpôs
recurso para este Egrégio Tribunal, com o escopo de
reformá-la, ILA.

Afirma, nas razões elaboradas por diligente patrono,


que a prova dos autos, frágil e precária, não justificava a
edição de decreto condenatório.

Acrescenta que se não observaram, no caso, as


cautelas legais relativas ao reconhecimento do réu pela
vítima; tal prova, por isso, era de considerar imprestável;
acentuou mais que a qualificadora devia ser afastada, por
falta de regular apreensão da arma.

Em suma: pleiteia a absolvição, por insuficiência de


prova, ou a desclassificação do roubo para o tipo
fundamental (fls. 92/98).
69

Apresentou contrarrazões de recurso a douta


Promotoria de Justiça. Em peça jurídica de notável primor
e conteúdo, subscrita pelo Dr. Fernando de Almeida
Pedroso, varão eminente em letras e virtudes, repeliu a
pretensão da nobre Defesa e propugnou a manutenção da
r. sentença de Primeiro Grau (fls. 102/107).

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em


minucioso e pontual parecer do Dr. Roberto da Freiria
Estevão, opina pelo improvimento do recurso (fls. 13/17).

É o relatório.

2. De novo o réu foi chamado às barras da Justiça


Criminal, pois, na noite de 17 de agosto de 2000, à boca
da noite, na Rua Domingues Ribas (Monção), em Taubaté,
subtraíra para si, mediante grave ameaça, exercida com
emprego de arma de fogo, contra Lígia Maria David Santos
da Cruz, a importância, em dinheiro, de R$ 30,00,
pertencente ao estabelecimento comercial Monção Vídeo.

Reza a denúncia que, tendo determinado consigo


cometer crime contra o patrimônio alheio, entrou o réu no
referido estabelecimento comercial; acercou-se da vítima
e, arma em punho, anunciou-lhe tratar-se de assalto:
exigiu-lhe a entrega do dinheiro que houvesse na caixa
registradora.
70

Atemorizada a vítima, o malfeitor deitou a mão ao


numerário e desatou a fugir.

Instaurada a persecução criminal, tramitou o processo


na forma da lei; ao cabo, a r. sentença de fls. 81/86,
julgando procedente a pretensão punitiva do Estado,
lavrou condenação contra o réu, o qual, jurando inocência,
comparece perante esta augusta Corte de Justiça, a clamar
por absolvição.

3. Salvo o devido respeito à dedicação do combativo


advogado que o assiste, o inconformismo do réu carece de
fundamento lógico e jurídico. Na real verdade, as razões
em que se esforça o recurso foram refutadas já, com grande
energia, pela mesma sentença contra que se levanta.

Ao revés do que inculca o apelante, não é precário


nem tíbio o conjunto probatório, senão vigoroso e denso,
do qual se extrai, sem controvérsia, a certeza de sua
culpabilidade.

Inquirida na Polícia, a vítima, sobre relatar, com todas


as circunstâncias, o roubo praticado contra a locadora
Monção Vídeo, de que era gerente, afirmou ter reconhecido
o réu como ao autor do roubo (fl. 14). Isto mesmo
declarou na quadra de instrução criminal, com palavras de
intensa força persuasiva (fl. 65).
71

O réu, é certo, arrojou-se a negar os fatos, na Polícia e


em Juízo. Suas palavras, no entanto, ressentem-se de vício
notável que as inquina: carecem de credibilidade.

Com efeito, a versão que ministrou aos fatos jazeu


solitária nos autos, como náufrago num mar sem praias.

Fossem verdadeiras as declarações — segundo as


quais estaria a trabalhar, no dia dos fatos, “com o pedreiro
Wagner na casa de dona Jurema” (fl. 37) —, não lhe seria
difícil trazer a pretório as referidas pessoas, para que
depusessem a seu favor.

O réu, contudo, nada diligenciou.

Ora, é doutrina comum que, “não basta ao réu alegar o


que lhe aprouver para combalir o teor da acusação que lhe
é atribuída”, como o advertiu o preclaro subscritor das
contrarrazões de recurso (fl. 104): é força comprová-lo
além de toda a dúvida sensata. Assim, àquele que afirma
um álibi corre o dever de prová-lo, sob pena de ser arguido
de réu confesso (art. 156 do Cód. Proc. Penal).

O réu, como quer que não se desempenhasse do


ônus, deu logo a conhecer a versão mentirosa que em seu
prol invocara..

Vem aqui a pelo o magistério de nossos Tribunais:


72

“Iterativa é a jurisprudência no sentido de que, quem


apresenta um álibi deve comprová-lo satisfatoriamente, sob
pena de ser tido como réu confesso” (Tacrim-SP; Rev. nº
37.688; rel. Azevedo Franceschini).

4. Nem se objete que, levado a cabo com alguma


irregularidade, o reconhecimento do réu pela vítima
devera reputar-se desvalioso. Mostra-se especioso o
argumento!

Nisto de reconhecimento de pessoa, o a que se deve


atender é que tenha sido identificada acima de todo o
engano.

Ora, no particular, a vítima disse haver reconhecido,


sem sombra de dúvidas, o réu como ao autor do roubo,
confirmando-o em Juízo (fl. 65 v.).

Destarte, ainda que, por argumentar, não tenham sido


observados, com escrúpulo, os preceitos que regem o ato
de reconhecimento, é fora de questão que a vítima
apontou, com firmeza, o réu como o que a ameaçara, com
arma de fogo, no estabelecimento comercial, durante a
prática do roubo.

Pelo muito que tem de apropositada, merece


reproduzida, por sua ementa, ven. decisão do Colendo
Superior Tribunal de Justiça:
73

“O reconhecimento de pessoa não está vinculado,


necessariamente, à regra do art. 226 do Cód. Proc. Penal.
Se o criminoso é reconhecido pela testemunha, de plano, ao
chegar à Delegacia de Polícia, onde aquele se encontrava,
entre várias pessoas, não se há de anular o reconhecimento,
desde que integrado no conjunto das provas que incriminam
o acusado” (Revista do Superior Tribunal de Justiça, vol.
20, p. 204; rel. Min. José Cândido).

Em face do conjunto probatório, a condenação do réu


era mesmo indeclinável.

À derradeira, importa notar que a palavra da vítima,


como o significou a r. sentença recorrida, é elemento de
prova de sumo valor.

Faz ao intento o julgado ali reproduzido:

“No campo probatório, a palavra da vítima de um assalto é


sumamente valiosa, pois, incidindo sobre proceder de
desconhecidos, seu único interesse é apontar os verdadeiros
culpados e narrar-lhes a atuação, e não acusar inocentes”
(JTACrSP, vol. 90, p. 362; rel. Manoel Carlos).

5. Não procede, por igual, a tese secundária, atinente à


qualificadora. A razão é que, ao contrário do que alega o
recorrente, ficou demonstrada, por modo inequívoco, a
existência da arma de fogo empregada na prática do roubo.
74

De feito, depondo em Juízo, esclareceu a vítima que o


réu a intimidou com uma “garruchinha” (fl. 65).

Destarte, pormenor é este que não tolera dúvida: o


réu trazia arma consigo, tendo-a exibido à vítima, como
forma de ameaça grave.

A precisão e coerência com que a vítima referiu a


circunstância, arredam toda dúvida acerca da legitimidade
do reconhecimento da qualificadora.

A pena do réu não sofre alteração alguma, porque


fixada no mínimo legal, para cumprimento sob regime
prisional semiaberto (o que, aliás, diz em crédito do
magnífico senso judicante do nobre Magistrado).

Mantenho, por isso, a r. sentença recorrida, pelos


próprios e jurídicos fundamentos que lhe deu o distinto e
culto Juiz Dr. Eduardo Isamu Sugino.

6. Pelo exposto, nego provimento ao recurso.

São Paulo, 16 de julho de 2001


Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

5
TRIBUNAL DE ALÇADA CRIMINAL

DÉCIMA QUINTA CÂMARA

Apelação Criminal nº 1.273.427/5


Comarca: São Paulo
Apelante: AJS
Apelado: Ministério Público

Voto nº 3272
Relator

– O réu que é inocente já o enuncia na


primeira ocasião, quando arguido pela
autoridade policial; nada responder a
injusta acusação é próprio unicamente de
quem se acha culpado.
– A vítima que incrimina, com segurança,
autor de roubo oferece ao Juiz a base
lógica necessária à edição do decreto
condenatório, sobretudo quando houver
outros adminículos de prova, pois
repugna ao siso comum quisesse acusar
inocentes.
–“A prova da alegação incumbirá a quem a
fizer” (art. 156 do Cód. Proc. Penal).
76

– Apresentar álibi e não o provar além de


toda a dúvida vale o mesmo que ser réu
confesso.

1. Da r. sentença que proferiu o MM. Juízo de Direito


da 15a. Vara Criminal da Comarca da Capital,
condenando-o a cumprir, sob o regime fechado, a pena de
5 anos e 4 meses de reclusão, além de 13 dias-multa, por
infração do art. 157, § 2º, ns. I e II, do Código Penal, interpôs
recurso para este Egrégio Tribunal, com intuito de
reformá-la, AJS.

Nas razões de recurso, elaboradas por diligente e


culto advogado, argumenta que o conjunto probatório,
frágil e precário, não lhe autorizava a condenação; pelo
que, firme no argumento de que, sem prova plena e cabal
de sua culpabilidade, ninguém pode ser condenado,
pleiteia à colenda Câmara a absolvição, como forma de
justiça (fls. 130/133).

A douta Promtoria de Justiça apresentou


contrarrazões de recurso, nas quais repeliu a pretensão da
nobre Defesa e propugnou a manutenção da r. sentença de
Primeiro Grau (fls. 135/141).

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em


minucioso e escorreito parecer do Dr. Fábio Antônio
Guimarães, opina pelo improvimento do recurso (fls.
146/149).
77

É o relatório.

2. O órgão do Ministério Público ofereceu denúncia


contra o réu porque, aos 15 de setembro de 2000, pelas
21h, na Rua Inácio da Mota Portela (Parque São Rafael),
nesta Capital, obrando em concurso e unidade de
propósitos com um adolescente, subtraiu para si, mediante
grave ameaça exercida com emprego de arma de fogo, o
veículo Fiat/Tempra, placa FER-2508/São Bernardo do
Campo, além de uma carteira com documentos pessoais,
cartão de crédito, cartão magnético, talão de cheques e a
quantia de R$ 800,00, em dinheiro, tudo pertencente à
vítima Benedito Aparecido Cipriano.

Reza a denúncia que, no referido endereço, o réu e


seu comparsa-mirim, arma em punho, subtraíram à vítima
seu veículo e outros bens. Perpetrado o crime, encetaram
fuga.

Policiais militares, no entanto, avisados do roubo,


entraram a diligenciar para a localização de seus autores;
afinal, lograram deitar-lhes a mão.

Instaurada a persecução criminal, transcorreu o


processo na forma da lei, ao cabo, a r. sentença de fls.
110/113, julgando procedente a pretensão punitiva estatal,
condenou o réu, que, não o levando em paciência, interpôs
78

recurso para este Egrégio Tribunal, na expectativa de


alcançar a absolvição.

3. O sonho de absolvição do réu não tem condições de


realizar-se porque em contradição manifesta com as provas
dos autos, que o incriminam acerbamente.

Com efeito, assim na Polícia como em Juízo, a vítima,


sobre narrar com pormenores o roubo descrito na
denúncia, indicou-lhe o autor, isto é o réu, a quem
reconheceu “sem sombra de dúvidas” (fls. 7, 12 e 88).

O policial militar Aeci Rodrigues da Rocha, de sua


vez, confirmou-lhe as palavras, demais de reconhecer o
réu, que trazia consigo os objetos subtraídos à vítima e a
arma de fogo.

O réu, esse, no interrogatório judicial, negou a


imputação.

Ajuntou que, ao tempo do crime descrito na


denúncia, estava na companhia de Paulinho e de outro
indivíduo conhecido pela alcunha de Macumbinha, eis
senão quando apareceu a Polícia e lhes deu voz de prisão
(fls. 83).
79

A versão do réu não pode ser recebida sem um grão


de sal: para logo evidencia tratar-se de expediente de
defesa.

Mas, por inverossímil, é força refugá-la.

Além disso, estivesse a falar a verdade, já na fase do


inquérito teria proclamado sua inocência; porém, como aí
emudeceu de todo, bem se entende que não tinha que
contrapor ao libelo acusatório.

Donde a máxima da experiência, de que, se nada


responde o acusado à imputação, como que a está
admitindo.

Isto mesmo professam nossos Tribunais:

“O silêncio do réu pode ser considerado pelo Juiz em seu


desfavor, ao analisar o conjunto probatório, sem que se
vulnere o inc. LXIII do art. 5º da Const. Fed., pois, em se
cuidando de inocente, a atitude normal deste é, na primeira
oportunidade, proclamar, com ênfase, a sua inocência”
(RJTACrimSP, vol. 46, p. 107; rel. Damião Cogan).

Sem embargo dos valentes argumentos da Defesa,


não puderam convelir os sólidos fundamentos da r.
sentença, a qual, após exame individuado dos autos, e
havendo consideração principalmente às palavras da
80

vítima, foi servida condenar o réu. Granjeou nomeada, nos


círculos forenses, com efeito, a palavra da vítima:

“A vítima é sempre pessoa categorizada a reconhecer o agente,


pois sofreu o traumatismo da ameaça ou da violência,
suportou o prejuízo e não se propõe acusar inocente, senão
procura contribuir — como regra — para a realização do
justo concreto” (RJTACrimSP, vol. 39, p. 255; rel.
Renato Nalini).

As declarações do réu de que estava na companhia de


Macumbinha, com a intenção de, ao depois, tomar para a
casa da namorada, não merecem crédito porque o não
comprovou como lhe incumbia.

Suas palavras, portanto, não podem prevalecer contra


a regra do art. 156 do Código de Processo Penal: “A prova da
alegação incumbirá a quem a fizer”.

Não quis desempenhar-se do ônus da prova; não é


muito, pois, que a Justiça Criminal lhe tenha reputado
verdadeira a acusação.

A ementa jurisprudencial abaixo transcrita faz muito


ao caso:
81

“Quem apresenta um álibi tem obrigação de prová-la


cumpridamente, sob pena de ser havido como réu confesso”
(Rev. Tribs., vol. 171, p. 107).

4. Em vista de prova tão firme e densa, não havia senão


lavrar a condenação do réu.

A pena foi-lhe imposta com excelente critério e


moderação.

De igual teor, o regime prisional (fechado): ainda que


primário o réu, não fazia jus à modalidade menos gravosa,
pois, em Juízo, persistiu, despejadamente, em negar o que
a evidência demonstrava, o que lhe revelou ânimo
empedernido, de quem não pretende aborrecer a vida do
crime.

5. Pelo exposto, nego provimento ao recurso e confirmo,


por seus lógicos e jurídicos fundamentos, a r. sentença que
proferiu o distinto e culto Magistrado Dr. José Mauro
Rodrigues Novaes.

São Paulo, 10 de setembro de 2001


Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

6
TRIBUNAL DE ALÇADA CRIMINAL

OITAVO GRUPO DE CÂMARAS

Revisão Criminal nº 442.428/1


Comarca: São Paulo
Peticionário: LFV

Voto nº 5058
Relator

–“O fundamento da revisão está em que a


intangibilidade da sentença transitada em
julgado há de ceder ante os imperativos
da justiça substancial” (E. Magalhães
Noronha, Curso de Direito Processual Penal,
2002, p. 505).
– Não anula a ação penal a falta de
apresentação de rol de testemunhas
pela Defesa, se teve oportunidade de
fazê-lo (art. 395 do Cód. Proc. Penal).
“Dormientibus non succurrit jus”.
– A palavra da vítima é em extremo valiosa,
máxime nos processos de roubo, visto
representa o primeiro e mais eficaz
elemento de identificação de seu autor.
83

– Quem invoca álibi deve prová-lo bem,


por não reduzir-se à condição de réu
confesso (art. 156 do Cód. Proc. Penal).
– O regime prisional fechado é, pelo
comum, o próprio de autor de roubo,
crime grave e fator de permanente
inquietação social.

1. LFV, assistido de advogada, requer a este Egrégio


Tribunal Revisão do processo-crime a que respondeu
perante o MM. Juízo de Direito da 28a. Vara Criminal da
Comarca da Capital, no qual foi condenado a cumprir, sob
o regime inicial fechado, a pena de 7 anos, 8 meses e
16 dias de reclusão, além de 17 dias-multa, reduzida em
grau de recurso a 7 anos, 3 meses e 3 dias de reclusão e 15
dias-multa e, por fim, por efeito da aplicação do art. 580
do Código de Processo Penal, a 6 anos e 8 meses de reclusão,
por infração do art. 157, § 2º, ns. I e II, do Código Penal (proc.
nº 1048/99).

Na petição de fls. 22/25, argui nulidade do processo


por preterição de formalidade, isto é, oferecimento de rol
de testemunhas.

“Circa merita”, alega a combativa Defesa que o


conjunto probatório, em extremo frágil, não autorizava a
condenação do peticionário, o qual invocou em seu prol
álibi, que lhe comprovava a inocência.
84

Pleiteia, destarte, ao colendo Grupo de Câmaras seja


servido deferir-lhe o pedido revisional para anular o
processo, ou absolvê-lo por falta de prova (fls. 22/25).

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em


esmerado e escorreito parecer do Dr. Fernando Sergio
Barone Nucci, opina pelo não-conhecimento da revisão; se
conhecida, por seu indeferimento (fls. 27/29).

É o relatório.

2. A Justiça Pública ofereceu denúncia contra o réu


porque, obrando em concurso e unidade de propósitos
com dois outros indivíduos (LCT e JRF), mediante grave
ameaça exercida com emprego de armas de fogo, subtraíra
para si cartões telefônicos e dinheiro, no total de
R$ 2.663,77, em prejuízo da empresa “Cristal –
Participações e Serviços Ltda.”.

Consta que um dos réus entrara no estabelecimento,


inculcando-se interessado na compra de cartões
telefônicos. (Fizera-o com o intuito de verificar se ali havia
dinheiro e cartões em larga quantidade). Retirou-se, para
retornar logo em seguida, acompanhado dos comparsas;
nessa ocasião, armas de fogo em punho, anunciaram tratar-
se de roubo e ameaçaram os funcionários, obrigando-os a
abrir-lhes o cofre, donde foi retirado o estoque de cartões
85

telefônicos, além dos valores em dinheiro que estavam nas


caixas registradoras.

Perpetrada a subtração, os rapinadores romperam em


fuga.

Instaurada a persecução penal, transcorreu o processo


na forma da lei; ao cabo, a r. sentença de fls. 194/205
decretou a condenação do réu, o qual, inconformado,
apelou para este Egrégio Tribunal, que, por sua 4a.
Câmara, deu provimento parcial ao recurso, a fim de
diminuir-lhe a pena para 7 anos, 3 meses e 3 dias de
reclusão e 15 dias-multa (fls. 287/291).

No julgamento da apelação interposta por LCT,


houve a bem a 4a. Câmara reduzir-lhe a pena a 6 anos, 2
meses e 20 dias de reclusão, sob o regime fechado, e 15
dias-multa, com extensão do benefício, na forma do art.
580 do Código de Processo Penal, ao corréu e peticionário
LFV (fl. 317).

Portanto, de presente, acha-se condenado o


peticionário à pena de 6 anos, 2 meses e 20 dias de
reclusão, em regime fechado, além de 15 dias-multa, por
infração do art. 157, § 2º, ns. I e II, do Código Penal (proc. nº
1048/99; 28a. Vara Criminal da Comarca da Capital).
86

3. Já passada em julgado a decisão condenatória, o


peticionário retorna a este augusto Pretório, no intento de
rescindir o edito de condenação, ou obter a anulação do
processo.

A questão preliminar de não-conhecimento do


pedido, suscitada pela douta Procuradoria-Geral de Justiça,
a despeito de sua relevância, não merece prevalecer, contra
o entendimento do colendo Grupo, que tem admitido a
apreciação de pedido revisional, ainda que sem a estrita
observância do preceito do art. 621 do Código de Processo
Penal.

Derradeira oportunidade que tem o réu de alcançar a


reparação de eventual erro judiciário, parece bem que a
Justiça lhe conheça as razões do inconformismo.

E. Magalhães Noronha opinava claramente:

“O fundamento da revisão está em que a intangibilidade da


sentença transitada em julgado há de ceder ante os
imperativos da justiça substancial. A verdade real há de se
impor, malgrado as exigências do formalismo” (Curso de
Direito Processual Penal, 2002, p. 505).

Conheço, pois, do pedido.


87

4. A alegada nulidade do processo consistira, segundo o


peticionário, na ausência do rol de testemunhas de defesa.

Não lhe procede, entretanto, a pretensão, em que


pese aos ímprobos esforços de sua patrona.

Nisto de defesa prévia, o ponto está em que se dê


oportunidade ao réu de apresentá-la: não está obrigado seu
patrono a oferecê-la.

Serve ao propósito o magistério do Colendo


Supremo Tribunal Federal:

“Ausência de defesa prévia pelo defensor constituído. Segundo


o STF, não anula a ação penal (RTJ 54/81). O que a anula
é a ausência de concessão de prazo ao defensor para tal
mister (STF, HC 67.923; rel. Min. Celso de Mello; RT
660/369)” (apud Damásio E. de Jesus, Código de
Processo Penal Anotado, 19a. ed., p. 304).

Ora, no caso, oportunidade de arrolar testemunhas


teve-a o réu (fl. 151); nenhuma, entretanto, quis indicar,
tendo pois, a respeito dessa faculdade, ocorrido preclusão.

A produção de prova oral pela Defesa era ônus que


lhe cumpria exercitar; mas, por isso mesmo que se
mantivera inerte, não lhe é dado agora propugnar a
anulação do processo.
88

Sempre oportuna é a repetição da velha máxima


jurídica: “Dormientibus non succurrit jus”.

Afasto, portanto, a alegação de nulidade da ação


penal.

5. Da justiça da condenação do réu pelo crime de roubo


descrito na denúncia é impossível não se persuada todo
aquele que examinar com tento e vagar as provas dos
autos.

Com efeito, o representante legal da firma-vítima


(Antônio Geraldo dos Santos), inquirido na Polícia,
discorreu com precisão do roubo e reconheceu o
peticionário como a um de seus autores (fl. 7).

Em Juízo, durante a instrução criminal, ratificou o


reconhecimento e a incriminação. Ressaltou era Luciano o
que estava à portaria, como sentinela, para assegurar o bom
desfecho da empreitada criminosa (fl. 172).

Com suas declarações concordam as da vítima de fl.


168 (Márcia): reconheceu o réu “com presteza e segurança”.

As declarações formais da vítima e da testemunha


desvaneceram integralmente os protestos de inocência do
réu.
89

Do valor da palavra da vítima na aferição das


circunstâncias do roubo há documento em todos os
repertórios de Jurisprudência:

“A palavra da vítima em crimes patrimoniais praticados na


clandestinidade possui relevante valor probatório, eis que é o
elemento fixador da autoria” (RJTACrimSP, vol. 38,
p. 446; rel. Oldemar Azevedo).

À derradeira, importa assinalar que, tendo o réu


apresentado álibi — por ocasião dos fatos, estaria em
Londrina (PR), onde exercia o mister de entregador de
pães (fl. 133) — , tocava-lhe prová-lo, conforme a regra
comum em Direito (art. 156 do Cód. Proc. Penal).

Não se desempenhou o réu, contudo, desse ônus.

Faz ao caso, por isso, o ven. aresto a seguir


reproduzido por sua ementa:

“Álibi. Quem alega deve prová-lo, sob pena de confissão”


(apud Damásio E. de Jesus, Código de Processo Penal
Anotado, 13a. ed., p. 142).

Inevitável, pois, era a condenação do réu.


90

Sua pena — ao revés do que sustenta a combativa


Defesa — está correta; foi criteriosamente aplicada; os
maus antecedentes do réu e a nota de reincidência haviam
de, por força, alteá-la acima do mínimo legal.

Outro tanto em relação ao regime prisional: a


natureza do crime, a quantidade da pena e a personalidade
do agente, indivíduo afeito à delinquência, justificaram a
estipulação do regime fechado.

A pretensão revisional do peticionário, em suma, não


se mostra atendível. Vem aqui de molde este passo do
douto parecer da Procuradoria-Geral de Justiça: “A prova foi
analisada em primeira instância. Reavaliada amiúde, em grau
de apelo e reavaliada, já, em sede mesmo de revisão (nº 352.636-
7), em relação ao corréu LCT (fls. 317). Nenhuma contradição
emergiu, nas citadas oportunidades, no conjunto probatório”
(fl. 28).

Não há, pelo conseguinte, senão indeferir o pedido


de revisão criminal.

Fica, no entanto, registrado — como requer a


combativa Defesa — que a pena do réu foi reduzida pela
colenda 4a. Câmara deste Tribunal, no julgamento da
apelação do corréu LCT, a “6 anos, 2 meses e 20 dias de
reclusão, em regime fechado, e 15 dias-multa”, ex vi do art. 580
do Código de Processo Penal (fl. 317).
91

6. Pelo exposto, conheço do pedido e indefiro a revisão


criminal, com registro de pena definitiva do sentenciado.

São Paulo, 17 de outubro de 2003


Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

7
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

TERCEIRO GRUPO DE CÂMARAS – SEÇÃO CRIMINAL

Revisão Criminal nº 495.772-3/0-00


Comarca: Santo André
Peticionário: JRAA

Voto nº 6519
Relator

– Nos casos de roubo, é a palavra da vítima


a principal e mais segura fonte
de informação do Magistrado, pois
manteve contacto com o seu autor e não
se propõe senão submetê-lo à Justiça.
Pelo que, exceto lhe prove o réu
que mentiu ou se equivocou, suas
declarações bastam a acreditar um
decreto condenatório (art. 157, § 2º, ns. I e
II, do Cód. Penal).
–“Alibi. Quem alega deve prová-lo, sob pena de
confissão” (apud Damásio E. de Jesus,
Código de Processo Penal Anotado, 22a. ed.,
p. 163).
–“No processo penal, a falta de defesa constitui
nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o
anulará se houver prova de prejuízo para o
réu” (Súmula nº 523 do STF).
93

– No Juízo da Revisão Criminal cumpre ao


condenado exibir provas cabais e
incontroversas da erronia ou injustiça da
sentença, aliás nada poderá contra a força
da coisa julgada (art. 621 do Cód. Proc.
Penal).

1. JRAA, condenado pelo MM. Juízo de Direito da 1a.


Vara Criminal da Comarca de Santo André à pena de 5
anos e 4 meses de reclusão e 13 dias-multa, no regime
semiaberto, por infração do art. 157, § 2º, ns. I e II, do Código
Penal, mantida em grau de recurso pelo ven. acórdão de
fls. 174/177 (do Apenso), relatado pelo eminente Des.
Devienne Ferraz, da colenda 4a. Câmara do extinto
Tribunal de Alçada Criminal, requer a este Egrégio
Tribunal, assistido de competente e dedicado patrono,
Revisão de seu processo.

Afirma que o edito condenatório não podia


prevalecer, visto que proferido contra a prova dos autos.

Acrescenta que os elementos de convicção reunidos


no processado, em extremo precários, não permitiam o
acolhimento da pretensão punitiva.

Pelo que, pleiteia a absolvição (fls. 59/62).


94

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em


minucioso e avisado parecer do Dr. Walter Paulo Sabella,
opina pelo indeferimento da revisão criminal (fls. 64/66).

É o relatório.

2. Foi o réu trazido às barras da Justiça Criminal porque,


no dia 5 de janeiro de 1999, pelas 6h10, na Rua Professor
Antônio Seixas L. Ribeiro, em Santo André, obrando em
concurso com outro indivíduo não-identificado, mediante
grave ameaça exercida com emprego de arma de fogo
contra Antônio Aparecido Catti, subtraiu para si vários
pacotes de cigarro e R$ 200,00, em dinheiro, da mercearia
“Pupi Ltda.”.

Instaurada a “persecutio criminis in judicio”, transcorreu


o processo na forma da lei; ao cabo, a r. sentença de fls.
120/132 decretou a condenação do réu. Insatisfeito com o
desfecho condenatório, apelou o digno representante do
Ministério Público.

A colenda 4a. Câmara do extinto Tribunal de Alçada


Criminal, por ven. acórdão de que foi relator o eminente
Des. Devienne Ferraz, confirmou em sua inteireza a
r. sentença condenatória 174/177 (do Apenso), a qual,
transitada em julgado, sujeitara-se ao juízo de revisão, sob
o argumento de sua contrariedade à evidência dos autos.
95

3. Não obstante digno de encômios o esforço de seu


patrono, a pretensão do réu não merece gasalhado.

A razão é que, ao revés do que alega o peticionário, o


douto Magistrado decidiu a controvérsia dos autos com
apoio em prova excelente e à luz dos melhores de direito.

Com efeito, a argumentação que expendeu na peça


vestibular não pôde escurecer a prova da responsabilidade
criminal do réu.

Os elementos dos autos evidenciam, realmente, que


o peticionário e seu comparsa, previamente ajustados,
perpetraram roubo contra o estabelecimento comercial da
vítima.

Com efeito, as declarações, prestadas com absoluta


uniformidade e verossimilhança pela vítima, que o
reconheceu, pessoalmente, sem sombra de dúvidas (fls.
98/99), desfazem de modo implacável as alegações de
inocência do peticionário.

O argumento da combativa Defesa, de que o réu


negou sempre a grave imputação, não o livra do golpe da
Justiça Criminal, já que em contradição com as demais
provas dos autos.
96

A restrição ao valor do depoimento da vítima


certamente não procede.

É que:

“A palavra da vítima, em crime de natureza patrimonial,


avulta em importância, máxime quando em tudo ajustada
às demais evidências dos autos” (RJDTACrimSP, vol. 25,
p. 319; rel. Eduardo Pereira).

Do alto apreço em que nossos Tribunais sempre lhe


tiveram a palavra serve de amostra o ven. aresto a seguir
reproduzido por sua ementa:

“Nos crimes contra o patrimônio, principalmente no de roubo,


a palavra da vítima, quando coerente com as circunstâncias
em que o crime foi perpetrado e o modus operandi utilizado
pelo agente, assume preponderância e autoriza a condenação”
(RJTACrimSP, vol. 26, p. 173; rel. Ubiratan de
Arruda).

4. A decisão revidenda fundou-se em prova obtida com


estrita observância dos preceitos legais.

Diferentemente do que asseverou o peticionário,


portanto, não fez rosto à evidência.
97

Tão só a decisão que se aparte rudemente das provas


incorre na censura de contrária à evidência dos autos; não
está nesse número, bem se vê, a que faz objeto do presente
pedido.

Ora:

“Decisão contrária à prova dos autos é aquela que se choca,


de modo claro, manifesto e inequívoco, com os elementos
probatórios dos autos e não a que lhes empresta o justo valor”
(Rev. Forense, vol. 187, p. 387).

A condenação do réu, sobre ter sido necessária, foi


justa.

Foi a pena do réu fixada no mínimo legal, havendo


consideração às circunstâncias do caso: roubo qualificado
pelo emprego de arma de fogo e concurso de agentes.

O pedido de redução das penas não pode ser


deferido, que isso equivaleria a subestimar a ação
gravíssima e antissocial praticada pelo réu e sancionar a
impunidade.

O regime prisional que lhe estipulou a sentença


(semiaberto) revelou o magnífico senso judicante do
Magistrado.
98

5. A Defesa advoga a tese da negativa da autoria do


crime descrito na denúncia, firme no argumento de que,
no dia dos fatos (5.1.99), estava o peticionário recolhido na
Febem.

O argumento, porém, não colhe, “data venia”, já que


não se desincumbira o réu da prova de seu álibi, o que vale
por confissão.

“Álibi. Quem alega deve prová-lo, sob pena de confissão”


(apud Damásio E. de Jesus, Código de Processo Penal Anotado,
22a. ed., p. 163).

À outra, porque a negativa do réu se antolha


inverossímil: no dia 17.2.99 — cerca de 15 dias, portanto,
do roubo de que tratam estes autos —, foi preso em
flagrante pela prática de roubo contra a mesma vítima
(fl. 8).

Mas, se foi preso quando perpetrava novo roubo, fica


bem claro que não podia estar recolhido na Febem!

6. A crítica disparada contra o antigo defensor, de que


não assistira o réu com empenho, tenho-a por excessiva.
99

Deveras, pretende o douto subscritor das razões do


pedido de revisão que a primitiva Defesa tenha sido
“insuficiente”, porque não provara que o réu “se encontrava
recolhido na Febem por ocasião dos fatos” (fl. 61).

Alegação é essa, no entanto, que não autoriza a


conclusão de que o réu ficara indefeso.

Antes que o mais, releva notar que, à luz da Súmula


nº 523 do Colendo Supremo Tribunal Federal, “no processo
penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua
decifiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu”.

No caso em exame, embora o peticionário declarasse


em Juízo que, ao tempo do crime (5.1.1999), estava preso,
não o comprovou; daqui se infere a pouca ou nenhuma
confiança na tese da “negativa loci”, ou álibi; aliás, se
verdadeira, já a teria enunciado na fase do inquérito. Mas,
porque aí silenciara a respeito de tal circunstância (fl. 64),
bem claro se mostra que não passara de obra da fantasia.

Para esta persuasão puxa a vítima Antônio Aparecido


Catti, que reconheceu com firmeza o réu como ao que lhe
roubou dinheiro e pacotes de cigarro (fl. 99).

Dado o caso, porém, que a Defesa ainda jure nas


palavras de inocência do réu, então é promover, no âmbito
da justificação criminal, a produção da prova que lhe sirva de
carta de crença.
100

7. Por fim, não demonstrou o peticionário, como lhe


cumpria — pois, em tema de revisão criminal, toca ao réu
desempenhar-se do ônus da prova (art. 156 do Cód. Proc.
Penal) —, que a sentença condenatória cometeu erro ou
quebrantou os preceitos da Justiça.

Com efeito:

“Em se tratando de revisão, inverte-se o ônus da prova,


cabendo ao requerente mostrar o desacerto da decisão que o
condenou, que ela foi contrária à evidência dos autos, não lhe
aproveitando o estado de dúvida que acaso consiga criar no
espírito dos julgadores” (Rev. Forense, vol. 188, p. 349).

É força, portanto, indeferir-lhe a pretensão.

8. Pelo exposto, indefiro a revisão criminal.

São Paulo, 11 de janeiro de 2006


Des. Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

8
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

QUINTA CÂMARA – SEÇÃO CRIMINAL

Apelação Criminal nº 993.06.049428-7


Comarca: Americana
Apelante: SSF
Apelado: Ministério Público

Voto nº 10.268
Relator

– Nas declarações do réu, “todas as variações


graves são um indício positivo de mentira”
(Mittermayer, Tratado da Prova em
Matéria Criminal, 1871, vol. II, p. 30;
trad. Alberto Antônio Soares).
– Palavras de quem foi protagonista do fato
delituoso, as da vítima são, pelo comum,
dignas de crédito; servem, pois, a lastrear
condenação, máxime se a roboraram
outros elementos do processo.
–“Álibi: quem alega deve prová-lo, sob pena de
confissão” (Damásio E. de Jesus, Código de
Processo Penal Anotado, 22a. ed., p. 163).
102

1. Da r. sentença que proferiu o MM. Juízo de Direito


da 1a. Vara Criminal da Comarca de Americana,
condenando-o à pena de 6 anos e 5 meses de reclusão e
14 dias-multa, por infração do art. 157, § 2º, ns. I e II, do
Código Penal, interpôs recurso de Apelação para este Egrégio
Tribunal, no intuito de reformá-la, SSF.

Alega, por digno patrono, que as provas dos


autos, precárias e inconsistentes, não lhe autorizavam
condenação; pelo que, firme no argumento de que, sem
prova plena e cabal de sua culpabilidade, ninguém pode
ser condenado, pleiteia à colenda Câmara o absolva, como
ato de justiça (fl. 267).

A douta Promotoria de Justiça apresentou


contrarrazões de recurso, nas quais refutou a pretensão da
Defesa e propugnou a manutenção da r. sentença de
Primeiro Grau (fls. 269/272).

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em


minucioso e cabal parecer do Dr. Daniel Ribeiro da Silva,
opina pelo improvimento da apelação (fls. 276/280).

É o relatório.

2. O órgão do Ministério Público deu denúncia contra o


réu porque, em 12.11.2000, pelas 21h15, na Av. América
(Jardim Bela Vista), em Americana, obrando em concurso
103

e unidade de propósitos com outro indivíduo não-


-identificado, subtraiu para si, mediante grave ameaça
exercida com emprego de arma de fogo, dois aparelhos de
telefonia celular, dois relógios de pulso e uma máquina
fotográfica, pertencentes a Luiz Carlos Claret Rosa.

Instaurada a “persecutio criminis in judicio” (fl. 82),


transcorreu o processo na forma da lei. Ao cabo, a r.
sentença de fls. 234/238 decretou a condenação do réu
que, insatisfeito com o êxito adverso do litígio, manifestou
recurso para esta augusta Corte de Justiça, na expectativa
de absolvição.

3. Tão manifesta nos autos é a culpabilidade do réu, que


não se pode negar sem do mesmo passo fazer injúria à
verdade e ferir de rosto a realidade do processo.

É certo que, em Juízo, o réu infirmou a grave


acusação (fls. 123 v.).

Sua negativa, no entanto, não pode ser acolhida, ou


porque não se ampara a elemento algum dos autos, ou
porque em manifesto antagonismo com o conjunto
probatório.

Anotou, com assaz de razão, a douta Procuradoria-


-Geral de Justiça: “(…) a versão apresentada em ambas as
ocasiões (na Polícia e em Juízo) se apresenta conflitante,
104

tornando evidente que não condizem com a realidade (…)”


(fl. 277).

Com efeito, o réu, no intento de subtrair-se ao rigor


da lei, invocou álibi: afirmou, na Polícia, que no momento
do crime estava em Curitiba/PR; em Juízo, mudou a
versão: à época dos fatos, estava em Londrina/PR (fls. 14
e 123 v.).

Não se empenhou, porém, em demonstrá-lo, como


lhe cumpria, “ex vi” da regra do ônus da prova (art. 156 do
Cód. Proc. Penal).

A lição de Damásio E. de Jesus, portanto, cai a lanço:


“Álibi. Quem alega deve prová-lo, sob pena de confissão” (Código
de Processo Penal Anotado, 22a. ed., p. 163).

Ora, nas declarações do réu, “todas as variações graves


são um indício positivo de mentira”, conforme sentenciou o
profundo Mittermayer (Tratado da Prova em Matéria
Criminal, 1871, vol. II, p. 30; trad. Alberto Antônio
Soares).

Inquirida na instrução criminal, a vítima — em cujos


lábios repousa, pelo comum, a expressão real dos fatos —
não apenas narrou, com precisão e verossimilhança, os
dolorosos transes que viveu, senão ainda indicou, sem
hesitar, o réu como a seu autor (fls. 134/135).
105

Também a testemunha Elaine Belizário Rosa, mulher


da vítima, imprimiu vigor aos termos da denúncia (fls.
136/137) e, sobre isso, reconheceu, “sem sombra de dúvidas”,
o réu como ao autor do roubo (fl. 27).

Prova é essa que lhe aniquila, definitivamente, os


protestos de inocência.

Deveras, quem mais abalizado para discorrer de um


fato senão aquele que lhe foi o protagonista? Exceto na
hipótese (mui rara) de mentira ou erro, suas declarações
bastam a acreditar um termo de condenação.

Assim têm decidido nossos Tribunais:

“A palavra da vítima, nos crimes de roubo, ainda que


solitária, o que não é o caso dos autos, assume significativa
eficácia probatória, porquanto, como é cediço, o seu único
desiderato é apontar o verdadeiro autor da infração, e
não acusar inocentes, mormente quando não os conhece”
(RJTACrim, vol. 33, p. 218; rel. Xavier de Aquino).

De tudo o sobredito se conclui que, ao revés do


que insinua o estrênuo defensor do réu, o conjunto
probatório serviu de pedestal seguro ao pronunciamento
condenatório.
106

A pena ajustou-se ao padrão legal, às circunstâncias


do caso e à personalidade do réu, que ostenta maus
antecedentes (fls. 98/102).

O regime prisional (fechado) era o que respondia à


extrema gravidade do crime (roubo) e à índole malfazeja de
quem o comete.

Em face do que levo expendido, quer-se mantida, por


seus próprios e jurídicos fundamentos, a r. sentença que
proferiu o distinto e culto Magistrado Dr. André Carlos de
Oliveira.

4. Pelo exposto, nego provimento ao recurso.

São Paulo, 20 de junho de 2008


Des. Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

9
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

QUINTA CÂMARA – SEÇÃO CRIMINAL

Apelação Criminal nº 993.08.032216-3


Comarca: Ilha Solteira
Apelante: MAL
Apelado: Ministério Público

Voto nº 10.382
Relator

– Está acima de crítica (e merece


confirmada) a sentença que condena,
por furto mediante escalada, o sujeito
que penetra em armazém rural pelo
telhado e subtrai coisa alheia móvel (art.
155, § 4º, nº II, do Cód. Penal).
–“Álibi: quem alega deve prová-lo, sob pena de
confissão” (Damásio E. de Jesus, Código de
Processo Penal Anotado, 22a. ed., p. 163).
–“Escalada é o acesso a um lugar por meio
anormal de uso, como v.g., entrar pelo
telhado, saltar muro, etc.” (Damásio E. de
Jesus, Código Penal Anotado, 18a. ed.,
p. 573).
108

– A prisão, conforme o alto pensamento


de Magarinos Torres, “a prisão é um
contrassenso que não regenera ninguém, mas
só revolta, por contrariar flagrantemente a
natureza humana, deturpando funções e,
sobretudo, atingindo inocentes, como são a
esposa e filhos do criminoso, privados, sem
culpa, de subsistência e do convívio do chefe
de família” (apud José Luís Sales, Da
Suspensão Condicional da Pena, 1945,
p. 13).

1. Da r. sentença que proferiu o MM. Juízo de Direito


da Comarca de Ilha Solteira, condenando-o à pena de 2
anos e 4 meses de reclusão, sob o regime semiaberto, e 11
dias-multa, por infração do art. 155, § 4º, nº II (escalada), do
Código Penal, interpôs recurso de Apelação para este Egrégio
Tribunal, no intuito de reformá-la, MAL.

Nas razões de recurso, elaboradas por esforçado


patrono, afirma que o conjunto probatório, frágil e
precário, não autorizava decreto de condenação.

Pleiteia, destarte, absolvição como ato de justiça


(fl. 131).

A douta Promotoria de Justiça respondeu ao recurso,


contrariando-lhe os argumentos, ao mesmo passo que
propugnou a confirmação da r. sentença apelada
(fls. 134/136).
109

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em avisado


e escorreito parecer da Dra. Mônica de Barros Marcondes
Desinano, opina pelo improvimento do recurso (fls.
142/144).

É o relatório.

2. Foi o réu chamado a prestar contas à Justiça Criminal


porque, pela madrugada de 1.9.2005, em Ilha Solteira,
mediante escalada, subtraiu para si 105 litros de
combustível (óleo diesel), pertencentes à “Associação dos
Pequenos Agricultores do Projeto Cinturão Verde de Ilha
Solteira”.

Instaurada a persecução penal, transcorreu o processo


na forma da lei; por fim, a r. sentença de fls. 121/126
condenou o réu nos termos da denúncia.

A Defesa, não levando à paciência o edito


condenatório, pretende reformá-lo.

3. Ainda que documento de seu esforço profissional, as


razões deduzidas pela nobre Defesa não lograram esmaecer
os enérgicos traços da autoria criminosa imputada ao réu.
110

Os depoimentos das testemunhas e dos policiais que


detiveram o réu compuseram coerente e seguro tecido de
provas a que se arrimou o decreto condenatório.

Com efeito, Domingos Luiz de Oliveira, presidente


da referida associação, inquirido na fase do inquérito,
narrou o furto e o arrombamento do telhado (fl. 31).

O réu, é certo, negou em Juízo a imputação: alegou


ter adquirido o combustível a um posto de gasolina
(fl. 45).

A versão que apresentou, contudo, não se mostra


aceitável, por absolutamente inconciliável com os
elementos do processo.

Em verdade, o representante legal da empresa-vítima,


depondo na fase do inquérito, informou a ocorrência de
furto de óleo diesel, mediante escalada. Ajuntou que o réu
já trabalhara no local, e ainda o frequentava (fls. 3 e 31).

A testemunha Roberto Caetano de Souza Netto,


inquirida na Polícia, declarou que o réu lhe dera em
pagamento de dívida “dois galões de cinquenta litros de óleo
diesel” (fl. 18).

A alegação do réu, de que adquirira o combustível no


“Auto Posto Paraná”, em Ilha Solteira, não se mostra digna
de acolher, por inverossímil.
111

Estivesse o réu a dizer verdade, não perdoaria a


esforço nem a sacrifício para comprová-lo. Sua inércia, em
ponto de tanto alcance, justifica a aplicação à espécie da
regra jurídica própria da defesa indireta por álibi (ou
“negativa loci”):

“Álibi. Quem alega deve prová-lo, sob pena de confissão”


(Damásio E. de Jesus, Código de Processo Penal Anotado,
22a. ed., p. 163).

O conjunto probatório prestigiou os termos da


denúncia: o réu, deveras, perpetrou o furto, e este
mediante escalada (fl. 10), já que penetrara no local, onde
se achava a “res”, por uma “pequena abertura existente na telha
de zinco na lateral do galpão, próximo ao teto” (fl. 6).

Ora:

“A escalada consiste no fato de penetrar no lugar em que se


encontra a coisa, objeto da subtração, por via anormal, por
entrada não destinada a esse efeito e da qual não tem o
direito de utilizar-se” (Rev. Tribs., vol. 437, p. 402).

As razões recursais, em suma, não se mostraram


poderosas a ilidir os fundamentos lógicos e jurídicos da
r. sentença de primeiro grau.
112

Inevitável a condenação, a pena está correta, já que


atendeu ao critério legal e à justa medida, tomadas em
conta as circunstâncias pessoais do réu, reincidente (cf. fl. 8
do Apenso).

Isso não obstante, substituo-lhe a pena privativa


de liberdade por duas restritivas de direitos (prestação
de serviços à comunidade), medida socialmente
recomendável. É o réu, com efeito, indivíduo de pouca
ilustração, empregado rural, chefe de família e pai de dois
filhos (fl. 64).

Fora do cárcere poderá também expiar o crime que


cometeu, servindo à comunidade, sem deixar de assistir à
família.

A prisão, conforme o alto pensamento de Magarinos


Torres, “a prisão é um contrassenso que não regenera ninguém,
mas só revolta, por contrariar flagrantemente a natureza
humana, deturpando funções e, sobretudo, atingindo inocentes,
como são a esposa e filhos do criminoso, privados, sem culpa, de
subsistência e do convívio do chefe de família” (apud José Luís
Sales, Da Suspensão Condicional da Pena, 1945, p. 13).

Em caso de descumprimento injustificado da medida


alternativa, o réu cumprirá sua pena sob o regime
semiaberto.
113

Salvo este pouco, mantenho no mais, por seus


jurídicos fundamentos, a r. sentença que proferiu o distinto
e culto Juiz Dr. José Gilberto Alves Braga Júnior.

4. Pelo exposto, dou provimento parcial à apelação para


substituir a pena privativa de liberdade do réu por duas
restritivas de direitos (art. 44, § 2º, do Cód. Penal), mantida
no mais a r. sentença de Primeira Instância.

São Paulo, 14 de julho de 2008


Des. Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

10
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

QUINTA CÂMARA – SEÇÃO CRIMINAL

Apelação Criminal nº 993.07.022817-2


Comarca: São Paulo
Apelante: DCF
Apelado: Ministério Público

Voto nº 12.082
Relator

–“A palavra da vítima é a viga mestra da


estrutura probatória, e a sua acusação, firme
e segura, em consonância com as demais
provas, autoriza a condenação” (Rev. Tribs.,
vol. 750, p. 682).
– O regime prisional fechado, no início,
é o que melhor responde à natureza
do roubo, crime gravíssimo, e à
personalidade de quem o pratica,
infensa à disciplina social e orientada
para a delinquência violenta.
– Aquele que invoca álibi (ou “negativa
loci”) deve prová-lo à saciedade, sob
pena de confissão do crime que lhe é
imputado (art. 156 do Cód. Proc. Penal).
115

– Ainda que singular o testemunho do


fato, serve à fundamentação de decreto
condenatório se em harmonia com os
mais elementos de convicção do
processo.
– O decurso do tempo apaga a memória do
fato punível e a necessidade do exemplo
desaparece (Abel do Vale; apud Ribeiro
Pontes, Código Penal Brasileiro, 8a. ed.,
p. 154).
– A prescrição intercorrente (art. 110, § 1º,
do Cód. Penal) “constitui forma de prescrição
da pretensão punitiva (da ação), que
rescinde a própria sentença condenatória”
(Damásio E. de Jesus, Código Penal
Anotado, 18a. ed., p. 358).
– Decretada a extinção da punibilidade do
apelante pela prescrição da pretensão
punitiva estatal, já nenhuma outra
matéria poderá ser objeto de exame ou
deliberação.

1. Condenado pela r. sentença de fls. 77/81, do MM.


Juízo de Direito da 12a. Vara Criminal da Comarca da
Capital, à pena de 6 meses de reclusão, no regime aberto, e
5 dias-multa, por infração do art. 155, “caput”, conjugado
com o art. 14, nº II, do Código Penal (tentativa de furto),
apela para este Egrégio Tribunal, com o intuito de
reformá-la, DCF.

Afirma que o conjunto probatório, frágil e precário,


não autorizava condená-lo; destarte, clama por absolvição
como obra de justiça (fls. 89/92).
116

Contrariado o recurso, opinou a douta Procuradoria-


-Geral de Justiça por seu improvimento (fls. 100/103).

É o relatório.

2. Ao revés do que alega a nobre Defesa, as provas


obtidas na instrução do processo demonstram “quantum
satis” que o réu, efetivamente, praticou o crime de furto
tentado descrito na denúncia.

Suposto negasse a imputação em seu interrogatório


judicial (fl. 49), escusando-se com álibi, o conjunto
probatório mostrou-se-lhe francamente adverso.

Com efeito, é fora de dúvida que o réu, em 1.3.2006,


pelas 22h, na Av. Maria Crusi, nesta Capital, tentou
subtrair para si um aspirador de pó, dois galões de água e
um pneu, do interior do veículo “GM/Omega”, placa HUG-
5566, em estado de abandono e produto de furto, somente
não se consumando o delito por circunstâncias alheias à
sua vontade.

A defesa da causa, não obstante confiada a patrono de


distinto saber e competência, não logrou ilidir a prova,
densa e firme, que implacavelmente incriminava o réu e
impunha o acolhimento da denúncia em sua integridade.
117

Deveras, detido na posse das coisas furtadas, já se lhe


desfazia toda a esperança de absolvição. É que a apreensão
de coisa alheia, em poder de quem o não saiba justificar,
induz autoria de crime.

Da questão têm tratado copiosos arestos de todos os


Tribunais do País. Serve de amostra o que vai abaixo
transcrito por sua ementa:

“Em se tratando de crime de furto, a apreensão da res furtiva


em poder do agente implica inversão do ônus da prova,
cabendo à Defesa apresentar justificativa convincente
para o ocorrido” (RJDTACrimSP, vol. 25, p. 177; rel.
Nogueira Filho).

Em vista da prova incontroversa da autoria e da


materialidade dos fatos, era inevitável o desate
condenatório do pleito.

Donde a inferência lógica imediata, que o douto


prolator da sentença condenatória exarou à fl. 80:

“Nada existe para subtrair a credibilidade da prova


incriminadora. Ninguém tinha interesse em acusar pessoa
desconhecida”.

Vem a ponto reproduzir ainda, pela boa doutrina que


encerra, o seguinte passo da Procuradoria-Geral de Justiça:
118

“Por outro lado, a apreensão da res na posse do recorrente, as


circunstâncias da prisão em flagrante em pleno iter
criminis, a inércia do acusado na comprovação de seu álibi
não deixam qualquer dúvida quanto à autoria do evento
delituoso, de tal sorte que o desate condenatório era mesmo
de rigor, por furto simples, na modalidade tentada” (fl.
102).

3. Há hipóteses em que, faltando prova cabal da


incriminação do réu, corre ao julgador o dever de, em face
da perplexidade ditada pela dúvida, pronunciar o “non
liquet” e absolvê-lo, por amor da presunção de inocência.

Esse ditame de alta sabedoria, no entanto, apenas tem


jurisdição na esfera da dúvida, nunca nos casos em que a
prova, produzida sob a égide do contraditório, indique,
inexorável e claramente, a materialidade do fato criminoso,
sua autoria e culpabilidade do agente. Neste caso,
imperiosa é a imposição de pena, como forma de reparar a
lesão à ordem moral da sociedade.

No particular, ao revés do que sustenta o combativo


patrono, certeza é o que existe, não dúvida.

A condenação do réu, portanto, era inevitável.


119

4. Já não tem o Estado, porém, o direito de puni-lo,


dado que ocorreu, no caso, prescrição superveniente à
sentença.

Dispõe, com efeito, o art. 109, nº VI, do Código Penal


que a pena inferior a 1 ano prescreve em 2.

Ora, da data da publicação da sentença — 16.7.2007


(fl. 82) — até aqui decorreu lapso de tempo superior a 2
anos, suficiente ao reconhecimento da prescrição, sendo
força declará-la, como o determina o art. 61 do Código de
Processo Penal.

É de preceito, por conseguinte, decretar a extinção da


punibilidade da ré pela prescrição intercorrente, que “constitui
forma de prescrição da pretensão punitiva (da ação), que rescinde
a própria sentença condenatória” (Damásio E. de Jesus, Código
Penal Anotado, 18a. ed., p. 358).

Realmente:

“A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito


em julgado para a acusação, ou depois de improvido seu
recurso, regula-se pela pena aplicada” (art. 110, § 1º, do
Código Penal).
120

Ainda:

“(…) a partir da publicação da decisão condenatória,


aplicado exclusivamente o § 1º do art. 110, teremos a
incidência da extinção da punibilidade pela prescrição da
pretensão punitiva (ação penal). Não subsistem a sentença
nem seus efeitos principais e acessórios. E o Tribunal não
precisa apreciar o mérito, ficando prejudicada a apelação
(idem, ibidem).

5. Pelo exposto, nego provimento ao recurso e, de ofício,


declaro extinta a punibilidade do réu pela prescrição
intercorrente da pretensão punitiva estatal, com
fundamento nos arts. 107, nº IV, 109, nº VI, e 110, § 1º, do
Cód. Penal e 61 do Cód. Proc. Penal.

São Paulo, 12 de agosto de 2009


Des. Carlos Biasotti
Relator
Trabalhos Jurídicos e Literários de
Carlos Biasotti

1. A Sustentação Oral nos Tribunais: Teoria e Prática;


2. Adauto Suannes: Brasão da Magistratura Paulista;
3. Advocacia: Grandezas e Misérias;
4. Antecedentes Criminais (Doutrina e Jurisprudência);
5. Apartes e Respostas Originais;
6. Apelação em Liberdade (Doutrina e Jurisprudência);
7. Apropriação Indébita (Doutrina e Jurisprudência);
8. Arma de Fogo (Doutrina e Jurisprudência);
9. Cartas do Juiz Eliézer Rosa (1a. Parte);
10. Citação do Réu (Doutrina e Jurisprudência);
11. Crime Continuado (Doutrina e Jurisprudência);
12. Crimes contra a Honra (Doutrina e Jurisprudência);
13. Crimes de Trânsito (Doutrina e Jurisprudência);
14. Da Confissão do Réu (Doutrina e Jurisprudência);
15. Da Presunção de Inocência (Doutrina e Jurisprudência);
16. Da Prisão (Doutrina e Jurisprudência);
17. Da Prova (Doutrina e Jurisprudência);
18. Da Vírgula (Doutrina, Casos Notáveis, Curiosidades, etc.);
19. Denúncia (Doutrina e Jurisprudência);
20. Direito Ambiental (Doutrina e Jurisprudência);
21. Direito de Autor (Doutrina e Jurisprudência);
22. Direito de Defesa (Doutrina e Jurisprudência);
23. Do Roubo (Doutrina e Jurisprudência);
24. Estelionato (Doutrina e Jurisprudência);
25. Furto (Doutrina e Jurisprudência);
26. “Habeas Corpus” (Doutrina e Jurisprudência);
27. Legítima Defesa (Doutrina e Jurisprudência);
28. Liberdade Provisória (Doutrina e Jurisprudência);
29. Mandado de Segurança (Doutrina e Jurisprudência);
30. O Cão na Literatura;
31. O Crime da Pedra (Defesa Criminal em Verso);
32. O Crime de Extorsão e a Tentativa (Doutrina e Jurisprudência);
33. O Erro. O Erro Judiciário. O Erro na Literatura (Lapsos e
Enganos);
34. O Silêncio do Réu. Interpretação (Doutrina e Jurisprudência);
35. Os 80 Anos do Príncipe dos Poetas Brasileiros;
36. Princípio da Insignificância (Doutrina e Jurisprudência);
37. “Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?”;
38. Tópicos de Gramática (Verbos abundantes no particípio;
pronúncias e construções viciosas; fraseologia latina, etc.);
39. Tóxicos (Doutrina e Jurisprudência);
40. Tribunal do Júri (Doutrina e Jurisprudência);
41. Absolvição do Réu (Doutrina e Jurisprudência);
42. Tributo aos Advogados Criminalistas (Coletânea de Escritos
Jurídicos); Millennium Editora Ltda.;
43. Advocacia Criminal (Teoria e Prática); Millennium Editora Ltda.;
44. Cartas do Juiz Eliézer Rosa (2a. Parte);
45. Contravenções Penais (Doutrina e Jurispudência);
46. Crimes contra os Costumes (Doutrina e Jurisprudência).
47. Revisão Criminal (Doutrina e Jurispudência);
48. Nélson Hungria (Súmula da Vida e da Obra);
49. Ação Penal (Doutrina e Jurisprudência);
50. Crimes de Falsidade (Doutrina e Jurisprudência);
51. Álibi (Doutrina e Jurisprudência);
52. Da Sentença (Doutrina e Jurisprudência);
53. Fraseologia Latina;
54. Da Pena (Doutrina e Jurisprudência);
55. Ilícito Civil e Ilícito Penal (Doutrina e Jurisprudência);
56. Regime Prisional (Doutrina e Jurisprudência);
57. Alimentos (Doutrina e Jurisprudência);
58. Estado de Necessidade (Doutrina e Jurisprudência);
59. Receptação (Doutrina e Jurisprudência);
60. Inquérito Policial. Indiciamento (Doutrina e Jurisprudência);
61. A Palava da Vítima e seu Valor em Juízo;
62. A Linguagem do Advogado;
63. Memorando aos Colegas da Advocacia e da Magistratura;
64. Código de Defesa do Consumidor (Casos Especiais em Matéria
Criminal);
65. Crime de Dano (Doutrina e Jurisprudência);
66. Nulidade Processual (Doutrina e Jurisprudência);
67. Da Coação no Direito Penal (Doutrina e Jurisprudência);
68. Violação de Domicílio (Doutrina e Jurisprudência);
69. Indenização (Doutrina e Jurisprudência).
www.scribd.com/Biasotti
Álibi (Doutrina e Jurisprudência) Carlos Biasotti

Você também pode gostar