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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

1ª CÂMARA CRIMINAL

HABEAS CORPUSCRIME Nº 117843-62.2023.8.16.0000, DO FORO


CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE
CURITIBA, 1º JUIZADO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
CONTRA A MULHER.

IMPETRANTE: KALIL JORGE ABBOUD

PACIENTE: RAFAEL DE LIMA NETO

RELATOR: DES. TELMO CHEREM

HABEAS CORPUS– VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – CÁRCERE PRIVADO,


LESÃO CORPORAL QUALIFICADA E AMEAÇA – PRISÃO
PREVENTIVA – IMPRESCINDIBILIDADE DA CUSTÓDIA PARA
GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA (PERICULOSIDADE DO PACIENTE
EVIDENCIADA PELO MODUS OPERANDI NA PRÁTICA DOS
IMPUTADOS CRIMES) – FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA –
CONSTRANGIMENTO ILEGAL INEXISTENTE – WRIT DENEGADO.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de HABEAS CORPUS CRIME Nº 117843-


62.2023.8.16.0000, do FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE
CURITIBA, 1º JUIZADO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER, em
que é impetrante: KALIL JORGE ABBOUD e paciente: RAFAEL DE LIMA NETO.

1. O advogado Kalil Jorge Abboud impetrou habeas corpus em favor de Rafael de Lima Neto[1],
apontando constrangimento ilegal por conta do 1º Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher, desta Capital, que homologou a prisão em flagrante do Paciente, converteu-a em preventiva
[2] e, posteriormente, indeferiu pedido de revogação[3].

Alegou que o Paciente (i) “não teve intenção de lesionar ou fazer mal à vítima Raquel, pois, na verdade,
pretendia ser morto pela Polícia”; (ii) “padece de diversas doenças, além de ser pessoa depressiva e com
tendências suicidas, necessitando tratamento médico especializado”. Sustentando, ainda, estarem
ausentes os motivos autorizadores da segregação provisória (CPP, art. 312), pediu, afinal, a concessão de
ordem liberatória, com a substituição, se necessário, por monitoração eletrônica ou outras medidas
alternativas ao encarceramento (mov. 1.1).
Recusadaa postulada liminar (mov. 11.1) pelo em. Desembargador MIGUEL KFOURI NETO, a
Procuradoria de Justiça, em parecer subscrito pelo em. Procurador MILTON RIQUELME DE
MACEDO, pronunciou-se pela denegação do writ (mov. 17.1).

2.Foi a custódia cautelar do Paciente assim justificada:

“Quanto à garantia da ordem pública, a segregação cautelar do Autuado é


imprescindível. Utilizo-me das oportunas palavras do Ilustre Promotor de Justiça
para demonstrar a gravidade da ameaça à vida da Vítima, perpetrada pelo
Custodiado:

‘(...) A gravidade da conduta se apresenta de forma concreta e clara, não se


tratando de mera suposição ou ilação, considerando-se que o Flagrado tomou a
Vítima como refém, segurando-a pelos cabelos e de posse de um facão, o que
demandou demorada negociação com Equipe Policial Especializada. Inclusive,
no curso da negociação restou claro o interesse do Flagrado de matar a Vítima
e depois tirar a própria vida, o que só foi obstado pela ação técnica da PMPR.
Do que se conclui dos autos, o Flagrado não cedeu à negociação policial,
sendo imobilizado por intermédio de munições não letais, o que culminou na
sua prisão e preservação da vida da Vítima (...).’

Evidente, portanto, o perigo que o Custodiado representa para a Vítima e para si


mesmo. Note-se que o Custodiado continuou a prática delitiva violenta mesmo na
presença dos Policiais.

Além disso, o Custodiado possui várias passagens por violência doméstica,


conforme certidão de mov. 8.1, do que se pode concluir que a prática delituosa é
uma constante em sua vida, o que abala a ordem pública reiteradamente a cada
crime que pratica, causando insegurança e descrédito à população, vítima de seus
feitos ilícitos.

Desta forma, o perigo gerado pelo estado de liberdade do Agente resta


evidenciado, sendo notório que sua liberdade enseja o cometimento de novos
crimes cujo resultado coloca em risco a Vítima e a sociedade.

Neste viés, considero que estão presentes fatos concretos contemporâneos que
motivada e fundamentadamente ilustram o perigo (e não mero receio), também
concreto, gerado pelo estado de liberdade do Agente, autorizando a convolação da
segregação em flagrante em prisão preventiva, conforme a exposição supra.

Por outro lado, não se revelam adequadas medidas cautelares diversas da prisão
preventiva, pois seriam insuficientes diante da presença dos elementos ensejadores
da prisão preventiva, desatendendo os requisitos do art. 282 do CPP.”

E, depois, mantida:
“[...] tenho que os motivos vigentes quando da decretação da prisão preventiva
persistem e se encontram acobertados pela preclusão, não podendo este Juízo
manifestar-se novamente sobre eles se não restar evidenciada a alteração das
circunstâncias, tal como estabelece o art. 316 do CPP.

No mesmo sentido, as nuances do caso concreto, pormenorizadas na decisão que


decretou a prisão preventiva, evidenciam a inaplicabilidade das medidas
cautelares diversas da prisão (art. 319 do Código de Processo Penal), motivo por
que não se há falar em sua aplicação na espécie.

Assim, a periculosidade do agente é evidenciada pelo próprio modus operandi,


razão pela qual o fato de o requerente ser primário e possuir residência fixa não
altera o fundamento que ensejou a decretação da prisão.”

4. Como se vê, não se revela suficiente e adequada a pretendida substituição, tampouco ilegal ou
arbitrária a manutenção da prisão provisória, dada a sua imprescindibilidade para garantia da ordem
pública.

Com efeito, a gravidade concreta das imputadas condutas, notadamente pelo modus operandi na prática
criminosa, está a evidenciar a periculosidade de Rafael: em tese, ele manteve a Vítima como refém
(utilizando-se de um “facão” em seu pescoço) mesmo após a chegada dos agentes policiais, empregou
violência física contra ela e ameaçou-a de morte.

Consignou-se no decreto prisional, além disso, que Rafael ostenta anotações de delitos cometidos no
contexto de violência doméstica, a substanciar, desse modo, o periculum libertatis.

Daí, não se vislumbrar impropriedade na deliberação atacada, que, a propósito, encontra conforto na
orientação das nossas e. CORTES SUPERIORES:

STF: “A jurisprudência desta Corte é no sentido de que a gravidade em concreto


do crime, a periculosidade do agente, evidenciada pelo modus operandi e a
fundada probabilidade de reiteração delitiva, constituem fundamentação idônea
para a decretação da custódia preventiva.”[4]

STJ: “O Superior Tribunal de Justiça, de forma reiterada, registra entendimento


no sentido de que a gravidade concreta da conduta, reveladora do potencial
elevado grau de periculosidade do agente e consubstanciada na alta
reprovabilidade do modus operandi empregado na empreitada delitiva, é
fundamento idôneo a lastrear a prisão preventiva, com o intuito de preservar a
ordem pública”[5].

Registre-se, ademais, ter o Juízo a quo, acolhendo pleito da Defesa, determinado a realização de
avaliação médica do Paciente, em ordem a que os problemas de saúde mencionados pelo Impetrante
poderão, se constatados, receber o devido e adequado tratamento.

Inexiste, portanto, constrangimento ilegal a ser reparado.


ANTE O EXPOSTO:

ACORDAMos integrantes da Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por
unanimidade de votos, em DENEGAR o habeas corpus.

O julgamento foi presidido pelo Desembargador Gamaliel Seme Scaff, sem voto, e dele participaram
Desembargador Telmo Cherem (relator), Desembargador Miguel Kfouri Neto e Desembargadora Lidia
Maejima.

Curitiba, 01 de fevereiro de 2024.

TELMO CHEREM– Relator

[1]Denunciado por cárcere privado, lesão corporal qualificada e ameaça (mov. 38.1, Ação Penal nº 4569-17.2023.8.16.0196).

[2]Mov. 21.1, Ação Penal nº 4569-17.2023.8.16.0196.

[3]Mov. 14.1, Autos nº 8958-18.2023.8.16.0011.

[4]AgR no RHC nº 230.923/SP, 1ª Turma, Relator: Min. ROBERTO BARROSO, DJe 11.10.2023.

[5]AgRg no HC nº 846.289/SC, 6ª Turma, Relatora: Min. LAURITA VAZ, DJe 16.10.2023.

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