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CURSO DE DIREITO
LAGES
2009
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LAGES
2009
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Prof. Msc. Odinei Bueno Gonçalves
Coordenador do Curso
LAGES
2008
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AGRADECIMENTOS
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RESUMO
1
Acadêmica do curso de graduação em Direito, da Faculdade de Direito de Lages – FACVEST.
2
Mestre em Direito; Professora Orientadora das Faculdades Integradas da Rede de Ensino Univest.
UMA ANÁLISE SOBRE A IMPENHORABILIDADE DO BEM DE
FAMÍLIA DO FIADOR
ABSTRACT
This work of completion of this Unseizability Goods Family of Guarantor. Among the
objectives of this study are: to analyze the Institute of Family Well in Brazilian law, from its
classical origin, from the legal in the United States to the peculiarities of the present benefit of
immunity from seizure, established the Civil Code and Law No. 8009/90 and, monitor the
development of the Institute of Family Well under Brazilian law, to identify and analyze the
legal core of the institute and to examine the controversial question of immunity from seizure
of it, especially when it comes to Family Well guarantor of the lease . In the end, it appears
that the Family Well this is an important guarantee in order to protect property where the
family resides, thus making this residence can not be seized, as well as movable property that
the trim. With respect to residential property of the guarantor, it is observed that the material
still shows variations in both doctrine and jurisprudence in Brazil.
3
Academic Course for graduation in Law, Faculty of Law of Lages – FACVEST.
4
Master of Laws, Professor Advisor Integrated College of Education Network Univest.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.........................................................................................................................9
CONCLUSÃO.........................................................................................................................31
REFERENCIAS .................................................................................................................... 32
8
INTRODUÇÃO
9
1.1Origem
O Bem de Família como conhecemos atualmente, teve sua origem nos Estados Unidos
da América, porém, já havia uma instituição semelhante na Roma Antiga.
Segundo Marcione Pereira dos Santos (2003, p.3), “a instituição do Bem de Família
representa uma rara exceção de origem no Direito Civil pátrio, visto ser este calcado,
principalmente, no Direito Romano”. Segundo essa mesma autora o instituto do Bem de
Família teve sua origem no homestead norte-americano, porém encontramos no direito
romano antigo a origem embrionária do bem de família.
Assim havia, na Roma Antiga uma estreita relação entre os deuses lares e o solo,
de maneira que a lareira onde era aceso o fogo sagrado nas casas romanas, de
adoração dos antepassados, impunha uma fixação da moradia, de modo a torná-
la inalienável, visto ser impossível a remoção da pedra-altar com a chama acesa,
e se a chama se apagasse seria considerado uma profanação (SANTOS, 2003,
P.3).
De acordo com Azevedo (1999, p. 22), em Roma não existia o Bem de Família como o
conhecemos hoje, mas sim a família em si “a qual era regida pelo chefe de família que detinha
o poder de tudo e de todos”, ou seja, tinha total controle não apenas da família propriamente
dita, como também dos escravos, dos instrumentos e da propriedade.
Observa-se que em Roma o modelo familiar do bem de família era patriarcal e
baseado num modelo religioso, onde o bem de família era acima de tudo sagrado.
O devedor inadimplente, em Roma, poderia ser vendido como escravo [...] pelo
credor. Com o correr dos séculos, entretanto, foram-se amainando as disposições
desumanas. Proibiu-se a lesão à incolumidade física, bem como a coação da
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pessoa humana a realizar pela força atos de execução; por fim, certos bens
deixaram de ser executáveis, tais quais os impenhoráveis por lei.
Nesta mesma linha, temos o relato de Álvaro Villaça Azevedo (1999, p. 21) ao expor
que “no Direito Romano, no período da República, havia proibição de alienar patrimônio da
família, pois todo ele tinha caráter de inalienabilidade, dados os rígidos princípios de
perpetuação dos bens dos antepassados, que se consideravam sagrados”.
Como pode-se perceber, ainda de forma muito rudimentar, o Bem de Família teve sua
origem na Roma Antiga, no qual a propriedade estava intimamente ligada à religião e, com
isso, o bem de família também mantinha essa característica religiosa.
Na Idade Média, a noção de família, tem uma base material, a qual seria o próprio
Bem de Família. Este bem familiar, seja ele as terras de um servo ou os domínios senhoriais,
permanece sempre propriedade da linhagem. O bem é tradicionalmente passado através de
gerações e assim deve ser mantido. Ele é impenhorável e inalienável, sendo que as
dificuldades financeiras da família não podem prejudicá-lo. Ninguém pode arrancá-lo e a
família não tem o direito de vendê-lo ou de trocá-lo. Sendo que na morte do pai, este bem
passa aos seus herdeiros diretos.
Conforme ensina Azevedo (1999, p. 21)
O bem de família como instituto se originou nos Estados Unidos da América, adotado
como medida legal destinada ao serviço da família devido a contingente penúria econômica.
Em meados do século XIX, foram criadas duas figuras legais, o homestead estadual e o
homestead federal, ambos possuíam em comum a impenhorabilidade e a inalienabilidade da
propriedade. De acordo com Santos (2003, p.12):
12
A sua constituição recairia sobre o imóvel urbano ou rural, desde que destinado à
moradia da família.
Todavia, del rogar foi um fracasso, dado o exagerado formalismo existente para sua
instituição. Conforme Santos (2003, p.40):
Apesar de ter sido o primeiro país sul-americano a versar sobre da matéria, o del hogar
não atingiu a eficiência do homestead americano, haja vista, a acentuada dificuldade para
vincular determinado bem àqueles com especial proteção destinados a entidade familiar.
1.2 Definição
Podemos entender por vida digna aquela em que a família possui pelo menos um
imóvel para acolhê-la. Notadamente sabemos que a realidade brasileira se dista
deste “ideal” e que a grande maioria das pessoas vive em imóveis alugados ou
mesmo sem ao menos uma residência. A lei, acertadamente, procura dar
proteção àqueles que possuem um imóvel, permitindo que a entidade familiar
possa destiná-lo como bem de família, ficando desta forma, isento de penhoras
por dívidas, protegendo o núcleo familiar. (PRETTI, 2009, p.29)
Portanto, além de abarcar o direito a propriedade, que também faz parte dos direitos e
garantias fundamentais, previstos no art. 5º, incisos, XXII e XXIII, a moradia se revela como
fruto da dignidade da pessoa humana, a qual não deve sofrer nenhum tipo de violação, ainda
que expressamente previsto na Constituição Federal.
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2.1 Modalidades
Por força do Código Civil de 1916, o instituto do bem de família foi introduzido em
nossa legislação, reservado a garantir a proteção ao imóvel e um lar permanente. Inicialmente
a doutrina era unânime em afirmar que somente o marido teria legitimidade para instituí-lo,
por ser ele o “chefe da família”. Ressalva, no entanto, a possibilidade de a mulher fazê-lo se
estivesse ela na direção de sua família, em casos como o de viuvez, por exemplo.
Necessário se faz adentrar a concepção de família no direito brasileiro, para abordar de
maneira mais objetiva o conceito próprio do bem de família.
Com o advento da Constituição Federal de 1988, ficou estabelecida a igualdade entre
homens e mulheres, e ainda a possibilidade de existência de entidades familiares resultantes
da união estável, a monoparental e ainda de famílias unipessoais (desde aqueles que optaram
por uma vida celibatária, até os que restaram solitários, vitimas de um relacionamento
desfeito, por orfandade ou viuvez), evidenciando desta forma as mudanças ocorridas ao longo
dos anos na sociedade, introduzidas na atual constituição.
Observa-se que a Constituição trouxe uma nova roupagem ao direito de família
quando trouxe proteção jurídica às várias espécies. De acordo com Glanz (apud, Ritondo,
2008, p. 5)
Entretanto, não era esse o entendimento de todos. Segundo Ferreira Coelho (apud
Ritondo, 2008, p. 28-29)
Deste modo, desde a mais valiosa até a mais modesta habitação podem ser reservadas
para servirem de bem de família.
Em nosso ordenamento jurídico há duas modalidades do bem de família: convencional
e legal.
O bem de família convencional está previsto nos artigos 1.711 ao 1.722 do Código
Civil de 2002. Já o bem de família legal está previsto na Lei nº 8.009/90.
Assim, tem-se que o bem de família convencional foi constituído pelo Código Civil de
1916 e, suscitando todas as controvérsias, o mesmo foi alterado pelo Código Civil de 2002.
A grande discussão pairou em torno do termo “entidade familiar”, criticado por
diversos doutrinadores em relação à abrangência do tema, tendo em vista, numerosas e
diferenciadas formações de famílias contemporâneas, englobadas pela constituição, como dito
acima no conceito de família.
Realmente, esta interpretação não pode ser vista de maneira restritiva. O conceito
constitucional de família deve ser tomado na sua acepção plural e indeterminada, firmando
verdadeira cláusula geral de inclusão e dando à norma constitucional maior eficácia e alcance
social possível.
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Assim, ensina Venosa (ano, p.) que o Direito Civil Moderno deixa de ter uma acepção
restrita de família, desconsiderando como membros da família apenas as pessoas unidas por
relação conjugal ou de parentesco:
E ainda, afirma que “em conceito restrito, família compreende somente o núcleo
formado por pais e filhos que vivem sob o pátrio poder ou poder familiar”.
Outro ponto relevante na discussão foi sobre a limitação de valor imposta para
constituição do patrimônio do bem de família.
O Código Civil de 1916 foi omisso quanto ao valor atribuído como limite máximo
para o bem de família, já o novo Código Civil de 2002 em seu artigo 1.711, visa claramente à
proteção da moradia familiar.
Em meio a grave crise econômica por que passava o país no fim do mandato do
presidente José Sarney, foi editada a medida provisória nº 143, de 8 de março de 1990, com a
estipulação da impenhorabilidade ex lege do imóvel residencial.
Após a tramitação no Congresso Nacional, a medida provisória foi aprovada e
promulgada a Lei nº 8.009, de 29 de março de 1990.
Expressamente sobre o bem, refere-se a lei, inaugurando no Brasil a
impenhorabilidade obrigatória e automática do bem de família, sem atingir a disponibilidade
por parte do proprietário, uma vez que não impõe a inalienabilidade do bem, contrariamente
ao que ocorre com a versão por convencionalidade do bem de família.
O bem de família legal é o imóvel residencial próprio do casal ou da entidade familiar,
bem como os móveis que os guarnecem, isento de penhorabilidade por determinação legal.
Esse imóvel pode ser urbano ou rural. (PRETTI, 2009, p.30)
Na concepção da Lei 8.009/1990, é dispensada a escritura pública ou testamento para a
instituição do bem de família, já que o benefício é criado por lei, sendo irrelevante o fato de o
beneficiário ser ou não devedor.
Conclui-se que, quando não recai sobre um bem qualquer tipo de penhora ou execução
este será impenhorável, pois tal impenhorabilidade pode emanar de lei ou de vontade das
partes.
O inciso em comento trata tanto dos créditos trabalhistas quanto das contribuições
previdenciárias, que têm natureza jusfundamental, uma vez que o salário garante o direito à
vida, provendo os meios materiais de sobrevivência do indivíduo, e o direito à previdência
que consta expressamente na Constituição Federal como direito fundamental social (Cordeiro,
2009, 41-42).
Nesse sentido, são os ensinamentos de Credie (2004, p. 83)
O aludido inciso tem por objetivo à proteção do enriquecimento ilícito, pois não seria justo o
devedor não ser executado pelas dívidas que adquiriu para a construção da casa própria.
Assim, todos iram buscar financiamento para a construção de sua moradia, o qual ocorreria
uma numerosa inadimplência e nada lhes aconteceria.
Já no inciso III, o legislador inclui nas exceções à impenhorabilidade os créditos alimentares,
eis que possuem a mesma natureza jurídica dos créditos trabalhistas, ou seja, alimentos.
O artigo 3º, inciso IV, assim diz:
Com isso, por um lado atende ao interesse dos proprietários do bem de família e por
outro poderá ser utilizado para burlar a lei de impenhorabilidade. Nota-se que há
posicionamentos divergentes na doutrina pátria.
No que se refere a aquisição de produto criminoso, o inciso VI do art. 3° da Lei n°
8.009/1990 assim prescreve:
O Bem de Família adquirido com o produto do crime, na verdade, não pertence ao que
se denomina proprietário, já que, para adquiri-lo subtraiu patrimônio de outrem. Se a lei
protegesse esse tipo de bem estaria, assim, incentivando a prática delituosa (Azevedo, 1990,
p.182).
Como última exceção a Lei nº 8.009/1990 traz disposto em seu inciso VII à execução
movida por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação.
Vale lembrar que “as exceções à regra geral da inexcutibilidade do bem de família
obrigatório constituem numerus clausus, ou normas de interpretação restrita. Não admitem,
por essa razão, nenhuma ampliação ou interpretação extensiva” (Azevedo, 1990, p.71).
Desta forma, para o bem de família ser totalmente impenhorável, além de preencher os
requisitos previstos em lei, deve-se ficar de fora das exceções contidas no preceito legal acima
mencionadas.
Como ocorre no bem de família legal, no bem de família voluntário também existe
algumas exceções conforme se vislumbra no art. 1.715 do Código Civil, que menciona: “O
bem de família é isento de execução por dívidas posteriores à sua instituição, salvo as que
provierem de tributos relativos ao prédio, ou de despesas de condomínio”.
A norma, portanto, não é absoluta no que diz respeito à impenhorabilidade do bem de
família, a fim de coibir abusos em sua instituição, bem como garantia aos credores, e trazendo
três exceções como escopo.
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3.1.1 Conceituação:
Toda obrigação deve ser adimplida, essa é a sua destinação. Cabe ao credor prudente
tomar precauções para que isso aconteça. Assim, a primeira providência a se tomar é ver se o
devedor é solvente, ou seja, se possui bens suficientes para arcar com a obrigação (VENOSA,
2007, p.385).
Acontece que nem sempre é possível, pois pode o devedor, no decorrer da obrigação,
sofrer danos em seu patrimônio, não tendo assim como cumprir como o ajustado.
No combate a essas eventualidades o ordenamento dispõe ao credor outras soluções
para facilitar e garantir o adimplemento das obrigações. Sendo o contrato de fiança, um
exemplo disso, pois é uma modalidade de garantia pessoal que dá ao credor uma segurança no
cumprimento das obrigações.
Conceitua-se fiança em uma forma jurídica por meio da qual uma pessoa se
responsabiliza, ante o credor, pelo adimplemento de determinada obrigação assumida por
outrem. A fiança pode ser parcial ou total. Será parcial quando ficar restrita a um limite de
valor determinado, ou, ainda, durante um prazo fixo, e total quando não houver nenhuma
circunstância de limitação (VENOSA, 2007, p.385).
Ensina Venosa (2007, p.385) que “pelo contrato de fiança estabelece-se obrigação
acessória de garantia ao cumprimento de outra obrigação principal”.
O Código Civil, reza em seu art. 818 que “pelo contrato de fiança, uma pessoa garante
satisfazer ao credor uma obrigação assumida pelo devedor, caso este não a cumpra”.
Nesse sentido, explana Diniz (2005, p. 646)
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A fiança ou caução fidejussória, vem a ser a promessa feita por uma ou mais
pessoas de satisfazer a obrigação de um devedor, se este não a cumprir,
assegurando ao credor o seu efetivo cumprimento. Trata-se de uma garantia
pessoal.
Portanto, verifica-se que a fiança também pode ser contrato gratuito, sendo aquele que
enseja na construção de garantia pessoal e cuja o escopo é diminuir o risco de inadimplemento
de outro contrato ao qual está ligado por vínculo de acessoriedade, ou seja, a fiança é um
contrato acessório que serve de garantia a um contrato principal. Advêm de uma garantia
pessoal porque quem garante é uma pessoa e não o bem, o que pode-se visualiza no penhor e
na hipoteca.
3.1.2 Caracteres:
Assim, trata-se de um contrato gratuito, uma vez que a fiança é prestada de forma
desinteressada, e ainda, refere-se a contrato intuitu personae, eis que é baseado na confiança
que há entre os contratantes.
No entanto, para Monteiro (2007, p.378) fiança “é contrato oneroso em relação ao
credor, mas gratuito, em regra, referentemente ao devedor; nem sempre, porém, pois há casos
em que o afiançado remunera o fiador pela fiança prestada”.
Portanto, pode-se observar que a fiança se reveste de algumas características para ter
sua validade, tais como: unilateralidade, gratuidade, fomalidade, acessoriedade, dentre outras.
3.1.3 Requisitos:
Para que a fiança cumpra com seu objetivo alguns requisitos devem ser observados,
tendo como requisito subjetivo (geral) a capacidade civil, pois somente pessoas capazes
podem ser fiadoras e como requisito objetivo a dependência que a fiança tem da validade e da
exigibilidade da obrigação principal.
Acerca do requisito subjetivo, Diniz (ano, p. 577) aponta que a fiança precisa se
revestir desse requisito para completar a capacidade “[...] pois para afiançar será
imprescindível não só a capacidade genérica para praticar os atos da vida civil, isto é, a
capacidade de administrar bens e aliená-los, mas também legitimação para afiançar”.
Verifica-se que para ocorrer a validade e exigibilidade do contrato de fiança, exige-se
também, a validade e a exigibilidade da obrigação principal, já que a caução fidejussória é
uma garantia deste. Nesse sentido reza o art. 824 do Código Civil, onde “as obrigações nulas
são insuscetíveis de fiança, exceto se a nulidade resultar apenas de incapacidade pessoal do
devedor”.
No ínterim dos requisitos objetivos, observa-se que a fiança só vigorará depois da
existência do contrato principal, e assim elucida o art. 821 do Código Civil: “as dívidas
futuras podem ser objeto de fiança; mas o fiador, neste caso, não será demandado senão
depois que se fizer certa e líquida a obrigação principal do devedor”.
Destarte, verifica-se que o fiador de uma obrigação principal, liquida e certa, não
poderá ser demandado por dívida que não seja válida e exigível. Isso porque, a segurança do
fiador está antes de prestar a garantia, o qual tem que ter ciência do montante a que está se
comprometendo.
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Ainda, dispõe o art. 823 do Código Civil, que: “A fiança pode ser de valor inferior ao
da obrigação principal e contraída em condições menos onerosas, e, quando exceder o valor
da dívida, ou for mais onerosa que ela, não valerá senão até ao limite da obrigação afiançada”.
Assim, nota-se que a fiança não pode ser mais onerosa que dívida principal, ou seja,
não pode ultrapassar o montante da dívida principal, uma vez que exceder esse limite será
reduzido ao alcance da obrigação afiançada.
Desse modo, para que seja notória a validade da fiança é imprescindível se faça
presente esses requisitos, sob pena de nulidade da caução fidejussória (garantia pessoal).
3.2.1 Modalidades:
A fiança produz efeitos, como ocorre em outros tipos de contratos. Pode-se dizer,
assim, que a fiança tem o chamado benefício de ordem ou de excussão, sendo que o fiador só
pode ser cobrado em segundo lugar, ou seja, o fiador, até a contestação do pedido, tem o
direito de que sejam executados primeiro os bens do devedor.
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Neste sentido, afirma Diniz ( ano, p.583) que o benefício de excussão “é o direito
assegurado ao fiador de exigir do credor que acione, em primeiro lugar, o devedor principal,
isto é, que os bens do devedor principal sejam excutidos antes dos seus”.
Nesse mesmo ínterim traz o Código Civil, em seu art. 827, parágrafo único, que “o
fiador que alegar o benefício de ordem, a que se refere este artigo, deve nomear bens do
devedor, sitos no mesmo município, livres e desembargados, quantos bastem para solver o
débito”.
No entanto, de nada adianta o fiador alegar o benefício de ordem se este não nomear
bens do devedor que estejam livres de execução, para que então o credor do contrato obtenha
seu crédito restaurado. Acrescente-se, ainda, que, o fiador, por força do contrato assindo,
abriu mão do benefício de ordem.
Por isso, verificados os requisitos de validade da fiança e a produção de seus efeitos na
esfera jurídica, tem-se que o benefício de ordem dá ao fiador o direito de ver executados
inicialmente o patrimônio do devedor antes do seu.
Com o advento da Lei 8.245/1991, foi alterada a redação original do art. 3° da Lei n°
8.009/1990, o qual trouxe algumas exceções à impenhorabilidade do bem de família do fiador
que antes não fazia menção ou ressalva alguma quanto a este assunto.
No que diz respeito a esse tema, assim dispõe o art. 3º da Lei 8.009/1990 que: “A
impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária,
trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: [...] VII - por obrigação decorrente de
fiança concedida em contrato de locação’’.
No entanto, há grande discussão da constitucionalidade do referido artigo, pois diz-se
que este dispositivo fere o princípio da isonomia, consagrado pelo art. 5º da Constituição
Federal, bem como o direito social a moradia, assegurado pelo art. 6º também da Lei Maior.
Assim, Credie (2004, p, 76) pugna pela inconstitucionalidade desse inciso, pois fere o
direito à moradia, elevado à categoria de direito fundamental pela Emenda Constitucional n°
26 de 2000.
Neste mesmo sentido explana Pablo Stolze Gagliano Filho (2003, p.289)
dispositivo de lei viola o princípio da isonomia insculpido no art. 5.º da CF, uma
vez que trata de forma desigual locatário e fiador, embora as obrigações de
ambos tenham a mesma causa jurídica: o contrato de locação.
Dessa forma, observa-se em tais decisões que, não seria justo que o imóvel dado em
garantia para cumprir obrigações do contrato de locação venha a ser tido como impenhorável,
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eis que o fiador ao assinar o contrato sabe estar dando em garantia tal bem imóvel, e ainda,
não se pode deixar o locador a quem recorrer, o qual poderá perder o direito de reaver os
frutos da sua locação.
Entretanto, quanto ao contrato de locação, o argumento que se levanta é que sem essa
garantia de penhorabilidade do imóvel do fiador para incentivar a locação, tornar-se-ia difícil
trabalhar no mercado imobiliário.
Observa-se, ainda, que essa exceção a penhorabilidade do bem de família do fiador
não pode decorrer de mera garantia de fiança, mas sim de manifestação expressa deste,
renunciando a impenhorabilidade de seu imóvel residencial.
Sendo assim, conclui-se que nesse ínterim ocorrem muitas divergências doutrinárias e
jurisprudenciais, pois vários são os posicionamentos pugnando tanto pela constitucionalidade,
quanto pela inconstitucionalidade do inciso VII da Lei n. 8.009/1990.
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CONCLUSÃO
33
34
REFERENCIAS
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