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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª


Câmara

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Número do processo: 1.0012.03.900064-6/001(1)


Relator: ERONY DA SILVA
Relator do
ERONY DA SILVA
Acordão:
Data do acordão: 10/08/2004
Data da
16/10/2004
publicação:
Inteiro Teor:
EMENTA: Ausência de recurso de ofício que, no caso, era
obrigatória a sua interposição pelo magistrado monocrático.
Conhecimento do recurso. Recurso de ofício. Prejudicado o recurso
da defesa. Homicídio. Inimputável. Dolo eventual. Dúvida. Ainda
que, em tese, seja possível cogitar-se na existência de dolo
eventual de homicídio por parte de inimputável, na prática, sua
prova é quase impossível, pois o grau de previsibilidade do louco é
absolutamente diverso daquele são, sendo impossível avaliar-se
com certeza, se assumiu ou não o risco de produzir o resultado. Na
dúvida, sobre a existência ou não de dolo de homicídio, solução
outra não há senão a desclassificação para crime menos grave.
Recurso a que se dá provimento.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0012.03.900064-6/001 -


COMARCA DE AIURUOCA - APELANTE(S): DEVANIL DA SILVA -
APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS -
RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM CONHECER DO
APELO COMO RECURSO DE OFÍCIO, PREJUDICADO O
VOLUNTÁRIO. DAR PROVIMENTO.

Belo Horizonte, 10 de agosto de 2004.

DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na


comarca de Aiuruoca, Devanil da Silva como incurso nas sanções
do art. 121, §2º, IV, c/c art. 14,II do CP, por ter, em 4 de
novembro de 2002, por volta das 10h20, tentado matar as vítimas
Alexandre da Silva Almeida de 12 (doze) anos de idade e
Rosângela de Fátima Messias.

A sentença monocrática, às fls.91 e segs., julgou improcedente a


denúncia e reconheceu a inimputabilidade do réu, aplicando-lhe,
contudo, medida de segurança consistente em internação, pelo
prazo mínimo de um ano.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões, às


fls.100 e segs., nas quais pugna pela desclassificação dos delitos
para as figuras previstas no art. 132 do CP em relação à vítima
Rosângela e 129, caput do CP em relação à vítima Alexandre.
Requer, alternativamente, a concessão do tratamento ambulatorial.

As contra-razões ministeriais são pelo improvimento do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer, de f.,


manifestou-se pelo desprovimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Em verdade, o magistrado monocrático deveria, nos termos do art.


411 do CPP, recorrer de ofício, mas como não o fez, e determinou a
subida dos autos a este Tribunal.
Conheço do recurso como de ofício, presentes os pressupostos de
sua admissibilidade, ficando prejudicado o recurso da defesa, sendo
de se notar, a título de ilustração, que o recurso cabível da decisão
monocrática seria o Recurso em Sentido Estrito e não apelação.

Passo ao exame do mérito.

Inicialmente, cumpre registrar minha indignação por uma arma de


fogo chegar às mãos de um inimputável com tamanha facilidade.

Não há qualquer dúvida sobre a inimputabilidade de Devanil e se


alguém deveria estar sendo julgado no presente caso é o
inconseqüente que permitiu que Devanil tivesse acesso à arma.

Vejamos a descrição dos fatos dada pelo próprio acusado, às fl.52,


do incidente de insanidade mental:

"Eu dei um tiro num rapazinho dentro do colégio. Ele mexia


comigo, chamava eu de louco, ameaçou um dia eu com uma faca,
outro dia ele tava jogando pedra na minha casa também, a casa
dele é na rua de cima, a minha é na de baixo. Eu comprei um
revolver e dei um tiro nele. Eu queria dar um susto, não queria
matar não, só pra ele aprender, para parar de xingar a mãe dos
outros de puta e galinha e parar de jogar pedras nos outros.
Depois que dei um tiro nele, eu saí correndo, para fugir, aí a polícia
me prendeu"

Como se vê, tudo não passaria de uma rixa entre um adolescente


de 12 anos e um jovem inimputável, não fosse o acesso por parte
deste último à arma de fogo.

Fato é que, lamentavelmente o tiro foi disparado e necessário se


faz julgar Devanil.

Não encontrei provas de dolo direto de homicídio em nenhum dos


crimes pelo qual foi acusado.

A vítima Rosângela afirmou, à fl.52:

"que a depoente tinha um bom relacionamento com Devanil; que a


depoente não acredita que o Devanil quisesse matá-la, achando
que ele efetuou os disparos contra ela num momento de desespero
e assustado pela presença dela diante dele;"
Por outro lado, em relação à vítima Alexandre, apenas um único
tiro foi dado, sendo que a arma estava municiada com 7 (sete)
projéteis.

O acusado, em todos os momentos em que foi ouvido, afirmou que


desejava tão-somente "dar um susto" na vítima Alexandre.

Assim, entendo que há sérias dúvidas sobre a existência de dolo


direto de homicídio em ambos os crimes.

Quanto ao dolo eventual, sabe-se que para a sua configuração


necessário se faz que o agente tenha a consciência do risco do
resultado lesivo e, principalmente, que assuma o resultado
previsto.

Ora, diante da provada incapacidade mental do réu, penso ser


absolutamente impossível avaliar se ele teve ou não esta
previsibilidade e, principalmente, se assumiu o risco morte.

A questão aqui é probatória, pois, ainda que em tese seja possível


cogitar-se do dolo eventual por parte do inimputável, na prática
sua prova se torna quase impossível e, principalmente, duvidosa.

Na dúvida, solução outra não há, senão desclassificar o crime


praticado para as figuras previstas no art.129, caput, do CP para o
crime praticado contra Alexandre e art.132 do CP com relação à
vítima Rosângela.

Cumpre frisar que, como foi bem salientado pela culta defesa, não
há qualquer prova de que a lesão corporal tenha sido grave ou
gravíssima, assim, a solução mais favorável ao réu se impõe.

Por fim, tratando-se de crimes cujas penas previstas são as de


detenção e, havendo farta prova nos autos de que o acusado,
apesar de sua doença, nunca antes demonstrara comportamento
violento, aplico-lhe medida de segurança consistente em
tratamento ambulatorial pelo prazo mínimo de 1 (um) ano, nos
exatos termos dos artigos 96, II, e 97, §1º do CP.

É como voto.
O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

Senhora Presidente.

Estou acompanhando o voto do Relator, ressalvando que o


conhecimento do recurso voluntário somente seria possível pelo
princípio da fungibilidade, pois cabível à espécie o recurso em
sentido estrito. No entanto, desde que vieram os autos a este
Tribunal, tenho sua remessa também para apreciação do recurso
obrigatório que, acredito, por um lapso, não foi determinado pelo
magistrado sentenciante.

Assim, conhecendo do recurso obrigatório, com suporte nas razões


de decidir postas no brilhante voto do eminente Relator, também
aplico ao réu a medida de segurança consistente em tratamento
ambulatorial, pelo prazo mínimo de um ano, valendo lembrar que,
conforme noticiam os autos que nesse estado encontra- se o réu,
desde sua prisão.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

De acordo.

SÚMULA : CONHECERAM DO APELO COMO RECURSO DE OFÍCIO,


PREJUDICADO O VOLUNTÁRIO. DERAM PROVIMENTO.

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª


Câmara

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Número do processo: 1.0474.03.006015-3/001(1)


Relator: ERONY DA SILVA
Relator do
ERONY DA SILVA
Acordão:
Data do acordão: 03/08/2004
Data da
24/09/2004
publicação:
Inteiro Teor:
EMENTA: Pena. Fixação. Conduta social e personalidade do
agente."Conduta social reprovável" e "personalidade desvirtuada e
voltada para o crime" são chavões judiciais sem qualquer
fundamento jurídico e que lesam o princípio constitucional da
legalidade, pois não há qualquer norma penal tipificando o que
significam tais expressões. Destarte, não pode o magistrado, com
base em preconceitos quanto à vida pretérita do agente, impor-lhe
pena sem prévia tipificação legal. Recurso provido parcialmente em
relação ao 1º apelante. Não conhecimento, por intempestivo, do 2º
apelante.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0474.03.006015-3/001 -


COMARCA DE PARAOPEBA - APELANTE(S): 1º ) WAGNER RIBEIRO
DA COSTA, 2º ) CÉLIO CORREA DA SILVA - APELADO(S):
MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS - RELATOR: EXMO.
SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, EM DAR PROVIMENTO PARCIAL O RELATOR E
O REVISOR AO PRIMEIRO APELO E NÃO CONHECER DO SEGUNDO,
ACOMPANHAR O RELATOR, O REVISOR E O VOGAL, QUANTO AO
PRIMEIRO RECURSO E DESCONHECER O SEGUNDO, AGINDO, DE
OFÍCIO, POR HABEAS CORPUS, CONCEDER A ORDEM EM FAVOR
DO SEGUNDO APELANTE, E, FINALMENTE, ADERIR AOS VOTOS
ANTERIORES O RELATOR.

Belo Horizonte, 03 de agosto de 2004.

DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

A SRª. PRESIDENTE (DESª. JANE SILVA):

O julgamento deste feito foi adiado na Sessão do dia 15/06/2004,


a pedido do Des. Revisor, após votar o Relator, dando provimento
parcial ao recurso de Wagner Ribeiro da Costa e não conhecendo
do apresentado por Célio Correa da Silva, por intempestivo.

Com a palavra o Des. Paulo Cézar Dias.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

VOTO

Pedi vista para melhor analisar a questão posta em julgamento.

Quanto à intempestividade ponho-me de acordo com o em.


Relator, aderindo ainda a seu voto, no tocante à diminuição de
pena do apelante Wagner Ribeiro, com parcial provimento de seu
recurso.

Por outro lado, diante da intempestividade do recurso de Célio


Correa, hei por bem a ele conceder habeas corpus,de ofício, para
que não se veja prejudicado pela ineficiência de seu patrono,
fixando-lhe nova reprimenda, pois vejo idênticas as circunstâncias
do delito e as atitudes dos agentes.

Assim, quanto à receptação:

Pelos mesmos motivos expostos, quanto ao co-réu Wagner, creio


não haver fundamentos para a fixação da pena-base de Célio acima
do mínimo legal, razão pela qual reduzo-a para 1 (um) ano de
reclusão.

Em razão da agravante da reincidência, comprovada pela certidão


a fl.34, agravo-lhe a pena em 4 (quatro) meses.

Não há atenuantes, fixo-lhe, pois, a pena provisória pela


receptação em 1 (um) ano e 4 (quatro) meses de reclusão.

Reconheço em seu favor o pleonástico arrependimento posterior do


art.16 do CP, reduzindo sua pena da metade e concretizando-a em
8 (oito) meses de reclusão.

No tocante ao art. 10, §3º, IV, da Lei 9.437/97:

Pelos mesmos motivos, fixo-lhe a pena-base no mínimo legal de 2


(dois) anos.

Deixo de levar em conta a agravante da reincidência, por ser


elemento constitutivo da qualificadora do art.10, §3º, IV, da Lei
citada.

Não há causas de aumento ou diminuição de pena em relação a


este crime.

Concurso formal:

Tomo a pena do crime mais grave (porte de armas) e a majoro de


1/6 (um sexto) em virtude do concurso formal, concretizando-a em
definitivo, em 2 (dois) anos e 4 (quatro) meses a ser cumprida em
regime semi-aberto, face à reincidência.

Impossível a substituição de pena em razão da reincidência


específica.

Reduzo-lhe a pena de multa pelo crime de receptação em 12


(doze) dias-multa com valor unitário mínimo.

Assim, em síntese, pedindo licença ao culto relator, estou dando


parcial provimento ao recurso de Wagner Ribeiro da Costa. Por sua
intempestividade, não conheço do recurso de Célio Correa da Silva,
mas, ao mesmo tempo, concedo-lhe "habeas corpus", de ofício, tão-
somente para minorar-lhe a pena.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

De acordo com o Revisor.

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

Srª. Presidente, pela ordem.

Vou retificar o meu voto e acompanhar os pronunciamentos que


me sucederam.

SÚMULA : O RELATOR E O REVISOR DERAM PARCIAL PROVIMENTO


AO PRIMEIRO APELO E NÃO CONHECERAM DO SEGUNDO. O
REVISOR E O VOGAL ACOMPANHARAM O RELATOR QUANTO AO
PRIMEIRO RECURSO E DESCONHECERAM O SEGUNDO, MAS
AGINDO EM "HABEAS CORPUS" DE OFÍCIO, CONCEDERAM ORDEM
EM FAVOR DO SEGUNDO APELANTE. O RELATOR DEU ADESÃO AOS
VOTOS ANTERIORES.

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª


Câmara

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Número do processo: 1.0000.00.353210-8/000(1)


Relator: ERONY DA SILVA
Relator do
ERONY DA SILVA
Acordão:
Data do acordão: 18/05/2004
Data da
03/09/2004
publicação:
Inteiro Teor:
EMENTA: Violação de direitos autorais. CD pirata. O princípio
constitucional da legalidade é a garantia de que todo cidadão só
poderá ser condenado criminalmente se houver lei prévia que
permita a ele saber - ainda que potencialmente - que a conduta é
crime no ordenamento jurídico. A expressão "violar direitos
autorais" é demasiadamente vaga e até mesmo especialistas em
Direito Penal não poderiam precisar o seu âmbito de significação,
quanto mais um vendedor ambulante sem educação jurídica. O
desconhecimento da lei é escusável se esta não for suficientemente
clara para permitir que qualquer um do povo possa compreender -
ainda que potencialmente - o seu significado. Recurso provido.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0000.00.353210-8/000 -


COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE(S): JOSÉ GERALDO
DOS SANTOS - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO
MINAS GERAIS, PJ 7ª V CR COMARCA DE BELO HORIZONTE -
RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, EM DAR PROVIMENTO, VENCIDO O VOGAL.

Belo Horizonte, 18 de maio de 2004.

DES. ERONY DA SILVA - Relator>>>

04/05/2004

TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL

ADIADO

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0000.00.353210-8/000 -


COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE(S): JOSÉ GERALDO
DOS SANTOS - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO
MINAS GERAIS, PJ 7ª V CR COMARCA DE BELO HORIZONTE -
RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, nesta


capital, José Geraldo dos Santos como incurso nas sanções do
art.184, §2º, do CP, por ter sido flagrado, em 7 de junho de 1999,
na posse de 322 (trezentos e vinte e dois) CDs musicais com
aspectos característicos de falsidade.

A sentença monocrática, às fls.98 e segs. julgou procedente a


denúncia e condenou o réu a 1 (um) ano de reclusão e ao
pagamento de 10 (dez) dias-multa com valor unitário mínimo. A
pena corporal foi substituída pela prestação de 12 (doze) cestas
básicas à entidade assistencial.

Inconformada, apelou a culta defesa, apresentando suas razões, às


fls.107 e segs., nas quais pugna pela absolvição.

As contra-razões ministeriais, às fls.113 e segs., são pela


manutenção da sentença guerreada.
A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer, à fl.125,
manifestou-se pelo improvimento do recurso.

O documento de fl.128 informa que tramita neste Tribunal de


Justiça outra apelação, na qual o réu está sendo processado por
crime da mesma espécie, que pelas condições de tempo, lugar e
maneira de execução, poderia, em tese, configurar uma
continuidade delitiva.

A redistribuição do feito, no entanto, foi negada pelo eminente


desembargador 1º vice-presidente em despacho de fl.136.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua


admissibilidade.

A determinação do real significado jurídico do art.184 do CP, na


sociedade brasileira atual, é certamente um dos mais tormentosos
problemas a ser enfrentado pelos estudiosos do Direito Penal.

Como é sabido, o art.184 do CP é um tipo aberto, caracterizado por


ser uma incriminação vaga e indeterminada, já que são múltiplas
as interpretações que podem ser dadas à frase típica "violar
direitos autorais".

Nilo Batista adverte que:

"A função de garantia individual exercida pelo princípio da


legalidade estaria seriamente comprometida se as normas que
definem os crimes não dispusessem de clareza denotativa na
significação de seus elementos, inteligíveis por todos os cidadãos.
Formular tipos penais "genéricos ou vazios", valendo-se de
"cláusulas gerais" ou "conceitos indeterminados" ou "ambíguos"
equivale teoricamente a nada formular, mas é prática e,
politicamente, muito mais nefasto e perigoso." (BATISTA, Nilo.
Introdução crítica ao Direito Penal Brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro:
Revan, 2001. p.78)

Prossegue o ilustre catedrático de Direito Penal da UERJ:

"Alguns autores deslocam a ênfase para a subjetivação da


imprecisão do preceito, isto é, para o aspecto de que o preceito
deve ser ¿determinado e especificado de modo tal a fazer ver
claramente ao cidadão a conduta a seguir, e os limites do próprio
livre comportamento'" (BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao Direito
Penal Brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Revan, 2001. p.79)

A questão que se coloca então é: - pode um cidadão comum, que


não seja versado em Direito Penal, compreender a real limitação
imposta pela expressão "violar direitos autorais"?

A resposta é decisivamente não, pois se mesmo a jurisprudência é


vacilante no seu significado, como poderia entender o vendedor
ambulante o seu real significado se, por hipótese, houvesse lido o
disposto no art.184 do CP?

A problemática compreensão do âmbito de significado da norma


pode ser percebida facilmente pelo fato de grande parte da
população não saber ao certo se pratica crime ao comprar um CD
"pirata".

É bem verdade que tanto quem vende como quem compra o CD


"pirata" tem consciência da ilicitude de seus atos, mas a questão
que se coloca aqui não é essa, mas, sim, se crêem estar praticando
crime.

É bem verdade, que o art.21 do Código Penal estabelece que o


desconhecimento da lei é inescusável, mas esse artigo deve ser
lido em conformidade com a Constituição Federal que em seu
art.5º, XXXIX, garante que:

"... não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem
prévia cominação legal;"

Se se supõe que uma das funções da pena é dissuadir a população


a praticar as condutas que sabem estar definidas na lei como
crime, como condenar alguém que não sabe ao certo se pratica ou
não crime?

Nesse sentido, importantes precedentes jurisprudenciais:

"Erro de tipo. Exclusão da culpabilidade. Violação de direito autoral.


Consciência atual da ilicitude. (...) Vendedor ambulante de ¿fitas
piratas', sem nenhuma instrução e que somente assina o nome,
não tem condições de saber o que é direito autoral e rege
amparado por erro de tipo, que exclui a culpabilidade por não
dispor de consciência atual da ilicitude" (TJSP RT 728/525)

"Violação de direito autoral. Comercialização de ¿fitas piratas'. Erro


de tipo. Inocorrência. Réu, no entanto, sem condições atuais de
saber da ilicitude de seu comportamento. Absolvição decretada, em
face da ausência do elemento subjetivo do ilícito. Art.386, V, do
Código de Processo Penal. Recurso não provido" (TJSP, JTJ
178/310)

Creio, no entanto, que a hipótese, ainda que se assemelhe em


muito ao erro de tipo e, principalmente, ao erro de proibição, vai
além, pois se limita a uma sutil aplicação do princípio da
legalidade: ninguém pode ser preso por uma conduta, se ele não
pode, previamente, ter certeza, de que era crime.

A legalidade constitucional implica na certeza da existência do


crime por meio da descrição típica da conduta da forma mais
detalhada possível: matar alguém; subtrair, para si ou para
outrem, coisa alheia móvel; constranger mulher à conjunção
carnal, mediante violência ou grave ameaça; etc.

Quando a norma é clara, "o desconhecimento da lei é inescusável",


tal como disposto no art.21 do CP.

Se, porém, como no caso dos presentes autos, a norma é vaga e


nem mesmo um especialista em Direito Penal poderia dizer ao
certo o que é "violar direito autoral", como exigir, então, que um
vendedor ambulante o faça?

Alie-se a esta profunda dificuldade de compreensão do âmbito de


significado da norma, o notório costume existente nas grandes
metrópoles brasileiras da comercialização dos CDs piratas em vias
públicas à vista da polícia e de todos, temos uma conduta que, não
estivesse amparada pelo princípio da legalidade, certamente
estaria amparada pela absoluta ausência de culpabilidade por
inexigibilidade de conduta diversa.

No Estado Democrático de Direito, consagrado pela Constituição


Federal de 1988, não há mais espaço para incriminações definidas
discricionariamente pelo executivo ou pelo judiciário.
Somente a lei cria a norma e o legislador ao fazê- lo deve certificar-
se de que a norma criada é na medida do possível, suficientemente
clara para que qualquer cidadão brasileiro, ao lê-la possa
compreender o seu âmbito de incriminação.

Assim, em respeito ao princípio constitucional da legalidade, dou


provimento ao recurso e absolvo o réu das imputações da
denúncia, nos precisos termos do art.386, III, do CPP.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

De acordo com o Relator.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

Peço vista dos autos.

SÚMULA: DERAM PROVIMENTO O RELATOR E O REVISOR. PEDIU


VISTA O VOGAL.

>>>

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. PRESIDENTE (DES. KELSEN CARNEIRO):

O julgamento deste feito foi adiado, na Sessão do dia 04/05/04, a


meu pedido, após votarem o Relator e o Revisor, dando
provimento.

O meu voto é o seguinte:

Proferidos os votos pelos eminentes Desembargadores Relator e


Revisor, sendo que este último se limitou a concordar com o
primeiro, reexaminei os autos, com pedido de vista, e concluí,
como já fizera a MMª Juíza de Direito Drª Maria Luíza M. A. Araújo,
na sua bem fundamentada sentença de f. 98/102, pela procedência
da denúncia, que deu o acusado, ora apelante, como incurso no
art. 184, § 2º do Código Penal.
As provas de autoria e materialidade delitivas mostram-se
incontestes. O próprio acusado disse em seu interrogatório em
juízo, ser verdadeira a acusação que lhe foi feita, que realmente
vendia CD´s piratas vindos do Paraguai, o que foi confirmado pela
prova testemunhal carreada para os autos. O laudo pericial de f.
11/14 constatou a falsidade do produto apreendido.

Por outro lado, não há que se falar em erro de tipo, pois conforme
bem expressou a ilustre sentenciante:

"...inadmissível que uma pessoa estabelecida no comércio há mais


de ano, que busca produto no Paraguai para vender, com grande
margem de lucro, acompanha a cotação do dólar, não saber da
ilicitude de seu comportamento"...

"O acusado comprava os CD´s no Paraguai e os vendia aqui, com


conhecimento de causa, isto é, ciente de que tais CD´s eram
produzidos com violação de direito autoral.

Destarte, não há que se falar em erro de tipo, como causa de


exclusão da tipicidade da conduta do acusado pois esta pressupõe
o desconhecimento total da ilicitude da conduta típica"...

O Des. Relator, conforme se verifica do seu voto, que foi


acompanhado pelo eminente Des. Revisor, absolveu o acusado em
respeito ao princípio da legalidade (art. 5º, inc. XXXIX, da
Constituição Federal), todavia, ao contrário do seu entendimento,
não há, no caso, em discussão como sequer cogitar-se de ofensa a
tal princípio, considerando que o tipo e sua respectiva apenação
encontram-se previstos no art.184, § 2º, do Código Penal.

Finalmente, é bom esclarecer que os dois votos precedentes


conflitam-se com o acórdão proferido na apelação nº 346.394-0,
julgada nesta mesma 3ª Câmara, sendo Relatora a Desª. Jane
Silva, que deu pela procedência do apelo do Ministério Público e
condenou o mesmo réu deste processo por idêntica infração e da
qual havia sido absolvido em 1ª instância.

Com essas considerações, pedindo vênia aos eminentes


Desembargadores Relator e Revisor, nego provimento ao recurso,
mantendo, por seus próprios e jurídicos fundamentos a r. decisão
recorrida.
SÚMULA : DERAM PROVIMENTO, VENCIDO O VOGAL.

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª


Câmara

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Número do processo: 1.0392.04.910502-7/001(1)


Relator: ERONY DA SILVA
Relator do
ERONY DA SILVA
Acordão:
Data do acordão: 01/06/2004
Data da
24/08/2004
publicação:
Inteiro Teor:
EMENTA: Medida de segurança. Prisão perpétua.
Inconstitucionalidade. É princípio básico de hermenêutica jurídica
que as normas que garantem direitos fundamentais devem ser
interpretadas extensivamente. A vedação constitucional às penas
perpétuas (art.5º, XLVII, da CF) inclui necessariamente a medida
de segurança que, ainda que tenha natureza jurídica diversa da
prisão, cerceia a liberdade do condenado de forma análoga.
Destarte, não se pode cogitar de medida de segurança de
internação por tempo indeterminado, sendo imprescindível que o
magistrado fixe o período máximo de internação, que, em nenhum
caso, poderá ser superior à pena máxima dos crimes pelos quais o
réu foi denunciado, sob pena de se ferir o princípio constitucional
da eqüidade (art.5º da CF), tratando aquele que sofre de uma
enfermidade psíquica de forma mais gravosa do que é.

RECURSO DE OFÍCIO Nº 1.0392.04.910502-7/001 - COMARCA DE


MALACACHETA - RECORRENTE(S): JD COMARCA MALACACHETA -
RECORRIDO(S): OTAVIANO RODRIGUES DE SOUSA OU OTAVIANO
RODRIGUES DE SOUZA - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA
SILVA

ACÓRDÃO
Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, EM NEGAR PROVIMENTO, VENCIDO O
RELATOR.

Belo Horizonte, 01 de junho de 2004.

DES. ERONY DA SILVA - Relator>>>

25/05/2004

TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL

ADIADO

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

RECURSO DE OFÍCIO Nº 1.0392.04.910502-7/001 - COMARCA DE


MALACACHETA - RECORRENTE(S): JD COMARCA MALACACHETA -
RECORRIDO(S): OTAVIANO RODRIGUES DE SOUSA OU OTAVIANO
RODRIGUES DE SOUZA - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA
SILVA

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

Trata-se de reexame necessário da sentença, às fls.54 e segs., que


impôs medida de segurança, determinando a internação em
hospital de custódia e tratamento psiquiátrico, ao réu Otaviano
Rodrigues de Sousa, por ter, em 9 de setembro de 1996, tentado
matar sua amásia, Maria da Conceição Cruz Silva.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer, às fls.62 e


segs., manifestou-se pela manutenção da sentença.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua


admissibilidade.
A materialidade e a autoria delitivas estão sobejamente
comprovadas nos autos, inclusive pela confissão do próprio réu.

A inimputabilidade do réu também restou devidamente


comprovada a fl.52 do apenso.

Creio, porém, que um pequeno reparo seja necessário quanto à


imposição de medida de segurança.

O magistrado monocrático determinou:

"a internação do acusado em hospital de custódia e tratamento


psiquiátrico, por tempo indeterminado, perdurando enquanto não
for averiguada, através de perícia médica, a cessação da
periculosidade, cujo período não poderá ser inferior a um ano,
segundo disposto no §1º, art.97, do mesmo Diploma Penal".

Ocorre, porém, que a moderna doutrina penal brasileira tem


reiteradamente demonstrado que tais artigos do Código Penal não
foram recepcionados pela Constituição Federal de 1988 que, em
seu art.5º, XLVII afirma categoricamente:

"não haverá penas:

(...)

b) de caráter perpétuo"

É bem verdade, que a doutrina tradicional sempre afirmou que a


medida de segurança não é pena, pois tem natureza jurídica
diversa, não se baseando na culpabilidade do agente, mas, sim, em
sua periculosidade.

Ocorre, porém, que no Estado Democrático de Direito - consagrado


pela Carta Magna de 1988 - não se pode abrir mão dos direitos
fundamentais da pessoa humana, com base em um abstrato
fundamento de periculosidade, até mesmo porque na maioria das
vezes os "são" - as aspas aqui são inevitáveis - ou seja, na maioria
das vezes, são muito mais perigosos que os loucos e nem por isso
podem ser segregados eternamente.

A esse respeito ZAFFARONI e PIERANGELI argumentam que:


"Se a Constituição Federal dispõe que não há penas perpétuas
(art.5º,XLVII, b), muito menos se pode aceitar a existência de
perdas perpétuas de direitos formalmente penais. A periculosidade
de uma pessoa que tenha cometido um injusto ou causado um
resultado lesivo a bens jurídicos pode não ser maior nem menor do
que a de outra que o tenha causado, se a mesma depende de um
padecimento penal. Não existe razão aparente para estabelecer
que um azar leve a submissão de uma delas a um controle penal
perpétuo, ou, possivelmente perpétuo, enquanto outra fica
entregue às disposições do direito ou legislação psiquiátrica
civil." (ZAFFARONI, Eugênio Raúl. PIERANGELI, José Henrique.
Manual de Direito Penal Brasileiro. 4ªed.rev. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2002. p.857)

Na mesma linha de raciocínio, Virgílio Mattos, autor de uma


festejada dissertação de mestrado na Faculdade de Direito da
UFMG dedicada ao tema, conclui que:

"Ao contrário do que outros já sustentaram, a questão da reserva


legal não continua em aberto; se se pensa em contrário, malferido
restaria o inciso XXXIX (reserva legal constitucional), art.5º da
Constituição de 88. Não há medida de segurança sem prévia
cominação, uma vez que tem natureza jurídica de pena, sentido
amplo, portanto - vedada pela Norma normarum a prisão perpétua
- a medida de segurança ad vitam é ofuscantemente
inconstitucional." (MATTOS, Virgílio. Trem de doido: o direito e a
psiquiatria de mãos dadas. Belo Horizonte: UNA Editoria, 1999.
p.136)

Assim, necessário se faz limitar o prazo da medida de segurança,


pois se o louco, de fato, representa algum perigo para a sociedade,
forçoso é reconhecer que tal perigo não é maior do que aquele
representado pelos sãos, que matam não por uma anomalia
psíquica, mas, sim, por um cálculo amoral de custo/benefício.

Buscando adequar as disposições da lei ordinária aos novos


ditames constitucionais, ZAFFARONI e PIERANGELI lecionam que:

"Pelo menos, é mister reconhecer-se para as medidas de segurança


o limite máximo da pena correspondente ao crime cometido, ou a
que foi substituída, em razão da culpabilidade diminuída. Se, no
primeiro caso, continuar a doença mental da pessoa submetida à
medida, a solução é comunicar a situação ao juiz do cível ou ao
Ministério Público, para que se proceda conforme o art.448 do
Código Civil e efetivar a internação nas condições do art.457 desse
mesmo Código "(Código Civil de 1916).(ZAFFARONI, Eugenio Raúl.
PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro.
4ªed.rev. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002. p.858)

Destarte, com base, nesse entendimento, passo a determinar o


período máximo da internação:

O réu foi denunciado como incurso nas sanções do art.121, §2º, II,
c/c art.14,II, c/c art.132, na forma do art.70, todos do Código
Penal.

Impossível cogitar-se da qualificadora de motivo fútil tratando-se


de réu inimputável, pois se não é capaz de entender o caráter ilícito
de sua conduta, muito menos será capaz de entender a futilidade
de sua motivação.

Decoto, pois, a qualificadora.

A pena máxima do homicídio simples é de 20 (vinte) anos de


reclusão. Diminuída de 1/3 (um terço) - a menor diminuição de
pena prevista pela tentativa - temos como pena máxima da
tentativa de homicídio 13 (treze) anos e 4 (quatro) meses.

Acresce-se a este quantum a pena máxima pelo crime do art.132


do CP - 1 ano - temos uma pena máxima, pela qual o réu foi
denunciado de 14 (quatorze) anos e 4 (quatro) meses de reclusão.

Destarte, dou provimento parcial ao recurso, de ofício, para


determinar, tão-somente, que a medida de segurança em nenhuma
hipótese exceda a 14 (quatorze) anos e 4 (quatro) meses de
reclusão.

Aliás, é o mínimo que posso fazer, para garantir os direitos


fundamentais daquele que sofre de uma enfermidade mental, até
porque, fosse ele considerado imputável, provavelmente, sua pena
seria fixada abaixo desse quantum.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:


Versam os autos sobre recurso de ofício oferecido pelo MM. Juiz da
Comarca de Malacacheta contra a v. sentença que absolveu o réu,
por considerá-lo inimputável, aplicando-lhe medida de segurança
de internação, por prazo indeterminado, sendo de um ano o
período mínimo estipulado para que seja averigüada, por perícia, a
cessação da periculosidade, no bojo da ação penal movida pela
Justiça Pública contra Otaviano Rodrigues de Sousa, pelos crimes
descritos nos arts. 121, § 2º, inc. II, na forma do art. 14, inc. II, e
132, na forma do art. 70, todos do Código Penal, praticado contra
sua amásia Maria da Conceição Cruz Silva.

A materialidade e autoria restaram induvidosamente comprovadas,


a primeira através do acd de fls. 12/13 e auto de apreensão de fl.
15, e a segunda pela confissão do réu (fls. 17 e 27), corroborada
pela prova oral produzida, notadamente os depoimentos de fls. 10,
11, 14 e 33/34.

O laudo pericial de fls. 52, dos autos em apenso, entretanto,


concluiu ser o acusado, ao tempo da ação, em virtude de doença
mental, inteiramente incapaza de entender o caráter ilícito do fato
criminoso ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Incensurável, assim, a decisão do MM. Juiz a quoque absolveu


desde logo o réu, com fundamento no caput do art. 26 do CP, já
que assim determina o art. 411 do CPP. A fixação de medida de
segurança, consistente em internação hospitalar para tratamento
psiquiátrico, por outro lado, está prevista no art. 96, inc. I e art.
97, ambos do CP.

Prescreve o § 1º, do art. 97, que a medida de segurança é por


tempo indeterminado, tendo o MM. Juiz fixado em um ano o prazo
mínimo para que seja averigüada, por perícia, a cessação da
periculosidade.

Como se vê, a lei penal não prevê limite temporal máximo para o
cumprimento da medida de segurança, vinculando a liberação
somente à verificação da cessação da periculosidade, tendo em
vista que o inimputável é internado não para ser punido, mas sim
para ser tratado, nisso diferindo da pena privativa de liberdade.

A meu ver, tal disposição não conflita com a norma Constitucional


que proíbe a instituição de penas perpétuas.
Sobre tal limite, leciona Magalhães Noronha ser "a periculosidade a
preocupação constante da medida de segurança pessoal, e,
cessada que ela seja, esta não tem mais razão de ser. Orientando-
se nesse sentido é que o Código expressamente determina que, ao
fim do prazo, ao fim do prazo mínimo, se examine o sentenciado,
que também o será anualmente, se a execução continuar. Vê-se,
pois, que ela não pode ter fim, já que durará enquanto o
delinqüente for perigoso. Observa-se, entretanto, ter sido prudente
o Código, querendo impedir que a situação se prolongue de modo
indefinido sem necessidade, tanto que impõe expressamente o
exame anual, que, aliás, pode ser feito com menor intervalo
quando o prazo mínimo for inferior a um ano.

................................

A indeterminação é um corolário fatal: não se pode curar a prazo


fixo.

Isto impede ou torna menos freqüente o triste espetáculo dos


reincidentes voltando ao presídio duas, três ou quatro vezes, numa
demonstranção eloqüente da ineficácia penal e da impotência de se
readaptar o criminoso, com grave dano para a sociedade, o que,
hoje, não acontecerá se a lei for executada como deve ser
(...)" (Direito Penal, 10a. ed., págs. 323/324).

A respeito da indeterminação quanto ao prazo de duração das


medidas de segurança, aduz José Frederico Marques que não
parece que "esteja em antagonismo com o artigo 141, § 31, da
Constituição Federal, que proíbe as penas perpétuas. Estamos de
acordo com aqueles que não se encastelam em falsos
nominalismos, e entendem, por isso, que a expressão ¿pena' ou
¿penas' da Constituição abrange todas as sanções penais
repressivas e preventivas; mas sanção indeterminada no tempo
não é o mesmo que sanção ou pena ou pena perpétua (...)
Perpetuidade eventual as próprias penas temporárias podem
trazer. Seria inconstitucional, por isso, a condenação de um
indivíduo de 60 anos a trinta anos de reclusão, embora mínima a
possibilidade de sair ele da prisão antes de morrer? Um doente
desenganado, mesmo se a condenação for em pena de curta
duração, estará sofrendo uma segregação perpétua, em face da
probabilidade de não ter suficiente tempo de vida para aguardar o
cumprimento integral da pena. Isto demonstra que a perpetuidade
eventual não é proibida pela Constituição, e sim, a segregação
perpétua necessária e formalmente imposta" (Tratado de Direito
Penal, 2a. ed., vol. III, págs. 199/200).

E, em recente aresto, decidiu o STJ verbis:

"HABEAS CORPUS. RÉU INIMPUTÁVEL. MEDIDA DE SEGURANÇA.


PRAZO INDETERMINADO. INEXISTÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO
ILEGAL. ORDEM DENEGADA.

1. A medida de segurança de internação, imposta em processo de


conhecimento, não se sujeita a prazos predeterminados, mas, sim
à cessação da periculosidade do réu inimputável (Código Penal,
artigo 97, parágrafo único).

2. Constatada, por perícias regulares, a subsistência da


periculosidade do réu inimputável, descabe falar em
constrangimento decorrente da sua manutenção em regime de
internação, ainda que por prazo superior ao limite imposto às
penas privativas de liberdade.

3. Ordem denegada (HC nº 27.993 - SP - Rel. Ministro Hamilton


Carvalhido, in Revista Eletrônica de Jurisprudência).

Isto posto, pedindo redobrada venia ao Eminente Relator, nego


provimento ao recurso oferecido.

Custas pelo Estado.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

Peço vista dos autos.

SÚMULA: O RELATOR DÁ PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO,


NEGANDO-O O 1º VOGAL. PEDIU VISTA O 2º VOGAL.

>>>

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. PRESIDENTE (DES. KELSEN CARNEIRO):


O julgamento deste feito foi adiado na Sessão do dia 25/05/2004,
a meu pedido, após votarem o Relator, dando provimento ao
recurso e o Primeiro Vogal, negando-o .

Meu voto é o seguinte:

Pedi vista dos autos, em face da divergência havida entre o


Relator, Des. Erony da Silva, e o 1º Vogal, Des. Paulo Cézar Dias,
restrita ao tempo de duração da medida de segurança aplicada ao
réu, absolvido, nos termos do art. 411, CPP, em face de sua
inimputabilidade, entendendo o primeiro que o prazo deve ser
limitado a 14 anos e 04 meses, que corresponde à pena máxima
que, em tese , seria imposta pelo crime praticado, e, o segundo,
que deve ser indeterminado.

Não concordo com o ilustre Relator.

A medida de segurança não tem tempo determinado e deve


perdurar, a teor do que dispõe o art. 97, § 1º, do Código Penal,
enquanto não for averiguada, mediante perícia médica, a cessação
da periculosidade.

A indeterminação da duração é compreensível, porquanto a cura de


moléstias mentais não tem como ser prevista, justificando-se,
ainda, como medida de proteção social, pois não se pode restituir à
normal circulação, quem exibe periculosidade que autorize temer
reiteração de gravíssimas infrações, com irreparáveis seqüelas.

A respeito, já decidiu o Tribunal de Justiça de São Paulo:

MEDIDA DE SEGURANÇA - Internação - Tratamento psiquiátrico de


paciente que já dura mais de trinta anos - Constrangimento ilegal
inexistente - Laudo médico que atesta a persistência da
periculosidade do agente - Inteligência do art. 97, § 1º, do CP.
"Não configura constrangimento ilegal a ser amparado por habeas
corpus, a medida de segurança consistente em internação para
tratamento psiquiátrico, que já dura mais de trinta anos, de
paciente que praticou dois homicídios. Ademais, foi atestado por
meio de laudo médico a necessidade de renovação da medida de
segurança, devido à persistência da periculosidade do agente e,
conforme o previsto no art. 97, § 1º, do CP a internação se dá por
tempo indeterminado" (RT 815/570).
Com essas considerações, pedindo vênia ao ilustre Relator,
acompanho o 1º vogal e, também, nego provimento ao recurso de
ofício.

SÚMULA : NEGARAM PROVIMENTO, VENCIDO O RELATOR.

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª


Câmara

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Número do processo: 1.0024.02.681534-0/001(1)


Relator: ERONY DA SILVA
Relator do
ERONY DA SILVA
Acordão:
Data do acordão: 04/05/2004
Data da
10/08/2004
publicação:
Inteiro Teor:
EMENTA: Pena. Fixação. Conduta social e personalidade do agente.
Não podem ser consideradas desfavoráveis a conduta social e a
personalidade do agente pelo fato de o réu ser reincidente, pois
isto equivaleria a um "bis in idem". Recurso provido.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0024.02.681534-0/001 -


COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE(S): SIDNEY MOREIRA
LOPES - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS
GERAIS, PJ COMARCA DE BELO HORIZONTE - RELATOR: EXMO.
SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, EM DAR PROVIMENTO, VENCIDO, EM PARTE, O
VOGAL.

Belo Horizonte, 04 de maio de 2004.


DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, nesta


capital, Sidney Moreira Lopes como incurso nas sanções do art.
121, §2º, II e IV, do CP, por ter, em 18 de abril de 2002, por volta
das 17h30h, matado a vítima Marco Antônio de Miranda.

O Tribunal do Júri considerou o réu culpado, conforme Termo de


Votação de Quesitos a fls.133 e segs. e o MM. Juiz presidente, em
sentença a fl.141, condenou-lhe a 13 (treze) anos e 6 (seis) meses
de reclusão, em regime integralmente fechado.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões a fls.143


e segs., nas quais pugna pela minoração da reprimenda e pela
concessão do regime inicialmente fechado.

As contra-razões ministeriais a fls.160 e segs. são pelo


improvimento do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer a fls.168 e


segs., manifestou-se pelo parcial provimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua


admissibilidade.

A materialidade e a autoria delitivas encontram-se sobejamente


comprovadas nos autos e não foram objeto de questionamento por
parte da defesa.

A certidão a fl.78 comprova a existência de condenação transitada


em julgado contra o réu, por crime de roubo em 25 de fevereiro de
2002, portanto, anterior ao crime sub judice.

Correto, portanto, o reconhecimento da agravante da reincidência.

Ocorre, porém, que se reconhecida a reincidência, não se pode


aumentar a pena do réu, na primeira fase, em função dos maus
antecedentes, pois isto equivaleria a um inadmissível bis in idem.

Não há falar, também, que a reincidência demonstre um


"comportamento voltado para a criminalidade" o que seria motivo
para considerar a personalidade e a conduta social do réu
desfavoráveis, pois, em última análise, mais uma vez estar-se-ia
punindo o acusado duplamente pelo mesmo fato.

Lado outro, toda conduta de homicídio qualificado, por si só, é


altamente reprovável e tal critério não pode servir para aumentar-
lhe a pena-base, salvo quando tal reprovabilidade é superior à
comum aos crimes da espécie.

Assim, não vejo, no presente caso, qualquer justificativa para fixar


a pena-base do acusado acima do mínimo legal, razão pela qual a
reduzo para 12 (doze) anos de reclusão.

Houve o reconhecimento de uma agravante e uma atenuante e por


uma questão de coerência, tenho-as como equivalentes, mantendo
inalterada a pena-base.

Não há causas de aumento ou diminuição de pena, razão pela qual,


fixo-lhe a pena definitiva em 12 (doze) anos de reclusão.

Em relação ao regime de cumprimento de pena, já me manifestei,


por diversas vezes, nesta câmara no sentido de que não pode o
legislador cercear do poder judiciário, o direito de fixar o regime de
acordo com o caso concreto.

Isto porque a Constituição Federal consagrou o princípio da


individualização da pena em seu art.5º, XLVI:

"a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras as


seguintes: (...)"

Regular é fixar normas abstratas e, como tal, devemos entender a


previsão de parâmetros mínimos e máximos para a determinação
do quantum das penas in concreto.

Não pode, assim, o legislador ordinário determinar que todo crime


hediondo seja cumprido em regime integralmente fechado, pois
não cabe ao Poder Legislativo "fixar" o "quantum" das penas, mas
simplesmente "regular" por meio de parâmetros máximos e
mínimos, dando opções ao Poder Judiciário - responsável pela
análise do caso concreto - elementos para a fixação definitiva da
pena.

Pelo exposto, dou provimento ao recurso, para fixar a pena do


apelante em 12 (doze) anos de reclusão em regime inicialmente
fechado.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

Acompanho integralmente o voto do Relator.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

Respeito o ponto de vista divergente, dele discordando por ter,


reiteradamente, decidido, nesta 3ª Câmara, que o art. 2º, § 1º, da
Lei 8.072/90, que trata dos crimes hediondos, dispõe que a pena
aplicada deve ser cumprida integralmente em regime fechado.

Com essas breves considerações, peço vênia, ao eminente Relator


e ao não menos eminente Revisor, deles discordando, apenas, no
tocante ao regime prisional, concordando com a redução da pena
aplicada ao apelante.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO, VENCIDO, EM PARTE, O VOGAL.

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª


Câmara

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Número do processo: 1.0334.03.000547-7/001(1)


Relator: ERONY DA SILVA
Relator do
ERONY DA SILVA
Acordão:
Data do acordão: 25/06/2004
Data da
03/08/2004
publicação:
Inteiro Teor:
EMENTA: Homicídio. Coação moral irresistível. Provocação. A
coação moral irresistível não se confunde com meras provocações.
Se na coação o coator obriga o coato a agir segundo sua vontade,
na mera provocação não há domínio do fato por parte do
provocador que se limita a incitar o agente à prática dos atos
desejados sem, no entanto, poder obrigá-lo a agir. Recurso
ministerial provido.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0334.03.000547-7/001 -


COMARCA DE ITAPAJIPE - APELANTE(S): MINISTÉRIO PÚBLICO
ESTADO MINAS GERAIS, P.J. COM. DE ITAPAJIPE - APELADO(S):
VALDIR FELIPE SOARES - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA
SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM DAR
PROVIMENTO.
Belo Horizonte, 25 de junho de 2004.

DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na


comarca de Itapagipe, Valdir Felipe Soares como incurso nas
sanções do art. 121, caput, c/c art.14, II do CP, por ter, em 25 de
outubro de 2000, por volta das 22h30, tentado matar a vítima, Joel
Magalhães de Sousa.

O Tribunal do Júri acatou a tese da coação moral irresistível,


conforme Termo de Votação de Quesitos, às fls.172 e segs., e o
MM. Juiz presidente, em sentença a fl.175, absolveu o acusado das
imputações da denúncia.

Inconformado, apelou o Ministério Público, apresentando suas


razões, às fls.181 e segs., nas quais pugna pela cassação da
decisão, por manifestamente contrária à prova dos autos.

As contra-razões da defesa, às fls.188 e segs., são pelo


improvimento do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer, às fls.199 e


segs., manifestou-se pelo conhecimento e provimento do apelo.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua


admissibilidade.

A decisão é visivelmente contrária, não só à prova dos autos, mas


ao bom senso.

O Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa define o


termo coação:

"...constrangimento, violência física ou moral imposta a alguém


para que faça, deixe de fazer ou permita que se faça alguma coisa"
Na hipótese dos autos, só se poderia falar em coação moral
irresistível se a própria vítima tivesse constrangido o réu a dar-lhe
as facadas.

Para que haja coação é necessário que o coator tenha dolo de


constrangimento e é evidente que, no presente caso, a vítima não
desejava receber as facadas.

A coação nem de longe se confunde com a provocação que é


definida, no mesmo dicionário, como:

"...ato ou efeito de, com palavras ou atos, forçar alguém a uma


luta, briga, discussão etc.; desafio, repto"

E também como:

"...ato ou processo de tentar causar uma reação; estimulação,


incitamento, tentação"

Se na coação o coator obriga o coato a agir, segundo sua vontade,


na mera provocação não há domínio do fato por parte do
provocador que se limita a incitar o agente à prática dos atos
desejados sem, no entanto, poder obrigá-lo a agir.

A tese da coação moral irresistível, no presente caso, é, pois,


absurda e sem qualquer fundamento legal, pois é evidente que a
vítima não obrigou o réu a lhe desferir os golpes.

Pelo exposto, dou provimento ao recurso ministerial para cassar o


veredicto por manifestamente contrário à prova dos autos.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

VOTO

De acordo.

A SRª. DESª. JANE SILVA:


VOTO

De acordo.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO.

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Câmara

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Número do processo: 1.0511.03.900297-3/001(1)


Relator: ERONY DA SILVA
Relator do
PAULO CÉZAR DIAS
Acordão:
Data do acordão: 04/05/2004
Data da
16/06/2004
publicação:
Inteiro Teor:
EMENTA: Falsidade Ideológica - O apelante fez inserir em
documento público de certificado de conclusão de curso, declaração
inverídica, falsificando assinaturas, praticando, assim, o crime de
falsidade ideológica. O momento consumativo do delito em apreço
ocorre com a simples alteração do objeto material,
independentemente de outro resultado.

V.V.

Falsidade documental. Crime de perigo concreto. Ausência de


perigo de lesão a fé pública. Absolvição. O crime de falsidade
documental é de perigo concreto e, portanto, exige um perigo de
lesão à fé pública para se consumar. Se o réu vende histórico
escolar para terceiro no nome deste, que em seguida o delata, em
momento algum a fé pública se viu ameaçada. Provimento ao
recurso para absolver.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0511.03.900297-3/001 -


COMARCA DE PIRAPETINGA - APELANTE(S): MURILO DE SOUZA -
APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ
SECRETARIA DO JUÍZO DA COMARCA DE PIRAPETINGA -
RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA - RELATOR PARA O
ACÓRDÃO: EXMO SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, EM NEGAR PROVIMENTO, VENCIDO O
RELATOR.

Belo Horizonte, 04 de maio de 2004.

DES. PAULO CÉZAR DIAS - Relator para o acórdão.

DES. ERONY DA SILVA - Relator vencido.NOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. PRESIDENTE (DES. KELSEN CARNEIRO):

O julgamento deste feito foi adiado na Sessão do dia 06/04/2004,


a pedido da Vogal, após votarem o Relator, dando provimento e o
Revisor negando-o.

Com a palavra a Desª. Jane Silva.

A SRª. DESª. JANE SILVA:

Examinei, cuidadosamente, o voto do eminente Relator,


Desembargador Erony da Silva e peço vênia para dele discordar,
pois me filio à corrente que considera como momento consumativo
do crime, previsto no artigo 297 do Código Penal, aquele da
ocorrência da falsificação ou da alteração do documento,
independentemente do uso ou da existência de qualquer
conseqüência posterior, nem mesmo a saída da esfera individual do
agente, visto que já passou a existir o dano. O Superior Tribunal de
Justiça assim já decidiu, ao considerar que "o tipo do artigo 297 do
Código Penal exige apenas a editio falsi, sendo prescindível a
posterior utilização do falso, que consiste em mero exaurimento do
delito". (STJ ¿ JSTJ 62/500)

Desse modo, tendo sido comprovada a falsidade dos dados


constantes do documento, bem como a autoria do delito, através
de prova testemunhal colhida sob o crivo do contraditório, entendo,
tal como o ilustre Revisor, que a condenação deve ser mantida.

SÚMULA : NEGARAM PROVIMENTO, VENCIDO O RELATOR.

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Câmara

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Número do processo: 1.0216.01.010876-1/001(1)


Relator: ERONY DA SILVA
Relator do
ERONY DA SILVA
Acordão:
Data do acordão: 04/05/2004
Data da
16/06/2004
publicação:
Inteiro Teor:
EMENTA: Pena. Fixação. Dolo intenso. Personalidade voltada para o
crime. Expressões demasiadamente vagas. Impossível é a
majoração da pena-base apenas com referência às expressões
vagas como "dolo intenso" e "personalidade voltada para o crime",
pois a convicção do juiz deve ser fundamentada na prova e não
podem exprimir um preconceito pelo simples fato de o acusado ser
reincidente, sob pena de consagrarmos um "bis in idem".

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0216.01.010876-1/001 -


COMARCA DE DIAMANTINA - APELANTE(S): DAVID DARIA
MAURÍCIO JÚNIOR - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO
MINAS GERAIS, PJ 2ª SECRETARIA JUÍZO DA COMARCA DE
DIAMANTINA - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM DAR PROVIMENTO
PARCIAL.
Belo Horizonte, 04 de maio de 2004.

DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na


comarca de Diamantina, David Daria Maurício Júnior, como incurso
nas sanções do art.129, §1º, I e II do CP, por ter, em 7 de julho de
1999, por volta das 22h, desferido um golpe com uma garrafa na
cabeça da vítima Paulo Roberto Marques Saraiva, causando-lhe
lesões que lhe resultaram perigo de morte e incapacidade para
suas ocupações habituais por mais de 30 dias.

A sentença monocrática, às fls.79 e segs., julgou procedente a


denúncia e condenou o réu a 2 (dois) anos de reclusão em regime
semi-aberto.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões, às


fls.85 e segs., nas quais pugna pela absolvição ou pela minoração
da pena.

As contra-razões ministeriais, às fls.91 e segs., são pelo


desprovimento do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer, as fls.98 e


segs., manifestou-se pelo conhecimento e desprovimento do apelo.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua


admissibilidade.

A materialidade e a autoria delitivas encontram-se sobejamente


comprovadas nos autos.

A tese da legítima defesa não convence, pois salvo a palavra do


réu, não há qualquer elemento nos autos que comprove a
existência da agressão por parte da vítima.
Todas as provas são no sentido de que o réu teria agredido a
vítima por vingança, já que acredita que ela o tenha delatado,
quando eram companheiros de cela.

Por outro lado, o laudo de exame complementar à fl.26, ainda que


tenha sido realizado muito posteriormente ao fato sub judice, não
pode tão-somente por isso, ser considerado imprestável.

Se o perito tinha elementos para concluir pela existência de


incapacidade da vítima para suas ocupações habituais por mais de
trinta dias, irrelevante que o exame complementar tenha sido feito
após o prazo.

Quanto à fixação da pena, razão assiste à defesa.

O magistrado monocrático fixou a pena-base do acusado em 8


(oito) meses acima do mínimo legal por: "agir com dolo intenso" e
por ter "personalidade , sem dúvida alguma voltada para a
criminalidade".

Ora, tais expressões são demasiadamente vagas para fundamentar


uma exasperação de pena e não podem ser consideradas em
desfavor do réu, sem uma expressa referência às provas que
levaram o juiz a essa convicção.

Não se pode considerar a personalidade do acusado voltada para o


crime pelo fato de ele ser reincidente, pois em tal caso, estar-se-ia
aplicando um inadmissível bis in idem.

Pelo exposto, reduzo a pena-base para seu mínimo legal de 1 (um)


ano.

Mantenho o agravamento tal como operado em primeira instância


e, na falta de causas de aumento e diminuição de pena, concretizo
sua reprimenda em 1 (um) ano e 4 (quatro) meses de reclusão a
ser cumprida no regime semi-aberto.

Impossível a substituição da pena, face à violência com a qual o


crime foi praticado.

Também não é cabível a suspensão da pena, pois o réu é


reincidente.
Pelo exposto, dou provimento parcial ao recurso, tão-somente para
minorar-lhe a pena.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

VOTO

De acordo.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

VOTO

De acordo.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO PARCIAL.

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Número do processo: 1.0024.04.254189-6/001(1)


Relator: ERONY DA SILVA
Relator do
ERONY DA SILVA
Acordão:
Data do acordão: 04/05/2004
Data da
16/06/2004
publicação:
Inteiro Teor:
EMENTA: Homicídio. Torpeza. Delação - A delação, em nossa
cultura, é conduta eticamente bastante reprovável e equiparada a
pior das traições. Assim, não pode ser considerada torpe a
motivação do homicídio quando praticado por grupo de presos em
vingança contra delator.

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO Nº 1.0024.04.254189-6/001 -


COMARCA DE BELO HORIZONTE - RECORRENTE(S): DAVID
FRANCISCO DA SILVA - RECORRIDO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO
ESTADO MINAS GERAIS, PJ. V. CRIM. COM. B.HTE. - RELATOR:
EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM DAR PROVIMENTO
PARCIAL.

Belo Horizonte, 04 de maio de 2004.


DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

Trata-se de Recurso em Sentido Estrito interposto por David


Francisco da Silva, inconformado com a sentença, às fls.232 e
segs., que o pronunciou nas sanções do art. 121, §2º, I e III,
ambos do CP, por ter, em 10 de junho de 2003, no interior da cela
nº 1 da carceragem das Delegacia Especializada de Repressão de
Furto de Veículos desta capital, matado a vítima, Renato Daniel
Nunes, com o uso de uma corda trançada, conhecida como
"tereza".

Em suas razões recursais, às fls.265 e segs., pugna a defesa tão-


somente pelo decote das qualificadoras.

As contra-razões ministeriais, às fls.269 e segs., são pela


manutenção da sentença guerreada.

Em juízo de retratação, à fl.289, a decisão foi mantida por seus


próprios fundamentos.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer, às fls.294 e


segs., manifestou-se pelo desprovimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua


admissibilidade.

A qualificadora da asfixia deverá ser submetida ao Tribunal do Júri,


diante do exame de corpo de delito, às fls.56 e segs., que conclui:

"...diante dos dados colhidos durante a necrópsia e dos resultados,


concluímos que a causa da morte foi: asfixia conseqüente a
constrição extrínseca do pescoço."

Entretanto, não há falar em torpeza se a motivação do crime se


deu em razão da delação de companheiros.
Isto porque a delação é ato notoriamente contrário à ética não só
de prisioneiros, mas de estudantes e de inúmeros grupos
profissionais (basta ver o baixíssimo número de condenações em
entidades de classe).

O delator, em nossa cultura, é na maioria das vezes, visto como


um traidor - ou por influência do cristianismo - como um "Judas",
que trai o amigo quando as circunstâncias tornam-se desfavoráveis
a ele.

Assim, impossível seria cogitar-se em torpeza, razão pela qual dou


provimento parcial para decotar da pronúncia a qualificadora do
art.121, §2º, I, do CP.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

VOTO

De acordo.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

VOTO

De acordo.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO PARCIAL.

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª


Câmara

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Número do processo: 1.0145.01.001631-2/001(1)


Relator: ERONY DA SILVA
Relator do
ERONY DA SILVA
Acordão:
Data do acordão: 06/04/2004
Data da
08/06/2004
publicação:
Inteiro Teor:
EMENTA: Preliminar rejeitada. Homicídio. Mãe que abandona recém
nascido em vala. Estado de necessidade. Inexigibilidade de conduta
diversa. Não se pode exigir conduta diversa de mãe que, seja por
graves problemas psicológicos, seja pelo estado puerperal ou
mesmo pela absoluta miséria, abandona seu filho à própria sorte
em uma vala. Absolvição sumária mantida. Nego provimento ao
recurso, de ofício, e ao recurso ministerial.

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO Nº 1.0145.01.001631-2/001 -


COMARCA DE JUIZ DE FORA - RECORRENTE(S): MINISTÉRIO
PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, JD V EXEC CR TRIBUNAL JÚRI
COMARCA JUIZ DE FORA - RECORRIDO(S): BIANCA ARCADNA DOS
SANTOS - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, EM DAR PROVIMENTO AO RECURSO, DE
OFÍCIO, E JULGAR PREJUDICADO O DO M.P., VENCIDO,
PARCIALMENTE, O RELATOR, QUE NEGAVA PROVIMENTO AO
RECURSO, DE OFÍCIO.

Belo Horizonte, 06 de abril de 2004.

DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

A SRª. PRESIDENTA (DESª. JANE SILVA):

O julgamento deste feito, após rejeitada preliminar, foi adiado na


Sessão do dia 23.03.04, a pedido do Primeiro Vogal, depois de
votar o Relator, negando provimento aos dois recursos.

Com a palavra o Des. Paulo Cézar Dias.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

VOTO

Trata a espécie de recurso, de ofício, oferecido pelo MM. Juiz da


Comarca de Juiz de Fora, e recurso voluntário interposto pelo
Ministério Público, contra a sentença que absolveu sumariamente a
acusada, Bianca Arcadna dos Santos, do crime de homicídio
qualificado (art. 121, § 2º, incs. III e IV, c/c artigos 14, inc. II, e
61, inc. II, letra "e", do CP), ao entendimento de ter ela agido
acobertada pela causa supra-legal da inexigibilidade de conduta
diversa.

Rejeitada a preliminar, o eminente Relator negava provimento aos


recursos, quando pedi vista dos autos, para maior reflexão da
matéria posta a julgamento.

No mérito, a meu sentir, não há como se manter o decreto


absolutório, a despeito dos motivos invocados na r. sentença de
primeiro grau.

Relata a denúncia que, na madrugada do dia 30 de novembro de


2.000, a denunciada, em trabalho de parto, saiu de casa, "às
escondidas", dirigindo-se para um loteamento, situado no Bairro,
no qual reside, onde deu a luz a uma criança, do sexo feminino,
que viria a receber o nome de Wilma Elisa dos Santos.

Consta da referida peça, que a denunciada não cortou o cordão


umbilical e, ainda, envolveu a criança em um pano, que foi
amarrado com três nós, abafando sua respiração, abandonando-a
dentro de uma vala, deixando a seguir o local, como se nada
tivesse acontecido.

A autoria e a materialidade encontram-se devidamente


comprovadas, a primeira, pelo exame de corpo delito de fl. 32, e a
segunda, pela confissão da vítima (fls. 13/14 e 50/53), corroborada
pela prova testemunhal produzida, notadamente os depoimentos
de fls. 26/27, 86 e 98.

Há dois aspectos controversos no recurso, o primeiro diz respeito à


causa supra legal da inexigibilidade de conduta diversa, invocada
para absolver a acusada.

Inicialmente, cumpre ressaltar que, consoante a teoria normativa


adotada pelo Código Penal, a culpabilidade consiste em um juízo de
reprovação ao autor de determinado fato, por agir em desacordo
com a norma, tendo como elementos a imputabilidade, a potencial
consciência da ilicitude e a exigibilidade de conduta diversa.

Assim sendo, em face das circunstâncias do caso concreto, todas


as vezes em que não se puder exigir do sujeito outro
comportamento além do cometido, excluída estaria a culpabilidade,
e, portanto, a punição do fato.

Nesse sentido, merece destaque a lição de Aníbal Bruno, segundo o


qual:

"A estrutura do conceito de culpabilidade completa-se com o


elemento da exigibilidade de comportamento de acordo com a
ordem jurídica, isto é, da possibilidade de motivação normal da
vontade do agente, em conseqüência da normalidade das
circunstâncias concomitantes do fato. O sujeito pode ter
capacidade de entender e querer relevante para o Direito, pode ser
um imputável, pode haver transgredido o preceito contido na
norma, por imprudência, negligência ou imperícia, ou por vontade
consciente dirigida no sentido desse resultado contrário à norma,
por imprudência, negligência ou imperícia, ou por vontade
consciente dirigida no sentido desse resultado contrário à norma;
ainda assim não estão reunidos os elementos bastantes para
suportar o juízo de reprovação em que a culpabilidade consiste. É
necessário ainda que, nas circunstâncias, seja exigível do agente
uma conduta diversa; que a situação total em que o proceder
punível se desenvolve não exclua a exigência do comportamento
conforme ao Direito, que se pode humanamente reclamar de todo
homem normal em condições normais. O comportamento conforme
ao Direito não pode ser exigido de maneira absoluta, mas tem de
condicionar-se ao poder do sujeito, físico ou moral, de acordo com
a situação total do momento. O juízo de culpabilidade pelo fato
punível pressupõe que o agente devia e podia agir de maneira
diversa" (Direito Penal, Parte Geral, 1967, t. II,p. 97/98).

Embora não se possa negar a admissibilidade, no direito brasileiro,


da tese da inexigibilidade de conduta diversa como causa supra
legal, apesar da divergência existente, seu reconhecimento, a meu
ver, deve-se ater a casos específicos e comprovados, de modo a
evitar embaraço e incerteza em relação à aplicação da lei penal.

Na espécie, à primeira vista, a situação fática relatada nos autos


não comporta o reconhecimento da aludida causa de exclusão da
culpabilidade.

Interrogada, a acusada declarou que não queria ficar com o filho


por sentir medo de criá-lo sozinha, haja vista que não trabalhava,
nem tinha o apoio do pai da criança. Alega que sua genitora só
tomou conhecimento da sua gravidez uma semana antes do parto,
e que não recebeu de bom grado a notícia, brigando muito com a
declarante, dizendo que a colocaria para fora de casa.

A mãe da acusada, às fls. 38/39, informa, por sua vez, que a


presente gestação não foi a primeira de Bianca, que, da primeira
vez, perdeu o bebê. Alega que sequer sabia do seu estado atual de
gravidez, e que, em nenhum momento, chegou a censurá-la por tal
motivo.

Nota-se, assim, que não houve uma pressão grande por parte dos
familiares, e que as circunstâncias que antecederam o crime são
inerentes ao próprio delito praticado e, por si só, não conduzem ao
acolhimento da exculpante, já que o infanticídio é inegavelmente
um delito social, praticado na quase totalidade dos casos por mães
solteiras e mulheres abandonadas, via de regra, na mesma
situação da vítima.

Por outro lado, o estado de pobreza da vítima também não pode


ser admitido como fator de justificativa de exclusão da
culpabilidade, pois situações idênticas, ou ainda piores, são
vivenciadas por outras tantas pessoas, por força da situação
calamitosa por que passa o país, mas que não se propuseram à
prática de crimes, caso contrário, bastaria alguém alegar uma
situação de dificuldade para ser absolvido.

Relativamente ao quadro de suspeita sobre a higidez mental da


acusada, em face da divergência havida no laudo pericial, se
comprovado, deveria conduzir a um outro desfecho, e não a
simples isenção da pena.

Aliás, "exigibilidade e inexigibilidade não são, no seio do juízo de


culpabilidade, conceitos simétricos. Não é em todo caso que falte
exigibilidade que irá se falar em inexigibilidade. Ao inimputável ou
àquele que lhe falta a significação antijurídica de sua conduta não
se pode exigir o comportamento de acordo com o comando ou o
dever-ser normativo. Entretanto, nem o primeiro e tampouco o
segundo atuam amparados pela inexigibilidade. No primeiro falta a
capacidade de culpabilidade; no segundo, o dolo" (in
Inexigibilidade de Conduta Diversa, Marco Antônio R. Nahum, Ed.
Revista dos Tribunais, 2001, p. 72).

Como se sabe, sendo os crimes contra a vida de competência do


Tribunal do Júri, conforme dispõe o art. 5º, XXXVIII, da
Constituição Federal, somente quando houver circunstância que
exclua o crime ou isente de pena o réu poderá o juiz absolver,
sumariamente, o acusado, sendo certo que a prova, nessas
hipóteses, tem que se apresentar estreme de qualquer dúvida.

E como se vê, a prova até agora produzida não permite concluir,


sem que haja a mínima dúvida, a ocorrência da alegada
exculpante.

Nessas condições, a absolvição sumária se fez precocemente,


sendo mais prudente que seja a acusada submetida a julgamento
pelo Tribunal Popular, juiz natural dos crimes dolosos contra a vida.

O segundo aspecto controverso do recurso, diz respeito à


classificação do crime.

Verifica-se da descrição contida na exordial acusatória e ratificada


pela prova nos autos produzida, pelas circunstâncias do crime,
após o parto, e principalmente, pelo atestado médico de fl. 19, que
conclui estar a paciente, à época, sob influência do estado
puerperal, que a conduta da acusada não configurou o delito de
homicídio, mas, sim, o de tentativa de infanticídio, previsto no art.
123 do CP.

Na realidade, o infanticídio não deixa de ser um homicídio,


praticado pela progenitora, após o nascimento do filho, ainda sob
os traumas do parto, ou seja, em circunstâncias especiais, ao qual
o Código Penal comina pena menor que a do homicídio privilegiado,
por entender o legislador se tratar de fato menos grave.

O infanticídio está elencado entre os delitos contra a vida, sendo,


de igual modo, a competência do Júri para o seu julgamento.

Nessas condições, pedindo vênia ao eminente Relator, dou


provimento ao recurso, de ofício, para, desclassificando a
imputação, pronunciar a acusada nas disposições do art. 123, c/c
art. 14, inc. II, ambos do Código Penal, determinando que seja ela
submetida a julgamento pelo Tribunal do Júri, julgando por
prejudicado o recurso interposto pelo Ministério Público.

Custas a final.

A SRª. DESª. JANE SILVA:

Acompanho, integralmente, o voto do eminente Primeiro Vogal.

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

Srª. Presidenta, pela ordem.

Gostaria de retificar o meu voto, no que concerne ao recurso do


Ministério Público para, como o Primeiro Vogal, também julgá-lo
prejudicado.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO AO RECURSO, DE OFÍCIO, E


JULGARAM PREJUDICADO O DO M.P., VENCIDO, PARCIALMENTE, O
RELATOR, QUE NEGAVA PROVIMENTO AO RECURSO, DE OFÍCIO.

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª


Câmara

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Número do processo: 1.0019.03.900006-2/001(1)


Relator: ERONY DA SILVA
Relator do
ERONY DA SILVA
Acordão:
Data do acordão: 06/04/2004
Data da
28/05/2004
publicação:
Inteiro Teor:
EMENTA: Fixação de pena. Personalidade do agente e conduta
social. Antecedentes. Tentativa. O fato de o agente ter o hábito de
embriagar-se não pode ser considerado circunstância judicial a ele
desfavorável, sob pena de afronta ao princípio constitucional da
legalidade, já que não pode haver pena sem lei prévia. Meras
acusações sejam na fase inquisitorial ou judicial, não podem ser
consideradas maus antecedentes em desfavor do réu, em respeito
ao princípio constitucional da presunção da não culpabilidade. Na
tentativa de homicídio, o fato de o tiro ter atingido a vítima já é
suficiente para que a redução da pena, em virtude da tentativa não
se dê na forma mais benéfica ao réu. Provimento parcial.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0019.03.900006-2/001 -


COMARCA DE ALPINÓPOLIS - APELANTE(S): MINISTÉRIO PÚBLICO
ESTADO MINAS GERAIS - APELADO(S): ANTÔNIO LOURENÇO
ROSA - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM DAR PROVIMENTO
PARCIAL.

Belo Horizonte, 06 de abril de 2004.

DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na


comarca de Alpinópolis, Antônio Lourenço Rosa, como incurso nas
sanções do art. 121, §2º, IV, c/c art.14, II, do CP, por ter, em 9 de
dezembro de 2001, por volta das 13h30m, tentado matar a vítima
Sebastião Ribeiro de Souza.

O Tribunal do Júri considerou o réu culpado, conforme Termo de


Votação de Quesitos a fls.120 e segs. e o MM. Juiz presidente, em
sentença a fls.122 e segs., condenou-lhe a 2 (dois) anos e 8 (oito)
meses de reclusão em regime aberto.

Inconformado, apelou o Ministério Público, apresentando suas


razões a fls.130 e segs., nas quais pugna pela majoração da pena.

As contra-razões ministeriais a fls.140 e segs. são pela


manutenção da sentença guerreada.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer a fls.151 e


segs., manifestou-se pelo conhecimento e provimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua


admissibilidade.

Sem razão, o Ministério Público.

O fato de o réu ter o hábito de embriagar-se, pode até ser uma


atitude moralmente condenável, mas o Direito há tempos já não se
confunde com moral ou religião, devendo o magistrado limitar-se a
condenar o réu por condutas expressamente tipificadas na lei
penal.

Impor uma majoração em sua reprimenda pelo hábito que tem de


embriagar-se, equivaleria a condená-lo pelo uso de álcool em
flagrante afronta ao princípio constitucional da legalidade.

Por outro lado, o réu não foi denunciado por lesões corporais em
continuidade delitiva e, portanto, sua pena não pode ser majorada
pelo fato de "sempre que bebia, batia em Maria Rosa".

Ainda que a lesão corporal seja tipificada na lei penal, deve o réu
defender-se dos fatos narrados na denúncia, não podendo ser
condenado ou mesmo ter sua pena aumentada por uma
circunstância pela qual não foi acusado.

A esse respeito Túlio Vianna comenta:

"Ao condenar o réu a um ano de prisão com base em alguns fatos


absolutamente atípicos sob o argumento de ser uma "conduta
social imprópria" ou "personalidade deturpada", nada mais estará
fazendo do que desprezar completamente um dos mais tradicionais
princípios de Direito Penal. Ofenderá também o princípio do devido
processo legal, pois se o indivíduo foi acusado de roubar um banco,
irá defender- se deste fato tão-somente e não de supostas lesões
corporais à esposa e tráfico de drogas alegado pelas testemunhas.
O aumento da pena com base em supostos crimes que mesmo que
provados nos autos não foram objeto de processo para apurá-lo é
absolutamente inconstitucional, pois em última análise configura
em condenação sem o devido processo legal." (VIANNA, Túlio Lima.
Pena - Fixação: roteiro didático. Revista Síntese de direito penal e
processual penal, Porto Alegre, a.4, v.19, p. 54-61, abril/maio de
2003.)

Por outro lado, a certidão a fl.23 indica tão- somente que o réu já
foi acusado por porte ilegal de arma, sendo beneficiado com a
suspensão condicional do processo, o que nem de longe é
suficiente para desfazer a presunção constitucional de inocência.

Vale lembrar o art.5º, LVII, da Constituição Federal:

"Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de


sentença penal condenatória"
Impossível, pois, considerar, de qualquer forma, meras acusações
em desfavor do réu, pois é a própria Constituição Federal que
presume sua não culpabilidade e, conseqüentemente, devemos
esperar sua absolvição e não a sua condenação.

Mantenho, pois, a pena-base no mínimo legal.

Em relação à redução da pena face à tentativa, razão assiste ao


Ministério Público.

É que, o critério a ser levado em conta para a determinação do


quantum da diminuição é, efetivamente, a proporção inversa do
iter criminis percorrido.

Assim, ainda que as lesões não tenham gerado efetivo risco de


morte, é certo que o disparo acertou a vítima, o que, por si só,
indica que o agente percorreu grande parte do iter criminis.

A minoração da pena, no entanto, não deve se dar no seu mínimo


legal, pois tais hipóteses são reservadas a casos em que a vítima
fique em estado de coma ou tenha efetivo risco de morte.

Pelo exposto, reduzo a pena aplicada, a fl.123, em 8 (oito) anos,


tão-somente em 1/2 (um meio), concretizando-a em 4 (quatro)
anos de reclusão em regime aberto.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

VOTO

De acordo.

A SRª. DESª. JANE SILVA:

VOTO

De acordo.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO PARCIAL.


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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª


Câmara

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Número do processo: 1.0000.03.404549-2/001(1)


Relator: ERONY DA SILVA
Relator do
ERONY DA SILVA
Acordão:
Data do acordão: 30/03/2004
Data da
05/05/2004
publicação:
Inteiro Teor:
EMENTA: Crimes hediondos. Progressão de regime.
Admissibilidade. Em respeito ao princípio constitucional da
individualização das penas, é perfeitamente possível a progressão
de regime, mesmo nos crimes rotulados pela lei 8.072/90 como
hediondos. Recurso ministerial desprovido.

RECURSO DE AGRAVO Nº 1.0000.03.404549-2/001 - COMARCA DE


JUIZ DE FORA - RECORRENTE(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO
MINAS GERAIS, PJ COMARCA DE JUIZ DE FORA - RECORRIDO(S):
MURILO GOUVEA DA SILVA - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY
DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM NEGAR
PROVIMENTO.

Belo Horizonte, 30 de março de 2004.


DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

Trata-se de agravo interposto pelo Ministério Público do Estado de


Minas Gerais contra a decisão a fls.13 e segs. que deferiu a
progressão de regime, do fechado para o semi-aberto, pleiteada
pelo sentenciado, Murilo Gouvea da Silva.

As contra-razões da defesa a fls.47 e segs. são pelo desprovimento


do recurso.

Em juízo de retratação, a fls.49 e segs., o MM. juiz monocrático


manteve a decisão guerreada por seus próprios fundamentos.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer a fls.55 e segs.,


manifestou-se pelo conhecimento e provimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua


admissibilidade.

Rogata maxima venia aos entendimentos em contrário, mantenho


meu posicionamento de que a progressão de regime é
perfeitamente admissível, mesmo nos crimes rotulados pela Lei
8.072/90 como hediondos.

É que, a Constituição Federal de 1988 consagrou o princípio da


individualização da pena, pelo qual cabe ao legislativo cominar
parâmetros mínimos e máximos de pena em abstrato, que deverão
ser fixados, no caso concreto, pelo judiciário.

Assim, ao estabelecer o regime integralmente fechado para todo e


qualquer crime hediondo, o legislador excedeu a sua competência,
pois não cominou parâmetros, mas fixou pena.

Pelo exposto, coerente com meus posicionamentos anteriores,


nego provimento ao agravo, mantendo, na íntegra, a muito bem
fundamentada sentença monocrática.
É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

VOTO

De acordo.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

VOTO

De acordo.

SÚMULA : NEGARAM PROVIMENTO.

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Número do processo: 1.0024.01.094047-6/001(1)


Relator: ERONY DA SILVA
Relator do
ERONY DA SILVA
Acordão:
Data do acordão: 09/03/2004
Data da
06/04/2004
publicação:
Inteiro Teor:
EMENTA: Homicídio. Recurso que dificultou a defesa da vítima.
Colegas de cela. Não caracteriza a qualificadora do recurso que
dificultou a defesa da vítima o fato de o agente ter sido morto por
seu companheiro de cela, não podendo assim empreender fuga. O
fato de encontrar-se preso não foi criado pelo agente, o que
descaracteriza a ação ardilosa típica da qualificadora. Recurso a
que se dá provimento parcial.

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO Nº 1.0024.01.094047-6/001 -


COMARCA DE BELO HORIZONTE - RECORRENTE(S): GIOVANNI
JOSÉ DA SILVA - RECORRIDO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO
MINAS GERAIS, PJ COMARCA BELO HORIZONTE - RELATOR: EXMO.
SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM DAR PROVIMENTO
PARCIAL.
Belo Horizonte, 09 de março de 2004.

DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

Trata-se de Recurso em Sentido Estrito interposto por Giovanni


José da Silva, inconformado com a sentença, às fls.294 e segs. que
o pronunciou nas sanções do art. 121, §2º, II e IV, ambos do CP,
por ter, em 12 de julho de 2001, por volta das 0h40m, no interior
da cela nº 09, da Delegacia de Crimes Contra o Patrimônio, matado
a vítima, Márcio Pereira dos Santos.

As contra-razões, às fls.332 e segs., são pela manutenção da


sentença guerreada.

Em juízo de retratação, às fls.337, a decisão foi mantida por seus


próprios fundamentos.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer, às fls.341 e


segs., manifestou-se pelo parcial provimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua


admissibilidade.

A defesa insurge-se tão-somente em relação às qualificadoras.

Não há propriamente, na hipótese dos autos, a utilização de


"recurso que dificulta ou impossibilita a defesa da vítima".

O fato de a vítima encontrar-se presa juntamente com seus


agressores, certamente dificultou a sua defesa, mas não foi uma
situação criada pelos réus, para a prática do delito.

Assim, tal circunstância não caracteriza o ardil que a mens legis do


art.121, §2º, IV, do CP pune com maior rigor.

Decoto, pois, essa qualificadora.


Quanto ao motivo fútil, razão não assiste à defesa.

Há uma significativa desproporção entre a subtração de dois pães e


a execução da vítima, o que, em tese, caracteriza o motivo fútil.

Não há, pois, nessa fase processual, como decotar essa


qualificadora, pois somente o Tribunal do Júri poderá decidir sobre
a futilidade ou não da motivação do agente.

Pelo exposto, dou provimento parcial, tão-somente para decotar da


sentença de pronúncia a qualificadora do art. 121, §2º, IV, do CP.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

VOTO

De acordo.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

VOTO

De acordo.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO PARCIAL.

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Número do processo: 1.0686.01.030398-6/001(1)


Relator: ERONY DA SILVA
Relator do
ERONY DA SILVA
Acordão:
Data do acordão: 02/03/2004
Data da
30/03/2004
publicação:
Inteiro Teor:
EMENTA: Júri. Nulidade. Parcialidade do juiz. É absolutamente nulo
o interrogatório do réu em plenário do Tribunal do Júri em que o
juiz presidente indaga ¿se no meio dessa mentirada toda o que é
verdade?' Tal manifestação, por sua parcialidade, não é condizente
com a figura do Juiz-presidente e certamente influencia o ânimo
dos jurados.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0686.01.030398-6/001 -


COMARCA DE TEÓFILO OTÔNI - APELANTE(S): JOSÉ GERALDO
PEREIRA GOMES - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO
MINAS GERAIS, PJ 1ª V CR COMARCA TEÓFILO OTÔNI - RELATOR:
EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM ACOLHER
PRELIMINAR E ANULAR O JULGAMENTO DO APELANTE.

Belo Horizonte, 02 de março de 2004.


DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na


comarca de Teófilo Otoni, José Geraldo Pereira Gomes como
incurso nas sanções do art. 121, §2º, II do CP, por ter, em 23 de
setembro de 2001, por volta das 18h, matado a vítima Maria de
Lourdes Mendes Ribeiro.

O Tribunal do Júri considerou o réu culpado conforme Termo de


Votação de Quesitos a fls.199 e segs. e a MMª. Juíza presidente,
em sentença a fls.203/204, condenou-lhe a 12 (doze) anos de
reclusão em regime integralmente fechado.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões a fls.210


e segs., nas quais pugna pela nulidade do processo pela
parcialidade manifestada pela MMª. Juíza, no interrogatório em
plenário, e pela nulidade verificada pela contradição entre as
respostas dadas aos quesitos da série da legítima defesa e da
qualificadora do motivo fútil. No mérito, requer o culto Defensor
Público a cassação da decisão por manifestamente contrária à
prova dos autos.

As contra-razões ministeriais a fls.219 e segs. são pelo acolhimento


da preliminar e, no mérito, pelo improvimento do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer a fls.230 e


segs., manifestou-se pelo acolhimento das preliminares e, no
mérito, pelo desprovimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua


admissibilidade.

Preliminar de parcialidade da MMa. Juíza:

Assiste inteira razão à defesa.


Ficou evidente a parcialidade da MMa Juíza, que encontra-se
documentada e assinada a fl. 198, TJ:

"... que perguntado se no meio desse mentirada toda o que é


verdade respondeu que tudo que respondeu aqui é verdade; (sic)"

Esse simples trecho do interrogatório já é mais do que suficiente


para se anular o júri por manifesta parcialidade da julgadora.

Não se pode admitir que, um juiz, que preside um júri, manifeste-


se de forma tão desrespeitosa para com o réu, até porque,
evidentemente, estará influenciando na convicção dos jurados.

A nulidade é visível e remete-nos a era dos julgamentos


inquisitoriais, nos quais a figura do magistrado confundia- se com a
do acusador.

No Estado Democrático de Direito consagrado pela Constituição de


1988, não há espaço para tamanho desrespeito com o acusado
que, antes de tudo, é um cidadão a quem a Constituição presume
inocente.

Pelo exposto, sem maiores delongas, acolho a preliminar e anulo o


júri, com base no art.564, I, do CP.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

VOTO

De acordo.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

VOTO

De acordo.

SÚMULA : ACOLHERAM PRELIMINAR E ANULARAM O JULGAMENTO


DO APELANTE.
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Número do processo: 1.0216.99.005787-1/001(1)


Relator: ERONY DA SILVA
Relator do
ERONY DA SILVA
Acordão:
Data do acordão: 10/02/2004
Data da
23/03/2004
publicação:
Inteiro Teor:
EMENTA: Uso de documento falso. Erro de tipo. Age em erro de
tipo aquele que apresenta documento falso à autoridade policial,
julgando tratar-se de documento legítimo adquirido por meio de
corrupção de funcionário público do órgão de trânsito competente.
Recurso provido.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0216.99.005787-1/001 -


COMARCA DE DIAMANTINA - APELANTE(S): VALENTIM CÂNDIDO
SOARES DE OLIVEIRA - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO
ESTADO MINAS GERAIS, PJ 1ª SECRETARIA JUÍZO COMARCA
DIAMANTINA - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, EM DAR PROVIMENTO O RELATOR E O
REVISOR, VENCIDO O VOGAL.

Belo Horizonte, 10 de fevereiro de 2004.


DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

O julgamento deste feito foi adiado na sessão do dia 03.02.2004, a


meu pedido, após votarem Relator e Revisor dando provimento.

O meu voto é o seguinte:

Pedi vista dos autos para um melhor exame dos fundamentos do


recurso e cheguei à conclusão de que improcede o inconformismo
do apelante, ao contrário do que pensam os ilustres Relator e
Revisor.

As provas de sua culpabilidade foram bem examinadas e, diante


delas, a condenação era mesmo de rigor.

O alegado desconhecimento pelo réu da falsidade do documento


não procede. Quem, como ele, que já havia tentado na sua cidade
obter Carteira de Habilitação regularmente, ou seja, através do
DETRAN, como afirmou, e a adquire, posteriormente, em uma
auto- escola, sabe de sua inautenticidade. Obviamente, o apelante
não é exceção à regra. Não se trata de pessoa bisonha ao ponto de
supor que pode se habilitar em auto-escola, local destinado apenas
aos treinamentos, como é do conhecimento de todos.

Disse o apelante que chegou em Itapevi, cidade do Estado de São


Paulo, compareceu em uma auto-escola, onde realizou os exames
médico, psicotécnico, legislação e de direção, recebendo, alguns
dias depois a CNH, da mesma pessoa que o havia levado à referida
cidade, um tal de Lúcio, residente na localidade de Pedra Menina,
município de Rio Vermelho/MG.

Portanto, não há como falar-se em ausência de dolo. Conforme


ensina DELMANTO, "o elemento subjetivo é o dolo genérico, que
consiste na vontade do uso e no conhecimento da falsidade", sendo
que "a dúvida sobre esta não exclui o dolo." (Direito Penal, 12ª ed.,
1980, vol. 4, pág. 166).

As penas aplicadas desmerecem qualquer censura, tendo o MM.


Juiz analisado percucientemente as circunstâncias judiciais do art.
59, do CP, não havendo, nesse ponto, também, qualquer
modificação a se operar.

Pelo exposto, pedindo vênia ao eminente Des. Relator, que se fez


acompanhar pelo Revisor, nego provimento ao recurso.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO O RELATOR E O REVISOR,


VENCIDO O VOGAL.

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª


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Número do processo: 1.0479.00.010481-6/001(1)


Relator: ERONY DA SILVA
Relator do
ERONY DA SILVA
Acordão:
Data do acordão: 17/02/2004
Data da
17/03/2004
publicação:
Inteiro Teor:
EMENTA: Prestação pecuniária. Incapacidade econômica. O valor
da pena de prestação pecuniária não pode exceder o valor recebido
mensalmente pelo réu, pois ninguém pode ser obrigado ao
impossível.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0479.00.010481-6/001 -


COMARCA DE PASSOS - APELANTE(S): JORGE DAHER NETO -
APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ 1ª
CR PREC EXEC COMARCA PASSOS - RELATOR: EXMO. SR. DES.
ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM REJEITAR
PRELIMINARES E, NO MÉRITO, DAR PROVIMENTO.

Belo Horizonte, 17 de fevereiro de 2004.


DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na


comarca de Passos, Jorge Daher Neto como incurso nas sanções do
art.16 da Lei 6368/76 e art.10 da Lei 9437/97 e art.10, §1º, III, da
Lei 9437/97, por ter sido flagrado, em 28 de março de 2000, no
período da manhã, trazendo consigo droga ilegal e portando um
revólver, ambos sem qualquer autorização legal. Consta ainda que
o acusado teria efetuado disparos com a arma em via pública.

A sentença monocrática às fls.71 e segs. absolveu-o das acusações


do art.10, §1º, III, da Lei 9437/97, condenando-o nos demais
crimes pelo qual fora denunciado a uma pena total de 1(um) ano e
6 (seis) meses de detenção e ao pagamento de 30 (trinta) dias-
multa com valor unitário mínimo.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às fls.88


e segs., nas quais pugna, em preliminar, pela nulidade da decisão
e, no mérito, pela minoração das reprimendas aplicadas.

As contra-razões ministeriais às fls.93 e segs. são pelo provimento


parcial do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às fls.101 e


segs., manifestou-se pelo conhecimento do recurso, rejeição das
preliminares e improvimento do apelo.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua


admissibilidade.

Preliminar de nulidade do feito por indeferimento da suspensão


condicional do processo:

A suspensão condicional do processo não era possível no presente


caso, pois a soma das penas mínimas cominadas aos delitos
superava o limite de 1 (um) ano.
Neste sentido a súmula 243 do STJ:

"O benefício da suspensão condicional do processo não é aplicável


em relação às infrações penais cometidas em concurso material,
concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima
cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante,
ultrapassar o limite de 1 (um) ano."

Rejeito, pois, a primeira preliminar.

Preliminar de incompetência do magistrado monocrático:

A lei 10.409/02 define em seus arts.37 e segs. procedimento


especial para os crimes relativos a substâncias entorpecentes, o
que foge ao rito e à competência dos juizados especiais criminais.

Neste sentido tem entendido o TJMG:

"A lei 10.259/2001 não alterou a competência da Justiça comum


para processamento do crime de uso de drogas ilícitas, nos termos
dsa Leis 6.368/76 e 10.409/2002. A competência para julgamento
é da Justiça comum, pois a Lei 10.409 de 2002 prevê procedimento
incompatível com os princípios informadores dos Juizados Especiais
Criminais" TJMG - CN 329.944-3 - Relatora Des. Jane Silva.

Rejeito, pois, a segunda preliminar.

Mérito:

No mérito, assiste inteira razão ao apelante.

Ninguém pode ser obrigado ao impossível e é impossível exigir-se o


pagamento de 2 salários mínimos a quem tinha um salário mensal
a época dos fatos inferior a este valor.

Destarte, converto sua pena em prestação de serviços à


comunidade em entidade a ser designada pelo juízo da execução.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:


VOTO

De acordo.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

VOTO

De acordo.

SÚMULA : REJEITARAM PRELIMINARES E, NO MÉRITO, DERAM


PROVIMENTO.

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª


Câmara

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Número do processo: 1.0000.00.350265-5/000(1)


Relator: ERONY DA SILVA
Relator do
ERONY DA SILVA
Acordão:
Data do acordão: 10/02/2004
Data da
10/03/2004
publicação:
Inteiro Teor:
EMENTA: Agravo. Progressão de regime. Falta de vagas. Prisão
domiciliar. Se a ninguém é lícito alegar sua própria torpeza, não
pode, "mutatis mutandis", o Estado alegar sua própria ineficiência
em construir estabelecimentos prisionais para manter sentenciado
em regime mais severo do que aquele que tem direito. Não
existindo vagas em casas de albergados, solução outra não há
senão a concessão de prisão domiciliar.

RECURSO DE AGRAVO Nº 1.0000.00.350265-5/000 - COMARCA DE


CARMO DO RIO CLARO - RECORRENTE(S): MINISTÉRIO PÚBLICO
ESTADO MINAS GERAIS, PJ COMARCA CARMO DO RIO CLARO -
RECORRIDO(S): CLÁUDIO ANTÔNIO DA SILVA - RELATOR: EXMO.
SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, EM NEGAR PROVIMENTO, VENCIDO O VOGAL.

Belo Horizonte, 10 de fevereiro de 2004.


DES. ERONY DA SILVA - Relator>>>

03/02/2004

TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL

ADIADO

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

RECURSO DE AGRAVO Nº 1.0000.00.350265-5/000 - COMARCA DE


CARMO DO RIO CLARO - RECORRENTE(S): MINISTÉRIO PÚBLICO
ESTADO MINAS GERAIS, PJ COMARCA CARMO DO RIO CLARO -
RECORRIDO(S): CLÁUDIO ANTÔNIO DA SILVA - RELATOR: EXMO.
SR. DES. ERONY DA SILVA

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

Trata-se de agravo interposto pelo Ministério Público do Estado de


Minas Gerais contra a decisão à fl. 47 - TJ, que concedeu ao
agravado o direito de cumprir pena em regime de prisão domiciliar,
na ausência de vagas para seu cumprimento em regime aberto.

Em juízo de retratação, à fl. 14, a decisão agravada foi mantida por


seus próprios fundamentos.

As contra-razões da defesa às fls.15 e segs. são pelo


desprovimento do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às fls.25 e


segs., manifestou-se pelo conhecimento e provimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua


admissibilidade.

Dentre os requisitos objetivos para a concessão da progressão de


regime constantes no art.112 da Lei de Execução Penal não há
qualquer referência expressa ou implícita à existência de vaga no
regime menos severo.

Não pode o magistrado em sede de execução penal criar um novo


requisito objetivo para a concessão da progressão de regime: a
existência de vaga.

Tudo o que se deve observar para a concessão da progressão de


regime é tão-somente o cumprimento pelo condenado de ao menos
um sexto da pena e seu mérito que deverá ser subjetivamente
analisado. Nada mais.

Condicionar a progressão de regime à existência de vaga é afrontar


o princípio constitucional da legalidade, criando por via
jurisprudencial, novo requisito objetivo à progressão de regime,
jamais concebido pelo legislador.

As normas penais devem ser interpretadas restritivamente, como


toda e qualquer norma que restringe direitos fundamentais da
pessoa humana.

Assim, na ausência de vaga para o cumprimento da pena em


regime aberto, não pode o sentenciado ter seus direitos lesados
pela simples ineficácia do Estado em gerir seu sistema de
segurança pública.

Há um velho brocardo jurídico que afirma que: nemo auditur


propriam turpitudinem allegans, ou em bom português: ninguém
pode alegar sua própria torpeza.

Mutatis mutandis, não pode o Estado alegar sua própria ineficiência


para restringir os direitos dos seus cidadãos.

Assim já decidiu o STJ:

"Se o Estado, que condena o acusado a cumprir pena prevista na


lei, não tem local adequado para que ela seja cumprida nos termos
da decisão que, por seu agente, entendeu de lavrar, não é possível
manter o sentenciado em condições prisionais que extrapolem
aquelas estritamente descritas na sentença. Recurso provido, para
que o acusado cumpra a pena, excepcionalmente, em regime
aberto ou, na falta de casa de albergado, em regime domiciliar, até
que o Juízo das Execuções assegure vaga em estabelecimento
adequado" (STJ, RHC 9.289-SP, 5ª T., rel. Edson Vidigal,
07.12.1999, v.u., DJ 21.02.2000, p.141).

Pelo exposto, nego provimento ao recurso ministerial.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

De acordo.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

Peço vista.

SÚMULA: O RELATOR E 1º VOGAL NEGAM PROVIMENTO. PEDIU


VISTA O 2º VOGAL.

>>>

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

O julgamento deste feito foi adiado na sessão do dia 03/02/2004, a


meu pedido, após votarem o Relator e o Primeiro Vogal negando
provimento.

O meu voto é o seguinte:

Pedi vista destes autos na sessão anterior para um melhor exame


dos fundamentos do recurso e pude observar que o recorrente
argüiu, em sede prefacial, a nulidade da decisão que concedeu ao
recorrido o benefício da prisão domiciliar sem a oitiva prévia do
representante do Ministério Público e tanto o Des. Relator quanto o
1º Vogal, por um lapso, deixaram de examinar tal questão, o que o
faço agora.

Realmente, dispõe o art. 67, da Lei de Execuções Penais, que cabe


ao Ministério Público fiscalizar a execução da pena e diante disso, é
intuitivo que deva opinar previamente às decisões, sob pena de
nulidade das mesmas.
Analisando o dispositivo à luz da ação fiscalizadora da Promotoria
de Justiça, orienta Mirabete - "Execução Penal", Ed. Atlas, 1987,
pág. 217 - que "não sendo dada oportunidade de manifestação ao
Ministério Público, ocorrerá nulidade, salvo as hipóteses previstas
expressamente no Código de Processo Penal (arts. 563, 565 e
566). Devido à imperiosa necessidade da fiscalização da lei, a
declaração de nulidade independe de demonstração de prejuízo
para o Ministério Público".

E a necessidade da intervenção ministerial vem expressa na


jurisprudência pois "estranho que, em processo de execução penal,
seja afastada a participação do Ministério Público ... mormente
para atingir certas decisões como as pertinentes aos regimes de
pena" (RC n. 415.277 do TACSP, retalho de parecer, in "Execução
Penal" de Ada Pelegrini Grinover, ed. Max Limonad, ano 1987, pág.
33).

No presente caso, todavia, não há como acolher a presente


nulidade pois, tendo sido pessimamente instruído o feito, torna-se
impossível comprovar aqui e agora se foi ou não ouvido
previamente o representante do Ministério Público, sobre o pedido
do condenado, ora recorrido.

Diante disso, rejeito a preliminar invocada.

No mérito, cheguei à conclusão de que o Promotor de Justiça está


inteiramente com a razão, ao contrário do que pensam os ilustres
Relator e 1º Vogal.

Conforme já tive a oportunidade de me manifestar em diversos


processos semelhantes a este, somente pode ser beneficiado com a
prisão domiciliar aquele sentenciado cuja situação se enquadrar em
uma das hipóteses previstas no art. 117, da Lei de Execuções
Penais, ou seja, quando for maior de 70 anos; estiver acometido de
doença grave; tratar-se de condenada com filho menor ou
deficiente físico ou mental; ou condenada gestante.

Fora dessas situações, estritamente definidas no mencionado


dispositivo, e nas quais o agravado não se enquadra, não é
possível conceder o benefício, ainda que a comarca não disponha
ou não exista vaga em casa de albergado.
Aliás, a respeito do tema, o Pretório Excelso já teve a oportunidade
de se manifestar, concluindo que:

"... a impossibilidade material de o Estado instituir casa de


albergado não autoriza o Poder Judiciário a conceder a prisão-
albergue domiciliar fora das hipóteses contempladas, em caráter
estrito, no art. 117, da LEP." (Pleno do STF, HC 68.118-2-SP, Rel.
Celso de Melo, DJU 25.02.1994).

Esta Terceira Câmara Criminal, no julgamento do "habeas corpus"


nº 290.587-5/00, sendo Relatora a Desª. Jane Silva, decidiu:

"Habeas Corpus" - Regime Aberto - Inexistência de vaga em Casa


de Albergado - Prisão Domiciliar - Impossibilidade -
Constrangimento ilegal - Não- configuração - A inexistência de
vaga em Casa de Albergado não autoriza o Poder Judiciário a
conceder a prisão-albergue domiciliar fora das estritas hipóteses do
art. 117 da LEP - Inexistindo casa de albergado, deve o réu
cumprir sua pena no estabelecimento onde se encontra, no regime
a que faz jus, recolhendo-se a cela separada das demais
destinadas a regime diverso, sem que isso implique em
constrangimento ilegal - Ordem Denegada."

No caso, as regras do regime aberto podem perfeitamente ser


observadas. Na cadeia pública da comarca, conforme se constata
do documento de f.13, há cela destinada àqueles que cumprem
pena em regime aberto, existindo duas vagas na mesma, como
informou o Delegado de Polícia. Deixar o condenado em sua
residência particular, sem qualquer controle ou fiscalização por
parte do Estado, realmente significa total impunidade pelo crime
praticado.

Portanto, o sentenciado deve recolher-se à cadeia pública à noite e


nos finais de semana e feriados, conforme regras do regime aberto,
em cela destinada aos condenados que cumprem a sua pena
naquele regime.

Pelo exposto, dou provimento ao recurso ministerial, nos termos


deste voto.

SÚMULA : NEGARAM PROVIMENTO, VENCIDO O VOGAL.


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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª


Câmara

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Número do processo: 1.0000.00.351038-5/000(1)


Relator: ERONY DA SILVA
Relator do
ERONY DA SILVA
Acordão:
Data do acordão: 03/02/2004
Data da
02/03/2004
publicação:
Inteiro Teor:
EMENTA: Lesão corporal seguida de morte. Ausência de provas. A
lesão corporal seguida de morte é crime preterdoloso e, como tal,
exige prova incontroversa da existência de uma lesão dolosa e de
um homicídio culposo decorrente desta lesão. Havendo prova de
que a lesão se deu em legítima defesa e o resultado morte não era
previsível e muito menos desejado a absolvição se impõe.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0000.00.351038-5/000 -


COMARCA DE ESTRELA DO SUL - APELANTE(S): KEILA ADRIANA
BARCELOS, FÁTIMA MARIA VIEIRA BARCELOS - APELADO(S):
MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ COM. ESTRELA
DO SUL - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM DAR PROVIMENTO
AO RECURSO PARA ABSOLVER AS APELANTES.

Belo Horizonte, 03 de fevereiro de 2004.


DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na


comarca de Estrela do Sul, Keila Adriana Barcelos e Fátima Maria
Vieira Barcelos como incursas nas sanções do art.129, §3º, do CP,
por terem, em 26 de fevereiro de 2000, por volta das 20h30,
agredido a vítima Terezinha Pereira Gama, provocando-lhe lesões
que foram causa de sua morte.

A sentença monocrática às fls.116 e segs. julgou procedente a


denúncia e condenou ambas as rés a 4 (quatro) anos de reclusão
em regime aberto.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às


fls.127 e segs., nas quais pugna pela absolvição.

As contra-razões ministeriais às fls.142 e segs. são pela


manutenção da sentença com a concessão da substituição da pena.

As contra-razões do assistente da acusação às fls.150 e segs. são


pelo desprovimento do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às fls.160 e


segs., manifestou-se pelo conhecimento e improvimento do
recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua


admissibilidade.

Rogata maxima venia, entendo que a prova dos autos é


demasiadamente frágil para fundamentar uma condenação por
crime tão grave.

A lesão corporal seguida de morte é crime preterdoloso e, como


tal, exige para a sua configuração dolo no antecedente (lesões) e
culpa no conseqüente (morte).

No caso dos autos, ainda que se admitisse uma condenação por


lesões corporais, certamente estas jamais poderiam ser
qualificadas pelo resultado morte, pois não seria previsível que da
queda da vítima, originasse o traumatismo craniano que causaria
sua morte.

As provas aqui constantes, no entanto, levam à conclusão de que a


acusada Keila, agindo em legítima defesa de patrimônio próprio e
da integridade física alheia, utilizou-se moderadamente dos meios
necessários de que dispunha para repelir a agressão injusta que a
vítima praticava em seu estabelecimento.

As provas de um eventual excesso na legítima defesa são


absolutamente frágeis e se resumem basicamente nas declarações
da testemunha presencial Benita Oliveira dos Reis, amiga da
vítima.

Todos os demais depoimentos testemunhais constantes dos autos


levam à conclusão diametralmente oposta e não podem ser
simplesmente desprezados.

Sebastião Arismar Lopes afirmou à fl.14 na fase policial:

"notou que Keila estava puxando uma conhecida sua e, quando


chegou na área do bar deu um empurrão na sua conhecida de
nome Terezinha, vindo esta a cair na rua. O depoente chegou até
onde estava Terezinha caída e a levantou e, em seguida a levou
até a sua casa"

João Manoel Balduino afirmou em juízo à fl.58:

"que percebeu que a vítima Terezinha chegou caindo, pois estava


bêbada; que a Keila retirou a vítima Terezinha para fora do bar,
quando o chinelo desta virou, vindo a cair sentada do lado de fora
da área, no cascalho; que em momento algum a vítima foi
empurrada por Keila e nem por Fátima"

Por fim, a prova de que a acusada Fátima teria concorrido de


qualquer forma para o resultado morte é simplesmente nula, pois
sua suposta participação na agressão só teria se dado após a
queda da vítima ao solo, o que exclui qualquer nexo de causalidade
no resultado morte.

Diante do exposto e por absoluta ausência de provas, solução outra


não há no presente caso senão dar provimento ao recurso da
defesa para absolver ambas as acusadas nos precisos termos do
art.386, VI, do CPP.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

Do estudo que fiz, Sr. Presidente, cheguei à mesma conclusão do


culto Relator. Não vejo prova suficiente para a condenação, razão
pela qual dou provimento ao recurso.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

De acordo com o Relator.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO AO RECURSO PARA ABSOLVER AS


APELANTES.

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª


Câmara

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Número do processo: 1.0000.03.401368-0/001(1)


Relator: ERONY DA SILVA
Relator do
ERONY DA SILVA
Acordão:
Data do acordão: 09/12/2003
Data da
11/02/2004
publicação:
Inteiro Teor:
EMENTA: Agravo. Progressão de regime. Homicídio qualificado -
privilegiado. O homicídio qualificado-privilegiado não se encontra
no rol dos crimes definidos como hediondos e, por uma
interpretação restritiva, não se pode considerá-lo como tal, pelo
simples fato de o homicídio qualificado assim ser taxado.

RECURSO DE AGRAVO Nº 1.0000.03.401368-0/001 - COMARCA DE


GOVERNADOR VALADARES - RECORRENTE(S): MINISTÉRIO
PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ V EXEC CR COMARCA
GOVERNADOR VALADARES - RECORRIDO(S): FLÁVIO BATISTA DA
SILVA - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM NEGAR
PROVIMENTO.

Belo Horizonte, 09 de dezembro de 2003.


DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

Trata-se de Agravo interposto pelo Ministério Público do Estado de


Minas Gerais contra a decisão às fls.7 e segs. que concedeu
progressão de regime ao sentenciado Flávio Batista da Silva.

As contra-razões da defesa as fls.13 e segs. são pelo


desprovimento do recurso.

Em juízo de retratação às fls.41 e segs. a MMª. Juíza a quo


manteve a decisão guerreada por seus próprios fundamentos.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às fls.45 e


segs., manifestou-se pelo conhecimento e não-provimento do
recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua


admissibilidade.

Sem razão o agravante.

O acórdão às fls.26/29 é expresso ao definir como inicialmente


fechado o regime de cumprimento de pena em relação às
condenações por estupro e atentado violento ao pudor.

Quanto ao crime de homicídio qualificado- privilegiado pelo qual foi


condenado (art.121, §2º, III, c/c §1º do CP), não há falar em
crime hediondo, por absoluta ausência de previsão legal.

É que a Lei 8.072/90, em seu art.1º, I, só faz referência ao


homicídio qualificado, nada mencionando quando o homicídio for
qualificado e privilegiado ao mesmo tempo.

Duas, então, são as interpretações possíveis na omissão da lei: 1)


o homicídio qualificado-privilegiado é hediondo, pois a qualificadora
se sobrepõe ao privilégio ou 2) o homicídio qualificado- privilegiado
não é hediondo, pois o privilégio se sobrepõe à qualificadora.

Como é sabido, as normas que restringem direitos e impõem


obrigações devem ser interpretadas restritivamente.

Assim, solução outra não há senão interpretar a hipótese da forma


mais benéfica ao réu, considerando o homicídio qualificado-
privilegiado como não sendo hediondo e, portanto, perfeitamente
possível, em tese, a progressão de regime.

É o entendimento jurisprudencial majoritário:

"Por incompatibilidade axiológica e por falta de previsão legal, o


homicídio qualificado-privilegiado não integra o rol dos
denominados crimes hediondos" (STJ - RSTJ 122/428)

Diante do exposto, sem maiores delongas, nego provimento ao


recurso ministerial.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

VOTO

De acordo.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

VOTO

De acordo.

SÚMULA : NEGARAM PROVIMENTO.

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Câmara

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Número do processo: 1.0024.01.055021-8/001(1)


Relator: ERONY DA SILVA
Relator do
ERONY DA SILVA
Acordão:
Data do acordão: 02/12/2003
Data da
04/02/2004
publicação:
Inteiro Teor:
EMENTA: Atentado violento ao pudor. Desclassificação.
Importunação ofensiva ao pudor. O beijo roubado e toques lascivos
superficiais não são suficientes para caracterizar o delito de
atentado violento ao pudor que, por sua essência, deve assemelhar-
se em gravidade ao crime de estupro. A desclassificação para a
contravenção de "importunação ofensiva a pudor" é a única solução
possível em casos em que há um efetivo atentado ao pudor que,
porém, não se reveste do grau de violência análogo ao existente no
crime de estupro. Provimento parcial.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0024.01.055021-8/001 -


COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE(S): ALEX GERTRUDES
CARDOSO - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS
GERAIS, PJ 9ª V CR COMARCA BELO HORIZONTE - RELATOR:
EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM DAR PROVIMENTO
PARCIAL.

Belo Horizonte, 02 de dezembro de 2003.

DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. PRESIDENTE (DES. KELSEN CARNEIRO):

O julgamento deste feito foi adiado na sessão do dia 25/11/03, a


meu pedido, após votarem Relator e Revisor dando provimento
parcial.

Meu VOTO é o seguinte:

Na sessão passada pedi vista dos autos para um melhor exame e,


depois de fazê-lo com atenção, cheguei a mesma conclusão do
ilustre Relator, Des. Erony da Silva, que se fez acompanhado pelo
em. Revisor, Des. Paulo Cézar Dias.

No presente caso, no mínimo dúvida existe se a ação do acusado,


beijando furtivamente a ofendida e passando a mão
superficialmente sobre o seu corpo, tinha como escopo a satisfação
da lascívia.

Ora, se não ficou claramente demonstrada a intenção libidinosa, a


desclassificação realmente se impunha, inclusive, porque a
jurisprudência tem considerado atos como os praticados pelo réu
como simples importunação ao pudor, como se observa do julgado
cuja ementa se transcreve abaixo:

"O beijo roubado, assim como o toque superficial e fugaz, por


sobre as vestes, nos seios de uma mulher, não caracterizam a
prática de ato libidinoso diverso da conjunção carnal e sim a
conduta indecorosa de importunação ofensiva ao pudor" (RT
727/577).

Com essas considerações, também dou provimento parcial ao


recurso, nos termos do voto do Relator, Des. Erony da Silva.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO PARCIAL.


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Câmara

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Número do processo: 1.0153.02.015883-5/001(1)


Relator: ERONY DA SILVA
Relator do
PAULO CÉZAR DIAS
Acordão:
Data do acordão: 25/11/2003
Data da
13/12/2003
publicação:
Inteiro Teor:
EMENTA: Tráfico de drogas - Substituição de pena - O art. 44 do
CP, com a nova redação que lhe foi dada pela Lei nº 9.714/98, não
se aplica ao crime de tráfico ilícito de entorpecentes, e de resto a
todos os delitos considerados hediondos.

V.V.

Tráfico de drogas. Substituição da pena. Possibilidade. O regime


inicial de cumprimento de pena é instituto de natureza jurídica
absolutamente diversa da pena substitutiva. Assim, é
perfeitamente possível a substituição da pena corporal, mesmo nos
crimes rotulados de hediondos em que há a previsão do regime
integralmente fechado, pois não há qualquer vedação legal à
substituição da pena e esta não pode ser criada pelo Poder
Judiciário a partir de uma analogia "in malam partem". Provimento
parcial.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0153.02.015883-5/001 -


COMARCA DE CATAGUASES - APELANTE(S): RODRIGO MONTEIRO
DE SOUZA - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS
GERAIS, PJ 1ª V CR COMARCA CATAGUASES - RELATOR: EXMO.
SR. DES. ERONY DA SILVA - RELATOR PARA O ACÓRDÃO: EXMO
SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, EM DAR PROVIMENTO PARCIAL, VENCIDO O
VOGAL QUE, AO APELO, NEGA PROVIMENTO, PREVALECENDO, NO
CASO, O VOTO MÉDIO PROFERIDO PELO REVISOR.

Belo Horizonte, 25 de novembro de 2003.

DES. PAULO CÉZAR DIAS - Relator para o acórdão.

DES. ERONY DA SILVA - Relator vencido.NOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na


comarca de Cataguases, Rodrigo Monteiro de Souza como incurso
nas sanções do art.12, caput, da Lei 6.368/76, por ter, em 31 de
dezembro de 2001, por volta das 15h, sido preso trazendo consigo
59,5g (cinqüenta e nove gramas e meio) de cannabis sativa Lineu,
destinada ao comércio ilícito.

A sentença monocrática às fls.55 e segs. julgou procedente a


denúncia e condenou o réu a 3 (três) anos de reclusão em regime
integralmente fechado e ao pagamento de 50 (cinqüenta) dias-
multa com valor unitário mínimo.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às fls.65


e segs., nas quais pugna pela desclassificação para o art.16 da
mesma lei.

As contra-razões ministeriais às fls.69 e segs. são pelo


desprovimento do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às fls.77 e


segs., manifestou-se pelo conhecimento e improvimento do
recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua


admissibilidade.

A materialidade e a autoria delitivas estão sobejamente


comprovadas nos autos.

A desclassificação para o delito do art.16 da Lei 6.368/76 não


encontra respaldo no conjunto probatório.

O apelante narrou em seu interrogatório a fls.7 que:

"por volta das 9h, estando trabalhando, linha Bairro São Vicente/
Bairro Leonardo, um elemento estranho, estando no ônibus, lhe
ofereceu certa quantidade de maconha, lhe pedindo cem reais,
entretanto o declarante ofereceu oitenta reais e este aceitou, lhe
passando a droga e o declarante pago no ato em dinheiro; que o
declarante deixou o serviço às 14h, foi até em casa, trocou de
roupas e saiu com a intenção de fumar maconha"

Não é crível que, se a droga fosse destinada meramente a uso


próprio, o declarante saísse com sua totalidade sem tomar o
cuidado de deixar a maior parte dela guardada em local seguro na
sua residência.

Por outro lado, também é bastante suspeito que um cobrador de


ônibus gaste R$80,00 (oitenta reais) em maconha para uso
próprio, pois comprometeria parte significativa de seu salário.

Aliado a isto, os policiais capturaram o apelante com base em uma


"denúncia anônima" de que havia alguém traficando drogas
naquele local.

Pelo exposto, não tenho dúvidas de que, de fato, o acusado estava


comercializando a droga, razão pela qual mantenho a tipificação
dada em primeira instância.

Mantenho ainda o quantum da pena arbitrado em primeira


instância no mínimo legal, alterando, no entanto, o regime de
cumprimento inicial da pena para inicialmente fechado, por
entender que a Constituição Federal admite a possibilidade da
progressão de regime mesmo nos crimes hediondos.

A este respeito já se decidiu que:

"PENA - REGIME DE CUMPRIMENTO - CRIMES HEDIONDOS. A


progressividade no regime de cumprimento da pena, ainda que se
tratte dos denominados crimes hediondos, não conflita com a
Constituição Federal. Impertinência do recurso extraordinário
interposto pelo Ministério Público como fiscal da lei, no que
concedido o habeas corpus pelo Superior Tribunal de Justiça,
possibilitando a referida progressão.(Recurso extraordinário
261.766-1 - Relator Ministro Marco Aurélio. Publicado no DJU de
17.08.2001)."

Por fim, não constatei nos autos nenhum impedimento à


substituição da pena corporal do réu por restritiva de direitos.

Trata-se de réu primário, de bons antecedentes que traficava droga


de baixa potencialidade ofensiva (maconha).

Por outro lado, não há qualquer vedação legal à substituição da


pena, mesmo na Lei dos Crimes Hediondos que se limita a
determinar o regime integralmente fechado, sendo omissa quanto
à possibilidade da substituição da pena por restritiva de direitos.

Vale lembrar que a natureza jurídica do regime de cumprimento de


pena é absolutamente diversa da pena substitutiva.

O regime deve ser sempre fixado independentemente da


substituição da pena, pois em caso do descumprimento da pena
restritiva de direito esta se converte em privativa de liberdade e já
se deverá ter estabelecido previamente o regime de seu
cumprimento.

Assim, a discussão quanto ao regime integralmente fechado é


absolutamente independente da possibilidade ou não de se
substituir a pena.

É bem possível que o legislador desejasse com a Lei dos Crimes


Hediondos manter o réu preso durante todo o período de
cumprimento de sua pena, vedando-lhe inclusive a substituição da
pena.

Concessa venia, no entanto, não foi isso que foi positivado em


nosso ordenamento jurídico. Não é isto que está escrito na lei, que
se limita a vedar a progressão de regime, sendo absolutamente
omissa quanto a uma eventual substituição da pena.

Como em nosso ordenamento jurídico vigora o princípio da


legalidade e não se pode aplicar analogia in malam partem em
matéria penal, impossível seria negar a substituição da pena ao
argumento de que o regime é integralmente fechado, pois estar-se-
ia tratando institutos de natureza jurídica absolutamente diversa
(regime e penas substitutivas) como análogos, o que é vedado
constitucionalmente.

Portanto, sem maiores digressões, substituo-lhe a pena corporal


por duas restritivas de direitos a saber:

1. Prestação pecuniária de um salário mínimo a ser destinada a


entidade assistencial de tratamento de usuários de drogas;

2. Prestação de serviços a comunidade em entidade a ser


designada oportunamente pelo juiz da execução.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

VOTO

Apenas discordo do douto Relator no que se refere a sua conclusão


a respeito da substituição da pena privativa de liberdade.

No meu entendimento, o artigo 44 do Código Penal, com a nova


redação que lhe foi dada pela Lei nº 9.714/98, não se aplica ao
crime de tráfico ilícito de entorpecentes, e de resto a todos os
delitos considerados hediondos.

Inicialmente, deve-se destacar que a Constituição Federal conferiu


tratamento mais rigoroso ao crime de tráfico, a ponto de não
permitir certos favores, como a graça, fiança, indulto, e a liberdade
provisória, justamente por entender o legislador que, diante no
maior potencial ofensivo desses crimes, somente a restrição total
da liberdade se apresenta suficiente à sua reprovação e prevenção.

Igualmente, não se deve olvidar que a Lei Antitóxicos, bem como a


Lei dos Delitos Hediondos, são especiais em relação à Lei 9.714/98,
e, no confronto entre elas, devem prevalecer as duas primeiras,
pois têm ambas uma sistemática própria no que pertine à
cominação legal de penas, incompatível com o benefício introduzido
no art. 44 do CP.

Nesse sentido, também, a jurisprudência dos Tribunais Superiores


vem se manifestando pela impossibilidade de substituição da pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos aos crimes
considerados hediondos, como se vê do seguinte aresto,
proveniente do STJ:

"PENAL - CRIME HEDIONDO - TRÁFICO DE ENTORPECENTES -


SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR
RESTRITIVA DE DIREITOS - APLICAÇÃO DO ART. 44 E SEGUINTES
DO CÓDIGO PENAL (LEI Nº 9.714/98) - IMPOSSIBILIDADE - 1. A
lei nº 9.714/98 introduzindo modificações nos arts. 44 e seguintes
do Código Penal, no que tange à substituição da pena privativa de
liberdade por restritiva de direitos, não se aplica aos crimes
hediondos que têm regulação específica, daí porque o condenado
por tráfico (art. 12, da Lei nº 6.368/76), não tem direito ao
benefício. Precedentes do STF e desta Corte. 2. Recurso conhecido
em parte". (RESP 341615 - MG - 6a. T. - Rel. Min. Fernando
Gonçalves - DJU 25.03.2002).

Com essas considerações, dou parcial provimento ao recurso tão-


somente para alterar o regime de cumprimento da pena para o
inicialmente fechado.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

Discordo, data venia, dos eminentes Relator e Revisor, no que diz


respeito à progressão do regime prisional do apelante. Tenho
sempre, aqui, repetido que, tratando-se de crime hediondo, como é
o tráfico de entorpecentes, de acordo com a Lei 8072/90, não é
possível a progressão.

Discordo, também, agora do eminente Des. Relator com relação à


substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de
direito.

Resumindo, nego provimento ao recuso.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO PARCIAL, VENCIDO O VOGAL QUE,


AO APELO, NEGA PROVIMENTO, PREVALECENDO, NO CASO, O
VOTO MÉDIO PROFERIDO PELO REVISOR.

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Câmara

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Número do processo: 1.0024.02.733495-2/001(1)


Relator: ERONY DA SILVA
Relator do
PAULO CÉZAR DIAS
Acordão:
Data do acordão: 18/11/2003
Data da
13/12/2003
publicação:
Inteiro Teor:
EMENTA: Tráfico de drogas - Substituição de pena - O art. 44 do
CP, com a nova redação que lhe foi dada pela Lei nº 9.714/98, não
se aplica ao crime de tráfico ilícito de entorpecentes, e de resto a
todos os delitos considerados hediondos.

V.V.

Lei Antitóxicos. Art. 12. Absolvição por ausência de comprovação


da autoria. Impossibilidade. Conjunto probatório que demonstra a
prática mercantil ilícita realizada pelo apelante. Pena. Substituição
por medidas restritivas de direitos. Cabimento. Inexistência de
óbice legal. Conveniência da outorga do benefício. Requisitos
subjetivos e objetivos preenchidos pelo réu. Regime prisional.
Alteração para inicial fechado. Necessidade. Recurso parcialmente
provido. O crime hediondo não é óbice a que, presentes os
requisitos legais, seja o condenado beneficiado pela substituição da
pena prevista no art. 44, do Código Penal.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0024.02.733495-2/001 -


COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE(S): JOSÉ RODRIGUES
DOS SANTOS - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO
MINAS GERAIS, PJ 3ª V TÓXICOS COMARCA BELO HORIZONTE -
RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA - RELATOR PARA O
ACÓRDÃO: EXMO SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, EM DAR PROVIMENTO PARCIAL, O RELATOR E
O REVISOR, VENCIDO O RELATOR EM PARTE, ENQUANTO O VOGAL
NEGA PROVIMENTO, PREVALECENDO O VOTO MÉDIO, PROFERIDO
PELO REVISOR.

Belo Horizonte, 18 de novembro de 2003.

DES. PAULO CÉZAR DIAS - Relator para o acórdão.

DES. ERONY DA SILVA - Relator vencido.NOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

Na 3ª Vara de Tóxicos da Capital, José Rodrigues dos Santos, vulgo


"Botijão" e Paulo Augusto Pereira França, já qualificados, foram
denunciados, respectivamente, nas penas dos artigos 12 e 16 da
Lei Antitóxicos, porque no dia 25 de maio de 2002, por volta das
11:45h, policiais militares, averiguando denúncia anônima de
comércio de drogas clandestino na Rua Gama, nº.62, onde residia
o primeiro, dirigiram-se até o local e encontraram, dentro de um
armário, 17 (dezessete) pedras de "crack" e dois invólucros de
maconha, destinados à prática mercantil, sendo que dentro da
"mochila" do segundo ainda foi apreendida outra pequena porção
de maconha, cuja finalidade seria o uso próprio.

O processo foi desmembrado em relação ao acusado Paulo França,


conforme consta do termo de audiência de f.53.

Ao final, julgando procedente a denúncia, o MM. Juiz incursou José


Rodrigues dos Santos no art. 12 da Lei Antitóxicos, condenando-lhe
à pena mínima - 03 (três) anos de reclusão, no regime
integralmente fechado, e ao pagamento de 50 (cinqüenta) dias-
multa, no valor unitário mínimo.
Irresignado, o réu interpôs recurso, e nas razões de f.127/128
pugnou pela absolvição, forte na exculpação de incomprovação da
autoria. Alternativamente, pretende a desclassificação para o tipo
menos gravoso e, ainda, a substituição da pena corporal por
medidas restritivas de direitos, bem como a modificação do regime
prisional para o inicial fechado.

As contra-razões de f.131/137 abraçam as conclusões da sentença.

A douta Procuradoria de Justiça, em parecer de f.141/143, opina


pelo não provimento.

No essencial, é o relatório.

Presentes os pressupostos da admissibilidade, sendo o recurso


próprio e tempestivo, dele conheço.

A materialidade está positivada no auto de apreensão de f.21,


laudo de constatação de f.16 e laudo toxicológico definitivo de f.63.

A autoria, ao contrário do alegado, restou sobejamente


comprovada.

Exsurge dos autos que, na data dos fatos, uma guarnição policial
foi designada pelo Copom para averiguar denúncia anônima sobre
tráfico de drogas praticado pelos indivíduos alcunhados
"Saramandaia" e "Botijão", na R. Gama, nº.62, bairro Bonfim.

Ao chegarem no local, os militares encontraram o apelante que, ao


ser indagado, confessou o comércio ilícito, mostrando-lhes um
armário, onde, dentro de uma gaveta, estavam acomodadas 17
(dezessete) pedras de "crack" e 02 (dois) invólucros de maconha.

Ouvido na fase extrajudicial, ainda no embrasamento dos fatos,


José Rodrigues foi detalhista: "...esclarece o declarante que não
reside no local dos fatos, mas que lá comparece uma ou duas
vezes por semana e permanece nessa casa fazendo faxina, mas, de
vez em quando, na ausência da "Sara", quando chega alguém para
comprar droga, faz a venda, uma vez que a "Sara" lhe deixa ciente
do local onde as substâncias ficam guardadas e quando vende
alguma droga recebe uma "micharia", ou seja, gratificação"; (f.08).
Em juízo, retratou-se das alegações iniciais, dizendo: "...que não
confirma as declarações prestadas perante a autoridade policial
lidas neste ato; que as declarações que teriam sido prestadas pelo
declarante, na verdade, teriam sido ditas pelos policiais militares,
portanto não confirma;" (f.82).

A retratação judicial restou escoteira nos autos, pois a prova


testemunhal o incrimina.

O policial Marco Túlio Germano, à f.95, declara: "...que no dia dos


fatos, tal seja, 25.05.02, por volta das 11:45 horas o depoente
para lá se dirigiu juntamente com outros policiais e lá chegando
foram recebidos pelo acusado José Rodrigues dos Santos,
conhecido na região por "Bujão", o qual confessou que realmente
estava comercializando drogas naquele local... (...); que debaixo
do tapete, junto a uma janela, foi encontrada uma importância de R
$90,50, que o próprio "Bujão" disse que era produto de venda de
drogas; que "Bujão" disse ainda que vendia as drogas para o
travesti cognominado "Saramandaia", o qual não foi identificado
nem localizado;".

O depoimento supra merece ser amplamente recebido,


especialmente porque não há indícios de má-fé ou abuso de poder,
mesmo porque o miliciano sequer conhecia o acusado antes dos
fatos.

A prova testemunhal obtida por relatos policiais não se desclassifica


tão-só em razão da peculiar condição profissional dos depoentes,
na suposição de que tendem a demonstrar a validade do trabalho
realizado; é preciso evidenciar que tenham interesse particular na
investigação, o que não é o caso dos autos.

Ademais, além de não conseguir provar qualquer ameaça ou


pressão sofrida na Delegacia para confessar o crime, José
Rodrigues reconheceu, como sua, a assinatura lançada no auto de
prisão em flagrante.

Não restam dúvidas que o apelante, embora não tenha sido


flagrado em ato explícito de venda de drogas, dedicava-se ao
tráfico, fazendo as vezes de "Saramandaia" quando este estava
ausente.

Nesse contexto, não se tem como albergar a tese desclassificatória,


até porque, na Polícia, o apelante foi taxativo: "...não é usuário de
drogas."

A incidência exclusiva do art. 16, que comina pena mais branda, só


é admissível quando totalmente descartada a possibilidade de que
o guardar, o adquirir ou trazer consigo possa vir a ser destinado a
um fim que não o uso próprio.

Destarte, a incursão no art. 12 da Lei Antitóxicos era mesmo de


rigor.

A pena está correta, mas, a meu aviso, merece ser substituída.

A despeito da natureza hedionda do delito cometido, reputo


necessária a outorga do benefício.

Com efeito.

Preenchidos os requisitos legais objetivos e subjetivos, previstos no


art. 44 do Código Penal, com as alterações trazidas pela Lei
9.714/98, nenhum impedimento há para que a reprimenda
corporal, no caso do crime de tráfico, seja substituída.

A alegação de ser delito hediondo não convence, já que a


legislação pertinente não fez qualquer restrição neste sentido,
sendo incabível ao intérprete fazê-la.

Esse entendimento, inclusive, está afinado com a conclusão de que


a Lei 8.072/90 não veda a concessão do sursis. Ora, se é cabível a
suspensão da execução da pena em sede de crime hediondo, que
também é medida penal sancionatória alternativa, afigurar-se-ia
contraditório vedar a substituição da pena, desde que obedecidos
os demais requisitos reclamados.

Obviamente que a aplicação das penas substitutivas não pode ser


feita de forma indiscriminada, pois não se pode olvidar, como
mencionado, os requisitos subjetivos.

Cabe, portanto, ao julgador valorar o réu e a conduta criminosa,


verificando a conveniência e oportunidade da substituição da pena
prisional por restritiva de direito, para fins de prevenção e
repressão do crime.
No caso destes autos, trata-se de réu primário, de bons
antecedentes, sem qualquer registro de passagens anteriores no
mundo da traficância (vide certidão de f.93), e que, certamente,
era usado como instrumento do travesti conhecido por
"Saramandaia", verdadeiro proprietário da residência onde a droga
foi encontrada.

Aliás, ao ser submetido a exame de sanidade mental, o qual


concluiu pela sua imputabilidade, o apelante declarou-se
homossexual, fato que reforça ainda mais a conclusão de que
"Saramandaia" sobre ele exercia certa influência.

O apelante não pode ser tratado como um verdadeiro traficante,


que vive desse pernicioso negócio, buscando o lucro financeiro,
sem qualquer pudor, na luta da sobrevivência diária.

Destarte, com fulcro no art. 44, §2º, substituo a pena privativa de


liberdade por duas medidas restritivas de direito, a saber,
prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas,
conforme definido pelo Juiz da execução, e limitação de fim de
semana, observado o que dispõe o art. 48 do Código Penal.

Desse modo, excepcionalmente, observadas as circunstâncias de


cada caso, como ocorre na presente apelação, tenho adotado o
entendimento de que é possível a substituição da pena privativa de
liberdade por restritivas de direitos.

Ademais, socorro-me das lições do Prof. Francisco de Assis Toledo


que, junto com outros juristas, publicou excelente monografia a
respeito do tema, in verbis:

"Assim, continuam excluídos da possibilidade de aplicação de pena


alternativa, os seguintes crimes hediondos ou equiparados:

a) o homicídio, qualificado ou não, por se tratar de crime de ação


violenta e por ter pena mínima superior a quatro anos;

b) a extorsão, em suas variadas formas, devido à violência ou


grave ameaça e, ainda, em certas hipóteses, pela elevação da pena
mínima acima do limite de quatro anos;

c) o estupro e o atentado violento ao pudor, pelas razões da letra


"a";

d) a epidemia, com ou sem resultado morte, por ter pena mínima


acima do limite;

e) o genocídio, nas modalidades do art. 1º, letras "a" e "c", da Lei


2.889/56, pela pena mínima superior ao limite e, nos demais
casos, se houver violência ou grave ameaça;

f) a tortura (Lei 9.455/97) e o terrorismo, por serem crimes


praticados mediante violência ou grave ameaça.

45. Restou, portanto, fora desse rol de proibição o tráfico ilícito de


entorpecentes e drogas afins, em suas várias modalidades (Lei
6.368/76), já que, em todas elas a pena mínima cominada não
ultrapassa quatro anos (mesmo com a causa de aumento do art.
18)."

E continua:

"O fato de que o tráfico "passou a ser tratado com extremo rigor
desde o advento da Constituição de 1988"não constitui argumento
suficiente para invalidar a opção do legislador.

Ao contrário, esse tratamento rigoroso tem estimulado excessos de


certos promotores e de alguns juízes que não percebem, ou não
distinguem convenientemente, a fronteira entre a doença do vício e
a ganância do tráfico, capitulando e condenando por tráfico
portadores de vício, a penas elevadas.

47. Como a zona fronteiriça entre o vício e o tráfico nem sempre é


muito nítida, a possibilidade de aplicaçãio aos casos ocorrentes da
pena substitutiva é uma boa solução, permitindo a correção ou a
atenuação daqueles excessos.

48. Para os traficantes, exploradores do vício, verdadeiros


mentores e responsáveis por essa praga que aflige a sociedade
deste fim de século, não haverá certamente pena alternativa, seja
pela normal elevação da pena concretizada, na sentença, acima do
limite de quatro anos, seja pelas exigências do requisito do inciso
III do art. 44, que eles, sem dúvida alguma, não preencherão, ante
os motivos que os impelem e as circunstâncias que não os
recomendam." (Penas Restritivas de Direitos, RT, ed. 1999, pp.
146/147).

Por derradeiro, o regime prisional também está a merecer


reparação.

É certo que os crimes etiquetados ou assemelhados à hediondos


submetem-se aos ditames da Lei 8.072/90, que menciona em seu
artigo 2º, §1º, ser obrigatório o cumprimento da pena, por delito
previsto como hediondo, integralmente em regime fechado.

Venho sustentando que a imposição de regime integralmente


fechado implica em determinação de pena cruel, pois retira do
condenado o estímulo e a esperança necessários para o
cumprimento das reprimendas impostas, o que foi reprimido pelo
legislador constituinte, ao estabelecer o princípio da humanidade
das penas.

Lado outro, a questão há de ser interpretada conforme o princípio


da individualização da pena contido na nossa Constituição Federal,
devendo, igualmente, serem individualizados os regimes prisionais,
que se fazem de forma progressiva.

Assim, modifico o regime prisional do apelante para o inicial


fechado, no qual deverá cumprir a pena privativa de liberdade se,
por algum motivo, houver a revogação do benefício da
substituição, de acordo com o §4º do art. 44 do C. Penal.

Do exposto, dou parcial provimento ao recurso para, mantida a


condenação e a pena aplicada, modificar o regime prisional para o
inicial fechado, bem como substituir a pena privativa de liberdade
por duas medidas restritivas de direitos, nos termos do art. 44 do
Código Penal.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

Apenas discordo do douto Relator no que se refere a sua conclusão


a respeito da substituição da pena privativa de liberdade.

No meu entendimento, o artigo 44 do Código Penal, com a nova


redação que lhe foi dada pela Lei nº 9.714/98, não se aplica ao
crime de tráfico ilícito de entorpecentes, e de resto a todos os
delitos considerados hediondos.
Inicialmente, deve-se destacar que a Constituição Federal conferiu
tratamento mais rigoroso ao crime de tráfico, a ponto de não
permitir certos favores, como a graça, fiança, indulto, e a liberdade
provisória, justamente por entender o legislador que, diante do
maior potencial ofensivo desse crimes, somente a restrição total da
liberdade se apresenta suficiente à sua reprovação e prevenção.

Igualmente, não se deve olvidar que a Lei Antitóxicos, bem como a


Lei dos Delitos Hediondos, são especiais em relação à Lei 9.714/98,
e, no confronto entre elas, devem prevalecer as duas primeiras,
pois têm ambas uma sistemática própria no que pertine à
cominação legal de penas, incompatível com o benefício introduzido
no art. 44 do CP.

Nesse sentido, também, a jurisprudência dos Tribunais Superiores


vem se manifestando pela impossibilidade de substituição da pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos aos crimes
considerados hediondos, como se vê do seguinte aresto,
proveniente do STJ:

"PENAL - CRIME HEDIONDO - TRÁFICO DE ENTORPECENTES -


SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR
RESTRITIVA DE DIREITOS - APLICAÇÃO DO ART. 44 E SEGUINTES
DO CÓDIGO PENAL (LEI Nº 9.714/98) - IMPOSSIBILIDADE - 1. A
lei nº 9.714/98 introduzindo modificações nos arts. 44 e seguintes
do Código Penal, no que tange à substituição da pena privativa de
liberdade por restritiva de direitos, não se aplica aos crimes
hediondos que têm regulação específica, daí porque o condenado
por tráfico (art. 12, da Lei nº 6.368/76), não tem direito ao
benefício. Precedentes do STF e desta Corte. 2. Recurso conhecido
em parte". (RESP 341615 - MG - 6a. T. - Rel. Min. Fernando
Gonçalves - DJU 25.03.2002).

Com essas considerações, dou provimento parcial ao apelo apenas


para fixar o regime inicialmente fechado para o cumprimento da
pena privativa de liberdade.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

Assim como o Des. Relator, também entendo não ser possível


acolher a pretensão do apelante de se ver absolvido. Tampouco a
de ter desclassificado para sua forma menos gravosa. A prova dos
autos é toda no sentido do cometimento do crime de tráfico de
entorpecentes.

Quanto ao regime imposto para o cumprimento da pena, pedindo


vênia ao eminente Desembargador Erony da Silva, também
concordo com o Juiz sentenciante.

Conforme já afirmei por reiteradas vezes, "a Lei dos Crimes


Hediondos (Lei nº 8.072/90) estabelece no seu art. 2º, parágrafo
primeiro, que os delitos nela arrolados, entre os quais o tráfico
ilícito de entorpecentes, no qual se viu o réu condenado, devem ser
punidos sob o rigor do regime integralmente fechado".

A matéria, que já foi objeto de divergência e questionamentos nos


tribunais, acha-se hoje pacificada nos superiores, inclusive, no
Excelso Pretório que, recentemente, editou a súmula nº 698 com o
seguinte enunciado:

"Não se estende aos demais crimes hediondos a admissibilidade de


progressão no regime de execução da pena aplicada ao crime de
tortura."

E se, conforme visto acima, a Lei dos Crimes Hediondos não admite
nem mesmo a progressão de regime, não há como aplicar aos
delitos nela elencados a substituição da pena privativa de liberdade
por restritiva de direitos, como pretende o réu , ora apelante.

Sobre a questão, assim orienta o STF:

"HABEAS CORPUS - TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES - LEI N.


6.368/76 - SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE
PELA RESTRITIVA DE DIREITOS (LEI N. 9.714/98) -
INAPLICABILIDADE.

1- O Preceito ínsito no art. 44 do Código Penal, com a redação


dada pela Lei n. 9.714/98, é regra geral, não podendo ser aplicado
à Lei n. 6.368/76, visto tratar-se de lei especial.

2- A pena privativa de liberdade por crime previsto na lei de


tóxicos, equiparável a crime hediondo, tem que ser cumprida
integralmente no regime fechado em face da Lei n. 8.072/90,
impossibilitando assim a sua conversão em pena restritiva de
direitos.
3 - Habeas Corpusindeferido."(SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, HC
79.567-RJ, Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA, 2ª TURMA, "DJU", DE
03/03/2000, pág. 62).

Por todo o exposto, pedindo vênia ao eminente Des. Relator, nego


provimento aos recursos.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO PARCIAL, O RELATOR E O


REVISOR, VENCIDO O RELATOR EM PARTE, ENQUANTO O VOGAL
NEGA PROVIMENTO, PREVALECENDO O VOTO MÉDIO, PROFERIDO
PELO REVISOR.

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª


Câmara

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Número do processo: 1.0000.00.327370-3/000(1)


Relator: ERONY DA SILVA
Relator do
ERONY DA SILVA
Acordão:
Data do acordão: 25/11/2003
Data da
13/12/2003
publicação:
Inteiro Teor:
EMENTA: Embriaguez ao volante. Prova. A simples confissão do
acusado de ter ingerido bebida alcoólica não é prova suficiente da
materialidade do delito do art.306 do CTB, pois dependendo da
quantidade e do lapso temporal entre a ingestão e os fatos, é
possível que os efeitos do álcool não mais persistam. Preliminar de
nulidade rejeitada. Provimento parcial.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0000.00.327370-3/000 -


COMARCA DE TIMÓTEO - APELANTE(S): VANDERLEI DOS SANTOS
- APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ
2ª V COMARCA TIMÓTEO - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA
SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, EM DAR PROVIMENTO PARCIAL, VENCIDO EM
PARTE, O RELATOR.

Belo Horizonte, 25 de novembro de 2003.


DES. ERONY DA SILVA - Relator>>>

18/11/2003

TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL

ADIADO

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0000.00.327370-3/000 -


COMARCA DE TIMÓTEO - APELANTE(S): VANDERLEI DOS SANTOS
- APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ
2ª V COMARCA TIMÓTEO - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA
SILVA

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na


comarca de Timóteo, Vanderlei dos Santos como incurso nas
sanções dos arts.303, 304 e 306 do CTB e art. 329 do CP, por ter,
em 4 de setembro de 1999, por volta das 14h40, conduzido seu
veículo na contra mão de direção, atingindo e lesionando a vítima
Felipe Cristian Ferreira Roques que trafegava de bicicleta.

Consta ainda da exordial acusatória que o réu estava embriagado e


se evadiu do local sem prestar o devido socorro à vítima e, ao ser
procurado pelo policial militar Romildo Santos Oliveira, opôs-se à
execução do ato legal, mediante ameaças à integridade física do
policial com o emprego de uma chave de fenda.

A sentença monocrática às f.124 e segs. julgou parcialmente


procedente a denúncia para condená-lo nas sanções dos arts.303,
parágrafo único, e 306 do CTB e 329 do CP, fixando-lhe a pena em
um total de 1 (um) ano e 5 (cinco) meses de detenção. A pena
corporal foi substituída por prestação de serviços a comunidade e
por prestação pecuniária.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às f.127


e segs., nas quais pugna, em preliminar, pela nulidade do feito e,
no mérito, pela absolvição em relação aos crimes dos arts.306 do
CTB e 329 do CP, com a redução da pena em relação ao delito do
art. 303 do CP.

As contra-razões ministeriais às f.132 e segs. são pelo


conhecimento e desprovimento do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f.146 e segs.,


manifestou-se pelo conhecimento e parcial provimento do recurso
da defesa.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua


admissibilidade.

Preliminar de nulidade processual:

Rejeito a preliminar da defesa, pois o inquérito foi instaurado para


apurar não só o crime de lesões corporais, mas também os demais
crimes que são objetos destes autos e são de ação penal pública
incondicionada.

Vale lembrar que, ainda que alguma nulidade houvesse no


inquérito, esta jamais seria causa de nulidade do processo, pois o
inquérito é mera peça informativa que, por si só não é suficiente
para fundamentar uma condenação criminal.

Os fatos se deram em 4 de setembro de 1999 e a representação foi


feita em 9 de dezembro de 1999 (fls 40), absolutamente dentro do
prazo legal.

Mérito:

A omissão de socorro ficou devidamente demonstrada nos autos,


pois era exigível do acusado, após dar causa ao acidente, que não
só parasse seu veículo, mas descesse e se certificasse
pessoalmente da necessidade ou não da prestação do socorro à
vítima, principalmente pelo fato de tratar-se de criança.

Mantenho, pois a qualificadora.


Em relação ao delito do art.306 do CTB, razão assiste à defesa,
pois não fiquei convencido da materialidade delitiva.

A confissão do acusado na fase inquisitorial não supre os exames


periciais, até porque ainda que de fato houvesse bebido, não se
sabe ao certo se de fato estaria embriagado.

Pelo exposto, absolvo o apelante das imputações do crime do


art.306 do CP.

Por fim, creio que a condenação pelo crime do art.329 do CP deve


prosperar.

É que há provas de que o acusado efetivamente tenha se oposto à


prisão com o uso de uma chave de fenda o que, por si só, já
caracteriza o delito do art.329 do CP.

Pelo exposto, dou parcial provimento, tão-somente para absolver o


apelante das imputações do art.306 do CP, reduzindo- lhe sua pena
total para 11 (onze) meses de detenção e substituindo-a tão
somente por uma pena restritiva de direitos consistente na
prestação pecuniária de dois salários mínimos à vítima Felipe
Cristian Ferreira Roques.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

Sr. Presidente.

Também, pelos mesmos motivos expostos no brilhante voto do


eminente Relator, absolvo o réu no tocante à embriaguez,
reduzindo-se a pena para 11 (onze meses) de detenção,
mantendo, no entanto, a substituição da pena privativa de
liberdade pela prestação de serviços gratuitos, nos exatos termos
ordenados pelo MM. Juiz sentenciante, excluindo-se a prestação
pecuniária.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

Peço vista dos autos.


SÚMULA: O RELATOR E O 1º VOGAL DERAM PROVIMENTO
PARCIAL, VENCIDO EM PARTE, O 1º VOGAL. PEDIU VISTA O 2º
VOGAL.

>>>

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. PRESIDENTE (DES. KELSEN CARNEIRO):

O julgamento deste feito foi adiado na sessão do dia 18.11.2003, a


meu pedido, após votarem o Relator e o Primeiro Vogal dando
provimento parcial, vencido, em parte o segundo.

Meu voto é o seguinte:

Pedi vista e examinei os autos.

Pedindo vênia ao em. Des. Relator, estou a concordar com o


Primeiro Vogal, Des.Paulo Cezar Dias, por entender que deve, com
relação à substituição da pena, prevalecer a decisão de 1º Grau,
proferida pelo MM. Juiz Sentenciante.

Com essas considerações, ponho-me de acordo com o ilustre


Primeiro Vogal para, também, nesses termos e nos termos do voto
por S. Exª. proferido, dar provimento parcial.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO PARCIAL, VENCIDO EM PARTE, O


RELATOR.

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª


Câmara

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Número do processo: 1.0024.02.705513-6/001(1)


Relator: ERONY DA SILVA
Relator do
PAULO CÉZAR DIAS
Acordão:
Data do acordão: 02/12/2003
Data da
13/12/2003
publicação:
Inteiro Teor:
EMENTA: TÓXICO - "CANNABIS SATIVA LINEU" - POSSE DE
PEQUENA QUANTIDADE - TIPICIDADE DO CRIME PREVISTO NO
ART. 16 DA LEI 6.368/76 - RISCO SOCIAL E DE SAÚDE PÚBLICA.
Pune-se o crime previsto no art. 16 da Lei 6.368/76 não por ter
causado, ou poder causar, dano à saúde ou ao usuário, mas, sim,
pelo perigo que o entorpecente pode causar à coletividade,
principalmente no que tange ao perigo que representa à saúde
pública, face às suas propriedades.

V.V.

Tóxicos. Princípio da insignificância. O porte para consumo próprio


de 0,56g de maconha não é suficiente para colocar em perigo a
saúde pública que é o bem jurídico tutelado pelo art.16 da Lei
6.368/76. Sendo assim, aplica-se ao caso o princípio da
insignificância para absolver o apelante por atipicidade de sua
conduta.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0024.02.705513-6/001 -


COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE(S): GILSON MOREIRA
GONÇALVES - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS
GERAIS, PJ 1ª VARA DE TÓXICOS - RELATOR: EXMO. SR. DES.
ERONY DA SILVA - RELATOR PARA O ACÓRDÃO: EXMO SR. DES.
PAULO CÉZAR DIAS

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, EM NEGAR PROVIMENTO, VENCIDO O
RELATOR.

Belo Horizonte, 02 de dezembro de 2003.

DES. PAULO CÉZAR DIAS - Relator para o acórdão.

DES. ERONY DA SILVA - Relator vencido.NOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, nesta


capital, Gilson Moreira Gonçalves como incurso nas sanções do
art.16 da Lei 6.368/76, por ter sido flagrado, em 20 de março de
2002, na posse de 0,56g de maconha que trazia consigo para
consumo próprio.

A sentença monocrática às fls.62/63 julgou procedente a denúncia


e condenou o réu a nove meses de detenção em regime semi-
aberto e ao pagamento de 24 (vinte e quatro) dias- multa com
valor unitário mínimo. A substituição da pena corporal por restritiva
de direitos não lhe foi concedida.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões à fl.77,


nas quais pugna pela minoração da reprimenda aplicada.

As contra-razões ministeriais às fls.79 e segs. são pela manutenção


da sentença guerreada.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às fls.87 e


segs., manifestou-se pelo improvimento do recurso.
Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua


admissibilidade.

Na interpretação das normas penais nunca se pode esquecer que


todo tipo penal para ser materialmente válido deve fundamentar-se
na proteção de um bem jurídico socialmente relevante.

O Direito Penal é remédio extremo, que a sociedade reconhece ter


conseqüências colaterais extremamente gravosas não só para o
condenado, mas também para ela própria sociedade.

Não é de hoje tal concepção. No Direito Romano já se afirmava que


minima non cura praeter.

A insignificância da afetação ao bem jurídico foi retomada,


modernamente, por vários autores, destacando-se dentre eles
Claus Roxin que em sua célebre obra Política Criminal e Sistema
Jurídico Penal, publicada na Alemanha em 1970, tomou-o como:

"auxílio de interpretação para restringir formulações literais que


também abranjam comportamentos suportáveis" (In Política
Criminal e Sistema Jurídico-Penal. Rio de Janeiro: Renovar, 2000.
p. 47).

A palavra-chave para a correta compreensão do princípio da


insignificância é suportável. Não se trata de uma conduta elogiável,
nem mesmo neutra, mas que o Estado se vê obrigado a suportar
em razão da evidente desproporção entre a conseqüência legal
prevista (pena) e o comportamento indesejado.

Creio que o caso dos autos ajuste-se perfeitamente a esta


hipótese: por mais que individualmente possamos reprovar o uso
de drogas, forçoso é reconhecer que a ínfima quantidade de
maconha portada pelo agente é incapaz de causar qualquer dano
ao bem jurídico penalmente tutelado (a saúde pública).

Sem lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado, falta


materialidade delitiva e, conseqüentemente, a conduta é atípica.

A punição do acusado não representaria qualquer benefício para a


sociedade, muito pelo contrário, só geraria a falsa impressão de
que a repressão deve ser voltada a todo custo para o usuário, que
em última análise não se difere em muito de um alcoólatra.

Gilson com sua postura de portar 0,56g de maconha não gerou em


momento algum qualquer perigo à saúde pública. Ouso dizer, com
tão ínfima quantidade de maconha, nem mesmo a sua própria
saúde causou qualquer prejuízo.

Nesse sentido, a jurisprudência tem avançado ao decidir que:

"RESP. PENAL. SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE. QUANTIDADE


ÍNFIMA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. RECURSO DO
MINISTÉRIO PÚBLICO NÃO CONHECIDO. 1. Não se justifica o
acionamento do aparelho judiciário em se tratando de delito de uso
(art. 16, da Lei nº 6.368/76) quando a quantidade de substância
entorpecente encontrada e apreendida alcança apenas 0,903 -
novecentos e três miligramas - de cannabis sativa, vulgo
"maconha". 2. Nestas condições, a reduzida quantidade, não
obstante o eventual maltrato à saúde pública e a difusão do
consumo, prejudicando o grupamento social, não representa perigo
grave a justificar a sanção. 3. Recurso não conhecido." RESP
287819/RS ; RECURSO ESPECIAL 2000/0119079-2 DJ 08/04/2002
Relator: Min. FERNANDO GONÇALVES

"RHC - PENAL - ENTORPECENTE - QUANTIDADE ÍNFIMA - O crime,


além da conduta, reclama resultado, ou seja, repercussão do bem
juridicamente tutelado, que, por sua vez, sofre dano, ou perigo.
Sem esse evento, o comportamento é penalmente irrelevante. No
caso dos entorpecentes, a conduta é criminalizada porque
repercute na saúde (usuário), ou interesse público (tráfico). Em
sendo ínfima a quantidade encontrada (maconha) é, por si só,
insuficiente para afetar o objeto jurídico." RHC 8646/MG ;
RECURSO ORDINARIO EM HABEAS CORPUS 1999/0041268-0 DJ
06/09/1999 Relator Min. LUIZ VICENTE CERNICCHIARO

"PENAL. ENTORPECENTE. QUANTIDADE INFIMA. - ATIPICIDADE


(ART. 16 DA LEI 6.368). CONCEDE-SE A ORDEM DE
TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL, EM FACE DA INFIMA
QUANTIDADE DE "MACONHA", EM CUJO USO FOI FLAGRADO O
ORA PACIENTE, ASSIM CONFIGURADO O CHAMADO PRINCIPIO DA
INSIGNIFICANCIA." RHC 7205 / RJ ; RECURSO ORDINARIO EM
HABEAS CORPUS 1998/0003364-5 DJ 18/05/1998 Relator Min.
JOSÉ DANTAS
Por todo o exposto, dou provimento ao recurso, para absolver o
réu das imputações da denúncia por atipicidade da conduta com
base no princípio da insignificância.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

VOTO

Peço venia ao douto Relator para dele discordar em parte.

A circunstância de ser mínima a quantidade de droga apreendida


em poder do apelante não induz em atipicidade da sua conduta.

Pune-se o crime previsto no art. 16 da Lei nº 6.368/76 não por ter


causado, ou poder causar, dano à saúde do usuário, mas, sim, pelo
perigo que o entorpecente pode causar à coletividade,
principalmente no que tange ao perigo que representa à saúde
pública, face às suas propriedades.

E esse perigo é evidente mesmo em se tratando de uso individual


de entorpecente. Basta, para comprovar essa afirmativa,
considerar que o tráfico somente existe em razão do uso. Tráfico e
uso de entorpecente são delitos interdependentes. O crescimento
de um implica também no do outro, e, quanto mais acentuados,
maior o risco para a coletividade.

Por esse motivo, irrelevante é a quantidade de droga apreendida


com o réu.

Nesse sentido já decidiu a Excelsa Corte de Justiça que:

"A circunstância de ser mínima a quantidade de maconha


encontrada em poder dos réus não prejudica a configuração da
tipicidade do crime previsto no art. 16 da Lei 6.368/76, que está
vinculada às propriedades da droga, ao risco social e de saúde
pública e não à lesividade comprovada em cada caso
concreto" (STF - RE 109.619 - Rel. Octávio Galloti - RTJ 119/874 e
RT 614/402)

Assim, correta se mostra a condenação proferida contra o acusado


pelo delito de porte para o uso de substância entorpecente.
Também, diante da reincidência e antecedentes do apelante,
impossível mesmo a substituição da pena privativa de liberdade.

Isto posto, com a devida licença ao culto Relator, estou negando


provimento ao apelo e mantendo inalteradas as disposições da
sentença hostilizada.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

VOTO

De acordo com o Revisor.

SÚMULA : NEGARAM PROVIMENTO, VENCIDO O RELATOR.

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª


Câmara

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Número do processo: 1.0000.00.347641-3/000(1)


Relator: ERONY DA SILVA
Relator do
ERONY DA SILVA
Acordão:
Data do acordão: 04/11/2003
Data da
10/12/2003
publicação:
Inteiro Teor:
EMENTA: Remição. Estudo. Possibilidade. É perfeitamente possível
a concessão de remição ao condenado que comprovadamente
estudou durante o período em que cumpriu pena em regime
fechado ou semi-aberto, em uma interpretação extensiva do
art.126 da LEP.

RECURSO DE AGRAVO Nº 1.0000.00.347641-3/000 - COMARCA DE


GOVERNADOR VALADARES - RECORRENTE(S): MINISTÉRIO
PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ 1ª V CR EXEC PENAIS
COMARCA GOVERNADOR VALADARES - RECORRIDO(S): JOSÉ
FRANCISCO DA ROCHA - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA
SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM NEGAR
PROVIMENTO.

Belo Horizonte, 04 de novembro de 2003.


DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

Trata-se de agravo interposto pelo Ministério Público do Estado de


Minas Gerais contra a decisão às f. 06/07 que concedeu remição de
pena ao sentenciado José Francisco da Rocha por freqüência em
curso de suplência.

As contra-razões da defesa às f.14 e segs. são pelo improvimento


do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às fl. 30 e segs.,


manifestou-se pelo provimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua


admissibilidade.

Dispõe o art.126 da Lei de Execução Penal:

"O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semi-


aberto poderá remir, pelo trabalho, parte do tempo de execução da
pena.

§1º A contagem do tempo para o fim deste artigo será feita à razão
de 1 (um) dia de pena por 3 (três) de trabalho".

Para uma perfeita interpretação teleológica do presente artigo,


necessária se faz uma pequena digressão histórica.

ZAFFARONI e PIERANGELI nos narram o profundo vínculo histórico


existente entre cárcere e fábrica:

"Entre os séculos XVIII e XIX manifesta-se uma transformação na


pena, que passa das corporais às privativas de liberdade e do mero
castigo à "correção". Tem-se afirmado (Foucault) que a pena passa
do corpo à alma, o que parece certo e claro.(...)

O paradigma contratual permitia uma ideologia justificadora da


pena privativa de liberdade, mas, na realidade, o apenado não era
expropriado de qualquer capacidade laboral ou mão-de-obra. Isto
porque os integrantes das massas despossuídas que, vindas do
campo, constituíam a miséria da cidade durante o processo de
acumulação de capital produtivo, não tinham capacidade laboral,
porque não sabiam trabalhar nas fábricas, nas manufaturas. Eram
homens, mulheres e crianças chegados do campo, habituados às
tarefas agrícolas, mas não adaptados ao sistema e à disciplina da
fábrica.(...)

Daí surge a invenção do estabelecimento carcerário "panóptico", ou


seja, a construção de um estabelecimento radial, com pavilhões a
partir de um centro, comum, de onde se consegue o máximo de
controle sobre toda a atividade diária do indivíduo, com um mínimo
de esforço. A partir do centro, um único guarda pode observar
todos os pavilhões com apenas um giro da cabeça. A ideologia da
pena era a do treinamento, mediante controle estrito da conduta
do apenado, sem que este pudesse dispor de um só instante de
privacidade. Essa ideologia será expandida e reformulada pelos
diversos criadores de regimes e sistemas "progressivos", mas no
fundo seguirá sendo a mesma: vigilância, arrependimento,
aprendizagem, "moralização" (trabalhar para a felicidade). Em
geral, corresponde à forma de trabalho industrial, tal como era
concebida e praticada na época: a vigilância estrita do trabalhador
na fábrica, o controle permanente pelo capataz, a impossibilidade
de dispor de tempo livre durante o trabalho, etc. As analogias entre
o cárcere e a fábrica têm sido estudadas nos últimos anos, com
resultados satisfatórios e reveladores. Não podia ser de outra
maneira, por quanto se havia concebido o cárcere como o
treinamento dos desordeiros para as fábricas."(ZAFFARONI,
Eugênio Raúl e PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito
Penal Brasileiro. 4. ed. rev. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2002. p.276-279)

Vê-se, pois, que historicamente a pena privativa de liberdade


cumpriu um importante papel de treinamento de mão-de-obra para
as fábricas.

Os efeitos de prevenção especial positiva da pena tinham como fim


não a "educação" do sentenciado, mas tão-somente o treinamento
de mão-de-obra barata para as fábricas.

Nesta linha de raciocínio, a remição somente poderia ser concedida


com base no trabalho - treinamento - e não com base no estudo,
pois o cárcere não seria instituição destinada à melhoria das
condições do indivíduo, mas mero produtor de mão-de- obra braçal
para a sociedade.

Àqueles que se sujeitassem ao treinamento para serem eternos


trabalhadores braçais, o Estado beneficiaria com o instituto da
remição. Aos que desejassem estudar para conseguir melhores
empregos e progredir na escala social, não se poderia conceder a
remição, pois não é objetivo do cárcere a formação de mão-de-
obra qualificada.

Trata-se de uma norma flagrantemente contrária ao art. 3º da


Constituição Federal de 1988 que estabelece expressamente:

"Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do


Brasil:

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as


desigualdades sociais e regionais"

Assim, para que a pena privativa de liberdade efetivamente alcance


os desejáveis efeitos de prevenção especial positiva, não basta o
treinamento do preso para trabalho braçal, mesmo porque a
sociedade moderna exige cada vez mais qualificação profissional.

É dever constitucional do Estado incentivar o estudo da massa de


presos que em sua maioria não tem sequer o 1º grau completo,
dando-lhe reais condições de melhoria de condições sociais e
econômicas, pois só dessa forma poderemos evitar que o preso
volte a delinqüir.

A meu sentir a melhor interpretação do termo trabalho é, pois, não


de mera "atividade profissional regular, remunerada ou
assalariada", mas todo e qualquer esforço humano dirigido a uma
finalidade e, neste sentido não há dúvidas de que o estudo é
espécie do gênero trabalho pela própria definição do dicionário:

"n substantivo masculino

1esforço incomum; luta, lida, faina

2conjunto de atividades, produtivas ou criativas, que o homem


exerce para atingir determinado fim" (Dicionário Eletrônico Houaiss
da Língua Portuguesa)

Ainda que se opte por uma interpretação restritiva do termo


"trabalho" para considerá-lo como mera atividade remunerada, é
perfeitamente possível a analogia in bonam partem para conceder
o direito à remição ao preso que comprovadamente estudou, pois
tenho plena convicção de que este estará menos propenso a
reincidir do que aquele que nenhuma qualificação terá ao sair da
prisão.

É por todo o exposto que nego provimento ao recurso ministerial.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

Sr. Presidente.

No meu modo de pensar, embora seja admissível ao preso o


trabalho intelectual, há que ser feita distinção entre este e o
simples estudo acadêmico, apesar de ambos terem em comum a
finalidade ressocializadora.

Nos termos do art. 28 da Lei de Execução Penal, o trabalho é dever


do condenado, punindo, inclusive, com falta grave, o seu
descumprimento, consoante se vê do art. 50, inciso 6, da LEP, ao
passo que o estudo é um direito de toda pessoa e dever do Estado
provê-lo, como dispõe o art. 205 da Constituição Federal.

Ademais não se deve procurar o caráter produtivo da atividade


laborativa, eis que deve estar voltada para a profissionalização do
preso caso não apresente qualquer capacitação, bem como a ela
deva corresponder uma remuneração inexistente na atividade
educativa que se trata, em última análise, de benefício concedido
ao condenado no curso da execução, assumindo feição meramente
assistencial.

Nota-se ainda que, no caso em exame, a atividade educativa


sequer tinha por fim habilitação profissional do apenado, pois os
atestados anexados aos autos se referem à freqüência as aulas e
não à alfabetização.
Quero evidenciar que não estou negando o caráter ressocializador
do estudo como elemento de tratamento penitenciário com vistas a
facilitar a reinserção do condenado na sociedade, de modo que não
volte a delinqüir. Mas tão-somente manifesto assim porque não
vejo, à primeira vista, sua equiparação ao trabalho para fins de
remição, até mesmo porque não há previsão legal a esse respeito.

No entanto, para não ser impertinente e por não ter ainda formado
inteiro convencimento a respeito da matéria, verificando, ainda,
que, neste Tribunal, como em tantos outros, por analogia, decide-
se no sentido de que a freqüência em curso é uma espécie de
trabalho para aprimoramento intelectual, que leva o preso ao
aperfeiçoamento, permitindo a sua ressocialização, por enquanto,
vou aderir ao brilhante voto do eminente Relator, reservando-me o
direito de modificar esse entendimento no futuro.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

De acordo com o Relator.

SÚMULA : NEGARAM PROVIMENTO.

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Câmara

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Número do processo: 1.0024.98.105725-0/001(1)


Relator: ERONY DA SILVA
Relator do
ERONY DA SILVA
Acordão:
Data do acordão: 28/10/2003
Data da
03/12/2003
publicação:
Inteiro Teor:
EMENTA: Pena. Fixação. Conduta social e personalidade do agente.
Não podem ser consideradas desfavoráveis a conduta social e a
personalidade do agente dado ao uso de bebidas alcoólicas, pois tal
prática é absolutamente atípica na legislação penal brasileira e é
vedada expressamente, pelo princípio da legalidade, a imposição
de pena sem prévia cominação legal. Regime integralmente
fechado. Crimes hediondos. A imposição de regime integralmente
fechado aos condenados por crimes hediondos fere o princípio
constitucional da individualização das penas, pois a competência do
Poder Legislativo é de fixar parâmetros máximos e mínimos para a
imposição das reprimendas e não fixá-las em concreto,
competência que, em nosso ordenamento jurídico, é exclusiva do
Poder Judiciário.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0024.98.105725-0/001 -


COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE(S): MINISTÉRIO
PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ I TRIBUNAL DO JÚRI -
APELADO(S): FLÁVIO FERREIRA DE OLIVEIRA - RELATOR: EXMO.
SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO
Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM NEGAR
PROVIMENTO.

Belo Horizonte, 28 de outubro de 2003.

DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, nesta


capital, Flávio Ferreira de Oliveira como incurso nas sanções do
art.121, §2º, II, III e IV, do CP, por ter, em 10 de agosto de 1998,
por volta das 20h30, matado a vítima Enoch Bento da Silva a
golpes de madeira.

O Tribunal do Júri considerou o réu culpado, conforme Termo de


Votação de Quesitos à f. 231 e o MM. Juiz presidente, em sentença
à f. 234, fixou-lhe a pena de 12 (seis) anos de reclusão em regime
semi-aberto.

Inconformado, apelou o Ministério Público, apresentando suas


razões às f. 244 e segs., nas quais pugna pela majoração da pena
e pela determinação do regime integralmente fechado.

As contra-razões da defesa às f. 253 e segs. são pela manutenção


da sentença guerreada.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 276 e


segs., manifestou-se pelo conhecimento e provimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua


admissibilidade.

Rogata maxima venia, entendo não assistir razão ao Ministério


Público.
O simples fato de o acusado ter agido com dolo direto de homicídio
não é circunstância que indique uma maior culpabilidade do réu,
até porque a presença do dolo é elemento constitutivo do tipo
penal.

O acusado é tecnicamente primário.

Sua conduta social não pode ser considerada desfavorável pelo


simples fato de o réu ser "pessoa dada às bebedeiras".

É bom frisar que vivemos sob a égide do Estado Democrático de


Direito no qual "ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei" (art.5º, II, da Constituição
Federal) e a ingestão de bebidas alcoólicas não é proibida em
nosso ordenamento.

Aumentar a pena do acusado por este motivo seria uma nítida


violação do princípio constitucional da legalidade: "não há crime
sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação
legal" (art.5º, XXXIX).

Pelo mesmo motivo sua personalidade não pode ser considerada


violenta, sendo irrelevante se já teria ou não se envolvido em
brigas, pois não há qualquer certidão condenatória por crime de
lesões corporais nos presentes autos e "ninguém será considerado
culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória" (art.5º, LVII)

A este respeito Túlio Vianna faz a seguinte consideração:

"Ao condenar o réu a um ano de prisão com base em alguns fatos


absolutamente atípicos sob o argumento de ser uma "conduta
social imprópria" ou "personalidade deturpada", nada mais estará
fazendo do que desprezar completamente um dos mais tradicionais
princípios de Direito Penal.

Ofenderá também o princípio do devido processo legal, pois se o


indivíduo foi acusado de roubar um banco, irá defender-se deste
fato tão-somente e não de supostas lesões corporais à esposa e
tráfico de drogas alegado pelas testemunhas. O aumento da pena
com base em supostos crimes que mesmo que provados nos autos
não foram objeto de processo para apurá-lo é absolutamente
inconstitucional, pois em última análise configura em condenação
sem o devido processo legal." (VIANNA, Túlio Lima. Pena - Fixação:
roteiro didático. Revista Síntese de Direito Penal e Processual
Penal. Porto Alegre: Síntese, v.4, n.19, abr./maio 2003. p. 56-57)

Os motivos são favoráveis ao réu já que os jurados reconheceram


que o réu agiu por relevante valor moral.

As demais circunstâncias são comuns aos crimes de homicídio não


indicando qualquer necessidade da fixação da pena-base acima do
mínimo legal.

Vale frisar ainda que os jurados reconheceram em favor do réu as


atenuantes da menoridade relativa e da confissão espontânea e,
ainda que a pena-base tivesse sido fixada acima do mínimo legal,
na segunda fase da fixação da pena, certamente haveria a redução
para o mínimo legal.

Quanto à redução máxima em virtude da causa de diminuição de


pena, entendo que mais uma vez procedeu bem o ilustre
magistrado sentenciante.

É que, tendo o júri reconhecido que o réu cometeu o crime


impelido por motivo de relevante valor moral, forçoso é que se
reconheça a gravidade da proposta da vítima em manter relações
sexuais com a esposa do réu mediante paga.

Mantenho, pois, o quantum da pena fixada em primeira instância.

Quanto ao regime inicial de cumprimento de pena, filio-me à


corrente jurisprudencial minoritária que entende que a
integralidade da execução penal em regime fechado é, não só
ineficaz do ponto de vista da prevenção especial positiva, mas
principalmente inconstitucional.

A Constituição Federal de 1988 consagrou um sistema misto de


controle de constitucionalidade que agasalha não só o controle
concentrado de constitucionalidade (de competência do STF na
ação direta de inconstitucionalidade), mas também o controle
difuso de constitucionalidade (de competência de todo e qualquer
magistrado por via de exceção, ou incidental).

Assim, valendo-me de tal prerrogativa concedida pela Carta Magna,


não posso me furtar à análise da constitucionalidade do art.2º,
§1º, da Lei 8.072/90 - a famigerada Lei dos Crimes Hediondos.

A Constituição Federal em seu art.5º, XLVI, assim determina:

"a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras as


seguintes: (...)"

O verbo utilizado pela Carta Magna é "regulará" e não "fixará" ou


"determinará".

Regular é fixar normas abstratas e, como tal, devemos entender a


previsão de parâmetros mínimos e máximos para a determinação
do quantum da pena in concreto.

Se criasse o legislador ordinário uma lei determinando que a pena


de um crime seria "2 anos de reclusão" e não mais "de 1 a 3 anos
de reclusão" estaria ferindo o mandamento constitucional, pois não
cabe ao Poder Legislativo determinar a pena in concreto, mas tão-
somente fixar parâmetros in abstrato para a sua futura
determinação concreta pelo Poder Judiciário.

Da mesma forma, não pode o legislador ordinário determinar que


todo crime hediondo seja cumprido em regime integralmente
fechado, pois não cabe ao Poder Legislativo "fixar" o quantum das
penas, mas simplesmente arbitrar valores máximos e mínimos,
dando opções ao Poder Judiciário - responsável pela análise do
caso concreto - elementos para a fixação definitiva da pena.

Assim, concessa venia ao entendimento da jurisprudência


majoritária, mantenho meu entendimento pela
inconstitucionalidade da referida lei neste aspecto.

Nego, pois, provimento ao recurso ministerial, mantendo na íntegra


a sentença do culto Juiz Fernando Alvarenga Starling por seus
próprios fundamentos.

É como voto.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

VOTO
De acordo.

A SRª. DESª. JANE SILVA:

VOTO

De acordo.

SÚMULA : NEGARAM PROVIMENTO.

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª


Câmara

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Número do processo: 1.0000.00.339976-3/000(1)


Relator: ERONY DA SILVA
Relator do
ERONY DA SILVA
Acordão:
Data do acordão: 28/10/2003
Data da
03/12/2003
publicação:
Inteiro Teor:
EMENTA: Abandono de incapaz. Erro de tipo. Se o acusado
considerava que a vítima já tinha condições de permanecer sozinha
sem que fosse previsível qualquer ameaça a sua vida ou
integridade corporal, não há falar em omissão dolosa, por absoluto
erro de tipo. Recurso provido.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0000.00.339976-3/000 -


COMARCA DE CARMO DO PARANAÍBA - APELANTE(S): JOSÉ
BATISTA DA SILVA - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO
MINAS GERAIS, PJ COMARCA CARMO DO PARANAÍBA - RELATOR:
EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM DAR
PROVIMENTO.

Belo Horizonte, 28 de outubro de 2003.


DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na


comarca de Carmo do Paranaíba, José Batista da Silva como
incurso nas sanções do art.133, §2° e §3°, I, do CP, por ter, no dia
19 de julho de 1997, por volta das 4h, abandonado a vítima Carlos
Roberto da Silva, que estava sob sua vigilância e, por motivo de
embriaguez, incapaz de se autodefender dos riscos resultantes do
abandono.

A sentença monocrática às f. 89 e segs. julgou procedente a


denúncia e condenou o réu a 5 (cinco) anos e 3 (três) meses de
reclusão em regime semi-aberto.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às f.100


e segs., nas quais pugna pela absolvição.

As contra-razões ministeriais às f.104 e segs. são pelo


desprovimento do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f.111 e segs.,


manifestou-se pelo improvimento do apelo.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua


admissibilidade.

Rogata maxima venia, não vejo como o caso dos autos possa ser
considerado abandono de incapaz.

A discussão da causa centra-se na existência ou não de dolo do


agente de abandonar pessoa incapacitada a sua própria sorte.

No parecer da douta Procuradoria-Geral de Justiça encontramos


transcrição das lições do próprio Hans Welzel, expoente máximo da
teoria finalista da ação:
"toda ação consciente é conduzida pela decisão da ação, quer
dizer, pela consciência do que se quer - o momento intelectual - e
pela decisão a respeito de querer realizá-lo - o momento volitivo
(Derecho Penal Alemán, p. 77)"

Dois são os elementos, portanto, para concluirmos pela presença


do dolo: 1) a presença de consciência; 2) a presença de vontade.
Não havendo a presença simultânea destes dois elementos, o
agente certamente age em erro de tipo e, conseqüentemente, não
pratica crime.

ZAFFARONI E PIERANGELI assim lecionam:

"O erro de tipo é o fenômeno que determina a ausência de dolo


quando, havendo uma tipicidade objetiva, falta ou é falso o
conhecimento dos elementos requeridos pelo tipo
objetivo." (ZAFFARONI et PIERANGELI, Manual de Direito Penal
Brasileiro. 4ª ed. rev. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais,
2002. p. 491)

O elemento volitivo do dolo ficou perfeitamente demonstrado nos


presentes autos, pois está claro que o agente teve vontade de
abandonar a vítima.

A questão resume-se, pois, em analisar se o agente sabia ou não


que a vítima encontrava-se na hipótese típica descrita no art. 133
do CP.

Em suma: O réu tinha consciência de que abandonava pessoa sob


seu cuidado, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do
abandono?

E a esta pergunta, não tenho dúvida em responder que NÃO.

A vítima, o acusado e a testemunha Elias pararam de beber por


volta das 22h, momento em que iniciaram o retorno à cidade.

Por volta das 2h, já próximos à cidade, o acusado disse a Elias que
este poderia ir embora, pois ficaria com a vítima até que esta
melhorasse.

As palavras do acusado e da testemunha são plenamente


coerentes. A partir de então, só resta-nos a versão dada pelo réu
aos fatos.

Em seu interrogatório às f.11, narra o acusado:

"que já por volta das 4h Carlos melhorou um pouco, se sentou e


fumou um cigarro, porém, quando tentou andar, voltou a cair e
deitado ainda conversou com o declarante, concordando com este
quando o mesmo - declarante - disse que viria embora; que o
declarante realmente disse a Carlos que viria embora, orientando o
amigo para dormir ali até que o dia amanhecesse, para então
voltar para casa; que o declarante então deixou Carlos deitado de
"lado", e veio para Carmo do Paranaíba (MG);"

De tudo que consta nestes autos, nada é mais esclarecedor do que


esta passagem das declarações do acusado.

Está claro que ao acordar e ver seu amigo sentado, julgou que,
cerca de 6h após a bebedeira, seu colega já havia se reabilitado,
tanto que se encontrava sentado e fumando.

Ainda que tentassem mais uma vez prosseguir na caminhada e a


vítima mais uma vez tenha preferido esperar um pouco, é certo
que não se encontrava mais no estado de incapacidade anterior.

O acusado julgou então que poderia deixá-lo ali são e salvo que
com o tempo o efeito do álcool passaria e ele retornaria
serenamente para casa.

A vítima, por outro lado, não deu qualquer sinal de que


necessitasse da companhia do acusado, tanto que não pediu para
que este permanecesse ali, muito pelo contrário: concordou com
sua partida.

Por mais que o comportamento do acusado tenha sido negligente,


impossível seria classificá-lo como doloso, pois está claro que ele
não considerava a vítima "incapaz de defender-se dos riscos
resultantes do abandono", até porque não podia prever qualquer
risco à vítima.

Mais uma vez, recorro-me às lições de ZAFFARONI e PIERANGELI:

"O dolo pressupõe que o autor tenha previsto o curso causal e a


produção do resultado típico. Sem esta previsão, jamais se poderia
falar de dolo." (ZAFFARONI et PIERANGELI, Manual de Direito Penal
Brasileiro. 4ª ed. rev. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais,
2002. p. 485)

Como exigir de um lavrador tamanho grau de previsibilidade do


nexo causal?

Tivesse ele levado a vítima para sua casa, a colocado para dormir
em sua cama e a asfixia se dado não pela grama, mas por um
travesseiro, poderia o acusado ser responsabilizado?

Tivesse ele permanecido ao lado da vítima e com ela adormecido


em virtude do cansaço natural, poderia ter evitado o resultado
morte ou teria ele a obrigação de permanecer acordado vigiando o
sono da vítima tal como um enfermeiro?

Os autos narram uma fatalidade; não, um crime.

O acusado não considerava a vítima incapaz e, muito menos, podia


prever o risco da morte por asfixia.

Não vejo sequer dolo eventual em sua conduta, pois estou certo de
que, caso previsse a hipótese da morte - ou mesmo de lesão -
certamente teria permanecido ao lado do amigo, tal como fez
durante 6h ininterruptas.

Condenar um acusado primário e de bons antecedentes a 5 (cinco)


anos e 3 (três) meses de reclusão por uma fatalidade como esta
seria, rogata maxima venia, um perigoso precedente à
responsabilidade penal objetiva tão abominada no Direito Penal
contemporâneo.

É por todo o exposto que dou integral provimento ao recurso da


defesa, para absolver o acusado por erro de tipo, nos precisos
termos do art. 386, III, do Digesto Processual Penal.

É como voto.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

VOTO
De acordo.

A SRª. DESª. JANE SILVA:

VOTO

De acordo.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO.

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª


Câmara

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Número do processo: 1.0000.00.348419-3/000(1)


Relator: ERONY DA SILVA
Relator do
ERONY DA SILVA
Acordão:
Data do acordão: 23/09/2003
Data da
03/12/2003
publicação:
Inteiro Teor:
EMENTA: Tentativa de Homicídio. Porte ilegal de armas. Princípio
da Consunção. Absorção. A pronúncia por tentativa de homicídio
absorve o delito de porte ilegal de arma, pois ambos os delitos
tutelam o mesmo bem jurídico - a vida - e não haveria porque
cogitar-se na punição de um delito de perigo, quando já se discute
a punição pelo efetivo dano àquele bem jurídico.

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO Nº 1.0000.00.348419-3/000 -


COMARCA DE CORONEL FABRICIANO - RECORRENTE(S): MÁRCIO
JOSÉ DE ALMEIDA - RECORRIDO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO
ESTADO MINAS GERAIS, PJ V CR MENORES COMARCA CORONEL
FABRICIANO - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM DAR PROVIMENTO
PARCIAL.

Belo Horizonte, 23 de setembro de 2003.


DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

Trata-se de Recurso em Sentido Estrito interposto por Márcio José


de Almeida, inconformado com a sentença às f.89 e segs. que o
pronunciou nas sanções do art. 121, caput, c/c art. 14, II, do CP, e
art. 10, caput, da Lei 9.437/97, na forma do art. 69 do CP.

Pugna o recorrente pela absolvição sumária, amparada no art. 25


do CP ou, alternativamente, pela desclassificação da imputação
para aquela prevista no art. 129 do CP. Requer ainda a
impronúncia em relação ao crime do art. 10 da Lei 9.437/97.

As contra-razões ministeriais às f. 104 e segs. são pelo


improvimento do recurso.

O MM Juiz monocrático manteve a decisão guerreada às f. 110 e


segs.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 116 e segs.


manifestou-se pelo improvimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua


admissibilidade.

A sentença de pronúncia é mero juízo de admissibilidade da


acusação que deverá ser submetida ao julgamento definitivo pelo
Tribunal do Júri.

Assim, nesta fase processual, vigora o princípio do in dubio pro


societate, não havendo necessidade de prova incontroversa do
delito, mas tão-somente de indícios da existência do crime.

Ainda que o acusado sustente veementemente que não teve


animus necandi e agiu em legítima defesa, a prova nos autos não é
incontroversa.
Segundo a própria versão do acusado no a.p.f., ele conseguiu
interromper a discussão inicial e retornar a sua residência onde se
apoderou de uma arma de fogo e tornou a procurar seus supostos
agressores, o que deixa dúvidas sobre o efetivo dolo de defesa
legítima.

Também não há falar na fase de pronúncia em desclassificação


para o crime de lesões corporais, pois somente o Tribunal do Júri
em análise apurada do conjunto probatório poderá realizar exame
definitivo sobre a presença ou não do animus necandi.

Por outro lado, razão assiste ao recorrente quanto ao decote da


pronúncia da acusação pelo delito do art. 10 da Lei 9.437/97.

Entendo, rogata maxima venia, dos entendimentos em contrário,


que nas hipóteses de concurso entre os crimes de homicídio e porte
ilegal de armas, aplica-se o princípio da consunção,
independentemente da época em que, ou mesmo da finalidade
para a qual a arma foi adquirida.

ZAFFARONI e PIERANGELI ensinam que:

"Em função do princípio da consunção, um tipo descarta outro


porque consome ou exaure o seu conteúdo proibitivo, isto é,
porque há um fechamento material."(ZAFFARONI, Eugenio Raul.
PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro. 4ª
ed. rev. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002. p. 735)

Partindo-se de uma interpretação teleológica do crime do art. 10 da


Lei 9.437/97, percebe-se que se trata de crime de perigo que tem
como bem jurídico tutelado a vida e a integridade corporal.

O porte de armas é proibido não como um fim em si mesmo, mas


como um meio utilizado pelo legislador para tutelar o bem jurídico,
vida.

Aliás, a intentio legis dos crimes de perigo é justamente evitar o


dano a um bem jurídico penalmente relevante e a punição desta
categoria de delito só se justifica enquanto não consumado o dano,
pois do contrário estar-se-ia punindo duas vezes uma lesão ao
mesmo bem jurídico.
O conteúdo proibitivo de ambos os delitos é, em última análise o
mesmo: a preservação do bem jurídico, vida.

Assim, entendo que houve a absorção do porte ilegal de arma pela


tentativa de homicídio, pois qual sentido haveria em se punir um
perigo de lesão, se o réu já está sendo acusado de uma lesão
efetiva a bem jurídico?

Esta Câmara assim já decidiu no julgamento do Recurso em


Sentido Estrito nº 280.742-8/00, no qual foi relator o Des. Odilon
Ferreira:

"Tenho, no entanto, que não há como manter a decisão de primeiro


grau, no que diz respeito ao delito tipificado no artigo 10 da Lei
9.437/97.

É que, constituindo o porte ilegal de arma, crime-meio, para


possibilitar a execução e consumação do Homicídio, crime-fim, fica,
em razão do princípio da consunção, por este último absorvido. É
que, de conformidade com nossa melhor doutrina e jurisprudência,
em casos como o desses autos, é de boa política criminal, adotar a
regra da consunção, ou seja, aplicar o princípio de Direito Penal,
"major absorvet minorem", segundo o qual, a infração de menor
potencial ofensivo ou de menor gravidade é absorvida pela infração
mais grave."

Por todo o exposto é que dou provimento parcial ao recurso, tão-


somente para decotar da sentença de pronúncia o delito do art. 10
da Lei 9.437/97.

É como voto.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

VOTO

De acordo.

A SRª. DESª. JANE SILVA:

VOTO
De acordo.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO PARCIAL.

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª


Câmara

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Número do processo: 1.0000.00.347203-2/000(1)


Relator: ERONY DA SILVA
Relator do
ERONY DA SILVA
Acordão:
Data do acordão: 28/10/2003
Data da
26/11/2003
publicação:
Inteiro Teor:
EMENTA: Lesões corporais. Resultado diverso do pretendido.
Impossibilidade de responsabilidade objetiva. Se a vítima fraturou
o braço em decorrência de queda provocada pela esquiva do golpe
do réu, responderá o agressor tão- somente por lesões corporais
simples, pois não era previsível que de seu golpe resultasse uma
fratura que afastaria a vítima de suas atividades habituais por mais
de 30 (trinta) dias.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0000.00.347203-2/000 -


COMARCA DE ITUMIRIM - APELANTE(S): JOSÉ NASTRAL NASSUR -
APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ
COMARCA ITUMIRIM - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM DAR PROVIMENTO
PARCIAL.

Belo Horizonte, 28 de outubro de 2003.


DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na


comarca de Itumirim, José Nastral Nassur, como incurso nas
sanções do art.129, por três vezes, sendo uma combinada com o
§1º, I, do CP, por ter ofendido a integridade corporal das vítimas
Arnaldo Carvalho Souza, Flávia Maria Paula Souza e Carlos Andrade
Rezende.

A sentença monocrática às f.100 e segs. condenou o réu a 2 (dois)


anos de reclusão em regime aberto e a substituiu por prestação de
serviços comunitários e prestação pecuniária à vítima.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às f.107


e segs., nas quais pugna pela absolvição.

As contra-razões ministeriais às f.116 e segs. são pelo


conhecimento e improvimento do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f.125 e segs.,


manifestou-se pelo conhecimento e desprovimento do apelo.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua


admissibilidade.

A tese de que o acusado teria agido em legítima defesa do


patrimônio não convence.

Ainda que se desconsiderasse a permissão dada por Rômulo para


que se acendesse a fogueira, está claro que não há necessidade e
muito menos moderação nos meios utilizados para repelir a
suposta invasão patrimonial.

Pelo que consta nos autos as vítimas não eram desconhecidos do


acusado e, portanto, era absolutamente desnecessário o emprego
da força bruta para repelir a agressão.

Por outro lado, entendo que não deva persistir a qualificadora do


art. 129, §1º, pois o dolo do agente limitou-se a uma lesão
corporal muito mais leve do que aquela efetivamente produzida.

Nas palavras da própria vítima em suas declarações à f. 63:

"os dois então começaram a conversar alto e discutir, momento em


que o acusado tentou dar um golpe no depoente, que desviou
vindo a perder o equilíbrio, caindo em cima de pedras; em razão da
queda fraturou o braço direito;"

O acusado não tinha o dolo de causar qualquer fratura na vítima,


mas tão-somente de causar-lhe lesões leves.

Não se pode cogitar nem mesmo em culpa no presente caso, pois


não era previsível que a vítima escorregaria e da queda resultaria
um fratura.

No Direito Penal contemporâneo não se pune a mera relação de


causalidade entre a conduta e o resultado, sendo imprescindível a
existência concomitante de um vínculo subjetivo que pode se dar
na modalidade dolosa ou culposa.

No presente caso, o agente não poderia prever que de um golpe


seu, fosse gerado o resultado fratura, devendo ser responsabilizado
tão-somente pela hipótese prevista no caput do art.129 do CP.

O art.19 do CP é expresso quanto a casos como estes:

"Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o


agente que o houver causado ao menos culposamente."

A este respeito vale transcrevermos os ensinamentos de


ZAFFARONI e PIERANGELI:

"Em nossa legislação penal não há qualquer hipótese típica em que


a produção do resultado não seja alcançada ao menos por culpa.
Se houvesse uma tal hipótese, seria dificilmente explicável a sua
constitucionalidade, frente ao disposto no art.5º, II, da CF, em que
está consubstanciado o princípio de reserva: "Ninguém será
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude
de lei". Pode-se proibir uma conduta, uma ação a um habitante de
um país, mas se lhe é proibida a causação de um resultado que
não pode prever e que não se funde ao menos na violação de um
dever de cuidado, nunca se poderá saber quando sua conduta está
proibida e, portanto, o princípio da reserva legal - como
fundamento imperioso de segurança jurídica - seria
aniquilado." (ZAFFARONI et PIERANGELI, Manual de Direito Penal
Brasileiro. 4ª ed. rev. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais,
2002. p. 525)

Pelo exposto, dou provimento parcial ao recurso tão-somente para


desclassificar o delito para a forma prevista no caput do art.129 do
CP.

Fixo-lhe nova pena:

Nos três delitos as circunstâncias judiciais do art.59 são comuns


aos crimes de lesões corporais, razão pela qual fixo-lhe a pena-
base no mínimo legal: 3 (três) meses.

Não há agravantes ou atenuantes, nem causas de diminuição de


pena.

Reconheço-lhe em seu favor a continuidade delitiva, aumentando


sua pena em 1/5 (um quinto) e concretizando-a em 3 (três) meses
e 18 (dias) de detenção em regime aberto.

Em respeito ao princípio do ne reformatio in pejusmantenho a


substituição de pena efetuada em primeira instância, consistente
na prestação pecuniária de 1 (um) salário mínimo a ser dividido
entre as três vítimas.

É como voto.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

VOTO

De acordo.

A SRª. DESª. JANE SILVA:


VOTO

De acordo.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO PARCIAL.

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Câmara

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Número do processo: 1.0000.00.349892-0/000(1)


Relator: ERONY DA SILVA
Relator do
ERONY DA SILVA
Acordão:
Data do acordão: 14/10/2003
Data da
19/11/2003
publicação:
Inteiro Teor:
EMENTA: Nulidade. Ausência de nomeação de curador ao réu
menor de 21 anos. Nulo é o processo no qual não foi nomeado
curador a réu menor de 21 anos não assistido em audiência por
defensor constituído ou dativo.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0000.00.349892-0/000 -


COMARCA DE ANDRADAS - APELANTE(S): WILSON DA SILVA
FEITOSA - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS
GERAIS, PJ COMARCA ANDRADAS - RELATOR: EXMO. SR. DES.
ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM ACOLHER
PRELIMINAR E ANULAR O PROCESSO A PARTIR DO
INTERROGATÓRIO DO APELANTE, INCLUSIVE, EXPEDINDO- SE
ALVARÁ DE SOLTURA.

Belo Horizonte, 14 de outubro de 2003.


DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na


comarca de Andradas, Wilson da Silva Feitosa como incurso nas
sanções do art. 157, §2º, II, do CP e art. 1º da Lei 2.252/54, por
ter, em 27 de abril de 2002, por volta de 1h, convidado o menor
Redinaldo Ramos de Jesus a praticar crime e subtraído, na
companhia desse menor, uma carteira contendo R$20,00 (vinte
reais) da vítima Tiago Juliano Soares.

A sentença monocrática a fls.83 e segs. julgou procedente a


denúncia e condenou o réu a 6 (seis) anos e 6 (seis) meses de
reclusão em regime semi-aberto e ao pagamento de 18 (dezoito)
dias-multa.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões a fls.96


e segs., nas quais pugna pela absolvição.

As contra-razões ministeriais a fls.100 e segs. são pelo


conhecimento e desprovimento do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer a fls.112 e


segs., manifestou-se pelo conhecimento do recurso e pelo
acolhimento da preliminar da defesa de nulidade do feito pela falta
de nomeação de curador especial ao réu menor de 21 (vinte e um)
anos.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua


admissibilidade.

Preliminar de nulidade do processo:

Inteira razão assiste à defesa e ao douto Procurador de Justiça ao


sustentarem a nulidade.
Verifica-se que o réu não teve curador nomeado, nem na fase
policial (fls. 8), nem na fase judicial (fls. 40).

A MMª Juíza rejeitou a preliminar de nulidade a fls. 85 ao


argumento de que o réu teria defensor constituído, mas não há
qualquer menção no termo de interrogatório a fls.40 que o referido
patrono do acusado estivesse presente na audiência.

Também não há qualquer referência à nomeação de defensor


dativo ao réu o que, em tese, poderia suprir a presente nulidade.

Por uma interpretação teleológica da norma dos arts.194 e 262 do


CPP, fica clara a intentio legis de proteger o réu menor de 21 anos
das pressões próprias do processo penal e garantir-lhe a ampla
defesa constitucionalmente assegurada.

Não se trata de mera formalidade, mas sim de garantia aos


princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório.

Assim, não há falar na necessidade de demonstração do prejuízo


por parte da defesa, pois há aqui uma presunção legal do prejuízo.

Por todo o exposto, anulo o processo a partir do interrogatório a


fls. 40, inclusive.

Expeça-se imediato alvará de soltura se por al. não estiver preso.

É como voto.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

VOTO

De acordo.

A SRª. DESª. JANE SILVA:

VOTO

De acordo.

SÚMULA : ACOLHERAM PRELIMINAR E ANULARAM O PROCESSO A


PARTIR DO INTERROGATÓRIO DO APELANTE, INCLUSIVE,
EXPEDINDO-SE ALVARÁ DE SOLTURA.

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª


Câmara

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Número do processo: 1.0000.00.345040-0/000(1)


Relator: ERONY DA SILVA
Relator do
ERONY DA SILVA
Acordão:
Data do acordão: 07/10/2003
Data da
19/11/2003
publicação:
Inteiro Teor:
EMENTA: Custas processuais. Isenção. A Constituição Federal de
1988 não recepcionou em sua plenitude o art. 804 do CPP. Assim,
o réu que se declarou pobre e foi assistido por serviço de
assistência judiciária de Faculdade de Direito é isento das custas
processuais, em obediência ao art. 5º, LXXIV da Carta Magna.

RECURSO DE AGRAVO Nº 1.0000.00.345040-0/000 - COMARCA DE


GOVERNADOR VALADARES - RECORRENTE(S): IDER GOMES DA
SILVA - RECORRIDO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS
GERAIS, PJ 1ª V CR EXEC PENAIS GOVERNADOR VALADARES -
RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste
o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM NEGAR
PROVIMENTO, TENDO O RELATOR, VALENDO-SE DO QUE DISPÕE
O REGIMENTO INTERNO DESTE TRIBUNAL, REFORMULADO O SEU
VOTO, ANTERIORMENTE PROFERIDO.
Belo Horizonte, 07 de outubro de 2003.

DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

Trata-se de Agravo interposto por Ider Gomes da Silva,


inconformado com a decisão a f. 03, TJ, que indeferiu o pedido de
isenção de custas processuais e parcelou sua pena de multa e
custas processuais em dez vezes.

A decisão monocrática foi mantida a f. 9.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer a f.13,


manifestou-se pelo conhecimento e não provimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua


admissibilidade.

A Constituição de 1988 é expressa, quanto à questão, em seu art.


5º, LXXIV:

"o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que


comprovarem insuficiência de recursos."

A insuficiência de recursos do acusado é visível, tanto que está


sendo assistido pelo Serviço de Assistência judiciária da Faculdade
de Direito do Vale do Rio Doce.

Não há falar, pois, em pagamento de custas processuais, pois a


gratuidade da assistência jurídica é assegurada
constitucionalmente, sendo absolutamente irrelevante, se no futuro
próximo, o assistido obterá renda suficiente para arcar com tal
pagamento.

A Constituição é expressa e não faz qualquer ressalva se,


posteriormente, o acusado terá ou não como pagar tais custas.
Não pode o legislador ordinário criar exceções, pois as normas
constitucionais que garantem direitos só podem ser interpretadas
extensivamente, sendo absolutamente vedada qualquer
interpretação restritiva aos direitos e garantias fundamentais
assegurados na Carta Magna.

Assim, onde a Constituição não restringe, não cabe ao legislador


ordinário fazê-lo.

Aliás, já tive a oportunidade de expressar esse meu


posicionamento quando do julgamento da Apelação Criminal nº
332.6434-8 do Eg. Tribunal de Alçada de Minas Gerais:

"A Constituição Federal de 1988 não recepcionou em sua plenitude


o art. 804 do CPP. Assim, o réu que se declarou pobre e foi
assistido por Defensor Público é isento das custas processuais, em
obediência ao art. 5º, LXXIV da Carta Magna."

Também nesse sentido já se manifestaram outros tribunais:

"RECURSO EXTRAORDINÁRIO - MATÉRIA CRIMINAL - Acórdão que


manteve a condenação do réu por crime de latrocínio, provendo,
entretanto, o recurso da defesa para isentar o condenado do
pagamento das custas processuais, com base no art. 5º, LXXIV, da
Constituição, deixando de aplicar o art. 804 do Código de Processo
Penal. Alegação do MP, no recurso extraordinário, de ofensa aos
artigos 97 e 5º, LXXIV, da Constituição. O art. 5º, LXXIV, da
Constituição, foi bem aplicado pelo acórdão, visto tratar-se de réu
pobre, a quem devida assistência judiciária, a teor do art. 1.060,
artigos 2º, 3º, II, 4º e § 1º. Não há ver ofensa ao art. 97 da Lei
Maior, por não se fazer mister a declaração de inconstitucionalidade
incidenter tantumdo art. 804 do Código de Processo Penal, como
pretende o apelo extremo, a fim de isentar o réu pobre,
condenado, do pagamento de custas, diante da norma do art. 5º,
LXXIV, da Constituição. Recurso extraordinário não
conhecido" (STF - RE 207.963-4 - DF - 2ª T. - Rel. Min. Néri da
Silveira - DJU 18/6/1999 - p. 25).

"APELAÇÃO CRIMINAL - ISENÇÃO DE PAGAMENTO DAS CUSTAS -


PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO - Tratando-se de pessoa
comprovadamente pobre, tanto que defendida pela assistência
judiciária, resulta clara a impossibilidade do réu de arcar com as
despesas processuais, pelo que deve ser contemplado com a
respectiva isenção." (TJMT - ACr 1.629/93 - Classe I - 14 - Cuiabá
- 2ª C.Crim. - Rel. Des. Leônidas Duarte Monteiro - J. 2/3/1994)

Diante do exposto, dou provimento ao agravo para isentar o réu do


pagamento das custas processuais em razão de sua reconhecida
pobreza, mantendo o parcelamento em dez vezes da pena de
multa.

É como voto.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

Não concordo, "data venia", com o ilustre Relator.

Segundo dispõe o art. 12 da Lei nº 1.060/50, "a parte beneficiada


pela isenção do pagamento das custas ficará obrigada a pagá-las,
desde que possa fazê-lo, sem prejuízo do sustento próprio ou da
família. Se dentro de cinco anos, a contar da sentença final, o
assistido não puder satisfazer tal pagamento, a obrigação ficará
prescrita.

Vê-se, portanto, de forma clara, que o pagamento das custas


apenas não será exigido quando importar em prejuízo do próprio
sustento ou da família, ficando prescrita a obrigação se, no prazo
de cinco anos, contados da sentença, não puder o sentenciado
satisfazê-la.

Nos termos do enunciado da Súmula nº 58, editada pelo Grupo de


Câmaras Criminais deste Tribunal:

"O juridicamente miserável não fica imune da condenação nas


custas do processo criminal (art. 804 CPP), mas o pagamento fica
sujeito à condição e prazo estabelecidos no art. 12 da Lei nº
1.060/50."

Sendo assim, se o agravante atualmente não tem condições de


pagar as custas do processo deverá o pagamento ser suspenso,
ficando prescrita a obrigação se, dentro de 05 anos, não houver
modificação de sua situação sócio-econômica.

Pelo exposto, pedindo vênia ao em. Relator, nego provimento ao


agravo.
A SRª. DESª. JANE SILVA:

De acordo com o 1º Vogal.

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

Sr. Presidente, pela ordem.

Nos termos do Regimento Interno do Tribunal de Justiça, reformulo


o meu entendimento e acompanho o voto do em. 1º Vogal para
negar provimento ao Recurso de Agravo.

SÚMULA : NEGARAM PROVIMENTO, TENDO O RELATOR, VALENDO-


SE DO QUE DISPÕE O REGIMENTO INTERNO DESTE TRIBUNAL,
REFORMULADO O SEU VOTO, ANTERIORMENTE PROFERIDO

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