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Seminário de História do Direito no Brasil Nova Lima, 20 de outubro de 2006

Controle nas Sociedades


Industriais e Pós-industriais
na América Latina
Túlio Vianna

1. O mito da maldade

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Seminário de História do Direito no Brasil Nova Lima, 20 de outubro de 2006

Lúcifer: o grande vilão

Lúcifer, retratado por Gustave Doré, para a obra


“Paraíso Perdido” de John Milton.

Matar é um mal?
“O código moral da tribo tugue, na Índia, considerava
como uma virtude o assassinato por
estrangulamento de homens não tugues (só os
homens, não as mulheres). Um sioux não ganhava
seu penacho de adulto antes de ter matado outro
homem; um daiaque não desposava uma mulher
antes de obter uma cabeça; um naga não obtinha
sua tatuagem até possuir um escalpo. Na
Alemanha pós-depressão, vários oficiais da SS
eram promovidos por suas habilidades genocidas.”

THOMSON, Oliver. A assustadora história da maldade. p.22.

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Há uma maldade natural?


“A tortura foi praticada em nome do próprio Deus
durante a Inquisição Católica e foi usada para
extrair confissões ou provas por regimes
políticos durante toda a história. A pederastia
com meninos de 12 anos era aceitável na
Grécia antiga e o casamento forçado de
meninas muito novas com homens velhos foi
comum em várias sociedades. O estupro de
escravas, serviçais, inquilinas e esposas tem
sido praticado durante milênios, com absoluta
impassividade da sociedade e das autoridades.”
VIANNA, Túlio. Transparência pública; opacidade privada, p.5-6.

Não há crimes, mas


condutas criminalizadas
pelo poder.

Todo crime é uma invenção


social.

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2. Criminalizar os pobres

Revolução Industrial

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Vadios: criminosos!
“Para garantir a mão-de-obra, criminalizava-se o pobre que
não se convertesse em trabalhador. (...) Com a revolução
industrial, o esquema jurídico ganhou feições mais
nítidas: criou-se o delito de vadiagem. Referindo-se à
reforma dos dispositivos como Poor Law, em 1834,
Disraeli dizia que na Inglaterra ser pobre passava a ser
crime. Aqueles que, por uma razão ou outra, se
recusavam ou não conseguiam vender sua força de
trabalho, passaram a ser tratados pela justiça mais ou
menos como nos julgamentos descritos por Jack London
em seu conto autobiográfico:a cada 15 segundos, uma
sentença de 30 dias de prisão para cada vagabundo.”

BATISTA, Nilo. Punidos e mal pagos. p.35-36.

Grevistas: criminosos!
“Para impedir a cessação de trabalho, criminalizava-se o
trabalhador que se recusasse ao trabalho tal como ele
‘era’: criou-se o delito de greve. O Código Penal
francês de 1810 contemplava o novo crime, em seu
artigo 415. O Vagrancy Act inglês de 1824 tornava
possível processar criminalmente trabalhadores que
recusavam a diminuição de seus salários. Não por
acaso, um dos vagabundos condenados do conto de
Jack London, alegando perante o juiz que houvera
deixado sua ocupação com a esperança de obter uma
vida mais feliz, foi punido com mais 30 dias por
‘abandono de emprego’.”

BATISTA, Nilo. Punidos e mal pagos. p.35-36.

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3. Enquanto isso, no
Brasil...

O medo do fim da brisa...

Uma família brasileira rica, no século XIX, retratada por


Jean Baptiste Debret.

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“Se o medo na Europa do século XIX era o


medo da revolução, no Brasil e na América
Latina esse temor era acrescido pelo fim
da escravidão, não só pelo fim da brisa,
mas também pelas fantasias acerca do
desfecho brutal da escravatura. O Haiti, a
tranfiguração vodu e a volta dos mortos-
vivos passeavam pelos corações
prorietários desde a tenra infância.”

BATISTA, Vera Malaguti. O medo na cidade do Rio de Janeiro, p.85.

4. Enfim, as sociedades
pós-industriais!

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“O capitalismo do século XIX é de concentração, para a produção,


e de propriedade. Por conseguinte, erige a fábrica como meio
de confinamento, o capitalista sendo o proprietário dos meios
de produção, mas também eventualmente proprietário de
outros espaços concebidos por analogia (a casa familiar do
operário, a escola). Quanto ao mercado, é conquistado ora por
especialização, ora por colonização, ora por redução dos custos
de produção. Mas atualmente o capitalismo não é mais dirigido
para a produção, relegada com freqüência à periferia do
Terceiro Mundo, mesmo sob as formas complexas do têxtil, da
metalurgia ou do petróleo. É um capitalismo de sobre-
produção. Não compra mais matéria-prima e já não vende
produtos acabados: compra produtos acabados, ou monta
peças destacadas. O que ele quer vender são serviços, e o que
quer comprar são ações. Já não é um capitalismo dirigido para
a produção, mas para o produto, isto é, para a venda ou para o
mercado. Por isso ele é essencialmente dispersivo, e a fábrica
cedeu lugar à empresa.”

DELEUZE, Gilles. Post-scriptum sobre as sociedades de controle, p.223-224.

O controle social no século


XXI deixa de ser
eminentemente
disciplinar e se torna
biopolítico.

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www.tuliovianna.org

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