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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CRIMINAL DA


COMARCA DE TEIXEIRA DE FREITAS/BA.

Autos nº: 0056729-29.2018.8.13.0045

Garavito Behram Santos, já devidamente qualificado nos autos supramencionados,


vem, à presença de Vossa Excelência, por intermédio de seus advogados e
procuradores que esta subscrevem, para apresentar resposta escrita à acusação,
assim o fazendo nos termos do artigo 406 e parágrafos 1º, 2º e 3º do Código de
Processo Penal.

1 – DOS FATOS

O Ministério Público ofereceu denúncia em desfavor de Garavito Behram


Santos, Abner Zwillman e John Dillinger nas iras dos artigos 121, § 2º, incisos I, III e
IV do Código Penal.

Segundo a exordial acusatória, o acusado foi o mandante do crime que ceifou


a vida da vítima Francisco das Chagas, tendo como motivação desavença políticas
entre acusado e vítima, notadamente por questões financeiras, uma vez que a vítima
estava endividada diante de incontáveis empréstimos feitos com CIGANOS (agiotas)
da região.

Como de praxe, o Ministério Público erigiu as qualificadoras, fruto do excesso


peculiar ao dominus litis, afirmando que o delito foi cometido por motivo torpe, meio
cruel e valendo-se de recurso que dificultou a defesa da vítima.
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Após 06 anos de investigação, fundada em uma delação tardia e controversa,


citou-se o acusado para apresentar resposta à acusação no prazo legal.

2. DA PRELIMINAR

2.1. DA INÉPCIA DA DENÚNCIA AO ERIGIR A QUALIFICADORA DO EMPREGO


DO MEIO CRUEL.

De uma forma muito simplória, o Ministério Público diz que a qualificadora do


meio cruel, do artigo 121, § 2º, incisos IIII, do Código Penal faz-se presente.

Da simples leitura da denúncia não é possível saber qual o motivo dessa


circunstância qualificadora figurar na denúncia, uma vez que não se sabe em que
consistiu o meio cruel e quais critérios foram usados para aferi-lo.

A exposição de motivos do Código Penal, no item 38, diz que se considera


meio cruel “o que aumenta inutilmente o sofrimento da vítima, ou revela uma
brutalidade fora do comum ou em contraste com o mais elementar sentimento de
piedade”.

Como bem gizado nas lições de Nelson Hungria, meio cruel é, in verbis:

“é todo aquele que produz um padecimento físico inútil ou mais grave


do que o necessário e suficiente para a consumação do homicídio. É o
meio bárbaro, martirizante, denotando da parte do agente, a ausência
de elementar sentimento de piedade. (...) São meios cruéis, por
exemplo, as sevícias reiteradas, o impedimento de sono, a privação do
alimento ou água, o esfolamento, a ministração de chumbo derretido.
(HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal. p. 166. Volume V)

Já na doutrina do Professor Vitor Eduardo Rios Gonçalves, de forma


percuciente exemplifica-se em que consiste o homicídio cometido com emprego de
meio cruel, in verbis:
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Os demais meios cruéis que qualificam o homicídio, para que


possam ser diferenciados da tortura, são aqueles em que o ato
executório é breve, embora provoquem forte sofrimento físico na
vítima, configuram-no:
 o espancamento mediante socos e pontapés ou
pisoteamento;
 golpes no corpo da vítima com martelo, barra de ferro,
pedaço de pau, etc.;
 apedrejamento;
 atropelamento intencional;
 jogar a vítima do alto de um prédio ou precipício;
 despejar grande quantidade de ácido sobre o corpo da
vítima;
 choque elétrico de alta voltagem;
 amarrar a vítima em um carro ou cavalo e colocá-los em
movimento, fazendo a vítima ser arrastada;
 cortar os pulsos da vítima para que morra de hemorragia
externa;
 fazer a vítima cair de motocicleta;
 obrigar a vítima a ingerir rapidamente grande quantidade
de bebida alcoólica;
 colocar a vítima em uma jaula com feras;
 transmissão intencional de doença que provoca a morte
com sofrimento. (Gonçalves, Victor Eduardo Rios. Direito penal
esquematizado. p. 109, 7ª ed)

Na análise dos autos, o exame de necropsia, fls. 134/136 aponta que o delito
foi cometido com emprego de meio cruel. Todavia, seguiu-se o caminho mais
confortável em não explicar as razões em que levou a essa conclusão. Tudo se
encontra de forma obscura e somente com base no argumento, sem haver prova de
nada.

O artigo 41 do Código de Processo Penal exige que a denúncia qualifique o


crime e narre suas circunstâncias. O parquet tão somente qualificou o crime, sem
contudo, apontar as circunstâncias que é possível extrair a qualificadora do meio
cruel.

Há a descrição no laudo de necropsia de que houve a perfuração da vítima


por 04 objetos perfuro-contundente, todavia, tal situação sequer é suficiente para
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caracterizar reiteração de golpe, e mesmo que fosse, é cediço entendimento que a


repetição de golpes não caracteriza meio cruel, in verbis:

“Os tribunais têm admitido que a qualificadora do meio cruel


somente pode ser admitida na hipótese em que o agente age por
puro sadismo, com o nítido propósito de prolongar o sofrimento
da vítima. Se por nervosismo ou inexperiência age com
crueldade, afasta-se a qualificadora. Dessa forma, a só reiteração
de golpes de arma branca ou reiterados disparos de arma de fogo
não configuram essa qualificadora.” (CAPEZ, Fernando. Curso de
direito penal. volume 2. p. 54. Editora Saraiva)

O direito penal é coisa séria, não comporta acusações levianas. A


qualificadora do meio cruel é de ordem objetiva, e a constatação deve ser
vislumbrada primu ictu oculi, não basta dizer, mas deve-se provar. A denúncia e o
exame de necropsia são omissos ao não apontar em que consistiu tal qualificadora.

A qualificadora se faz presente pois houve pisoteamento? Impediu-se o sono


da vítima? privou-se de alimentos? E sobre a reiteração de golpes, o que pode
caracterizar o meio cruel é quando há incontáveis golpes, conforme o arresto abaixo
do Tribunal de Justiça da Bahia, in verbis:

2. PLEITO DE ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA POR


RECONHECIMENTO DA LEGÍTIMA DEFESA. INVIABILIDADE.
MATERIALIDADE DELITIVA. INDÍCIOS SUFICIENTES DE
AUTORIA. NÃO OCORRÊNCIA DOS REQUISITOS DA
EXCLUDENTE DA ILICITUDE. OS ELEMENTOS INDICIÁRIOS
OBTIDOS NO DECORRER DO SUMÁRIO DA CULPA
MOSTRAM-SE APTOS A DEMONSTRAR A PROBABILIDADE
DO COMETIMENTO DO DELITO DE HOMICÍDIO
QUALIFICADO PELO MEIO CRUEL, HAJA VISTA QUE O
RECORRENTE TERIA AGREDIDO A VÍTIMA COM 22
FACADAS, A PRIMEIRA EM SUAS COSTAS. COMPETÊNCIA
CONSTITUCIONAL DO JÚRI PARA APRECIARA A MATÉRIA.
( Classe: Recurso em Sentido Estrito,Número do Processo:
0500566-44.2017.8.05.0271,Relator(a): SORAYA MORADILLO
PINTO,Publicado em: 13/12/2018 ) (Grifou-se)
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O laudo de necropsia, fls. 134/136 tratou no quarto 4º quesito se “houve o


emprego de algum recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa da vítima?”.
Ao final, a resposta para este quesito foi NÃO! Apesar disso, o parquet erigiu tal
qualificadora na denúncia. É com base nessas constatações que se percebe o
excesso acusatório, o costume de pedir o máximo, para conseguir o mínimo.

Dessa maneira, a acusação deixa ao arremate da sorte, aplicando de forma


invertida o princípio da ampla defesa, que assegura ao acusado saber do que está
sendo acusado e as razões, para que dessa forma possa efetivar o contraditório.

Destarte, neste momento inaugural, requer seja declarada a inépcia da


denúncia, porquanto é impossível para a defesa saber em que consistiu o
emprego do meio cruel, inviabilizando, dessa maneira, o exercício do
contraditório e ampla defesa.

3. DO MÉRITO

Noutro flanco, adentrando nas questões meritórias, data máxima venia,


repele-se, in totum, a pretensão ministerial estampada em uma dedução, fofocas
replicadas que o Ministério Público externou na inicial acusatória e delas inferiu
autoria.

Ora, havia uma gama de caminhos a serem seguidos para investigação, a


vítima era conhecida devedora de ciganos, vários depoimentos nos autos apontam
essa vertente, havia problemas envolvendo terras adquiridas e não pagas, a vítima
estava sendo ameaça em praça pública, Francisco das Chagas andava temoroso
por tais situações, todavia, optou a autoridade policial e o Ministério Público em
seguir uma linha mais simples, confortável, preguiçosa e acusar o denunciado.

É de se mencionar que tal pretensão deduzida na exordial acusatória, movida


por boatos, não foi submetida ao crivo do contraditório, portanto,
descompromissados com a seriedade e idoneidade dos fundamentos
constitucionais. Verdadeira insensatez!
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O Código de Processo Penal, no artigo 406 dispõe que “o juiz, ao receber a


denúncia ou a queixa, ordenará a citação do acusado para responder à acusação,
por escrito, no prazo de 10 (dez) dias”.

Portanto, hodiernamente, apresentará a defesa suas teses defensivas no


limiar da ação penal, ou seja, o denunciado antecipa para a acusação a plenitude de
suas teses no nascedouro da ação penal, sendo que até este momento não lhe foi
facultado produzir provas.

Além disso, não há nada nos autos, salvo fofocas e a intuição equivocada da
autoridade policial que, através de conjecturas, afirmam a autoria intelectual de
Garavito Behram Santos.

O posicionamento defensivo tem respaldo na lição de Vicente Greco Filho, in


Lei de Drogas Anotada, Saraiva, 2007, páginas 168/169:

“A pertinência e adequação da defesa preliminar, antes do eventual


recebimento da denúncia, o que, aliás, se pretende generalizar por
todo processo penal. Somos contra, antes de tudo porque é inútil. O
indiciado que tem elementos que o inocente deve apresentá-los no
inquérito a fim de não ser denunciado. Se for, não os apresentará na
defesa preliminar, porque irá aguardar o desenvolvimento da
instrução ou, então, impetrará habeas corpus por falta de justa causa
se tiver elementos suficientes. É ingenuidade pensar que a defesa irá
antecipar sua tese, expondo-a antes da colheita das provas da
acusação. (...) O que vai acontecer é repetir a prática atual, de
reduzir a defesa prévia a uma simples negativa genérica da
acusação, valendo, antes, para a apresentação do rol de
testemunhas.” (grifou-se)

Assim sendo, neste momento prefacial, limita-se a defesa a refutar e declarar


improcedente e inepta a denúncia oferecida em desfavor do acusado que alega, ab
ovo, sua INOCÊNCIA. Ulteriormente, o mérito será enfrentado, oportunidade em que
restará patenteada a candidez do denunciado e, consequentemente, sua absolvição
sumária.
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No mérito, rogata maxima venia, não merecia ser recebida a proemial


oferecida pelo ilustre representante do Ministério Público em desfavor do acusado,
porém, como a mesma já recebeu o respaldo jurisdicional, dificilmente, quiçá
impossível, inclusive pelo vezo que se constata em processos análogos que
desfilam nessas cercanias, receberia uma absolvição sumária.

Neste passo, rechaça-se a pretensão ministerial estampada na inicial


acusatória e espera-se que, ao cabo da instrução criminal, nessa fase sumariante,
Garavito venha a ser impronunciado ou absolvido, porquanto INOCENTE.

4. DOS REQUERIMENTOS

4.1. DA EXPEDIÇÃO DE OFÍCIO ÀS OPERADORAS TELEFÔNICAS PARA QUE


ENVIEM, AOS AUTOS, A BILHETAGEM E DADOS TELEFÔNICOS DA VÍTIMA:
TELEFONE Nº (73) 9999-1000 FRANCISCO DAS CHAGAS

É notório nos autos que a vítima acumulava desafetos, bem como estava
extremamente endividada. Em informações prestadas pela esposa da vítima, a Sr.ª
Francisca Vieira Chagas, fls. 45/46 há uma informação de que Francisco, nas
semanas em que antecederam a sua morte, estava extremamente preocupado, bem
como, quando recebia uma ligação, afastava-se de todos, in verbis:

“Que a morte de FRANCISCO foi uma surpresa para depoente,


pois FRANCISCO nunca lhe falou que estava sendo ameaçado,
mas que na última semana a depoente percebeu que ele estava
sem se alimentar direito, sem dormir e inquieto; que quando
FRANCISCO atendia uma ligação saia de perto da depoente e
depois não comentava sobre o teor da ligação a não ser que
fosse uma ligação da família ou alguma coisa que envolvesse a
depoente a não ser que fosse uma ligação da família (Francisca
Vieira Chagas, fls. 45/46) (Grifou-se)
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No mesmo sentido, afirmando essa apatia e preocupação da vítima, a


testemunha João Pereira Lima, in verbis:

“que nos últimos meses de vida FRANCISCO estava sempre com


a fisionomia abatida, comportamento instropectivo, que poderia
estar em início de Depressão e algumas vezes questionou a
vítima sobre a existência de dívidas mais (sic) sempre ouvia como
respostas: ESTÁ TUDO SOB CONTROLE, VOU RESOLVER”
(João Pereira Lima, fls. 128)

Já na época dos fatos causou estranheza a autoridade policial não ir atrás


desse meio de obtenção de prova que era o aparelho celular da vítima, tal
instrumento era uma poderosa fonte de prova onde poderia haver ligações,
mensagens, fotos e outros dados de interesse sobre motivação do crime, autor e
suposto mandante.

Apesar disso, nenhuma diligência foi empregada nesse sentido, sendo que
desde o momento inaugural há informações que o telefone celular estava sendo
uma fonte de tormento na vida de Francisco das Chagas.

Por meio da bilhetagem é possível saber as ligações efetuadas e recebidas


pela vítima. Caso houvesse a apreensão do celular de Francisco das Chagas,
poderia ser periciado e ter acesso às conversas de aplicativos, fotos, arquivos e e-
mail da vítima seriam acessados.

Destarte, por se tratar de valioso meio de obtenção de prova, a defesa pugna


para que seja deferido o pleito aqui exposto, determinando-se a expedição de
ofício às operadoras telefônicas que atendam a região do DDD 73 para que
envie aos autos a bilhetagem completa do telefone (73) 9999-1000 entre os
dias 20 de julho de 2014 e 29 de julho de 2014.

4.2. DA EXPEDIÇÃO DE OFÍCIO AO BANCO CENTRAL E CONSEQUENTE


QUEBRA DO SIGILO BANCÁRIO DOS ACUSADOS/INVESTIGADOS
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Segundo a denúncia, o crime foi praticado mediante pagamento, logo, alguém


recebeu valores. No caso, os envolvidos seria Garavito Behram Santos, Abner
Zwillman e John Dillinge, in verbis:

“Passo seguinte, os denunciados Garavito e Abner, já com a intenção


de ceifarem a vida de Francsico de Chagas, pediram auxílio a John
Dilinge, amigo da família e irmão do denunciado Abner, para que este
viabilizasse os meios para a execução do crime. Então, Abner
Zwillman convidou o seu irmão John para, mediante pagamento,
executar o crime, repassando a ele a arma e a motocicleta utilizadas no
delito. (Denúncia, fls. 9)

A exordial acusatória afirma, sem provar, que houve movimentação financeira


entre os envolvidos, todavia, não há nos autos nenhum comprovante bancário ou
informação sobre o valor recebido para a execução do crime.

Essa informação de pagamento para a execução do crime somente é


ventilada na vestibular acusatória, mas não há nada nos autos nesse sentido. Assim,
no exercício da plenitude de defesa, art. 5º, inciso XXXVIII, alínea ‘a’ da Constituição
Federal, bem como calcado na busca da verdade real, a defesa pugna pela
verificação da existência de conta bancárias dos indivíduos infra mencionados,
através de expedição de ofício ao Banco Central, caso positivo, que seja realizada a
quebra do sigilo bancário inerente aos meses de maio até agosto de 2014 das
pessoas abaixo listadas:
I - Garavito Behram Santos;
II - Abner Zwillman;
III - John Dillinge.

A acusação que recai contra o acusado é que ele foi o mandante do crime,
valendo-se de alguém, mediante pagamento, para a prática do exício. Nada mais
salutar que buscar o rastro desse “pagamento” realizado, eis que tal prova não fora
produzida até o momento e essa dedução acusatória traz enorme prejuízos ao
acusado.
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Cumpre mencionar que se trata de ônus probatório que recai ao Ministério


Público, artigo 156 do Código de Processo Penal, in verbis:

Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, (...)

O mesmo dispositivo legal concede ao magistrado iniciativa probatória,


facultando ao juiz “a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto
relevante”. A investigação ocorreu por 06 (seis) anos e essa prova não foi feita, ou
quiçá tenha sido realizada, e por não se ter encontrado nada de relevo acusatório,
omitiu-se a inclusão da informação no rosário inquisitório.

Assim, ab ovo, para não prevalecer o indigesto vezo ministerial de acusar


sem provar, a defesa requer tal diligência para este juízo com escólio na verdade
real, bem como no princípio da comunhão da prova.

Requer, portanto, a QUEBRA DO SIGILO BANCÁRIO de Garavito Behram


Santos; Abner Zwillman e John Dillinge.

4.3. DA EXPEDIÇÃO DE OFÍCIO AO BANCO CENTRAL E CONSEQUENTE


QUEBRA DO SIGILO BANCÁRIO DOS CREDORES DE FRANCISCO DE
CHAGAS MENCIONADOS NOS AUTOS: LUIS, LEAL, ALMEIDA (FLS.79/80) E
LINDOMAR DE ALMEIDA (FLS. 84/85)

O sigilo bancário, como consequitário do direito à privacidade, é tutelado


como direito fundamental no artigo 5º, inciso X e XII da Constituição Federal. Apesar
de tal garantia, não se trata de um direito absoluto:

1. Os sigilos bancário e fiscal representam projeções específicas


do direito à privacidade, resguardado pela Constituição Federal
como direito fundamental (CF, art. 5º, X). 2. Embora o sigilo
bancário não tenha caráter absoluto - deve, por óbvio, ser
mitigado nas hipóteses em que as transações bancárias
sejam denotadoras de ilicitude -, certo é que, para ser
decretada a quebra do sigilo bancário e/ou fiscal, é
necessário que se demonstre, de forma fundamentada, a
existência concreta de causa provável que legitime a medida
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excepcional e a real necessidade de sua efetivação para a


elucidação dos fatos em análise. (HC 388.012/RJ, Rel. Ministro
ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em
03/05/2018, DJe 11/05/2018) (Grifou-se)

Dentre esse contexto de mitigação de direitos, no presente processo


constata-se que os investigados ficaram por mais de 02 (dois) anos tendo suas
conversas telefônicas ouvidas, uma vez que de forma desproporcional, deferiu-se
reiteradas quebras do sigilo telefônico, também imantado como direito fundamental,
artigo 5º, inciso XII da CF. Portanto, isso denota que a mesma ratio aplica-se ao
presente pleito.

O contexto fático da causa envolve vários empréstimos contraídos pela vítima


nas mãos de ciganos, pela leitura dos autos, conclui-se que a vítima tinha
desentendimentos por causa de terras adquiridas e não pagas; dívida cumuladas
com ciganos e agiotas outros, sendo que Francisco de Chagas estava com
dificuldades notórias para pagar os juros, ou seja, a dívida só aumentava e não era
sanada.

O que consta nos autos é que a vítima estava sendo pressionada, ameaçada,
coagida e amedrontada por vários credores, inclusive sendo alvo de abordagens em
locais públicos, informações de que ciganos se mudaram para cidade de Teixeira de
Freitas/BA para exercer cobranças constrangedoras contra Francisco de Chagas,
tudo isso corrobora para formar uma plêiade de possíveis autores do crime.

Ora, segundo a autoridade policial, é certo que os autores imediatos do crime


seriam Abner “Longie” Zwillman e John Dillinge, sendo válido mencionar que se
trata de sicários, agiram movidos pelo vil metal e ceifaram a vida da vítima.

Destarte, objetiva-se o deferimento da quebra do sigilo bancário de LUIS,


LEAL, ALMEIDA (FLS.79/80) e LINDOMAR (FLS. 84/85), todos credores de
Francisco de Chagas, para que seja apurado se houve o pagamento de algum
desses indivíduos aos supostos executores do crime.
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4.4. DA EXPEDIÇÃO DE OFÍCIO À DELEGACIA DE POLÍCIA PARA ENVIO DE


CAC E FAC DE LUIS, LEAL, ALMEIDA LINDOMAR, ABNER ZWILLMAN E JOHN
DILLINGE

Inicialmente, todos os indivíduos supra mencionados figuraram como


suspeitos/investigados na prática do crime, sendo que todos os nomes mencionados
eram credores de quantias consideráveis com a vítima.

Como se não bastasse essa situação que por si só é indiciária, há


informações no processo de ciganos que se mudaram para Itagimirim com o escopo
de ameaçar, cobrar e proporcionar medo na vítima, uma vez que esta devia aqueles.

Sobre Abner Zwillman e John Dillinge, a exordial acusatória coloca ambos


como acusados, todavia, o primeiro foi assassinado, e há informações decorrentes
de investigação defensiva que Abner era figura conhecida no furto de gados na
região, o que estava causando incomodo nos fazendeiros da região do sul da Bahia.
Quanto à John Dillinge, trata-se de corréu na presente ação penal, sendo do
interesse das partes conhecer os registros criminais existentes em seu desfavor.

Dessa maneira, agasalhado pelo princípio da plenitude de defesa, art. 5º,


inciso XXXVIII, alínea ‘a’ da CF, a defesa requer que seja oficiado à autoridade
policial para que envie para este juízo a FAC e CAC de LUIS, LEAL, ALMEIDA
(FLS.79/80), LINDOMAR (FLS. 84/85), ABNER ZWILLMAN E JOHN DILLINGE

4.5. DA EXPEDIÇÃO DE OFÍCIO À DELEGACIA DE POLÍCIA PARA ENVIO DE


BOLETINS DE OCORRÊNCIA ENVOLVENDO OS NOMES DE LUIS, LEAL,
ALMEIDA (FLS.79/80) E LINDOMAR (FLS. 84/85).

Como exposto acima, os sujeitos mencionados no tópico supra eram


conhecidos pela prática da agiotagem, o empréstimo de dinheiro à juros, sendo que
Francisco de Chagas imergiu nesse nublado cenário da agiotagem.
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Diante do acervo probatório reunido em 06 anos de investigação, percebe-se


que tais sujeitos viviam da prática da agiotagem, sendo credores de várias pessoas
na região do sul da Bahia.

Como se não bastasse essa situação indiciária, há informações no processo


de ciganos que se mudaram para Teixeira de Freitas com o escopo de ameaçar,
cobrar e proporcionar medo na vítima, uma vez que esta devia aqueles.

Sobre Abner Zwillman e John Dillinge, a exordial acusatória coloca ambos


como acusados, todavia, o primeiro foi assassinado, e há informações decorrentes
de investigação defensiva que Abner era figura conhecida no furto de gados na
região, fato que estava causando incômodo nos fazendeiros da região do sul da
Bahia. Quanto a John, trata-se de corréu na presente ação penal, sendo do
interesse das partes conhecer os registros criminais existentes em seu desfavor.

5. DOS PEDIDOS

Desse modo, frente à precariedade do acervo probatório até aqui fornecido, é


essencial que algumas diligências sejam realizadas, com maior razão em
decorrência do princípio do contraditório e da ampla defesa. Motivo pelo qual requer
o que segue abaixo:

I – Que haja, neste momento prefacial, o decote da qualificadora do artigo 121, §


2º, inciso III (meio cruel) do Código Penal, porquanto a dinâmica dos fatos não
permite a incidência da mencionada qualificadora;

II – No mérito, a defesa se resguardará para expor suas teses ao final da instrução


probatória, uma vez que a prova, neste momento, não foi submetida ao salutar filtro
do contraditório;

III – DOS REQUERIMENTOS:

A) Que seja deferido o pedido de expedição de ofício às operadoras telefônicas


para que envie aos autos bilhetagem e dados telefônicos da vítima: telefone nº
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(73) 9999-1000 (Francisco de Chegas), no período de 15 de julho de 2014 até o


dia 29 de julho de 2014;

B) Que seja acatado o requerimento defensivo de expedição de ofício ao banco


central e consequente quebra do sigilo bancário dos acusados/investigados:
Garavito Behram Santos, Abner Zwillman e John Dillinger, pelas razões do item
4.2; (investigados/acusados)

C) Que haja a expedição de ofício ao banco central, e consequente, quebra do


sigilo bancário dos credores de Francisco de Chagas mencionados nos autos:
Luis, Leal, Almeida (fls.79/80) e Lindomar, pelos motivos lançados no item 4.3;

D) Que haja 4.5. a expedição de ofício à delegacia de polícia para envio de CAC
E FAC de Luis, Leal, Almeida (fls.79/80), Lindomar (fls. 84/85), Abner Zwillman e
John Dillinger, com esteio no tópico 4.4;

E) Que seja deferido a expedição de ofício às operadoras telefônicas VIVO,


TIM, CLARO, OI, NEXTEL, ALGAR, SERCOMTEL para que informe a quantidade
de erb´s (antenas) que havia em Teixeira de Freitas e Duque de Caxias,
respectivamente, em julho de 2014;

F) Que seja expedido ofício à delegacia de polícia para envio de boletins de


ocorrência envolvendo os nomes de Luis, Leal, Almeida, Lindomar, Abner
Zwillman e John Dillinger;

G) Que seja expedido ofício à família da vítima para que entregue a este juízo o
telefone celular utilizado pela vítima à época do crime, ofício direcionado aos
parentes Francisca Vieira Chagas, fls. 45 e João Pereira Lima, fls. 56/59, para que
seja realizado perícia no aparelho telefônico, oportunizando à defesa a nomeação de
assistente técnico;

H) Que seja expedido ofício ao Facebook e Instagram, ordenando-se a quebra do


sigilo de dados da vítima e fornecendo a este juízo conversa do Messenger e chat
do Instagram da vítima;
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I) Requer seja deferida a juntada de documentos anexados;

J) - Por derradeiro, requer a audição das testemunhas abaixo delineadas, com


cláusula de imprescindibilidade, devendo ser intimadas na forma da lei.

Rol de testemunhas:

Nestes termos,
Pede deferimento.

De Contagem/MG para Teixeira de Freitas/BA, 12 de janeiro de 2022.

Advogado
OAB

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