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UNIVERSIDADE 

DE BELAS
FACULDADE DE DIREITO
CURSO DE DIREITO

MODALIDADES DE DIVÓRCIO NA SALA DE FAMÍLIA DO
TRIBUNAL DA COMARCA DE BELAS EM 2020

TRABALHO DE FIM DE CURSO

AMÉLIA PACIÊNCIA CAMAHONJO

LUANDA, 2022
UNIVERSIDADE DE BELAS
FACULDADE DE DIREITO
CURSO DE DIREITO

MODALIDADES DE DIVÓRCIO NA SALA DE FAMÍLIA DO
TRIBUNAL DA COMARCA DE BELAS EM 2020

TRABALHO DE FIM DE CURSO

Elaborado por: Amélia Paciência Camahonjo

Orientado por: Msc. Yumelys Miranda Rochart

Trabalho de Fim de Curso apresentado à
Faculdade de Direito da Universidade de
Belas como requisito para a obtenção do
Grau de Licenciada em Direito

LUANDA, 2022
i

FICHA CATALOGRÁFICA

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou electrónico para fins de estudo e pesquisa desde que citada a fonte.

Amélia Paciência Camahonjo

Data ______/______/_______

CAMAHONJO, Amélia Paciência.

MODALIDADES DE DIVÓRCIO NA SALA DE FAMÍLIA DO TRIBUNAL
DA COMARCA DE BELAS EM 2020.

Trabalho de Fim de Curso apresentado à Faculdade de Direito da Universidade de Belas
como requisito para a obtenção do Grau de Licenciada em Direito.

Orientador: Msc. Yumelys Miranda Rochart.

N.º de páginas: 50

Tipo de letra: Time New Romam.

Palavras-chave: Família. Casamento. Divórcio.
ii

AMÉLIA PACIÊNCIA CAMAHONJO

MODALIDADES DE DIVÓRCIO NA SALA DE FAMÍLIA DO
TRIBUNAL DA COMARCA DE BELAS DE LUANDA EM 2020
Trabalho de Fim de Curso apresentado à Faculdade de Direito da Universidade de Belas como
requisito para a obtenção do Grau de Licenciada em Direito.

Aprovado, _____/______/_______

BANCA EXAMINADORA

Presidente de Júri

_________________________________
1º Vogal

__________________________________
2º Vogal

__________________________________

Secretário

__________________________________
iii

Dedico este trabalho, aos meus pais, esposo e filhos.
iv

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço à Deus por ter me dado forças para caminhar e por ter  me dado a
sabedoria para a elaboração deste trabalho;
A todos os meus familiares, em particular aos meus pais;
Meus irmãos;
Aos meus colegas que directa ou indirectamente de forma incondicional, e muitas vezes
despercebida, deram as suas contribuições multifacetadas, para  que este trabalho fosse uma
realidade.
Minha eterna gratidão.
v

RESUMO

O presente trabalho debruça sobre o tema: Modalidades de Divórcio na Sala de Família do
Tribunal da Comarca de Belas em 2020. O mesmo, tem como objectivo geral, conhecer a
modalidade de divórcio mais referida na Sala de Família do Tribunal da Comarca de Belas
em 2020. No presente trabalho, aplicou-se o estudo descritivo com abordagem mista e
empregaram-se os métodos de observação, histórico-lógico, estatístico. Olhando para os
objectivos traçados, alcançou-se  os seguintes resultados: percebe-se que 70%  dos cidadãos
questionados que concorreram à Sala de Família do Tribunal da Comarca de Belas,
tencionam intentar uma acção de divórcio litigioso. Conclui-se que o divórcio é a suspensão
da convivência conjugal com motivos bem definidos que originam ruptura no seio do casal. O
divórcio é o rompimento legal e definitivo do vínculo de casamento civil. Recomenda-se que
se crie mecanismos de sensibilização para estabilidade nas famílias. Que se procure
desistimular as consequências do divórcio para a família.

Palavras-chave: Família. Casamento. Divórcio.
vi

ABSTRACT

The present work focuses on the modalities of divorce in the Family Room of the Provincial
Court of Belas in 2020.  The objective is to know the most mentioned type of divorce in
the Family Room of the Provincial Court of Belas in 2020. A bibliographical/descriptive
study with  a mixed approach was applied and the methods of observation, logical  historical,
statistical, documentary were used. that divorce is the suspension of the conjugal relationship
with well-defined reasons that lead to a rupture within the couple. Divorce is the legal and
definitive termination of the civil marriage bond. Looking at the outlined objectives, it is clear
that 70% of the citizens who applied for the Family Room of the Provincial Court of Belas
intend to file  a  litigious divorce action. It is recommended to create awareness mechanisms
for stability in families. That it seeks to discourage the consequences of divorce for the
family.

Keywords: Family. Marriage. Divorce.
vii

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

al. - Alinea

art.º– Artigo

CC – Código Civil

CF – Código da Família

CRA – Constituição da República de Angola

Idem. – Idêntico

LC – Lei Constitucional

n.º – Número

op. cit. – Obra citada

p. – página

Segs. – Seguintes

Vol. – Volume
viii

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico n.º 1 Representação gráfica do género…………………………….…………………...38

Gráfico n.º 2 Representação gráfica da faixa etária………... ………..…..
……………………...39

Gráfico n.º 3 O que veio fazer aqui neste Tribunal?....................................................................

40

Gráfico n.º 4 Vai optar pelo divórcio por mútuo acordo ou litigioso?....................................... 
41
ix

ÍNDICE
Folha de rosto………………………………………………………………………..
………………i
Ficha catalográfica………………………….....

……………………………………………………ii
Folha de aprovação………….....

…………………………………………………………………..iii
Dedicatória…………….....

………………………………………………………………………...iv
Agradecimentos………….....……………………………………………………….………....
……v
Resumo…………………………….....…………………………………………….
………………vi
Abstract……………………….....

………………………………………………………………...vii
Lista de abreviaturas e siglas……………....……………………………………….
…………….viii
Lista de gráficos………………………………………………………….
………………………...ix
I. INTRODUÇÃO……………………………………………………….
……………………...1
1.1. Introdução do tema…………………………………………………….……………………
1
1.1.1. Delimitação do tema………………………………………………….
…………………...2
1.1.2. Justificação do tema………………………………………………………………………
2
1.2. Formulação do problema……………………………………………….
…………………...2
1.3. Formulação de hipóteses…………………………………………………………………....
2
1.4. Objectivos…………………………………………………………………..........................
3
1.4.1. Objectivo geral………………………………………………………….………..............
3
1.4.2. Objectivos específicos………………………………………………….
………………....3
II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA……………………………………..…………………...4
2.1. Evolução da família em Angola………………………………………….…………………
4
2.2. Os diferentes tipos de famílias………………………………………….
…………………..8
2.3. Princípios constitucionais de família…………………………………….
………………...10
2.3.1. A família à luz do Código de Família angolano………………………..
………………..13
2.4. A origem do casamento………………………………………………….
………………...15
2.4.1. Pressupostos de existência do casamento……………………………….
………………..16
2.4.2. Validade do casamento……………………………………………….
………………….18
2.4.3. A dissolução do casamento…………………………………………….
………………..18
2.5. Separação e divórcio……………………………………………………..……………......

19
2.5.1. Separação de facto e separação de corpos………………………………..
……………...20
2.5.2. O fundamento do divórcio………………………………………………..
……………...21
2.6. Modalidades de divórcio ……………………………………………….…………………
22
2.6.1. A controvérsia do divórcio……………………………………………..
………………..24

2.6.2. Legitimidade na acção de divórcio litigioso e suspensão do direito de acção…….…….27
2.7. Os efeitos patrimoniais do divórcio………………………………………..………………28
2.8. Quadro legal…………………………………………………………..……….................. 34
III. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO………………... ……………………..35
IV. METODOLOGIA……………………………………………………..……………...... ..36
4.1. Tipo de estudo………………………………………………………..…………............... 36
4.2. População e amostra………………………………………………….………………....... 36
4.2.1. Critério de inclusão…………………………………………………..………………......36
4.2.2. Critério de exclusão……………………………………………….…………………......36
4.3. Métodos utilizados……………………………………………………..……………......... 36
4.4. Procedimentos e instrumentos ou técnicas para a colecta de dados…………..…………...36
4.5. Processamento de dados………………………….………………………………………..37
V. RESULTADOS E DISCUSSÃO………………... ………………………………………...38
VI. CONCLUSÕES…………………………………..………………………………............ 46
VII. RECOMENDAÇÕES…………………..………………………………………………..47
VIII. BIBLIOGRAFIA………..…………………………………………………………....... 49
APÊNDICE……………..………………………………………………………........................ I

xi

I. INTRODUÇÃO
1.1. Introdução do tema

O presente trabalho tem como abordagem, modalidades de divórcio na Sala de Família do
Tribunal da  Comarca de  Belas em 2020. Quando o casal já não se entende, quando um deles
já não pretende continuar na relação conjugal, por diversos motivos, optam pelo divórcio. Em
alguns casos essa opção, contribui para  que  tal divórcio seja litigioso, porque um deles não
quer se divorciar ou porque não estão de acordo com os termos do divórcio como por
exemplo a partilha de bens.

Existem três formas de dissolução de casamento: o divórcio, a anulação e a morte de um dos
cônjuges. Os bens do casal ficam sujeitos ao regime de bens adoptado na altura do casamento
que podem ser a separação de bens, bens adquiridos ou comunhão de adquiridos. Segundo
Villaça, (2002, p.19), os países que têm as taxas mais altas de divórcio são os Estados Unidos,
a Dinamarca e a Bélgica, os que têm as taxas mais baixas de divórcio são a Itália, a Irlanda o
que se pode relacionar com o facto de serem países extremamente católicos. O poder paternal
é atribuído na maior parte das vezes à mãe.

Em Angola, o divórcio dissolve o casamento e tem juridicamente os mesmos efeitos da
dissolução da morte, salvo as exceções consagradas na lei.

O  divórcio enquanto formalização da  separação de  pessoas  casadas nos termos da  lei,  só  se


processa nos termos previstos no Código da Família, aprovado pela Lei n.º 1/88, de 20 de
Fevereiro, nomeadamente, por mútuo acordo ou por iniciativa de apenas um dos cônjuges, ou
simplesmente, litigioso, como resulta dos artigos 79.º e seguintes do diploma legal em apreço.

Achou-se conveniente dividir  o  trabalho em capítulos. Deste  modo, abordam-se  os  aspectos


introdutório onde se apresenta a justificativa, o problema da pesquisa, os objectivos, as
hipóteses entre outros. Logo aborda-se a fundamentação teórica do estudo tendo como foco, a
apresentação do conceito de  divórcio litigioso. Posteriormente se apresenta a  caracterização
da área de estudo, a metodologia utilizada com maior ênfase sobre alguns pontos que
considera-se inalienáveis para se obter a relevância científica. Depois se apresentam os
resultados e discussão e posteriormente a conclusão, recomendações, bibliografia e apêndice.

1.1.1. Delimitação do tema

O tema desenvolve-se no âmbito do Direito de Família e consiste nas modalidades de divórcio
na Sala de Família do Tribunal da Comarca de Belas em 2020.

1.1.2. Justificação do tema

O presente trabalho justifica-se pelo facto de se ter ouvido inúmeros casos de divórcio em
Luanda no ano de 2020. Os jovens hoje, contraem matrimónio e em alguns casos
transportando a vida de  solteiro para a relação conjugal, em outros  casos, mantendo relações
amorosas fora do casamento, entre  outras razões que  tem contribuído para o surgimento de
problemas dentro e fora do casamento e como último momento o casal decide se divorciar.

Um outro ponto fundamental a destacar é o facto  de esta investigação constituir um ponto de
partida para a implementação e desenho de políticas públicas futuras que possibilitem o
acompanhamento social, económico e legal dos casais, em situações de divórcio
particularmente propiciadoras de exclusão social. Mas ainda, este estudo contribui para
clarificar a existência (ou não) de eventuais comportamentos ilegais. Outra vantagem desta
investigação reside na complementaridade de técnicas que permitem entender tanto as
tendências e padrões dos divórcios em casais, como também as principais motivações
subjacentes à ruptura conjugal. É de extrema importância divulgar o tema  em questão para
que as pessoas saibam  das vantagens e desvantagens  da mesma e o trabalho pode contribuir
neste aspecto. Pode ser implementado como material de estudo na universidade, fomentando
assim a cultura jurídica do tema.

1.2. Formulação do problema

Qual foi  a modalidade de divórcio  que mais  se  manifestou a intenção de requerer na  Sala  de


Família do Tribunal da Comarca de Belas em 2020?

1.3. Formulação de hipóteses

A modalidade de divórcio mais requerida  na  Sala  de Família do  Tribunal da Comarca de


Belas foi por mútuo acordo.
Na Sala de Família do Tribunal da Comarca de Belas, em 2020, requereu-se mais o
divórcio litigioso.
2

1.4. Objectivos

1.4.1. Objectivo geral

Conhecer a modalidade de divórcio que mais se manifestou a intenção de requerer na Sala de
Família do Tribunal da Comarca de Belas em 2020.

1.4.2. Objectivos específicos
Conceituar família, casamento e o divórcio doutrinalmente;
Descrever o divórcio litigioso e por mútuo acordo no ordenamento jurídico angolano;
Avaliar o inquérito aplicado a alguns cidadãos que dirigiram-se ao Tribunal da Comarca de
Belas em 2020, com a intenção de requerer o divórcio.

II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. Evolução da família em Angola

Interessa apontar alguns dos caracteres predominantes nos diversos tipos de organismos
familiares que se encontram no nosso continente, com especial relevo para a sua zona austral.
“Os primitivos habitantes desta parte sul de África, os povos Khoisan, indevidamente
designados como bosquímanos, caracterizam-se por uma organização colectiva do poder e
pelas relações conjugais baseadas na monogamia.”(MEDINA, 2011,p.116).

Nos povos Bantus predomina a vida sedentária apoiada na actividade agrícola e na criação do
gado. Segundo Wagner (1997), nestes povos negro-africanos a ideia  de família é entendida
nos seus fundamentos e estruturas, tendo em conta as próprias relações que ligam o homem a
terra. Esta é explorada colectivamente pela família.

As relações de produção estão intimamente relacionadas com as relações familiares e estas
determinam o direito dos indivíduos sobre o solo, seus produtos, seus direitos, obrigações de
receber e dar e cooperar com membros integrados no grupo familiar. As relações de
parentesco funcionam como relações de produção.

Segundo  Wagner  (1998),  é nesta linha de  pensamento  que se  enquadra o  casamento,  que  se


traduz numa aliança de grupo a grupo e não de indivíduo a indivíduo. É uma aliança de
grupos domésticos  e não entre grupos de filiação. A autoridade paternal não é forçosamente
exercida pelo progenitor, mas pelo chefe de família.

Por força da referida combinação cultural, existem dois grandes tipos de
organização familiar na sociedade  angolana: família  tradicional  e  família  do
tipo europeu. A família tradicional é em regra extensa, podendo ser
poligâmica. Este tipo de organização é originária e inerente ao sistema
cultural tradicional angolano, em  todas as suas vertentes regionais e locais.
Nas famílias estruturadas de acordo com o sistema tradicional, em regra os
processos de casamento parental e de hereditariedade obedecem ao  princípio
uterino de linhagem. Segundo os critérios que presidem a este tipo de
linhagem, os membros das famílias a que pertence cada um dos cônjuges são
os que resultam dos laços uterinos anteriores ao casamento. A família
organizada  de acordo com os  padrões da cultura  europeia  constitui o  tipo  de
família de referência legal em Angola. Como tal, as soluções jurídicas para os
factos e processos familiares que encontramos naquela ordem  jurídica, têm
no sistema jurídico romano-germânico e na visão cristã o seu modelo
inspirador. (OLIVEIRA, 2002, p.191).

Ora veja se o direito costumeiro de algumas etnias angolanas como os Kuvale e os
kimbundos, todas estas etnias, no que se refere à família, têm direitos diferentes. Torna-se
importante referir que Angola é vasta e formada por diversas etnias, apenas será focada a
etnia Kuvale (os Mucubais) e a etnia Kimbundo na área geográfica de Icolo e Bengo e
Kissama. Os Kuvale situam-se sobretudo na província do Namibe, a sul de Angola.
Segundo Silveira (2002,  p.23), “no direito tradicional africano há regras próprias relativas ao
parentesco, à filiação, ao preço da noiva como integrante do casamento e ao regime
matrimonial de bens”.

A responsabilidade pelo cumprimento das obrigações e  pelos demais negócios jurídicos vai
recair sobre o  grupo  familiar e não  sobre o  indivíduo  unicamente a título pessoal.  À mulher
não é, em regra, reconhecida capacidade jurídica para ser processada e responsabilizada sem a
assistência do representante legal.

A título de exemplo ilustra uma de muitas situações  sui  generis,


comparativamente aos países da Europa Ocidental que pode acontecer no
espaço geográfico de Ikolo-Bengo e Kissama: “Supondo uma família de
quatro  irmãos  sendo um deles  do sexo feminino:  falece  o  irmão mais velho,
as lavras dele são distribuídas pelos três irmãos sobrevivos, que se tornam
proprietários delas e não aos filhos do falecido. A viúva é dada como
consorte ao cunhado mais novo que a esposa (só se ela quiser). Numa
circunstância destas, a viúva mantém-se no lar com os filhos. Continua na
posse da lavra que outrora lhe fora destinada pelo falecido. A única coisa que
ela deve fazer é deixar o anterior quarto conjugal e passar para outro. Em
circunstância alguma o novo casal deverá coabitar no quarto da ligação
precedente. Tudo se mantém na mesma excepto o facto da viúva ter ganho
mediatamente  um novo marido que é irmão  do  falecido  esposo (MENEZES,
2005, p.88).

Perante o direito escrito positivo, estes aspectos do direito de família e sucessório entre os
kimbundos como refere o autor, são “chocantes” tal como o levirato e a retirada dos filhos.
Porém, também nas palavras do autor, a tradição atenua os efeitos: o irmão mais novo fica com a
viúva do mais velho, este facto tem algumas consequências materiais e psicológicas positivas para
a viúva, ganha um marido que já conhece razoavelmente (por vezes a infidelidade de ambos
acontece ainda em vida do  de  cujus), não é separada dos filhos, mantém-se na mesma aldeia,
trabalha as mesmas lavras, permanecem as anteriores relações de amizade.

Sobre a definição dos conceitos, explica que o objectivo principal da definição dos conceitos é
torna-los claros, compreensivos, objectivos e adequados. “O uso de termos apropriados, de

definições correctas contribui para melhor compreensão da realidade observada.”
(OLIVEIRA, 2002, p.155).

O direito de família, comparado a todos os outros ramos do direito, é o que encontra-se mais
intimamente ligado à própria vida, afinal, os indivíduos no geral são providos de um
organismo familiar. Para este autor, família “é considerada como um instituto de realidade
sociológica e constitui a base do Estado, o núcleo central de qualquer organização social,
conforme se demonstra a seguir.” (GONÇALVES, 2010, p.23).

De acordo ao mesmo autor, em qualquer aspecto em que é considerada, aparece a família
como uma instituição necessária e sagrada, que vai merecer a mais ampla protecção do
Estado. O CC a ela se reportam e estabelecem  a sua estrutura, sem no entanto defini-la, uma
vez que não há identidade de conceitos tanto no direito como na sociologia. Dentro do próprio
direito a sua natureza e a sua extensão variam, conforme o ramo.

Que possui uma visão mais normativa do direito de  família, disserta  que os


direitos de família  são aqueles que  existem por  uma  pessoa  pertencer  a uma
determinada família, sendo classificado como cônjuge, pai, mãe ou filho,
diferente dos direitos patrimoniais que tem valor pecuniário. O direito de
família,  contudo,  pode  ter atribuído a  si  conteúdo patrimonial, conforme ser
exposto a seguir (WAGNER, 1999, p.34).
Na família pode se discernir varias instituições familiares, tais como: o namoro, o noivado, o
casamento, a vida conjugal com todos os seus papéis (pai, mãe, filhos, sogros, etc.).

No entanto, não se pode esquecer que as instituições familiares são universalmente
reconhecidas, embora em cada sociedade elas assumam formas diferentes.

O certo é que o termo “família” é um tanto vago e pode significar: a) o grupo
composto de pais e filhos; b) um grupo cognático, isto é, de pessoas que
descendem de um mesmo antepassado, seja através de homens ou de
mulheres; c) um grupo de parentes e seus descendentes, que vivem juntos
(DIAS, 2008, p.66).

Com a celebração da concordata entre Portugal e a Santa Sé foi reintroduzida a dualidade de
formas de casamento em que vigorou ate 1967. Hoje em dia em Angola reconhece -se
unicamente o casamento civil pois, o Estado angolano é constitucionalmente um Estado laico.
O casamento celebrado perante os órgãos do registo civil tem carácter obrigatório, art.º 27.º -
e 34.º CF.1

1
Código da Família angolano. De realçar que o Código da Família foi a principal base de investigação.
6

Foi na reforma parcial da LC cuja revisão foi completada pela Lei n.º 23/92, de 16 de
Setembro, que consagrou no seu art.º 29.º, n.º1 o princípio de que a família tem direito a
protecção  do  estado, quer  se  funde no casamento quer  em união  de  facto, dando  assim pela
primeira vez consagração constitucional a esta forma de constituir família.

A  CRA de 2010  dedica  todo  o  art.º  35.º  à protecção  da  família quer  se  funde no  casamento
quer na união de facto, isto apenas vem demonstrar a importância que o Estado angolano
concede à união de facto e o casamento com vista a proteger a família.

O CF foi aprovado pela Lei n.º1/88 de 20 de Fevereiro. Assim, o art.º 7.º consagra a união de
facto à semelhança do parentesco, casamento e a afinidade, como sendo fontes de relações
familiares e o art.º 112.º, define a união de facto, como a “união que consiste no
estabelecimento voluntário de vida em comum entre um homem e uma mulher.”2

A promessa de casamento é um acto de importância social, realizado com seriedade entre os
noivos e conhecido entre os seus familiares e o meio social. O CF vem confirmar no seu art.º
22.º a ineficácia jurídica da promessa, ou seja esta não dá direito a exigir a celebração de
casamento. Já quanto aos donativos feitos pelo promitente a antiga lei considerava o direito á
restituição dos bens entregues, o que constitui uma omissão voluntária da lei para impedir que
haja coacção sobre os nubentes, e dando assim primazia legal à liberdade pessoal dos nubentes
sobre o interesse patrimonial daquele que tiver feito estas ofertas.

Sucede que, para que a união entre um homem e uma mulher tenha relevância jurídica,
importa que exista uma comunhão de leito, mesa e habitação e que reúna os pressupostos
legais. Para o casamento já se sabe e para a união de facto está plasmado no n.º1 do art.º 113.º,
a saber; Que tenham coabitação consecutiva de três (3) anos, singularidade e capacidade
matrimonial.

Importa realçar que a união de um homem e uma mulher não é inócua no que
concerne  a efeitos patrimoniais.  Na  vigência daquela,  o  casal tem de habitar
numa casa, tem despesas comuns de alimentação e mobiliário, trocam
presentes, movimentam em  conjunto contas bancárias, podem ter filhos em
comum, celebram vários  contractos, como os de fornecimento de  água, luz,
telefone, televisão  e contraem dívidas, pelo  que, obviamente, tecem uma teia
de relações patrimoniais, que não podem ser escamoteadas e consideradas
inexistentes (OLIVEIRA, 2002, p.31).

Segundo Vaitsman (1994), na análise evolutiva da família, verifica-se que de uma estrutura de
hierarquia, a família tende para uma estrutura de igualdade. Esta modificação fundamentou-se,

2
 Lei n.º1/88 de 20 de Fevereiro, Código da Família angolano.
7
inicialmente, na questão do poder. Na família hierárquica, o homem detinha o poder de
mando, controlando todos os membros da família, a qual apoiava-se no poder económico
daquele. À mulher cabia o espaço doméstico, onde  exercia seu poder, mas permanecendo à
sombra do dono da casa, senhor absoluto.

Ainda de acordo ao mesmo autor, a sexualidade do casal era vivenciada de forma diferente, o
homem  tinha uma  liberdade sexual  ampla  e  estimulada.  Enquanto a mulher devia  manter-se
fiel ao marido. Até há pouco tempo, as mulheres não tinham autonomía. No início do século
XX, era frequente as mulheres serem analfabetas, tendo adquirido direito ao voto em 1934. Os
valores familiares estavam fundamentados no desempenho  profissional do homem, na  parte
económica e nas qualidades morais.

Segundo Carvalho (2000), o indivíduo era considerado em relação aos êxitos que sua família
conquistava, centrando-se nesta o foco das atenções. Nas famílias hierarquizadas havia um
posicionamento distante nas relações entre pais e filhos, mantido por ambas as gerações,
justamente para se firmar a hierarquia entre os membros da família. Os assuntos familiares
importantes eram tratados entre os pais sem a presença dos filhos.

A aproximação física como manifestação de  afecto-  era  resguardada


e contida. A aproximação constava de rituais formais e distantes,
para  confirmar o respeito dos  filhos  pela  posição dos pais. Após  as
duas guerras mundiais e a revolução industrial, a família, nas
décadas de 50 e 60, passou por modificações acentuadas. Houve um
maior incentivo  em privilegiar  mais o indivíduo, com seus valores e
capacidades do que sua posição  social, género ou idade (PEREIRA,
2001, p.43).

2.2. Os diferentes tipos de famílias

“Os diferentes tipos de família são entidades dinâmicas com a sua própria identidade,
compostas por membros unidos por laços de sanguinidade, de afectividade ou interesse e que
convivem por um determinado espaço de tempo durante o qual constroem uma história.”
(VAITSMAN, 1994,p.82).

Ainda de acordo ao mesmo autor continua enumerando os tipos de famílias.

1. A família nuclear, constituída por dois adultos de sexo diferente e os respectivos filhos
biológicos ou adoptados, já não é para muitos o modelo de referência, embora continue a ser o
mais presente.

8
2. As uniões de facto, trata-se de uma realidade semelhante ao casamento, no entanto não
implica a existência de qualquer contrato escrito;

3. As uniões livres, não são muito diferentes das uniões de facto, apenas nestas nunca está
presente a ideia de formar família com contractos;

4. As famílias recompostas são constituídas por laços conjugais após o divórcio ou
separações. É frequente a existência de filhos de casamentos ou ligações diferentes
ocasionando meios-irmãos;

5. As famílias monoparentais são compostas pela mãe  ou pelo pai e  os filhos. São famílias


fruto de  divórcio, viuvez ou  da  própria  opção dos progenitores, mães solteiras, adopção  por
parte das mulheres ou dos homens sós, recurso a técnicas de reprodução. O aumento dos
divórcios fez aumentar o número deste tipo de famílias já que nesta situação os filhos ficam a
viver com um dos progenitores. Na maioria das vezes este progenitor é a mãe, embora já haja
alguns homens;

6.  Por  fim, as famílias homossexuais constituídas por  duas pessoas do mesmo sexo com ou


sem filhos. Se a evidência, no que concerne a um número crescente de diferentes tipos de
famílias, é incontestável, estas novas formas de estrutura e dinâmica familiar não se despem, a
nosso ver,  da  sua  essência: a  família  como grupo social  em que  os seus membros coabitam
ligados por uma ampla complexidade de relações interpessoais. (OLIVEIRA, 2002)

O sistema familiar pode ser compreendido como um grupo de pessoas que
interagem a partir de vínculos afectivos, consanguíneos, políticos, entre outros,
que estabelecem uma rede infinita de comunicação e mútua influência. Dessa
perspectiva, a família pode ser considerada como um sistema dinâmico,
submetido a um processo de estabelecimento de regras, e marcada pela busca
de um acordo entre seus membros. Pode-se pensar, então, que a dinamicidade
do sistema se caracteriza pela maneira como a família se movimenta frente às
diferentes situações as quais se coloca ou  é colocada. Existe uma estrutura
interna inerente ao sistema, que permite aos seus membros que se
comuniquem de  acordo com  as regras  estabelecidas  de maneira  implícita  ou
explícita. A organização familiar é pautada pelos acordos que permeiam a
convivência em diferentes níveis. Esta organização se estrutura a partir dos
subsistemas, os quais configuram a forma como os  membros de uma  família
se organizam, considerando o tipo de relação  e vinculação  estabelecida entre
eles (VAITSMAN, 1994,p.82).

“Os subsistemas familiares  podem ser compreendidos  como um reagrupamento  de membros


do sistema geral, no qual é estabelecida uma intercomunicação diferente daquela utilizada no
sistema principal” (DIAS, 2005, p.74).
9

Nesse  reagrupamento, as díades  ou  os grupos se organizam segundo distintas  variáveis, tais


como geração, sexo, papel ou função, interesses comuns, entre outros.

“O subsistema conjugal é formado por duas pessoas adultas unidas entre si por laços afectivos
e tem como característica principal a constituição de um par que se une com a finalidade de
constituir seu próprio sistema familiar” (CRUZ, 1999, p.291).

Cabe destacar que, desde a década de 1980, quando essa definição foi feita por Salvador
Minuchin, muitas coisas mudaram em termos de conjugalidade. Para Lobo (2011),
actualmente, pode -se considerar que são diferentes os motivos pelos quais duas pessoas se
unem, e a finalidade de unir -se para constituir seu próprio sistema familiar, pode ser
compreendida como apenas uma entre outras possibilidades de escolha pela união.

Segundo Dias (2008), daí a importância que no passado e no presente se tem dado à família e
às mudanças que a têm caracterizado na sua estrutura, nas relações dentro e fora dela. Por
outro lado, as diversas gerações que integram uma família avançam no tempo através do ciclo
vital, priorizado por eventos que definem as diferentes etapas de crescimento, assim como as
tarefas de socialização inerentes a cada um dos elementos no percurso que partilham em
conjunto.

Em cada etapa têm lugar acontecimentos que determinam conjunturas que
podem afectar  cada um dos  seus membros,  o que  exige  dos intervenientes  a
necessidade de encontrarem novas formas de estar que lhes permitem
adaptar-se às  modificações estruturais, funcionais e às  mudanças subjacentes
a cada etapa. Deste modo, o ciclo vital da família pode ser representado como
um esquema de classificação em etapas, Fig. II, que demarcam uma
sequência previsível de mudanças na organização familiar ao longo do tempo
(VAITSMAN, 1994, p.82).

No  esquema observamos o  autor,  reflecte  que  a  família inicia  com a constituição  do  casal e


vai mudando à medida que nascem os filhos, se tornam alunos, adolescentes e adultos. O
processo repete-se quando o primeiro filho sai de casa e forma nova família.

O sistema altera-se, forma-se outro,  as relações tornam-se mais  abrangentes, constituindo-se


um novo sistema familiar. Quando as famílias têm dificuldades na adaptação, inerentes às
diferentes etapas do ciclo, podem instalar-se “crises de desenvolvimento”, caracterizadas por
serem universais e previsíveis, gerando alterações na função familiar e problemas nos seus
membros.
10

“A família desempenha neste ciclo um papel estabilizador, através do processo de
socialização, o qual procura produzir nos indivíduos conformidade, por forma a que se
adaptem à nova estrutura como um todo a que pertencem.” (DIAS, 2005, p.74).

2.3. Princípios constitucionais de família

“Os princípios constitucionais devem ser observados não apenas pelo legislador no momento
da  elaboração  das normas jurídicas, como também, pela  hermenêutica, quando  da aplicação
das demais normas constitucionais e infraconstitucionais.” (CRUZ, 1999, p.291).

Segundo o mesmo autor, há alguns princípios constitucionais que devem ser utilizados no
âmbito do direito de família, a fim de trazer maior segurança jurídica no momento de
aplicação da norma, que são:

1º Princípio da igualdade entre homem e mulher na constância do casamento. Com relação ao
significado  do  princípio da igualdade: Significa o  fim  do  patriarcalismo e a emancipação  da
mulher, confere-se a ela a igualdade de direitos em relação ao seu marido, durante a
constância do casamento.

“Isso significa que não há mais o estado de sujeição na qual o cônjuge que se encontrava,
podendo tomar as decisões em conjunto.” (VILLAÇA, 2002, p.59).

2º Princípio da solidariedade familiar. Segundo Oliveira, (2002, p.155), “o princípio da
solidariedade familiar implica cooperação, respeito e consideração mútuos em relação aos
membros da família. Entende-se por solidariedade o que cada um deve ao outro.”

3º Princípio da liberdade. Entretanto, o princípio da liberdade comporta restrições, por
exemplo, no casamento e na união de facto , quando a lei impõe deveres aos cônjuges e
companheiros, bem como restrições quanto à alienação de alguns bens.

“Porém, a opção de se casar ou permanecer em união de facto, é a própria característica da
manifestação e expressão da liberdade do indivíduo.” (LOBO, 2009, p.198).

4º Princípio do pluralismo familiar. O princípio do pluralismo familiar tem grande relevância,
“uma vez que a norma constitucional abrange a família matrimonial e as entidades familiares
(união de facto e família monoparental).” (CRUZ, 1999, p.181).

Ainda de acordo ao mesmo autor, o casamento deixa de ser a única instituição protegida pelo
direito de família, assegurando o reconhecimento de outras cuja tutela deve ser concedida.
11

Assim, a união de facto surge como entidade familiar com direitos e deveres próximos aos das
famílias que se constituem pelo casamento.

5º Princípio da afectividade. Para Lobo (2011, p. 73), “o princípio da afectividade é o
princípio que fundamenta o direito de família, na estabilidade das relações socioafectivas e na
comunhão de vida.” O princípio jurídico da afectividade como diz Dias (2008), faz despontar
a igualdade entre os irmãos biológicos e adotivos e o respeito aos seus direitos fundamentais.

A afectividade, como princípio jurídico, segundo Lobo (2011), não se confunde com o afecto,
como facto psicológico, sendo um dever imposto aos pais em relação aos filhos e igualmente
destes em relação àqueles, ainda que haja desamor ou desafeição entre eles.

6º Princípio da convivência familiar. “A convivência familiar é a relação duradoura
entretecida  pelas  pessoas que compõem  o  grupo  familiar,  em virtude  de laços  de  parentesco
ou não, no ambiente comum.” Idem. (2011, p. 74),

Destarte, a convivência familiar supõe não necessariamente o espaço físico, já que mesmo
quando os pais estão separados, o filho menor tem o direito de manter relações pessoais e
contacto directo com ambos os progenitores, não podendo o guardião impedir essa convivência.

Para Sotoco (2001, p. 89) “as regras que objetivam organizar juridicamente os interesses de
ordem individual são compreendidas como sendo de direito privado, as quais tem o
casamento como seu mais importante instituto, tendo em vista que é alicerce da família.”

Com o advento reformista da Constituição de 1992, instauraram-se os princípios
fundamentais respeitantes à família bem como a igualdade entre o homem e a mulher,
passando a proteger os membros da família, bem como a família constituída pelo casamento e
a união de facto. Consagrou a igualdade entre os filhos, havidos ou não do casamento, ou por
adopção, garantindo-lhes os mesmos direitos e qualificações. Notar que o n.º 1 do art.º 29.º da
Lei n.º 23/92 de 16 de Setembro, vai reconhecer à família como núcleo da organização da
sociedade e como tal,
terá especial protecção do Estado, quer se funde em casamento ou em união de facto.
Esta é a posição acolhida também pela actual constituição nos termos do art.º 35.º n.º1
atribuindo ao Estado a obrigação de permitir aos  seus cidadãos uma vida familiar estável ou
normal, garantindo deste modo a lei de igualdade entre homens e mulheres (n.° 3 do art.º
35.º), conferindo-lhes os mesmos deveres no seio familiar.

12

Assim sendo, o Direito da Família na actualidade não tem mais por objecto à família legítima,
pois a evolução dos tempos impôs a reconsideração e a ênfase dos aspectos sociais e
afectivos. (Como consequência disso a Constituição através do art.°35.º n.°1 reconheceu
outros modelos de família que não apenas os oriundos da relação de casamento (como a união
de facto, o
núcleo composto por um dos progenitores e seus  filhos e os casais que já possuem
filhos e unem-se em união facto formando um novo núcleo familiar), aplicou o princípio da
isonomia aos cônjuges, igualando-os, e proibiu qualquer discriminação de tratamento entre os
filhos, pouco importando a sua origem, posição confirmada pelo CF que  prevê, ainda outros
modelos de constituição familiar qual seja pelo parentesco, pelo casamento, pela união de
facto, pela adopção e pela afinidade nos termos do art.º 7.° do mesmo diploma legal.

2.3.1. A família à luz do Código de Família angolano

O CC angolano vigente só reconhecia a família estruturada no casamento. Incidentalmente,
fazia menção a propósito das então designadas acções de investigação de paternidade
ilegítima e como um dos pressupostos destas acções, às situações de concubinato duradouro e
de convivência marital notória, cujos conceitos vinham definidos no art.º. 1862.º.

O que terá catapultado para a formulação de um novo CF e satisfazendo uma necessidade
urgente, foi em 27 de Outubro de 1987 promulgado o CF é publicado em 20 de Fevereiro de
1988, tendo sido aprovado pela Lei n.º 1/88, para entrar em  vigor na data da sua publicação
(art.º 1.º do respectivo código).

Desta feita, tornou-se necessário adaptá-lo as novas aspirações que se vão criando sobre o
direito de família, não só em Angola, como em todo mundo.

Como refere Medina (2013) o novo código veio integrar num só diploma o conjunto das
normas do direito da família, como todos os benefícios que derivam  da  codificação das leis.
Ele trouxe igualmente a sistematização, clareza e acessibilidade do texto legal ao cidadão
comum, o que constitui uma característica do direito de inspiração socialista. Trata-se de um
código de um novo direito baseado em  novos princípios, orientados para uma visão criadora
de novas regras de conduta que, por sua vez, irão exercer uma influência determinante no
meio social.

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Estes novos princípios, resultantes da exaltação reformista da Constituição de 1992, estão
elencados em todo o título I do novo CF, são estes: a protecção da família; harmonia e
responsabilidade no seio da família; a igualdade entre o homem e a mulher; protecção e
igualdade das crianças; educação da juventude e a nova moral social. Com efeito, contêm
regras fundamentais programáticas, que devem orientar a constituição e o desenvolvimento
das relações no domínio da família, na qual os interesses pessoais de cada um dos membros se
devem coordenar de forma harmoniosa com os interesses gerais da sociedade, com vista à
criação de um novo homem angolano.

Por outras palavras, estes princípios mais não são do que a consagração  da igualdade entre o
homem e a mulher (art.º 3.º), a consagração da igualdade entre os  filhos,  havidos ou não no
casamento (actual art.º 128.º), ou por adopção (actual art.º 197.º), sendo-lhes garantidos os
mesmos direitos e deveres.

Neste sentido, e segundo vem descrito no preâmbulo do CF, uma das principais conquistas
naquele ordenamento, é a possibilidade de legalização das uniões de facto. No entanto,
inicialmente, foi publicada  a Lei do Sistema de  Segurança - Lei 18/90, de  27 de  Outubro e
Decreto n.º 49/91, de 16 de Agosto que regulamentava a união de facto, a qual atribuía o
direito à pensão de sobrevivência ao companheiro sobrevivo da união de facto, desde que esta
estivesse registada.

Foi com a Lei  Constitucional cuja a revisão  operada pela Lei  n.º  23/92, de 16  de Setembro,


que consagrou-se pela primeira vez, na altura no seu art.º 29.º, n.º 1, o princípio de que a
família tem direito à protecção do Estado, quer se funde em casamento quer em união de
facto, admitindo deste modo, esta forma de constituir família. Com efeito, a consagração legal
da união de facto foi sendo acentuada em todo o sistema jurídico angolano.
A Lei das Sociedades Comerciais, nas suas Disposições Finais e Transitórias, art.º 525.º
dispõe: “sempre que nesta lei, se faça referência a cônjuge deve entender-se que a expressão é
extensiva  aos  companheiros  da união de  facto, ainda que  não  reconhecida”. O legislador no
Código de Família preocupou-se em reconhecer alguns institutos tirados do direito
costumeiro, entre eles a união de facto, há parte da população angolana que vive em união de
facto.

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O Estado tem como  objectivo o de legalizar o maior número possível  de uniões pela função


social que o casamento desempenha na sociedade. Foi de acordo com esta directriz legislativa
que  o  instituto da  união  de  facto veio a  ser consagrado  no CF  e  mencionado nos princípios
fundamentais como  uma  das formas de constituição da família, sendo-lhe  consagrado todo o
título IV do Código.

Contudo, o Código tem ainda uma função eminentemente política, no sentido de
uniformização do tratamento jurídico das relações sociais, agora tratadas de forma unitária
para todos os cidadãos do País. Com efeito, no direito angolano a família, em sentido jurídico,
é aquela constituída pelas pessoas que se encontram ligadas pelo parentesco, pelo casamento,
pela união de facto e pela afinidade.

2.4. A origem do casamento

É importante lembrar que Angola viveu longos anos sobre jugo colonial, o sistema de partido
único, o que de forma clara, afectou as formas de interpretação do conceito de família.Por via
do  preceituado  no art.º  84.º  daquela Lei,  que norteava  quanto à  legislação vigente,  vinda do
sistema jurídico colonial, tinha que se entender como revogada toda a legislação que
contrariasse o processo revolucionário angolano. E como qualquer outro País saído de uma
instabilidade  governamental tornava-se urgente a sua organização. E o campo do direito da
família não foi excepção.

Segundo Silva (2002, p.44), “foram publicadas uma série de leis de relevante importância
que, em  questões fundamentais, vieram alterar  a  legislação  colonial  naquilo que se mostrava
mais antagónico à nova realidade angolana”.
Entre outras leis sucessivamente aprovadas, destacam-se as seguintes: a Lei  n.º 11/85, de 28
de Outubro,  que  aprovou  a Lei  do  Acto do  Casamento  e que concedeu unicamente validade
aos casamentos celebrados perante os órgãos do registo civil, a Lei n.º 10/7de 9 de Abril, que
equiparou os direitos e deveres de todos os filhos em relação aos seus pais, qualquer que seja
o estado civil destes, proibiu qualquer referência  à qualidade de filho legítimo ou ilegítimo e
decretou a abolição ao termo incógnito relativamente à situação de paternidade ou de
maternidade.

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Consagrou a igualdade entre os filhos, havidos ou não do casamento, ou por adopção,
garantindo-lhes os mesmos direitos e  qualificações. Notar que  o n.º 1 do art.º 29.º da Lei nº
23/92 de 16 de Setembro, vai reconhecer à família como núcleo da organização da
sociedade e como tal, terá
especial protecção do Estado, quer se funde pelo casamento ou em união de facto.
Esta é a posição acolhida também pela actual constituição, nos termos do art.º 35.º n.º1
atribuindo ao Estado a obrigação  de permitir aos  seus cidadãos uma vida  familiar estável ou
normal,  garantindo  deste  modo a lei igualdade entre homens e mulheres  (n.º 3 do art.º 35.º),
conferindo-lhes os mesmos deveres no seio familiar.

Ainda há que salientar, que,no nosso direito moderno, não apenas é reconhecido o casamento
e a união de facto, como facto constitutivo de uma entidade familiar, mas também outros
modelos de família. Nesta senda, importa ter-se em conta que o actual CF, preocupou-se
reconhecer alguns institutos tirados do direito costumeiro, aproveitando o que de rico nos
ensinou a experiência dos povos africanos, é nesta direcção notória que referimos a união de
facto pela sua preponderância na nossa realidade social.

Estas relações têm como alicerce um fenómeno social que é constituído pela família. A
família é em si um fenómeno natural inerente à sociedade humana. A socialização da pessoa
humana inicia-se na família.

O conceito de família não é, de qualquer forma, um conceito estático e imutável. Muito pelo
contrário, como os demais fenómenos humanos e sociais, está sujeito a um processo de
evolução e transformação. Não se pode entender a família como um instituto uniforme, sendo
que dentro de um mesmo Estado pode haver mais de um tipo de grupo familiar.

2.4.1. Pressupostos de existência do casamento

Hoje em dia em Angola reconhece-se unicamente o casamento civil pois, o Estado angolano é
constitucionalmente um Estado laico. O casamento celebrado perante os órgãos do registo
civil tem carácter obrigatório, art.º 27.º e 34.º CF.

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O art.º20.º do CF define o casamento como “a união voluntária entre um homem e uma
mulher, formalizada nos termos da lei, com o objectivo de estabelecerem uma plena
comunhão de vida”.

Constata-se vários elementos essenciais:

O elemento subjectivo da voluntariedade por parte dos nubentes, homem e mulher.

A necessidade da sua formalização, segundo a forma estabelecida na lei, que é o que
distingue da união de facto.

A finalidade legal do casamento que é o estabelecimento da plena comunhão de vida.

O casamento é um acto jurídico cujo a celebração e validade exigem que se verifique
previamente a existência de certos pressupostos e ainda certas condições legais.

O casamento para ter existência jurídica necessita de três pressupostos sem os quais a sanção
é de inexistência ou a de anulabilidade do casamento.

1º- Diversidade de sexo.

Segundo expressa o art.º 20.º do CF o casamento pressupõe a união de um homem e uma
mulher, não há pois aceitação legal de casamento entre duas pessoas do mesmo sexo.
Já quanto aos casos de Inter sexualidade e transexualismo a sanção correspondente é a de
anulabilidade do casamento por erro.

2º- Duas declarações de vontade

Na celebração do casamento é  essencial que  haja  duas declarações de vontade expressa por


parte de cada um dos nubentes e a omissão de qualquer uma delas dá lugar a inexistência do
casamento.

3º- Intervenção do conservador do registo civil

O casamento tem de ser celebrado por funcionário competente do registo civil ou por
substituto legal deste, sem isso o casamento é irrelevante perante a ordem jurídica art.º 34.º al.
b) do CF.

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Só o casamento urgente pode ser celebrado sem a presença do funcionário competente do
registo civil, mas só acontece em condições especiais e está sujeito a homologação posterior.

2.4.2. Validade do casamento

O casamento como negócio jurídico bilateral e solene é constituído por elementos de natureza
substancial e de natureza formal.

Segundo Leal (2005, p.33), são condições de fundo:

a)  Aptidão natural para contrair  o  casamento,  diferença  de sexo.  Idade  núbil,  saúde


física, inexistência de impedimentos previstos na lei, vontade de contrair o
casamento, capacidade das partes;
b) Capacidade matrimonial (idade núbil e ausência de impedimento).
c) Mútuo consentimento.
Condições de forma reportam:
a) Se ao  processo  preliminar que antecede o casamento  e  a forma solene e pública
da celebração;
b) O  direito  da  família  está ligado ao  direito  constitucional  art.  29.º é  fundamental
no que  se refere  á  regulação do  casamento mas  carece de normas da família  que a
ampliem e limitem.

Do ponto de vista prático, o casamento se assentava em  um acordo formal entre o noivo e o
pai da noiva, que incluía o pagamento de um dote por parte do pai.
“Esta forma de união conjugal não levava em consideração a vontade da noiva nem dependia
do seu consentimento para ser celebrada. Em outras palavras, a mulher era dada pelo pai para
o marido, representando, consequentemente, uma simples transferência de casa e, sem dúvida,
de senhor” (LEAL, 2005, p.61).

A cerimónia dessa doação consistia em um cortejo nocturno, acompanhado por parentes e
amigos,  que  ia  de  uma  casa a outra,  a pé ou em carros  puxados  por  cavalos. As  pinturas da
época procuram representar esse cerimonial por uma porta de saída em que a noiva era
entregue e uma porta de chegada em que ela era recebida, como se tudo se passasse, como se
diz, de porta a porta.

2.4.3. A dissolução do casamento

Segundo o art.º 74.º as causas de extinção do vínculo do casamento são:
a) A morte de um ou dos dois cônjuges simultaneamente;
b) A declaração judicial de presunção de morte (que se equipara a morte);
c) O divórcio.

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A declaração de nulidade do matrimónio pela via judicial, vai se reportar  ao próprio acto que
deu origem ao casamento sendo que então está-se perante um casamento inválido, ao
contrário do que se verifica naqueles casos  em  que há um casamento válido mas que vai ser
dissolvido ou por morte ou por divórcio.

Separação judicial de pessoas e bens. A separação judicial mantém o vínculo matrimonial
entre os cônjuges sendo assim uma forma de suspensão da vida conjugal que não dissolve o
casamento.

Os seus efeitos legais são muito diferentes dos do divórcio, sobretudo o que se refere aos
efeitos pessoais:

a) Divórcio: dissolve o vínculo do casamento;

b) Separação: suspende alguns deveres recíprocos dos cônjuges;

c) Deixam de estar sujeitos a dever de coabitação e assistência, sem prejuízo do direito a
alimento;
d) A mulher continua a ter direito ao nome do marido, perdendo só em caso de
comportamento indigno ou decisão judicial.

Já no campo patrimonial os afectos do divórcio ou da separação são os mesmos, assim como
também aos filhos é direito sucessório.

Como situação familiar de carácter estável, a separação de pessoa e bens estava mesmo sujeita
a registo e constituía um estado civil.

Mas era uma situação transitória e que poderia terminar com a morte de um ou dos dois
cônjuges, para reconciliação ou pela conversão em divórcio.

2.5. Separação e divórcio

O divórcio é a suspensão da convivência conjugal  com motivos bem  definidos que originam


3 4
ruptura no seio do casal. Divórcio, do latim “  divortium ”, derivado de “divertere ”, em

3
 Divórcio.
4
Idem.
19

português significa separar-se. O divórcio é o rompimento legal e definitivo do vínculo de
casamento civil.

2.5.1.Separação de facto e separação de corpos

Separação de facto e separação de corpos não se confundem, ainda que tenham o mesmo
efeito: colocar um ponto final à vida em comum.

A separação de facto ocorre quando um cônjuge se afasta de casa por iniciativa própria sem
qualquer interferência do Poder Judiciário.

“Já  a  separação de corpos consensual ou litigiosa  depende  de  decisão judicial. Ainda  que a


separação rompa  o casamento e  o  divórcio o  dissolva,  é  a  separação de  facto que,  de  facto,
põe fim ao casamento.” (LOBO, 1996, p. 181).

Quando acaba a vida sob o mesmo tecto, o casamento deixa de gerar efeitos, faltando apenas
a chancela estatal.
Cessada a convivência, o casamento acaba, uma vez que a separação de facto gera efeitos
jurídicos e serve de marco temporal para a concessão da separação e do divórcio.

Ficam suspensos os deveres do casamento, não havendo sequer o dever de fidelidade, pois
não há impedimentos à constituição de novos vínculos afectivos.

Tanto isso é verdade, que os separados de facto podem constituir união de fact. Só há
proibição de casar.

A partir do  momento  que um dos cônjuges deixa o lar conjugal, o patrimônio adquirido por


qualquer um deles não se comunica.

Embora não decretada a separação  de corpos nem oficializada a separação ou o divórcio, os
bens adquiridos por qualquer dos cônjuges só a ele passam a pertencer, ainda que se
mantenham legalmente na condição de casados.

A separação de corpos é decretada judicialmente, por meio de um
procedimento cautelar. O objecto da separação  de corpos está em desobrigar
cônjuges e companheiros de viverem contrariados sob o mesmo tecto. A
separação de corpos  também é utilizada quando, por consenso, os cônjuges
decidem pela separação antes do decurso de um ano da celebração do
casamento. Do mesmo modo serve para a contagem do prazo para o divórcio,
fazendo cessar o recíproco dever de fidelidade (DIAS, 2005, p.123).

20

Os cônjuges, de forma consensual, podem fazer uso do procedimento de separação de corpos,
inclusive, quando já separados de facto.

O Juiz limita-se a expedir alvará a quem se afastou do lar. Esta prática, ainda que não
disponha  de  previsão legal, acabou consagrada pela  jurisprudência. Isso porque a  separação
de corpos impede a caracterização de abandono do lar conjugal.

Apesar de algumas semelhanças  entre separação de facto e de corpos, são  institutos que não


se confundem e produzem efeitos diversos. A separação de facto marca o termo inicial da
contagem do prazo para o divórcio directo (LOBO, 2009, p.177)

2.5.2. O fundamento do divórcio

O divórcio hoje é uma realidade de quase todos os sistemas jurídicos embora seja encarado de
diversas formas, pois uns sistemas são mais liberais com um leque maior de fundamentos
legais para o divórcio e formas processuais de obter e outros menos liberalizantes restringido
o divórcio aos casos expressamente previsto na lei.

Pode se apresentar duas correntes de pensamento relativamente ao divórcio:

a) A aquele que encara o divórcio como sanção imposta á conduta culposa de um dos
cônjuges, violadora de deveres conjugais - esta concepção aparece normalmente ligada àquela
que encara o casamento como instituição;

b) Concepção que encara o divórcio como o remédio ou solução final, e neste caso estão
abrangidas todas as causas de dissolução quer por culpa quer sem culpa, o que interessa é que
verificou uma situação que impede o prosseguimento da vida conjugal. O divórcio que não é
mais do que um corolário do facto do matrimónio, ter deixado de servir o fim social para que
foi instituído.

O Código Civil anterior privilegiava a concepção  de divórcio sanção, pois  este parecia como


um castigo para cônjuges que violara alguns deveres conjugais.

No  actual  Código  de Família  estabelece  que  o  divórcio só  pode  surgir quando  tenha havido
deterioração completa e definitiva das relações conjugais independentemente das causas dessa
deterioração. O art.º 78.º CF, determina que se verifique simultaneamente duas condições:

21

1- Deterioração completa e definitiva dos princípios em que se baseia a união conjugal;

2- O casamento tenha perdido o seu sentido.

O conceito de divórcio acolhido no CF angolano é de divórcio remédio pois o essencial é ter-
se apurado se cessou a plena união de vida entre os cônjuges é que as suas relações se
deterioraram de forma irreversível. A noção de culpa inerente ao conceito de divórcio sanção
foi afastada.

Para Costa (2005, p.76), pode se distinguir dois sistemas distintos quanto às causas invocáveis
como fundamento do divórcio:

a) Sistema de causa genérica - predomina a que a concepção de divórcio
remédio, pós as causas do divórcio é fundamentalmente o reconhecimento da
desunião irremediável dos cônjuges. Este é o sistema que predomina no
nosso código;
b) Sistema de causas taxativas - só é causa de divórcio aquela prevista
taxativamente na lei;

c) E há ainda sistemas como  português, que é um sistema pluralista da causa
genérica  ao  das causas taxativas, e que  em certos casos  faz  ainda o  apelo  ao
conceito  de culpa  na  acção  por parte dos cônjuges contra quem o divórcio e
proposto.

Pode-se ainda classificar as causas em:

a) Causas subjectivas: derivam de uma determinada conduta pessoal,
consciente involuntária de um dos cônjuges.

b)  Causas objectivas:  reportam-se  a  factos concretos  verificados  por  si,  com


realidade própria.

2.6. Modalidades de divórcio

Segundo o art.º 79.º do CF o divórcio pode  ser pedido. Trata-se de uma resolução bilateral
tomada concertadamente por ambos os cônjuges que é invocada como fundamento do
divórcio. Nem os legisladores nem consequentemente o tribunal exigem que os cônjuges
justifiquem a sua deliberação comum invocando a sua causa, pois parte-se do princípio que se
pedem divórcio por mútuo consentimento e porque reconheceram que a sua união conjugal se
encontra irremediável comprometida e que a melhor solução é a dissolução do casamento.

O único acordo exigido é o de não querer continuar a casar. Esta modalidade é aquela que se
revela mais benéfica no relacionamento após o divórcio pós impede acusações

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degradantes. No entanto a lei para prevenir resoluções de natureza precipitada impõem
algumas condições relativas à duração do casamento e à idade dos cônjuges, art.º 83.ºdo CF.

O divórcio por mútuo acordo pode ainda ser declarado para além da via  judicial, pela via
administrativa através do órgão do registo civil da área de residência de qualquer dos
cônjuges, mas desde que não haja filhos menores, ou quando exista decisão com trânsito em
julgado sobre a regulação da autoridade paternal.

Por apenas um dos cônjuges com base no fundamento previsto na lei. É aquele que é pedido
apenas por um dos cônjuges com base nos fundamentos da lei. Há uma causa genérica
referido art.º 78.º CF que é a  da deterioração completa e irremediável  do casamento  e que é
transportada pelo art.º 97.º CF.

O Juiz ao apreciar a natureza grave ou duradoura do facto invocado tem de aferir a gravidade
a importância  do  facto para vida dos  cônjuges, deve  ponderar qual é  a formação cultural de
ambos assim como atender ao grau de educação e sensibilidade moral dos cônjuges e ainda de
questões como a duração do casamento, a idade dos cônjuges, estado de saúde.

Os factos invocados têm de  ser posteriores ao casamento, pois os anteriores só poderão ser
invocados como causa de anulação.

Os fundamentos desses factos, art.º 97.º do CF, não são mais do que duas disposições
complementares “ causa grave ou duradoura” que viole os deveres conjugais imposto por lei.
O art.º 98.º do CF, enumera algumas causas a título exemplificativo.

Os factos invocados podem ser de natureza objetiva, ou subjetivas, e se for este o último tem
de consistir um facto ilícito violador de algum dever conjugal. Tem de ser igualmente
praticada com dolo ou  negligência. Assim tem de  ser  juridicamente  imputável aos cônjuges
contra quem acção é proposta.

Os casos em que apenas um dos cônjuges pretende obter o divórcio e o outro cônjuge se opõe,
o divórcio não poderá ser decretado na Conservatória do Registo Civil. Com efeito, nestes
casos, o cônjuge que pretende obter o divórcio terá de recorrer ao Tribunal.

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Num  futuro  não  muito longínquo, estamos convictos que  o  divórcio passará  a  ser  decretado


logo que um dos cônjuges manifeste tal vontade, tornando desnecessário o recurso ao tribunal.
Teremos então o divórcio a pedido. Actualmente, porém, é necessário o recurso ao Tribunal.

O CF prevê, actualmente, que o divórcio possa ser decretado com qualquer dos seguintes
motivos:

1. A separação de facto por tres anos consecutivos;

2.  A  alteração das faculdades mentais do  outro cônjuge,  quando  dure  há mais de  tres anos e,


pela sua gravidade comprometa a possibilidade de vida em comum;

3. A ausência, sem que do ausente haja notícias, por tempo não inferior a tres anos;

4. Quaisquer outros factos que, independentemente da culpa dos cônjuges, mostrem a ruptura
definitiva do casamento.

O Tribunal avaliará as provas que os cônjuges levem ao processo e, no final, decretará o
divórcio se considerar verificado algum ou alguns dos fundamentos do divórcio que
elencámos.

Note-se que, no caso da separação, esta terá de ter já ocorrido há tres anos consecutivos na 
data
da propositura da acção.

No que  respeita ao último dos fundamentos indicados - a  ruptura  definitiva  do casamento -


trata-se de uma cláusula geral que poderá ser preenchida com a prova de quaisquer factos que
demonstrem a falência da relação matrimonial e a respetiva irreversibilidade. Não basta, pois
que o cônjuge manifeste perante o tribunal a sua vontade de não permanecer casado: ele terá
de fazer prova dos factos que demonstrem a ruptura definitiva do casamento. Na maioria dos
casos, pois, estarão aqui em causa violações graves ou repetidas dos deveres conjugais.

2.6.1. A controvérsia do divórcio

Divórcio é separar-se, apartar-se. Assim, o divórcio é uma das formas ou  técnicas jurídicas de
dissolução do casamento com a ruptura de todos os laços que se haviam formado por ele.
(SILVA, 2002).

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O divórcio, então, assim  como a morte de um dos cônjuges é uma das  formas de dissolução


do vínculo matrimonial. Dissolve o casamento e tem juridicamente os mesmos efeitos da
dissolução por morte.

Pode-se então concluir que o divórcio é a única maneira de dissolução do casamento por
vontade dos cônjuges, o que não poderia ser diferente, já que o casamento é visto como possui
natureza contratual, o divórcio, grosso modo, seria o distrato, baseado na mera constatação da
quebra de afecto marital.

No ordenamento jurídico português o divórcio somente vem a ser implementado após
algumas décadas de muitas discussões e em consequência directa do triunfo da revolução de 5
de Outubro de 1910. Até esta época somente era aceite a separação de pessoas e bens já que o
“CC de 1867 previa unicamente o instituto da separação de pessoas e bens art.º 1204.°”
(PINHEIRO, 2015, p. 619).

A introdução do divórcio no ordenamento jurídico português coincide com a separação entre a
Igreja e o Estado e com a instituição do casamento civil obrigatório, já que foi com a
Proclamação da República que Portugal passou a ser um estado laico.

A Lei do Divórcio, então implementada, representava um sentimento de liberdade e em
comparação com outros Estados Nacionais “é uma das leis mais liberais do mundo da época,
em matéria de dissolução de casamento” (Idem. p. 619).

Pois que admitia o divórcio consensual, quando havia convergência na vontade dos cônjuges,
o litigioso, hipótese  em  que não havia convergência na vontade dos  cônjuges e a dissolução
do casamento era requerida com fundamento em causas subjetivas, como a infração a um dos
deveres do casamento.

O conceito de família sofreu transformações ao longo do tempo. Desde que o estado e a igreja
estabeleceram modelos monogâmicos, somente o homem e a mulher e desde que casados
formalmente perante a uma autoridade era considerado o modelo legal e religiosamente aceito
como legitimo.

O casamento já foi tido como instrumento de sucessão do poder entre as famílias, quando os
noivos eram escolhidos pelos pais. Também houve tempo em que os casamentos eram

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somente ocorriam entre pessoas próximas, dentro de uma mesma comunidade, grupo social ou
até mesmo de uma mesma família.

Alguns casamentos eram arquitectados e arranjados para evitar conflitos entre povos
adversários. Nessa esteira nascia a ideia de consanguinidade e o dever de fidelidade, pois seria
inconcebível que facto fosse descoberto.

Nesse sentido o divórcio, o adultério, o estupro e a violência sexual eram diante das
pretensões do Estado e da igreja de proteger e blindar casamento.

Com as transformações da sociedade, varias evoluções políticas e culturais, permitiram a
emancipação de direitos sociais da mulher. Dentre elas, uma das pretensões era justamente
a permissão e a regulamentação do divórcio, que levou muito tempo a solidificar-se no
mundo.

Não há dúvidas de que a manutenção da família é uma das principais preocupações de todos
os seres humanos, haja vista que, para melhor compreensão da estrutura de uma sociedade, há
necessidade de se obter breve entendimento sobre como se formam e se desfazem as famílias.

Conforme debruça, Santos (2011, p.87), é em torno da família que orbitam as
demais relações familiares. Sendo assim, mister se faz ressaltar que a família
é considerada a pedra angular da sociedade, a base do Estado, motivo
ensejado de protecção constitucional, conforme preceitua o artigo 226º, da
CF, “base da sociedade, tem especial protecção do Estado.

A ideia de família sempre esteve intimamente interligada ao casamento. Os preceitos
históricos do casamento e de sua dissolução não se diferenciam muito nos países ao redor do
mundo, mais precisamente nas nações ocidentais.

A partir do novo tratamento legislativo ao tema, o casamento passou a ser considerado um acto
jurídico dissociado do casamento religioso e, em consequência, passou-se á admitir o
divórcio, com interposições de limites a seus efeitos, situação que perdurou por
aproximadamente 90 anos, até que se admitisse o divórcio.

O interesse na conservação do casamento não partia somente da igreja, logo, esse carácter
indissolúvel que lhe foi atribuído, justificava-se pela essência patrimonial do casamento,
visando à lei proteger o património do casal em detrimento da felicidade dos cônjuges.

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2.6.2. Legitimidade na acção de divórcio litigioso e suspensão do direito de acção

Se se tratar de causas subjectivas (violação de deves conjugais) que servem de fundamento ao
divórcio só tem legitimidade para a propor o cônjuge ofendido.

Já se o fundamento for uma causa objectiva (ex. separação de factos) qualquer dos cônjuges
tem legitimidade para propor acção.

Há um direito de natureza bilateral do exercício de um direito potestativo.

No entanto este  direito pode ser suspenso no  caso do marido no caso  da  mulher se encontre


grávida, art.º 103.º CF, e até um ano após o parto, exceptuando os casos em que a mulher dê o
seu consentimento, pois a lei prevê que a mulher possa estar interessada na dissolução do
casamento ou quando o marido vier a impugnar a paternidade do filho porque a lei admitiu
que devia defender-se o interesse  do  marido quando  este  pretendesse afastar a presunção  de
paternidade.

Entre as causas de extinção do direito de divórcio se encontra a instigação: verifica-se quando
a conduta faltosa do cônjuge deriva do comportamento deliberado do outro, e assim apesar de
se verificarem factos  que poderiam constituir causas legais de divórcio, como decorreram da
instigação  ou provocação  por parte do outro cônjuge,  acabam por funcionar como causas de
exclusão de ilicitude, art.º 100.º CF. O perdão e a reconciliação. O perdão é um acto jurídico
universal que se traduz a vontade do titular do direito ao divórcio. No entanto o perdão tem de
ser provado por factos concludentes e a sua existência não se presume.

A Reconciliação é  um acordo da  vontade  de ambos e  consiste na verificação simultânea  de


dois elementos:

O elemento moral que se traduz na concordância dos cônjuges sem esquecer as ofensas ou
ofensas  recíprocas e  elemento  material,  que se substancia  no  facto de  a  vida em comum ser
retomada em toda a sua plenitude; tanto o perdão como a reconciliação excluem o direito ao
divórcio mas revelam  quanto aos factos anteriores e estão sujeitos a serem anulados no caso
de se apurar que a sua concessão ou produção se verificou em virtude de dolo, erro ou
coacção;

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A  caducidade  do  direito do  Divórcio: o  exercício ao  direito ao  divórcio está  ainda sujeito à


caducidade de não ser exercido no prazo legal e segundo o art.º 102 .º o prazo é de 2 anos. A
contagem do prazo inicia-se com o conhecimento do facto que serve de fundamento ao
perdido e não na data do cometimento.

No caso de se tratar de um facto continuado, o direito ao divórcio mantém-se enquanto se
mantiver o facto, independentemente de conhecimento, e o prazo de caducidade só começa a
contar a partir do momento em que o facto cessou.

2.7. Os efeitos patrimoniais do divórcio

Tal como se tem constatado no ordenamento jurídico angolano que o legislador tem vindo a
atribuir aos unidos de facto direitos semelhantes aos que são destinados aos casados. Na
verdade, ainda que a união de facto e o casamento não sejam realidades totalmente
coincidentes, em certas matérias, estas convergem, permitindo que a lei lhes atribua efeitos e
relevância idênticos, se olha para a CRA (2010) no seu art.º 35.º, ela acolhe e protege os dois
institutos  na mesma proporcionalidade,  isto em si demonstra o quão importante é o instituto
da união de facto no ordenamento jurídico angolano.

Na vigência daquela, o casal tem de habitar numa casa, tem despesas comuns de alimentação
e mobiliário, trocam presentes, movimentam  em conjunto contas bancárias,  podem ter filhos
em comum, celebram vários contractos, como os de fornecimento de água, luz, telefone,
televisão, pelo que, obviamente, tecem uma teia de relações patrimoniais, que não podem ser
escamoteadas e consideradas inexistentes.

Mas, o cerne do tema aqui é desbravarmos a existência de efeitos
patrimoniais, porquanto, é  trivial  ler-se  em várias  doutrinas  existentes  que a
lei não estabelece nenhum regime de bens, mas que cada membro do
casamento mantém a plena disposição dos seus bens, pelo que, não existe
uma comunhão de património, uma total  e  completa independência entre  os
bens de um e do outro,  mas a prática tem demonstrado respostas divergentes
com a posição de doutrinadores de diferentes países (PINHEIRO, 2008,
p.281).

Assim, numa primeira e rápida leitura o intérprete podia ser tentado a concluir que não
existem efeitos patrimoniais decorrentes  do casamento, que,  no  que concerne ao  património
esta seria uma relação neutra, uma relação de afectos, cuja dissolução não teria consequências
jurídicas patrimoniais, se optando pelo do casamento, os membros ficariam isentos ao
contágio patrimonial.

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Cada um poderia realizar os contractos que lhe aprouver, sem necessidade de
consentimento do outro, sendo-lhes lícito negociarem entre eles, mantendo
cada um o seu próprio património, independentemente dos bens do outro,
sendo que, extinguindo-se a paixão que os uniu ou outras razões que
estiveram na base da relação, nenhuma teia de relações patrimoniais os
assombrariam (COELHO, 2003, p.314).

Em concreto, o que preenche as nossas reflexões e trazemos aqui a colação é a relação entre o
instituto jurídico do casamento e institutos como a compropriedade, o enriquecimento sem
causa, as obrigações naturais, que, não sendo obviamente específicos do casamento,
encontram nesta uma área fértil para desenhar os seus princípios. Importa ressaltar que a
união de facto protela-se no tempo, o Direito apenas reconhece a união de facto quando este
reúne os requisitos plasmados no n.º 1 do art.º 113.º CF.

Segundo  Pinheiro (2008),  começando a nossa análise por aquilo  que  a lei  regula  quanto aos


efeitos patrimoniais do casamento/divórcio, esses efeitos são sem dúvidas relevantes na esfera
de relações de natureza patrimonial dos ex-companheiros, pois se reportam a três situações
que são em si distintas:

1º Ao enriquecimento sem causa; neste aspecto, os efeitos patrimoniais do atendimento do
casamento podem, em essência, serem comparados aos que, nas demais legislações, são hoje
atribuídos as uniões de facto tidas como união livre ou concubinato.

Quem fez a prestação teve em vista a situação  de convivência marital, pelo que o  fim  desta


retira a prestação  feita o  seu objecto mediato, devendo quem recebeu  a prestação proceder a
sua restituição em espécie ou em valor equivalente.

Sucede que, subjacente ao instituto do enriquecimento sem causa, regulado  nos art.º 473.º do
CC, encontra-se a ideia de que ninguém deve locupletar-se, injustificadamente, a custa de
outrem.

O CC angolano no seu art.º 473.º, n.º1, concebe o enriquecimento sem causa como uma fonte
autónoma de obrigações, prevendo que aquele que, sem causa justificativa, enriquecer a custa
de outrem é obrigado a restituir aquilo que injustificadamente se locupletou.

Em síntese, para que se constitua uma obrigação de restituição, nos termos dos art.º 473.º do
CC,  é necessário  que, cumulativamente,  exista um  enriquecimento,  que esse  enriquecimento
se obtenha a custa de outrem e que para tal, inexista uma causa justificativa.
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Importa aqui realçar que, na vigência do casamento, as contribuições dos companheiros para a
vida comum, são sempre justificadas visto que, se relacionam com o sustento de uma
comunhão de vida e, como tal, tem em vista o bem comum de ambos.

Assim, cessada o casamento, cessa igualmente, aquela causa justificativa pelo que, devem ser
avaliadas todas as contribuições prestadas pelos companheiros, a fim de averiguar a
existência, ou não, de um enriquecimento de um deles, em virtude do empobrecimento do
outro.

Porém, o mesmo autor, ainda que se entenda estar demonstrada a existência de
enriquecimento de um dos companheiros da união em detrimento do empobrecimento do
outro, é necessário que se prove, igualmente, que as deslocações patrimoniais foram
efectuadas no pressuposto, entretanto desaparecido, da continuação e subsistência, querida por
ambos os unidos de facto, da vida do casal em condições análogas as dos cônjuges.

Ainda de acordo ao mesmo autor, destaca-se que, o recurso ao instituto de enriquecimento
sem causa apresenta-se menos moroso, do que o respeitante ao processo especial de
dissolução das sociedades de facto.

Assim, a aplicação do enriquecimento sem causa pressupõe, apenas, a prova dos seus
elementos constitutivos, prescindindo de qualquer acção prévia, onde se atesta a cessação do
casamento e a existência de um património constituído durante a vida em comum.

2º A partilha dos bens comuns; ao referir-se a partilha dos bens comuns, a lei não está a
equiparar os bens adquiridos durante o casamento aos bens comuns dos cônjuges casados sob
o regime de comunhão de adquiridos.

Ao desenvolverem uma vida em comum sob o ponto de vista social, os
companheiros da união  de facto desenvolvem também, na maioria dos casos,
uma série de relações de natureza patrimonial entre si e relativamente a
terceiros. São adquiridos bens com valores de ambos, são desenvolvidas
actividades económicas com a contribuição de ambos (em serviços ou em
prestações pecuniárias), e esta actuação pressupõe o propósito de participar
nos lucros respectivos.  Os patrimónios são  na  verdade dois, pois, neste caso,
e como se entre os companheiros da união de facto vigorasse o regime da
separação de bens. Mas, dado o decurso da vida em comum, esses
patrimónios  estão imbricados um no outro,  pelo  que, no momento em que  a
união vem a terminar, torna-se necessário operar a partilha dos bens
(MEDINA, 2011, p.34).

Está, porém perante uma partilha de cada um dos bens tidos em compropriedade e não perante
uma partilha por meação dos bens comuns, como acontece aquando da dissolução do

30

casamento ou da união de facto reconhecida  e que preenche os pressupostos  legais.  Na falta


de prova por documento escrito da titularidade dos bens a dividir, terá que ser feita prova, por
outra via legal, de que o bem em causa foi adquirido com a participação de ambos os
companheiros. O onus da prova recai sobre o autor do pedido.

Relativamente a terceiros, também produz efeitos patrimoniais, pois deve entender-se de
responsabilidade solidária as dívidas contraídas por qualquer dos companheiros para
satisfazer os encargos normais da vida familiar ou em proveito comum do casal.

Tem sido entendido que, com base na denominada teoria da aparência, o casal que, não sendo
casado, se comporta perante a sociedade como se fosse, deve suportar os riscos de tal
comportamento e constituir-se devedor de forma solidária perante terceiros, como se tratasse
de um casamento válido.

Também  referir  que, a  protecção  na  circunstância  da  morte  de  um dos conjuges, se  a  morte
advier de serviços excepcionais e relevantes prestados aos pais o membro sobrevivo
beneficiará da pensão prevista na lei da segurança social vigente, também beneficiará da
mesma pensão se a morte advier de uma doença profissional ou acidente de trabalho cônjuges.

Com a aprovação em Angola no ano 1988 a Lei n.º1/88 de 20 de Fevereiro, o legislador
introduziu no título IV o  instituto da união de facto tendo apenas estabelecido as bases deste
instituto, transferindo assim a matéria relacionada aos efeitos patrimoniais deste instituto para
o Casamento. Assim, em Angola não existe uma legislação expressa que aborda
especificamente o tema dos efeitos patrimoniais da união de facto, porque o legislador
remeteu esta matéria ao Casamento, arts.º 117.º a 121.º do CF.

Assim sendo, a inexistência de um regime legal de bens predefinido com objectivo de regular
especificamente o património adquirido pelo unidos de facto, durante a comunhão de vida,
passando a recorrer-se ao regime aplicado ao casamento.

Mesmo com o recurso ao regime do casamento, este não atribui àqueles todos os efeitos
jurídicos, atribuídos apenas alguns como, assistência social, direito a alimentos ao cônjuge
que os carecer ou as possibilidades não sejam suficientes para tê-los, etc., na união de facto há
bens comuns a partilha, o que sempre suscitou dificuldades na hora da divisão dos bens
comprados por ambos, dividas contraídas por um  ou por ambos e contas bancarias em  nome
dos dois. Nestes casos aplicam-se as regras gerais de direito ou da compropriedade.

31

No ordenamento Jurídico angolano como já fez-se menção esta matéria de alimentos é
regulada no  Instituto de Casamento nos seus art.º111.ºe 262.º do CF. Dizer que para além da
protecção  que  o  Estado concede aos  unidos de facto  após a morte do  companheiro,  também
em caso de ruptura, o ex-cônjuge tem direito a alimentos no caso de carecê-los, conforme esta
referenciada nos termos do art.º 111.º CF.

3º Quanto à atribuição da residência familiar, também mencionada no citado art.º 113.º, n.º2, é
de aplicar as mesmas regras que vêm previstas no artigo 110.º do código da família e as regras
respeitantes à dissolução do casamento por divórcio. A finalidade da lei é a mesma,
salvaguardar o direito do cônjuge ou companheiro a quem deve ser atribuída a preferência
legal de continuar a residir na mesma casa onde o casal coabitou. Sendo a fruição da
residência familiar como o  efeito mais importante  da  união  de  facto, vamos aqui destacar o
destino da casa, quer a relação se extinga por ruptura, quer por morte.

Quanto ao destino da casa de morada em caso de ruptura da relação, há que distinguir
conforme se trata de casa própria (comum  ou própria de um dos membros da relação) ou de
casa tomada de arrendamento.

O casamento como uma convivência de duas pessoas em condições equivalentes as dos
cônjuges que compreende os três aspectos classicamente apontados para a coabitação
conjugal, viver como as pessoas casadas envolve a comunhão de habitação, mesa e leito.
Importa  sublinhar  que  por  comunhão  de  habitação, entende-se  a  adopção de  uma  residência
comum, sendo o imóvel propriedade de um ou de ambos, ou sendo arrendado, por um ou por
ambos.

Alguma doutrina que se debruça sobre o assunto descortina, sobretudo aquelas disposições do
Código de família de Angola que pouco ou nada referem no que diz respeito a protecção dos
companheiros em caso de extinção da união.

Conforme se verifica na nossa constituição a lei não prevê, na atribuição da residência
familiar o caso de a residência familiar ser bem próprio de um dos cônjuges ou se é uma casa
tomada de arrendamento na medida em que o art.º 110.º CF não dá prioridade a um em
relação ao outro, advertindo apenas ao tribunal a devida atenção quanto as condições de vida
dos companheiros, o interesse dos filhos do casal e as causas da separação.

32
Pelo  que no  domínio do destino  a dar a casa  de morada  da família a nossa  legislação  pre
sta
uma fraca tutela aos companheiros separados pelo facto de não definir com clareza as norm
as
que devem ser seguidas traçando os procedimentos para a formulação do pedido de atribuiç
ão
da residência familiar e os critérios que o tribunal deve seguir ou atender.

No ordenamento jurídico angolano o assunto sobre o destino da casa de
morada de família vem associado ao tema do direito ao arrendamento. Assim,
no âmbito das disposições gerais do código da família encontramos uma
regulamentação sobre o direito ao arrendamento e sobre a atribuição da
residência familiar. Quanto a atribuição da casa de morada comum da
família, no capítulo V do Código Cívil relativo a dissolução do casamento
encontramos disposições sobre a atribuição da residência familiar, na parte
onde se regula quer o divórcio por mútuo acordo como no âmbito do
processo de divórcio litigioso. No que diz respeito ao divórcio por mútuo
acordo,  dentre  os acordos  complementares  que  devem compôr  o processo, a
lei exigem  a junção de um  acordo sobre a atribuição da residência familiar
(MEDINA, 2011, p.76).

O referido acordo visa apresentar a indicação expressa do cônjuge que terá direito a casa
familiar  conjugando  para  o  efeito  interesse  do casal  e dos  filhos.  Entretanto, no  processo de
divórcio litigioso o cônjuge requerente poderá pedir a seu favor a atribuição da residência
familiar, art.º 104.º n.º1 alinea. c) do CF, caso entenda que, atendendo a sua situação
económica e patrimonial e no interesse da prole, quando exista, tal facto poderá contribuir
para a estabilidade da sua vida na fase pós-divórcio.

O  pedido de  atribuição da  residência familiar  deve ser  formulado na  pendência  da  acção de


divórcio e, deverá ser operado em processo de inventário e partilha dos bens do dissolvido
casal. Pelo que compete ao tribunal que estiver a julgar o processo de divórcio a qual, na
atribuição da residência a um ou outro membro deverá ter em conta as condições de vida dos
cônjuges, o interesse dos filhos do casal e as causas do divórcio (art.º 110.º CF), o exercício
que deve atender em primeira instância a questão da atribuição da guarda dos filhos do casal,
assim como a apreciação dos factos que estiveram na origem da separação, ou seja, que
tornaram impossível o vínculo e, entre o casal, a quem imputar as causas da separação.

Na ordem jurídica angolana, se os membros da união de facto vivam em casa tomada de
arrendamento esta matéria encontra a sua regulamentação  na  Lei n.º26/15 de 23 de Outubro,
Lei do arrendamento Urbano de Angola.

O seu art.º 99.º n.º 1 alineas a) e b) refere que, o arrendamento para habitação não caduca com
a morte do primitivo inquilino ou aquele a quem tiver sido cedida a sua posição contratual, se
lhe sobreviver:

33

a) Cônjuge não separado de facto;
b) Pessoa que com ele coabitasse consecutivamente há mais de três (3) anos, em
situação de facto.
Podemos afirmar sem temer controvérsia que o mais importante efeito patrimonial decorrente
da união de facto é a fruição da casa de morada de família quer a relação se estinga por morte
quer por ruptura.

2.8. Quadro legal

Constituição da República de Angola; de 30 de Janeiro, aos 03 de Fevereiro de 2010.

Decreto Presidencial nº 36/15 de 30 de Janeiro, sobre o Reconhecimento da União de Facto;

Lei n.º 1/88, que aprova o Código de Família;

Lei n.º 18/88, de 31 de Dezembro, Lei do Sistema Unificado de Justiça;

Lei n.º 23/92 de 16 de Setembro, Lei Constitucional da República de Angola;

Lei n.º 7/80, de 27 de Agosto, a Lei da adopção e Colocação de Menores.
34

III. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

Tribunal d a C o m a r c a d e Belas, mas concretamente a Sala de Família, tem mais de 19 
mil
processos em tramitação, dos quais mais de metade são de situações de fuga à paternidade. Os
demais estão relacionados com divórcios, reconhecimento da união de facto, adopção, tutela e
providências cautelares.

O Tribunal da Comarca de Belas, localiza-se na capital do País.
35

IV. METODOLOGIA

4.1. Tipo de estudo

Para a realização do trabalho foi feito um estudo descritivo com abordagem mista.

4.2. População e amostra

População: A população é constituida por 65 homens e mulheres da Província de
Luanda, que requereram acção de divórcio em 2020, na Sala de Família do Tribunal da
Comarca de Belas.

Amostra: A amostra aqui representada  foi extraída  da  população, sendo aleatória e simples,


constituída por 30 cidadãos inquiridos a quem foi aplicado o instrumento e cuja participação no
inquérito foi importantíssimo na determinação dos resultados.

4.2.1. Critério de inclusão

Inclui-se no estudo, homens e  mulheres, que  dirigiram-se à  Sala de Família do Tribunal da


Comarca de Belas com intenção de requerer a acção de divórcio em 2020.

4.2.2. Critério de exclusão
Os outros elementos da população que dirigiram-se a mesma instituição não foram escolhidos
visto que tinham outras intenções para serem resolvidas no Tribunal por isso, não
contribuiriam de maneira eficaz à pesquisa realizada, além de mulheres e homens que não
aceitaram participar do estudo.

4.3. Método utilizado

Foram utilizados os métodos de: observação, histórico-lógico, assim como trabalho
bibliográfico e estatísticos.

4.4. Procedimentos e instrumentos ou técnicas para a colecta de dados

Para a recolha de dados, utilizou-se um questionário que consistiu numa série de perguntas de
escolha múltipla, submetidas à amostra. Se elaborou resumos, fichas de conteúdo, sínteses,
realizou-se trabalho bibliográfico.
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4.5. Processamento de dados

Inicialmente, os dados foram colectados de forma manual pela pesquisadora e criado um
banco de dados no programa Microsoft Excel. O trabalho foi processado por meio do
Microsoft Word e Excel.
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V. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Da pesquisa realizada obteve-se os seguintes dados:

Gráfico n.º1. Representação gráfica do género.

GÉNERO

Feminino
40%

Masculino
60%
Fonte: Elaboração própria da autora do trabalho.

O gráfico n.º1, mostra que dos 30 requerentes 18 que representa 60% são do género
masculino, os que recorreram à Sala de Família do Tribunal da Comarca de Belas, com
processos de divórcio.

Enquanto, outros 12 requerentes que representa o 40% dos cidadãos inquiridos, pertencem ao
género feminino.

O que demostra que a maior parte dos cidadãos que recorreram à Sala de família do Tribunal
da Comarca de  Belas,  em 2020, foram maioritariamente do  género masculino. O que denota
uma  maior  abrangência nas  intenções de  instauração de processos de  divórcio  por  parte  dos
homens.

38

Gráfico n.º 2. Representação gráfica da faixa étaria.

IDADE DOS 20 aos 25
anos 7%

dos 26 aos
31 anos
dos 32 em 30%
diante 63%

Fonte: Elaboração própria da autora do trabalho.
Olhando para o gráfico n.º2, percebe-se que 7% dos cidadãos inquiridos, tem idades dos 20 aos
25 anos. Enquanto, 30%  dos cidadãos inquiridos,  possuem idades entre os  26  aos 31 anos de
idade. Já para o 63%, possuem idades igual ou superior a 32 anos.
OBJECTIVO NO TRIBUNAL
Dupla 7%              
Em consonância com o art.º 24.° do CF, só podem casar os maiores de 18 anos,
Excepcionalmente poderá ser autorizado a casar o homem que tenha completado 16 e a
mulher  que  tenha  completado 15  anos,  quando ponderada as circunstâncias do  caso e  tendo
em conta os interesses dos menores seja o casamento a melhor solução. São aptos para
requerer a acção de divórcio, os cidadãos maiores de idade e porque só se  pode requerer o
divórcio, se houve casamento anterior.

Foi atraves deste gráfico, que  concluiu-se  que a maior  parte  dos cidadãos que  recorreram à


Sala de Família do Tribunal em análise, têm idades superior aos 32 anos.

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Gráfico n.º3. O que veio fazer aqui neste Tribunal?

Sinalização

Remeter uma
acção de
divórcio 93%
Fonte: Elaboração própria da autora do trabalho.

Os dados estatísitico do gráfico n.º3, representa os dados dos cidadãos que se dirigiram à Sala
de Família do Tribunal da Comarca de Belas,  em  que 93% afirmaram que o objectivo deles
foi de remeter uma acção de divórcio. Outros, 7% sinalizaram duplamente.

O divórcio directo perdeu o carácter de excepcionalidade. Houve a redução do prazo de
separação de cinco para dois anos e foi afastada a necessidade de identificação de uma causa
justificadora. Apesar dos avanços, permaneceu o instituto da separação. O casamento civil
pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano nos
casos expressos em lei, ou comprovada separação de facto por mais de dois anos (CRUZ,
1999, p.185).

Segundo o art.º 83.° do CF, “o divórcio por mútuo acordo poderá ser requerido pelos cônjuges
casados a mais de 3 anos e que tenham completado 21 anos de idade.”

Como já  ficou demostrado, no gráfico n.º1, que a  maior parte  dos cidadãos que  recorrem à


Sala de Família do tribunal em estudo, serem maioritariamente do genero masculino, o gráfico
n.º3, demostra que 93% dirigiram-se à referida instituição com objectivos de remeter uma
acção de divórcio.

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Gráfico n.º4 Vai optar pelo divórcio por múto acordo ou litigioso?

INTENÇÃO DE ACÇÃO DE DIVÓRCIO

Mútuo acordo
30%

Litigioso
70%
Fonte: Elaboração própria da autora do trabalho.

O gráfico n.º4 representa os dados estatísticos relativamente à intenção manifestada pelos
cidadãos que recorreram à instituição em estudo,  70%  afirmaram terem a intenção de  optar
pela modalidade de divórcio litigioso. Enquanto, 30% afirmaram ser por mútuo acordo.

Importa referir que, a maior parte dos cidadãos inquiridos, sabiam e de modo claro, a
diferença entre o divórcio por mútuo acordo e litigioso, pelo facto, de terem contacto com 
as
conservatórias em que realizaram o casamento.

Deste modo, conclui-se que  em 2020, a  maior  parte  dos cidadãos que recorreram à Sala de


Família do Tribunal da Comarca de Belas, o fizeram com a intenção de remeter um processo
de divórcio litigioso.

Para  Silva  (2002),  quanto maior  for o nível de escolaridade maior conhecimento do  trâmite


legal sobre o divórcio.  Mulher com maior escolaridade e maiores oportunidades de obtenção
de renda é menor propensa a um casamento precoce.

Nas áreas urbanas aumenta o índice de homens e mulheres que contraem o matrimónio, sem
conhecer os  reais deveres matrimoniais,  daí que aumentam  os  casos de separação  de  corpos
que culmina com a intenção de divórcio. De acordo aos dados estatísticos, 70% dos cidadãos
dirigiram-se à Sala de Família com a intenção de acção de divórcio litigioso, por ser, em
41

momento de frustração devido a instabilidade no casamento. Outros, 30% queriam intentar
uma acção de divórcio por mútuo acordo.

Na medida em  que o Tribunal não disponibiliza os dados relativos aos  casos de divórcio em


processo,  por essa  razão, tivesse que inquirir os  cidadãos que dirigiram-se à Secretária-geral
com o objectivo de intentar a acção de divórcio e importa referir que, com estes dados, acabou-
se  por  responder as hipóteses formuladas, a  primeira  é  rejeitada, confirmando-se  a  segunda,
visto que na Sala de Família do Tribunal da Comarca de Belas, em 2020, requereu-se mais o
divórcio litigioso.
Portanto, ainda que os cônjuges almejem pôr termo a uma relação já desprovida do seu
elemento justificador o afecto, se não estiverem separados de facto há três anos, são
obrigados a fazer uso de dois processos: a separação e sua posterior conversão em divórcio. A
falta de zelo do legislador em manter regras próprias para a separação judicial instituindo
sistema fechado, rígido e com causas específicas, discutindo culpa, saúde mental e falência do
amor e admitir o divórcio com base em um único requisito objectivo: o tempo.

O divórcio é a suspensão da convivência conjugal com motivos bem  definidos que originam
ruptura no seio do casal. O poder paternal é atribuído na maior parte das vezes à mãe. Muitas
vezes os motivos que vão levar ao divórcio são a incompatibilidade de temperamentos, a
intransigência, a infidelidade e a irritação.

As pessoas quando casam ainda acreditam no “até que a morte os separe” e ainda têm como
principal  objectivo a  busca  da felicidade. Os primeiros sinais de  desencanto surgem com as
incompatibilidades de feitios que são acentuados pelo convívio entre os membros do casal; o
desequilíbrio na divisão  de tarefas; quando o casal começa a entrar na rotina e os problemas
económicos. Outro dos problemas muito frequentes e que podem minar a vida de um casal é a
falta de diálogo e as constantes discussões.

Segundo o art.º 83.° do CF, “o divórcio por mútuo acordo poderá ser requerido pelos cônjuges
casados a mais de 3 anos e que tenham completado 21 anos de idade.”

O divórcio por mútuo acordo é requerido na conservatória do Registo Civil quando os
cônjuges estejam de acordo em divorciar-se e também quanto aos termos da regulação do
exercício das responsabilidades parentais dos filhos menores - ou quando o exercício das

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responsabilidades parentais estejam previamente  regulados e à atribuição da casa de morada d
e
família, à fixação da prestação de alimentos ao cônjuge que deles careça e à relação
especificada dos bens comuns ou, caso os cônjuges optem por proceder à partilha, acordo
sobre a respetiva partilha (arts.º 108.º, 109.º, 110.º, e 111.º CF).

Divórcio litigioso art.º 97.º CF. É aquele que é pedido apenas por um dos cônjuges com base
nos fundamentos da lei. Há uma causa genérica referido art.º 78.º que é a da deterioração
completa e irremediável do casamento e que é transportada pelo art.º 97.º CF.

Aqui, é  de  extrema relevância o papel que  cada um dos  progenitores, enquanto membro do


casal, tem vindo a desempenhar com o passar dos anos. Todos temos memórias da família
“típica  portuguesa” constituída por “pai, mãe  e filhos”, em que ao marido era  incumbido o
papel fundamental de sustento da família, resultado do fruto do seu trabalho.

Ora, qualquer uma das modalidades do divórcio previstas na lei demanda a observância de um
prazo de 3 anos para a recepção  e decretamento  pelo Tribunal da dissolução do matrimónio.
Para  os casos de divórcio por  acordo mútuo é  conditio  sine  qua non(sem o qual, condição)
que marido e mulher tenham estado casados há, pelo menos, 3 anos e 1 dia ao passo que para
a entrada e apreciação do pedido de extinção do casamento litigioso exige-se que a separação
de facto dure o mesmo período.

O prazo de 3 anos para a admissão do pedido de divórcio adoptado pelo legislador angolano,
terá sido suportado por dados científicos ou experiências que sugerem a possibilidade de
reconciliação das partes, casos que ocorrem, em número cada vez menor, parece
ser, olhando para a realidade actual, um prazo dentro do qual se vão agudizando as diferenças
entre pessoas que num passado recente partilharam cama, mesa e habitação.

O superior interesse da criança consagrado no art.º 127.º, n.º 2 do Código da Família e o dever
dos pais de promoverem a formação dos filhos para que sejam cidadãos válidos e socialmente
úteis a que se refere o art.º 130.º da mesma lei, não raramente são violados pelas
consequências que normalmente se extraem das dissoluções dos casamentos.

E umas das fases mais difíceis para os petizes é a do intervalo entre a separação de facto e a
formalização do divórcio dos pais, em que a guarda destes fica confiada a um dos
progenitores que, estando em rotal colisão com o outro, invariavelmente, porque nessa

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altura o Tribunal não tem ainda a regulação do poder paternal decidida, se envolvem em
animosidades alimentadas por egos que relativizam o equilíbrio emocional dos pequenos.

A separação de facto, o processo de divórcio e lapso de tempo que vai destes à maioridade do
filho de pessoas divorciadas, as crianças normalmente são instrumentalizadas pelas partes,
então casados, como verdadeiras armas de arremesso entre si, para chantagens e outras
atitudes  deploráveis como  a  não  entrega dos menores a  um dos progenitores que  não tem a
guarda destes para passar um fim-de-semana ou parte das férias.

A não autorização de um dos pais para  viagens ao interior ou ao exterior do país com, em
alguns casos até para tratamentos médicos, a não prestação de alimentos como forma de
castigo para a ex-mulher ou ex-marido quando na verdade as vítimas destes comportamentos
são os menores que deles carecem.

Enquanto, à mulher cabia um papel essencialmente doméstico de acompanhamento dos filhos
e de cuidado com o lar. Assim, havia uma repartição de tarefas, nunca descorando a educação,
saúde e bem-estar dos filhos do casal.

Porém,  não  só  houve uma  emancipação  da  mulher  a nível  pessoal como  também  a  nível  do
mercado de trabalho  como, por outro lado, do ponto de vista económico este modelo deixou
de ser viável. Hoje em dia, em quase todas as famílias, o que se verifica é que não só o marido
como também a mulher têm empregos remunerados fora do agregado familiar.

A par disto, regista-se uma situação que tem tido cada vez mais relevância societária e, que é
o crescente número de divórcios, advindo daí a necessidade de uma mudança a nível da tutela
parental que também foi sujeita a alterações.

A conceção tradicional de  família  foi-se  perdendo ao longo dos tempos, tanto que  hoje são


poucas as famílias compostas por “pai, mãe e filho”, predominando as famílias
monoparentais.

O conceito de família monoparental remete-nos para a análise de dois institutos jurídicos,
designadamente, o divórcio, fim da comunhão de vida conjugal e responsabilidades parentais,
exercício comum por ambos os progenitores.

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Em virtude da aplicação  deste princípio à relação  entre os cônjuges, verificou-se o abandono


da conceção do “pater  familiae” (chefe da família), onde era o homem que assumia todas as
decisões  que  viessem a ser tomadas em qualquer  âmbito,  resumindo-se  o  papel da mulher  à
“lida da casa”, ou seja, a todas as tarefas domésticas necessárias e ainda à criação e educação
dos filhos.

Assim, e no que concerne ao instituto do divórcio manteve-se o divórcio por mútuo
consentimento e procedeu-se à introdução de uma nova modalidade de divórcio, mais
precisamente, o divórcio sem consentimento de um dos cônjuges.

Mas a alteração mais importante neste domínio traduz-se na eliminação da acção de divórcio
fundada na violação culposa dos deveres conjugais.

O legislador com as alterações que fez nas responsabilidades parentais quis atender a um
melhor cumprimento destas em prol do superior interesse do menor.

Assim,  releva-se  o  exercício  conjunto  em relação às questões  de particular importância,  que


apesar de não ser o remédio para todas as situações, propicia um melhor relacionamento entre
cada um dos progenitores e entre estes com  seu filho,  diminuindo assim, o ambiente hostil e
conflituoso que urgia entre eles, bem como proporciona a cada um dos progenitores um
direito de igualdade na educação e cuidados para com o menor.

Quando os cônjuges estiverem de acordo acerca do divórcio, mas não conseguiram fazer
acordo sobre algum dos temas, ou quando o acordo apresentado não for considerado razoável
e não puder ser homologado, o processo entra no tribunal, ou é enviado para o tribunal,
respectivamente.

O Juiz decretará o divórcio por mútuo consentimento, depois de ter determinado as
consequências do divórcio que os cônjuges não conseguiram combinar.

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VI. CONCLUSÕES
Conclui-se que por muitas razões a vida do seio familiar sofreu variadas transformações, mais
concretamente, no que  diz respeito ao casamento e  tutela parental, onde  foram introduzidas
algumas modificações.

Importa dizer, que com os dados estatísticos, percebe-se que a maior parte dos cidadãos que
recorreram à  Sala  de  Família  do  Tribunal  da Comarca  de Bel a s ,  entendem sobre as matérias
relativas às relações conjugais, quer do ponto de vista positivo, quando o casal procura mante-
lá, como negativo quando entendem ser melhor o divórcio.

Olhando para os objectivos acima traçados, relativamente em conhecer a problemática da
modalidade do divórcio, que de forma directa responde às hipoteses levantadas, percebe-se
que 70% dos cidadãos que recorreram à Sala de Família do Tribunal da Comarca de B e l a s 
,
tencionam intentar uma acção de divórcio litigioso, deste modo confirmamos a segunda
hipótese.

Por isso, resta a doce noção que apesar destas modestas páginas, este não é, nem nunca
poderia ser, um trabalho completo, mas sim um tema em aberto, sendo continuamente
densificado pela doutrina e jurisprudência e, é claro, por cada relação entre filho-mãe-pai, que
desde o início dos tempos tem vindo a perpetuar o género humano.

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VII. RECOMENDAÇÕES

Que se crie mecanismos de sensibilização para estabilidade nas famílias.

Que se procure identificar mecanismos de esclarecimento sobre as  consequências do divórcio
para as famílias.
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