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LAST SHOT

GABARITO
(Comentado)
DPE/MG
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GABARITO SIMPLIFICADO

GABARITO
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
D E B A A D A D B C
11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
E B D D C B E C E C
21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
B E E B C E C C B B
31 32 33 34 35 36 37 38 39 40
D D C E D C E C E E
41 42 43 44 45 46 47 48 49 50
A D D D C D C B C E
51 52 53 54 55 56 57 58 59 60
C A C C C C D A A B
61 62 63 64 65 66 67 68 69 70
D D C E D D A D E E
71 72 73 74 75 76 77 78 79 80
A C B A D E D C B C
81 82 83 84 85 86 87 88 89 90
B B B E D B A E C E
91 92 93 94 95 96 97 98 99 100
E C D B A B D E E E

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GABARITO COMENTADO
DIREITO PENAL E CRIMINOLOGIA

.QUESTÃO 01 – Para a resolução da questão, analise os textos a seguir:


TEXTO 01
Ação conjunta prende traficante mais procurado de Minas Gerais na Cidade Alta.
A Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) do Rio de Janeiro e da Delegacia de
Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) de Minas Gerais prendeu, nesta
quinta-feira (19), o traficante mais procurado da Polícia Civil mineira, dentro de uma
casa na comunidade da Cidade Alta, em Cordovil, na Zona Norte.
J.F.A.S, 35, é líder de uma das maiores organizações criminosas mineiras e estava
escondido na comunidade carioca.
(fonte: https://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2023/01/6559266-acao-conjunta-prende-
traficante-mais-procurado-de-minas-gerais-na-cidade-alta.html)

TEXTO 02
Mortes em decorrência de intervenção policial têm alta de 12% em Minas.
Ryans, Jeffersons, Felipes, Josés e Antônios. Jovens, negros e moradores da periferia.
Em cada nome que entra para a estatística, histórias de vida interrompidas brutalmente
e famílias dilaceradas pela perda.
Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelaram que, mesmo com a
pandemia da Covid-19, o número de mortes provocadas durante intervenções policiais
cresceu 12% em Minas Gerais entre 2019 e 2020 – os óbitos saltaram de 107 para 120.
Quase 80% dos mortos são negros e 44,8% possuíam entre 18 e 24 anos. Conforme a
entidade, o levantamento foi realizado com base nos índices da Secretaria de Estado de
Segurança Pública e da Polícia Civil. [...] A pesquisa apontou ainda que o grau aceitável
de uso da força letal pela polícia é de 12 civis mortos para cada policial morto. Em Minas,
o índice subiu de 17,8 em 2019 para 24 em 2020, um salto de 35%. (fonte:
https://www.otempo.com.br/cidades/mortes-em-decorrencia-de-intervencao-policial-
tem-alta-de-12-em-minas-1.2530296)
Acerca da reportagem trazida, assinale a alternativa correta:
a) Os meios de comunicação, seja por meio da televisão ou redes sociais, em nada
corroboram com o aumento da seletividade penal, justamente por colocarem
um holofote sobre a atuação policial, evitando com que estes atuem de forma
seletiva.

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b) O sistema penal brasileiro instituiu uma política criminal que acaba realizando a
criminalização da população negra levado a efeito pela polícia, mas contido por
meio da atuação judicial.
c) A mídia, realizando um papel contramajoritário, impossibilita a criação no
imaginário social da figura dos inimigos sociais. Isso se dá pela diminuição da
espetacularização e do sensacionalismo das pessoas presas ou em conflito com
a lei.
d) O estereótipo, ao ser confirmado pela respeitabilidade institucional da mídia,
transformar-se em desqualificação permanente da pessoa, criando um
processo de estigmatização.
e) A Corte IDH aceita a realização dos autos de oposição em incursão policial, na
medida que justificam a atuação policial de forma objetiva, sem qualquer análise
enviesada dos fatos.

Gabarito: D
Comentários:

De acordo com o edital, a matéria referente ao Direito Penal será cobrada


juntamente com Criminologia. Portanto, bastante atenção nas questões envolvendo o
pensamento crítico, ainda mais em relação a exploração midiática de acusados ou
condenados por ser um tema de predileção de DOIS examinadores: tanto o Rômulo
Luis Carvalho, na banca penal-criminologia, quanto o Paulo Henrique Drummond
Monteiro, em execução penal.

Nesse sentido, sugerimos a leitura (obrigatória) do artigo “é preciso pôr fim às


medievais apresentações de presos à imprensa”, no CONJUR, escrito por ambos1.

O artigo menciona que existem quatro indicadores do desenvolvimento de


comportamentos autoritários: a) rejeição pelos políticos das regras democráticas do
jogo; b) negação da legitimidade dos oponentes políticos; c) tolerância ou
encorajamento à violência; e d) propensão a restringir liberdades civis de oponentes,
inclusive da mídia.

Os examinadores seguem: “no Brasil, há muito o risco da degradação da


democracia é alimentado. Exemplo disso é a pública normalização de espetáculos de
violência por órgãos do próprio Estado aos presos antes até mesmo que se alicercem
contra eles uma sentença penal condenatória com trânsito em julgado. Instaurou-se
um permanente cenário de tolerância e encorajamento à violência a partir do

1
https://www.conjur.com.br/2019-jan-15/tribuna-defensoria-preciso-fim-medievais-apresentacoes-
presos-imprensa

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aviltamento de direitos fundamentais de determinada parcela de cidadãos presos. [...]


Sob o amparo de uma suposta autoridade intelectual e social do grande veículo de
comunicação e de seus âncoras, a notícia sensacionalista traz não só a voz da verdade
fática típica do jornalismo que pretende informar, ‘mas também de uma verdade
moral que julga de um lugar privilegiado acima do bem, do mal e até mesmo das leis
e da Constituição da República’. Forma-se, assim, a opinião de milhares de pessoas a
partir de narrativas enviesadas, capazes de construir no imaginário social a figura de
inimigos sociais, por julgamentos morais sumários ao arrepio da teleologia
constitucional. Assim se constroem parcelas de cidadãos a serem destruídos e
desumanizados.”

DICA DE IMPACTO ⭐
Consta do artigo, ainda, atuação da DPE/MG nesse sentido:
Em Minas Gerais, no bojo de ação civil pública ajuizada pela Defensoria, o
Tribunal de Justiça local concedeu parcialmente a antecipação da tutela recursal em
sede de agravo de instrumento para reconhecer a absoluta excepcionalidade da
apresentação involuntária da imagem e/ou voz de pessoas presas pela Polícia Civil
e determinar ao estado que a autoridade policial presidente de cada investigação
motive por escrito cada decisão excepcional de apresentação de imagem/voz da
pessoa presa, “de forma individual, concreta e objetiva, indicando os aspectos fáticos
e jurídicos que a embasam, quanto à necessidade e adequação e proporcionalidade
da medida em favor da administração da justiça ou para a elucidação das
investigações”.
Determinou-se ainda que cada apresentação seja comunicada à Defensoria
Pública e ao Ministério Público para que no limite de suas atribuições façam o
controle da prática.
Autos 5087042-63.2018.8.13.0024 – 2ª Vara de Fazenda Pública e Autarquias;
decisão proferida no Agravo de Instrumento 1.0000.18.108797-4/001.

Outro trecho a ser destacado do artigo de autoria do examinador é: A


apresentação da pessoa presa às lentes e microfones da mídia de massa de forma a
promover verdadeiras humilhações é o que se questiona, visto que apenas viabiliza
interesses ilegítimos no Estado de Direito: a exposição à execração pública, a
construção de uma falsa sensação de segurança e de eficiência ou, ainda, a
autopromoção corporativa com a presença de agentes encapuzados e fortemente
armados atrás de um custodiado algemado e exposto, como se de cidadão tivesse se
transformado em um troféu. Além de desnecessária e inadequada à concretização da
liberdade de imprensa e do direito à informação, a apresentação da imagem/voz da
pessoa presa promove nefastos efeitos sobre direitos da personalidade do custodiado.
Precisamente, a cerimônia espetacular da mídia sobre a pessoa presa contribui para a

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construção de estigmas sociais, constituindo-se em instrumento catalisador de um


processo psicológico-coletivo de rotulação do investigado ao estereótipo de
“criminoso”. O estereótipo, ao ser confirmado pela respeitabilidade institucional da
mídia, “transformar-se em desqualificação permanente da pessoa, criando um
processo de estigmatização”.

Por fim, em análise a alternativa “E”, recordamos ainda sobre o Caso Favela
Nova Brasília vs. Brasil que, além do direito à participação da vítima e seus familiares
na investigação e da necessidade de investigação imparcial e independente,
reconheceu a ilegalidade dos “autos de resistência/oposição à prisão”.

A regra geral de confrontos entre civis e policiais que tinham como resultado a
morte dos civis passou a ser percebida e processada como um procedimento centrado
na incriminação do opositor morto, tendo como consequência a não autuação em
flagrante dos policiais envolvidos e a comprovação da extinção de sua punibilidade.

Assim, gerava uma inércia nas autoridades, que analisavam as provas de


maneira superficial e não davam o impulso necessário à investigação quando se tratava
de uma situação ocorrida em intervenção policial.

Para a Corte IDH, o Estado deve adotar a expressão “lesão corporal ou


homicídio decorrente de intervenção policial” nos relatórios e investigações da polícia
ou do Ministério Público em casos de mortes ou lesões provocadas por ação policial.

Portanto, a alternativa correta é a letra D.

.QUESTÃO 02 – Josué, condenado por roubo circunstanciado com arma de fogo,


solicitou para sua esposa, Joana, trazer consigo 18 porções de cocaína na próxima visita
ao estabelecimento penal em que cumpre regime semiaberto, para pagar uma dívida
contraída com a facção que lidera o local. Durante a revista íntima realizada na entrada
da penitenciária, Joana foi flagrada na posse das drogas e os agentes comunicaram o
fato ao diretor do estabelecimento. Após investigações preliminares, foi oferecida
denúncia em desfavor de Josué e Joana pela prática do art. 33, caput, com causa de
aumento prevista no art. 40, III, da Lei 11.343. Sobre a situação, marque a alternativa
correta:

a) A política criminal não considera exultante o número de mulheres presas em


flagrante ou cumprindo pena em razão de tráfico de drogas, eis que a maior
parte dos crimes cometidos pelo gênero feminino é contra a vida.

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b) Caso receba a denúncia, o juízo estará de acordo com o ordenamento jurídico,


eis que Josué tinha o intento de colaborar com o tráfico que ocorre no
estabelecimento penal e que Joana foi presa em flagrante na posse das drogas.
c) Embora exista a tipicidade da conduta, o Defensor Público do caso pode arguir a
retirada da majorante do art. 40, III, da Lei 11.343, eis que a droga não chegou a
adentrar de fato na penitenciária.
d) Josué poderá ter seu regime regredido em virtude da prática tentada do tráfico
de drogas durante o cumprimento da pena.
e) O juízo deverá rejeitar a denúncia em face de Josué considerando que a mera
solicitação da droga, sem a efetiva entrega, configura ato preparatório,
reconhecendo a atipicidade da conduta.

Gabarito: E
Comentários:

Resposta diretamente de informativo recente do STJ, em que considerou que


a mera solicitação do preso, sem a efetiva entrega do entorpecente ao destinatário no
estabelecimento prisional, configura ato preparatório, impedindo a condenação por
tráfico de drogas.

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA! 🚨


Info 770/STJ - A mera solicitação do preso, sem a efetiva entrega do entorpecente ao
destinatário no estabelecimento prisional, configura ato preparatório, o que impede a sua
condenação por tráfico de drogas.
A controvérsia consiste em saber se a interceptação da droga por agentes penitenciários
antes de ser entregue ao seu destinatário, recolhido em estabelecimento prisional, impede
a sua condenação pela prática do delito do art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006, na
modalidade "adquirir", que viria, em tese, a ser por esse praticada.
No caso, o custodiado não praticou conduta alguma que possa configurar o início do iter
criminis do delito descrito no art. 33 da Lei n. 11.343/2006, porquanto limitou-se a solicitar
à sua companheira (corré) a entrega da droga no interior do presídio em que se encontrava
recolhido.
Ambas as Turmas de Direito Penal desta Corte têm decidido que a mera solicitação, sem a
efetiva entrega do entorpecente ao destinatário no estabelecimento prisional, configura,
no máximo, ato preparatório e, sendo assim, impunível. Logo, é de rigor a absolvição do
acusado, em razão da atipicidade de sua conduta, notadamente porque não comprovada a
propriedade da droga.
Nesse sentido, "A tão só ação imputada de, em tese, solicitar que fossem levadas drogas para
o interior do estabelecimento prisional, entorpecentes esses cuja propriedade não se
conseguiu comprovar, poderia configurar, no máximo, ato preparatório e, portanto,
impunível, mas não ato executório do delito, seja na conduta de "adquirir", a qual se
entendeu subsumir a ação, seja nas demais modalidades previstas no tipo. Evidencia-se,

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portanto, a atipicidade da conduta" (AgRg no REsp 1.937.949/MG, Rel. Ministra Laurita Vaz,
Sexta Turma, DJe de 27/8/2021). AgRg no REsp 1.999.604-MG, Rel. Ministro Ribeiro Dantas,
Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 20/3/2023, DJe 24/3/2023.

Sobre as demais alternativas, a alternativa A encontra-se equivocada, eis que,


segundo o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias, realizado pelo
INFOPEN, “crimes relacionados ao tráfico de drogas correspondem a 59% das
incidências penais pelas quais as mulheres privadas de liberdade foram condenadas ou
aguardam julgamento em 2017, o que significa dizer que 3 em cada 5 mulheres que se
encontram no sistema prisional respondem por crimes ligados ao tráfico2”.

.QUESTÃO 03 – Assinale a alternativa correta:

a) As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha não são aplicáveis a


transexuais, transgêneros e travestis que estejam vivenciando situação de
violência doméstica.
b) A assistência qualificada à mulher vítima de violência doméstica é uma das
funções da Defensoria Pública, que encontra amparo na Lei 11.340/2006 e
também na Lei Complementar 80/94.

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infopenmulheres-junho2017.pdf (www.gov.br)

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c) A assistência qualificada à mulher vítima de violência doméstica assemelha-se à


figura do assistente da acusação, pois visa favorecer que, ao final do processo,
seja obtida a condenação do agressor.
d) A concessão das medidas protetivas de urgência depende da tipificação penal da
violência, do ajuizamento de ação penal ou cível, da existência de inquérito
policial ou do registro de boletim de ocorrência.
e) É viável a fixação de medidas protetivas “ad eternum”, pois elas vigorarão
enquanto persistir risco à integridade física, psicológica, sexual, patrimonial ou
moral da ofendida ou de seus dependentes.

Gabarito: B
Comentários:

A alternativa “a” está incorreta, pois a jurisprudência é firme no sentido de que


a Lei Maria da Penha se aplica a transexuais, transgêneros e travestis.

É importante lembrar que a aplicação da Lei Maria da Penha leva em conta não
apenas o sexo biológico, mas também questões relativas à vulnerabilidade. Com base
nesse argumento, também é possível a concessão de medidas protetivas de urgência
em relações entre irmãs, em relações homoafetivas entre mulheres, etc.

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA!

Mulheres transexuais em situação de violência doméstica poderão ser beneficiadas pelas


medidas protetivas da Lei Maria da Penha
A aplicação da Lei Maria da Penha não reclama considerações sobre a motivação da conduta do
agressor, mas tão somente que a vítima seja mulher e que a violência seja cometida em
ambiente doméstico, familiar ou em relação de intimidade ou afeto entre agressor e agredida.
Importa enfatizar que o conceito de gênero não pode ser empregado sem que se saiba
exatamente o seu significado e de tal modo que acabe por desproteger justamente quem a Lei
Maria da Penha deve proteger: mulheres, crianças, jovens, adultas ou idosas e, no caso, também
as trans.
Para alicerçar a discussão referente à aplicação do art. 5º da Lei Maria da Penha quando tratar-
se de mulher trans, necessária é a diferenciação entre os conceitos de gênero e sexo, assim
como breves noções de termos transexuais, transgêneros, cisgêneros e travestis, com a
compreensão voltada para a inclusão dessas categorias no abrigo da Lei em comento, tendo em
vista a relação dessas minorias com a lógica da violência doméstica contra a mulher.
A balizada doutrina sobre o tema leva à conclusão de que as relações de gênero podem ser
estudadas com base nas identidades feminina e masculina. Gênero é questão cultural, social, e
significa interações entre homens e mulheres. Uma análise de gênero pode se limitar a
descrever essas dinâmicas. O feminismo vai além, ao mostrar que essas relações são de poder e
que produzem injustiça no contexto do patriarcado. Por outro lado, sexo refere-se às

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características biológicas dos aparelhos reprodutores feminino e masculino, bem como ao seu
funcionamento, de modo que, o conceito de sexo, como visto, não define a identidade de
gênero. Em uma perspectiva não meramente biológica, portanto, mulher trans mulher é.
Estabelecido entendimento de mulher trans como mulher, para fins de aplicação da Lei n.
11.340/2006, vale lembrar que a violência de gênero é resultante da organização social de
gênero, a qual atribui posição de superioridade ao homem. A violência contra a mulher nasce
da relação de dominação/subordinação, de modo que ela sofre as agressões pelo fato de ser
mulher.
Com efeito, a vulnerabilidade de uma categoria de seres humanos não pode ser resumida à
objetividade de uma ciência exata. As existências e as relações humanas são complexas e o
Direito não se deve alicerçar em argumentos simplistas e reducionistas.
Assim, é descabida a preponderância de um fator meramente biológico sobre o que realmente
importa para a incidência da Lei Maria da Penha, com todo o seu arcabouço protetivo, inclusive
a competência jurisdicional para julgar ações penais decorrentes de crimes perpetrados em
situação de violência doméstica, familiar ou afetiva contra mulheres. (STJ - REsp 1977124/SP.
Data do Julgamento:05/04/2022. Data da Publicação:22/04/2022. Órgao Julgador: SEXTA
TURMA. Relator: Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ)

As alternativas “b” e “c” trazem ponderações a respeito da assistência


qualificada à vítima de violência doméstica, que é um tema bastante em voga. Diversas
Defensorias Públicas têm, cada vez mais, reforçado o papel institucional de defesa das
mulheres vítimas de violência doméstica, o que possibilita a sua atuação como
assistente qualificada da vítima. Essa figura visa preservar os interesses da vítima,
garantindo ainda que sua voz e seus desejos sejam respeitados.

A DPE-MG inclusive aderiu, em junho de 2023, a uma nota técnica firmada por
várias Defensorias Públicas Estaduais, defendendo a importância da atuação da
Defensoria na assistência qualificada às mulheres em situação de violência doméstica3.

A figura da assistência qualificada à vítima, nome dado pela doutrina e


jurisprudência ao que está previsto no artigo 27 da Lei 11.340/2006, visa garantir
participação ativa da vítima no processo penal.

Art. 27. Em todos os atos processuais, cíveis e criminais, a mulher em situação de violência
doméstica e familiar deverá estar acompanhada de advogado, ressalvado o previsto no art. 19 desta Lei.

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https://defensoriasti-
my.sharepoint.com/personal/jady_costa_defensoria_mg_def_br/_layouts/15/onedrive.aspx?id=%2Fpersonal%2Fja
dy%5Fcosta%5Fdefensoria%5Fmg%5Fdef%5Fbr%2FDocuments%2FI%20NT%20NUDEMs%20%2D%20assist%C3%AA
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Art. 28. É garantido a toda mulher em situação de violência doméstica e familiar o acesso aos
serviços de Defensoria Pública ou de Assistência Judiciária Gratuita, nos termos da lei, em sede policial e
judicial, mediante atendimento específico e humanizado.

Como desdobramento deste papel ativo, se reconhece o direito à representação


jurídica como parte necessária da garantia de acesso à justiça às mulheres em situação
de violência doméstica e familiar, e como expressão da bilateralidade dos direitos
humanos, com a concretização de garantias penais e processuais.

Neste sentido, a Lei Maria da Penha prevê que a vítima deve ser notificada dos
atos processuais relativos a seu agressor, especialmente no que se refere à entrada e
saída dele da prisão, sem prejuízo de intimação do(a) defensor(a) ou do(a) advogado(a).

Ainda, determina a obediência de diretrizes na inquirição da vítima de violência


doméstica, dentre elas a não revitimização, evitando sucessivas inquirições sobre o
mesmo fato nos âmbitos criminal, cível e administrativo, bem como questionamentos
sobre a vida privada da mulher (art. 10- A, § 1º, III).

Como corolário desses direitos e a fim de efetivá-los, portanto, é que se


estabelece a figura da assistência qualificada à vítima.

Neste ponto, cumpre ressaltar que a assistência qualificada à vítima não tem
como objetivo precípuo a condenação do agressor, mas sim evitar a vitimização
secundária da mulher e garantir que sua vontade seja efetivamente manifestada e
seus interesses resguardados.

Dessa forma, os(as) defensores(as) públicos(as) incumbidos da assistência


qualificada, para além de impedir que a defesa do acusado faça uso de argumentações
que firam a sua honra e memória, deve, por exemplo, garantir o seu direito ao silêncio,
caso a mulher não queira depor contra o seu agressor por qualquer razão que seja.

Neste ponto, a assistência qualificada à vítima não se confunde com a figura do


assistente da acusação, porque, enquanto este último visa a obtenção de condenação
em desfavor do agressor (lembrando que nem sempre a condenação do agressor é do
interesse da vítima de violência doméstica), a assistência qualificada busca preservar a
vítima, evitar revitimização, e atender às necessidades da vítima.

O assistente da acusação também busca a fixação de valor mínimo para


reparação de danos na sentença condenatória, e esse papel o assistente qualificado
também pode realizar.

Já a alternativa “d” trata de alteração recente na Lei Maria da Penha, de abril de


2023:

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Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério
Público ou a pedido da ofendida.

§ 1º As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de imediato, independentemente de


audiência das partes e de manifestação do Ministério Público, devendo este ser prontamente
comunicado.

§ 2º As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou cumulativamente, e poderão ser


substituídas a qualquer tempo por outras de maior eficácia, sempre que os direitos reconhecidos nesta
Lei forem ameaçados ou violados.

§ 3º Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida, conceder novas


medidas protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se entender necessário à proteção da
ofendida, de seus familiares e de seu patrimônio, ouvido o Ministério Público.

§ 4º As medidas protetivas de urgência serão concedidas em juízo de cognição sumária a partir do


depoimento da ofendida perante a autoridade policial ou da apresentação de suas alegações escritas
e poderão ser indeferidas no caso de avaliação pela autoridade de inexistência de risco à integridade
física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral da ofendida ou de seus dependentes. (Incluído pela Lei
nº 14.550, de 2023)

§ 5º As medidas protetivas de urgência serão concedidas independentemente da tipificação penal da


violência, do ajuizamento de ação penal ou cível, da existência de inquérito policial ou do registro de
boletim de ocorrência. (Incluído pela Lei nº 14.550, de 2023)

Em relação à alternativa “e”, está incorreta porque as medidas protetivas de


urgência não podem ser fixadas de forma perpétua. Afinal de contas, tratam-se de
medidas restritivas de direitos de outrem. Assim, devem permanecer em vigência as
medidas protetivas enquanto houver perigo.

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA!

Levando em conta a impossibilidade de duração ad eternum da medida protetiva imposta – o


que não se confunde com a indeterminação do prazo da providência -, bem como a necessidade
de que a proteção à vítima perdure enquanto persistir o risco que se visa coibir – aferição que
não pode ser realizada por esta Corte, na via exígua do writ -, é caso de se conceder a ordem de
habeas corpus, ainda que em menor extensão, a fim de que, aplicando-se, por analogia, o
disposto no art. 316, parágrafo único, do Código de Processo Penal, o Magistrado singular
examine, periodicamente, a pertinência da preservação da cautela imposta, não sem antes ouvir
as partes. Ordem parcialmente concedida para tornar por prazo indeterminado a medida
protetiva de proibição de aproximação da vítima, revogando-se a definitividade estabelecida na
sentença condenatória, devendo o Juízo de primeiro grau avaliar, a cada 90 dias e mediante a
prévia oitiva das partes, a necessidade da manutenção da cautela” (STJ – HC: 605113 SC
2020/0203237-2, Data de Julgamento: 08/11/2022, T6 – SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe
11/11/2022).

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.QUESTÃO 04 – Sobre a culpabilidade no direito penal, assinale a alternativa correta:

a) Atualmente Eugênio Raúl Zaffaroni defende a culpabilidade por vulnerabilidade,


abandonando a coculpabilidade. A partir dessa noção, afirma que algumas pessoas
são selecionadas pelo sistema penal e são vulneráveis, enquanto outras são
blindadas pelo sistema penal.
b) A culpabilidade, para o neokantismo, inclui a análise da imputabilidade, da potencial
consciência da ilicitude e da inexigibilidade de conduta diversa.
c) O erro de tipo, a coação irresistível, a obediência hierárquica são hipóteses em que
se exclui a culpabilidade do agente.
d) A potencial consciência da ilicitude é avaliada segundo um critério formal, que
pressupõe o conhecimento do agente de que, com a conduta, pratica um ato
antissocial ou imoral.
e) A embriaguez preordenada não afasta a culpabilidade e configura uma causa de
aumento de pena.
Gabarito: A

Comentários:

A culpabilidade é um dos temas de preferência do examinador, então questões


envolvendo o tema são um forte palpite.
A assertiva “a” está correta. Na coculpabilidade, o Estado seria tão responsável
quanto a pessoa vulnerável pela violação da norma penal, não tendo proporcionado a
ela condições de agir em conformidade com o Direito. Algum tempo depois, Zafarroni
passou a entender que sua tese vinculava a pobreza como causa de todos os delitos, re-
legitimando o Direito Penal.
Assim, Zaffaroni passou a falar em culpabilidade pela vulnerabilidade, na
tentativa de evitar a criminalização da pobreza, presente (em partes) no conceito de
coculpabilidade. A ideia da culpabilidade pela vulnerabilidade é que a seletividade penal
seja levada em consideração durante a aplicação da pena, ao se considerar o grau de
vulnerabilidade do sujeito de se tornar parte autora de delito.
Nesses casos, a Defensoria pode requerer a aplicação de atenuante genérica,
com fundamento no artigo 66 do Código Penal.
Já a alternativa “b” confunde os conceitos do neokantismo com o do finalismo,
que analisa no substrato da culpabilidade a imputabilidade, a potencial consciência da
ilicitude e a inexigibilidade de conduta diversa.
Para revisar, veja as tabelas adiante:

A TEORIA PSICOLÓGICA DA CULPABILIDADE é fruto da DOUTRINA CAUSAL da


ação ou causalismo. A culpabilidade seria constituída dos elementos psicológicos
= DOLO E CULPA. Os autores que a defendem são Liszt e Beling.

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A TEORIA PSICOLÓGICO NORMATIVA DA CULPABILIDADE é desenvolvida sem


romper a teoria causal da ação, mas influenciada pelo NEOKANTISMO,
analisando a realidade através dos valores. Os autores são James Goldschimt,
Mezger, Freudenthal e Frank.

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A TEORIA NORMATIVA PURA DA CULPABILIDADE é a teoria adotada pelo


FINALISMO. O principal autor é Hans Welzel. O finalismo passa a ser desenhado
a partir da década de 30 do século XX e somente termina depois de 1945. A
doutrina final da conduta diz que todo o comportamento humano, positivo ou
negativo, é destinado a uma finalidade. Com isso, o DOLO OU A CULPA são
categorias retiradas da culpabilidade e deslocadas para o FATO TÍPICO.

A alternativa “c” está incorreta porque erro de TIPO não exclui a culpabilidade.
É o erro de proibição direto inevitável que exclui a potencial consciência da ilicitude e,
portanto, a culpabilidade.
O erro é a falsa percepção da realidade. É a ignorância ou equívoco que recai
sobre as elementares, circunstâncias ou qualquer dado agregado ao tipo penal.

São duas espécies consagradas de ERRO DE TIPO, o erro de tipo ESSENCIAL e o


ACIDENTAL.

No ERRO DE TIPO ESSENCIAL, o engano recai sobre os dados essenciais ou


principais do tipo. Se avisado do erro, o agente para de agir criminosamente.

- Erro de tipo essencial sobre elementar: por equivocada compreensão da realidade


fática, o sujeito não sabe, não tem consciência, que realiza a elementar do tipo. Se divide
em:

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- ERRO DE TIPO ESSENCIAL INEVITÁVEL OU ESCUSÁVEL = É aquele que o cuidado


comum não evitaria, por consequência = EXCLUI DOLO E CULPA.

- ERRO DE TIPO ESSENCIAL EVITÁVEL OU INESCUSÁVEL = É aquele que o cuidado


comum evitaria, por consequência = EXCLUI DOLO E PERMITE CULPA (se prevista)

- Erro de tipo essencial sobre descriminante: descriminante é a excludente de


antijuridicidade. O erro por descriminante de tipo também é chamado de
"descriminante putativa". Putativa vem de putare que significa imaginar ou errar. Em
uma de suas modalidades, o erro pode incidir sobre os "pressupostos fáticos de
excludente de ilicitude" ou "erro de tipo permissivo". Nesse caso, por equivocada
compreensão da situação de fato, o sujeito imagina estar em situação que se fosse real
tornaria sua conduta acobertada por uma excludente de antijuridicidade. Consequência:
No Brasil prevalece a teoria limitada da culpabilidade, segundo a qual a descriminante
putativa por erro de tipo terá o mesmo tratamento do erro de tipo sobre elementar, ou
seja, sempre exclui o dolo. Pode ser inevitável (afastando também a culpa) ou evitável
(admitindo a punição na forma culposa).

Obs.: Se o erro for sobre a própria causa justificante ou seus limites - e não sobre seus
pressupostos de fato - será tratado como erro de proibição. Nesse caso, a pessoa tem
plena compreensão da situação de fato, mas erra quanto a aspectos jurídicos. É tratado
como erro de proibição indireto.

No ERRO DE TIPO ACIDENTAL o engano recai sobre os dados secundários do tipo.


Quando avisado do erro, o agente corrige os caminhos da conduta para continuar a
agir ilicitamente.

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As hipóteses de erro de tipo não se confundem com o instituto do ERRO DE


PROIBIÇÃO. Um dos elementos da culpabilidade é a potencial consciência da ilicitude,
de modo que existe a necessidade de que o agente compreenda que sua conduta é
criminosa. Para isso leva-se em conta uma percepção leiga da ilicitude, ou seja, se realiza
uma VALORAÇÃO PARALELA NA ESFERA DO PROFANO. O sujeito tem que saber que sua
conduta é LESIVA, ANTISSOCIAL OU IMORAL. O profano é o não jurídico. O erro de
proibição é a causa excludente da potencial consciência (art. 21 do CP)

- ERRO DE PROIBIÇÃO ESCUSÁVEL OU INEVITÁVEL = Não sabe e nas suas condições de


vida não poderia saber da proibição = AFASTA A CULPABILIDADE.

- ERRO DE PROIBIÇÃO INESCUSÁVEL OU EVITÁVEL = Não sabe e nas suas condições de


vida poderia saber da proibição = É CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA (1/6 A 1/3). São

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consideradas as características pessoais do agente. Ou seja, não se usa o critério do


homem médio.

No ERRO DE PROIBIÇÃO DIRETO o sujeito se equivoca quanto ao CONTEÚDO DA


NORMA PROIBITIVA (não sabe que é crime ou não entende).

No ERRO DE PROIBIÇÃO INDIRETO o sujeito IMAGINA QUE ESTÁ AGINDO


CONFORME NORMA PERMISSIVA OU DENTRO DOS SEUS LIMITES.

Quanto à alternativa “d”, segundo a doutrina há 3 (três) critérios para avaliar se


há potencial consciência da ilicitude:

- Critério formal: tem que conhecer o tipo penal, saber que a conduta praticada
é prevista como crime;
- Critério material: baseia-se numa concepção material do injusto, exigindo o
conhecimento da antissociabilidade, da injustiça e da imoralidade de uma
conduta. Defendido por Max Ernst Mayer e Kaufmann, esbarrou na existência de
infrações penais de pura criação legislativa, que não correspondem ao conceito
de injusto material, bem como em condutas reconhecidamente danosas,
embora não tipificadas pelo Direito Penal.
- Valoração paralela na esfera do profano: corrente intermediária. Parte-se de
uma perspectiva leiga. O agente deve ter condições de perceber que pratica um
ato que não tem respaldo no direito. O sujeito deve apenas, com o esforço de
sua consciência, conhecer ou poder conhecer, o caráter ilícito de sua conduta. É
o critério de maior aceitação.
A alternativa “e” está incorreta porque a embriaguez preordenada é prevista
como uma agravante de pena, de acordo com o art. 61, II, “l”, CP.

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Dessa forma, podemos fazer a análise crítica dos flagrantes e apreensão de


drogas em presídios, eis que as mulheres estão sendo encarceradas por favores
prestados aos seus companheiros e, em contrapartida, não recebem a mesma
assistência destes quando encontram-se cumprindo pena.

No que diz respeito à letra C, o STJ entende que a droga não necessita adentrar
efetivamente o presídio para a incidência da majorante do art. 40, III, da Lei 11.343/06.

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA! 🚨


Info 659/STJ - Não é necessário que a droga passe por dentro do presídio para que incida a
majorante prevista no art. 40, III, da Lei nº 11.343/2006. Esse dispositivo não faz a exigência
de que as drogas efetivamente passem por dentro dos locais que se busca dar maior
proteção, mas apenas que o cometimento dos crimes tenha ocorrido em seu interior.
STJ. 5ª Turma. HC 440888-MS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 15/10/2019

.QUESTÃO 05 – Rodrigo, reincidente, nascido em 15/02/1992, foi denunciado em


30/03/2013, pela prática do crime de receptação (CP, art. 180, caput), evento
supostamente ocorrido no dia 20/01/2013. Recebida a denúncia no dia 30/04/2013. Em
instrução, a defesa suscitou dúvida sobre a integridade mental do acusado; assim, o juiz
ordenou a instauração do incidente de sanidade mental – processo ficou suspenso no
período de 03/11/2014 a 25/02/2017. Nada constatado, foi dado prosseguimento ao
feito e a instrução; sendo Rodrigo condenado, nos termos da denúncia, no dia
30/04/2019. Intimada a Defensoria Pública, é possível afirmar:

a) Operou a prescrição da pretensão punitiva em 29/04/2017

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b) O prazo prescricional foi suspenso no período do dia 03/11/2014 ao 25/02/2017


c) Em recurso, a defensoria não poderá alegar que se operou a prescrição
d) A reincidência irá majorar 1/3 o prazo da prescrição da pretensão punitiva
e) Operou a prescrição da pretensão punitiva em 20/03/2017

Gabarito: A

Comentários:

Prescrição penal é um tema sempre quente para as provas da defensoria pública!


Embora de humanas, temos que vencer uma barreira matemática para acertar na prova
e, também, em nossa rotina como defensores.

Dica para contagem do prazo prescricional:

“O prazo prescricional será 1 dia antes do mesmo mês de quantos anos sejam”

• No caso em concreto, o ponto de interrupção e reinicio de contagem do prazo


prescricional ocorreu no dia 30/04/2013 – assim, tendo como redutor etário, o
prazo necessário para prescrição será de 4 anos entre os marcos interruptivos.
o Prescrição operou no dia 29/04/2017

CP, Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final,


salvo o disposto no § 1o do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo
da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se:
IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não
excede a quatro;
• Receptação simples – pena máxima em abstrato, 4 anos.

CP, Art. 115 - São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o


criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na
data da sentença, maior de 70 (setenta) anos.

CP, Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final,


começa a correr:
I - do dia em que o crime se consumou;

CP, Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se:


I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa;

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II - pela pronúncia;
III - pela decisão confirmatória da pronúncia;
IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis;
V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena; (Redação dada
VI - pela reincidência.

 STJ, Súmula 220. A reincidência não influi no prazo da prescrição da


pretensão punitiva

• INCIDENTE DE SANIDADE MENTAL NÃO SUSPENDE O PRAZO PRESCRICIONAL

STJ. 6ª Turma. REsp 1.904.590/RJ

A jurisprudência do STJ orienta no sentido de que, em observância ao


princípio da legalidade, as causas suspensivas da prescrição demandam
expressa previsão legal, o que não ocorre no caso de instauração de
incidente de insanidade mental, em que não há previsão normativa de
suspensão do curso da prescrição. Não se pode criar, por via
interpretativa, causa suspensiva da prescrição vinculada a incidente
instaurado no curso da ação penal, tendo em vista a inexistência de
norma legal conferindo o vindicado efeito a simples incidentes
processuais. Não é possível equiparar os incidentes processuais
instaurados perante o mesmo juízo, no curso da ação penal, com a
pendência de questão prejudicial em "outro processo", prevista no art.
116, inciso I, do Código Penal como causa suspensiva da prescrição, pois
se tratam de institutos com natureza jurídica completamente distintas.

CRISE DE INSTÂNCIA – este será um exemplo de “crise de instância” no


processo penal; procedimento e processo suspenso, embora, o prazo
prescricional continue fluindo.

.QUESTÃO 06 – Sobre concurso de crimes, responda:

a) Há continuidade delitiva entre os crimes de roubo e extorsão, desde que


praticados em conjunto. Isso porque, são crimes da mesma natureza.
b) Diante do crime continuado, não adotamos a teoria Mista. Sendo prescindível a
o preenchimento de requisitos não apenas de ordem objetiva — mesmas

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condições de tempo, lugar e forma de execução — como também de ordem


subjetiva — unidade de desígnios ou vínculo subjetivo entre os eventos.
c) Os tipos penais trazidos nos arts. 241-A e 241-B do ECA são autônomos, com
verbos e condutas distintas; fato que não obsta que seja reconhecido, no caso
concreto, o concurso formal de crimes.
d) A fração de aumento em razão da prática de crime continuado deve ser fixada
de acordo com o número de delitos cometidos, aplicando-se 1/6 pela prática
de duas infrações, 1/5 para três, 1/4 para quatro, 1/3 para cinco, 1/2 para seis
e 2/3 para sete ou mais infrações.
e) A apreensão de mais de uma arma de fogo, acessório ou munição, em um
mesmo contexto fático, ainda que de naturezas distintas caracteriza delito único.

Gabarito: D

Comentários:

Sempre atentos, essa pergunta exigiu conhecimento do novo enunciado sumulado do


STJ, n. 659

STJ, Súmula 659 – A fração de aumento em razão da prática de crime


continuado deve ser fixada de acordo com o número de delitos cometidos,
aplicando-se 1/6 pela prática de duas infrações, 1/5 para três, 1/4 para quatro,
1/3 para cinco, 1/2 para seis e 2/3 para sete ou mais infrações.

Os tribunais superiores sempre oscilam nos casos que reconhecem crime continuado;
tendo divergência, ainda, se caracterizado concurso formal ou material. Vejamos alguns
julgados importantes desta temática:

STF. 1ª Turma. HC 114667/SP (Info 899).


Não há continuidade delitiva entre os crimes de roubo e extorsão, ainda
que praticados em conjunto. Isso porque, os referidos crimes, apesar de
serem da mesma natureza, são de espécies diversas.

STJ. 5ª Turma. AgInt no AREsp 908.786/PB


Não há como reconhecer a continuidade delitiva entre os crimes de roubo
e o de latrocínio porquanto são delitos de espécies diversas, já que
tutelam bens jurídicos diferentes.

STF. 1ª Turma. HC 190909 julgado em 26/10/2020.

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A prática sucessiva de roubo e, no mesmo contexto fático, de extorsão,


com subtração violenta de bens e posterior constrangimento da vítima a
entregar o cartão bancário e a respectiva senha, revela duas condutas
distintas, praticadas com desígnios autônomos, devendo-se reconhecer,
portanto, o concurso material.

STJ, tema 1168 – tese firmada


Os tipos penais trazidos nos arts. 241-A e 241-B do Estatuto da Criança e
do Adolescente são autônomos, com verbos e condutas distintas, sendo
que o crime do art. 241-B não configura fase normal, tampouco meio de
execução para o crime do art. 241-A, o que possibilita o reconhecimento
de concurso material de crimes.

STJ, HC 362.157/RJ, j. 18/05/2017


“A jurisprudência desta Corte consolidou-se no sentido da existência de
um delito único quando apreendidas mais de uma arma, munição,
acessório ou explosivo em posse do mesmo agente, dentro do mesmo
contexto fático, não havendo que se falar em concurso material ou formal
entre as condutas, pois uma só lesão de um mesmo bem tutelado

 Mas esta solução não se aplica nas situações em que a


posse ou o porte se subsume a tipos diversos devido à
qualidade das armas. Portanto, alguém que porte uma
arma de uso permitido e outra de uso restrito deve
responder por ambos os delitos em concurso: “’A prática,
em um mesmo contexto fático, dos delitos tipificados nos
artigos 14 e 16 da Lei n. 10.826/2003, configuram
diferentes crimes porque descrevem ações distintas, com
lesões à bens jurídicos diversos, devendo ser somados em
concurso formal’ (AgRg no REsp 1.588.298/MG |AgRg no
AREsp 1.258.199/M)

.QUESTÃO 07 – Sobre as teorias da pena, assinale a alternativa correta:


a) A principal virtude da teoria retributiva é o estabelecimento de limites à
imposição de pena, como garantia do indivíduo frente o arbítrio estatal. No
entanto, legitima sistemas autoritários de direito penal máximo, já que não
justifica claramente o fundamento da retribuição.
b) Nas teorias utilitaristas, o intuito da pena é punir o autor pelo mal causado, em
um verdadeiro sistema de direito penal do fato.

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c) A teoria unificadora pretende somente salvaguardar a validade da norma, de


modo a prevenir a não ocorrência de crimes no futuro. Trata-se de instrumento
de política criminal destinada aos membros da sociedade e foi expressamente
adotada pelo artigo 59 do CP brasileiro.
d) A teoria abolicionista entende pela ausência de sentido do direito penal, que não
se presta a resolver problemas sociais, mas sim está a serviço da vingança estatal.
Desse modo, não há na pena qualquer das funções a ela atribuídas.
e) A teoria materialista rejeita as finalidades utilitaristas da teoria da prevenção.
Não sendo possível justificar a finalidade da existência do direito penal, ele deve
ser contido e reduzido o máximo possível. Desse modo, o direito penal deve ser
visto como política criminal redutora de danos.

Gabarito: A

Comentários:

O examinador tem uma preferência pela temática das teorias da pena, por isso
achamos importante que vocês revisem.
Nosso gabarito é a alternativa A, uma vez que a teoria retributiva é uma espécie
de teoria absoluta, na qual a pena tem função exclusiva de castigar o agente que
infringiu a norma penal, para que ele retribua à sociedade o mal causado.
Nesse aspecto, a pena não possui qualquer finalidade social, apenas assume o
ideal de justiça, ao colocar a dor como estímulo de reflexão daquele considerado
culpado pela prática do delito.
O principal legado dessa teoria é o estabelecimento de limites à imposição da
pena. Como garantia do indivíduo frente ao arbítrio estatal, a pena passou a variar de
forma proporcional ao mal causado pelo agente. No entanto, legitimou sistemas
autoritários de direito penal máximo, já que não justifica claramente nem os reais
fundamentos da retribuição, nem o limite físico/corporal/social de ingerência do Estado
na vida privada.
Por outro lado, ao contrário do afirmado pela alternativa B, as teorias
utilitaristas (também conhecidas como relativas ou preventivas) favorecem a aplicação
de um direito penal do autor, já que a punição é dada como meio de prevenir a não
ocorrência de crimes no futuro e não como retribuição pelo mal causado. A função
utilitária do direito penal tem como premissa o grau de danosidade social do crime, e
não o caráter imoral da conduta humana.
Quanto ao item C, a teoria mista ou unificadora busca uma pluralidade funcional
da pena, estabelecendo marcante diferença entre o fundamento da pena (legitimidade
interna) e a sua finalidade (legitimidade externa). Desse modo, o erro da assertiva está
em afirmar que a teoria unificadora visa somente salvaguardar a validade da norma,
esquecendo-se de mencionar o objetivo de punir o autor do dano.

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No que tange o item D, a definição descrita na assertiva é da teoria Agnóstica de


Nilo Batista e Eugenio Raúl Zaffaroni e não da teoria absolutória. Para esta, tanto o
direito penal quanto a pena não possuem qualquer função ou utilidade.
Já segundo a teoria negativa ou agnóstica, a pena não possui qualquer das
funções a ela majoritariamente atribuídas, havendo uma clara distinção entre os seus
objetivos reais e seus objetivos ilusórios. Ela é negativa já que nega os fundamentos de
prevenção geral e especial, expressas no discurso oficial de retribuição; ao passo que é
agnóstica porque renúncia aos objetivos ocultos da pena, que seriam múltiplos e
heterogêneos. Seus autores a identificam como uma teoria crítica, humanista e
democrática do direito penal, que possui como principal objetivo a contenção do poder
de polícia a imposição de uma política criminal redutora de danos.
A definição trazida pela assertiva E se encaixa na teoria agnóstica vista no tópico
anterior. A teoria materialista, enunciada por Juarez Cirino dos Santos, possui
fundamentação diversa: o valor de uso atribuído à pena criminal, inútil do ponto de vista
das funções declaradas do sistema penal, é útil do ponto de vista das funções políticas
reais da pena criminal, precisamente porque a desigualdade social e a opressão de classe
do capitalismo são garantidas pelo discurso penal da correção/neutralização individual
e da intimidação/reforço da fidelidade jurídica do povo.

.QUESTÃO 08 – De acordo com a Lei 7.716/89 e com a jurisprudência dos Tribunais


Superiores, assinale a alternativa correta:

a) Caso um estabelecimento comercial recuse atendimento a um consumidor pelo


fato de ser proveniente da região nordeste, não há crime da referida lei. Uma
vez que se trata de legislação destinada a proteger contra os preconceitos de
raça.
b) As condutas homofóbicas e transfóbicas não podem ser punidas com base nesta
legislação por ausência de previsão legal.
c) Não constitui um ilícito criminal tipificado na Lei 7.71/16/89 negar ou obstar
emprego em empresa privada e sim uma infração administrativa.
d) O conceito de racismo projeta-se para além de aspectos estritamente
biológicos, inclusive as condutas homofóbicas e transfóbicas que envolvam
aversão odiosa à orientação sexual ou à identidade de gênero de alguém.
e) A fabricação de ornamento com a cruz suástica é um fato típico mesmo se não
houver o propósito de divulgação de ideais nazistas.

Gabarito: D
Comentário:
No que tange os crimes contra o preconceito é importante ter em mente o texto da
legislação e a jurisprudência:

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Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de
raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

Art. 4º Negar ou obstar emprego em empresa privada.


Pena: reclusão de dois a cinco anos.
§ 1o Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça ou de cor ou práticas
resultantes do preconceito de descendência ou origem nacional ou étnica: (Incluído pela Lei nº
12.288, de 2010) (Vigência)
I - deixar de conceder os equipamentos necessários ao empregado em igualdade de condições com os
demais trabalhadores; (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) (Vigência)
II - impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar outra forma de benefício profissional;
(Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) (Vigência)
III - proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no ambiente de trabalho, especialmente
quanto ao salário.

Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional.
Pena: reclusão de um a três anos e multa.
§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou
propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo.
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.

SE TEM JURIS TÁ NA PROVA! 🚨


Até que sobrevenha lei emanada do Congresso Nacional destinada a implementar os
mandados de criminalização definidos nos incisos XLI e XLII do art. 5º da Constituição da
República, as condutas homofóbicas e transfóbicas, reais ou supostas, que envolvem aversão
odiosa à orientação sexual ou à identidade de gênero de alguém, por traduzirem expressões
de racismo, compreendido este em sua dimensão social, ajustam-se, por identidade de razão
e mediante adequação típica, aos preceitos primários de incriminação definidos na Lei nº
7.716, de 08.01.1989, constituindo, também, na hipótese de homicídio doloso, circunstância
que o qualifica, por configurar motivo torpe (Código Penal, art. 121, § 2º, I, “in fine”);
2. A repressão penal à prática da homotransfobia não alcança nem restringe ou limita o
exercício da liberdade religiosa, qualquer que seja a denominação confessional professada,
a cujos fiéis e ministros (sacerdotes, pastores, rabinos, mulás ou clérigos muçulmanos e
líderes ou celebrantes das religiões afro-brasileiras, entre outros) é assegurado o direito de
pregar e de divulgar, livremente, pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio, o
seu pensamento e de externar suas convicções de acordo com o que se contiver em seus
livros e códigos sagrados, bem assim o de ensinar segundo sua orientação doutrinária e/ou
teológica, podendo buscar e conquistar prosélitos e praticar os atos de culto e respectiva
liturgia, independentemente do espaço, público ou privado, de sua atuação individual ou
coletiva, desde que tais manifestações não configurem discurso de ódio, assim entendidas
aquelas exteriorizações que incitem a discriminação, a hostilidade ou a violência contra
pessoas em razão de sua orientação sexual ou de sua identidade de gênero;

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3. O conceito de racismo, compreendido em sua dimensão social, projeta-se para além de


aspectos estritamente biológicos ou fenotípicos, pois resulta, enquanto manifestação de
poder, de uma construção de índole histórico-cultural motivada pelo objetivo de justificar
a desigualdade e destinada ao controle ideológico, à dominação política, à subjugação
social e à negação da alteridade, da dignidade e da humanidade daqueles que, por
integrarem grupo vulnerável (LGBTI+) e por não pertencerem ao estamento que detém
posição de hegemonia em uma dada estrutura social, são considerados estranhos e
diferentes, degradados à condição de marginais do ordenamento jurídico, expostos, em
consequência de odiosa inferiorização e de perversa estigmatização, a uma injusta e lesiva
situação de exclusão do sistema geral de proteção do direito.
STF. Plenário. ADO 26/DF, Rel. Min. Celso de Mello; MI 4733/DF, Rel. Min. Edson Fachin,
julgados em em 13/6/2019 (Info 944).

.QUESTÃO 09 – Marcelo foi condenado a 4 (quatro) anos de reclusão, pelo crime de


furto qualificado, sentença essa mantida pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em
julgamento realizado em 18 de novembro de 2020, após apelação defensiva. O
Ministério Público do Estado de Minas Gerais concordou com o acórdão do TJMG e não
recorreu. A Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais, representando Marcelo,
apresentou Recurso Extraordinário para o Supremo Tribunal Federal, que foi julgado
improcedente em 31 de agosto de 2021. Sobre a prescrição no caso em tela, responda
assinalando a afirmativa INCORRETA:

a) Nos termos do Código Penal, a prescrição começa a correr do dia em que transita
em julgado a sentença condenatória, para a acusação, ou a que revoga a
suspensão condicional da pena ou o livramento condicional.
b) Se Marcelo não começar a cumprir a pena até 18/11/2028, se dará a prescrição
da pretensão executória.
c) O STF decidiu, em regime de repercussão geral, que o prazo para a prescrição da
execução da pena concretamente aplicada somente começa a correr do dia em
que a sentença condenatória transita em julgado para ambas as partes.
d) O STJ, por meio de sua 3ª Seção, adota a compreensão de que o termo inicial da
contagem do prazo da prescrição da pretensão executória é o trânsito em
julgado para ambas as partes.
e) O STF declarou a não recepção pela Constituição Federal da locução “para a
acusação”, contida art. 112, inciso I (primeira parte), do Código Penal.

Gabarito: B
Comentários:

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Pessoal, o julgado do STF no ARE 848.107/DF é MUITO IMPORTANTE para essa


prova! Confiram:

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA! 🚨

Info 1101 – STF - O prazo para a prescrição da execução da pena concretamente aplicada
somente começa a correr do dia em que a sentença condenatória transita em julgado para
ambas as partes, momento em que nasce para o Estado a pretensão executória da pena,
conforme interpretação dada pelo Supremo Tribunal Federal ao princípio da presunção de
inocência (art. 5º, inciso LVII, da Constituição Federal) nas ADC 43, 44 e 54. STF. Plenário. ARE
848.107/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 01/7/2023 (Repercussão Geral – Tema 788).
O STF decidiu que o entendimento acima explicado se aplica aos casos em que:
i) a pena não foi declarada extinta pela prescrição; e
ii) cujo trânsito em julgado para a acusação tenha ocorrido após 12/11/2020.

Info 755 – STJ - O termo inicial da contagem do prazo da prescrição da pretensão executória
é o trânsito em julgado para ambas as partes. STJ. 3ª Seção. AgRg no REsp 1.983.259-PR, Rel.
Min. Sebastião Reis Júnior, julgado 26/10/2022.

DICA DE IMPACTO ⭐
Prescrição é a perda do direito do Estado de punir (pretensão punitiva) ou de executar uma
punição já imposta (pretensão executória) em razão de não ter agido (inércia) nos prazos
previstos em lei.
São espécies de prescrição:
Prescrição da pretensão punitiva, que pode ser: prescrição da pretensão punitiva
propriamente dita; prescrição superveniente ou intercorrente; prescrição retroativa;
Prescrição da pretensão executória: Ocorre quando o Estado perde o seu poder-dever de
executar uma sanção penal já definitivamente imposta pelo Poder Judiciário em razão de não
ter agido nos prazos previstos em lei.
A prescrição da pretensão executória da pena privativa de liberdade é calculada com base na
pena concreta, fixada na sentença ou no acórdão que já transitou em julgado e, portanto,
não pode mais ser alterada.

Nos termos do no art. 112, I do Código Penal:

Art. 112. No caso do art. 110 deste Código [que trata da


prescrição executória], a prescrição começa a correr:

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I - do dia em que transita em julgado a sentença condenatória,


para a acusação, ou a que revoga a suspensão condicional da
pena ou o livramento condicional;

No julgado do STF acima, a Corte declarou a não recepção pela Constituição Federal da
locução “para a acusação”, contida art. 112, inciso I (primeira parte), do Código Penal,
conferindo-lhe interpretação conforme a Constituição no sentido de que a prescrição
começa a correr do dia em que transita em julgado a sentença condenatória para ambas
as partes.

Portanto, a alternativa a ser assinalada é a letra b.

.QUESTÃO 10 – De acordo com a Lei 14.344/2022 – Lei Henry Borel e as alterações que
esta produziu nas demais normas, responda assinalando o item correto:

a) A violência doméstica e familiar contra a criança ocorre no âmbito da residência


do infante, ou seja, o espaço de convívio permanente de pessoas, desde que com
vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas.
b) O Conselho Tutelar poderá determinar o afastamento do agressor do lar, do
domicílio ou do local de convivência com a vítima, se presente risco atual ou
iminente à vida ou à integridade física da criança e do adolescente.
c) De modo semelhante à Lei Maria da Penha, a Lei 14.344/2022 inseriu
modificação que impede a aplicação de institutos despenalizadores trazidos
pela Lei 9.099/95, bem como aplicação de cestas básicas ou prestação
pecuniária.
d) A norma acrescentou o inciso IX ao § 2º do art. 121 do Código Penal, tornando
qualificado o crime de homicídio cometido contra menor de 14 (quatorze) anos
de idade, desde que o crime tenha sido praticado em contexto de violência
doméstica ou familiar.
e) A Lei Henry Borel dispõe expressamente sobre a competência judiciária, no seu
art. 33, determinando que nas comarcas em que não houver vara especializada
em crimes contra criança e adolescente tais casos deverão ser processados e
julgados nas varas especializadas em violência doméstica e, somente na ausência
destas, nas varas criminais comuns.

Gabarito: C
Comentários:

Olá galera! A Lei Henry Borel é forte candidata a cair nessa prova! Vamos acompanhar
os itens e artigos correspondentes:

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Item A: Destoa da normativa legal:

Art. 2º Configura violência doméstica e familiar contra a criança


e o adolescente qualquer ação ou omissão que lhe cause morte,
lesão, sofrimento físico, sexual, psicológico ou dano patrimonial:

I - no âmbito do domicílio ou da residência da criança e do


adolescente, compreendida como o espaço de convívio
permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive
as esporadicamente agregadas;

Item B: Errado, pois a Lei não prevê a possibilidade de o Conselho Tutelar determinar
medidas de proteção, mas sim de solicitá-las. Vejamos:

Art. 14. Verificada a ocorrência de ação ou omissão que implique


a ameaça ou a prática de violência doméstica e familiar, com a
existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física
da criança e do adolescente, ou de seus familiares, o agressor
será imediatamente afastado do lar, do domicílio ou do local de
convivência com a vítima:

I - pela autoridade judicial;

II - pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de


comarca;

III - pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e


não houver delegado disponível no momento da denúncia.

§ 1º O Conselho Tutelar poderá representar às autoridades


referidas nos incisos I, II e III do caput deste artigo para requerer
o afastamento do agressor do lar, do domicílio ou do local de
convivência com a vítima.

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Item D: Não há exigência, no Código Penal, de que o crime tenha sido praticado em
contexto de violência doméstica ou familiar.

Item E: A Lei Henry Borel NÃO dispõe expressamente sobre a competência judiciária!
Item falso!

Portanto, item C é o correto.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

.QUESTÃO 11 – O acordo de não persecução penal trata de verdadeiro negócio jurídico


pré-processual. Sobre o tema, julgue as assertivas a seguir:
I. A prestação de serviços à comunidade como condição do ANPP deve ser
realizada por período correspondente à pena mínima cominada ao delito,
diminuída de 1/3 a 2/3.
II. O juízo de execução penal será o competente para acompanhar o
cumprimento do ANPP.
III. Por se tratar de um poder-dever do Ministério Público, o não
oferecimento tempestivo do ANPP desacompanhado de motivação idônea
constitui nulidade absoluta.
IV. Havendo desclassificação por mudança do quadro fático, ainda que
preenchidos os requisitos legais do acordo, não há que se falar em possibilidade
de propositura do ANPP.
V. No caso de recusa do oferecimento, o recurso dirigido ao superior
hierárquico do representante do Ministério Público possui efeito suspensivo,
capaz de suspender o curso da ação penal.

Estão corretas somente as assertivas:


a) I, II, III e IV.
b) I, II e V.
c) II, IV e V.
d) II, e IV.
e) I, II e III.

Gabarito: E
Comentários:

O acordo de não persecução penal é tema certo na DPE/MG, seja por ser uma
alteração trazida pela Lei nº 13.964/19, seja pelos entendimentos jurisprudenciais sobre
o tema.

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As alternativas podem ser analisadas com a leitura do CPP, bem como com a
atualização dos informativos.

Quanto à assertiva I, o art. 28-A, III, do CPP determina que:

Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o


investigado confessado formal e circunstancialmente a prática
de infração penal SEM violência ou grave ameaça e com pena
MÍNIMA inferior a 4 anos, o Ministério Público poderá propor
acordo de não persecução penal, desde que necessário e
suficiente para reprovação e prevenção do crime, mediante as
seguintes condições ajustadas cumulativa e alternativamente:
[...]
III - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por
período correspondente à pena mínima cominada ao delito
diminuída de 1/3 a 2/3, em local a ser indicado pelo juízo da
execução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal);

Já a assertiva II é observada o art. 28-A, § 6º, do CPP:

§ 6º Homologado judicialmente o acordo de não persecução


penal, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para que
inicie sua execução perante o juízo de execução penal.

As demais alternativas encontram-se em informativos recentes do STJ, vamos


dar uma olhada:

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA! 🚨


Info. 769/STJ - Por constituir um poder-dever do Ministério Público, o não oferecimento
tempestivo do acordo de não persecução penal desacompanhado de motivação idônea
constitui nulidade absoluta.
Presentes as condições para a oferta do ANPP, ele teria de ter sido ofertado antes do
oferecimento da denúncia, até porque o Ministério Público reconheceu, quando o ofertou
tardiamente, que, se aceita a proposta, deixaria de denunciar o acusado. Silente o
Ministério Público antes do oferecimento da denúncia quanto às razões pelas quais não
ofertou o ANPP. Reconheceu-se, apenas, ao longo do feito, que o acordo poderia ter sido
oferecido antes do oferecimento da denúncia, apesar de ausente a confissão. Há, portanto,
uma nulidade que prejudica todo o processo a partir deste momento.

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A consequência jurídica do descumprimento ou da não homologação do acordo é


exatamente a complementação das investigações ou o oferecimento da denúncia, nos
termos dos §§ 8.º e 10 do art. 28-A do Código de Processo Penal, e não o prosseguimento da
instrução. Não há previsão legal de que a oferta do ANPP seja formalizada após a
instauração da fase processual. Nesse contexto, para a correta aplicação da regra, há de se
considerar o momento processual adequado para sua incidência, sob pena de se desvirtuar
o instituto despenalizador.
Portanto, o fato de o acordo tardiamente oferecido não ter chegado a bom termo não supera
a nulidade acima apontada, até porque não há como se dizer se o acordo poderia ter outros
termos ou se o réu poderia ter eventualmente aceito a proposta ofertada naquele momento.
AgRg no HC 762.049-PR, Rel. Ministra Laurita Vaz, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em
7/3/2023, DJe 17/3/2023.

Info. 780/STJ - No caso de recusa de oferecimento do acordo de não persecução penal pelo
representante do Ministério Público, o recurso dirigido às instâncias administrativas contra
o parecer da instância superior do Ministério Público não detém efeito suspensivo capaz
de sustar o andamento de ação penal.
No caso, verifica-se que, diante da recusa do representante do Ministério Público Federal em
primeiro grau para propor o acordo, a defesa pugnou pela reapreciação do tema pela Câmara
de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal - MPF, o que foi deferido no próprio
âmbito administrativo.
Contudo o órgão superior do Ministério Público ratificou o entendimento acerca da
impossibilidade concreta da propositura do acordo aos acusados. Nesse caso, por ausência
de previsão legal, afasta-se a obrigatoriedade de suspensão das duas ações penais em curso
na origem diante da pendência do julgamento de recurso administrativo interposto pela
defesa no âmbito interno do Ministério Público Federal. Isso porque cumpre ao Ministério
Público, como titular da ação penal pública, a propositura, ou não, do ANPP (art. 28-A do
CPP).
Processo em segredo de justiça, Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma,
por unanimidade, julgado em 5/6/2023, DJe 7/6/2023.

Info. 772/STJ - Nos casos em que houver a modificação do quadro fático-jurídico, e, ainda,
em situações em que houver a desclassificação do delito - seja por emendatio ou mutatio
libelli -, uma vez preenchidos os requisitos legais exigidos para o Acordo de Não Persecução
Penal, torna-se cabível o instituto negocial.
No caso, houve uma relevante alteração do quadro fático-jurídico, tornando-se
potencialmente cabível o instituto negocial do Acordo de Não Persecução Penal - ANPP.
Afinal, o Tribunal a quo, ao julgar o recurso de apelação interposto pela defesa, deu-lhe
parcial provimento, a fim de reconhecer a continuidade delitiva entre os crimes de falsidade
ideológica (CP, art. 299), tornando, assim, objetivamente viável a realização do referido
acordo, em razão do novo patamar de apenamento - pena mínima cominada inferior a 4
(quatro) anos.

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Trata-se, mutatis mutandis, de raciocínio similar àquele constante da Súmula n. 337 desta
Corte Superior, a saber: "É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação
do crime e na procedência parcial da pretensão punitiva".
Cabe salientar, ainda, que, no caso, não se faz necessária a discussão acerca da questão da
retroatividade do ANPP, mas, sim, unicamente a circunstância de que a alteração do quadro
fático-jurídico tornou potencialmente cabível o instituto negocial, de maneira que o
entendimento externado na presente decisão não entra em confronto com a jurisprudência
desta Corte Superior.
AgRg no REsp 2.016.905-SP, Rel. Ministro Messod Azulay Neto, Quinta Turma, por
unanimidade, julgado em 7/3/2023, DJe 14/4/2023.

.QUESTÃO 12 – Sobre as nulidades no Tribunal do Júri, marque a alternativa correta de


acordo com o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:

a) A postura dura do Juiz Presidente ao inquerir testemunha, durante a sessão


plenária, é capaz de influenciar os jurados, alterando a íntima convicção destes
no julgamento.
b) Não há nulidade na formulação de quesito a respeito do dolo eventual, quando
a defesa apresenta tese no sentido de desclassificar o crime para lesão corporal
seguida de morte, ainda que a questão não tenha sido discutida em plenário.
c) O entendimento de que, em processos de competência do júri, o não
oferecimento de alegações finais na fase acusatória não é causa de nulidade do
processo se aplica na hipótese em que isso não ocorre por deliberação do
acusado.
d) Não há nulidade no quesito que não questiona os jurados sobre a ciência dos
mandantes do crime em relação ao modus operandi pelos executores diretos já
que as qualificadoras objetivas do homicídio só se comunicam entre os
coautores desde que tenham ciência do fato que qualifica o crime.
e) O afastamento de qualificadora por vício de quesitação configura nulidade
absoluta do julgamento, o que exige a submissão dos réus a novo júri.

Gabarito: B
Comentários:

Pessoal, outro tema que é super importante para a nossa prova é Tribunal do
Júri, considerando a atuação do examinador no núcleo de Júri.

Novamente, trouxemos uma questão com muitos informativos recentes


porque é essencial que vocês estejam atualizadíssimos com os julgados das Cortes
Superiores.

Sem mais delongas, vamos aos julgados tratados na questão:

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SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA! 🚨

Info 777/STJ - Não há nulidade da condenação pelo simples fato de o juiz presidente ter
tido uma postura firme e dura durante a inquirição da testemunha no plenário do Júri.
Não se pode compreender que uma postura mais firme (ou até mesmo dura) do Juiz
Presidente ao inquirir testemunha, durante a sessão plenária, influencie os jurados, a quem
a Constituição da República pressupôs a plena capacidade de discernimento, ao conceber o
direito fundamental do Tribunal do Júri.
A alegada suspeição do Juiz Togado, no caso, parece até ser desinfluente para a solução da
controvérsia, porque o magistrado Presidente não tem competência constitucional para
julgar os crimes dolosos contra a vida.
Dessa forma, incide na espécie a regra prevista no art. 563 do CPP de que o reconhecimento
de vício que enseja a anulação de ato processual exige a efetiva demonstração de prejuízo.
STJ. 6ª Turma. HC 682.181-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 16/5/2023 (Info 777).

Info. 757/STJ - No âmbito do Tribunal do Júri, não há nulidade na formulação de quesito a


respeito do dolo eventual, quando a defesa apresenta tese no sentido de desclassificar o
crime para lesão corporal seguida de morte, ainda que a questão não tenha sido discutida
em plenário.
No caso concreto, a Defesa apresentou a tese desclassificatória, atraindo o disposto no art.
483, § 4º, do CPP, que dispõe o dever de ser formulado quesito correspondente. E, consoante
incontroverso, foram formulados dois quesitos para abarcar a alegação defensiva de
desclassificação de homicídio consumado para lesão corporal seguida de morte, quais sejam,
o primeiro a respeito do dolo direto, tendo os jurados respondido negativamente, e o
segundo a respeito do dolo eventual, tendo os jurados respondido afirmativamente. Tal
proceder na quesitação encontra respaldo na jurisprudência desta Corte.
Para os delitos de homicídio e lesão corporal seguida de morte, há idêntica materialidade,
qual seja, a morte da vítima. Ainda, escoram-se em uma conduta com nexo de causalidade
com o resultado morte. Distinguem-se na tipificação, portanto, no ânimo da conduta. Haverá
lesão corporal seguida de morte se, e somente se, preenchidos dois requisitos: evidenciado
que o agente não quis a morte (não atuou com dolo direto de homicídio) ou não assumiu o
risco de produzir o resultado (não atuou com dolo eventual).
Logo, considerando que a Defesa foi quem levou ao conhecimento dos jurados a tese
desclassificatória de homicídio consumado para lesão corporal seguida de morte e que, a
apresentação da referida tese de forma completa abarca afastamento da conduta animada
pelo dolo eventual, não há que se falar em surpresa ou ofensa ao princípio da amplitude de
defesa. Ou seja, se a tese do dolo eventual não foi discutida em plenário, eventual nulidade
não poderia ter sido invocada pela Defesa, pois concorreu para tanto, sendo aplicável o art.
565 do CPP. AREsp 1.883.314-DF, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, por
unanimidade, julgado em 25/10/2022, DJe 18/11/2022.

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Info. 751/STJ - O entendimento de que, em processos de competência do júri, o não


oferecimento de alegações finais na fase acusatória não é causa de nulidade do processo
não se aplica na hipótese em que isso não ocorre por deliberação do acusado.
Em processos de competência do júri, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é no
sentido de que "o não oferecimento de alegações finais na fase acusatória (iudicium
accusationis) não é causa de nulidade do processo, pois o juízo de pronúncia é provisório,
não havendo antecipação do mérito da ação penal, mas mero juízo de admissibilidade
positivo ou negativo da acusação formulada, para que o Réu seja submetido, ou não, a
julgamento perante o Tribunal do Júri, juízo natural da causa." (RHC 103.562/PE, Rel. Ministra
Laurita Vaz, Sexta Turma, julgado em 08/11/2018, DJe 23/11/2018).
Todavia, no caso, em homenagem ao princípio da plenitude de defesa, ainda que o causídico,
então constituído, tenha sido intimado e não tenha apresentado a peça processual,
incumbiria ao magistrado mandar intimar pessoalmente o acusado para constituir novo
advogado ou, não tendo eficácia essa providência, encaminhar os autos à Defensoria Pública,
de modo que essa passasse a patrocinar a causa, inclusive apresentando as derradeiras
alegações antes da sentença de pronúncia ou despronúncia.
Essa providência ainda mais se impunha pelo fato de o acusado ter comparecido a Juízo para
dizer que não disponha de condições financeiras para continuar com o patrocínio do defensor
constituído. Os precedentes que dão pela falta de nulidade em razão da falta de alegações
na etapa do juízo de acusação devem ser entendidos para as hipóteses em que isso ocorre
por deliberação do acusado.
Assim, configurado o prejuízo à defesa do acusado, deve ser anulada a decisão de pronúncia
para que seja renovado o prazo para a defesa apresentar alegações finais.
AgRg no HC 710.306-AM, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF 1ª
Região), Sexta Turma, por unanimidade, julgado em 27/09/2022.

Info. 748/STJ - Há nulidade no quesito que não questiona os jurados sobre a ciência dos
mandantes do crime em relação ao modus operandi pelos executores diretos - emboscada
-, já que as qualificadoras objetivas do homicídio só se comunicam entre os coautores
desde que tenham ciência do fato que qualifica o crime.
STJ. 5ª Turma. REsp 1973397-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 06/09/2022 (Info
748).

Info. 748/STJ - Diversamente do que ocorre na hipótese de contrariedade entre o veredito


e as provas dos autos (art. 593, § 3º, do CPP), o afastamento de qualificadora por vício de
quesitação não exige a submissão dos réus a novo júri.
Se não há declaração de contrariedade entre o veredito e as provas (hipótese da alínea "d"
do art. 593, § 3º, do CPP), mas sim a nulidade da quesitação no ponto (alínea "a" do art. 593,
§ 3º, do CPP), não há nenhuma exigência legal de realização de novo júri. Isso porque o único
efeito decorrente da exclusão da qualificadora será o afastamento da agravante do art. 61,
II, "b", do CP na dosimetria da pena. Sem a qualificadora da paga, a única circunstância que
permanecerá a qualificar o homicídio será a do inciso V do art. 121, § 2º, do CP, o que impõe
seu decote na segunda fase da aplicação da pena. Para além desse impacto no cálculo do
apenamento, nenhuma outra consequência advirá da exclusão da qualificadora da paga.

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Dessa forma, compete ao STJ sanar ele próprio, diretamente, a nulidade detectada, a fim de
retificar o cálculo das reprimendas dos acusados, como manda o art. 593, § 2º, do CPP.
Nem existiria utilidade prática na instauração de novo júri, porque não haveria nenhuma
cognição adicional que os jurados pudessem exercer sobre a qualificadora da paga
(diferentemente, por exemplo, da hipótese de manifesta contrariedade entre o veredito e as
provas, em que os juízes leigos podem se debruçar novamente sobre os mesmos dados
probatórios). A exclusão da referida qualificadora decorre somente da necessidade de
correlação entre denúncia e quesitação, tema jurídico que nem poderia ser reexaminado
pelo júri em um novo julgamento. REsp 1.973.397-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Quinta
Turma, por unanimidade, julgado em 06/09/2022. (Info 748)

Dessa forma, a alternativa correta é a letra B.

.QUESTÃO 13 – A respeito do juiz das garantias, com base na jurisprudência do Supremo


Tribunal Federal, indique quais assertivas estão corretas:

I - As normas do juiz das garantias não se aplicam aos processos de competência do Tribunal do
Júri .

II - As normas do juiz das garantias não se aplicam às infrações de menor potencial ofensivo.

III – As normas do juiz das garantias não se aplicam aos casos de violência doméstica.

IV – a atuação do juiz das garantias cessa com o recebimento da denúncia.

V - O juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada inadmissível não poderá proferir a
sentença ou acórdão.

a) I, III, IV
b) II, III, IV, V
c) II, III, V
d) I, II, III
e) I, II, IV

Gabarito: D
Comentários:

Na sessão do dia 24 de agosto de 2023, a presidente do Supremo Tribunal


Federal (STF), ministra Rosa Weber, proclamou o resultado do julgamento das quatro
Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs 6298, 6299, 6300 e 6305) que
questionavam alterações no Código de Processo Penal (CPP) pelo Pacote Anticrime (Lei
13964/2019), entre elas, a criação do juiz das garantias.

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Esse julgado tem altíssima chance de cair nas próximas provas! Por isso, seguem
os principais pontos definidos pelo STF no referido julgamento, lembrando que, como
foi decisão em controle concentrado de constitucionalidade, é VINCULANTE.

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA!

1. Atribuir interpretação conforme ao art. 3º-A do CPP, incluído pela Lei nº 13.964/2019, para
assentar que o juiz, pontualmente, nos limites legalmente autorizados, pode determinar a
realização de diligências suplementares, para o fim de dirimir dúvida sobre questão relevante
para o julgamento do mérito, vencidos os Ministros Cristiano Zanin e Edson Fachin;

2. Declarar a constitucionalidade do caput do art. 3º-B do CPP, incluído pela Lei nº 13.964/2019,
e por unanimidade fixar o prazo de 12 (doze) meses, a contar da publicação da ata do
julgamento, para que sejam adotadas as medidas legislativas e administrativas necessárias à
adequação das diferentes leis de organização judiciária, à efetiva implantação e ao efetivo
funcionamento do juiz das garantias em todo o país, tudo conforme as diretrizes do Conselho
Nacional de Justiça e sob a supervisão dele. Esse prazo poderá ser prorrogado uma única vez,
por no máximo 12 (doze) meses, devendo a devida justificativa ser apresentada em
procedimento realizado junto ao Conselho Nacional de Justiça, vencido, apenas quanto à
inconstitucionalidade formal, o Relator, que entendia competir às leis de organização judiciária
sua instituição;

3. Declarar a inconstitucionalidade parcial, por arrastamento, do art. 20 da Lei 13.964/2019,


quanto à fixação do prazo de 30 dias para a instalação dos juízes das garantias;

4. Atribuir interpretação conforme aos incisos IV, VIII e IX do art. 3º-B do CPP, incluídos pela Lei
nº 13.964/2019, para que todos os atos praticados pelo Ministério Público como condutor de
investigação penal se submetam ao controle judicial (HC 89.837/DF, Rel. Min. Celso de Mello)
e fixar o prazo de até 90 (noventa) dias, contados da publicação da ata do julgamento, para os
representantes do Ministério Público encaminharem, sob pena de nulidade, todos os PIC e
outros procedimentos de investigação criminal, mesmo que tenham outra denominação, ao
respectivo juiz natural, independentemente de o juiz das garantias já ter sido implementado na
respectiva jurisdição;

5. Atribuir interpretação conforme ao inciso VI do art. 3º-B do CPP, incluído pela Lei nº
13.964/2019, para prever que o exercício do contraditório será preferencialmente em audiência
pública e oral;

6. Atribuir interpretação conforme ao inciso VII do art. 3º-B do CPP, incluído pela Lei nº
13.964/2019, para estabelecer que o juiz pode deixar de realizar a audiência quando houver
risco para o processo, ou diferi-la em caso de necessidade;

37
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7. Declarar a inconstitucionalidade do inciso XIV do art. 3º-B do CPP, incluído pela Lei nº
13.964/2019, e atribuir interpretação conforme para assentar que a competência do juiz das
garantias cessa com o OFERECIMENTO DA DENÚNCIA;
#Atenção – anota no Vade: o CPP previa competência até o recebimento da denúncia!

8. Atribuir interpretação conforme ao § 1º do art. 3º-B do CPP, incluído pela Lei nº 13.964/2019,
para estabelecer que o preso em flagrante ou por força de mandado de prisão provisória será
encaminhado à presença do juiz das garantias, no prazo de 24 horas, salvo impossibilidade
fática, momento em que se realizará a audiência com a presença do ministério público e da
defensoria pública ou de advogado constituído, cabendo, excepcionalmente, o emprego de
videoconferência, mediante decisão da autoridade judiciária competente, desde que este meio
seja apto à verificação da integridade do preso e à garantia de todos os seus direitos;

9. Atribuir interpretação conforme ao § 2º do art. 3º-B do CPP, incluído pela Lei nº 13.964/2019,
para assentar que:
a) o juiz pode decidir de forma fundamentada, reconhecendo a necessidade de novas
prorrogações do inquérito, diante de elementos concretos e da complexidade da investigação;
e
b) a inobservância do prazo previsto em lei não implica a revogação automática da prisão
preventiva, devendo o juízo competente ser instado a avaliar os motivos que a ensejaram, nos
termos da ADI nº 6.581;

10. Atribuir interpretação conforme à primeira parte do caput do art. 3º-C do CPP, incluído pela
Lei nº 13.964/2019, para esclarecer que as normas relativas ao juiz das garantias NÃO SE
APLICAM às seguintes situações:
a) processos de competência originária dos tribunais, os quais são regidos pela Lei nº
8.038/1990;
b) processos de competência do tribunal do júri;
c) casos de violência doméstica e familiar; e
d) infrações penais de menor potencial ofensivo;
#Atenção: o CPP previa exclusão apenas das infrações de menor potencial ofensivo. Anota lá
no vade!

11. Declarar a inconstitucionalidade da expressão “recebimento da denúncia ou queixa na


forma do art. 399 deste Código” contida na segunda parte do caput do art. 3º-C do CPP, incluído
pela Lei nº 13.964/2019, e atribuir interpretação conforme para assentar que a competência do
juiz das garantias cessa com o oferecimento da denúncia;

12. Por maioria, declarar a inconstitucionalidade do termo “Recebida” contido no § 1º do art.


3º-C do CPP, incluído pela Lei nº 13.964/2019, e atribuir interpretação conforme ao dispositivo
para assentar que, oferecida a denúncia ou queixa, as questões pendentes serão decididas
pelo juiz da instrução e julgamento;

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13. Declarar a inconstitucionalidade do termo “recebimento” contido no § 2º do art. 3º-C do


CPP, incluído pela Lei nº 13.964/2019, e atribuir interpretação conforme ao dispositivo para
assentar que, após o oferecimento da denúncia ou queixa, o juiz da instrução e julgamento
deverá reexaminar a necessidade das medidas cautelares em curso, no prazo máximo de 10
(dez) dias;

14. Declarar a inconstitucionalidade, com redução de texto, dos §§ 3º e 4º do art. 3º-C do CPP,
incluídos pela Lei nº 13.964/2019, e atribuir interpretação conforme para entender que os autos
que compõem as matérias de competência do juiz das garantias serão remetidos ao juiz da
instrução e julgamento;

15. Declarar a inconstitucionalidade do caput do art. 3º-D do CPP, incluído pela Lei nº
13.964/2019, que previa: “Art. 3º-D. O juiz que, na fase de investigação, praticar qualquer ato
incluído nas competências dos arts. 4º e 5º [inquérito policial] deste Código ficará impedido de
funcionar no processo”.

16. Declarar a inconstitucionalidade formal do parágrafo único do art. 3º-D do CPP, incluído pela
Lei nº 13.964/2019 - “Art. 3º-D, Parágrafo único: Nas comarcas em que funcionar apenas um
juiz, os tribunais criarão um sistema de rodízio de magistrados, a fim de atender às disposições
deste Capítulo”.

17. Atribuir interpretação conforme ao art. 3º-E do CPP, incluído pela Lei nº 13.964/2019, para
assentar que o juiz das garantias será investido, e não designado, conforme as normas de
organização judiciária da União, dos Estados e do Distrito Federal, observando critérios objetivos
a serem periodicamente divulgados pelo respectivo tribunal;

18. Declarar a constitucionalidade do caput do art. 3º-F do CPP, incluído pela Lei nº 13.964/2019
– “Art. 3º-F. O juiz das garantias deverá assegurar o cumprimento das regras para o tratamento
dos presos, impedindo o acordo ou ajuste de qualquer autoridade com órgãos da imprensa para
explorar a imagem da pessoa submetida à prisão, sob pena de responsabilidade civil,
administrativa e penal”.

19. Atribuir interpretação conforme ao parágrafo único do art. 3º-F do CPP, incluído pela Lei nº
13.964/2019, para assentar que a divulgação de informações sobre a realização da prisão e a
identidade do preso pelas autoridades policiais, ministério público e magistratura deve
assegurar a efetividade da persecução penal, o direito à informação e a dignidade da pessoa
submetida à prisão;

20. Atribuir interpretação conforme ao caput do art. 28 do CPP, alterado pela Lei nº
13.964/2019, para assentar que, ao se manifestar pelo arquivamento do inquérito policial ou de
quaisquer elementos informativos da mesma natureza, o órgão do Ministério Público submeterá
sua manifestação ao juiz competente e comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade
policial, podendo encaminhar os autos para o Procurador-Geral ou para a instância de revisão
ministerial, quando houver, para fins de homologação, na forma da lei;

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21. Atribuir interpretação conforme ao § 1º do art. 28 do CPP, incluído pela Lei nº 13.964/2019,
para assentar que, além da vítima ou de seu representante legal, a autoridade judicial
competente também poderá submeter a matéria à revisão da instância competente do órgão
ministerial, caso verifique patente ilegalidade ou teratologia no ato do arquivamento;

22. Declarar a constitucionalidade dos arts. 28-A, caput, incisos III, IV e §§ 5º, 7º e 8º do CPP,
introduzidos pela Lei nº 13.964/2019 - (regras relativas ao ANPP são constitucionais);

23. Por maioria, declarar a inconstitucionalidade do § 5º do art. 157 do CPP, incluído pela Lei nº
13.964/2019 – “art. 157, § 5º O juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada inadmissível
não poderá proferir a sentença ou acórdão”. Ou seja, o juiz que conhecer de prova inadmissível
PODE proferir sentença ou acórdão!

24. Atribuir interpretação conforme ao caput do art. 310 do CPP, alterado pela Lei nº
13.964/2019, para assentar que o juiz, em caso de urgência e se o meio se revelar idôneo,
poderá realizar a audiência de custódia por videoconferência;

25. Atribuir interpretação conforme ao § 4º do art. 310 do CPP, incluído pela Lei nº 13.964/2019,
para assentar que a autoridade judiciária deverá avaliar se estão presentes os requisitos para a
prorrogação excepcional do prazo ou para sua realização por videoconferência, sem prejuízo da
possibilidade de imediata decretação de prisão preventiva;

26. Por unanimidade, fixar a seguinte regra de transição: quanto às ações penais já instauradas
no momento da efetiva implementação do juiz das garantias pelos tribunais, a eficácia da lei não
acarretará qualquer modificação do juízo competente.

(STF. ADIs 6298, 6299, 6300 e 6305. Presidência da Ministra Rosa Weber. Plenário, 24.8.2023).

.QUESTÃO 14 – No que se refere à revisão criminal, assinale a alternativa correta:

a) A revisão criminal é um recurso cujo objeto é a reforma de sentença condenatória contrária


ao texto expresso da lei penal ou à evidência dos autos, ou quando a sentença condenatória se
fundar em depoimentos, exames ou documentos comprovadamente falsos, ou ainda, quando,
após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do condenado ou de circunstância
que determine ou autorize diminuição especial da pena.

b) Julgando procedente a revisão, o tribunal não poderá alterar a classificação da infração.

c) Cabe revisão criminal para questionar a motivação dada pelo órgão julgador na dosimetria da
pena.

d) Em hipóteses excepcionalíssimas, a mudança de entendimento autoriza o ajuizamento de


revisão criminal, quando se tratar de entendimento jurisprudencial pacífico e relevante.

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e) A revisão poderá ser pedida pelo próprio réu ou por procurador legalmente habilitado ou pelo
seu cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.

Gabarito: D

Comentários:

Vamos começar com uma revisão rápida sobre a revisão criminal!

Conceito: a revisão criminal é:


- é uma ação autônoma de impugnação

- de competência originária dos Tribunais (ou da Turma Recursal, no caso dos Juizados)

- por meio da qual a pessoa condenada requer ao Tribunal

- que reveja a decisão que a condenou (e que já transitou em julgado)

- sob o argumento de que ocorreu erro judiciário.

Então a revisão criminal pode ser proposta a qualquer tempo? SIM. A revisão
poderá ser requerida em qualquer tempo, mesmo após já ter sido extinta a pena (art.
622 do CPP).

Natureza jurídica: A revisão criminal NÃO é um recurso. Trata-se de uma ação autônoma
de impugnação, mais precisamente uma ação penal de natureza constitutiva (tem por
objetivo desconstituir uma decisão transitada em julgado).

Pressupostos: A revisão criminal tem dois pressupostos: a) existência de decisão


condenatória (ou absolutória imprópria) com trânsito em julgado; b) demonstração de
que houve erro judiciário.

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA!

Info 958-STF: Não cabe revisão criminal para questionar a motivação dada pelo órgão julgador
na dosimetria da pena - Voltando especificamente ao caso concreto, o STF afirmou que não se
pode, por meio da revisão criminal, modificar a dosimetria da pena alterando a
discricionariedade conferida ao órgão jurisdicional naturalmente competente para essa análise.
Em outras palavras, não se pode, na revisão criminal, refazer a dosimetria da pena imposta na
condenação, salvo se houvesse algo nitidamente contrário ao texto expresso da lei penal ou à
evidência dos autos. Na revisão criminal, só se admite a análise de eventual ilegalidade na
condenação criminal, ou seja, se seus fundamentos contrariaram normas legais, o que não se
aplica aos critérios discricionários utilizados na fixação da pena. Para o STF, “a revisão criminal
não se presta ao escrutínio da motivada avaliação por parte do órgão competente acerca da
exasperação da pena-base”. STF. Plenário. RvC 5475/AM, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
6/11/2019 (Info 958).

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Info 783-STJ: A mudança de entendimento jurisprudencial não autoriza o ajuizamento de


revisão criminal, ressalvadas hipóteses excepcionalíssimas de entendimento pacífico e
relevante - A controvérsia consiste em ação revisional que pretende, em síntese, o refazimento
da dosimetria da pena aplicada ao sentenciado, ante a impropriedade da consideração da
quantidade da droga apreendida (79 kg de maconha) em duas fases: na primeira, para
exasperação da pena-base; na terceira, para o afastamento do tráfico privilegiado.

De início, consigna-se que a jurisprudência da Quinta Turma à época não reconhecia bis in idem
na prática de majorar a pena-base e também afastar o tráfico privilegiado com fundamento na
quantidade e/ou natureza de entorpecentes, distinguindo tal situação da julgada pelo Supremo
Tribunal Federal no ARE 666.334/AM.

Sendo assim, considerando que a revisão criminal tem por objeto rever decisão monocrática
que se conformava com o posicionamento do órgão colegiado ao tempo em que proferida, não
há como conhecer de seus fundamentos, tendo em vista que a jurisprudência dessa Corte está
consolidada no sentido de que "a mudança de entendimento jurisprudencial não autoriza o
ajuizamento de Revisão Criminal" (AgRg no HC 439.815/SC, Rel. Ministro Rogério Schietti Cruz,
Sexta Turma, DJe 17/9/2019), a não ser em hipóteses excepcionalíssimas que não estão
presentes no caso.

Ademais, não se olvida que a Terceira Seção do STJ já se pronunciou no sentido de que é "cabível
o manejo da revisão criminal fundada no art. 621, I, do CPP em situações nas quais se pleiteia
a adoção de novo entendimento jurisprudencial mais benigno, desde que a mudança
jurisprudencial corresponda a um novo entendimento pacífico e relevante" (RvCr 3.900/SP,
Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Terceira Seção, DJe 15/12/2017).

Contudo, nos julgamentos em que a Terceira Seção excepcionou o entendimento de que não
cabe revisão criminal em face de mudança de jurisprudência foram identificadas peculiaridades
que não estão presentes no caso em análise. No julgamento da Revisão Criminal 3.900/SP,
concluiu-se que a decisão revisada, na data em que proferida (6/8/2015), contrariou a
jurisprudência desta Casa já consolidada anteriormente, sendo citados precedentes de 2013
em diante. Já no caso da Revisão Criminal 5.627/DF, aplicou-se o entendimento advindo de
relevante alteração jurisprudencial, qual seja, reconhecimento de inconstitucionalidade do
preceito secundário do art. 273 do Código Penal pelo Supremo Tribunal Federal, em recurso
com repercussão geral reconhecida (RE n. 979.962/RS). (...)

(STJ - RvCr 5.620-SP, Terceira Seção, julgado em 14/6/2023)

Atenção: quando a decisão é de uma das Seções do STJ, quer dizer que o entendimento é
pacificado, pois a Seção é composta por todas as Turmas com competência relativa à matéria
decidida.

A respeito das hipóteses de cabimento da revisão criminal, prevê o art. 621


CPP:

Art. 621. A revisão dos processos findos será admitida:

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I - quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal ou à evidência dos
autos;

II - quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou documentos


comprovadamente falsos;

III - quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do condenado ou de


circunstância que determine ou autorize diminuição especial da pena.

Ademais, vale também a leitura dos seguintes dispositivos do CPP:

Art. 622. A revisão poderá ser requerida em qualquer tempo, antes da extinção da pena ou após.

Parágrafo único. Não será admissível a reiteração do pedido, salvo se fundado em novas provas.

Art. 623. A revisão poderá ser pedida pelo próprio réu ou por procurador legalmente habilitado ou, no
caso de morte do réu, pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.

Art. 626. Julgando procedente a revisão, o tribunal poderá alterar a classificação da infração, absolver
o réu, modificar a pena ou anular o processo.

Parágrafo único. De qualquer maneira, não poderá ser agravada a pena imposta pela decisão revista.

Art. 630. O tribunal, se o interessado o requerer, poderá reconhecer o direito a uma justa indenização
pelos prejuízos sofridos.

§ 1o Por essa indenização, que será liquidada no juízo cível, responderá a União, se a condenação
tiver sido proferida pela justiça do Distrito Federal ou de Território, ou o Estado, se o tiver sido pela
respectiva justiça.

§ 2o A indenização não será devida:

a) se o erro ou a injustiça da condenação proceder de ato ou falta imputável ao próprio impetrante,


como a confissão ou a ocultação de prova em seu poder;

b) se a acusação houver sido meramente privada.

Art. 631. Quando, no curso da revisão, falecer a pessoa, cuja condenação tiver de ser revista, o
presidente do tribunal nomeará curador para a defesa.

E por fim, mais um julgado, para não confundir mais revisão criminal com
recurso:

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA!

STJ – REVISÃO CRIMINAL NÃO É APELAÇÃO - Não é cabível revisão criminal quando utilizada
nova apelação, com vista a reexame de fatos e provas, não se verificando contrariedade ao texto
expresso da lei penal ou à evidência dos autos, consoante previsão do art. 621, I, do Código de
Processo Penal.

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Cumpre lembrar que este "Superior Tribunal de Justiça pacificou o entendimento no sentido do
não cabimento da revisão criminal quando utilizada como nova apelação, com vista ao mero
reexame de fatos e provas, não se verificando hipótese de contrariedade ao texto expresso da
lei penal ou à evidência dos autos, consoante previsão do art. 621, I, do CPP" (AgRg no REsp n.
1.781.148/RJ, Ministro Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, DJe 18/10/2019).

No caso concreto, a pretensão do autor é rediscutir tudo aquilo que fora objeto de análise no
processo penal originário. A prova já foi objeto de apreciação pelas instâncias competentes, não
havendo nenhuma informação adicional a modificar a conclusão alcançada.

(AgRg na RvCr 5.735-DF, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em
11/05/2022, DJe 16/05/2022).

.QUESTÃO 15 – Sobre o papel da vítima no processo penal, analise as afirmativas:

I. A vítima será intimada da homologação do acordo de não


persecução penal e de seu descumprimento.

II. Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com o


arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30 dias
do recebimento da comunicação, submeter a matéria à revisão da
instância competente do órgão ministerial, conforme dispuser a
respectiva lei orgânica

III. Independentemente da extinção de punibilidade do autor, a


vítima de violência doméstica deve ser ouvida para que se
verifique a necessidade de prorrogação/concessão das medidas
protetivas

IV. É cabível o acesso aos elementos de prova já documentados nos


autos de inquérito policial aos familiares das vítimas, por meio de
seus advogados ou defensores públicos, em observância aos
limites estabelecidos pela SV 14

Estão corretas somente as assertivas:

a) I, II e III
b) I e III.
c) I, II, III e IV.
d) II, III e IV.
e) I, III e IV

Gabarito: C

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Comentários:

Pessoal, quanto ao item I devemos ter em mente que a luz do Direito Internacional dos
Direitos Humanos, os Estados têm obrigação de assegurar efetiva investigação e
responsabilização por violações de direitos humanos; esta obrigação de meio,
compreende, também, o dever de oportunizar às vítimas e seus familiares de
acompanharem e participarem do processo – forma de ACESSO À JUSTIÇA
SUBSTANCIAL – (Corte IDH, Caso Nova Favela Brasília v. Brasil)

SE TEM JURIS TÁ NA PROVA! 🚨


STJ, RMS 70411/RJ – segurança concedida: sigilo do inquérito policial tem intrínseca
relação com a eficácia da investigação pré-processual, porquanto sua publicização
poderia tornar inócua a apuração do fato criminoso. Sem embargo, a jurisprudência
dos Tribunais Superiores caminhou para sedimentar o caráter relativo desse sigilo em
relação às diligências findas e já documentadas na investigação. O resultado dessa
tendência interpretativa culminou na edição da Súmula Vinculante n. 14, a qual
dispõe ser "direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos
elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório
realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao
exercício do direito de defesa". Nesse contexto, as leis de regência da advocacia e da
Defensoria Pública também garantem ao defensor lato sensu o direito de examinar
os autos do inquérito policial e de extrair as cópias que entender pertinente. Deveras,
a escolha hermenêutica dos Ministros do STF pela palavra "representado", contida
no enunciado sumular, confere amplitude subjetiva para albergar não apenas o
investigado, como também outras pessoas interessadas no caso em apuração, em
particular a vítima da ação delitiva. Sob outra angulação – complementar, mas
também determinante para a rematada análise do caso –, é de se incrementar a
observância e o adimplemento, no âmbito do sistema de justiça criminal, de
protocolos e tratados internacionais de Direitos Humanos e de sentenças proferidas
pela Corte IDH.

• Caso concreto: Representados pela DPE-RJ, os familiares das duas vítimas


fatais dos homicídios perpetrados em 14/3/2018 pretendem o deferimento
do acesso aos elementos de prova já documentados nos autos do inquérito
policial que investiga os supostos mandantes dos homicídios
• Destaques do inteiro teor
o Frise-se que, a pretensão, ao que se deduz dos autos, não se volta à
habilitação dos requerentes como assistentes de acusação no
inquérito policial, tampouco busca interferir nessa investigação; o
objeto deste recurso cinge-se ao acesso dos ofendidos, por seus

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representantes legais, aos elementos de prova já documentados no


inquérito policial. Trata-se de observação sutil, mas relevante,
porquanto os poderes legalmente previstos para o assistente são
distintos do direito ora pleiteado. Na fase de investigação, não há
habilitação de assistente, é o entendimento majoritário da doutrina.
Como o próprio nome indica, o assistente auxilia a acusação, logo, é
pressuposto de sua intervenção a existência de uma acusação pública
formalizada (denúncia). Assim, o pedido de habilitação como
assistente somente pode ser feito após o recebimento da denúncia
o Sigilo não pode ser evocado para obstaculizar direitos e garantias
fundamentais. Prerrogativa do membro da DPE – LC 80/94, art. 128,
VIII: acesso aos autos de inquéritos
o Direitos das vítimas no IP – negar acesso às vítimas também poderá
culminar em revitimização (reforçando, pois, a violação de seus
direitos)
o Comitê DH, CG n.36: Estados devem revelar, aos familiares mais
próximos das vítimas, detalhes pertinentes sobre a investigação;
permitir-lhes que apresentem novos elementos de prova, reconhecer-
lhes legitimidade processual nos inquéritos; e prestar informação
pública sobre as diligências de inquérito efetuadas e das constatações
e conclusões delas emanadas, com exceção da omissão dos elementos
absolutamente necessários
o Regra n. 35 do Protocolo de Minnesota – documento elaborado pelo
Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos destinado à
investigação de mortes potencialmente ilícitas – estabelece que a
participação dos membros da família constitui elemento importante
para uma investigação eficaz e que as autoridades devem mantê-los
informados sobre os rumos do procedimento investigativo – a Corte
IDH reconhece autoridade deste protocolo (Caso Juan Humberto
Sánchez vs. Honduras)
o Corte IDH, Caso Cosme Genoveva e outro vs. Brasil (Favela Nova
Brasília): "o Estado deverá adotar as medidas legislativas ou de outra
natureza necessárias para permitir às vítimas de delitos, ou a seus
familiares, participarem de maneira formal e efetiva da investigação
de delitos conduzida pela polícia ou pelo MP; a vítima no processo
penal brasileiro tem uma posição secundária e é tratada como mera
testemunha, carecendo de acesso à investigação. A falta de disposição
legal no ordenamento jurídico brasileiro impede a possibilidade de
que as vítimas ou seus familiares participem ativamente da fase de
investigação, limitando-as à fase judicial"

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o Corte IDH, Caso Gomes Lund. e outra vs. Brasil (Guerrilha do Araguaia):
”as vítimas de violações de direitos humanos ou seus familiares
devem contar com amplas possibilidades de ser ouvidos e atuar nos
respectivos processos, tanto à procura do esclarecimento dos fatos e
da punição dos responsáveis, como em busca de uma devida
reparação".
o Corte IDH, Caso Radilla Pacheco vs. México: “a negativa de expedir
cópias do expediente da investigação para as vítimas constitui uma
carga desproporcional em seu prejuízo, incompatível com o direito
de participar da averiguação prévia. Estados devem usar mecanismos
menos lesivos ao direito de acesso à justiça para tutelar a difusão do
conteúdo das investigações em curso e a integridade dos expedientes.
Isso porque, “em nenhum caso o sigilo pode ser invocado para
impedir que a vítima tenha acesso ao expediente de uma causa
penal”

Item II - CPP, art. 28-A § 9º A vítima será intimada da homologação do acordo de não
persecução penal e de seu descumprimento.

Item III - CPP, art. 28 §1 Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com o
arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do recebimento
da comunicação, submeter a matéria à revisão da instância competente do órgão
ministerial, conforme dispuser a respectiva lei orgânica.

Item IV - Independentemente da extinção de punibilidade do autor, a vítima de violência


doméstica deve ser ouvida para que se verifique a necessidade de
prorrogação/concessão das medidas protetivas. STJ. 3ª Seção. REsp 1.775.341-SP, Rel.
Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 12/4/2023 (Info 770).

.QUESTÃO 16 – Assinale a alternativa incorreta sobre recursos no processo penal:

a) A decisão que desclassifica a conduta, declinando da competência para o


julgamento do feito, deve ser atacada por recurso em sentido estrito, sendo a
utilização de recurso de apelação descabida e não passível de aplicação do
princípio da fungibilidade recursal, por se tratar de erro grosseiro. (CERTA)
b) O sobrestamento de processos penais determinado em razão da adoção da
sistemática da repercussão geral abrangerá inquéritos policiais ou

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procedimentos investigatórios conduzidos pelo Ministério Público, porém não


abrangerá ações penais em que haja réu preso provisoriamente
c) Há nulidade no acórdão que julga apelação sem a observância da formalidade de
colher os votos em separado sobre questão preliminar e de mérito, em razão da
diminuição do espectro da matéria possível de impugnação na via dos
infringentes. (CERTA)
d) A decisão que desclassifica o delito por ocasião do recebimento da denúncia não
é passível de impugnação por meio de recurso em sentido estrito, por não estar
prevista no rol taxativo constante do art. 581 do CPP. Nada impede, no entanto,
que, verificada a ausência de má-fé, o recurso em sentido estrito interposto pelo
Ministério Público seja recebido como correição parcial, meio idôneo para
combater atos e despachos do juiz quando não há previsão de recurso específico.
Essa possibilidade visa a evitar tumulto no processo e observa o princípio da
fungibilidade. (CERTA)
e) Não há contrarrazões do Ministério Público em recurso ordinário em habeas
corpus (CERTA)

Gabarito: B

Comentários:

O princípio do duplo grau de jurisdição, embora previsto no plano internacional (CADH,


art. 8.2.H | PIDCP, art. 14.5), não está expressamente previsto na constituição ou CPP.

• Doutrina sustenta a previsão implícita deste princípio, pois, substrato das


garantias constitucionais de devido processo, ampla defesa e contraditório
(CRFB, arts. 5, LV); indicando, ainda, a cláusula de abertura constitucional à
tratados internacionais de direitos humanos (CRFB, art. 5 §2)

• Garantia do duplo grau de jurisdição retratada o direito de recorrer da sentença


condenatória para juiz ou tribunal superior.

o Segundo a Jurisprudência da Corte IDH, o direito ao duplo grau surge para


o réu a partir da condenação. Assim, se a pessoa é declarada culpada
somente a partir do julgamento da apelação, nasce daí seu direito a um
recurso amplo, eficiente e ordinário, direito não garantido pela
interposição de RESP/RE. (Caso Mohamed)

o Ações penais originárias, em razão de foro por prerrogativa de função,


costumam excepcionar o princípio do duplo grau de jurisdição; pois,
eventuais recursos que podem ser manejados diante de sentença

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condenatória, não preenchem parâmetros mínimos elencados pela Corte


IDH para que um recurso seja tido como adequado a deflagrar o duplo
grau de jurisdição. O julgamento das autoridades com foro por
prerrogativa de função é de competência originária dos Tribunais, caso
sejam julgados por Tribunais de Justiça, os recursos cabíveis são o RESP e
RE, que possuem limitações quanto ao preenchimento de requisitos
específicos (repercussão geral e relevância da questão jurídica de direito
federal) e não admitem reanálise de provas.

▪ A Corte IDH tem precedentes que indicam que os recursos


extraordinários (RESP e REXT) não atendem aos standards
exigidos ao princípio do duplo grau de jurisdição, pois, o recurso
contra a decisão condenatória deve ser eficiente, ordinário,
simples e amplo (permitindo revisão de fatos, prova e direito)

SE TEM JURIS TÁ NA PROVA! 🚨

STF. 2ª Turma. Rcl 43007 AgR/DF (Info 1005).


Os pedidos de reconsideração carecem de qualquer respaldo no regramento
processual vigente. Eles não constituem recursos, em sentido estrito, nem mesmo
meios de impugnação atípicos. Por isso, não suspendem prazos e tampouco
impedem a preclusão.

STJ. 6ª Turma. AgRg no HC n. 681.622/SC


Conforme entendimento firmado pelo o Superior Tribunal de Justiça, aplica-se ao
processo penal a Teoria da Causa Madura, segundo a qual, uma vez afastada questão
preliminar ou prejudicial que impediu o exame do mérito pelo Juízo de primeira
instância, poderá o Tribunal estadual examinar de imediato a acusação, desde que
haja elementos nos autos para isso.

STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 416.858/SC,


A regra da non reformatio in pejus, consagrado tanto na doutrina quanto na
jurisprudência, consiste em um limitador à amplitude do julgamento,
impossibilitando o agravamento da situação penal do réu na hipótese de recurso
exclusivo da defesa. Por conseguinte, em havendo recurso somente da defesa, sua
situação jurídica não poderá ser de qualquer modo piorada, impedindo-se o
tolhimento do réu no exercício do seu direito de ampla defesa, e razão de eventual
receio de ter sua situação penal agravada no caso de julgamento de recurso somente
por ele provocado. Da referida regra decorre a reformatio in pejus indireta, segundo
o qual deve se conferir à decisão cassada o efeito de vedar o agravamento da
reprimenda nas posteriores decisões proferidas na mesma ação penal, quando a

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nulidade for reconhecida a partir de recurso defensivo exclusivo (ou em habeas


corpus).No presente caso, não incide a regra do non reformatio in pejus indireta,
porquanto não está presente um dos seus pressupostos: a ausência de recurso
ministerial. Por conseguinte, a dosimetria da pena foi amplamente devolvida pelo
Parquet, o que viabiliza a reanálise plena da dosimetria, sendo permitido o
agravamento da situação do paciente, o que é o propósito da apelação do Ministério
Público.

STJ. 3ª Seção. RvCr 4853-SC (Info 663).


Ofende o enunciado do non reformatio in pejus indireta o aumento da pena através
de decisão em recurso especial interposto pelo Ministério Público contra
rejulgamento de apelação que não alterou reprimenda do acórdão anterior, que havia
transitado em julgado para a acusação e que veio a ser anulado por iniciativa exclusiva
da defesa.
Exemplo: sentença condenou o réu a 10 anos de reclusão. Defesa apelou. Tribunal de
Justiça reduziu a pena para 9 anos. Essa decisão transitou em julgado para ambas as
partes. Defesa impetrou habeas corpus junto ao STJ, que concedeu a ordem para
anular o acórdão do TJ por ausência de prévia intimação. TJ rejulgou a apelação e
manteve a condenação, fixando a pena em 9 anos (como na primeira vez). Contra este
segundo acórdão o Ministério Público interpôs recurso especial. STJ deu provimento
ao Resp para aumentar a pena do réu para 10 anos (como na sentença). Essa decisão
do STJ violou o princípio da non reformatio in pejus indireta considerando que colocou
o sentenciado em situação pior do que aquela que ele tinha antes do habeas corpus.
Desse modo, deve ser afastado o acréscimo da pena (10 anos), restabelecendo-se o
segundo acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça no julgamento do recurso de
apelação (9 anos).

STF. 1ª Turma. HC 126457/PA (Info 922).


Não caracteriza reformatio in pejus a decisão de tribunal de justiça que, ao julgar
recurso de apelação exclusivo da defesa, mantém a reprimenda aplicada pelo
magistrado de primeiro grau, porém com fundamentos diversos daqueles adotados
na sentença. Não viola o princípio da proibição da reformatio in pejus a reavaliação
das circunstâncias judiciais em recurso de apelação penal, no âmbito do efeito
devolutivo, desde que essa não incorra em aumento de pena. Não há falar em
reformatio in pejus se os motivos expendidos pelo julgador em sede de apelação
exclusiva da defesa não representaram advento de situação mais gravosa para o réu.

STF. Plenário. RE 966.177 RG/RS (Info 868).


O sobrestamento de processos penais determinado em razão da adoção da
sistemática da repercussão geral não abrangerá ações penais em que haja réu preso

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provisoriamente. Em nenhuma hipótese, o sobrestamento de processos penais


determinado com fundamento no art. 1.035, § 5º, do CPC abrangerá inquéritos
policiais ou procedimentos investigatórios conduzidos pelo Ministério Público.

STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 618970/SC


A decisão que desclassifica a conduta, declinando da competência para o julgamento
do feito, deve ser atacada por recurso em sentido estrito, sendo a utilização de
recurso de apelação descabida e não passível de aplicação do princípio da
fungibilidade recursal, por se tratar de erro grosseiro.

≠ Se a desclassificação ocorre no momento do recebimento da denúncia:

A decisão que desclassifica o delito por ocasião do recebimento da


denúncia não é passível de impugnação por meio de recurso em
sentido estrito, por não estar prevista no rol taxativo constante do art.
581 do CPP. Nada impede, no entanto, que, verificada a ausência de
má-fé, o recurso em sentido estrito interposto pelo Ministério Público
seja recebido como correição parcial, meio idôneo para combater atos
e despachos do juiz quando não há previsão de recurso específico. Essa
possibilidade visa a evitar tumulto no processo e observa o princípio da
fungibilidade – STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1819339/PR, Rel. Min.
Rogério Schietti Cruz, julgado em 26/05/2020.

.QUESTÃO 17 – Em um caso recente, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) analisou


questões relacionadas à quebra de sigilo de dados informáticos em investigações
criminais. O tribunal estabeleceu algumas diretrizes a serem seguidas. Com base na
jurisprudência, assinale a alternativa correta:

a) O STJ permite a quebra de sigilo de um universo indeterminado de pessoas


quando os dados envolvem informações íntimas, desde que haja uma
justificativa razoável para a investigação.
b) O STJ considerou inválida a ordem que solicitava o acesso ao conteúdo dos e-
mails do Gmail, conteúdo do Google Fotos e do Google Drive, listas de contatos,
históricos de localização e pesquisas feitas no Google, mesmo que esses dados
fossem diretamente relevantes para a investigação criminal.
c) O STJ permite a quebra de sigilo de dados informáticos estáticos, como registros
de geolocalização, mesmo nos casos em que haja a possibilidade de violação da
intimidade e vida privada de pessoas não diretamente relacionadas à
investigação criminal.

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d) O STJ não considera válido o uso da geofencing como técnica de investigação


criminal, especialmente quando há atingimento de dados telemáticos de
pessoas não identificadas.
e) O STJ estabeleceu que, em regra, é possível que o juiz determine a quebra de
sigilo de dados informáticos relacionados à identificação de usuários, desde
que haja fundamentação adequada, mesmo que isso possa afetar a proteção
constitucional à privacidade e à intimidade.

Gabarito: E

Comentários:

Para resolver essa questão é importante ter em mente jurisprudência recente do STJ:

SE TEM JURIS TÁ NA PROVA! 🚨


Em regra, é possível que o juiz determine a quebra de sigilo de dados informáticos estáticos
(registros), relacionados à identificação de usuários que operaram em determinada área
geográfica, suficientemente fundamentada. Isso não ofende a proteção constitucional à
privacidade e à intimidade.

Ex: determinação ao Google a identificação dos IPs ou Device IDs que tenham se utilizado
do Google Maps e/ou do Waze no dia do crime, no período das 19h até as 23h, para realizar
consulta do endereço onde ocorreu o delito. Isso é, em tese, válido.

No entanto, não é possível que se determine a quebra de sigilo de um universo


indeterminado de pessoas quando os dados envolverem informações íntimas (como o
acesso irrestrito a fotos e conteúdo de conversas).

Assim, será inválida a ordem se o juiz determinou que o Google fornecesse o acesso aos
seguintes dados das pessoas estiveram no local:conteúdo dos e-mails do Gmail; conteúdo
do Google Fotos e do Google Drive; listas de contatos; históricos de localização, incluindo os
trajetos pesquisados; pesquisas feitas no Google; e listas de aplicativos baixados.

STJ. 5ª Turma. RMS 68119-RJ, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do
TJDFT), julgado em 15/03/2022 (Info 730).

Assim, o Superior Tribunal de Justiça já considerou válida a utilização da geofencing4 como


técnica de investigação criminal, com atingimento de dados telemáticos de pessoas não
Identificadas.

4 Técnica investigativa na qual se usam dados de geolocalização do Google para saber, por
exemplo, quem esteve no local de um crime durante um determinado horário, a partir dos
dados de celulares conectados à internet.

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Vale ressaltar que os arts. 22 e 23 do Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014) não exigem
a indicação ou qualquer elemento de individualização pessoal na decisão judicial.5

Assim, para que o magistrado possa requisitar dados pessoais armazenados por provedor de
serviços de internet, mostra-se satisfatória a indicação dos seguintes elementos previstos na
lei:

a) indícios da ocorrência do ilícito;

b) justificativa da utilidade da requisição; e

c) período ao qual se referem os registros.

Não é necessário que o magistrado fundamente a requisição com indicação da pessoa alvo
da investigação, tampouco que justifique a indispensabilidade da medida, ou seja, que a prova
da infração não pode ser realizada por outros meios.

Logo, a quebra do sigilo de dados armazenados não obriga a autoridade judiciária a indicar
previamente as pessoas que estão sendo investigadas, até porque o objetivo precípuo dessa
medida é justamente o de tentar identificar o usuário do serviço ou do terminal utilizado.

No caso concreto, contudo, a ordem foi bem mais ampla

Vale ressaltar que, no caso concreto, o juiz determinou também que o Google fornecesse o
acesso aos seguintes dados das pessoas estiveram no local:

• conteúdo dos e-mails do Gmail;

• conteúdo do Google Fotos e do Google Drive;

• listas de contatos;

• históricos de localização, incluindo os trajetos pesquisados;

• pesquisas feitas no Google; e

• listas de aplicativos baixados.

Neste caso, a ordem foi legal?

NÃO.

O Poder Judiciário não deve determinar a quebra de sigilo de dados informáticos estáticos
obtidos por registros de geolocalização do Google nos casos em que há a possibilidade de

5
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/35ec253885cf090f80881
b44180afb00

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violação da intimidade e da vida privada de um número indeterminado de pessoas, que


podem sequer estar relacionadas à investigação criminal.

Não é possível que se determine a quebra de sigilo de um universo indeterminado de pessoas


quando os dados envolverem informações íntimas (como o acesso irrestrito a fotos e
conteúdo de conversas). Nesse sentido: STJ. 6ª Turma. AgRg no RMS 59.716/RS, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, DJe de 17/8/2021.

Como vimos acima, os arts. 22 e 23 do Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014) não
exigem a indicação ou qualquer elemento de individualização pessoal na decisão judicial.

Entretanto, esse mesmo raciocínio não subsiste (não se mantém) nos casos em que haja a
possibilidade de violação da intimidade e vida privada de pessoas não comprovadamente
relacionadas à investigação criminal.

Desta feita, no que tange o item A, o STJ estabeleceu que não é possível que se
determine a quebra de sigilo de um universo indeterminado de pessoas quando os
dados envolvem informações íntimas, mesmo que haja uma justificativa razoável para a
investigação.

Quanto ao item B, o STJ considerou válida a ordem que solicitava o acesso ao conteúdo
dos e-mails do Gmail, conteúdo do Google Fotos e do Google Drive, listas de contatos,
históricos de localização e pesquisas feitas no Google, desde que esses dados fossem
diretamente relevantes para a investigação criminal.

O item C está incorreto, pois o STJ estabeleceu que não é possível a quebra de
sigilo de dados informáticos estáticos, como registros de geolocalização, nos casos em
que haja a possibilidade de violação da intimidade e vida privada de pessoas não
diretamente relacionadas à investigação criminal.

O item D também está incorreto, considerando que o STJ considerou válido o uso
da geofencing como técnica de investigação criminal, com atingimento de dados
telemáticos de pessoas não identificadas, desde que haja uma fundamentação
adequada e que os dados sejam diretamente relevantes para a investigação.

Já o gabarito (item E) pode ser encontrando no julgado relacionado acima. Já que


o STJ estabeleceu que, em regra, é possível que o juiz determine a quebra de sigilo de
dados informáticos relacionados à identificação de usuários, desde que haja
fundamentação adequada, mesmo que isso possa afetar a proteção constitucional à
privacidade e à intimidade.

.QUESTÃO 18 – Maria foi denunciada pelo Ministério Público por ter cometido um crime
cuja pena máxima cominada é de 1 ano de detenção. O Ministério Público, ao oferecer
a denúncia, propôs a suspensão do processo, nos termos do art. 89 da Lei 9.099/95.
Maria aceitou a proposta, e o juiz decidiu suspender o processo submetendo-a a um

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período de prova. Com base na Lei dos Juizados Especiais Criminais, assinale a
alternativa correta:

a) A suspensão do processo não pode ser concedida a Maria, uma vez que o crime
pelo qual ela foi denunciada não se enquadra nos casos previstos na lei.
b) Maria poderá se ausentar da comarca onde reside sem autorização do juiz
durante o período de suspensão do processo, desde que comunique sua
ausência ao Ministério Público.
c) Caso Maria não efetue, sem motivo justificado, a reparação do dano durante o
período de suspensão do processo, a suspensão será automaticamente
revogada.
d) A suspensão do processo implica automaticamente a extinção da punibilidade,
independentemente de qualquer outra condição ou requisito.
e) A suspensão deverá ser revogada, caso Maria seja processada, no curso do
prazo, por contravenção penal.

Gabarito: C

Comentários:

A resposta correta é a alternativa C.

Conforme o art. 89 § 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o


beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo
justificado, a reparação do dano. Assim, se Maria não justificar ou não reparar o dano
terá o benefício suspenso.

Já a alternativa A está incorreta. De acordo com o art. 89 da Lei 9.099/95, a


suspensão do processo é aplicável a crimes cuja pena máxima cominada seja igual ou
inferior a um ano, cumulada ou não com multa. Portanto, o fato de Maria ter sido
denunciada por um crime com pena máxima de até 1 ano torna-a elegível para a
suspensão do processo.

Quanto a alternativa B, podemos observar que de acordo com o art. 89 da Lei


9.099/95, uma das condições que podem ser impostas durante o período de suspensão
do processo é a proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do
juiz. Portanto, Maria não pode se ausentar sem a devida autorização do juiz, mesmo que
comunique sua ausência ao Ministério Público.

A alternativa D está incorreta. A suspensão do processo não implica


automaticamente na extinção da punibilidade. O art. 89, § 5º, da Lei 9.099/95,
estabelece que, expirado o prazo sem revogação da suspensão e observadas todas as
condições impostas, o juiz declarará extinta a punibilidade. Portanto, a extinção da
punibilidade depende do cumprimento das condições e do prazo de suspensão.

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A alternativa E está incorreta. Conforme o art. 89§ 4º A suspensão poderá ser


revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção, ou
descumprir qualquer outra condição imposta. Assim, poderá ser revogada e não deverá.

Agora uma revisão rápida do instituto:

SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO

Pena MÍNIMA igual ou inferior a 01 ano

Se dará no OFERECIMENTO da denúncia pelo MP

Período de prova: 02 a 04 anos.

REQUISITOS a) Não estar sendo processado ou não tenha


sido processado por outro crime.
b) NÃO ser reincidente em crime DOLOSO;
c) Não couber a substituição por PRD.

CONDIÇÕES a) reparação do dano, salvo impossibilidade;


OBRIGATÓRIAS b) proibição de frequentar determinados
lugares;
c) proibição de ausentar-se da comarca onde
reside, s/ autorização do Juiz;
d) comparecimento pessoal e obrigatório a
juízo, mensalmente, para informar e
justificar suas atividades.

CONDIÇÕES O Juiz poderá especificar outras condições, desde


FACULTATIVAS que adequadas ao fato e à situação pessoal do
acusado.

Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade.

Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo.

REVOGAÇÃO OBRIGATÓRIA REVOGAÇÃO FACULTATIVA

o Vier processado por outro o Vier a ser processado


crime; por contravenção.
o Não repara o dano, salvo o Descumpre qualquer
motivo justificado. outra condição

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.QUESTÃO 19 – O juiz das garantias foi inserido no Código de Processo Penal a partir da
Lei 13.964/2019. Sobre o tema, julgue as assertivas a seguir:

I. O STF, no Info 1106, atribuiu interpretação conforme ao art. 3º-A do CPP, para
assentar que o juiz, pontualmente, nos limites legalmente autorizados, pode
determinar a realização de diligências suplementares.
II. O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da investigação
criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido
reservada à autorização prévia do Poder Judiciário.
III. No Informativo 1106, o STF declarou a constitucionalidade do juiz das garantias
do CPP, e fixou o prazo de 12 meses para que sejam adotadas as medidas
legislativas e administrativas necessárias à adequação das diferentes leis de
organização judiciária para implementação.
IV. Nos termos da jurisprudência do STF, compete ao juiz das garantias decidir sobre
o recebimento da denúncia ou queixa.
V. Compete especialmente ao juiz das garantias prorrogar o prazo de duração do
inquérito, salvo se o investigado se encontrar preso, e tendo em vista das razões
apresentadas pela autoridade policial.

Estão corretas somente as assertivas:


a) I, II, III e IV.
b) I, II e V.
c) II, IV e V.
d) II, e IV.
e) I, II e III.

Gabarito: E
Comentários:

Nessa questão foram cobrados conhecimentos da lei seca (Código de Processo


Penal), como também entendimentos recentes do STF sobre o tema, no julgamento das
ADIS 6.298/DF, 6.299/DF, 6.300/DF e 6.305/DF.

Quanto à assertiva I, o art. 3-A, III, do CPP determina que:

Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a


iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da
atuação probatória do órgão de acusação.

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De fato, esse foi o entendimento do Supremo:

O STF (Info 1106) atribuiu interpretação conforme ao art. 3º-A do CPP, para
assentar que o juiz, pontualmente, nos limites legalmente autorizados, pode determinar
a realização de diligências suplementares, para o fim de dirimir dúvida sobre questão
relevante para o julgamento do mérito.

Já a assertiva II é a redação do CPP:

Art. 3º-B. O juiz das garantias é responsável pelo controle da


legalidade da investigação criminal e pela salvaguarda dos
direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à
autorização prévia do Poder Judiciário, competindo-lhe
especialmente:

O item III está de acordo com o Informativo 1106 do STF:

O STF (Info 1106) declarou a constitucionalidade do caput do art. 3º-B do CPP,


e, por unanimidade, fixou o prazo de 12 meses, a contar da publicação da ata do
julgamento, para que sejam adotadas as medidas legislativas e administrativas
necessárias à adequação das diferentes leis de organização judiciária, à efetiva
implantação e ao efetivo funcionamento do juiz das garantias em todo o País, tudo
conforme as diretrizes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e sob a supervisão dele.

A assertiva IV está errada pois o STF, também no Info. 1106, declarou a


inconstitucionalidade do inciso XIV do art. 3º-B do CPP, e atribuiu interpretação
conforme para assentar que a competência do juiz das garantias cessa com o
oferecimento da denúncia. Portanto, para o Supremo, o juiz das garantias NÃO deve
decidir sobre recebimento da denúncia.

Por fim, a assertiva V destoa do CPP:

Art. 3-B. (...):


IV - ser informado sobre a instauração de qualquer investigação
criminal;
VIII - prorrogar o prazo de duração do inquérito, estando o
investigado preso, em vista das razões apresentadas pela
autoridade policial e observado o disposto no § 2º deste artigo;
IX - determinar o trancamento do inquérito policial quando não
houver fundamento razoável para sua instauração ou
prosseguimento;

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.QUESTÃO 20 – “A gestão da prova deve estar nas mãos das partes (mais
especificamente, a carga probatória está inteiramente nas mãos do acusador),
assegurando-se que o juiz não terá iniciativa probatória, mantendo-se assim suprapartes
e preservando sua imparcialidade.” Aury Lopes Jr. Direito processual penal/16. ed. – São
Paulo: Saraiva Educação, 2019.

Sobre provas no âmbito do processo penal, indique a alternativa correta, de acordo com
entendimentos dos tribunais brasileiros e o ordenamento jurídico.

a) O Superior Tribunal de Justiça entende que a prévia confissão informal do réu


justifica a busca domiciliar desprovida de mandado judicial.
b) Para o STJ, o fato de o réu ter ficado em silêncio no inquérito policial pode ser
utilizado como premissa para se considerar que as declarações dos policiais são
verdadeiras e que a negativa do réu em juízo foi mentirosa, sem consistir em
violação ao art. 186 do CPP.
c) Ainda que o reconhecimento fotográfico esteja em desacordo com o
procedimento previsto no art. 226 do CPP, o STJ tem entendido que deve ser
mantida a condenação quando houver outras provas suficientes para lastrear
o decreto condenatório.
d) O STJ entendeu, através da sua 3ª Seção, que o reconhecimento de pessoas
que obedece às disposições legais prepondera sobre outros meios de prova
(confissão, testemunha, perícia, acareação).
e) A 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça proferiu entendimentos no sentido
de que a guarda municipal, apesar de não estar entre os órgãos de segurança
pública previstos pela Constituição Federal, pode exercer atribuições das polícias
civis e militares.

Gabarito: C.
Comentários:

Pessoal, o direito probatório é tema com ALTAS CHANCES de cobrança nesta


prova.

Novamente, trouxemos uma questão com muitos informativos recentes


porque é essencial que vocês estejam atualizadíssimos com os julgados das Cortes
Superiores. Atenção aos julgados tratados na questão:

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA! 🚨

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Info 778 – STJ - A confissão do réu, por si só, não autoriza a entrada dos policiais em seu
domicílio, sendo necessário que a permissão conferida de forma livre e voluntária pelo
morador seja registrada pela autoridade policial por escrito ou em áudio e vídeo. STJ. 5ª
Turma. AgRg no AREsp 2.223.319-MS, Rel. Min. Messod Azulay Neto, julgado em 9/5/2023
(Info 778).

Info 780 – STJ – O exercício do direito ao silêncio não pode servir de fundamento para
descredibilizar o acusado nem para presumir a veracidade das versões sustentadas por
policiais, sendo imprescindível a superação do standard probatório próprio do processo
penal a respaldá-las
Caso concreto: o réu foi condenado sob o seguinte argumento: “Fosse verdadeira a frágil
negativa judicial, certamente o réu a teria apresentado perante a autoridade policial, quando
entretanto, valeu-se do direito constitucional ao silêncio, comportamento que, se por um
lado não pode prejudicá-lo, por outro permite afirmar que a simplória negativa é mera
tentativa de se livrar da condenação”. O fato de o réu ter ficado em silêncio no inquérito
policial foi utilizado como premissa para se considerar que as declarações dos policiais foram
verdadeiras e que a negativa do réu em juízo foi mentirosa. Para o STJ, essa fundamentação
representou violação direta ao art. 186 do CPP. STJ. 6ª Turma. REsp 2.037.491-SP, Rel. Min.
Rogerio Schietti Cruz, julgado em 6/6/2023 (Info 780).

Info 758 – STJ – Ainda que o reconhecimento fotográfico esteja em desacordo com o
procedimento previsto no art. 226 do CPP, deve ser mantida a condenação quando houver
outras provas produzidas sob o crivo do contraditório e da ampla defesa, independentes e
suficientes o bastante, para lastrear o decreto condenatório. STJ. 6ª Turma. AgRg nos EDcl no
HC 656.845-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 04/10/2022 (Info 758).

Info 775 – STJ – O reconhecimento positivo, que respeite as exigências legais, portanto, é
válido, mas não tem força probante absoluta, de sorte que não pode induzir, por si só, à
certeza da autoria delitiva, em razão de sua fragilidade epistêmica. O reconhecimento de
pessoas que obedece às disposições legais não prepondera sobre quaisquer outros meios de
prova (confissão, testemunha, perícia, acareação); ao contrário, deve ser valorado como os
demais. A confirmação, em juízo, do reconhecimento fotográfico extrajudicial, por si só, não
torna o ato seguro e isento de erros involuntários. É importante lembrar que, uma vez que a
testemunha ou a vítima reconhece alguém como o autor do delito, há tendência, por um viés
de confirmação, a repetir a mesma resposta em reconhecimentos futuros, pois sua memória
estará mais ativa e predisposta a tanto. STJ. 3ª Seção. HC 769.783-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz,
julgado em 10/5/2023 (Info 775).

REsp 1.977.119 - RELATOR : MINISTRO ROGERIO SCHIETTI CRUZ: 1. A Constituição Federal de


1988 não atribui à guarda municipal atividades ostensivas típicas de polícia militar ou
investigativas de polícia civil, como se fossem verdadeiras “polícias municipais”, mas tão
somente de proteção do patrimônio municipal, nele incluídos os seus bens, serviços e
instalações. A exclusão das guardas municipais do rol de órgãos encarregados de promover
a segurança pública (incisos do art. 144 da Constituição) decorreu de opção expressa do

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legislador constituinte – apesar das investidas em contrário – por não incluir no texto
constitucional nenhuma forma de polícia municipal. (…) 9. Não é das guardas municipais, mas
sim das polícias, como regra, a competência para patrulhar supostos pontos de tráfico de
drogas, realizar abordagens e revistas em indivíduos suspeitos da prática de tal crime ou
ainda investigar denúncias anônimas relacionadas ao tráfico e outros delitos cuja prática não
atinja de maneira clara, direta e imediata os bens, serviços e instalações municipais. Poderão,
todavia, realizar busca pessoal em situações absolutamente excepcionais – e por isso
interpretadas restritivamente – nas quais se demonstre concretamente haver clara, direta e
imediata relação de pertinência com a finalidade da corporação, isto é, quando se tratar de
instrumento imprescindível para a tutela dos bens, serviços e instalações municipais. Vale
dizer, só é possível que as guardas municipais realizem excepcionalmente busca pessoal se
houver, além de justa causa para a medida (fundada suspeita de posse de corpo de delito),
relação clara, direta e imediata com a necessidade de proteger a integridade dos bens e
instalações ou assegurar a adequada execução dos serviços municipais, o que não se
confunde com permissão para realizarem atividades ostensivas ou investigativas típicas das
polícias militar e civil para combate da criminalidade urbana ordinária.

Dessa forma, a alternativa correta é a letra C.


EXECUÇÃO PENAL

.QUESTÃO 21 – Acerca do instituto do indulto, assinale a alternativa correta:

a) O indulto extingue tanto os efeitos primários quanto os secundários da pena


aplicada.
b) O descumprimento das condições impostas para o livramento condicional não
pode ser invocado para impedir a concessão do indulto, a título de não
preenchimento do requisito subjetivo, caso não esteja expressamente previsto
no decreto.
c) No Decreto 11.302/22, há previsão da prática de falta grave como requisito
subjetivo impeditivo da concessão do indulto.
d) As Cortes Superiores realizaram interpretação conforme à Constituição no art.
2º da Lei 8.072/90, para considerar como possível o indulto a condenados a
crimes equiparados a hediondos.
e) O indulto pode ser aplicável tanto aos presos condenados quanto aos presos
provisórios.

Gabarito: B.
Comentários:

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O indulto é tratado em diversos artigos do examinador publicados no CONJUR6,


por isso é de extrema importância o estudo do tema.

Primeiramente, o Decreto 11.302/227, indulto natalino mais recente, não


previu como requisito subjetivo a ausência de prática de falta grave. Na verdade, em
sua análise, traz apenas requisitos objetivos relacionados aos tipos penais, modo de
execução dos crimes (violência/grave ameaça) e reincidência ou não do agente. E, como
há artigos do examinador sobre o tema “falta grave e indulto”, possivelmente pode ser
cobrado na prova de vocês.

Quanto à letra D, a Lei nº 8.072/90, no art. 2º, estabelece que os crimes


hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o
terrorismo são insuscetíveis de anistia, graça, indulto e fiança.

Além disso, a leitura da jurisprudência correlata ajuda bastante na resolução de


questões sobre indulto, vejamos:

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA! 🚨

Info 670/STJ - O descumprimento das condições do livramento condicional não pode servir
para obstaculizar a concessão do indulto.
Para a análise do pedido de indulto ou comutação de penas, o magistrado deve restringir-se
ao exame do preenchimento dos requisitos previstos no decreto presidencial, uma vez que
os pressupostos para a concessão da benesse são da competência privativa do Presidente da
República.
Dessa forma, qualquer outra exigência caracteriza constrangimento ilegal.
O Decreto nº 7.873/2012 prevê que apenas falta disciplinar de natureza grave prevista na Lei
de Execução Penal, cometida nos 12 meses anteriores à data de publicação do decreto, pode
obstar a concessão do indulto.
O descumprimento das condições do livramento condicional não encontra previsão no art.
50 da Lei de Execuções Penais, o qual elenca de forma taxativa quais são as faltas graves.
Assim, eventual descumprimento de condições impostas não pode ser invocado a título de
infração disciplinar grave a fim de impedir a concessão do indulto.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 537982-DF, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 13/04/2020

Súmula 631-STJ: O indulto extingue os efeitos primários da condenação (pretensão


executória), mas não atinge os efeitos secundários, penais ou extrapenais.

6
ConJur - A chacina ao decreto presidencial de indulto de 2017
ConJur - A sanção por falta grave como impeditivo do indulto e da comutação
ConJur - Superando expectativas negativas: o indulto natalino de Temer

7
Decreto de Indulto - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2022/decreto/D11302.htm

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Súmula 535/STJ: A prática de falta grave não interrompe o prazo para fim de comutação de
pena ou indulto.

OVERRULING – Info 736/STJ - O período ao qual o Decreto Presidencial 9.246/2017 se refere


para fins de indulto é aquele corresponde à prisão pena, não se alinhando para o
preenchimento do requisito objetivo aquele alusivo ao da detração penal, no qual se está
diante de constrição por medida cautelar. STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 1887116-GO, Rel.
Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF 1ª Região), julgado em 03/05/2022
(Info 736).

.QUESTÃO 22 – A respeito da remição, assinale a alternativa correta:

a) O Superior Tribunal de Justiça não admite a remição pelo estudo na modalidade à


distância, uma vez que é inviável a comprovação de frequência escolar e do
aproveitamento do curso ministrado.
b) Via de regra, a chamada remição ficta não é admitida pelos Tribunais Superiores, no
entanto, no período de pandemia, o Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento
de que a remição deveria ser aplicada a todas as pessoas presas.
c) A remição pela leitura está prevista na Lei de Execução Penal e é regulamentada por
Resolução do CNJ, que estabelece que, para cada obra lida, corresponderá a remição de
4 (quatro) dias de pena.
d) Não pode haver cumulação de remição por trabalho e por estudo, simultaneamente.
e) A remição se aplica às pessoas presas em decorrência de prisão cautelar.

Gabarito: E

Comentários:

Muitos temas recorrentes em provas sobre a execução penal incluem letra da


lei e entendimentos jurisprudenciais, assim como essa questão da remição.
Vamos iniciar com a leitura da Lei de Execução Penal a respeito do tema:

Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por
trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena. (Redação dada pela Lei nº 12.433,
de 2011).

§ 1º A contagem de tempo referida no caput será feita à razão de: (Redação dada pela
Lei nº 12.433, de 2011)

I - 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar - atividade de ensino
fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação profissional -
divididas, no mínimo, em 3 (três) dias; (Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011)

II - 1 (um) dia de pena a cada 3 (três) dias de trabalho. (Incluído pela Lei nº 12.433, de
2011)

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§ 2º As atividades de estudo a que se refere o § 1º deste artigo poderão ser desenvolvidas de


forma presencial ou por metodologia de ensino a distância e deverão ser certificadas pelas autoridades
educacionais competentes dos cursos frequentados. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de
2011)

§ 3º Para fins de cumulação dos casos de remição, as horas diárias de trabalho e de estudo serão
definidas de forma a se compatibilizarem. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011)

§ 4º O preso impossibilitado, por acidente, de prosseguir no trabalho ou nos estudos continuará a


beneficiar-se com a remição .(Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011)

§ 5º O tempo a remir em função das horas de estudo será acrescido de 1/3 (um terço) no caso de
conclusão do ensino fundamental, médio ou superior durante o cumprimento da pena, desde que
certificada pelo órgão competente do sistema de educação. (Incluído pela Lei nº 12.433, de
2011)

§ 6º O condenado que cumpre pena em regime aberto ou semiaberto e o que usufrui liberdade
condicional poderão remir, pela frequência a curso de ensino regular ou de educação profissional, parte
do tempo de execução da pena ou do período de prova, observado o disposto no inciso I do § 1o deste
artigo. (Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011)

§ 7º O disposto neste artigo aplica-se às hipóteses de prisão cautelar. (Incluído pela Lei nº 12.433,
de 2011)

§ 8º A remição será declarada pelo juiz da execução, ouvidos o Ministério Público e a


defesa. (Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011)

Art. 127. Em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3 (um terço) do tempo remido,
observado o disposto no art. 57, recomeçando a contagem a partir da data da infração
disciplinar. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011)

Art. 128. O tempo remido será computado como pena cumprida, para todos os
efeitos. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011)

Art. 129. A autoridade administrativa encaminhará mensalmente ao juízo da execução cópia do


registro de todos os condenados que estejam trabalhando ou estudando, com informação dos dias de
trabalho ou das horas de frequência escolar ou de atividades de ensino de cada um
deles. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011)

§ 1º O condenado autorizado a estudar fora do estabelecimento penal deverá comprovar


mensalmente, por meio de declaração da respectiva unidade de ensino, a frequência e o aproveitamento
escolar. (Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011)

§ 2º Ao condenado dar-se-á a relação de seus dias remidos. (Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011)

E agora alguns julgados relevantes sobre remição:

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA!

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Lei de Execução Penal. Remição pelo estudo na modalidade a distância. "A Lei de Execução
Penal permite a remição por estudo a distância, contudo, devem ser atendidos certos requisitos
para a devida comprovação de frequência escolar e de aproveitamento do conteúdo
ministrado, além do vínculo da instituição de ensino com o Poder
Público".AgRg no HC 751.459/SP, relator ministro Antonio Saldanha Palheiro, Sexta Turma,
julgado em 20/9/2022, DJe de 26/9/2022.

Tema Repetitivo 1120, STJ: Nada obstante a interpretação restritiva que deve ser conferida ao
art. 126, §4º, da LEP, os princípios da individualização da pena, da dignidade da pessoa humana,
da isonomia e da fraternidade, ao lado da teoria da derrotabilidade da norma e da situação
excepcionalíssima da pandemia de covid-19, impõem o cômputo do período de restrições
sanitárias como de efetivo estudo ou trabalho em favor dos presos que já estavam trabalhando
ou estudando e se viram impossibilitados de continuar seus afazeres unicamente em razão do
estado pandêmico. (Ou seja: não ampliou remição ficta para todos).

E ainda:

Não cabe a remição ficta no trabalho de natureza eventual, porquanto não se pode presumir
que deixou de ser oferecido e exercido em razão do estado pandêmico. HC 684.875-DF, Rel.
Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em 21/3/2023, DJe
23/3/2023.

Súmula 562 do STJ: É possível a remição de parte do tempo de execução da pena quando o
condenado, em regime fechado ou semiaberto, desempenha atividade laborativa, ainda que
extramuros.

Sobre a alternativa “d”, a remição pela leitura também é um tema importante


para provas de Defensoria Pública, sendo objeto de diversos pedidos no âmbito da
execução penal. Esta espécie de remição não tem previsão na LEP, e é regulamentada
pela Resolução Nº 391 de 10/05/2021, do CNJ:

Art. 5o Terão direito à remição de pena pela leitura as pessoas privadas de liberdade que comprovarem
a leitura de qualquer obra literária, independentemente de participação em projetos ou de lista prévia de
títulos autorizados, considerando-se que:

I – a atividade de leitura terá caráter voluntário e será realizada com as obras literárias constantes no
acervo bibliográfico da biblioteca da unidade de privação de liberdade;

II – o acervo bibliográfico poderá ser renovado por meio de doações de visitantes ou organizações da
sociedade civil, sendo vedada toda e qualquer censura a obras literárias, religiosas, filosóficas ou
científicas, nos termos dos art. 5o, IX, e 220, § 2o, da Constituição Federal;

III – o acesso ao acervo da biblioteca da unidade de privação de liberdade será assegurado a todas as
pessoas presas ou internadas cautelarmente e àquelas em cumprimento de pena ou de medida de
segurança, independentemente do regime de privação de liberdade ou regime disciplinar em que se
encontrem;

IV – para fins de remição de pena pela leitura, a pessoa em privação de liberdade registrará o empréstimo
de obra literária do acervo da biblioteca da unidade, momento a partir do qual terá o prazo de 21 (vinte

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e um) a 30 (trinta) dias para realizar a leitura, devendo apresentar, em até 10 (dez) dias após esse período,
um relatório de leitura a respeito da obra, conforme roteiro a ser fornecido pelo Juízo competente ou
Comissão de Validação;

V – para cada obra lida corresponderá a remição de 4 (quatro) dias de pena, limitando-se, no prazo de
12 (doze) meses, a até 12 (doze) obras efetivamente lidas e avaliadas e assegurando-se a possibilidade
de remir até 48 (quarenta e oito) dias a cada período de 12 (doze) meses.

§ 1o O Juízo competente instituirá Comissão de Validação, com atribuição de analisar o relatório de leitura,
considerando-se, conforme o grau de letramento, alfabetização e escolarização da pessoa privada de
liberdade, a estética textual (legibilidade e organização do relatório), a fidedignidade (autoria) e a clareza
do texto (tema e assunto do livro lido), observadas as seguintes características:

I – a Comissão de Validação será composta por membros do Poder Executivo, especialmente aqueles
ligados aos órgãos gestores da educação nos Estados e Distrito Federal e responsáveis pelas políticas de
educação no sistema prisional da unidade federativa ou União, incluindo docentes e bibliotecários que
atuam na unidade, bem como representantes de organizações da sociedade civil, de iniciativas autônomas
e de instituições de ensino públicas ou privadas, além de pessoas privadas de liberdade e familiares;

II – a participação na Comissão de Validação terá caráter voluntário e não gerará qualquer tipo de vínculo
empregatício ou laboral com a Administração Pública ou com o Poder Judiciário; e

III – a validação do relatório de leitura não assumirá caráter de avaliação pedagógica ou de prova, devendo
limitar-se à verificação da leitura e ser realizada no prazo de 30 (trinta) dias, contados da entrega do
documento pela pessoa privada de liberdade.

§ 2o Deverão ser previstas formas de auxílio para fins de validação do relatório de leitura de pessoas em
fase de alfabetização, podendo-se adotar estratégias específicas de leitura entre pares, leitura de
audiobooks, relatório de leitura oral de pessoas não-alfabetizadas ou, ainda, registro do conteúdo lido
por meio de outras formas de expressão, como o desenho.

§ 3o O Poder Público zelará pela disponibilização de livros em braile ou audiobooks para pessoas com
deficiências visual, intelectual e analfabetas, prevendo-se formas específicas para a validação dos
relatórios de leitura;

§ 4o Na composição do acervo da biblioteca da unidade de privação de liberdade deverá ser assegurada a


diversidade de autores e gêneros textuais, incluindo acervo para acesso à leitura por estrangeiros,
sendo vedada toda e qualquer forma de censura.

.QUESTÃO 23 – Acerca do trabalho penitenciário:

a) Para cada 4 dias de trabalho, será remido 1 dia de pena


b) Embora reconhecida constitucionalidade pelo STF, o dever de trabalho é
incompatível com os precedentes do Direito Internacional de Direitos Humanos
c) É necessário o cumprimento de 1/6 da pena para a fruição do trabalho externo,
aos presos diretamente condenados ao regime semiaberto
d) Tanto o preso provisório quanto o preso definitivo possuem o dever e direito ao
trabalho penitenciário

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e) Patamar mínimo diferenciado de remuneração aos presos não viola a


dignidade humana e isonomia; não sendo estendido a garantia constitucional
de salário-mínimo.

Gabarito: E

Comentários:

O Trabalho penitenciário terá finalidade educativa e produtiva


• Possibilita a remição de pena – LEP, art. 126
o Para cada 3 dias de trabalho, será remido 1 dia de pena
o Período de atividade laboral do apenado que exceder o limite máximo
da jornada de trabalho deve ser contado para fins de remição,
computando-se um dia de trabalho a cada seis horas extras realizadas
(STJ, Resp 1302924)

Trabalho penitenciário goza de dualidade intrínseca: direito e dever do condenado


• DIREITO AO TRABALHO – LEP, art. 41, II + Regras de Mandela
o Constituem direitos do preso atribuição de trabalho e remuneração
▪ Patamar remuneratório diferenciado
• LEP, art. 29, caput: trabalho penitenciário terá
remuneração fixada mediante prévia tabela, não
inferior a 3/4 do salário mínimo
STF, ADPF n. 336 – constitucionalidade da remuneração
inferior ao salário mínimo. Recepção e const. do art. 29, caput,
da LEP; fundamentos dessa decisão:
* Patamar mínimo diferenciado de remuneração aos presos
não viola a dignidade humana e isonomia; não sendo
estendido a garantia constitucional de salário mínimo
* Trabalho penitenciário tem regime jurídico distinto da
relação trabalhista celetista
* Não se aplica o regime celetista ao trabalho penitenciário
* Regras de Mandela exige remuneração justa ao trabalho
penitenciário: a interpretação sistemática do diploma revela
que o tratamento igualitário entre o trabalho de presos e
livres apenas é obrigatório em relação a acidentes de trabalho
ou doenças dele decorrentes; não exigindo equiparação
remuneratória
DICA DE IMPACTO ⭐
CRÍTICAS A ESSE ENTENDIMENTO

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- Inserção do condenado no locus prisional não lhe subtrai a titularidade de outros


direitos, dentre os quais, evidentemente, o direito a percepcionar remuneração digna
pelo trabalho prestado (CP, art. 38 e LEP, art.3)
- Assegurar à pessoa privada de liberdade o mesmo patamar mínimo de remuneração,
garantido a todos os trabalhadores, implica em reforço da posição jurídica do detento
como sujeito titular de direitos e, portanto, carecedor de tratamento homogêneo
deferido pelo poder público a todos os cidadãos.

• DEVER DE TRABALHO – LEP, arts. 31, 39, V e 50, VI


o Inobservância injustificada do dever de trabalho é hipótese
caracterizadora de falta grave

❕ HIPÓTESES DE TRABALHO FACULTATIVO – arts. 31, pú e 200: diante de


presos provisórios, condenados por contravenções penais quando prisão
simples não exceder 15 dias, bem como condenados por crime político

Q PRINCÍPIO DA NÃO AFLITIVIDADE


Regras de Mandela + CNPCP, res. 14, art. 51,
▪ Trabalho penitenciário não terá natureza penosa e aflitiva
▪ DEVER DE TRABALHO ≠ TRABALHO FORÇADO
▪ STJ, HC 264.989: Pena de trabalho forçado, vedada
constitucionalmente (art. 5, XLVIII, 'c'), não se confunde com
o dever de trabalho imposto ao apenado
▪ Pacto San Jose da Costa Rica – CADH, art. 6.3: não constitui
trabalho forçado aqueles normalmente exigidos de pessoa
reclusa em cumprimento de sentença.

Trabalho penitenciário poderá ser realizado no âmbito interno ou externo

TRABALHO EXTERNO
• É aquele realizado fora das dependências do estabelecimento prisional
• Requisitos para a admissão do trabalho externo
o Autorização do diretor do estabelecimento penal (+ quando em
entidade privada, será necessário consentimento expresso do preso)
o Análise de aptidão, disciplina e responsabilidade
o Necessário cumprimento mínimo de 1/6 da pena

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▪ Para a obtenção dos benefícios de saída temporária e trabalho


externo, considera-se o tempo de cumprimento da pena no
regime fechado (Súmula 40 do STJ).
▪ STJ tem decisões entendendo ser possível deferir trabalho
externo ao apenado em regime semiaberto,
independentemente do cumprimento de 1/6 da pena

• Trabalho externo é vedado diante de presos provisórios

• Revogação do trabalho externo


o Por ato do diretor do estabelecimento penal
o Ato vinculado, apenas sendo permitido o exercício da competência
revogatória quando presente hipótese do art. 37, parágrafo único, da
LEP: 1) prática de fato definido como crime, condenado por falta
grave, ou 2) por comportamento contrário às exigências de aptidão,
disciplina e responsabilidade

.QUESTÃO 24 – Acerca do Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) na Lei de Execução


Penal (Lei 7.210/84), assinale a alternativa correta:

a) O RDD possui duração máxima de até 3 anos, sem prejuízo de repetição da


sanção por nova falta grave de mesma espécie.
b) No regime, as entrevistas são sempre monitoradas, exceto aquelas com seu
defensor, em instalações equipadas para impedir o contato físico e a passagem
de objetos, salvo expressa autorização judicial em contrário.
c) Há visitas semanais, com duração de 2 horas, sem restrição quanto ao número
de visitantes.
d) O preso tem direito à saída da cela por 2 horas diárias para atividades de lazer,
independentemente de contato com outros detentos.
e) O RDD não prevê a fiscalização do conteúdo da correspondência sem restrições
por violar o direito fundamental à privacidade.

Gabarito: B

Comentário:

A resposta correta é a alternativa B. Conforme o art. 52, V - entrevistas sempre


monitoradas, exceto aquelas com seu defensor, em instalações equipadas para impedir
o contato físico e a passagem de objetos, salvo expressa autorização judicial em
contrário;

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A alternativa A está incorreta. De acordo com o art. 52, I - duração máxima de


até 2 (dois) anos, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta grave de mesma
espécie;

A alternativa C está incorreta. O RDD permite visitas quinzenais, de 2 pessoas por


vez, com duração de 2 horas, e com restrições quanto ao contato físico e à passagem de
objetos.

A alternativa D está incorreta. O RDD prevê o direito do preso à saída da cela por
2 horas diárias para banho de sol, em grupos de até 4 presos, desde que não haja contato
com presos do mesmo grupo criminoso.

A alternativa E está incorreta. O RDD prevê a fiscalização do conteúdo da


correspondência, conforme o artigo 52 da Lei de Execução Penal.

.QUESTÃO 25 – O livramento condicional pode ser entendido como um direito da


execução penal concedido ao condenado preso, consistindo no direito de ele ficar em
liberdade, mesmo antes de ter terminado a sua pena, desde que assuma o compromisso
de cumprir algumas condições, desde que preencha os requisitos previstos na lei. Sobre
o tema, assinale o item INCORRETO:

a) O indivíduo que está no gozo do livramento condicional desfruta de uma


liberdade condicional, uma vez que, durante o período restante da pena
(chamado de período de prova), ele terá que cumprir certas condições fixadas
na decisão que conceder o benefício.
b) Nos casos de condenação por crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito
de entorpecentes e drogas afins, tráfico de pessoas e terrorismo, se o apenado
não for reincidente específico em crimes dessa natureza, terá que cumprir 2/3
(dois terços) da pena para obter o livramento condicional.
c) Não se pode exigir como requisito específico para concessão do livramento
condicional a inexistência de elementos probatórios que indiquem a
manutenção do vínculo associativo, nem mesmo para o condenado por
integrar organização criminosa ou por crime praticado por meio de organização
criminosa.
d) Para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça
à pessoa, a concessão do livramento condicional fica também subordinada à
constatação de condições pessoais que façam presumir que o liberado não
voltará a delinquir.
e) A Terceira Seção do STJ proferiu entendimento de que a valoração do bom
comportamento durante a execução da pena deve considerar todo o histórico
prisional, não se limitando ao período de 12 meses.

Gabarito: C

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Comentários:

Galera, o tema do Livramento Condicional é importantíssimo para provas de


Defensoria, além de ter sido objeto de julgados recentes no âmbito do STJ. Vejamos as
disposições legais que foram cobradas:

Código Penal:
Art. 83 – O juiz poderá conceder livramento condicional ao
condenado a pena privativa de liberdade igual ou superior a 2
(dois) anos, desde que: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
I – cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for
reincidente em crime doloso e tiver bons antecedentes;
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II – cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em
crime doloso; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
III – comprovado: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de
2019)
a) bom comportamento durante a execução da pena;
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
b) não cometimento de falta grave nos últimos 12 (doze) meses;
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
c) bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído; e
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
d) aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho
honesto; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
IV – tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o
dano causado pela infração; (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)
V – cumpridos mais de dois terços da pena, nos casos de
condenação por crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito
de entorpecentes e drogas afins, tráfico de pessoas e terrorismo,
se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa
natureza. (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)
Parágrafo único - Para o condenado por crime doloso, cometido
com violência ou grave ameaça à pessoa, a concessão do
livramento ficará também subordinada à constatação de
condições pessoais que façam presumir que o liberado não
voltará a delinquir.

Lei 12.850/13

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Art. 2º Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente


ou por interposta pessoa, organização criminosa:
(…)
§ 9º O condenado expressamente em sentença por integrar
organização criminosa ou por crime praticado por meio de
organização criminosa não poderá progredir de regime de
cumprimento de pena ou obter livramento condicional ou
outros benefícios prisionais se houver elementos probatórios
que indiquem a manutenção do vínculo associativo.

Fiquem ligados ainda no julgado a seguir:

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA! 🚨


A valoração do requisito subjetivo para concessão do livramento condicional – bom
comportamento durante a execução da pena (art. 83, III, “a”, do Código Penal) - deve
considerar todo o histórico prisional, não se limitando ao período de 12 meses referido na
alínea “b” do mesmo inciso III do art. 83 do Código Penal. STJ. 3ª Seção. REsp 1.970.217-MG,
Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 24/5/2023(Recurso Repetitivo – Tema 1161) (Info 776).

.QUESTÃO 26 – Acerca das ondas renovatórias de acesso à justiça, analise as assertivas


a seguir:
I. A segunda onda de acesso à justiça refere-se aos direitos
transindividuais, difusos ou coletivos.
II. A criação da Defensoria Pública como instituição de acesso à
justiça encontra-se na terceira onda.
I. A quinta onda de acesso à justiça trata da internacionalização de
proteção dos direitos humanos.
II. A sexta onda, por sua vez, é fruto das inovações modernas ao
estabelecer iniciativas promissoras e novas tecnologias para aprimorar
o acesso à justiça.

Estão corretas:
a) I e II.
b) I, II, e III.
c) II e III.
d) II, III e IV.
e) I, III e IV.

Gabarito: E
Comentários:

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Tema de predileção da examinadora, com publicação de livro: ondas


renovatórias de acesso à justiça8.

Assistência judiciária aos hipossuficientes


1ª ONDA financeiros (nessa onda entra a Defensoria
Pública).
2ª ONDA Proteção de direitos difusos e coletivos.
Técnicas processuais efetivas e meios
3ª ONDA
alternativos de solução de conflitos.
Ética nas profissões jurídicas e acesso dos
4ª ONDA
advogados à justiça
O contemporâneo processo de
5ª ONDA internacionalização da proteção dos
direitos humanos
Iniciativas promissoras e novas tecnologias
6ª ONDA
para aprimorar o acesso à justiça.9

Mas pessoal, MUITA ATENÇÃO!

Comparando as ondas de acesso à justiça criadas por Mauro Cappelletti e Bryan


Gart10e o livro da examinadora de Constitucional, observamos que há um conflito de
temas na 7ª onda.

CAPPELLETTI E Desigualdade de gênero e raça nos


7ª onda
GART sistemas de justiça

MARIANA Acesso à ordem jurídica justa


CARVALHO DE 7ª onda globalizada. Proteção multinível dos
PAULA DE LIMA direitos humanos.

8
https://www.editoradplacido.com.br/a-7-onda-de-acesso-a-justica-acesso-a-ordem-
juridica-justa-globalizada
9
https://www.conjur.com.br/2023-jan-08/marcos-oliveira-sete-ondas-renovatorias-
acesso-justica
10
Panorama do Livro – Global Access to Justice Project

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A aparente confusão se dá porque as ondas 5, 6 e 7ª elaboradas por Gart e


Cappelletti, aparentemente são propostas, sem confirmação ainda.

Entendemos que é difícil a cobrança da 7ª onda de acesso à justiça, justamente


pela divergência dos autores, mas caso seja cobrada, atentar-se ao enunciado para
verificar se trará o autor ou um contexto de adequação ao tema.

.QUESTÃO 27 – Acerca da população quilombola, assinale a alternativa incorreta:

a) Compete à Justiça estadual processar e julgar causa quando não se verifica, da


atuação de indiciado que se autodeclara quilombola, disputa alguma por terra
quilombola ou interesse da comunidade na ação delituosa.
b) Lei estadual pode autorizar a exploração dos serviços ou do uso de áreas para
ecoturismo e exploração de madeireira ou de subprodutos florestais, desde que
respeitada a legislação ambiental e desde que não incida sobre áreas indígenas
ou de quilombolas.
c) O Decreto 4.887/2003, que regulamentava o procedimento de titulação das
terras ocupadas por remanescentes de quilombos, foi considerado
inconstitucional pelo STF por considerar que a norma não respeitou a
autodeclaração como critério de identificação, nem seguiu as recomendações
da Convenção 169 da OIT acerca da consulta prévia sobre demarcação das
terras.
d) O art. 68 do ADCT, que confere a propriedade definitiva aos quilombolas que
estejam ocupando suas terras tem eficácia plena e aplicabilidade imediata.
e) A União deverá figurar como litisconsorte necessária em ação na qual se discute
com particulares se determinada área é remanescente das comunidades dos
quilombos (art. 68 do ADCT), mesmo que na ação já exista a presença da
Fundação Cultural Palmares (fundação federal).

Gabarito: C
Comentários:

Pessoal, diante da presença do tópico de povos tradicionais dentro do ponto


de Constitucional, trouxemos essa questão envolvendo o direito das comunidades
quilombolas.

O Decreto nº 4.887/2003 regulamenta o procedimento para identificação,


reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por
remanescentes das comunidades dos quilombos.

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De acordo com o art. 2º do Decreto 4.887/03, consideram-se remanescentes


das comunidades dos quilombos os grupos étnico-raciais, segundo critérios de auto-
atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas,
com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão
histórica sofrida.

Sendo assim, diante relação própria com o território que ocupam, por
representar a sua reprodução física, social, econômica e cultural, deve haver uma
proteção especial a essas terras.

Nesse sentido, o art. 68 do ADCT, reconhecendo a resistência quilombola ao


regime escravista, determinou:

Art. 68. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que


estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade
definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos.

Diversamente do regime atribuído aos povos indígenas (posse permanente e


usufruto), aos remanescentes de quilombos foi reconhecida a propriedade das terras
que ocupam.

Além disso, cabe ressaltar que no julgamento da ADI 3239/DF, o STF não
acolheu a tese do marco temporal aos povos quilombolas. Ou seja, mesmo que na data
da promulgação da CF/88 a terra não mais estivesse sendo ocupada pelas comunidades
quilombolas, é possível, em tese, que seja garantido o direito previsto no art. 68 do
ADCT.

Segundo o Decreto 4.887/03, o reconhecimento como quilombola é por meio


da AUTODECLARAÇÃO, privilegiando o senso de pertencimento do indivíduo na
comunidade.

Dessa forma, orientamos a leitura do Decreto 4.887/03 para melhor


compreensão do procedimento de demarcação, reconhecimento e titulação das terras
ocupadas pelos remanescentes das comunidades quilombolas.

Por outro lado, também sobre o tema povos originários e tradicionais, a


Convenção nº 169 da OIT é obrigatória. Ela trata expressamente da proteção dos direitos
de povos originários, ressaltando seus valores, práticas sociais/culturais/religiosas, além
do direito de consulta prévia e livre, cada vez que sejam previstas medidas legislativas
ou administrativas suscetíveis de afetá-Ios diretamente.

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Sobre as alternativas, todas são referentes a julgados dos Tribunais Superiores,


vejamos:

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA! 🚨


Info. 777/STJ - Compete à Justiça estadual processar e julgar causa quando não se verifica,
da atuação de indiciado que se autodeclara quilombola, disputa alguma por terra
quilombola ou interesse da comunidade na ação delituosa.
Em casos assemelhados, referentes a povos indígenas, o Supremo Tribunal Federal e esta
Corte já esclareceram que a competência será da Justiça Federal nos feitos que versem
acerca de questões ligadas à cultura ou disputas de interesses das comunidades indígenas.
No caso, porém, não se verifica, da atuação do indiciado, disputa alguma por terra
quilombola ou interesse da comunidade na ação delituosa. O fato de o investigado se
autodeclarar quilombola, por si só, não atrai a competência da Justiça Federal, isso porque
não há nos autos elementos que evidenciem que os crimes ambientais perpetrados foram
em detrimento do interesse direto e específico da União, de suas entidades autárquicas ou
de empresas públicas federais. Assim, se não se verifica lesão a bens, serviços ou interesses
da União ou de seus entes, afasta-se a competência da Justiça Federal.
Nesse sentido, "o mero fato de índio figurar como autor do delito ambiental, sem nenhuma
conotação especial, não enseja o deslocamento da causa para a Justiça Federal, conforme
enunciado da Súmula n° 140/STJ" (CC 93.120/AM, rel. Ministro Jorge Mussi, Terceira Seção,
julgado em 9/6/2010, DJe 17/6/2010). CC 192.658-RO, Rel. Ministra Laurita Vaz, Terceira
Seção, por unanimidade, julgado em 10/5/2023, DJe 16/5/2023.

Info 1095/STF - Lei estadual pode autorizar a exploração dos serviços ou do uso de áreas
para ecoturismo e exploração de madeireira ou de subprodutos florestais, desde que
respeitada a legislação ambiental e desde que não incida sobre áreas indígenas ou de
quilombolas. Teses fixadas pelo STF:
1. É constitucional norma estadual que, sem afastar a aplicação da legislação nacional em
matéria ambiental (inclusive relatório de impacto ambiental) e o dever de consulta prévia às
comunidades indígenas e tradicionais, quando diretamente atingidas por ocuparem zonas
contíguas, autoriza a concessão à iniciativa privada da exploração de serviços ou do uso de
bens imóveis do Estado;
2 A concessão pelo Estado não pode incidir sobre áreas tradicionalmente ocupadas por povos
indígenas, remanescentes quilombolas e demais comunidades tradicionais.
STF. Plenário. ADI 7.008/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 22/05/2023 (Info 1095).

Info 890/STF - Constitucionalidade do Decreto 4.887/2003, que regulamenta o


procedimento para titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos
quilombos. O art. 68 do ADCT estabelece que “aos remanescentes das comunidades dos
quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva,
devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos.”

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Em 2003, foi editado o Decreto nº 4.887, com o objetivo de regulamentar o procedimento


para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras
ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos.
O STF entendeu que este Decreto não invadiu esfera reservada à lei. O objetivo do Decreto
foi tão somente o de regular o comportamento do Estado na implementação do comando
constitucional previsto no art. 68 do ADCT. Houve o mero exercício do poder regulamentar
da Administração, nos limites estabelecidos pelo art. 84, VI, da Constituição.
O art. 2º, caput e § 1º do Decreto nº 4.887/2003 prevê como deve ser o critério utilizado pelo
Poder Público para a identificação dos quilombolas. O critério escolhido foi o da
autoatribuição (autodefinição). O STF entendeu que a escolha do critério desse critério não
foi arbitrária, não sendo contrária à Constituição.
O art. 2º, §§ 2º e 3º, do Decreto preconiza que, na identificação, medição e demarcação das
terras dos quilombolas devem ser levados em consideração critérios de territorialidade
indicados pelos remanescentes das comunidades dos quilombos. O STF afirmou que essa
previsão é constitucional. Isso porque o que o Decreto está garantindo é apenas que as
comunidades envolvidas sejam ouvidas, não significando que a demarcação será feita
exclusivamente com base nos critérios indicados pelos quilombolas.
O art. 13 do Decreto, por sua vez, estabelece que o INCRA poderá realizar a desapropriação
de determinadas áreas caso os territórios ocupados por remanescentes das comunidades
dos quilombos estejam situados em locais pertencentes a particulares. O STF reputou válida
essa previsão tendo em vista que, em nenhum momento a Constituição afirma que são nulos
ou extintos os títulos eventualmente incidentes sobre as terras ocupadas por remanescentes
das comunidades dos quilombos. Assim, o art. 68 do ADCT, apesar de reconhecer um direito
aos quilombolas, não invalida os títulos de propriedade eventualmente existentes, de modo
que, para que haja a regularização do registro em favor das comunidades quilombolas,
exige-se a realização do procedimento de desapropriação.
O STF reconheceu como norma fundamental de eficácia imediata o direito às comunidades
remanescentes de quilombos, à propriedade das terras historicamente ocupadas por elas.
A decisão não apenas conformou o alcance da interpretação do art. 68 do ADTC, como
constituiu veículo de realização de duas dimensões contemporâneas do conceito de justiça:
o reconhecimento e a redistribuição
Por fim, o STF não acolheu a tese de que somente poderiam ser consideradas terras de
quilombolas aqueles que estivessem sendo ocupadas por essas comunidades na data da
promulgação da CF/88 (05/10/1988). Em outras palavras, mesmo que, na data da
promulgação da CF/88, a terra não mais estivesse sendo ocupada pelas comunidades
quilombolas, é possível, em tese, que seja garantido o direito previsto no art. 68 do ADCT.
STF. Plenário. ADI 3239/DF, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red. p/ o ac. Min. Rosa Weber, julgado
em 8/2/2018 (Info 890) – MUITA ATENÇÃO, esse julgado caiu na prova oral DPE/PA.

Info 497/STJ - A União deverá figurar como litisconsorte necessária em ação na qual se
discute com particulares se determinada área é remanescente das comunidades dos
quilombos (art. 68 do ADCT), mesmo que na ação já exista a presença da Fundação Cultural
Palmares (fundação federal). STJ. 3ª Turma. REsp 1116553-MT, Rel. Min. Massami Uyeda,
julgado em 17/5/2012 (Info 497).

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.QUESTÃO 28 – A respeito do controle de constitucionalidade, assinale a alternativa


correta:

a) Normas municipais não podem ser objeto de controle de constitucionalidade


difuso, tendo como parâmetro a Constituição Federal.
b) Quando se trata de análise de não recepção de norma pré-constitucional, é
necessário respeitar a cláusula de reserva de plenário, bem como é necessário
julgamento por maioria absoluta. Ao final, poderá haver modulação dos efeitos
da decisão.
c) No controle difuso de constitucionalidade, os efeitos da decisão são inter
partes e ex tunc podendo ser feita modulação temporal, respeitados os
requisitos estabelecidos para o controle concentrado de constitucionalidade,
quais sejam, segurança jurídica ou excepcional interesse social, e aprovação
por maioria de dois terços.
d) O STF, ao julgar as ações de controle abstrato de constitucionalidade, está
vinculado aos fundamentos jurídicos invocados pelo autor. Assim, apenas o
dispositivo da CF/88 indicado pelo autor poderá ser utilizado pelo STF como
fundamento jurídico para declarar uma lei ou ato normativo inconstitucional.
e) O Tribunal de Justiça não pode julgar ADI contra lei municipal tendo como
parâmetro a Constituição Federal, em nenhuma hipótese.

Gabarito: C
Comentários:

Controle de constitucionalidade também é um tema frequente em provas de


concurso, incluindo o controle concentrado e difuso e as peculiaridades de cada um.
Quanto à assertiva “a”, está incorreta, porque o controle difuso pode ser feito
por qualquer juiz ou Tribunal, e pode ter como objeto normas federais, estaduais ou
municipais.
No que se refere à alternativa “b”, está incorreta porque a análise de não-
recepção não demanda respeito à cláusula de reserva de plenário. Além disso, nesse
caso não cabe modulação temporal, porque se entende que a norma não é compatível
com a Constituição desde a entrada em vigor desta.
Vamos fazer uma breve revisão:
- CLÁUSULA DA RESERVA DE PLENÁRIO (full bench): art. 97 da CF - determinadas
matérias são reservadas exclusivamente à competência do plenário, ou do órgão
especial constituído:

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CF, Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo
órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder
Público.

Atenção: Essa cláusula só se aplica aos tribunais. Não se aplica aos juízes
singulares, nem às turmas recursais.

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA!


Súmula vinculante nº 10: Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de
órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente, a inconstitucionalidade
de lei ou ato normativo do Poder Público, afasta sua incidência, no todo ou em parte.

Não viola a cláusula, nem a súmula, a decisão do órgão fracionário do Tribunal


que deixa de aplicar a norma infraconstitucional por entender não haver subsunção aos
fatos ou no caso em que a incidência seja resolvida mediante a sua interpretação, sem
potencial ofensa direta à Constituição.
Ademais, são exceções à cláusula de reserva de plenário:
a) interpretação conforme à Constituição;
b) declaração de constitucionalidade da norma;
c) análise do direito pré-constitucional (recepção ou não recepção);
d) atos de efeito concreto.
e) decisões monocráticas cautelares.
f) causas que já tenham sido submetidas à reserva de plenário anteriormente ou ao
plenário do STF.
Agora uma revisão rápida do controle difuso de constitucionalidade:

➔ Objeto

Podem ser objeto do controle difuso de constitucionalidade as leis ou atos


normativos federais, estaduais, distritais e municipais, após a Constituição Federal de
1988.

➔ Competência

Podem realizar o controle difuso de constitucionalidade todo e qualquer juiz ou


tribunal.

➔ Legitimidade ativa

Qualquer pessoa que seja parte pode suscitar.

➔ Quórum

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Se o processo tramitar nos Tribunais, é preciso observar a cláusula de reserva de


plenário. Lembrando – mais uma vez - que o órgão fracionário pode decidir, sem
necessidade de observância da cláusula de reserva de plenário:

a) Quando o próprio tribunal já possuir um entendimento nesse sentido (ou seja,


essa questão já foi debatida pelos membros do tribunal em momento anterior);

b) Quando o STF já tiver um entendimento consolidado nesse sentido.

➔ Efeitos:

Temporais: ex tunc, pois é realizado um juízo semelhante ao de nulidade. Porém, há


precedentes que permitem a modulação dos efeitos, nos termos da Lei 9.868/99:

Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de
segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria
de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha
eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado

Subjetivos: inter partes

Lembrar da previsão do art. 52, X, CF, que permite a produção de efeitos erga
omnes quando houver resolução do Senado Federal:

Art. 52, CF. Compete privativamente ao Senado Federal: [...]

X - suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva
do Supremo Tribunal Federal;11

Ademais, o STF entende que a causa de pedir é aberta nas ações do controle
abstrato de constitucionalidade:

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA!

Info 856-STF: O STF, ao julgar as ações de controle abstrato de constitucionalidade, não está
vinculado aos fundamentos jurídicos invocados pelo autor. Assim, pode-se dizer que na ADI,
ADC e ADPF, a causa de pedir (causa petendi) é aberta. Isso significa que todo e qualquer
dispositivo da CF/88 ou do restante do bloco de constitucionalidade poderá ser utilizado pelo
STF como fundamento jurídico para declarar uma lei ou ato normativo inconstitucional. STF.
ADI 3796/PR, 2017 (Info 856).

E em relação ao controle de constitucionalidade de leis municipais, em âmbito


estadual, tendo como parâmetro a Constituição Federal Ademais, o STF entende que é
cabível, desde que se trate de norma constitucional de reprodução obrigatória na
Constituição Estadual:

11
Vale lembrar: o art. 52, X, da CF é o maior exemplo de mutação constitucional reconhecida pelo STF.

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SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA!

Tribunais de Justiça podem exercer controle abstrato de constitucionalidade de leis municipais


utilizando como parâmetro normas da Constituição Federal, desde que se trate de normas de
reprodução obrigatória pelos estados.
STF. RE 650898-RS, Plenário. Rel. originário Min. Marco Aurélio, Rel. para acórdão Min. Roberto
Barroso, julgado em 01/02/2017 (repercussão geral).

.QUESTÃO 29 – A respeito do processo de reforma da Constituição, assinale a alternativa


incorreta:

a) A Constituição poderá ser emendada mediante proposta de no mínimo 1/3 dos


membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, do Presidente da República,
ou de mais da metade das Assembleias Legislativas, cada uma pela maioria relativa dos
membros.

b) Após aprovação da emenda constitucional pelo quórum de 3/5 na Câmara dos


Deputados e no Senado Federal, em dois turnos, será sancionada pelo Presidente da
República para ter vigência em todo o território nacional.

c) Além das cláusulas pétreas expressamente previstas na Constituição, há também


cláusulas pétreas implícitas, que se referem à identidade da Constituição. São exemplos
disposições relativas ao exercício da democracia.

d) A elaboração de emendas constitucionais possui limitações formais, materiais,


circunstanciais e temporais, além de limitações relacionadas à iniciativa.

e) Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir a forma


federativa de Estado, o voto direto, secreto, universal e periódico, a separação dos
Poderes e os direitos e garantias individuais.

Gabarito: B

Comentários:

A questão pode ser resolvida a partir da leitura da Constituição, conjugada com


alguns conceitos doutrinários.
De acordo com o art. 60, CF:

Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta (limitação de iniciativa):

I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal;

II - do Presidente da República;

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III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada
uma delas, pela maioria relativa de seus membros.

§ 1º A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa
ou de estado de sítio (limitações circunstanciais).

§ 2º A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos,
considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros
(limitações formais).

§ 3º A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal, com o respectivo número de ordem.

§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir (limitações materiais –
cláusulas pétreas):

I - a forma federativa de Estado;

II - o voto direto, secreto, universal e periódico;

III - a separação dos Poderes;

IV - os direitos e garantias individuais.

§ 5º A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser
objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa (limitação temporal).

Quanto às cláusulas pétreas implícitas, tratam-se de temas ínsitos à identidade


básica da Constituição. O que foi idealizado pelo poder constituinte originário deve ser
tido como limitação ao poder de emenda. São exemplos:
a) titular do poder constituinte e do poder reformador (não pode ele mesmo fazer
delegações);
c) Procedimento de aprovação de emendas constitucionais;
d) fundamentos e objetivos da República Federativa do Brasil;
e) mecanismos de democracia direta;
f) democracia;
g) cláusula de inesgotabilidade dos direitos fundamentais: o rol de direitos fundamentais
expressos não impede o reconhecimento de outros.
O erro da assertiva consiste na inexistência de sanção ou veto. Ou seja,
diferentemente dos projetos de lei, a única participação do Presidente da República no
processo de emenda constitucional refere-se à sua prerrogativa de iniciar o
procedimento.

.QUESTÃO 30 – Sobre o incidente de deslocamento de competência (IDC):

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I. Caberá ao STJ ou ao STF, a depender da temática, fazer o juízo


de admissibilidade do incidente, com a verificação dos
requisitos constitucionais de cabimento do pedido.
II. O STJ, ao apreciar os incidentes de deslocamento de
competência levados a seu juízo, além dos dois requisitos
prescritos pelo art. 109, § 5º, da Constituição – grave violação
de direitos humanos e a finalidade de assegurar o
cumprimento pelo Brasil, de obrigações decorrentes de
tratados internacionais -, tem exigido a presença de um
terceiro requisito: a incapacidade das instâncias e
autoridades locais em oferecer respostas efetivas
III. De modo exclusivo, será competente o Procurador-Geral da
República a autoridade responsável por suscitar o IDC
IV. Em 2021, foi julgado procedente o IDC n. 21; deslocando para
a Justiça Federal a competência para a condução de
investigações e ações penais já ajuizadas contra autoridades
policiais supostamente responsáveis pelas chacinas ocorridas
na Favela Nova Brasília no Estado do Rio de Janeiro.

Estão corretas somente as assertivas:

a) III e IV
b) II, III e IV
c) II e III.
d) I e IV
e) I, II, III e IV

Gabarito: B

Comentários:

Como forma de prevenção da responsabilidade internacional por violação de DH, foi


implementado o mecanismo de incidente de deslocamento de competência (IDC)

Em reforma constitucional – EC n. 45/04, a CRFB passa a prever a possibilidade de


intervenção federal nos Estados visando assegurar os direitos da pessoa humana (art.
34, VII, b) e a competência da Justiça Federal para julga causas relativas à direitos
humanos (art. 109, V-A §5)

FINALIDADE do IDC

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• IDC destina-se assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de


tratados internacionais de DH dos quais o Brasil seja parte, sendo instrumento
de prevenção de responsabilidade internacional por violação de DH

PRESSUPOSTOS do IDC - cumulativos

• Hipótese de grave violação de DH


• Risco concreto de responsabilização internacional

LEGITIMIDADE ATIVA – IDC deve ser suscitado pelo Procurador Geral da República

COMPETÊNCIA – STJ

 IMPROCEDENTE – IDC n. 21: Em 2021, no IDC nº 21, o STJ também julgou


improcedente o pedido apresentado pela PGR em busca de deslocar para a Justiça
Federal a competência para a condução de investigações e ações penais já ajuizadas
contra autoridades policiais supostamente responsáveis pelas chacinas ocorridas na
Favela Nova Brasília no Estado do Rio de Janeiro. Entendeu-se que não havia sido
evidenciada a incapacidade, ineficácia, omissão ou mesmo inércia da Justiça estadual,
no desempenho da função de apuração, processamento e julgamento do caso.

 IDC n. 9 – o STJ decidiu federalizar o caso dos homicídios ocorridos em maio e


dezembro de 2006, na cidade de São Paulo, que ficou conhecido como Chacina do
Parque Bristol, no contexto do Maio Sangrento, em represália à rebelião nos presídios
paulistas

 CONSTITUCIONALIDADE DO IDC

STF, julgamento conjunto das ADI 3.486 e ADI 3.493, finalizado em 12-09-2023.
É constitucional a inclusão do §5, do art. 109, da CRFB/88, feita pela EC n.45/04 (IDC)
Em primeiro lugar, foi constatada ausência de ofensa ao pacto federativo, pois o IDC
meramente realiza modificação das regras de competência jurisdicional. O Poder
Judiciário nacional é uno, não existindo diferentes "Judiciários estaduais ou federais",
mas sim apenas uma diversidade administrativa sujeita à coordenação do Conselho
Nacional de Justiça. Não houve ofensa ao devido processo legal e ao princípio do juiz
natural pelo "deslocamento", uma vez que o próprio texto constitucional convive com
tal instituto. Para o ministro Fachin, os entes federados detêm uma autonomia
funcionalizada, subordinada à realização dos direitos humanos, não podendo
nenhuma disposição da Constituição ser invocada para "justificar a ineficiência
estatal". Frise-se que o ministro relator Dias Toffoli destacou que as graves violações de

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direitos humanos anteriores à EC 45 não podem ser objeto do IDC, pois "houvesse tal
possibilidade, aí, sim, se estaria diante de nítido juízo ex post facto". O uso do conceito
indeterminado "grave violação de direitos humanos" está sujeito ao crivo do STJ e,
posteriormente, ao do STF na via do recurso extraordinário. Além do crivo judicial, há
caso semelhante adotado pelo Poder Constituinte originário que é a autorização de
intervenção federal por violação dos "direitos da pessoa humana" (artigo 34, VII, b, da
CF): não se listou quais seriam esses "direitos da pessoa humana" e nunca houve ameaça
ao federalismo. Além disso, a expressão "grave violação de direitos humanos" permite
densificação, podendo se subsumir em ofensa de grande impacto a direitos humanos
previstos nas normas internacionais de direitos humanos vinculantes ao Brasil. O relator
ministro Dias Toffoli destacou que certa indeterminação no IDC é incontornável, pois
seria impossível o legislador elencar "todas as situações concretas passíveis de
ocorrência no mundo fenomênico e que causem grave violação dos direitos humanos".
Ou seja, o conceito é indeterminado, não sendo parte de um rol taxativo, mas é
determinável a partir da baliza acima exposta. Já a atuação do procurador-geral da
República não pode ser vista como fonte de arbítrio, uma vez que seu poder-dever
encontra balizas constitucionais, que serão, depois, aferidas pelo STJ. O ministro relator
Dias Toffoli expressamente afastou, como requisito de deferimento do IDC, a
comprovação da inércia, negligência, falta de vontade política ou de condições das
instituições do sistema policial e de justiça do ente federado. Tal requisito não consta
da EC 45/04, mas foi imposto pela prática do STJ desde o IDC nº 01 (a chamada "Doutrina
Stang"). Tal requisito, além de não constar do texto da EC 45, desconsidera que o risco
de violação das obrigações internacionais possa decorrer de outros fatores, como, por
exemplo, a existência de caso na iminência de ser apreciado em um Tribunal
internacional. Nesse sentido, o ministro Toffoli apontou que o IDC pode ser manejado
de forma preventiva, ou seja, antes mesmo que haja a constatação da ineficiência ou
inércia das autoridades policiais, ministeriais ou judiciais do ente federado. Desde o Caso
Dorothy Stang (IDC nº 1), o STJ indeferiu em vários casos o deslocamento justamente
por considerar que a PGR não havia provado a desídia ou incapacidade dos órgãos do
sistema policial ou de justiça do ente federado, como ocorreu no caso Marielle Franco
e Anderson Gomes (IDC nº 24).Além de condizente com a finalidade constitucional, o
incidente de deslocamento, como já salientado anteriormente, deixa de ter como
fundamento uma suposta debilidade da Justiça estadual ou uma putativa superioridade
da Justiça Federal, fincando-se na máxima proteção dos direitos humanos e na
possibilidade de a União atuar, inclusive internamente, como garantidora do
cumprimento das obrigações internacionais assumidas pelo Estado brasileiro. Dessa
forma, para além dos casos de ineficiência do aparato estadual, o incidente se justifica
por fatores outros que estejam pondo ou possam pôr em ameaça o cumprimento de
normas internacionais.

.QUESTÃO 31 – Sobre o Transconstitucionalismo, assinale a alternativa incorreta:

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a) O transconstitucionalismo faz emergir uma “fertilização constitucional cruzada”


b) Em um sistema jurídico mundial de níveis múltiplos, o transconstitucionalismo
está relacionado, de maneira direta ou indireta, com problemas de direitos
fundamentais ou de direitos humanos
c) Os problemas dos direitos fundamentais ultrapassam fronteiras, de tal maneira
que o direito constitucional estatal passou a ser uma instituição limitada para
enfrentar esses problemas
d) O transconstitucionalismo não implica o reconhecimento dos limites de
observação de uma determinada ordem jurídica
e) Entrelaçamentos transconstitucionais podem apresentar-se, simultaneamente,
entre ordens estatais, supranacionais, internacionais, transnacionais e locais,
sempre que um problema jurídico constitucional lhes seja relevante em um
determinado caso.

Gabarito: D

Comentários:

Pessoal, em nossa análise da Banca, destacamos alguns temas de predileção da


nossa examinadora de Constitucional, Mariana Carvalho de Paula de Lima. Dentre suas
atuações, realizou palestra sobre “releitura transconstitucional para instituições
públicas nacionais”12.

Sobre o tema “transconstitucionalismo”, temos que observar seus delineamentos feitos


pelo Marcelo Neves, referência nesta temática. As alternativas corretas, foram todas
transcritas de seu livro13 e artigos públicos14.

O transconstitucionalismo aponta para o fato de que surgem cada vez mais questões
que poderão envolver instâncias estatais, internacionais, supranacionais e
transnacionais (arbitrais), assim como instituições jurídicas locais nativas, na busca da
solução de problemas tipicamente constitucionais

• Correta alternativa “a”: o transconstitucionalismo faz emergir uma “fertilização


constitucional cruzada”

• Correta alternativa “b”: em um sistema jurídico mundial de níveis múltiplos, o


transconstitucionalismo está relacionado, de maneira direta ou indireta, com
problemas de direitos fundamentais ou de direitos humanos

12
https://www.jusbrasil.com.br/noticias/defensores-publicos-mineiros-palestram-em-congresso-
mundial-sobre-filosofia-do-direito-na-suica/734627685

13
NEVES, Marcelo. Transconstitucionalismo. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

14
https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/51/201/ril_v51_n201_p193.pdf

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• Correta alternativa “c”: os problemas dos direitos fundamentais ultrapassam


fronteiras, de tal maneira que o direito constitucional estatal passou a ser uma
instituição limitada para enfrentar esses problemas

• ERRADA alternativa “d”: O transconstitucionalismo não IMPLICA o


reconhecimento dos limites de observação de uma determinada ordem jurídica

• Correta alternativa “e”: Entrelaçamentos transconstitucionais podem


apresentar-se, simultaneamente, entre ordens estatais, supranacionais,
internacionais, transnacionais e locais, sempre que um problema jurídico
constitucional lhes seja relevante em um determinado caso.
.QUESTÃO 32 – Acerca das competências legislativas, assinale a alternativa incorreta:

a) É constitucional lei estadual que fixa distância mínima entre presídios e


contingente máximo da população carcerária.
b) Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que impede a instalação
de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada área.
c) É constitucional – formal e materialmente – lei municipal que proíbe a soltura de
fogos de artifício e artefatos pirotécnicos produtores de estampidos.
d) É constitucional lei estadual que estabelece obrigações contratuais para
operadoras de planos de saúde com o objetivo de proteger pessoas com
deficiência.
e) É inconstitucional lei estadual que obriga as empresas concessionárias de
energia elétrica a expedirem notificação com aviso de recebimento para a
realização de vistoria técnica no medidor de usuário residencial.

Gabarito: D

Comentário:

Essa temática têm muitos entendimentos jurisprudenciais e é constantemente


abordada em provas objetivas.

Quanto a alternativa A: É constitucional lei estadual que fixa distância mínima


entre presídios e contingente máximo da população carcerária.

Essa lei está de acordo com o direito social à segurança (art. 6º, da CF/88), com
o direito de propriedade (art. 5º, “caput” e XXII) e com o princípio da proporcionalidade.
Além disso, não viola a competência da União para legislar sobre direito civil (art. 22, I).
Isso porque a ampliação ou construção de unidades prisionais constitui matéria de
direito penitenciário, cuja competência legislativa é concorrente (art. 24, I).
87
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Caso concreto: lei do Estado do Espírito Santo (Lei estadual 6.191/2000) proibiu
a construção de presídio dentro do raio de 20km quilômetros de outros já existentes e
a ampliação dos edifícios prisionais com capacidade para 500 detentos. O STF julgou
constitucional essa norma, que objetiva garantir a dignidade dos presos e a segurança
tanto deles quanto dos habitantes do entorno das unidades prisionais.

Ademais, em se tratando de bem público, o direito de propriedade encontra


limites, seja na função social, seja no interesse coletivo, que impõe balizas ao
administrador para o uso, gozo e disposição da propriedade.

Na espécie, a lei capixaba não restringe o investimento do estado em segurança


pública, mas apenas estabelece parâmetros a serem observados pela Administração
Pública estadual, com a imposição de restrições adequadas, necessárias e proporcionais.
Isso porque elas consideram os riscos da superlotação carcerária para a integridade
física e mental dos presidiários, bem assim a dificuldade de o Estado dispor de outras
medidas administrativas com o mesmo potencial de eficácia, levando-o a utilizar meio
menos gravoso de controle da população carcerária e de garantia do bem-estar dos
detentos e da segurança da população local.

STF. Plenário. ADI 2.402/ES, Rel. Min. Nunes Marques, julgado em 26/6/2023
(Info 1101).

Alternativa B - Súmula Vinculante 49: Ofende o princípio da livre concorrência lei


municipal que impede a instalação de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em
determinada área.

Alternativa C - É constitucional — por dispor sobre a proteção do meio ambiente


e a proteção e defesa da saúde, matérias de competência legislativa concorrente entre
a União, estados e DF (art. 24, VI e XII, CF/88), e estabelecer restrição necessária,
adequada e proporcional no âmbito de sua competência suplementar e nos limites de
seu interesse local (art. 30, I e II, CF/88) — lei municipal que veda a soltura de fogos de
artifício e artefatos pirotécnicos produtores de estampidos.

Tese fixada pelo STF: É constitucional – formal e materialmente – lei municipal


que proíbe a soltura de fogos de artifício e artefatos pirotécnicos produtores de
estampidos. STF. Plenário. RE 1.210.727/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 9/5/2023
(Repercussão Geral – Tema 1056) (Info 1093).

Alternativa D - Compete à União regular o mercado de planos de saúde, o que


inclui a normatização da matéria (art. 22, VII, CF/88), bem como toda a fiscalização do
setor (art. 21, VIII, CF/88).

Tese fixada pelo STF: “É inconstitucional, por violação à competência da União para
legislar sobre direito civil e seguros (art. 22, I e VII, CF/88), lei estadual que estabelece

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obrigações contratuais para operadoras de planos de saúde.”. STF. Plenário. ADI


7208/MT, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/3/2023 (Info 1088).

Alternativa E - É inconstitucional — por violação à competência da União para


explorar os serviços e instalações de energia elétrica e para legislar sobre energia (arts.
21, XVII, “b”; 22, IV; e 175, parágrafo único, CF/88) — lei estadual que obriga as
empresas concessionárias de energia elétrica a expedirem notificação com aviso de
recebimento para a realização de vistoria técnica no medidor de usuário residencial.

STF. Plenário. ADI 3703/RJ, Rel. Min. Edson Fachin, redator do acórdão Min. Gilmar
Mendes, julgado em 6/3/2023 (Info 1085).

Agora alguns outros entendimentos importantes sobre a temática:

SE TEM JURIS TÁ NA PROVA! 🚨


É inconstitucional lei estadual que proíba os planos de saúde de restringir tratamentos para
pessoas com autismo e com deficiência. É inconstitucional, por ofensa à competência
privativa da União para legislar sobre direito civil e política de seguros (art. 22, I e VII, da
CF/88), lei estadual que veda, no âmbito de seu território, operadoras de plano de saúde de
limitarem consultas e sessões para o tratamento de pessoas com deficiência.

STF. Plenário. ADI 7172/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 17/10/2022 (Info 1072).

É inconstitucional lei estadual que obriga as operadoras de planos saúde a assegurar


atendimento médico-hospitalar integral e adequado às pessoas com deficiência. É
formalmente inconstitucional lei estadual que estabelece obrigações referentes a serviço de
assistência médico-hospitalar que interferem nas relações contratuais estabelecidas entre as
operadoras de planos de saúde e seus usuários.

STF. Plenário. ADI 7029/PB, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 6/5/2022 (Info 1053).

É inconstitucional lei estadual que estabeleça prazo máximo para que os planos de saúde
autorizem solicitações de exames e procedimentos cirúrgicos. É inconstitucional lei estadual
que estabeleça prazo máximo de 24 horas para as empresas de plano de saúde regionais
autorizarem ou não solicitações de exames e procedimentos cirúrgicos em seus usuários que
tenham mais de 60 anos. Essa lei é inconstitucional por usurpar competência privativa da
União para legislar sobre Direito Civil e política de seguros (art. 22, I e VII, da CF/88).

STF. Plenário. ADI 6452/ES, Rel. Min. Edson Fachin, redator do acórdão Min. Alexandre de
Moraes, julgado em 11/6/2021 (Info 1021).

É inconstitucional lei estadual que obriga planos de saúde a atenderem os clientes com
Covid-19 mesmo que eles estejam no período de carência contratual É inconstitucional
legislação estadual que impeça as operadoras de planos de saúde de recusarem o
atendimento ou a prestação de alguns serviços, no âmbito de seu território, aos usuários
diagnosticados ou suspeitos de estarem com Covid-19, em razão de período de carência

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contratual vigente. Essa norma é inconstitucional por usurpar competência privativa da União
para legislar sobre Direito Civil, Comercial e política de seguros (art. 22, I e VII, da CF/88).

STF. Plenário. ADI 6493/PB, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/6/2021 (Info 1021).

Lei estadual não pode proibir a suspensão de planos de saúde por inadimplência, mesmo
durante a pandemia. Por usurpar a competência da União para legislar privativamente sobre
direito civil e política de seguros, é formalmente inconstitucional lei estadual que estabelece
a possibilidade de o Poder Executivo proibir a suspensão ou o cancelamento de planos de
saúde por falta de pagamento durante a situação de emergência do novo coronavírus (Covid-
19).

STF. Plenário. ADI 6441/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 14/5/2021 (Info 1017).

.QUESTÃO 33 – Acerca do direito à saúde, assinale a alternativa correta:

a) Os entes da federação, em decorrência da competência concorrente, são


solidariamente responsáveis nas demandas prestacionais na área da saúde, e
diante dos critérios constitucionais de descentralização e hierarquização,
compete à autoridade judicial direcionar o cumprimento conforme as regras de
repartição de competências e determinar o ressarcimento a quem suportou o
ônus financeiro.
b) O poder público não pode destinar recursos públicos, na área da saúde, a
instituições privadas.
c) O A concessão dos medicamentos não incorporados em atos normativos do
Sistema Único de Saúde – SUS exige a presença cumulativa dos seguintes
requisitos: (i) comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e
circunstanciado expedido por médico que assiste o paciente, da
imprescindibilidade ou necessidade do medicamento, assim como da
ineficácia, para o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS;
(ii) incapacidade financeira de arcar com o custo do medicamento prescrito;
(iii) existência de registro na ANVISA do medicamento.
d) O Ministério Público não é parte legítima para pleitear tratamento médico ou
entrega de medicamentos nas demandas de saúde propostas contra os entes
federativos quando se tratar de feitos contendo beneficiários individualizados,
porque se refere a direitos individuais.
e) No caso de fornecimento de medicamentos, cabe ao Juiz adotar medidas
eficazes à efetivação de suas decisões, entretanto não poderá determinar o
sequestro de valores do devedor (bloqueio). Uma vez que as contas públicas são
impenhoráveis.

Gabarito: C

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Comentário:

No caso da alternativa A, a competência é comum e não concorrente.

Os entes da federação, em decorrência da competência comum, são


solidariamente responsáveis nas demandas prestacionais na área da saúde, e diante dos
critérios constitucionais de descentralização e hierarquização, compete à autoridade
judicial direcionar o cumprimento conforme as regras de repartição de competências e
determinar o ressarcimento a quem suportou o ônus financeiro. STF. Plenário. RE
855178 ED/SE, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em
23/5/2019 (Info 941).

Já a alternativa B, pode ser encontrada na Constituição Federal:

Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.

§ 1º As instituições privadas poderão participar de forma complementar do


sistema único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público
ou convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos.

§ 2º É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às


instituições privadas com fins lucrativos.

O gabarito da questão (alternativa C) foi retirado no seguinte entendimento


jurisprudencial:

A concessão dos medicamentos não incorporados em atos normativos do


Sistema Único de Saúde – SUS exige a presença cumulativa dos seguintes requisitos: (i)
comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado expedido por
médico que assiste o paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do medicamento,
assim como da ineficácia, para o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo
SUS; (ii) incapacidade financeira de arcar com o custo do medicamento prescrito; (iii)
existência de registro na ANVISA do medicamento. (STJ. 1ª Seção. REsp 1657156-RJ, Rel.
Min. Benedito Gonçalves, julgado em 25/04/2018 – Tema de Recursos Repetitivos 106)

Já as alternativas D e E podem ser resolvidas na leitura da Jurisprudência em


Teses nº 168/STJ:

1) O Ministério Público é parte legítima para pleitear tratamento médico ou


entrega de medicamentos nas demandas de saúde propostas contra os entes
federativos, mesmo quando se tratar de feitos contendo beneficiários individualizados,
porque se refere a direitos individuais indisponíveis, na forma do art. 1º da Lei n.
8.625/1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público). (Tese julgada sob o rito do art.
1.036 do CPC/2015 - TEMA 766)

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6) Tratando-se de fornecimento de medicamentos, cabe ao Juiz adotar medidas


eficazes à efetivação de suas decisões, podendo, se necessário, determinar até mesmo
o sequestro de valores do devedor (bloqueio), segundo o seu prudente arbítrio, e
sempre com adequada fundamentação. (Tese julgada sob o rito do art. 543-C do
CPC/1973 - TEMA 84)

.QUESTÃO 34 – Sobre controle de constitucionalidade e a jurisprudência relacionada ao


tema, responda assinalando o item INCORRETO:

a) A declaração de inconstitucionalidade em recurso extraordinário com


repercussão geral possui efeitos vinculantes e eficácia erga omnes.
b) O controle de constitucionalidade das normas pode ser feito de duas formas
distintas: de modo difuso e incidental ou concentrado e abstrato. Naquele, há,
como regra, os efeitos inter partes e não vinculante.
c) A objetivação do controle difuso consiste na aproximação dos mecanismos de
controle difuso e incidental relativamente àqueles típicos do controle
concentrado e abstrato, com a atribuição de efeitos gerais e em alguns casos
vinculantes às decisões proferidas em sede de controle difuso e incidenta.
d) Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, em ADPF, e tendo
em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá
o STF, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela
declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado
ou de outro momento que venha a ser fixado.
e) Falta às procuradorias jurídicas estaduais e municipais a legitimidade para
interpor recurso em face de acórdão de tribunal de justiça proferido em
representação de inconstitucionalidade.

Gabarito:E
Comentários:

Pessoal, muita atenção ao tema do controle de constitucionalidade! Se liguem nos


julgados cobrados nessa questão:

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA! 🚨

A procuradoria jurídica estadual ou municipal possui legitimidade para interpor


recurso em face de acórdão de tribunal de justiça proferido em representação de
inconstitucionalidade. STF. Plenário. ARE 873804 AgR-segundo-ED-EDv-AgR/RJ, Rel.
Min. Cármen Lúcia, julgado em 13/10/2022 (Info 1072).

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A declaração de inconstitucionalidade em recurso extraordinário com repercussão


geral possui efeitos vinculantes e eficácia erga omnes.
A declaração de inconstitucionalidade, em sede de recurso extraordinário com
repercussão geral, também possui efeitos vinculantes e eficácia erga omnes, da
mesma forma que o julgamento de uma ação de controle abstrato de
constitucionalidade. Se o STF, em recurso extraordinário sob a sistemática da
repercussão geral, decidir que determinada lei é inconstitucional, a resolução do
Senado prevista no art. 52, X, da CF/88 possuirá a finalidade apenas de dar
publicidade para a decisão. Isso significa que, mesmo antes dessa resolução ser
eventualmente editada, a decisão do STF já possui efeitos vinculantes erga omnes.
Houve uma mutação constitucional do art. 52, X, da CF/88, para as decisões
proferidas em recurso extraordinário com repercussão geral.
STF. Plenário. RE 955227/BA, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 8/02/2023
(Repercussão Geral – Tema 885) (Info 1082).
STF. Plenário. RE 949297/CE, Rel. Min. Edson Fachin, redator do acórdão Min.
Roberto Barroso, julgado em 8/02/2023(Repercussão Geral – Tema 881) (Info 1082).

O art. 27 da Lei nº 9.868/98 possibilitou que o STF, ao declarar a


inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, module os efeitos dessa decisão tendo
em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social:

Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato


normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de
excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal
Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir
os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia
a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que
venha a ser fixado.

O item C trata do fenômeno da objetivação do controle difuso. Sobre o tema,


esclarece a Professora Ana Paula de Barcellos:

“Na realidade, e como já referido, há em curso no país um


processo de aproximação dos mecanismos de controle difuso e
incidental relativamente àqueles típicos do controle concentrado
e abstrato, e essa aproximação se dá, principalmente, por meio
do que se denomina ‘objetivação’ do controle difuso e incidental,
isto é, a atribuição de efeitos gerais e em alguns casos
vinculantes às decisões proferidas em sede de controle difuso e
93
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incidental”. (Curso de Direito Constitucional. Rio de Janeiro:


Gen/Forense, p. 677)

Deste modo, item E é o que deve ser assinalado.

.QUESTÃO 35 – Sobre a tratativa constitucional da Defensoria Pública e julgados


correlatos, assinale item correto:

a) É devido o pagamento de honorários sucumbenciais à Defensoria Pública,


quando representa parte vencedora em demanda ajuizada contra qualquer ente
público, inclusive aquele que integra, podendo tal valor ser destinado ao
aparelhamento das Defensorias Públicas ou para rateio entre os membros da
instituição.
b) A norma estadual que fixa o tempo de serviço público no ente federado ou o
tempo de serviço público em geral como critério de desempate na aferição da
antiguidade para a promoção e a remoção dos defensores públicos locais é
legítima, não configurando ofensa à competência do legislador complementar
nacional para tratar sobre o tema.
c) O STF entendeu pela constitucionalidade de fixação, por via judicial, de lotação
de defensor público, ainda que não coincida com os critérios prefixados pela
própria instituição, sem que se possa falar em ofensa à autonomia administrativa
das Defensorias Públicas.
d) Conforme entendimento do STJ, o Poder Judiciário não pode impor a
nomeação de Defensores Públicos para atuar em processos da Justiça Militar
em discordância dos critérios de alocação de pessoal do órgão.
e) O STF se posiciona pela inconstitucionalidade na decisão estatal de instituir um
órgão composto por agentes que satisfaçam determinados requisitos de
capacidade técnica e institucional.

Gabarito: D
Comentários:

O tratamento jurídico destinado à Defensoria Pública é tema que sempre


marca presença nas provas. Vamos rever os julgados recentes sobre o assunto:

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA! 🚨

Info 1100 - STF - 1. É devido o pagamento de honorários sucumbenciais à Defensoria


Pública, quando representa parte vencedora em demanda ajuizada contra qualquer

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ente público, inclusive aquele que integra; 2. O valor recebido a título de honorários
sucumbenciais deve ser destinado, exclusivamente, ao aparelhamento das
Defensorias Públicas, vedado o seu rateio entre os membros da instituição.STF.
Plenário. RE 1.140.005/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 26/6/2023
(Repercussão Geral – Tema 1002) (Info 1100).

Info 1092 - STF - É inconstitucional norma estadual que fixa o tempo de serviço
público no ente federado ou o tempo de serviço público em geral como critério de
desempate na aferição da antiguidade para a promoção e a remoção dos defensores
públicos locais. Essa norma afronta a competência do legislador complementar
nacional para tratar sobre o tema (arts. 61, § 1º, II, “d”; 93; e 134, §§ 1º e 4º, CF/88),
além de violar o princípio da isonomia (arts. 5º, “caput”; e 19, III, CF/88). STF.
Plenário. ADI 7.317/RS, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 3/5/2023 (Info 1092).

Info 1086 – STF - Ofende a autonomia administrativa das Defensorias Públicas


decisão judicial que determine a lotação de defensor público em localidade
desamparada, em desacordo com os critérios previamente definidos pela própria
instituição, desde que observados os critérios do art. 98, caput e § 2º, do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias – ADCT. STF. Plenário. RE 887671/CE, Rel.
Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
08/03/2023 (Repercussão Geral – Tema 847) (Info 1086).

Info 648 - STJ - Ao impor a nomeação de Defensores para atuar em processos na


Justiça Militar do Distrito Federal, em discordância com critérios de alocação de
pessoal previamente aprovados pelo Conselho Superior da Defensoria Pública do DF,
a autoridade judiciária interfere na autonomia funcional e administrativa do órgão.
Reconhecida a inexistência de profissionais concursados em número suficiente para
atender toda a população do DF, os critérios indicados pelo Conselho Superior da
Defensoria Pública do DF para a alocação e distribuição dos Defensores Públicos
(locais de maior concentração populacional e de maior demanda, faixa salarial
familiar até 5 salários-mínimos) revestem-se de razoabilidade. STJ. 5ª Turma. RMS
59.413-DF, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 07/05/2019 (Info 648).

Info 1054 – STF Inexiste inconstitucionalidade na decisão estatal de instituir um órgão


composto por agentes que satisfaçam determinados requisitos de capacidade técnica

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e institucional, com respeito aos princípios da razoabilidade e da obrigatoriedade de


concurso público. É constitucional a norma federal que criou a Ouvidoria-Geral da
Defensoria Pública nos estados-membros e estabeleceu suas competências. STF.
Plenário. ADI 4608/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 13/5/2022 (Info 1054).

DIREITOS HUMANOS E DIREITO ANTIDISCRIMINATÓRIO.

.QUESTÃO 36 – Sobre o acesso à justiça da população LGBTQIA+, assinale a alternativa


incorreta:

a) O reconhecimento da pessoa como parte da população LGBTQIA+ será feito


exclusivamente por meio de autodeclaração, que deverá ser colhida pelo
magistrado em audiência, em qualquer fase do procedimento penal, incluindo a
audiência de custódia, até a extinção da punibilidade pelo cumprimento da pena,
garantidos os direitos à privacidade e à integridade da pessoa declarante.
b) Em caso de autodeclaração da pessoa como parte da população LGBTI, o Poder
Judiciário fará constar essa informação nos seus sistemas informatizados, que
deverão assegurar a proteção de seus dados pessoais e o pleno respeito aos seus
direitos e garantias individuais, notadamente à intimidade, privacidade, honra e
imagem.
c) Caberá ao magistrado, independentemente de autorização expressa do
interessado, diligenciar pela emissão de documentos ou pela retificação da
documentação civil da pessoa que se autodeclarou como transgênero.
d) Pessoas autodeclaradas parte da população LGBTI submetidas à persecução
penal têm o direito de ser tratadas pelo nome social, de acordo com sua
identidade de gênero, mesmo que distinto do nome que conste de seu registro
civil.
e) Em caso de prisão da pessoa autodeclarada parte da população LGBTI, o local de
privação de liberdade será definido pelo magistrado em decisão fundamentada.

Gabarito: C
Comentários:

No ponto de Direitos Humanos, por ressaltarem o direito antidiscriminatório,


vocês precisam focar bastante nas normativas e conceitos relacionados às minorias.

E, diante da previsão expressa da Resolução nº 348/2020, do Conselho Nacional


de Justiça, abordamos pontos específicos dela na questão.

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Sugerimos a leitura na íntegra da resolução, mas aqui vão os artigos utilizados


para a elaboração das assertivas:

Art. 4º O reconhecimento da pessoa como parte da população LGBTI será feito exclusivamente por
meio de autodeclaração, que deverá ser colhida pelo magistrado em audiência, em qualquer fase do
procedimento penal, incluindo a audiência de custódia, até a extinção da punibilidade pelo
cumprimento da pena, garantidos os direitos à privacidade e à integridade da pessoa declarante.
Parágrafo único. Nos casos em que o magistrado, por qualquer meio, for informado de que a pessoa
em juízo pertence à população LGBTI, deverá cientificá-la acerca da possibilidade da autodeclaração
e informá-la, em linguagem acessível, os direitos e garantias que lhe assistem, nos termos da presente
Resolução.

Art. 5º Em caso de autodeclaração da pessoa como parte da população LGBTI, o Poder Judiciário fará
constar essa informação nos seus sistemas informatizados, que deverão assegurar a proteção de seus
dados pessoais e o pleno respeito aos seus direitos e garantias individuais, notadamente à intimidade,
privacidade, honra e imagem.
Parágrafo único. O magistrado poderá, de ofício ou a pedido da defesa ou da pessoa interessada,
determinar que essa informação seja armazenada em caráter restrito, ou, nos casos previstos pela
lei, decretar o sigilo acerca da autodeclaração.

Art. 6º Pessoas autodeclaradas parte da população LGBTI submetidas à persecução penal têm o
direito de ser tratadas pelo nome social, de acordo com sua identidade de gênero, mesmo que distinto
do nome que conste de seu registro civil, como previsto na Resolução CNJ nº 270/2018.
Parágrafo único. Caberá ao magistrado, quando solicitado pela pessoa autodeclarada parte da
população LGBTI ou pela defesa, com autorização expressa da pessoa interessada, diligenciar pela
emissão de documentos, nos termos do artigo 6º da Resolução CNJ nº 306/2019, ou pela retificação
da documentação civil da pessoa.

Art. 7º Em caso de prisão da pessoa autodeclarada parte da população LGBTI, o local de privação de
liberdade será definido pelo magistrado em decisão fundamentada. (Redação dada pela Resolução n.
366, de 20/01/2021)
§ 1º A decisão que determinar o local de privação de liberdade será proferida após questionamento
da preferência da pessoa presa, nos termos do art. 8º, o qual poderá se dar em qualquer momento do
processo penal ou execução da pena, assegurada, ainda, a possibilidade de alteração do local, em
atenção aos objetivos previstos no art. 2º desta Resolução. (Redação dada pela Resolução n. 366, de
20/01/2021)
§ 1º-A. A possibilidade de manifestação da preferência quanto ao local de privação de liberdade e de
sua alteração deverá ser informada expressamente à pessoa pertencente à população LGBTI no
momento da autodeclaração. (Incluído pela Resolução n. 366, de 20/01/2021)
§ 2º Para os fins do caput, a autodeclaração da pessoa como parte da população LGBTI poderá ensejar
a retificação e emissão dos seus documentos quando solicitado ao magistrado, nos termos do art. 6º
da Resolução CNJ nº 306/2019.
§ 3º A alocação da pessoa autodeclarada parte da população LGBTI em estabelecimento prisional,
determinada pela autoridade judicial após escuta à pessoa interessada, não poderá resultar na perda
de quaisquer direitos relacionados à execução penal em relação às demais pessoas custodiadas no
mesmo estabelecimento, especialmente quanto ao acesso a trabalho, estudo, atenção à saúde,
alimentação, assistência material, assistência social, assistência religiosa, condições da cela, banho de
sol, visitação e outras rotinas existentes na unidade.

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Sobre o tema ainda destacamos a vocês a ADPF 527/DF15 a respeito do direito


de opção pelo cumprimento de pena em unidades prisionais femininas ou masculinas
pelas pessoas transexuais e travestis.

O Ministro Roberto Barroso, relator do processo, concedeu medida cautelar


reconhecendo a possibilidade de transferência, mediante consulta individual da
pessoa trans ou da travesti, para estabelecimento prisional feminino ou masculino, no
último caso, para ala separada, que lhes garanta a segurança. Prevalecendo a
incidência do direito à dignidade humana, à autonomia, à liberdade, à igualdade, à
saúde, vedação à tortura e ao tratamento degradante e desumano (CF/1988, art. 1º,
III; e art. 5º, caput, III), bem como o respeito ao Princípio 9 de Yogyakarta.

E uma super atualização sobre o processo: no dia 15/08/2023 o Pleno não


conheceu da ADPF nº 527, em razão da alteração substancial do panorama normativo
descrito na inicial, justamente em razão da edição da Resolução nº 348/2020, do CNJ,
tratada na nossa questão. Sendo assim, como a matéria já está regulamentada pela
resolução, esta deverá reger o assunto, desnecessária a estipulação de políticas públicas
pelo judiciário pela via judicial.

.QUESTÃO 37 – Assinale a alternativa incorreta acerca dos conceitos interrelacionados


à Teoria Crítica da Raça:

a) Color blindness representa a crença liberal em uma igualdade formal e na


possibilidade de atuação neutra do Estado.
b) White-over-color ascendancy, ou Sistema de supremacia branca, reafirma a
existência de uma subalternização e destruição material e simbólica de bens e
tradições que geram pertencimento aos negros e, ao mesmo tempo, coloca os
brancos imersos em um sistema de privilégios assumido como natural.
c) Perfilamento racial se refere ao processo pelo qual as forças policiais fazem uso
de generalizações fundadas na raça, cor, descendência, nacionalidade ou
etnicidade no lugar de evidências objetivas ou comportamentais do indivíduo.
d) A meritocracia forja a ideia de que, em âmbito institucional principalmente, o
critério de definição dos papéis sociais seja o mérito. Dessa forma, a ausência de
minorias raciais em espaços institucionais seria apenas o reflexo de
qualidades/oportunidade e não de um racismo estrutural.
e) A intolerância trata da dominação que é exercida não apenas pelo exercício
bruto do poder, pela pura força, mas também pelo estabelecimento de
mediações e pela formação de consensos ideológicos.

15
ADPF527decisao19mar.pdf (stf.jus.br)

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Gabarito: E
Comentários:

Nosso examinador é membro da Câmara de Estudos de Igualdade Étnico-racial,


Gênero e Diversidade Sexual da DPE/MG.

Além disso, possui produção relacionada à raça16 e mediou um painel de Teoria


Crítica da Raça17. Portanto, achamos pertinente conhecer alguns conceitos relacionados
a essa teoria.

Os conceitos foram extraídos do artigo “Teoria Crítica da Raça como Referencial


Teórico Necessário para Pensar a Relação entre Direito e Racismo no Brasil” de autoria
de Caroline Lyrio Silva e Thula Rafaela de Oliveira Pires18, bem como da Convenção
Interamericana Contra Toda Forma de Discriminação e Intolerância.

Color blindness ou “cegueira da cor” representa a crença liberal em uma


igualdade formal e na atuação neutra do Estado. Apesar da suposta
universalidade das normas jurídicas, a seletiva indicação dos padrões
morais e de normalização que identificam o tipo de proteção e os sujeitos
COLOR BLINDNESS protegidos impõe que uma avalição crítica do direito - aquela
comprometida com a identificação da realidade, suas estruturas de poder
e obstáculos existentes à emancipação dos sujeitos subalternizados –
descortine as estruturas de distribuição de poder, bem como os critérios
que sustentam o modelo de dominação confrontado.
Forja a ideia de que, em âmbito institucional principalmente, o critério de
definição dos papéis sociais seja o mérito.
Aferição descontextualizada e objetiva de competências e aptidões.
MERITOCRACIA
A ausência das minorias raciais dos espaços institucionais seria apenas o
reflexo da distribuição desigual das “qualidades”/oportunidades e não
fruto de um racismo estrutural/institucional.
Sistema de supremacia branca (white-over-color ascendancy) ou sistema
de convergência de interesses ou determinismo material que faz com que
o racismo, de um lado, implique na subalternização e destituição material
SUPREMACIA e simbólica dos bens sociais que geram respeito e estima social aos negros
BRANCA – ciclo de desvantagens –, de outro, coloque os brancos imersos em um
sistema de privilégios assumido como natural. A supremacia branca é uma
forma de hegemonia, ou seja, uma forma de dominação que é exercida
não apenas pelo exercício bruto do poder, pela pura força, mas também

16
https://www.anadep.org.br/wtksite/cms/conteudo/52996/E-BOOK_RACISMO.pdf
17
https://www.youtube.com/watch?v=PwZubP9eT6g
18
https://drive.google.com/file/d/1MCxMVHND_9aUw_EhYpe2a8tkDQ-MdVt2/view?usp=sharing

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pelo estabelecimento de mediações e pela formação de consensos


ideológicos
Cada raça possui sua própria origem e uma história em constante
MITO DA desenvolvimento (differential racialization). O imaginário social e os
estereótipos sobre grupos minoritários mudam de acordo com o
DEMOCRACIA
contexto e o momento histórico. Fortemente associadas a ideia de
SOCIAL racialização diferenciada estão os conceitos de interseccionalidade e
antiessencialismo.
Ato ou conjunto de atos ou manifestações que denotam desrespeito,
rejeição ou desprezo à dignidade, características, convicções ou opiniões
de pessoas por serem diferentes ou contrárias. Pode manifestar-se como
INTOLERÂNCIA
a marginalização e a exclusão de grupos em condições de vulnerabilidade
da participação em qualquer esfera da vida pública ou privada ou como
violência contra esses grupos.
O termo “perfilamento racial” se refere ao processo pelo qual as forças
policiais fazem uso de generalizações fundadas na raça, cor,
descendência, nacionalidade ou etnicidade ao invés de evidências
objetivas ou o comportamento de um indivíduo, para sujeitar pessoas a
PERFILAMENTO
batidas policiais, revistas minuciosas, verificações e reverificações de
RACIAL
identidade e investigações, ou para proferir um julgamento sobre o
envolvimento de um indivíduo em uma atividade criminosa” (“Prevenindo
e Combatendo o Perfilamento Racial de Pessoas Afrodescendentes: Boas
Práticas e Desafios” , ONU Direitos Humanos, 2020)

.QUESTÃO 38 – A respeito dos casos analisados pela Corte Interamericana de Direitos


Humanos (Corte) e pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), indique as
assertivas verdadeiras:

( V ) O caso Simone André Diniz foi julgado pela CIDH e é paradigmático quanto ao racismo
institucional. Nos classificados de um jornal de grande circulação, foi publicada uma nota por
meio da qual uma pessoa comunicava seu interesse em contratar uma empregada doméstica
de cor branca. Simone André Diniz, negra, apresentou-se para a vaga e foi recusada,
denunciando a situação às autoridades competentes. O caso foi investigado, mas o Ministério
Público arquivou o inquérito policial e houve homologação pelo Poder Judiciário. O fundamento
do arquivamento foi que não se identificou crime de racismo ou de injúria racial.

( V ) Recentemente, a CIDH apresentou perante a Corte o Caso Luiza Melinho, que reporta
violações a direitos no acesso a uma cirurgia de afirmação de gênero. A CIDH recomendou à
Corte, dentre outras medidas de reparação, a eliminação dos obstáculos nos protocolos de
saúde que tornem ineficiente a prestação da cirurgia de afirmação de gênero.

( F ) No caso Favela Nova Brasília, a Corte julgou o Brasil pela violência policial empregada em
uma incursão em favela no Rio de Janeiro, em que muitos homens foram vítimas de homicídio
e mulheres foram vítimas de violência sexual. Entre as medidas de reparação estabelecidas pela

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Corte, contudo, critica-se a ausência de recomendação para que, em casos envolvendo policiais,
se delegue a investigação a um órgão independente e diferente da força pública envolvida no
incidente.

( V ) A Corte concedeu medida provisória no caso do Instituto Penal Plácido Sá Carvalho


(IPPSC), diante da superlotação da prisão, bem como de mortes de pessoas privadas de
liberdade e de condições de infraestruturas incompatíveis com parâmetros internacionais,
determinando que se compute em dobro cada dia de privação de liberdade cumprido no IPPSC,
para todas as pessoas ali alojadas, que não sejam acusadas de crimes contra a vida ou a
integridade física, ou de crimes sexuais, ou não tenham sido por eles condenadas.

a) V, F, F, V

b) F, V, F, F

c) V, V, F, V

d) V, V, F, F

e) Todas são verdadeiras.

Gabarito: C

Comentários:

A questão trata de casos analisados pela Corte Interamericana de Direitos


Humanos e pela CIDH, que são comumente cobrados em provas, principalmente porque
servem de norte para casos similares, tratando-se de importantes argumentos.
Vamos aos casos mencionados na questão:
I - Caso Simone André Diniz - CIDH: Uma mulher fez inserir na parte de classificados de
um jornal de grande circulação (“A Folha de São Paulo”) uma nota por meio da qual comunicava
seu interesse em contratar uma empregada doméstica de cor branca.

Simone André Diniz, negra, apresentou-se para a vaga e foi recusada, denunciando a
situação às autoridades competentes. O caso foi investigado, mas o Ministério Público arquivou
o inquérito policial e houve homologação pelo Judiciário. O fundamento do arquivamento foi
que não identificaram crime de racismo ou de injúria racial.

O caso se tornou paradigma do chamado “racismo institucional”. O Caso Simone André


Diniz representa a primeira vez que um país membro da OEA é responsabilizado na Comissão
Interamericana por racismo.

A CIDH chamou a atenção do governo brasileiro que “a omissão das autoridades públicas
em efetuar diligente e adequada persecução criminal de autores de discriminação racial e
racismo cria o risco de produzir não somente um racismo institucional, onde o Poder Judiciário
é visto pela comunidade afrodescendente como um poder racista, como também resulta grave
impacto que tem sobre a sociedade na medida em que a impunidade estimula a prática do
racismo”.

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A CIDH declarou o Brasil responsável pela violação do art. 24 da CADH. Medida de


reparação educativa: “Adotar e instrumentalizar medidas de educação dos funcionários de
justiça e da polícia a fim de evitar ações que impliquem discriminação nas investigações, no
processo ou na condenação civil ou penal das denúncias de discriminação racial e racismo”.

II - Caso Luiza Melinho - CIDH: recentemente (em junho de 2023) a CIDH remeteu o caso
para a Corte. Luiza buscou a realização de cirurgia de transgenitalização pela rede pública de
saúde, mas não conseguiu. Houve debate e controvérsias nos Tribunais brasileiros a respeito da
possibilidade ou não da cirurgia de transgenitalização ser custeada pelo SUS.

A Comissão concluiu que o Estado não garantiu o acesso à saúde de Luiza Melinho em igualdade de
condições, o que foi demonstrado por meio dos obstáculos para acessar a cirurgia solicitada, como a
escassez de estabelecimentos capazes de realizá-la, a distância geográfica e as demoras no processo.
Ademais, considerou que houve uma falta de acesso equitativo aos serviços de saúde, especialmente
dada a vulnerabilidade da vítima. Também se argumentou que as demoras judiciais afetaram a vida
privada de Luiza Melinho e seu direito a definir sua identidade de gênero de maneira autônoma.

Quanto às garantias judiciais e à proteção judicial, a Comissão estabeleceu que houve uma demora
injustificada nos cinco anos e meio de tramitação do caso, o que teve um impacto negativo na saúde
física e mental de Luiza Melinho, o que incluiu tentativas de suicídio, depressão e ansiedade.

Assim, a Comissão concluiu que o Estado brasileiro é responsável pela violação dos direitos
contemplados nos artigos 5.1 (integridade pessoal), 8.1 (direito às garantias judiciais), 11 (proteção da
honra e da dignidade), 24 (igualdade perante a lei), 25.1 (direito à proteção judicial) e 26 (direitos
econômicos, sociais e culturais), combinados com o artigo 1.1 do referido instrumento.

A Comissão recomendou à Corte Interamericana as seguintes medidas de reparação:

1. Reparar integralmente as violações declaradas no relatório, incluindo uma indenização pelos


danos ocasionados e o reembolso dos gastos médicos.

2. Disponibilizar medidas de assistência em saúde física e mental necessárias para sua


reabilitação.

3. Adotar medidas para evitar que situações similares se repitam no futuro, o que deve incluir a
eliminação dos obstáculos nos protocolos de saúde que tornem ineficiente a prestação da cirurgia de
afirmação de gênero, a garantia de que os recursos promovidos pela via judicial relacionados a cirurgias
de afirmação sejam decididos de modo célere e a promoção da capacitação do pessoal médico que trata
das pessoas trans, não binárias e de gênero diverso para garantir o acesso imediato a serviços de saúde
de maneira não discriminatória.

Para aprofundamento, mais informações sobre o caso podem ser encontradas em: Mais informações
em: https://www.oas.org/pt/cidh/jsForm/?File=/pt/cidh/prensa/notas/2023/190.asp

III – Caso Favela Nova Brasília (Corte IDH): O precedente versa sobre a
responsabilidade internacional do Estado brasileiro pela violação do direito à vida e à
integridade pessoal das vítimas – 26 homens vítimas de homicídio e 3 mulheres vítimas
de violência sexual – durante operações policiais realizadas na Favela Nova Brasília,
Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, em duas incursões ocorridas nos dias 18 de
outubro de 1994 e em 8 de maio de 1995. Trata, também, da responsabilidade do Estado
relativamente aos direitos dos familiares e das vítimas, relacionados à proteção e
garantias judiciais. O caso desenvolve parâmetros sobre o dever de investigar com a

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devida diligência, bem como impõe os estândares de imparcialidade, independência,


respeito e duração em prazo razoável.

Segundo o apurado pela Corte IDH, em 18 de outubro de 1994, foi realizada uma
incursão policial na Favela Nova Brasília, envolvendo de 40 a 80 policiais civil e militares
do Estado do Rio de Janeiro. Os policiais, durante a operação, teriam invadido cinco
casas e realizaram disparos com armas de fogo contra quem estava nas residências,
resultando na morte de 13 homens (entre eles, quatro eram crianças). Após as mortes,
os policiais alteraram a cena do crime ao levarem os corpos à praça central da Favela
Nova Brasília. Ademais, em duas das cinco casas invadidas durante a operação, foram
realizados atos de violência sexual contra três mulheres que eram adolescentes na
época dos fatos (15 e 16 anos). As mortes foram registradas no inquérito policial aberto
como “resistência com morte dos opositores”.

Na segunda incursão policial analisada pela Corte, realizada em 8 de maio de


1995, cerca de 14 policiais civis e 2 helicópteros adentraram a mesma comunidade a
pretexto de realizar uma operação relacionada à detenção de carregamentos de armas
ligados ao tráfico de drogas. No curso da operação, 13 homens foram mortos e, na
sequência, conduzidos sem vida ao hospital. Os fatos foram autuados como “tráfico de
drogas, grupo armado e resistência seguida de morte”. Ambas as incursões foram
investigadas pela Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro e pela Comissão de
Investigação Especial, instaurada pelo Governador do Estado à época. Contudo, no ano
de 2009, as ações penais que abarcavam ambas as incursões policiais foram extintas
devido à prescrição da pretensão punitiva estatal em face do decurso do lapso temporal
máximo prescrito em lei.

A Corte impôs na sentença que o Estado brasileiro deveria, entre outras


obrigações:

- Estabelecer os mecanismos normativos necessários para que, na hipótese de


supostas mortes, tortura ou violência sexual decorrentes de intervenção policial,
em que policiais apareçam como possíveis acusados, desde a notitia criminis, se
delegue a investigação a um órgão independente e diferente da força pública
envolvida no incidente, como uma autoridade judicial ou o Ministério Público; (o
erro da assertiva III, portanto, está em dizer que não fora prevista a delegação
de investigação a órgão independente).

- Adotar as medidas necessárias para que o Estado do Rio de Janeiro estabeleça


metas e políticas de redução da letalidade e da violência policial;

- Adotar as medidas necessárias para uniformizar a expressão “lesão corporal


ou homicídio decorrente de intervenção policial” nos relatórios e investigações
da polícia ou do Ministério Público em casos de mortes ou lesões provocadas por

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ação policial. O conceito de “oposição” ou “resistência” à ação policial deverá


ser abolido.

Mais informações podem ser encontradas no link: https://www.cnj.jus.br/wp-


content/uploads/2022/02/sumario-executivo-favela-nova-brasilia-v8-2022-02-21.pdf

É bom lembrar também da jurisprudência nacional em relação ao tema da


violência policial: A ADPF conhecida como “ADPF das Favelas” analisou a terrível
situação de violência policial e determinou medidas de controle externo da atividade
policial. A investigação deve ser feita pelo Ministério Público quando houver notícia de
intervenção policial que resulta em lesão ou morte. Sempre que houver suspeita de
envolvimento de agentes dos órgãos de segurança pública na prática de infração penal,
a investigação será atribuição do órgão do Ministério Público competente.

IV - Medida Provisória Instituto Plácido de Sá Carvalho (Corte IDH) - Diante da


superlotação da prisão, bem como mortes de pessoas privadas de liberdade e condições
de infraestruturas incompatíveis com parâmetros internacionais, a Corte IDH concedeu
medida provisória e determinou que o Estado deve adotar as seguintes medidas:

- Aplicar o disposto na Súmula Vinculante nº 56, do Supremo Tribunal Federal


do Brasil;

- A partir da notificação da presente resolução, novos presos não ingressem no


IPPSC;

- O Estado deverá arbitrar os meios para que, no prazo de seis meses a contar da
presente decisão, se compute em dobro cada dia de privação de liberdade
cumprido no IPPSC, para todas as pessoas ali alojadas, que não sejam acusadas
de crimes contra a vida ou a integridade física, ou de crimes sexuais, ou não
tenham sido por eles condenadas;

- Adote imediatamente todas as medidas que sejam necessárias para proteger


eficazmente a vida e a integridade pessoal de todas as pessoas privadas de
liberdade no Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho.

.QUESTÃO 39 – A respeito da vedação à tortura e da proteção internacional relativa ao tema,


assinale a assertiva incorreta:

a) No caso Órdenes Guerra vs. Chile, a Corte IDH afirmou explicitamente que a
imprescritibilidade se aplica também às ações civis de reparação.
b) O Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional prevê que a tortura, quando
cometida no quadro de um ataque, generalizado ou sistemático, contra qualquer
população civil, havendo conhecimento desse ataque, é considerada como crime contra
a humanidade, que se sujeita à competência do Tribunal.

104
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c) O Protocolo de Istambul é um manual elaborado pelas Nações Unidas, para a


investigação e documentação eficazes da tortura e outras penas ou tratamentos cruéis,
desumanos ou degradantes. Dentre as previsões presentes no Protocolo, destacam-se
as técnicas para identificação da tortura psicológica. Ou seja, com base no protocolo,
por exemplo, pode-se obter meios para se comprovar a ocorrência de tortura contra
pessoas presas, ainda que não haja marcas físicas.
d) Para os fins da Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis,
Desumanos ou Degradantes , o termo "tortura" designa qualquer ato pelo qual dores
ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa
a fim de obter, dela ou de uma terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-
la por ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido ou seja suspeita de ter
cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo
baseado em discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimentos são
infligidos por um funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções públicas,
ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência.
e) Para a Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, serão
responsáveis pelo delito de tortura os empregados ou funcionários públicos que,
atuando nesse caráter, ordenem sua comissão ou instiguem ou induzam a ela,
cometam-no diretamente ou, podendo impedi-lo, não o façam, as pessoas que, por
instigação dos funcionários ou empregados públicos a que se refere a alínea a,
ordenem sua comissão, instiguem ou induzam a ela, comentam-no diretamente ou
nela sejam cúmplices, bem como por agentes sem vínculo com o Estado que tenham
finalidade de obter confissão, aplicar castigo, intimidar ou discriminar.

Gabarito: E

Comentários:

O tema da imprescritibilidade das ações indenizatórias em casos de graves


violações de direitos humanos é também bastante caro à Defensoria Pública.
Na esfera internacional, no caso ÓRDENES GUERRA e outros x Chile, a Corte
Interamericana firmou expressamente o entendimento de que as ações cíveis em caso de
GRAVES VIOLAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS são imprescritíveis.
Aproveite a revisão: no Brasil, o STJ editou uma súmula com conteúdo semelhante:

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA!

Súmula 647-STJ: São imprescritíveis as ações indenizatórias por danos morais e materiais
decorrentes de atos de perseguição política com violação de direitos fundamentais ocorridos
durante o regime militar.

Ainda, o STJ está julgando a ação declaratória ajuizada pela família de vítima de tortura
determinada por Carlos Alberto Brilhante Ustra, na época da ditadura, e há relevantes
discussões a respeito da (im)prescritibilidade do reconhecimento da responsabilidade de Ustra,

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bem como considerações a respeito do direito à memória e à verdade. Para saber mais, pode-
se consultar o seguinte artigo: https://www.migalhas.com.br/coluna/migalhas-de-
responsabilidade-civil/388479/responsabilidade-civil-e-direito-a-verdade

Quanto ao Tribunal Penal Internacional, é sempre bom revisar as hipóteses de


competência do TPI, assim como os principais pontos do Estatuto de Roma, porque se
trata de diploma bastante cobrado nas provas de Defensoria Pública.

Artigo 5o

Crimes da Competência do Tribunal

1. A competência do Tribunal restringir-se-á aos crimes mais graves, que afetam a comunidade
internacional no seu conjunto. Nos termos do presente Estatuto, o Tribunal terá competência para
julgar os seguintes crimes:

a) O crime de genocídio;

b) Crimes contra a humanidade;

c) Crimes de guerra;

d) O crime de agressão.

2. O Tribunal poderá exercer a sua competência em relação ao crime de agressão desde que, nos termos
dos artigos 121 e 123, seja aprovada uma disposição em que se defina o crime e se enunciem as
condições em que o Tribunal terá competência relativamente a este crime. Tal disposição deve ser
compatível com as disposições pertinentes da Carta das Nações Unidas.

Artigo 6o

Crime de Genocídio

Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por "genocídio", qualquer um dos atos que a seguir se
enumeram, praticado com intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial
ou religioso, enquanto tal:

a) Homicídio de membros do grupo;

b) Ofensas graves à integridade física ou mental de membros do grupo;

c) Sujeição intencional do grupo a condições de vida com vista a provocar a sua destruição física, total
ou parcial;

d) Imposição de medidas destinadas a impedir nascimentos no seio do grupo;

e) Transferência, à força, de crianças do grupo para outro grupo.

Artigo 7o

Crimes contra a Humanidade

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1. Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por "crime contra a humanidade", qualquer um dos
atos seguintes, quando cometido no quadro de um ataque, generalizado ou sistemático, contra
qualquer população civil, havendo conhecimento desse ataque:

a) Homicídio;

b) Extermínio;

c) Escravidão;

d) Deportação ou transferência forçada de uma população;

e) Prisão ou outra forma de privação da liberdade física grave, em violação das normas fundamentais de
direito internacional;

f) Tortura;

g) Agressão sexual, escravatura sexual, prostituição forçada, gravidez forçada, esterilização forçada ou
qualquer outra forma de violência no campo sexual de gravidade comparável;

h) Perseguição de um grupo ou coletividade que possa ser identificado, por motivos políticos, raciais,
nacionais, étnicos, culturais, religiosos ou de gênero, tal como definido no parágrafo 3o, ou em função
de outros critérios universalmente reconhecidos como inaceitáveis no direito internacional,
relacionados com qualquer ato referido neste parágrafo ou com qualquer crime da competência do
Tribunal;

i) Desaparecimento forçado de pessoas;

j) Crime de apartheid;

k) Outros atos desumanos de caráter semelhante, que causem intencionalmente grande sofrimento, ou
afetem gravemente a integridade física ou a saúde física ou mental.

2. Para efeitos do parágrafo 1º (...) e) Por "tortura" entende-se o ato por meio do qual uma dor ou
sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são intencionalmente causados a uma pessoa que esteja sob a
custódia ou o controle do acusado; este termo não compreende a dor ou os sofrimentos resultantes
unicamente de sanções legais, inerentes a essas sanções ou por elas ocasionadas;

Ainda sobre o TPI, outros pontos importantes para revisão:

- Aplica-se o princípio da complementaridade (art. 1º): Tribunais Nacionais tem prioridade para
investigar, e TPI só atua se o Estado não quer ou é incapaz de investigar. Também se aplica se a pena
pelo Estado for aplicada de forma fraudulenta, ou seja, uma pena irrisória apenas para evitar a
jurisdição do TPI.

- Crimes não prescrevem (art. 29)

- TPI não tem jurisdição para menores de 18 anos.

Penas (art. 77):

a) Pena de prisão por um número determinado de anos, até ao limite máximo de 30 anos; ou

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b) Pena de prisão perpétua, se o elevado grau da ilicitude do facto e as condições pessoais do


condenado o justificarem.

c) Também cabe pena de multa e perda de bens provenientes do ilícito.

Em relação ao protocolo de Istambul, trata-se de um Manual sobre a


Investigação Efetiva e Documentação da Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis,
Desumanos ou Degradantes, que pode ser muito bem utilizado no âmbito de audiências
de custódia e da execução penal, portanto, é um documento importante para
Defensores Públicos e Defensoras Públicas19.

O protocolo prevê ferramentas para identificação, por exemplo, de vestígios de


tortura psicológica.

Considerando o sucesso do Protocolo de Minnesota foi criado também o Manual


sobre a Investigação Efetiva e Documentação da Tortura e Outros Tratamentos ou Penas
Cruéis, Desumanos ou Degradantes, o chamado Protocolo de Istambul. Trata-se de um
documento de soft law (não vinculante), assim como o Protocolo de Minnesota. Ou seja,
consiste num conjunto de normas não vinculantes, mas que serve como guia de
interpretação (vetor de interpretação do dever de prevenção e repressão à violação do
direito à vida).

Protocolo de Minnesota (ONU): O Protocolo de Minnesota sobre Investigação de Mortes Potencialmente


Ilícitas consiste em um conjunto de regras de orientação sobre como proceder a investigação de mortes
que possam ser tidas como ilícitos. Busca evitar que a impunidade das violações ao direito à vida possa
servir de estímulo a novas violações, bem como promover o acesso à justiça e o direito à reparação, por
meio de uma investigação eficaz de toda e qualquer morte potencialmente injusta, inclusive nos casos de
suspeita de desaparecimento forçado.

Quanto ao conceito de tortura na Convenção da ONU e na Convenção


Interamericana, seguem ambos:

Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes (ONU):

ARTIGO 1º: 1. Para os fins da presente Convenção, o termo "tortura" designa qualquer ato pelo qual
dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de
obter, dela ou de uma terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou uma
terceira pessoa tenha cometido ou seja suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou
outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer natureza; quando tais
dores ou sofrimentos são infligidos por um funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções
públicas, ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência. Não se considerará como
tortura as dores ou sofrimentos que sejam consequência unicamente de sanções legítimas, ou que
sejam inerentes a tais sanções ou delas decorram.

Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura:

19
Para acessar a íntegra do Protocolo, consulte o link: http://www.dhnet.org.br/dados/manuais/a_pdf/manual_protocolo_istambul.pdf

108
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ARTIGO 2º: Para os efeitos desta Convenção, entender-se-á por tortura todo ato pelo qual são infligidos
intencionalmente a uma pessoa penas ou sofrimentos físicos ou mentais, com fins de investigação
criminal, como meio de intimidação, como castigo pessoal, como medida preventiva, como pena ou
com qualquer outro fim. Entender-se-á também como tortura a aplicação, sobre uma pessoa, de
métodos tendentes a anular a personalidade da vítima, ou a diminuir sua capacidade física ou mental,
embora não causem dor física ou angústia psíquica.

ARTIGO 3º: Serão responsáveis pelo delito de tortura:

a) Os empregados ou funcionários públicos que, atuando nesse caráter, ordenem sua comissão
ou instiguem ou induzam a ela, cometam-no diretamente ou, podendo impedi-lo, não o façam;

b) As pessoas que, por instigação dos funcionários ou empregados públicos a que se refere a
alínea a, ordenem sua comissão, instiguem ou induzam a ela, comentam-no diretamente ou nela sejam
cúmplices.

Por fim, é IMPORTANTE: lembrar que apenas a Lei brasileira que trata da tortura
(Lei nº 9.555/97) é que prevê que pode ser autor da tortura pessoa que não seja
funcionário público. Tanto a Convenção da ONU quanto a Convenção Interamericana
contra a Tortura preveem que apenas se configura tortura quando o agente for
funcionário público ou tiver sido influenciado por funcionário público.

.QUESTÃO 40 – Acerca da “Revisão Periódica Universal” (RPU), é correto afirmar:

a) RPU ocorre em ciclos, pautado no diálogo construtivo entre o Estado avaliado e


o grupo de trabalho nomeado para esta finalidade
b) Inicialmente prevista no momento de criação da Comissão de Direitos Humanos,
em 2006; sendo de fato instituída pela resolução deste.
c) Embora sua natureza política, acarreta deliberações vinculantes
d) Como mecanismo convencional global, não se aplicam a todos os Estados
membros da ONU
e) Estado avaliado submeterá relatório sobre condições gerais de respeito aos
DH no seu território. Como parâmetro, será observado o previsto na Carta da
ONU, DUDH e convenções internacionais de que é parte.

Gabarito: E

Comentários:

Pessoal, para melhor compreensão desta temática, é necessário revisar e


compreender o atual estágio dos sistemas internacionais de proteção de direitos
humanos. Buscando maior efetividade, avançaram para uma fase de monitoramento e
avaliação da situação dos direitos humanos nos Estados Membros.

No ÂMBITO ONUSIANO, teremos um duplo monitoramento:

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1) Mecanismos extraconvencionais
2) Mecanismos convencionais

MECANISMOS EXTRACONVENCIONAIS

• Não se vinculam a tratado específico

• Desenvolvem-se a partir da missão genérica da ONU, de promover e proteger os


DH, expresso na Carta das Nações Unidas; e DUDH

• Se aplicam a todos os Estados membros da ONU

• São espécies de mecanismos extraconvencionais do sistema global:


1) RPU – Revisão periódica universal
2) Procedimentos especiais
a. Procedimento n. 1235
▪ Caráter público
▪ Queixas recebidas não necessitam esgotar recursos internos
▪ Viabiliza participação de instituições nacionais de DH
▪ Temáticos ou geográficos
▪ Possível conceder “ações urgentes” – instrumento que se
equipara a medida provisória; medida específica para prevenir ou
fazer cessar violações de direitos humanos

b. Procedimento n. 1503
▪ Caráter privado: confidencial
▪ Procedimento obsoleto, quando comparado ao n. 1235

RPU – Revisão periódica universal


o Inicialmente prevista no momento de criação do Conselho de DH, em
2006; sendo de fato instituída pela resolução deste.

o RPU ocorre em ciclos e será conduzido por grupo de trabalho composto


por todos os membros do Conselho de DH (47)

o Trata-se de instrumento de supervisão pautado no diálogo construtivo


mediante “revisão pelos pares” – peer review.
▪ Tem natureza política, não acarretando deliberações vinculantes

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▪ Busca-se, por cooperação, a adesão do Estado à recomendações


para o avanço em matéria de promoção e proteção de DH

o Estado avaliado submeterá relatório sobre condições gerais de respeito


aos DH no seu território; como parâmetro, será observado o previsto na
Carta da ONU, DUDH e convenções internacionais de que é parte.
▪ Ao relatório inicial, apresentado pelo Estado, será anexado
informações eventualmente coletadas pelo Conselho de DH em
procedimentos especiais do mecanismo extraconvencional e
informações relatadas por ONGs e pela instituição nacional de DH
 Shadow Report– DP poderá emitir este “relatório sombra”

MECANISMOS CONVENCIONAIS

• Se vinculam a tratado específico


• “Big nines”: 9 principais convenções internacionais de DH, cada qual com seu
próprio mecanismo d

1) Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação racial


o Ratificado pelo Brasil - dec. 65.810/69
▪ Comitê pela eliminação da discriminação racial

2) PIDCP – Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos


o Ratificado pelo Brasil – dec. 592/92
▪ Comitê de DH
• Petição individual (previsto no protocolo facultativo)
o Brasil ainda não promulgou

3) PIDESC
o Ratificado pelo Brasil – dec. 591/92
▪ Comitê DESC

4) CEDAW – Convenção sobre eliminação de todas as forças de discriminação


contra a mulher
o Ratificado pelo Brasil – dec. 4377/02
▪ Comitê pela eliminação da discriminação contra a mulher

5) Convenção contra a tortura


o Ratificado pelo Brasil – dec. 40/91
▪ Comitê contra a tortura – CAT

6) Convenção sobre direitos da criança

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o Ratificado pelo Brasil – dec. 99710/90


▪ Comitê sobre os direitos da criança

7) Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência


o Ratificado pelo Brasil – dec. 6949/09 – {rito do art. 5 §3 CRFB}
▪ Comitê sobre direitos das pessoas com deficiência
8) Convenção Internacional sobre proteção dos direitos de todos os
trabalhadores migrantes e suas famílias
o Não ratificado pelo Brasil
▪ Comitê sobre trabalhadores migrantes

9) Convenção internacional para proteção de todas as pessoas contra o


desaparecimento forçado
o Ratificado pelo Brasil – dec. 8767/16
▪ Comitê para proteção de todas as pessoas contra
desaparecimento forçado

.QUESTÃO 41 – Sobre discriminação e suas modalidades, analisa as seguintes assertivas:

I. Discriminação direta relaciona-se com a violação da justiça


simétrica e pressupõe intencionalidade
II. Malgrado ausente definição legal expressa, a
discriminação indireta é conceituada pela doutrina como:
aquela que ocorre, em qualquer esfera da vida pública ou
privada, quando um dispositivo, prática ou critério
aparentemente neutro tem a capacidade de acarretar uma
desvantagem particular para pessoas pertencentes a um
grupo específico ou as coloca em desvantagem, a menos
que esse dispositivo, prática ou critério tenha um objetivo
ou justificativa razoável e legítima à luz do Direito
Internacional dos Direitos Humanos.
III. Discriminação múltipla ou agravada é qualquer
preferência, distinção, exclusão ou restrição baseada, de
modo concomitante, em dois ou mais critérios, como raça,
cor, ascendência ou origem nacional ou étnica ou outros
reconhecidos em instrumentos internacionais, cujo
objetivo ou resultado seja anular ou restringir o
reconhecimento, gozo ou exercício, em condições de
igualdade, de um ou mais direitos humanos e liberdades
fundamentais consagrados nos instrumentos

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internacionais aplicáveis aos Estados Partes, em qualquer


área da vida pública ou privada.
IV. Corte IDH, no caso “Trabalhadores da Fazenda Brasil
Verde”, ao fundamentar a condenação do Brasil,
reconheceu que as vítimas estavam imersas em padrões
de discriminação estrutural e interseccional.
a) I e III
b) I, II e III.
c) III e IV
d) II, III e IV.
e) I, II, III e IV

Gabarito: A

Comentários:

Pessoal, em nossa análise da Banca, destacamos alguns temas de predileção do


nosso examinador de Direitos Humanos e Antidiscriminatório, Maxnei Gonzaga.
Destacando ser membro da Câmara de Estudos de Igualdade étnico-racial, gênero e
diversidade sexual da DPE/MG. Bem como Integrar a Comissão da Igualdade Étnico-
Racial da ANADEP.

Com isso, é importante chegarmos na prova afiados com o paradigma de igualdade e


não discriminação.

O direito antidiscriminatório visa a criação de um sistema protetivo; implementando um


programa de transformação social de natureza emancipatória.

• Perspectiva plural
• Em sintonia com os objetivos fundamentais previstos em nossa constituição,
busca a inclusão social, erradicação da marginalização.
• Combatendo desigualdade e todas as formas de discriminação

 Garantia fundamental à igualdade e não discriminação

• Conteúdo multifacetário da igualdade


1) Igualdade formal – justiça simétrica: igualdade no tratamento
2) Igualdade material – justiça substancial
a. Igualdade de recursos
b. Igualdade de oportunidades
c. Igualdade como reconhecimento
▪ Direito à diferença

113
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 Discriminação deve ser compreendida como fenômeno social

• Atos discriminatórios de natureza pública ou privada que impõe uma situação de


desvantagem injustificada, de modo intencional ou não. A prática discriminatória
não apenas nega a igualdade de tratamento (justiça simétrica) mas também
reforça sistemas de opressão e de subordinação.

• Múltiplas formas de discriminação têm seu conteúdo abarcado pelo nosso bloco
de constitucionalidade – internalização, sob o rito do art. 5 §3, da CRFB/88, de
tratados internacionais de direitos humanos basilares na perspectiva
antidiscriminatória: Convenção de NY e Convenção Interamericana contra o
Racismo e todas as formas de intolerância

Convenção interamericana contra o racismo – definição de conceitos essenciais


DECRETO Nº 10.932/2022

o Discriminação racial: é qualquer distinção, exclusão, restrição ou


preferência, em qualquer área da vida pública ou privada, cujo propósito
ou efeito seja anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício,
em condições de igualdade, de um ou mais direitos humanos e liberdades
fundamentais. A discriminação racial pode basear-se em raça, cor,
ascendência ou origem nacional ou étnica

o Discriminação racial indireta: é aquela que ocorre, em qualquer esfera da


vida pública ou privada, quando um dispositivo, prática ou critério
aparentemente neutro tem a capacidade de acarretar uma desvantagem
particular para pessoas pertencentes a um grupo específico – anulando
ou restringindo o exercício de direitos em condições de igualdade; exceto
quando esses atos tenham objetivo ou justificativa razoável e legítima à
luz do direito internacional dos direitos humanos

o Discriminação múltipla e agravada: é qualquer preferência, distinção,


exclusão ou restrição baseada, de modo concomitante, em dois ou mais
critérios de discriminação

Q Corte IDH, Caso “Empregados da Fábrica de Fogos de Santo


Antônio de Jesus” v. Brasil – precedente paradigma; reconheceu que
vítimas estavam imersas em padrões de discriminação estrutural e
interseccional: confluência de fatores de opressão – mulheres negras
e pobres; crianças negras e pobres (trabalho infantil)

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Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência


DECRETO N. 6949/2009

o “Discriminação por motivo de deficiência” significa qualquer diferenciação,


exclusão ou restrição baseada em deficiência, com o propósito ou efeito de
impedir ou impossibilitar o reconhecimento, o desfrute ou o exercício, em
igualdade de oportunidades com as demais pessoas, de todos os direitos
humanos e liberdades fundamentais nos âmbitos político, econômico, social,
cultural, civil ou qualquer outro. Abrange todas as formas de discriminação,
inclusive a recusa de adaptação razoável
▪ “Adaptação razoável” significa as modificações e os ajustes necessários
e adequados que não acarretem ônus desproporcional ou indevido,
quando requeridos em cada caso, a fim de assegurar que as pessoas
com deficiência possam gozar ou exercer, em igualdade de
oportunidades com as demais pessoas, todos os direitos humanos e
liberdades fundamentais

DISCRIMINAÇÃO DISCRIMINAÇÃO DISCRIMINAÇÃO


DIRETA INDIRETA AGRAVADA

•Prática arbitrária •Teoria do impacto •Teoria da


desproprocional interseccionalidade
•Violação da justiça simétrica
•Critério aparentemente •Múltiplos fatores de
•Uso de critério ilegítimo neutro cujos efeitos têm opressão
impacto desproprocional em
•Intencionalidade determinados segmentos
sociais

.QUESTÃO 42 – De acordo com a jurisprudência do sistema interamericano, assinale a


alternativa incorreta:

a) A Convenção de Belém do Pará se aplica e protege também mulheres trans.


b) A alteração da documentação para que se torne compatível com a identidade de
gênero autopercebida não exige operações cirúrgicas ou tratamento hormonais.
c) O Caso Fontevecchia e D’Amico vs. Argentina tratou da reparação cível posterior
como uma medida inibidora da liberdade de expressão de jornalistas.
d) Na decisão do Caso Campo Algodoeiro, a Corte Interamericana de Direitos
Humanos (Corte IDH) determinou que atos de violência sexual cometidos por

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agentes estatais podem ser equiparados, em termos legais, a tortura, o que


implica na consideração de sua imprescritibilidade.
e) O Caso Poblete Vilches e outros vs. Chile representa o primeiro caso da Corte
IDH sobre o direito à saúde das pessoas idosas.

Gabarito: D

Comentário:

A assertiva A está em conformidade com o entendimento da Corte IDH


manifestado no julgamento do Caso Vicky Hernández vs. Honduras, quando, de fato,
decidiu-se pela aplicação da Convenção de Belém do Pará também para mulheres trans.

Já a assertiva B está em conformidade com o entendimento da Corte IDH


manifestado na Opinião Consultiva nº 24. Para que uma pessoa se torne e seja
reconhecida e respeitada como trans, ela não precisa passar por qualquer cirurgia ou
tratamento hormonal.

No que tange a letra C, o Caso Fontevecchia e D’Amico vs. Argentina tem como
ponto central a possibilidade de a ameaça ou a concretização de uma indenização cível
inibir o direito à liberdade de expressão de jornalistas. Portanto, não é somente a
ameaça de uma sanção penal que pode resfriar o direito à liberdade de expressão.

Desta feita, o gabarito é a alternativa D. A Corte, portanto, diversamente do que


consta na assertiva, não qualificou a violência sexual do Caso Campo Algodoeiro como
tortura. Em outros casos, porém, em que houve a participação de agentes estatais na
prática de crime contra a dignidade sexual de mulheres, a Corte IDH entendeu por
qualificar a conduta como tortura. Neste sentido, p. ex., o Caso Favela Nova Brasília vs.
Brasil

Por fim, o Caso Poblete Vilches e outros vs. Chile representa o primeiro caso da
Corte IDH sobre o direito à saúde das pessoas idosas.

.QUESTÃO 43 – Em relação à ADPF 976/STF e às medidas cautelares deferidas pelo


Ministro Alexandre de Moraes para solucionar questões relacionadas à população em
situação de rua, assinale a alternativa correta:

a) Apenas cinco estados e quinze municípios aderiram à Política Nacional para a


População em Situação de Rua até 2020, demonstrando uma ampla aceitação e
implementação dessa política em todo o país.
b) A Lei 14.489, conhecida como "Lei Padre Júlio Lancellotti", tem como objetivo
incentivar o emprego de materiais e técnicas construtivas hostis para afastar
pessoas em situação de rua de áreas urbanas.

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c) O programa "Housing First" visa retirar as pessoas da situação de rua por meio
de uma série de atendimentos da rede de proteção, antes de oferecer moradia.
d) As medidas cautelares da ADPF 976/STF incluem a criação de instrumentos de
diagnóstico permanente da população em situação de rua, a formação de
agentes públicos para tratamento humanizado, a proibição do recolhimento
forçado de bens e o emprego de técnicas de arquitetura hostil.
e) A ADPF 976/STF não estabelece prazos ou diretrizes específicas para a atuação
dos Poderes Executivos municipais e distrital em relação à população em
situação de rua.

Gabarito: D

Comentário:

Primeiramente, a alternativa A está incorreta, já que um dos principais pleitos da ADPF


gira em torno da baixa aceitação e implementação da Política Nacional para a População
em Situação de Rua em todo o país.

No que tange a alternativa B, a Lei 14.489, conhecida como "Lei Padre Júlio Lancellotti",
tem como objetivo vedar o emprego de materiais, estruturas, equipamentos e técnicas
construtivas hostis que tenham como objetivo ou resultado o afastamento de pessoas
em situação de rua, idosos, jovens e outros segmentos da população, não o incentivar.

Ao contrário do disposto na alternativa C, o programa "Housing First" visa retirar


as pessoas da situação de rua por meio da concessão imediata de moradia permanente
como primeira etapa, sem a necessidade de passar por uma série de atendimentos
prévios.

O gabarito da questão (alternativa D) traz as medidas cautelares da ADPF


976/STF. Nelas se incluem a criação de instrumentos de diagnóstico permanente da
população em situação de rua, a formação de agentes públicos para tratamento
humanizado, a proibição do recolhimento forçado de bens e o emprego de técnicas de
arquitetura hostil, entre outras ações para proteger os direitos da população em
situação de rua.

Por fim, a ADPF 976/STF estabelece diretrizes específicas e prazos para a atuação
dos Poderes Executivos municipais e distrital em relação à população em situação de
rua, conforme descrito nas medidas cautelares.

.QUESTÃO 44 – “Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do


Brasil:

IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação.

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(…)

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos
seguintes princípios:

VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo;”

Analise as afirmativas a seguir:

I. O aparato legal tem se mostrado suficiente para combater os comportamentos


discriminatórios na sociedade brasileira, em que pese estes sejam enraizados por
meio de um longo processo histórico.

II. A discriminação racial pode ser compreendida como disposições individuais de


natureza idiossincrática, e a estigmatização é parte desse processo de
marginalização e exclusão social.

III. A construção da autoimagem da pessoa negra sofre também influência do


pensamento discriminatório empreendido pelo grupo dominante, de modo que
aquela incorpora muitas vezes a óptica de inferioridade.

IV. No Brasil, a questão racial passou por um processo de invisibilização


representado pelo “mito da democracia racial”, que disseminou a ideia de que
não existiriam conflitos raciais e que há convivência harmônica e igualdade de
direitos.

V. É exemplo da discriminação institucional do Estado a submissão das pessoas


negras a um tratamento penal mais rigoroso que aquele destinado às pessoas
brancas.

Estão corretas apenas:

a) I e II.
b) I, II, e III.
c) II e III.
d) III, IV e V..
e) I, III e IV.

Gabarito:D
Comentários:

Pessoal, MUITA ATENÇÃO! Na disciplina DIREITOS HUMANOS E


ANTIDISCRIMINATÓRIO há previsão expressa no edital: “Direito não discriminatório:
definições, origens, propósitos, fundamentos e princípios. Discriminações: modalidades,
dimensões e formas de manifestação. Racismos: modalidades, dimensões e formas de

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manifestação. Direito à igualdade; Princípio da igualdade; Igualdade formal e material.


Princípio da não discriminação.” Este tema é sem dúvida uma das apostas para
cobrança. Vamos analisar os itens?

“I. O aparato legal tem se mostrado suficiente para combater os


comportamentos discriminatórios na sociedade brasileira, em que pese estes
sejam enraizados por meio de um longo processo histórico.”
NÃO se pode afirmar isso, né? Sem dúvidas a previsão de IGUALDADE FORMAL,
prelecionada na CF/88 e em outras leis não corresponde à realidade de
discriminação e desigualdade vivenciada pela população não branca. Neste
sentido:

II. A discriminação racial pode ser compreendida como disposições individuais de


natureza idiossincrática, e a estigmatização é parte desse processo de
marginalização e exclusão social.
A compreensão do racismo como ideologia INDIVIDUAL deve ser rechaçada.
Neste sentido, Silvio Luiz de Almeida, em “Racismo Estrutural”, denuncia que o
Racismo é um processo de constituição de vantagens e desvantagens a grupos
sociais, caracterizando-se sobretudo, não através de atos isolados ou eventuais,
mas a partir de Instituições e Estruturas sociais, políticas e econômicas. Qualifica-
se por ser uma forma sistemática de discriminação que tem a Raça como
fundamento. Portanto, não podemos reduzir um fenômeno de natureza
estrutural a uma perspectiva individualista, pois isto reduziria também os
mecanismos de combate!

III. A construção da autoimagem da pessoa negra sofre também influência do


pensamento discriminatório empreendido pelo grupo dominante, de modo que
aquela incorpora muitas vezes a óptica de inferioridade.
Correto! “A baixa autoimagem do negro é reproduzida pela mensagem
transmitida recorrentemente às pessoas negras de que, para ser humanizado, é
preciso corresponder às expectativas do padrão dominante, ou seja, tornar-se
branco. Essa situação decorre da internalização de que ”embranquecer” seria o

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único meio para ter acesso a respeito e dignidade. Estudos de saúde realizados
em épocas distintas têm apontado que os negros vítimas de discriminação
explícita tornam-se suscetíveis psiquicamente a desenvolverem, mais
comumente: ansiedade, ataques de pânico, baixa autoestima, depressão,
comprometimento/crises de identidade e distorção do autoconceito.”20
IV. No Brasil, a questão racial passou por um processo de invisibilização
representado pelo “mito da democracia racial”, que disseminou a ideia de que
não existiriam conflitos raciais e que há convivência harmônica e igualdade de
direitos.
Verdadeiro demais né? Vejamos: A questão racial no Brasil é emblemática: há o
mito de uma democracia racial coexistindo com o racismo. A democracia racial
se manifesta no imaginário brasileiro e escamoteia os problemas
socioeconômicos que enfrentam os afrodescendentes. O racismo se manifesta
na manutenção da superestrutura escravista, aonde os brancos continuam
sendo os donos da “Casa Grande” e os negros continuam nas “Senzalas”. Só que
hoje a casa grande são os condomínios fechados e as senzalas a favela, a
periferia.”
V. É exemplo da discriminação institucional do Estado a submissão das pessoas
negras a um tratamento penal mais rigoroso que aquele destinado às pessoas
brancas.
Correto! Neste sentido, direto do site do Superior Tribunal de Justiça21:

“Cor preta, suspeito padrão. Esse é o estereótipo presente na maior parte das
abordagens e na identificação de pessoas consideradas suspeitas pelos agentes
de segurança do Estado.
Divulgada em fevereiro deste ano, uma pesquisa coordenada pelo Centro de
Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) confirmou, com dados inéditos, o que

20https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2021/02/4906416-autoestima-da-raca-negra.html

21 “O negro como alvo: a questão do racismo estrutural nas investigações criminais:”


https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/2022/20112022-O-negro-como-
alvo-a-questao-do-racismo-estrutural-nas-investigacoes-criminais.aspx

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grande parte da população brasileira vive na pele: o racismo estrutural está


presente na atividade policial e no sistema de Justiça criminal brasileiro; afinal,
os jovens negros são os maiores alvos dos agentes de segurança.
Segundo o estudo, o percentual de negros entre as pessoas que já foram
abordadas pela polícia chega a 63%, contra 31% de brancos, na cidade do Rio de
Janeiro – cuja população total se divide em 51% de brancos, 48% de negros e 1%
de outras raças. Dos que já sofreram abordagem policial mais de dez vezes, 66%
são pretos ou pardos.
Outro número a ser considerado é o da proporção de negros no sistema prisional
brasileiro: o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen) de
2017, no quesito Perfil da População Prisional, mostrou que aproximadamente
64% dos presos são pretos ou pardos.
Na mesma linha, um levantamento feito pelo Colégio Nacional das Defensoras e
Defensores Públicos-Gerais (Condege) mostra que, entre as pessoas acusadas
indevidamente com base em reconhecimento fotográfico realizado em
delegacias – as quais acabaram sendo absolvidas na sentença –, 83% eram
negras.”

.QUESTÃO 45 – “Nas comunidades de Fechos de Pastos o gado era solto nas frentes das
roças, nas áreas de uso coletivo, terras comunais denominadas pelas famílias
camponesas da região como “os Gerais”. Grandes extensões de terras que iam das roças
até as cabeceiras dos rios, fazendo divisa com os Estados de Goiás e Minas Gerais. Todas
estas terras eram usadas pelas famílias camponesas para a criação de seus animais, não
existindo limite. O gado aproveitava a pastagem nativa, mantendo o Cerrado em pé e
pastava por onde queria. Por um ou dois meses, os donos dos rebanhos os traziam para
as matas, as roças, para alimentá-los com um pasto diferente, pasto de cultura que
fornece uma alimentação com maior valor nutritivo e tinha a função de “tirar a areia do
bucho” como falavam os criadores.” Fonte: http://ispn.org.br/site/wp-
content/uploads/2018/10/ComunidadesTradicionaisDeFechoDePastoESeuModoPr%C3
%B3prioDeConviv%C3%AAnciaComOCerrado.pdf

Sobre tratamento jurídico conferido às comunidades tradicionais e políticas públicas


para grupos vulnerabilizados, assinale item correto:

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a) Nos termos da CF/88, constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de


natureza material e imaterial, desde que tomados em conjunto, portadores de
referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da
sociedade brasileira, por exemplo, as formas de expressão e os modos de criar,
fazer e viver.

b) A previsão constitucional que cria para o Estado o dever de proteger as


manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de
outros grupos participantes do processo civilizatório nacional, não alcança as
comunidades tradicionalmente reconhecidas.

c) O Supremo Tribunal Federal (STF) julgou constitucional, em sede de ADI, lei


estadual que impõe prazo para a regularização fundiária das comunidades
tradicionais de Fundo e Fecho de Pasto, por entender que a norma resguarda
o direito de existir e preserva a identidade das populações.

d) A Declaração de Durban convocou os Estados a aumentarem a conscientização


sobre racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância vivenciadas pelos
povos Roma, Ciganos, Sinti e Nômades, e a promoverem o conhecimento e o
respeito pelas suas culturas e histórias.

e) Nos termos da Constituição Federal o Estado garantirá a todos o pleno


exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará
e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais, sendo dever
dos Estados destinar valores de sua receita tributária líquida aos fundos
estaduais de fomento à cultura.

Gabarito: C
Comentários:

Pessoal, o objetivo dessa questão foi trabalhar com vocês os seguintes pontos
do edital: Marco legal protetivo e grupos vulnerabilizados no Brasil: comunidades
tradicionais + Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia
e Intolerância Correlata (Conferência de Durban).

O item A cobrou a previsão expressa na CF/88, se liguem:

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de


natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em
conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à
memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
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III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;


IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços
destinados às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico,
artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

Portanto, o patrimônio cultural inclui bens de natureza material e imaterial,


tomados individualmente ou em conjunto! Item A errado.

Já o item B cria uma exclusão infundada e inconstitucional não é mesmo?!


Conforme CF/88:

Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos


direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e
apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações
culturais.
§ 1º O Estado protegerá as manifestações das culturas
populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos
participantes do processo civilizatório nacional.

Sobre o tema22:

“A Constituição da República homologa a noção de cultura à


noção de ‘povo’. Partindo de investigações etnográficas, pode-se
dizer que cultura corresponde ao conjunto de técnicas de
produção, doutrinas e atos, passível de apreensão pela
convivência ou ensino. É um caráter mais universalista. Sob este
enfoque, toda forma humana de estar no mundo, todo modo de
existência, transmitido de uma geração a(s) outra(s), constitui
cultura. Todo esse aparato contribui para a identificação do
conceito constitucional de cultura com horizontes mais amplos”

O item C cobrou entendimento recente do STF na ADI (ADI) 5.783, ajuizada pelo
MPF em 2017 contra dispositivo da Lei 12.910/2013 do Estado da Bahia, norma que
impunha prazo (marco temporal) para a regularização fundiária das comunidades
tradicionais de Fundo e Fecho de Pasto:

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA! 🚨

22 JULIO CESAR PEREIRA. O CONCEITO DE CULTURA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. Encontro de


Estudos Multidisciplinares em Cultura 28 a 30 de maio de 2008 Faculdade de Comunicação/UFBa,
Salvador-Bahia-Brasil. Disponível em: https://www.cult.ufba.br/enecult2008/14112.pdf

123
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ADI 5.783
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta quarta-feira (6) anular o limite temporal para
regularização de territórios de comunidades tradicionais de fundo e fecho de pasto da Bahia.
A partir de uma ação protocolada em 2017 pela Procuradoria-Geral da República (PGR), o
Supremo declarou inconstitucional o trecho da Lei 12.910/2013, da Bahia, que estabeleceu
prazo de 31 de dezembro de 2018 para apresentação de requerimento com objetivo de
reconhecer a posse das terras.
Na ação, a PGR afirmou que a norma limitou o direito à existência das comunidades ao definir
limite temporal de cinco anos após a edição da lei para regularização.
A maioria de votos contra o marco temporal foi obtida a partir da manifestação da relatora
e presidente do STF, ministra Rosa Weber.
A ministra entendeu que o limite temporal é inconstitucional. Para Rosa Weber, as
comunidades tradicionais têm direito a reivindicar os documentos de territórios ocupados
por séculos a qualquer tempo.
Em seguida, o ministro Cristiano Zanin também reconheceu que as comunidades de fundo e
fecho de pasto são protegidas pela Constituição. Para o ministro, o limite temporal “aprisiona
as futuras gerações”, que não poderiam solicitar o direito ao reconhecimento das terras.
O voto da relatora foi seguido pelos ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Luiz Fux,
Roberto Barroso e Cármen Lúcia.
Nunes Marques divergiu em parte e afirmou que os estados podem fixar prazos para o
reconhecimento de terras. No entanto, o ministro entendeu, que, no caso específico da
Bahia, o prazo estipulado pela lei foi irrazoável e deveria contar a partir do julgamento de
hoje.

O item d traz previsão da Declaração de Durban, que está expressa no Edital


da DPE-MG. Em 2001, a ONU organizou a Conferência Mundial das Nações Unidas contra
o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e a Intolerância, em Durban, na África do
Sul. Na ocasião, foram estabelecidas a Declaração e Programa de Ação de Durban,
documentos que instituem a ação da comunidade internacional para combater o
racismo.

O Artigo 42 preleciona:

42. Convoca os Estados e incentiva as organizações não-


governamentais a aumentarem a conscientização sobre racismo,
discriminação racial, xenofobia e intolerância correlata
vivenciadas pelos Roma, Ciganos, Sinti e Nômades e a
promoverem o conhecimento e o respeito pela sua cultura e
história.

124
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Por fim, o item E cobrou a letra da Constituição Federal:

Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos


direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e
apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações
culturais.

(...)

Art. 216. § 6º É facultado aos Estados e ao Distrito Federal


vincular a fundo estadual de fomento à cultura até cinco décimos
por cento de sua receita tributária líquida, para o financiamento
de programas e projetos culturais (...)

DIREITO ADMINISTRATIVO.

.QUESTÃO 46 – Uma incorporadora desmatou vegetação nativa em área de preservação


permanente para a construção de um loteamento de casas populares em Juiz de Fora.
O empreendimento foi finalizado há 6 anos, com atuação do Município para a
sinalização das ruas e demais instalações urbanas, mas nenhuma providência foi tomada
até o momento. Sobre a responsabilidade do Município neste caso, assinale a alternativa
correta:

a) O Município de Juiz de Fora não pode ser responsabilizado ante a ausência de


nexo de causalidade entre o dano e sua omissão.
b) A responsabilidade do Município pela omissão na fiscalização do
empreendimento é objetiva e com execução solidária com a empresa.
c) A omissão na fiscalização confere responsabilidade subjetiva ao Município, que
poderá alegar a ausência de culpa pela realização do dano neste caso.
d) A ausência de providências para impedir a continuidade da degradação
ambiental e recuperação da área confere responsabilidade objetiva e solidária
ao ente municipal, mas a execução deve ser realizada de forma subsidiária.
e) A ausência de concessão de licença ambiental ao empreendimento retira a
responsabilidade do Município, eis que o loteamento foi realizado de maneira
irregular.

Gabarito: D
Comentários:

125
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Abordamos na questão a responsabilidade civil do Estado por danos


ambientais. Diante das tragédias, tanto de Brumadinho, quanto de Mariana, dano
ambiental é uma aposta de impacto.

A situação tratada na questão se assemelha bastante ao caso analisado pelo


STJ no AREsp 1.756.656-SP, em que houve o reconhecimento da responsabilidade objetiva e
solidária do poder público em razão da omissão na fiscalização do empreendimento. Porém,
nesse caso, a execução é subsidiária. Ou seja, primeiramente a empresa poluidora será
executada para pagar os prejuízos dos danos ambientais e, caso não consiga arcar com toda a
indenização, o Poder Público será acionado.

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA! 🚨


Info. 758/STJ - A responsabilidade civil por dano ambiental é objetiva e solidária. E, nos
casos em que o Poder Público concorre para o prejuízo por omissão, a sua responsabilidade
solidária é de execução subsidiária (ou com ordem de preferência).
Trata-se de ação civil pública em desfavor de particulares e de Município, tendo por causa de
pedir degradação ambiental em razão de omissão do Município no exercício do poder de
polícia, os requeridos realizaram construção supressora de vegetação nativa em área de
preservação permanente de restinga no bioma Mata Atlântica.
Conforme constou do acórdão recorrido, a Municipalidade teve ciência acerca dos fatos e
por mais de seis anos permaneceu inerte, o que atraiu a violação do dever específico de
agir.
O fato de que a apuração dos fatos tenha se dado na esfera estadual não se mostra razoável
como causa excludente da responsabilidade do Município, porque está evidente nos autos
que o ente público tinha ciência das construções em área de preservação permanente e da
lesão ao bem jurídico ambiental consistente nas restingas, fixadoras de
dunas/estabilizadoras de mangues (art. 4º, VI, do Código Florestal).
O dano ambiental decorreu, na espécie, de uma conjunção de ações e omissões. De um lado,
houve omissão por parte do Município em relação à ocupação desordenada de área de
preservação ambiental. De outro, a ação daqueles que, diretamente, causaram os prejuízos
ambientais e deles se beneficiaram.
O Estado é solidário, objetiva e ilimitadamente responsável, nos termos do art. 14, § 1º, da
Lei n. 6.938/1981, por danos ambientais decorrentes da omissão do seu dever de controlar
e fiscalizar, nos casos em que contribua, direta ou indiretamente, tanto para a degradação
ambiental em si mesma, como para o seu agravamento, consolidação ou perpetuação. Em
casos tais em que o Poder Público concorre para o prejuízo por omissão, a sua
responsabilidade solidária é de execução subsidiária (ou com ordem de preferência).
AREsp 1.756.656-SP, Rel. Min. Francisco Falcão, Segunda Turma, por unanimidade, julgado
em 18/10/2022, DJe 21/10/2022

Info. 742/STJ - A omissão na fiscalização e mitigação dos danos ambientais enseja a


imposição judicial de obrigações positivas para o Município a fim de solucionar o problema

126
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cuja extensão temporal e quantitativa revela afronta à dimensão ecológica da dignidade


humana.
Ação civil pública foi ajuizada, em 2018, contra particular, a municipalidade e empresa
pública estadual (Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano Estadual - CDHU) em
razão de maus-tratos identificados desde 2012 em abrigo clandestino de animais. A particular
instalou o abrigo em área pública abandonada. Na vistoria, que ocorreu 6 (seis) anos após a
ocupação, havia 107 (cento e sete) cães com diversos problemas, inclusive presença de
roedores e raiva. Firmado termo de ajustamento de conduta, a área foi desocupada. Porém,
verificou-se a mudança do canil clandestino para outro imóvel, igualmente da CDHU,
igualmente com problemas e sem licença. Nessa feita, identificou-se contaminação
ambiental do solo e instalação desautorizada de poço. Visou a ação: I) impedir que a
particular introduzisse novos animais no canil clandestino, bem como permitir a remoção dos
existentes; II) a CDHU proceder à recuperação ambiental de seus imóveis e os fiscalizar contra
novas invasões; e III) o município acolher os animais em local adequado, com
acompanhamento veterinário e encaminhamento para doação ou destinação a entidades de
proteção. Os pedidos foram acolhidos na sentença e mantidos no acórdão recorrido, que
apenas ampliou o prazo de implementação das medidas administrativas e ambientais de 60
(sessenta) para 180 (cento e oitenta) dias. No que tange à ilegitimidade passiva do município,
o acórdão, a despeito de menção à norma local e à Constituição da República, funda-se na
responsabilidade administrativa comum pela fiscalização das violações ambientais. Nesse
sentido, o Tribunal local alinha-se à jurisprudência desta Corte: "[...] 4. O ordenamento
jurídico brasileiro conferiu a todos os entes federativos o dever-poder de polícia ambiental,
que inclui tanto a competência de fiscalização, como a competência de licenciamento, faces
correlatas, embora inconfundíveis, da mesma moeda, as quais respondem a regime jurídico
diferenciado. Para aquela, nos termos da Lei Complementar 140/2011, vigora o princípio do
compartilhamento de atribuição (= corresponsabilidade solidária). Para esta, em sentido
diverso, prevalece o princípio da concentração mitigada de atribuição, mitigada na acepção
de não denotar centralização por exclusão absoluta, já que, com frequência, responde mais
a intento pragmático de comodidade e eficiência do que à falta de
poder/interesse/legitimidade de outras esferas federativas. Precedentes. [...] (AgInt no REsp
n. 1.922.574/RN, relator Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em
29/11/2021, DJe de 16/12/2021)". Portanto, não há que se falar em ilegitimidade passiva
da municipalidade que, ciente dos fatos por 13 (treze) anos, deixou de tomar medidas
efetivas para sua solução, penalizando os animais submetidos ao "abrigo", o que não pode
mesmo ser tolerado, inclusive diante da dimensão ecológica da dignidade humana, já
reconhecida por este colegiado (REsp n. 1.797.175/SP, relator Ministro Og Fernandes,
Segunda Turma, julgado em 21/3/2019, REPDJe de 13/5/2019, DJe de 28/3/2019)
AREsp 2.024.982-SP, Rel. Min. Og Fernandes, Segunda Turma, por unanimidade, julgado em
14/06/2022, DJe 24/06/2022. (Info 742)

.QUESTÃO 47 – Acerca do poder de polícia, assinale a alternativa correta:

a) É legítimo o ato de autoridade que condiciona ao pagamento de multa a


liberação de veículo retido por realizar transporte irregular de passageiros.

127
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b) É ilegítimo o poder de polícia conferido à ANATEL para fiscalizar as atividades de


radiodifusão.
c) É constitucional a delegação do poder de polícia, por meio de lei, a pessoas
jurídicas de direito privado integrantes da Administração Pública indireta de
capital social majoritariamente público que prestem exclusivamente serviço
público de atuação própria do Estado e em regime não concorrencial.
d) O INMETRO possui competência exclusiva para fiscalização quantitativa e
qualitativa de produtos comercializados.
e) É inconstitucional a atribuição às guardas municipais do exercício do poder de
polícia de trânsito para a imposição de sanções administrativas legalmente
previstas.

Gabarito: C
Comentários:

Diante da importância quantitativa da matéria de Direito Administrativo, é


importante conhecer conceitos básicos como o de poder de polícia. Segundo o art. 78
do CTN:

Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da


administração pública que, limitando ou disciplinando direito,
interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou a abstenção
de fato, em razão de interesse público concernente à segurança,
à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do
mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes
de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade
pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais
ou coletivos.
Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder de
polícia quando desempenhado pelo órgão competente nos
limites da lei aplicável, com observância do processo legal e,
tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionária,
sem abuso ou desvio de poder.

Assim, seu princípio fundamental é a predominância do interesse público sobre


o privado. A Administração Pública limitará o exercício de alguns direitos individuais em
prol da coletividade.

Além disso, são características do poder de polícia:

128
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a) AUTOEXECUTORIEDADE – a Administração Pública pode, com os seus


próprios meios, executar seus atos e decisões, sem necessidade de prévia
autorização judicial;
b) COERCIBILIDADE - as medidas adotadas pela Administração podem ser
impostas coercitivamente aos particulares;
c) DISCRICIONARIEDADE - a Administração Pública tem a liberdade de definir
a oportunidade e conveniência da prática dos atos de poder de polícia.

Além disso, poder de polícia pode ser preventivo (ex: licença de funcionamento
de estabelecimento) ou repressivo (ex: imposição de sanção por venda de mercadorias
vencidas).

Quanto às assertivas trazidas pela questão, também são resolvidas com a


análise da jurisprudência correlata:

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA! 🚨


Info. 759/STJ - É ilegítimo o ato de autoridade que condiciona ao pagamento de multa a
liberação de veículo retido por realizar transporte irregular de passageiros.
O Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento segundo o qual se configura ilegítimo o
ato de autoridade que condiciona ao pagamento de multa a liberação de veículo retido por
realizar transporte de passageiros, sem a devida autorização, por se tratar de infração
prevista no art. 231, VIII, do Código de Trânsito Brasileiro. AgInt no REsp 2.003.502-MG, Rel.
Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, por unanimidade, julgado em 24/10/2022, DJe
4/11/2022.

Info. 1060/STF - É legítimo o poder de polícia conferido à ANATEL para fiscalizar as


atividades de radiodifusão. O Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (FISTEL), criado
pela Lei 5.070/1966, é composto, de forma não exclusiva, por diversas fontes, dentre as quais
as relativas ao poder de outorga do direito uso de radiofrequência para qualquer fim,
inclusive multas e indenizações, e pelos recursos das Taxas de Fiscalização de Instalação e de
Fiscalização de Funcionamento. STF. Plenário. ADI 4039/DF, relatora Min. Rosa Weber,
julgamento virtual finalizado em 24.6.2022 (sexta-feira)

Info. 996/STF - É constitucional a delegação do poder de polícia, por meio de lei, a pessoas
jurídicas de direito privado integrantes da Administração Pública indireta de capital social
majoritariamente público que prestem exclusivamente serviço público de atuação própria
do Estado e em regime não concorrencial.
O fato de a pessoa jurídica integrante da Administração Pública indireta destinatária da
delegação da atividade de polícia administrativa ser constituída sob a roupagem do regime
privado não a impede de exercer a função pública de polícia administrativa.
O regime jurídico híbrido das estatais prestadoras de serviço público em regime de
monopólio é plenamente compatível com a delegação, nos mesmos termos em que se

129
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admite a constitucionalidade do exercício delegado de atividade de polícia por entidades de


regime jurídico de direito público. Isso porque a incidência de normas de direito público em
relação àquelas entidades da Administração indireta tem o condão de as aproximar do
regime de direito público, do regime fazendário e acabar por desempenhar atividade própria
do Estado. O STJ, ao desdobrar o ciclo de polícia, entende que somente os atos relativos ao
consentimento e à fiscalização são delegáveis, pois aqueles referentes à legislação e à sanção
derivam do poder de coerção do Poder Público. Segundo a teoria do ciclo de polícia, o
atributo da coercibilidade é identificado na fase de sanção de polícia e caracteriza-se pela
aptidão que o ato de polícia possui de criar unilateralmente uma obrigação a ser adimplida
pelo seu destinatário. Apesar da substancialidade da tese, verifica-se que, em relação às
estatais prestadoras de serviço público de atuação própria do Estado e em regime de
monopólio, não há razão para o afastamento do atributo da coercibilidade inerente ao
exercício do poder de polícia, sob pena de esvaziamento da finalidade para a qual aquelas
entidades foram criadas.
Por outro lado, cumpre ressaltar a única fase do ciclo de polícia que, por sua natureza, é
absolutamente indelegável: a ordem de polícia, ou seja, a função legislativa. A competência
legislativa é restrita aos entes públicos previstos na Constituição da República, sendo vedada
sua delegação, fora das hipóteses expressamente autorizadas no tecido constitucional, a
pessoas jurídicas de direito privado.
Em suma, os atos de consentimento, de fiscalização e de aplicação de sanções podem ser
delegados a estatais que possam ter um regime jurídico próximo daquele aplicável à Fazenda
Pública.
STF. Plenário. RE 633782/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 23/10/2020 (Repercussão Geral
– Tema 532) (Info 996).

Info 742/STJ - O INMETRO não possui competência exclusiva para fiscalização quantitativa
de produtos comercializados
O STJ considerou que é possível que o MAPA (Ministério da Agricultura), em concorrência
com o INMETRO, faça a fiscalização sobre pesagem de produtos comercializados destinados
ao consumidor final. Seria desarrazoado imaginar que o INMETRO, órgão com estrutura
insuficiente para todo o território, fosse o único a vigiar a saúde e o respeito aos padrões de
todos os setores produtivos do Brasil. STJ. 2ª Turma. REsp 1832357-SC, Rel. Min. Francisco
Falcão, julgado em 14/06/2022 (Info 742).

Info 793/STF - O STF definiu a tese de que é constitucional a atribuição às guardas


municipais do exercício do poder de polícia de trânsito, inclusive para a imposição de
sanções administrativas legalmente previstas (ex: multas de trânsito).
STF. Plenário. RE 658570/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, julgado em 6/8/2015 (repercussão geral) (Info 793).

Finalizando com as fases do poder de polícia em tabelinha:

FASES DO PODER DE POLÍCIA

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É a legislação que estabelece os limites e Não pode ser


ORDEM DE condições necessárias para o exercício da delegada.
POLÍCIA atividade ou uso dos bens por parte dos
particulares.
É a fase na qual a Administração dá o Pode ser
consentimento para que o particular delegada.
CONSENTIMENTO
pratique determinada atividade ou para que
DE POLÍCIA
utilize o bem segundo a ordem de polícia em
vigor.
A Administração fiscaliza se o particular está Pode ser
FISCALIZAÇÃO DE
cumprindo as regras estabelecidas na ordem delegada.
POLÍCIA
de polícia.
Consiste na aplicação das penalidades Pode ser
SANÇÃO DE
administrativas para aquele que descumpriu delegada.
POLÍCIA
a ordem de polícia.

.QUESTÃO 48 – A respeito das normas de licitação trazidas na Lei nº 14.133/2021,


assinale a alternativa correta:

a) São modalidades de licitação o pregão, a concorrência, o concurso, o leilão, o


diálogo competitivo e o regime diferenciado de contratação.
b) É inexigível a licitação quando inviável a competição, em especial nos casos de
objetos que devam ou possam ser contratados por meio de credenciamento.
c) São tipos de licitação o credenciamento, a pré-qualificação, o procedimento de
manifestação de interesse, o sistema de registro de preços e o registro cadastral.
d) É inexigível a licitação para contratação que envolva valores inferiores a R$
100.000,00 (cem mil reais), no caso de obras e serviços de engenharia ou de
serviços de manutenção de veículos automotores, e para contratação que
envolva valores inferiores a R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), no caso de outros
serviços e compras.
e) É dispensável a licitação para aquisição ou locação de imóvel cujas características
de instalações e de localização tornem necessária sua escolha.

Gabarito: B

Comentários:

Está em pleno vigor a nova lei de licitações, então essa questão é para lembrar
alguns conceitos importantes da lei.

Art. 28. São modalidades de licitação:

131
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I - pregão;

II - concorrência;

III - concurso;

IV - leilão;

V - diálogo competitivo.

§ 1º Além das modalidades referidas no caput deste artigo, a Administração pode servir-se dos
procedimentos auxiliares previstos no art. 78 desta Lei.

Art. 74. É inexigível a licitação quando inviável a competição, em especial nos casos de:

I - aquisição de materiais, de equipamentos ou de gêneros ou contratação de serviços que só possam ser


fornecidos por produtor, empresa ou representante comercial exclusivos;

II - contratação de profissional do setor artístico, diretamente ou por meio de empresário exclusivo,


desde que consagrado pela crítica especializada ou pela opinião pública;

III - contratação dos seguintes serviços técnicos especializados de natureza predominantemente


intelectual com profissionais ou empresas de notória especialização, vedada a inexigibilidade para
serviços de publicidade e divulgação:

a) estudos técnicos, planejamentos, projetos básicos ou projetos executivos;

b) pareceres, perícias e avaliações em geral;

c) assessorias ou consultorias técnicas e auditorias financeiras ou tributárias;

d) fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras ou serviços;

e) patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativas;

f) treinamento e aperfeiçoamento de pessoal;

g) restauração de obras de arte e de bens de valor histórico;

h) controles de qualidade e tecnológico, análises, testes e ensaios de campo e laboratoriais,


instrumentação e monitoramento de parâmetros específicos de obras e do meio ambiente e demais
serviços de engenharia que se enquadrem no disposto neste inciso;

IV - objetos que devam ou possam ser contratados por meio de credenciamento;

V - aquisição ou locação de imóvel cujas características de instalações e de localização tornem


necessária sua escolha.

Art. 78. São procedimentos auxiliares das licitações e das contratações regidas por esta Lei:

I - credenciamento;

132
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II - pré-qualificação;

III - procedimento de manifestação de interesse;

IV - sistema de registro de preços;

V - registro cadastral.

Art. 75. É dispensável a licitação:

I - para contratação que envolva valores inferiores a R$ 100.000,00 (cem mil reais), no caso de obras e
serviços de engenharia ou de serviços de manutenção de veículos automotores; (Vide Decreto nº
10.922, de 2021) (Vigência) (Vide Decreto nº 11.317, de 2022) Vigência

II - para contratação que envolva valores inferiores a R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), no caso de
outros serviços e compras;

Art. 74. É inexigível a licitação quando inviável a competição, em especial nos casos de:

V - aquisição ou locação de imóvel cujas características de instalações e de localização tornem


necessária sua escolha.

.QUESTÃO 49 – Com base nas disposições da Lei de Introdução às normas do Direito


Brasileiro, assinale a alternativa incorreta:

a) A motivação das decisões administrativas demonstrará a necessidade e a


adequação da medida imposta ou da invalidação de ato, contrato, ajuste,
processo ou norma administrativa, inclusive em face das possíveis alternativas.
b) A decisão administrativa que decretar a invalidação de ato, contrato, ajuste,
processo ou norma administrativa deverá indicar de modo expresso suas
consequências jurídicas e administrativas.
c) Na decisão do processo administrativo não poderá ser imposta compensação
por benefícios indevidos ou prejuízos anormais ou injustos resultantes do
processo ou da conduta dos envolvidos.
d) O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões
técnicas em caso de dolo ou erro grosseiro.
e) A edição de atos normativos por autoridade administrativa, salvo os de mera
organização interna, poderá ser precedida de consulta pública para
manifestação de interessados, preferencialmente por meio eletrônico, a qual
será considerada na decisão.

Gabarito: C

133
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Comentários:

A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) é uma lei que serve
como referência tanto para processos administrativos como judiciais, de modo que é
bem importante conhecer o seu conteúdo, especialmente o que foi acrescentado pela
Lei nº 13.655, de 2018.
A assertiva C está incorreta porque vai de encontro ao art. 27, caput, da LINDB.

Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores
jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da
decisão. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018) (Regulamento)

Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida imposta ou


da invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, inclusive em face das possíveis
alternativas. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a invalidação
de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de modo expresso suas
consequências jurídicas e administrativas. (Incluído pela Lei nº 13.655, de
2018) (Regulamento)

Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando for o caso, indicar
as condições para que a regularização ocorra de modo proporcional e equânime e sem prejuízo aos
interesses gerais, não se podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das
peculiaridades do caso, sejam anormais ou excessivos. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

Art. 27. A decisão do processo, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, poderá impor
compensação por benefícios indevidos ou prejuízos anormais ou injustos resultantes do processo ou da
conduta dos envolvidos. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018) (Regulamento)

§ 1º A decisão sobre a compensação será motivada, ouvidas previamente as partes sobre seu
cabimento, sua forma e, se for o caso, seu valor. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

§ 2º Para prevenir ou regular a compensação, poderá ser celebrado compromisso processual entre
os envolvidos. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em
caso de dolo ou erro grosseiro. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018) (Regulamento)

Art. 29. Em qualquer órgão ou Poder, a edição de atos normativos por autoridade administrativa,
salvo os de mera organização interna, poderá ser precedida de consulta pública para manifestação de
interessados, preferencialmente por meio eletrônico, a qual será considerada na
decisão. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018) (Vigência) (Regulamento)

§ 1º A convocação conterá a minuta do ato normativo e fixará o prazo e demais condições da consulta
pública, observadas as normas legais e regulamentares específicas, se houver. (Incluído pela Lei nº
13.655, de 2018) (Vigência)

.QUESTÃO 50 – Sobre o Tribunal de Contas, assinale a alternativa incorreta:

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a) O Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode apreciar a


constitucionalidade das leis e dos atos do Poder Público.
b) Compete ao Tribunal de Contas da União (TCU) fiscalizar a aplicação, por parte
dos demais entes da Federação, de verbas federais, transferidas pela União, para
complementar o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e
de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB).
c) O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas encontra-se estritamente
vinculado à estrutura da Corte de Contas e não detém autonomia jurídica e
iniciativa legislativa para as leis que definem sua estrutura organizacional.
d) O Município prejudicado é o legitimado para a execução de crédito decorrente
de multa aplicada por Tribunal de Contas estadual a agente público municipal, em
razão de danos causados ao erário municipal.
e) É constitucional norma que preveja que os auditores dos Tribunais de Contas
emitam pareceres opinativos

Gabarito: E
Comentários:

Pessoal, essa questão cobrou o conhecimento de jurisprudência recente nesta


temática, vejamos às ementas.

STF. Plenário. ADI 5.530/MS (Info 1096).


São inconstitucionais normas que atribuem a emissão de pareceres opinativos aos
auditores de Tribunal de Contas estadual, por incompatibilidade com a função de
judicatura de contas estabelecida pelos arts. 73, § 4º, e 75, caput, da Constituição.
Os entes federados possuem autonomia para fixar, em lei, as atribuições para o
cargo de auditor (ministros ou conselheiros substitutos) do respectivo Tribunal de
Contas, e podem, inclusive, inovar em relação às fixadas na Lei Orgânica do Tribunal
de Contas da União (Lei nº 8.443/92). Contudo, elas devem sempre obedecer ao
perfil judicante do cargo expressamente instituído pela Constituição Federal de
1988 (arts. 73, § 4º; e 75), indispensável para que as atividades desempenhadas
pelas Cortes de Contas sejam exercidas com qualidade, autonomia e isenção.

STF. Plenário. ADI 5791/DF (Info 1066).


Compete ao Tribunal de Contas da União (TCU) fiscalizar a aplicação, por parte dos
demais entes da Federação, de verbas federais, transferidas pela União, para
complementar o Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização
do Magistério (FUNDEF)/Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB).

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STF. Plenário. RE 1003433/RJ (Repercussão Geral – Tema 642) (Info 1029).


Os Estados não têm legitimidade ativa para a execução de multas aplicadas, por
Tribunais de Contas estaduais, em face de agentes públicos municipais, que, por
seus atos, tenham causado prejuízos a municípios. O Município prejudicado é o
legitimado para a execução de crédito decorrente de multa aplicada por Tribunal
de Contas estadual a agente público municipal, em razão de danos causados ao
erário municipal.

STF. Plenário. ADI 3804/AL (Info 1040).


Ministério Público junto ao Tribunal de Contas encontra-se estritamente vinculado
à estrutura da Corte de Contas e não detém autonomia jurídica e iniciativa
legislativa para as leis que definem sua estrutura organizacional.
É inconstitucional a exigência de lei complementar para regular a organização do
Ministério Público especial. A Constituição não autoriza a equiparação de
“vencimentos” e “vantagens” entre membros do Ministério Público especial e
membros do Ministério Público comum.

 STF, súmula 347: Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode


apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do Poder Público.

• STF, recentemente, reafirmou a constitucionalidade deste entendimento: este


ENUNCIADO SUMULADO NÃO ESTÁ SUPERADO
• Não se trata de uma licença para controle abstrato de constitucionalidade; na
realidade, o verbete confere – caso imprescindível para o exercício do controle
externo – a possibilidade de afastar, incidentalmente, normas cuja aplicação no
caso expressaria um resultado inconstitucional

.QUESTÃO 51 – Sobre a temática de serviços públicos, assinale a alternativa correta:

a) É inconstitucional a constituição de fundação pública de direito privado para a


prestação de serviço público de saúde.
b) Deve ser assegurado o contraditório prévio à decretação de intervenção em
contrato de concessão com concessionária de serviço público
c) Os serviços de transporte coletivo terrestre de passageiros, desvinculados da
exploração da infraestrutura, podem ser outorgados sem licitação prévia,
mediante simples autorização
d) Não será possível a cobrança da tarifa de esgotamento sanitário quando não haja
o cumprimento de todas as etapas do serviço

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e) É constitucional lei estadual que concede isenção da tarifa de energia elétrica


para os consumidores atingidos por enchentes

Gabarito: C

Comentários:

Pessoal, essa questão cobrou o conhecimento de jurisprudência recente nesta


temática, vejamos às ementas.

STF. Plenário. ADI 5549/DF e ADI 6270/DF (Info 1089).


É CONSTITUCIONAL dispositivo de lei federal que altera o regime de outorga da
prestação regular de serviços de transporte terrestre coletivo de passageiros
desvinculados da exploração de obras de infraestrutura, permitindo sua
realização mediante mera autorização estatal, sem a necessidade de licitação
prévia, desde que cumpridos requisitos específicos. A regra geral é a realização
de licitação. No entanto, especificamente em relação ao transporte rodoviário
interestadual e internacional, uma interpretação sistêmica da Constituição
admite a autorização do serviço sem o processo licitatório, mediante o respeito
aos princípios da administração pública (legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência).

STJ. 2ª Turma. Ag 1308764-RJ (Info Especial 8).


O STJ firmou o entendimento de que a legislação permite a cobrança da tarifa de
esgotamento sanitário, ainda que não haja o cumprimento de todas as etapas
do serviço (REsp 1.339.313/RJ, Tema 565).

STJ. 1ª Seção. REsp 1339313-RJ (recurso repetitivo) (Info 530).


A concessionária de água e esgoto pode cobrar “tarifa de esgotamento sanitário”
mesmo na hipótese em que realiza apenas a coleta e o transporte dos dejetos
sanitários, sem fazer o tratamento final dos efluentes.
Assim, é legal a cobrança de tarifa de esgoto na hipótese em que a
concessionária realize apenas uma — e não todas — das quatro etapas em que
se desdobra o serviço de esgotamento sanitário (a coleta, o transporte, o
tratamento e a disposição final de dejetos).

STJ. 1ª Seção.REsp 1817302-SP (Tema IAC 8) (Info 740).


É indevida a cobrança promovida por concessionária de rodovia, em face de
autarquia prestadora de serviços de saneamento básico, pelo uso da faixa de
domínio da via pública concedida. Embora cedido ao particular, o bem público
de uso comum do povo não se desnatura, permanecendo, portanto, afetado à
destinação pública. Por esse motivo, mostra-se ilegítimo exigir remuneração pela

137
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sua utilização, quando voltada a viabilizar a execução de serviço público de


saneamento básico prestado por entidade estatal, cuja configuração jurídica seja
adversa à lucratividade, ou seja, esteja fora do regime concorrencial.

STJ. 2ª Turma. RMS 66794-AM (Info 727).


Não se exige contraditório prévio à decretação de intervenção em contrato de
concessão com concessionária de serviço público. O art. 33 da Lei nº 8.987/95
afirma que, depois de ter sido declarada a intervenção, o poder concedente
deverá, no prazo de 30 dias, instaurar procedimento administrativo para
comprovar as causas determinantes da medida e apurar responsabilidades,
assegurado o direito de ampla defesa. Desse modo, verifica-se claramente que,
em se tratando de intervenção, o direito de defesa do concessionário só é
propiciado após a decretação da intervenção, a partir do momento em que for
instaurado o procedimento administrativo para apuração das irregularidades.
Isso porque a intervenção possui finalidades investigatória e fiscalizatória, e não
punitiva.

STF. Plenário. ADI 4197/SE (Info 1085).


É constitucional a constituição de fundação pública de direito privado para a
prestação de serviço público de saúde.

STJ. Corte Especial. AgInt na SLS 3169-RS (Info 768).


A pessoa jurídica de direito privado delegatária de serviço público somente tem
legitimidade ativa para ingressar com pedido de suspensão de segurança na
hipótese em que estiver atuando na defesa de interesse público primário
relacionado com os termos da própria concessão e prestação do serviço público.

.QUESTÃO 52 – Durante uma audiência no Fórum de Uberlândia, João, um advogado,


acompanhava sua cliente em um processo de violência doméstica como vítima.
Infelizmente, o ex-marido da mulher, réu no caso, realizou disparos que atingiram João,
resultando em sua morte. A família do advogado ajuizou uma ação de indenização por
danos morais e materiais contra o Estado de Minas Gerais. O juízo, por sua vez, rejeitou
o pedido dos autores, alegando que não havia evidência de nexo de causalidade que
justificasse a responsabilidade civil do Estado. Com base nesse caso e considerando a
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, assinale a alternativa correta:

a) Em casos como o narrado, o STJ considera que a responsabilidade do estado é


objetiva, por se tratar de atividades naturalmente perigosas,
independentemente de ser comissiva ou omissiva.

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b) No caso, a responsabilidade do estado deve ser afastada, pois a atividade em


questão não era considerada naturalmente perigosa.
c) O caso envolve uma situação de responsabilidade civil subjetiva do estado, pois
a conduta omissiva foi a causa direta do dano.
d) O STJ decidiu que o art. 927 do Código Civil não é aplicável ao estado, pois ele
possui regramento próprio em casos de responsabilidade civil.
e) A jurisprudência do STJ conclui que a responsabilidade do estado por atividade
naturalmente perigosa só se aplica quando a conduta for comissiva e não quando
for omissiva.

Gabarito: A

Comentário:

Vamos relembrar rapidamente os elementos da responsabilidade objetiva do


Estado:

a) Conduta (= fato administrativo) – Deve ser de determinado agente público


que atue nesta qualidade ou se aproveite da qualidade de agente para
causar dano (Teoria da Imputação) – A conduta que enseja a
responsabilidade objetiva é a conduta comissiva. Em caso de omissão, a
responsabilidade é subjetiva. A conduta pode ser ilícita ou lícita.

b) Dano – Indispensável o dano jurídico, ou seja, dano tutelado pelo direito,


ainda que exclusivamente moral.

c) Nexo de causalidade – Em regra, o Brasil adotou a teoria da causalidade


adequada, em que o Estado responde, desde que a sua conduta tenha sido
determinante para o dano causado ao agente.

Desta feita, no caso narrado na questão, aplica-se ao Estado a regra do art. 927,
parágrafo único, do Código Civil, de responsabilidade civil objetiva por atividade
naturalmente perigosa, sendo irrelevante que a conduta seja comissiva ou omissiva.23

A regra geral do ordenamento brasileiro é de responsabilidade civil objetiva por


ato comissivo do Estado e de responsabilidade subjetiva por comportamento omissivo.
Contudo, em situações excepcionais de risco anormal da atividade habitualmente
desenvolvida, a responsabilização estatal na omissão também se faz
independentemente de culpa.

23 REsp 1.869.046-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, por unanimidade, julgado
em 09/06/2020, DJe 26/06/2020

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Aplica-se igualmente ao Estado a prescrição do art. 927, parágrafo único, do


Código Civil, de responsabilidade civil objetiva por atividade naturalmente perigosa,
irrelevante seja a conduta comissiva ou omissiva.

O vocábulo "atividade" deve ser interpretado de modo a incluir o


comportamento em si e bens associados ou nele envolvidos. Tanto o Estado como os
fornecedores privados devem cumprir com o dever de segurança, ínsito a qualquer
produto ou serviço prestado. Entre as atividades de risco "por sua natureza" incluem-se
as desenvolvidas em edifícios públicos, estatais ou não (p. ex., instituição prisional,
manicômio, delegacia de polícia e fórum), com circulação de pessoas notoriamente
investigadas ou condenadas por crimes, e aquelas outras em que o risco anormal se
evidencia por contar o local com vigilância especial ou, ainda, com sistema de controle
de entrada e de detecção de metal por meio de revista eletrônica ou pessoa

Tanto o Estado como os fornecedores privados devem cumprir com o dever de


segurança, ínsito a qualquer produto ou serviço prestado. Entre as atividades de risco
“por sua natureza” incluem-se as desenvolvidas em edifícios públicos, estatais ou não
(p. ex., instituição prisional, manicômio, delegacia de polícia e fórum), com circulação
de pessoas notoriamente investigadas ou condenadas por crimes, e aquelas outras em
que o risco anormal está evidenciado por contar o local com vigilância especial ou, ainda,
com sistema de controle de entrada e de detecção de metais por meio de revista
eletrônica ou pessoal.

As excludentes de responsabilidade afastam a obrigação de indenizar apenas nos


casos em que o Estado tenha tomado medidas possíveis e razoáveis para impedir o dano
causado. Logo, se evitar o dano é possível ao ente público, e ele não o faz, fica
caracterizado o descumprimento de obrigação legal.

Assim, deve-se configurar o dano evitável, no caso concreto, a fim de permitir a


responsabilização estatal. Com efeito, caso o homicídio narrado tivesse ocorrido em
virtude de disparos de arma de fogo em via pública, estaria afastada a responsabilidade
do Estado, pois decorrente de ato de terceiro, apto a configurar excludente.

Mesmo que se aplicasse o regime subjetivo à situação, ainda assim estaria


tipificada a responsabilidade civil do Estado. Ora, tendo a morte ocorrido nas
dependências de edifício público, mais especificamente no Fórum da cidade, onde o
causídico aguardava a realização de audiência criminal, verifica-se descumprimento
escancarado de dever legal de vigilância e falha na prestação e organização do serviço,
o que permitiu o ingresso, no prédio público, de pessoa portando arma de fogo, réu em
ação penal.

140
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É incontestável nos autos que a porta do Fórum com detector de metal


encontrava-se avariada e que não havia seguranças na entrada do estabelecimento
público que pudessem realizar a vistoria daqueles que nele adentrassem.

Estão presentes, portanto, a culpa (embora desnecessária, à luz do art. 927,


parágrafo único, do Código Civil) e o nexo causal, elementos aptos a determinar a
responsabilização do poder público no caso concreto. Se não fosse por sua conduta
omissiva, tendo deixado de agir com o cuidado necessário a garantir a segurança, no
Fórum, dos funcionários e das partes, o evento danoso não teria ocorrido.

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Jurisprudência em Teses do STJ

EDIÇÃO N. 61: RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO24

1) Os danos morais decorrentes da responsabilidade civil do Estado somente podem ser


revistos em sede de recurso especial quando o valor arbitrado é exorbitante ou irrisório,
afrontando os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.

2) O termo inicial da prescrição para o ajuizamento de ações de responsabilidade civil em face


do Estado por ilícitos praticados por seus agentes é a data do trânsito em julgado da sentença
penal condenatória.

3) As ações indenizatórias decorrentes de violação a direitos fundamentais ocorridas durante


o regime militar são imprescritíveis, não se aplicando o prazo quinquenal previsto no art. 1º
do Decreto n. 20.910/1932.

4) O prazo prescricional das ações indenizatórias ajuizadas contra a Fazenda Pública é


quinquenal (Decreto n. 20.910/1932), tendo como termo a quo a data do ato ou fato do qual
originou a lesão ao patrimônio material ou imaterial. (Recurso Repetitivo - Tema 553)

5) A responsabilidade civil do Estado por condutas omissivas é subjetiva, devendo ser


comprovados a negligência na atuação estatal, o dano e o nexo de causalidade.

Polêmica. Acredito que deve ser lida como verdadeira se a “omissão for genérica, com base na culpa anônima”
(multidões, enchentes, vendaval). Porém, se a omissão for específica, em que há um dever de garante, a
responsabilidade seria objetiva (exs: presidiários, pessoas internadas em hospitais públicos, estudantes de escolas
públicas).

24
https://www.buscadordizerodireito.com.br/teses/detalhes/4e732ced3463d06de0ca9a15b615
3677?categoria=2

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6) Há responsabilidade civil do Estado nas hipóteses em que a omissão de seu dever de


fiscalizar for determinante para a concretização ou o agravamento de danos ambientais.

A responsabilidade do Estado por dano ao meio ambiente decorrente de sua omissão no dever de fiscalização é
de caráter solidário, mas de execução subsidiária, na condição de devedor-reserva.

Há responsabilidade do Estado ainda que, por meios apenas indiretos, contribua para a consolidação,
agravamento ou perpetuação dos danos experimentados pela sociedade.

STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1362234/MS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 05/11/2019.

7) A Administração Pública pode responder civilmente pelos danos causados por seus
agentes, ainda que estes estejam amparados por causa excludente de ilicitude penal.

8) É objetiva a responsabilidade civil do Estado pelas lesões sofridas por vítima baleada em
razão de tiroteio ocorrido entre policiais e assaltantes.

9) O Estado possui responsabilidade objetiva nos casos de morte de custodiado em unidade


prisional.

10) O Estado responde objetivamente pelo suicídio de preso ocorrido no interior de


estabelecimento prisional.

O STF decidiu que a responsabilização objetiva do Estado em caso de morte de detento somente ocorre quando
houver inobservância do dever específico de proteção previsto no art. 5º, inciso XLIX, da Constituição Federal (RE
841526/RS).

Não haverá responsabilidade civil do Estado se o Tribunal de origem, com base nas provas apresentadas, decide
que não se comprovou que a morte do detento foi decorrente da omissão do Poder Público e que o Estado não
tinha como montar vigilância a fim de impedir que o preso ceifasse sua própria vida.

Tendo o acórdão do Tribunal de origem consignado expressamente que ficou comprovada causa impeditiva da
atuação estatal protetiva do detento, rompeu-se o nexo de causalidade entre a suposta omissão do Poder Público
e o resultado danoso.

STJ. 2ª Turma. REsp 1305259/SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 08/02/2018.

11) O Estado não responde civilmente por atos ilícitos praticados por foragidos do sistema
penitenciário, salvo quando os danos decorrem direta ou imediatamente do ato de fuga.

Em regra, o Estado não tem responsabilidade civil por atos praticados por presos foragidos; exceção: quando
demonstrado nexo causal direto:

Nos termos do artigo 37, § 6º, da Constituição Federal, não se caracteriza a responsabilidade civil objetiva do
Estado por danos decorrentes de crime praticado por pessoa foragida do sistema prisional, quando não
demonstrado o nexo causal direto entre o momento da fuga e a conduta praticada. STF. Plenário. RE 608880, Rel.
Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 08/09/2020 (Repercussão Geral – Tema
362) (Info 993).

12) A despeito de situações fáticas variadas no tocante ao descumprimento do dever de


segurança e vigilância contínua das vias férreas, a responsabilização da concessionária é uma
constante, passível de ser elidida tão somente quando cabalmente comprovada a culpa
exclusiva da vítima. (Recurso Repetitivo - Tema 517)

13) No caso de atropelamento de pedestre em via férrea, configura-se a concorrência de


causas, impondo a redução da indenização por dano moral pela metade, quando: (i) a

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concessionária do transporte ferroviário descumpre o dever de cercar e fiscalizar os limites


da linha férrea, mormente em locais urbanos e populosos, adotando conduta negligente no
tocante às necessárias práticas de cuidado e vigilância tendentes a evitar a ocorrência de
sinistros; e (ii) a vítima adota conduta imprudente, atravessando a via férrea em local
inapropriado. (Recurso Repetitivo - Tema 518)

14) Não há nexo de causalidade entre o prejuízo sofrido por investidores em decorrência de
quebra de instituição financeira e a suposta ausência ou falha na fiscalização realizada pelo
Banco Central no mercado de capitais.

15) A existência de lei específica que rege a atividade militar (Lei n. 6.880/1980) não isenta a
responsabilidade do Estado pelos danos morais causados em decorrência de acidente sofrido
durante as atividades militares.

16) Em se tratando de responsabilidade civil do Estado por rompimento de barragem, é


possível a comprovação de prejuízos de ordem material por prova exclusivamente
testemunhal, diante da impossibilidade de produção ou utilização de outro meio probatório.

17) É possível a cumulação de benefício previdenciário com indenização decorrente de


responsabilização civil do Estado por danos oriundos do mesmo ato ilícito.

18) Nas ações de responsabilidade civil do Estado, é desnecessária a denunciação da lide ao


suposto agente público causador do ato lesivo.

A teor do disposto no art. 37, § 6º, da Constituição Federal, a ação por danos causados por
agente público deve ser ajuizada contra o Estado ou a pessoa jurídica de direito privado
prestadora de serviço público, sendo parte ilegítima para a ação o autor do ato, assegurado
o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

STF. Plenário. RE 1027633/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/8/2019 (repercussão
geral) (Info 947).

.QUESTÃO 53 – A Agência de Transporte do Estado de "Transpólis" é responsável por


administrar o sistema de transporte público na região metropolitana da cidade. Diante
da necessidade de melhoria na qualidade do atendimento aos usuários, a agência
implementa um programa de ouvidoria para receber reclamações, sugestões e
denúncias relacionadas ao serviço prestado. O programa tem como base a Lei Federal
nº 13.460/2017, que trata das normas gerais para participação, proteção e defesa dos
direitos do usuário dos serviços públicos. Com base nesse contexto, assinale a
alternativa correta:

a) A Lei Federal nº 13.460/2017 estabelece a obrigatoriedade de consulta ao


conselho de usuários quanto à indicação do ouvidor.
b) A Agência de Transporte não pode criar um programa de ouvidoria com base na
Lei Federal nº 13.460/2017, uma vez que a lei não abrange os serviços de
transporte público.

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c) Para garantir seus direitos, o usuário poderá apresentar manifestações acerca


da prestação de serviços públicos. A manifestação será dirigida à ouvidoria do
órgão e conterá a identificação do requerente.
d) A Lei Federal nº 13.460/2017 exige que a Agência de Transporte realize consultas
públicas obrigatórias antes de implementar qualquer programa de ouvidoria.
e) As disposições dessa Lei não se aplicam às empresas públicas e sociedades de
economia mista, eis que regulamentadas pelo direito privado.

Gabarito: C

Comentário:

A alternativa "a" está incorreta. Embora a Lei Federal nº 13.460/2017 promova a


participação dos usuários nos serviços públicos, ela não estabelece explicitamente a
obrigatoriedade de consulta ao conselho de usuários para a indicação do ouvidor. A lei
enfatiza a criação de mecanismos de participação, mas a nomeação do ouvidor não está
estritamente ligada a essa consulta. Conforme a legislação: o art. 20. O conselho de
usuários poderá ser consultado quanto à indicação do ouvidor.

A alternativa "b" está incorreta. A Lei Federal nº 13.460/2017 abrange uma ampla
variedade de serviços públicos, incluindo os serviços de transporte público. Portanto, a
implementação de um programa de ouvidoria pela Agência de Transporte, embasada
nessa lei, é uma medida que visa aprimorar o atendimento aos usuários e a qualidade
dos serviços públicos prestados.

A alternativa "c" está correta. A Lei Federal nº 13.460/2017 de fato assegura o direito
dos usuários a apresentarem manifestações acerca da prestação de serviços públicos.
Essas manifestações podem ser dirigidas à ouvidoria do órgão responsável e devem
conter a identificação do requerente para possibilitar o tratamento adequado das
demandas e a proteção dos direitos dos usuários.

Conforme o Art. 10. A manifestação será dirigida à ouvidoria do órgão ou entidade


responsável e conterá a identificação do requerente.

A alternativa "d" está incorreta. A Lei Federal nº 13.460/2017 não exige consultas
públicas obrigatórias antes da implementação de um programa de ouvidoria. No
entanto, a lei estabelece que os usuários devem ser ouvidos e suas manifestações
consideradas, visando à melhoria dos serviços públicos e à participação cidadã.
Consultas públicas podem ser uma ferramenta útil nesse processo, mas não são
mandatórias para a criação da ouvidoria.

A alternativa "e" está incorreta. As disposições da Lei Federal nº 13.460/2017


aplicam-se tanto aos órgãos públicos quanto às empresas públicas e sociedades de
economia mista que prestem serviços públicos. Embora essas entidades possam ter

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características do direito privado, a prestação de serviços públicos as coloca sob o


escopo das normas estabelecidas pela lei para garantir a proteção e defesa dos direitos
dos usuários.

Veja na legislação: Art. 1º Esta Lei estabelece normas básicas para participação,
proteção e defesa dos direitos do usuário dos serviços públicos prestados direta ou
indiretamente pela administração pública.

§ 1º O disposto nesta Lei aplica-se à administração pública direta e indireta da União,


dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nos termos do inciso I do § 3º do art.
37 da Constituição Federal.

.QUESTÃO 54 – A Lei de Acesso à Informação (LAI), Lei nº 12.527/2011, tem como


objetivo garantir o direito constitucional de solicitar e obter informações dos órgãos e
entidades públicas. Podem pedir informações pessoas de qualquer idade e
nacionalidade, além de empresas e organizações. O acesso à informação é um direito
de todos e um dever do Estado. Sobre o tema, assinale o item INCORRETO:

a) Subordinam-se ao regime da Lei de Acesso à informação as autarquias, as


fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades de economia mista e
demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Estados,
Distrito Federal e Municípios.
b) Para os efeitos da Lei de Acesso à informação, considera-se informação
sigilosa aquela submetida temporariamente à restrição de acesso público em
razão de sua imprescindibilidade para a segurança da sociedade e do Estado.
c) As exigências relativas aos motivos determinantes da solicitação de
informações de interesse público serão somente aquelas imprescindíveis.
d) No caso de indeferimento de acesso a informações ou às razões da negativa
do acesso, poderá o interessado interpor recurso contra a decisão no prazo de
10 (dez) dias a contar da sua ciência.
e) O tratamento das informações pessoais deve ser feito de forma transparente
e com respeito à intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas, bem
como às liberdades e garantias individuais.

Gabarito: C
Comentários:

Queridos, a Lei de Acesso à Informação (LAI), Lei nº 12.527/2011 está


prevista no edital da DPE-MG e é importante a revisão de seu conteúdo. Nesse contexto,
vamos analisar os dispositivos legais:

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Art. 1º Esta Lei dispõe sobre os procedimentos a serem


observados pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios,
com o fim de garantir o acesso a informações previsto no inciso
XXXIII do art. 5º, no inciso II do § 3º do art. 37 e no § 2º do art.
216 da Constituição Federal.

Parágrafo único. Subordinam-se ao regime desta Lei:

I - os órgãos públicos integrantes da administração direta dos


Poderes Executivo, Legislativo, incluindo as Cortes de Contas, e
Judiciário e do Ministério Público;

II - as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas,


as sociedades de economia mista e demais entidades
controladas direta ou indiretamente pela União, Estados,
Distrito Federal e Municípios.

Art. 4º Para os efeitos desta Lei, considera-se:


III - informação sigilosa: aquela submetida temporariamente à
restrição de acesso público em razão de sua imprescindibilidade
para a segurança da sociedade e do Estado;

Art. 10. Qualquer interessado poderá apresentar pedido de


acesso a informações aos órgãos e entidades referidos no art. 1º
desta Lei, por qualquer meio legítimo, devendo o pedido conter
a identificação do requerente e a especificação da informação
requerida.
§ 3º São vedadas quaisquer exigências relativas aos motivos
determinantes da solicitação de informações de interesse
público.

Art. 15. No caso de indeferimento de acesso a informações ou às


razões da negativa do acesso, poderá o interessado interpor
recurso contra a decisão no prazo de 10 (dez) dias a contar da
sua ciência.

Art. 31. O tratamento das informações pessoais deve ser feito de


forma transparente e com respeito à intimidade, vida privada,
honra e imagem das pessoas, bem como às liberdades e
garantias individuais.

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Portanto, item C é o item a ser assinalado.

.QUESTÃO 55 – “Defensoria de Minas Gerais celebra convênio com Ministério da Justiça


para desenvolver projeto de proteção integral a crianças e adolescentes. Com o nome
‘Escola de Convivência Familiar’, iniciativa pretende diminuir a necessidade de
acolhimento institucional ou internações por ato infracional. O projeto tem por objetivo
a melhoria das relações familiares e sociais, de modo a promover a proteção integral de
crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, auxiliando as famílias a
fortalecer os vínculos familiares e comunitários.”

Fonte: https://defensoria.mg.def.br/defensoria-de-minas-gerais-celebra-convenio-
com-ministerio-da-justica-para-desenvolver-projeto-de-protecao-integral-a-criancas-e-
adolescentes/

Sobre a natureza jurídica dos convênios, consórcios e outros institutos congêneres, é


possível afirmar corretamente que:

a) Os consórcios públicos almejam a realização de objetivos de interesse comum


dos consorciados, e constituem necessariamente uma nova pessoa jurídica sob
a forma de associação pública.

b) A Lei 11.107/05 preleciona que a prévia subscrição de protocolo de intenções


pode ser afastada se não houver, entre as partes consorciadas, qualquer
contrariedade acerca dos objetivos do consórcio.

c) O contrato de rateio será formalizado em cada exercício financeiro, e seu prazo


de vigência não será superior ao das dotações que o suportam, com exceção
dos contratos que tenham por objeto exclusivamente projetos consistentes em
programas e ações contemplados em plano plurianual, conforme a Lei
11.107/05.

d) Convênio é todo ajuste celebrado entre entidades da Administração Pública ou


entre essas e particulares, tendo como objeto a realização de interesses comuns,
formando, portanto, uma associação cooperativa, em que os partícipes se unem
para a consecução de um fim comum, sem a possibilidade de transferência de
recursos públicos.

e) O acordo de cooperação é o instrumento jurídico que formaliza entre órgãos e


entidades da Administração Pública ou entre estes e entidades privadas sem fins
lucrativos, liame que visa à execução de programas de trabalho,
projeto/atividade ou evento de interesse recíproco, decorrente de obrigação de
repasse de recursos entre os partícipes.

Gabarito: C

147
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Comentários:

Pessoal, nessa questão nosso objetivo foi tratar com vocês sobre os seguintes
pontos do edital:

Negócios Jurídicos Celebrados pela Administração Pública: Contrato, convênio,


consórcio, acordo, ajuste, termo de parceria, termo de cooperação técnica e outros
institutos congêneres.

A doutrina administrativista sinaliza que:

O acordo de cooperação é o instrumento jurídico hábil para a


formalização, entre órgãos e entidades da Administração Pública
ou entre estes e entidades privadas sem fins lucrativos, de
interesse na mútua cooperação técnica, visando à execução de
programas de trabalho, projeto/atividade ou evento de interesse
recíproco, da qual não decorra obrigação de repasse de
recursos entre os partícipes. Fundamenta-se na Lei Nº 13.019,
de 31 de julho de 2014.
A celebração de acordo de cooperação deve ser precedida de
adequada instrução processual, que deve necessariamente
conter plano de trabalho que contemple as informações
elencadas nos incisos I, II, III e VI do parágrafo 1º do art. 116 da
Lei nº 8.666/1993 e análise referente às razões de sua
propositura, objetivos e de sua adequação à missão institucional
dos órgãos e/ou entidades envolvidos, além da pertinência das
suas obrigações, esclarecendo, inclusive, o motivo pelo qual a
Administração deixou de atender a algum dos requisitos
estabelecidos no art. 116, §1º, da Lei nº 8.666/1993, se for o
caso.

Ainda, conforme a Lei 11.107/05 – Consórcios Públicos:

Art. 1º Esta Lei dispõe sobre normas gerais para a União, os


Estados, o Distrito Federal e os Municípios contratarem
consórcios públicos para a realização de objetivos de interesse
comum e dá outras providências.
§ 1º O consórcio público constituirá associação pública ou
pessoa jurídica de direito privado.
(…)

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Art. 3º O consórcio público será constituído por contrato cuja


celebração dependerá da prévia subscrição de protocolo de
intenções.
(…)
Art. 8º Os entes consorciados somente entregarão recursos ao
consórcio público mediante contrato de rateio.
§ 1º O contrato de rateio será formalizado em cada exercício
financeiro, e seu prazo de vigência não será superior ao das
dotações que o suportam, com exceção dos contratos que
tenham por objeto exclusivamente projetos consistentes em
programas e ações contemplados em plano plurianual.

Portanto, item C é o item a ser assinalado.

DIREITO CIVIL

.QUESTÃO 56 – Pedro e Simone, depois de 2 anos de namoro, resolveram morar juntos.


Nos preparativos para a vida em conjunto do casal, decidiram construir uma casa anexa
no terreno do pai de Simone, sr. José, onde sua família também morava na casa
principal. A casa foi construída com o esforço econômico de ambos. Após 10 anos de
convivência e de dois filhos em comum, decidiram dissolver a união estável, pois a vida
como casal já não estava suportável para ambos. De acordo com a hipótese, assinale a
alternativa correta:

a) No divórcio, poderão alegar a usucapião de parte do imóvel, tendo direito a


propriedade originária sobre ele.
b) O anexo é de propriedade de José e é considerada incabível qualquer
indenização neste caso.
c) Por se tratar de terreno alheio, o casal terá direito à indenização pela
construção realizada no imóvel de José, sob pena de enriquecimento ilícito do
proprietário do terreno.
d) É impossível a partilha de quaisquer direitos sobre imóvel, segundo
entendimento do STJ.
e) É possível a partilha do imóvel propriamente dito, cabendo a cada um deles a
meação do bem.

Gabarito: C

Comentário:

149
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Pessoal, essa é uma questão que vemos bastante na rotina da própria


Defensoria Pública. E por ser um tema afeto à atuação, trouxemos para vocês no nosso
simulado.

O art. 1.255 do CC define que “aquele que semeia, planta ou edifica em


terreno alheio perde, em proveito do proprietário, as sementes, plantas e
construções; se procedeu de boa-fé, terá direito a indenização”.

Assim, poderá ser estipulada uma indenização aos construtores, desde que
tenham agido de boa-fé, ou seja, que a construção da moradia tenha ocorrido com a
permissão do proprietário do terreno.

A 4ª Turma do STJ decidiu a respeito do tema no Resp 1327652/RS, em hipótese


similar ao do enunciado. Vejamos:

RECURSO ESPECIAL. UNIÃO ESTÁVEL. DISSOLUÇÃO. PARTILHA DE BEM


CONSTRUÍDO SOBRE TERRENO DE TERCEIRO, PAIS DO EX-COMPANHEIRO.
ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM DOS TERCEIROS. NÃO OCORRÊNCIA.
CONSTRUÇÃO DE ACESSÃO (CASA) QUE SE REVERTE EM PROL DO
PROPRIETÁRIO. DIREITO À INDENIZAÇÃO. PARTILHA DOS DIREITOS SOBRE O
IMÓVEL. POSSIBILIDADE. EXPRESSÃO ECONÔMICA QUE DEVE SER OBJETO DE
DIVISÃO.
1. O Código Civil estabelece que "aquele que semeia, planta ou edifica em
terreno alheio perde, em proveito do proprietário, as sementes, plantas e
construções; se procedeu de boa-fé, terá direito a indenização" (CC, art.
1.255), evitando-se, desta feita, o enriquecimento indevido do proprietário
e, por outro lado, não permitindo que aquele que construiu ou plantou em
terreno alheiro tire proveito às custas deste.
2. Na espécie, o casal construiu sua residência no terreno de propriedade de
terceiros, pais do ex-companheiro, e, agora, com a dissolução da sociedade
conjugal, a ex-companheira pleiteia a partilha do bem edificado.
3. A jurisprudência do STJ vem reconhecendo que, em havendo alguma forma
de expressão econômica, de bem ou de direito, do patrimônio comum do
casal, deve ser realizada a sua meação, permitindo que ambos usufruam da
referida renda, sem que ocorra o enriquecimento sem causa e o sacrifício
patrimonial de apenas um deles.
4. É possível a partilha dos direitos decorrentes da edificação da casa de
alvenaria, que nada mais é do que patrimônio construído com a participação
de ambos, cabendo ao magistrado, na situação em concreto, avaliar a melhor
forma da efetivação desta divisão.
5. Em regra, não poderá haver a partilha do imóvel propriamente dito, não
se constando direito real sobre o bem, pois a construção incorpora-se ao
terreno, passando a pertencer ao proprietário do imóvel (CC, art. 1.255),
cabendo aos ex-companheiros, em ação própria, a pretensão indenizatória

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correspondente, evitando-se o enriquecimento sem causa do titular do


domínio.
6. No entanto, caso os terceiros, proprietários, venham a integrar a lide, torna-
se plenamente possível, no âmbito da tutela de partilha, o deferimento do
correspondente pleito indenizatório. No ponto, apesar de terem integrado o
feito, não houve pedido indenizatório expresso da autora em face dos
proprietários quanto à acessão construída, o que inviabiliza o seu
arbitramento no âmbito da presente demanda.
7. Na hipótese, diante da comprovação de que a recorrida ajudou na
construção da casa de alvenaria, o Tribunal de origem estabeleceu a
possibilidade de meação "com o pagamento dos respectivos percentuais em
dinheiro e por quem tem a obrigação de partilhar o bem", concluindo não
haver dúvida de "que o imóvel deve ser partilhado entre os ex-companheiros,
na proporção de 50% para cada um".
8. Assim, as instâncias ordinárias estabeleceram forma de compensação
patrimonial em face do ex-companheiro, em razão dos direitos decorrentes
da edificação da casa de alvenaria, sendo que o valor percentual atribuído
deverá ser apurado em sede de liquidação de sentença e pago pelo varão,
não havendo falar em partilhamento do imóvel, já que que se trata de bem
de propriedade de outrem.
9. Recurso especial parcialmente provido.
(REsp n. 1.327.652/RS, relator Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma,
julgado em 10/10/2017, DJe de 22/11/2017.)

Sendo assim, não será o caso de usucapião, o que deixa a alternativa A


incorreta.

Ainda, conforme o entendimento acima e a redação do art. 1255 do CC,


evidenciada a boa-fé do casal e a permissão do proprietário em construir, é devida a
indenização daqueles pela benfeitoria no imóvel, sob pena de se caracterizar
enriquecimento ilícito do proprietário, eliminando a alternativa B e dando o gabarito à
letra C.

Por fim, conforme expresso nos fundamentos do entendimento do STJ, não se


trata da divisão direta do imóvel, mas dos direitos patrimoniais sobre ele. Ocorrendo a
construção em imóvel alheio, o casal terá direito à divisão dos gastos na proporção do
empenho realizado, sendo cabível a proporção de 50% para cada um.

.QUESTÃO 57 – Lara e Janaína são casadas sob o regime de comunhão universal de bens.
Janaína é esteticista e contraiu uma dívida em face da Beleza LTDA, pela compra de
equipamentos de estética. Ao realizar a execução do débito, a empresa não localizou
bens no nome de Janaína, razão pela qual pugnou pela penhora de valores na conta

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bancária de Lara. O Juízo, ao analisar o pedido, indeferiu sob o fundamento de que


invadiu bem particular do cônjuge do devedor. Dessa forma:

a) O Juízo agiu de acordo com entendimento do STJ, que definiu a impossibilidade


de penhora de bens do cônjuge em razão de dívida particular do outro, ainda no
caso de regime de comunhão universal de bens.
b) O Juízo está correto ao indeferir o pedido, porém o argumento utilizado diverge
do estabelecido pelo STJ em sede de repetitivos.
c) O Juízo não agiu de acordo com o estabelecido pelo STJ, que entende que a
comunhão universal permite a penhora de todos os bens do cônjuge, não
havendo necessidade de respeitar sua meação, em razão da dívida ter sido
contraída em benefício do casal.
d) O Juízo contrariou o entendimento firmado pelo STJ, que determina a
possibilidade de penhora de valores em conta da esposa da devedora, quando
casadas sob comunhão universal de bens, mas deve ser resguardada a meação
de Lara.
e) No caso de revisão da decisão e havendo a constrição dos valores de conta
corrente de Lara, esta não poderá impugná-la por embargos de terceiro para
provar sua propriedade exclusiva, por não ser o meio cabível.

Gabarito: D
Comentários:

Na 2ª questão foi cobrado, além do conhecimento sobre os regimes de bens, a


atualização sobre julgados recentes do STJ.

Também em situação semelhante à que foi trazida pela questão, o STJ definiu
no informativo 780 que:

Vejamos a ementa do julgado:

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO ANULATÓRIA EM FASE DE CUMPRIMENTO DE


SENTENÇA. PENHORA DE VALORES NA CONTA BANCÁRIA DA ESPOSA DO
EXECUTADO, QUE NÃO INTEGRA A RELAÇÃO PROCESSUAL. POSSIBILIDADE.
REGIME DA COMUNHÃO UNIVERSAL DE BENS. FORMAÇÃO DE
PATRIMÔNIO ÚNICO DOS CONSORTES. PROTEÇÃO DA MEAÇÃO E BENS
EXCLUSIVOS DO CÔNJUGE QUE SE DÁ PELA VIA DOS EMBARGOS DE
TERCEIRO (ART. 674, § 2º, INCISO I, DO CPC/2015). REFORMA DO ACÓRDÃO
RECORRIDO. RECURSO PROVIDO.
1. O propósito recursal consiste em saber se é possível, no bojo de
cumprimento de sentença, a penhora de valores na conta corrente da
esposa do devedor, casados sob o regime da comunhão universal de bens,
observando-se a respectiva meação.

152
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2. No regime da comunhão universal de bens, forma-se um único


patrimônio entre os consortes, o qual engloba todos os créditos e débitos
de cada um individualmente, com exceção das hipóteses previstas no art.
1.668 do Código Civil.
3. Por essa razão, revela-se perfeitamente possível a constrição judicial de
bens do cônjuge do devedor, casados sob o regime da comunhão
universal de bens, ainda que não tenha sido parte no processo,
resguardada, obviamente, a sua meação.
4. Com efeito, não há que se falar em responsabilização de terceiro
(cônjuge) pela dívida do executado, pois a penhora recairá sobre bens de
propriedade do próprio devedor, decorrentes de sua meação que lhe cabe
nos bens em nome de sua esposa, em virtude do regime adotado.
5. Caso, porém, a medida constritiva recaia sobre bem de propriedade
exclusiva do cônjuge do devedor - bem próprio, nos termos do art. 1.668
do Código Civil, ou decorrente de sua meação, o meio processual para
impugnar essa constrição, a fim de se afastar a presunção de
comunicabilidade, será pela via dos embargos de terceiro, a teor do que
dispõe o art. 674, § 2º, inciso I, do Código de Processo Civil de 2015.
6. Recurso especial provido.
(REsp n. 1.830.735/RS, relator Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira
Turma, julgado em 20/6/2023, DJe de 26/6/2023.)

Dessa forma, podemos observar que o regime de comunhão de bens forma um


verdadeiro condomínio de bens, dívidas e créditos. Nas palavras do Min. Bellizze, é uma
verdadeira fusão de acervos patrimoniais, onde cada participante terá direito à meação
sobre todos os bens componentes dessa universalidade formada, independentemente
de terem sido adquiridos antes ou depois das núpcias, a título oneroso ou gratuito.

Cabe ressaltar que o art. 1.668 do CC determina que são excluídos da


comunhão universal:
I - os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade
e os sub-rogados em seu lugar;
II - os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro
fideicomissário, antes de realizada a condição suspensiva;
III - as dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de
despesas com seus aprestos, ou reverterem em proveito comum;
IV - as doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com
a cláusula de incomunicabilidade;
V - Os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659.

E os incisos V a VII, do art. 1.659, do CC tratam:

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V - os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão;


VI - os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge;
VII - as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas
semelhantes.

Ocorre que, segundo o entendimento do STJ trazido acima, é perfeitamente


possível a constrição judicial de bens do cônjuge do devedor, casados sob o regime da
comunhão universal de bens, ainda que não tenha sido parte no processo,
resguardada, obviamente, a sua meação.

E, no caso de se tratar de uma exceção da comunhão, ou seja, de bem de


propriedade exclusiva do cônjuge e que se amolde às exceções legais, o STJ entende que
o meio cabível para a defesa do patrimônio são os embargos de terceiro.

Aproveitando o gancho, vamos revisar esse instituto?

Os embargos de terceiro são tratados nos arts. 674 ao 681 do CPC.

Será cabível no caso de CONSTRIÇÃO ou AMEAÇA DE CONSTRIÇÃO sobre bens


de terceiro, que não faz parte do processo, e que tenha direito incompatível com o ato
constritivo.

Art. 674. Quem, não sendo parte no processo, sofrer constrição ou ameaça de constrição sobre bens
que possua ou sobre os quais tenha direito incompatível com o ato constritivo, poderá requerer seu
desfazimento ou sua inibição por meio de embargos de terceiro.
§ 1º Os embargos podem ser de terceiro proprietário, inclusive fiduciário, ou possuidor.
§ 2º Considera-se terceiro, para ajuizamento dos embargos:
I - o cônjuge ou companheiro, quando defende a posse de bens próprios ou de sua meação, ressalvado
o disposto no art. 843;
II - o adquirente de bens cuja constrição decorreu de decisão que declara a ineficácia da alienação
realizada em fraude à execução;
III - quem sofre constrição judicial de seus bens por força de desconsideração da personalidade
jurídica, de cujo incidente não fez parte;
IV - o credor com garantia real para obstar expropriação judicial do objeto de direito real de garantia,
caso não tenha sido intimado, nos termos legais dos atos expropriatórios respectivos.

Art. 675. Os embargos podem ser opostos a qualquer tempo no processo de conhecimento enquanto
não transitada em julgado a sentença e, no cumprimento de sentença ou no processo de execução,
até 5 (cinco) dias depois da adjudicação, da alienação por iniciativa particular ou da arrematação, mas
sempre antes da assinatura da respectiva carta.
Parágrafo único. Caso identifique a existência de terceiro titular de interesse em embargar o ato, o juiz
mandará intimá-lo pessoalmente.

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Art. 676. Os embargos serão distribuídos por dependência ao juízo que ordenou a constrição e
autuados em apartado.
Parágrafo único. Nos casos de ato de constrição realizado por carta, os embargos serão oferecidos no
juízo deprecado, salvo se indicado pelo juízo deprecante o bem constrito ou se já devolvida a carta.

Art. 677. Na petição inicial, o embargante fará a prova sumária de sua posse ou de seu domínio e da
qualidade de terceiro, oferecendo documentos e rol de testemunhas.
§ 1º É facultada a prova da posse em audiência preliminar designada pelo juiz.
§ 2º O possuidor direto pode alegar, além da sua posse, o domínio alheio.
§ 3º A citação será pessoal, se o embargado não tiver procurador constituído nos autos da ação
principal.
§ 4º Será legitimado passivo o sujeito a quem o ato de constrição aproveita, assim como o será seu
adversário no processo principal quando for sua a indicação do bem para a constrição judicial.

Art. 678. A decisão que reconhecer suficientemente provado o domínio ou a posse determinará a
suspensão das medidas constritivas sobre os bens litigiosos objeto dos embargos, bem como a
manutenção ou a reintegração provisória da posse, se o embargante a houver requerido.
Parágrafo único. O juiz poderá condicionar a ordem de manutenção ou de reintegração provisória de
posse à prestação de caução pelo requerente, ressalvada a impossibilidade da parte economicamente
hipossuficiente.

Art. 679. Os embargos poderão ser contestados no prazo de 15 dias, findo o qual se seguirá o
procedimento comum.

Art. 680. Contra os embargos do credor com garantia real, o embargado somente poderá alegar que:
I - o devedor comum é insolvente;
II - o título é nulo ou não obriga a terceiro;
III - outra é a coisa dada em garantia.

Art. 681. Acolhido o pedido inicial, o ato de constrição judicial indevida será cancelado, com o
reconhecimento do domínio, da manutenção da posse ou da reintegração definitiva do bem ou do
direito ao embargante.

.QUESTÃO 58 – Considerando as previsões legais e a jurisprudência do Superior Tribunal


de Justiça a respeito dos temas filiação, investigação de paternidade e alimentos,
assinale a alternativa correta:

a) No caso de o suposto pai não ser localizado para realização de exame de DNA,
este poderá ser realizado em parentes consanguíneos. Nesse caso, a recusa do
parente importará em presunção de paternidade, a ser apreciada em conjunto
com o contexto probatório.
b) Julgada procedente a investigação de paternidade, os alimentos são devidos a
partir do nascimento da criança.
c) A jurisprudência do STJ entende que é juridicamente impossível o pedido de
nova adoção formulado pela mãe biológica, em relação à filha com mais de 18
anos adotada por outrem, anteriormente, na infância.

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d) Um homem registra as duas filhas nascidas durante o casamento em seu nome


e, anos depois, surge dúvida e ajuíza ação negatória de paternidade, na qual se
descobre que as duas não possuíam vínculo biológico com ele. Diante disso, ele
cortou relações com ambas. Nessa hipótese, entende o STJ que, como havia
vínculo socioafetivo estabelecido, a paternidade não pode ser desconstituída.
e) O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento poderá ser feito, dentre
outras formas, por escritura pública ou escrito particular, ou por manifestação
expressa perante o juiz, desde que o reconhecimento haja sido o objeto único e
principal do ato que o contém.

Gabarito: A

Comentários:

A Defensoria Pública frequentemente realiza mutirões de reconhecimento de


paternidade e, no caso da DPE-MG, desde 2011 são feitos atendimento através do
mutirão “Direito a Ter Pai”. Assim, assuntos relacionados à investigação de paternidade
são muito importantes para provas de Defensoria, como no caso.
Igualmente, há muitas questões de provas da Defensoria que envolvem o tema
filiação e a jurisprudência dos Tribunais Superiores a respeito do tema. Por isso, esse é
um palpite para a prova, inclusive porque previsto não apenas para a parte de família,
mas também para a parte de infância do edital.
Agora vamos para a resolução da questão:
A assertiva “a” está correta, porque está em conformidade com a letra da lei
(no caso, lei nº 8.560/1992 - Lei da Investigação de Paternidade).
Prevê o artigo 2º-A, §2º, que teve sua redação alterada recentemente, em
2021:

Art. 2º-A. Na ação de investigação de paternidade, todos os meios legais, bem como os moralmente
legítimos, serão hábeis para provar a verdade dos fatos. (Incluído pela Lei nº 12.004, de 2009).
§ 1º. A recusa do réu em se submeter ao exame de código genético - DNA gerará a presunção da
paternidade, a ser apreciada em conjunto com o contexto probatório. (Incluído pela Lei nº 12.004,
de 2009). (Renumerado do parágrafo único, pela Lei nº 14.138, de 2021)
§ 2º Se o suposto pai houver falecido ou não existir notícia de seu paradeiro, o juiz determinará, a
expensas do autor da ação, a realização do exame de pareamento do código genético (DNA) em parentes
consanguíneos, preferindo-se os de grau mais próximo aos mais distantes, importando a recusa em
presunção da paternidade, a ser apreciada em conjunto com o contexto probatório. (Incluído pela
Lei nº 14.138, de 2021)

Atenção, ainda, para outro artigo que pode ser cobrado na prova:

Art. 3° da Lei nº 8.560/1992: É vedado legitimar e reconhecer filho na ata do casamento.

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Quanto à assertiva “b”, está incorreta porque contraria a previsão de súmula


do STJ. Lembrando que a revisão das súmulas do STF e STJ sempre é recomendável na
reta final, já que a chance de cair é altíssima!
De acordo com a súmula, os ALIMENTOS SÃO DEVIDOS A PARTIR DA CITAÇÃO:

Súmula 277-STJ: Julgada procedente a investigação de paternidade, os alimentos são devidos a


partir da citação.

Ainda sobre o tema, é importante lembrar que os alimentos são irrepetíveis,


ou seja, as parcelas já pagas não podem ser reavidas se, depois, concluir-se que não
havia dever de pagamento.
Assim, se o suposto pai inicia o pagamento no decorrer da ação de investigação
de paternidade e, ao final, conclui-se que ele não era o pai, os valores já pagos
permanecerão com o alimentado / não poderão ser cobrados de volta.
A alternativa “c” está incorreta porque, segundo o STJ, a mãe pode adotar a sua
filha biológica que havia sido adotada quando criança:

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA!

Info 754/STJ - A mãe pode adotar a sua filha biológica que havia sido adotada quando criança
por um casal
Caso adaptado: Viviane teve uma filha (Laura). Nessa época, Viviane enfrentava inúmeras
dificuldades pessoais e financeiras e, em razão disso, ela entregou a criança para adoção. Laura,
com 2 anos de idade, foi adotada por João e Regina. Mesmo depois da adoção ter sido
concretizada, Viviane visitava frequentemente Laura, mantendo também uma boa relação com
os pais adotivos da criança. Com o passar do tempo, Viviane e Laura foram se aproximando cada
vez mais e surgiu a vontade recíproca de se tornarem mãe e filha novamente. João e Regina
concordaram com isso. Diante desse cenário, Viviane ajuizou ação pedindo a adoção de sua filha
biológica Laura que, na época já estava com 18 anos de idade. Juiz, contudo, negou o pedido
argumentado que ele afrontaria a lei. O STJ não concordou com o magistrado. A lei não traz
expressamente a impossibilidade de se adotar pessoa anteriormente adotada. Em outras
palavras, a lei não proíbe que uma pessoa que já foi adotada anteriormente, seja novamente
adotada. Assim, o pedido de nova adoção formulado pela mãe biológica, em relação à filha
adotada por outrem, anteriormente, na infância, não se afigura juridicamente impossível, sob
o argumento de ser irrevogável a primeira adoção, porque o escopo da norma do art. 39, § 1º,
do ECA é proteger os interesses do menor adotado, vedando que os adotantes se arrependam
da adoção efetivada. Na ação não se postula a nulidade ou revogação da adoção anterior, mas
o deferimento de outra adoção. STJ. 4ª Turma. REsp 1.293.137/BA, Rel. Min. Raul Araújo, julgado
em 11/10/2022 (Info 754).

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A alternativa “d” também leva em conta o entendimento jurisprudencial do STJ,


e está incorreta porque para o STJ, longo período de vínculo socioafetivo não impede
desconstituição da paternidade fundada em erro induzido.
O STJ já decidiu pela manutenção do vínculo de paternidade, assim como pela
desconstituição do vínculo nos casos em que se conclui que não era pai biológico. O
fator determinante para o STJ é averiguar se há vínculo socioafetivo cuja manutenção
atenda ao melhor interesse da criança. Via de regra, mantém-se a paternidade, porque
é reconhecido o vínculo socioafetivo, mas, se, surgida a dúvida do pai induzido a erro,
verifica-se a inexistência de vínculo biológico e este pai distancia-se, é possível
desconstituir a paternidade advinda de vício de vontade.

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA!

A existência de um longo tempo de convivência socioafetiva no ambiente familiar não impede


que, após informações sobre indução em erro no registro dos filhos, o suposto pai ajuíze ação
negatória de paternidade e, sendo confirmada a ausência de vínculo biológico por exame de
DNA, o juiz acolha o pedido de desconstituição da filiação25. (...) embora seja incontroverso no
processo que houve um longo período de convivência e de relação socioafetiva entre o autor e
as crianças, também é fato que, após o exame de DNA, em 2014, esses laços foram rompidos de
forma abrupta e definitiva, situação que igualmente se mantém por bastante tempo (mais de
seis anos). "Diante desse cenário, a manutenção da paternidade registral com todos os seus
consectários legais (alimentos, dever de cuidado, criação e educação, guarda, representação
judicial ou extrajudicial etc.) seria, na hipótese, um ato unicamente ficcional diante da realidade
que demonstra superveniente ausência de vínculo socioafetivo de parte a parte, consolidada
por longo lapso temporal" – concluiu a ministra, ao julgar procedente a ação negativa de
paternidade. O número deste processo não é divulgado em razão de segredo judicial.

De forma concomitante, foi comprovada a inexistência de vínculo biológico e socioafetivo de


paternidade, bem como o vício do consentimento no momento de assunção da paternidade
pelo requerente. “Com a conjunção desses três elementos, entende o STJ que, nestas situações
muito peculiares, é possível o afastamento de uma dada filiação. Essa é uma decisão que
retrata uma situação excepcional, mas adequada à jurisprudência do Tribunal.”
Segundo Ricardo Calderón, o STJ avaliou que não ofenderia o melhor interesse da criança,
princípio que deve balizar sempre todos os casos. “As circunstâncias fáticas e o arcabouço
jurídico envolto permitiu uma conclusão de que a revisão do vínculo de paternidade não afetaria
o princípio do melhor interesse da criança e do adolescente, vértice que também deve ser
considerado em casos do estilo.”

Por isso, a decisão do STJ se difere de outra proferida em outubro, que reformou acórdão do
Tribunal de Justiça de São Paulo - TJSP. Na ocasião, um homem que buscava retificar o registro
civil de uma criança que, cinco anos depois do nascimento, descobriu não ser seu filho biológico

25
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/14122020-Longo-periodo-de-
vinculo-socioafetivo-nao-impede-desconstituicao-da-paternidade-fundada-em-erro-induzido.aspx

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teve o pedido negado pela Terceira Turma. O entendimento foi de que a inexistência de vínculo
biológico não é suficiente e a mudança depende de prova robusta de que o suposto pai foi, de
fato, induzido ao erro ou coagido.

“Naquele caso, o entendimento se lastreou basicamente em dois elementos que são distintos
do acórdão que agora é noticiado. Naquele caso, houve a informação de que o pai não
demonstrou ou não comprovou vício do consentimento na assunção da paternidade, ou seja,
ele não conseguiu comprovar que teria sido induzido a erro”, difere Calderón.

No caso de São Paulo, também houve notícias da presença da socioafetividade entre o homem
e o menino. Tal situação, na esteira da jurisprudência do STJ, impede que seja revista a filiação,
em atenção ao melhor interesse da criança. “Havia também um matrimônio, um relacionamento
de conjugalidade entre pai e mãe que estava subjacente a esse nascimento ou seja a esta prole”,
acrescenta o advogado.

“No caso mais recente, do Paraná, havia um relacionamento fugaz e eventual entre o suposto
pai e a mãe, sem relacionamento afetivo de longo período entre eles. Essas particularidades
fática são fulcrais para a distinção de conclusão entre aquela deliberação do caso São Paulo e
deliberação do caso do Paraná”, explica Calderón.

Ele conclui: “É possível concluir que a regra e a orientação prevalecentes na jurisprudência do


STJ seguem sendo prestigiar a filiação socioafetiva e manter os laços sempre que presente a sua
demonstração fática. Demonstrada a existência de um vínculo afetivo, a regra tem sido manter
a paternidade”26.

A alternativa “e” está incorreta, porque o Código Civil prevê que é possível o
reconhecimento de filho perante o juiz, ainda que esse não seja o objeto do ato27. Em
razão disso, seria possível, por exemplo, o reconhecimento de filho realizado durante
audiência de instrução até mesmo de processo criminal.
Veja o que dispõe o artigo 1.609, do Código Civil:

Art. 1.609. O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será feito:
I - no registro do nascimento;
II - por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório;
III - por testamento, ainda que incidentalmente manifestado;
IV - por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto
único e principal do ato que o contém.

26
https://ibdfam.org.br/noticias/9132/STJ+permite+anula%C3%A7%C3%A3o+de+registro+de+paternida
de+diante+de+v%C3%ADcio+de+consentimento+e+aus%C3%AAncia+de+v%C3%ADnculo+biol%C3%B3gi
co+e+socioafetivo
27
É bastante comum, inclusive, que o reconhecimento seja feito em audiências que possuem outros
objetos principais.

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.QUESTÃO 59 – A respeito dos direitos da personalidade, analise as assertivas a seguir e


indique a alternativa correta:

I - O racismo algorítmico, termo cunhado para designar como os algoritmos


acabam reproduzindo preconceitos raciais, seja dos seus usuários, seja dos próprios
criadores, configura violação a direitos da personalidade. Apesar disso, a Lei Geral de
Proteção de Dados não prevê mecanismos que possibilitem repressão a esta espécie de
racismo.

II - O racismo recreativo é a prática do racismo através do humor e de supostas


piadas. É a reprodução da hostilidade racial por meio de expressões e práticas
humorísticas. A prática de racismo recreativo é ato ilícito indenizável, inclusive, através
de ação civil ex delicto.

III - quando mulheres negras recebem menos anestesia pelo falso motivo de que
pessoas negras aguentam mais dor do que pessoas brancas, isso viola os direitos da
personalidade da mulher e reflete o denominado racismo institucional, dentro dos
hospitais.

IV - deve ser garantido às pessoas não binárias o direito de retificação de


prenome e gênero.

a) Está incorreta a assertiva I.


b) Estão corretas as assertivas II e IV.
c) Está incorreta a assertiva IV.
d) Estão corretas as assertivas I, II e IV.
e) Todas as assertivas são corretas.

Gabarito: A
Comentários:

No âmbito do Direito Civil, a Defensoria atua de diversas formas na proteção dos


direitos da personalidade, o que decorre da função institucional prevista no art. 134, CF,
de promoção dos direitos humanos. Especialmente quando se trata da proteção dos
direitos de grupos vulneráveis, como pessoas negras, mulheres, pessoas LGBQIA+...
Além disso, a aplicação da LGPD tem sido cada vez mais discutida, sendo um dos
tópicos do edital de Direito Civil. Vale a pena dar uma lida rápida na LGPD para ter uma
noção geral dos conceitos e objetivos da Lei.
Lembrando ainda que a proteção de dados pessoais é um direito fundamental
expresso no art. 5º, LXXIX, da CF/88: “é assegurado, nos termos da lei, o direito à
proteção dos dados pessoais, inclusive nos meios digitais”.

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Quanto à resolução da questão, a assertiva “I” está incorreta, porque a Lei Geral
de Proteção de Dados prevê mecanismos de transparência de controle de dados, além
de supervisão pelos controladores.
Vamos primeiro estudar o conceito de racismo algorítmico:

Racismo algorítmico é um termo cunhado para designar como os algoritmos, que são um
conjunto das regras e procedimentos lógicos que definem o funcionamento de determinado
sistema, acabam reproduzindo preconceitos raciais, seja dos seus usuários, seja dos próprios
criadores.
Para combater o racismo algorítmico, é importante garantir que os dados usados para treinar
esses algoritmos sejam imparciais e representativos. Além disso, os desenvolvedores precisam
implementar técnicas para identificar e mitigar viés nos algoritmos, realizar auditorias regulares
e envolver diversos especialistas para revisar e melhorar o desempenho ético dos sistemas
automatizados28.

Agora, vamos entender melhor como funcionam os algoritmos e como os


dispositivos da LGPD podem colaborar para reduzir as ocorrências de racismo
algorítmico.
Já foram realizadas pesquisas indicando que, ao fazer busca sobre meninas
negras retorna pornografia; buscar por estilo de professor, apresenta homens brancos
europeus; busca de cabelos não profissionais para trabalhar mostra mulheres negras,
enquanto procurar cabelos profissionais para trabalhar retorna mulheres brancas e
loiras.
A LGPD permite que se pessoas forem discriminadas por algoritmos possam acionar a
plataforma para repararem, debatendo responsabilidade civil.

Sob esse prisma, surgem, também, preocupações quanto à efetividade da prestação de


contas e responsabilização (art. 6º, X, da LGPD) quanto a processos decisórios em que
não há intervenção humana direta. Isso porque sob uma falsa alegação de neutralidade
dos algoritmos responsáveis por decisões automatizadas, ocultam-se os processos
decisórios humanos verdadeiramente responsáveis pelos resultados que, nos termos
da lei, afetam os interesses dos titulares de dados pessoais. (...)

A quantidade de dados atrelada ao aprendizado de máquina gera, também, o problema


da obscuridade nos processos decisórios. Atualmente, as inteligências artificiais
tomaram um espaço tão grande dentro do cotidiano populacional que a lógica
algorítmica está cada vez mais presente nos processos de tomada de decisão, sejam eles
simples ou complexos. Ou seja, as Inteligências Artificiais estão ganhando maior

28
Conceito postado no Instagram da DPE-MG. O tema racismo algorítmico também já foi cobrado em
outras provas de DPE anteriormente, como DPE-BA (FCC, 2021; na peça processual).

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autonomia dentro do dia-a-dia social, estando presentes desde o cálculo de rotas de


mapas até o processo decisório de processos seletivos.

Os algoritmos obscuros, dentro de uma sociedade que reproduz preconceitos online,


torna difícil a identificação das discriminações e a consequente previsão delas, de modo
que, por vezes, o ambiente digital reforça práticas discriminatórias, em vez de combatê-
las. O tema da obscuridade ganha relevância não apenas pelos exemplos de
discriminação algorítmica a nível pessoal, mas também pela utilização de algoritmos na
tomada de decisões públicas mesmo sem o fornecimento dos critérios de escolha e
diante de diversos exemplos de discriminação perpetuada pelas máquinas.

Fonte: https://www.migalhas.com.br/depeso/354141/as-decisoes-automatizadas-e-a-
discriminacao-algoritmica-a-luz-da-lgpd

Assim, é realmente necessário que os controladores de dados e as pessoas que


criam os algoritmos estejam atentas às consequências discriminatórias que podem vir a
ocorrer, estando abertos para recebimento de denúncias e correção de irregularidades.
Sob essa lógica, prevê a LGPD:
Art. 20. O titular dos dados tem direito a solicitar a revisão de decisões tomadas unicamente com base
em tratamento automatizado de dados pessoais que afetem seus interesses, incluídas as decisões
destinadas a definir o seu perfil pessoal, profissional, de consumo e de crédito ou os aspectos de sua
personalidade. (Redação dada pela Lei nº 13.853, de 2019) Vigência

§ 1º O controlador deverá fornecer, sempre que solicitadas, informações claras e adequadas a respeito
dos critérios e dos procedimentos utilizados para a decisão automatizada, observados os segredos
comercial e industrial.
§ 2º Em caso de não oferecimento de informações de que trata o § 1º deste artigo baseado na observância
de segredo comercial e industrial, a autoridade nacional poderá realizar auditoria para verificação de
aspectos discriminatórios em tratamento automatizado de dados pessoais.
(...)
Art. 50. Os controladores e operadores, no âmbito de suas competências, pelo tratamento de dados
pessoais, individualmente ou por meio de associações, poderão formular regras de boas práticas e de
governança que estabeleçam as condições de organização, o regime de funcionamento, os
procedimentos, incluindo reclamações e petições de titulares, as normas de segurança, os padrões
técnicos, as obrigações específicas para os diversos envolvidos no tratamento, as ações educativas, os
mecanismos internos de supervisão e de mitigação de riscos e outros aspectos relacionados ao
tratamento de dados pessoais.
A assertiva “II” está correta, apresentando adequadamente o conceito de
racismo recreativo. Além disso, é cabível a indenização por danos morais e materiais

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advindos da prática deste tipo de racismo, inclusive mediante a utilização de ação civil
ex delicto29.

Destaque-se que o STF reconheceu que a homotransfobia configura ato de


racismo previsto na Lei nº 7.716/89. Além disso, como a injúria racial passou a ser punida
pelo art. 2º-A, da Lei nº 7.716/89, cabe também ação civil ex delicto nesse caso.30

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA!

Info 944-STJ: A Lei nº 7.716/89 pode ser aplicada para punir as condutas homofóbicas e
transfóbicas.
1. Até que sobrevenha lei emanada do Congresso Nacional destinada a implementar os
mandados de criminalização definidos nos incisos XLI e XLII do art. 5º da Constituição da
República, as condutas homofóbicas e transfóbicas, reais ou supostas, que envolvem aversão
odiosa à orientação sexual ou à identidade de gênero de alguém, por traduzirem expressões
de racismo, compreendido este em sua dimensão social, ajustam-se, por identidade de razão
e mediante adequação típica, aos preceitos primários de incriminação definidos na Lei nº
7.716, de 08.01.1989, constituindo, também, na hipótese de homicídio doloso, circunstância
que o qualifica, por configurar motivo torpe (Código Penal, art. 121, § 2º, I, “in fine”);
STF. Plenário. ADO 26/DF, Rel. Min. Celso de Mello; MI 4733/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgados
em em 13/6/2019 (Info 944).

Art. 2º-A Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro, em razão de raça, cor, etnia ou
procedência nacional. (Incluído pela Lei nº 14.532, de 2023)

Pena: reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 14.532, de 2023)

A assertiva “III” também está correta. O conceito de racismo institucional consta,


de forma bastante explicativa, na cartilha do CONDEGE e da ANADEP sobre racismo.
Para quem quiser se aprofundar, a cartilha pode ser encontrada no link:
http://www.defensoria.rr.def.br/cartilha/002/src/CARTILHA-DIGITAL-
ANADEP_CONDEGE.pdf

Segundo a cartilha, “essa concepção vai além do comportamento individual, mas


expande para instituições que, ainda que indiretamente, promovem DESVANTAGENS

29
Já aproveitamos para relembrar que a propositura de ação civil ex delicto pelo Ministério Público é caso
de inconstitucionalidade progressiva; assim, art. 68 do CPP será constitucional somente até que a
Defensoria Pública esteja totalmente instalada (RE 135328 - STF). Tema recorrente em provas objetivas.
30
Plus: lembrem-se, como o edital da DPE-MG permite cobrança de julgados proferidos mesmo após o
edital, que, recentemente, em 21.08.2023, o STF, ao julgar embargos de declaração no MI4733,
esclareceu que assim como a homotransfobia é espécie de racismo social, a injúria homotransfóbica é
espécie de injúria racial. INDO ALÉM: o julgamento perde algo de sua relevância já que, a partir da Lei nº
14.532/2023, já não há diferença entre injúria racial e racismo; assim, também não haveria diferença
entre injúria homotransfóbica e homotransfobia, tudo redundaria em racismo (portanto, imprescritível).

163
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e PRIVILÉGIOS com base na raça. É possível perceber a manifestação por este ângulo
quando as pesquisas dentro dos órgãos públicos e das empresas privadas demonstram
que os cargos de poder das instituições são geralmente ocupados por pessoas brancas,
e, em sua maioria, homens.

Pesquisas mostram que o racismo institucional está, por exemplo:

- Nos hospitais: quando mulheres negras recebem menos anestesia pelo (falso) motivo
de que pessoas negras aguentam mais dor do que pessoas brancas.

- Nas abordagens policiais: quando agentes policiais agem com base na ideia de que
pessoas negras são perigosas e mais propensas a cometer crimes.

- Na política: sub-representação de pessoas negras eleitas.

Por fim, a assertiva “IV” também está correta. Trata-se de um tema de bastante
destaque para a Defensoria Pública, que também costuma fazer mutirões de retificação
de prenome e gênero31.

É importante ressaltar que, embora haja previsão, no Provimento CNJ 73/2018,


para retificação de prenome e gênero de pessoas transgênero, diretamente no cartório
de registro civil, em alguns Estados ainda há bastante debate em relação às pessoas não
binárias, ou seja, que não se identificam com o gênero masculino nem feminino.

De todo modo, a retificação é devida às pessoas não-binárias, por se tratar de


expressão de sua personalidade, e que encontra proteção internacional na Convenção
Interamericana de Direitos Humanos e nos Princípios de Yogyakarta.

Em Minas Gerais, em junho de 2023 foi realizado o primeiro mutirão para


retificação de prenome e gênero de pessoas não-binárias, o que indica que esse é um
tema forte para a prova.

.QUESTÃO 60 – Em março de 2023, morreu Sérgio, com 80 anos, ab intestato. Seu


falecimento se deu por causas naturais; contudo, anos atrás, seu filho, Joaquim, cumpriu
medida socioeducativa de internação em razão da procedência de representação
ministerial pela prática de ato infracional análogo a tentativa de homicídio de seu pai.
Sérgio, até o momento de sua morte, vivia em União Estável com Mônica, desde 2018.
O casal tinha apenas um filho em comum, Thiago. Os outros descendentes de Sérgio,

31
https://ibdfam.org.br/noticias/10857/In%C3%A9dito%3A+n%C3%A3o+bin%C3%A1rios+podem+retific
ar+g%C3%AAnero+e+nome+em+Minas+Gerais#:~:text=Em%20Minas%20Gerais%2C%20pessoas%20n%
C3%A3o,o%20m%C3%AAs%20do%20orgulho%20LGBTQIA%2B.

https://defensoria.mg.def.br/defensoria-publica-de-minas-abre-inscricoes-para-mutirao-de-retificacao-
de-nome-e-genero-em-bh/

164
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Joaquim e Fabiana, eram fruto de um antigo relacionamento. Seu acervo patrimonial é


o que segue: 1 casa em Búzios-RJ, recebida em doação no ano de 2019; 1 apto que
residia com seus filhos e companheira, em seu nome, que integralmente quitou no ano
de 2000; 1 carro adquirido no ano de 2022 e o valor de R$ 20.000,00 reais na sua conta-
corrente conjunta com sua companheira. Assinale a alternativa correta, no que se refere
à partilha de bens da herança, nos termos do Código Civil.

a) Na primeira ordem de vocação hereditária, serão chamados apenas os


descendentes: Thiago, Joaquim e Fabiana. Mônica terá direito real de habitação
e será meeira dos bens adquiridos na constância da União.
b) Mônica, companheira sobrevivente, será meeira do patrimônio adquirido no
curso da União Estável: o carro e valores da conta-corrente conjunta. Devendo,
ainda, ser reconhecido seu direito real de habitação. Em sede sucessória, serão
chamados apenas os descendentes: Thiago e Fabiana.
c) Irão concorrer os descendentes e a companheira sobrevivente; sendo reservada
a quarta parte da herança à Mônica, pois, concorre com 3 descendentes.
Ademais, deve ser reconhecido seu direito real de habitação.
d) Segundo o STJ, é possível a declaração de indignidade de Joaquim; sendo
necessário ajuizar ação declaratória de indignidade com pedido de exclusão de
herdeiro, no prazo decadencial de 4 anos.
e) Ao tempo da União Estável, diante da ausência de contrato de convivência,
vigora a comunhão parcial de bens; sendo Mônica meeira do patrimônio em
comum. Herdando quota-parte do patrimônio particular em concorrência com
os seus descendentes, Thiago e Fabiana.

Gabarito: B

Comentários:

Pessoal, embora complexo, essa situação nos permite trabalhar diversos temas do
direito sucessório. Vejamos:

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Identificando uma situação problema, de sucessões, nada como fazer aquele velho
desenho na prova. Esquematizar, como acima, irá garantir que tenha uma visão geral;
não esquecendo nenhum detalhe.

1º passo: identificar quem é o morto – data e local da morte, idade do falecido e seu
estado civil (incluído regime de bens)

CC, Art. 1.785. A sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido

166
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2º passo: elencar eventuais ascendentes, descendentes e colaterais; companheiro ou


cônjuge

CC, Art. 1.784. Aberta a sucessão (momento da morte) a herança transmite-se, desde
logo, aos herdeiros legítimos e testamentários (princípio saisine)

CC, Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:

I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este


com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de
bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da
herança não houver deixado bens particulares

II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge {independentemente do regime}

III - ao cônjuge sobrevivente

IV - aos colaterais.

SE TEM JURIS TÁ NA PROVA!

STF, tema 809 de RG: “É inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre


cônjuges e companheiros prevista no art. 1.790 do CC/2002, devendo ser aplicado,
tanto nas hipóteses de casamento quanto nas de união estável, o regime do art. 1.829
do CC/2002”
STJ, súmula 655: Aplica-se à união estável contraída por septuagenário o regime da
separação obrigatória de bens, comunicando-se os adquiridos na constância, quando
comprovado o esforço comum
STF, súmula 377: No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos
na constância do casamento

3º passo: analisar eventuais excluídos da sucessão

CC, Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:

I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso, ou


tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro,
ascendente ou descendente;

167
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II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem


em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro;

III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança
de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade.

Em nosso problema, o ato infracional de Joaquim como causa de indignidade - STJ 32

SE TEM JURIS TÁ NA PROVA!

STJ, Resp 1.943.848 - PR - EMENTA:


CIVIL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DAS SUCESSÕES. AÇÃO DECLARATÓRIA
DE RECONHECIMENTO DE INDIGNIDADE COM PEDIDO DE EXCLUSÃO DE HERDEIRO.
ROL DO ART. 1.814 DO CC/2002. TAXATIVIDADE. CRIAÇÃO DE HIPÓTESES NÃO
PREVISTAS NO DISPOSITIVO LEGAL POR ANALOGIA OU INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA.
IMPOSSIBILIDADE. OBRIGATORIEDADE DE INTERPRETAÇÃO LITERAL EM ROL
TAXATIVO. INEXISTÊNCIA. COMPATIBILIDADE DO ROL TAXATIVO COM OS DEMAIS
MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO. DIFERENCIAÇÃO ENTRE TEXTO DE LEI E NORMA, QUE
É O PRODUTO DA ATIVIDADE INTERPRETATIVA POR MEIO DO QUAL SE CONFERE
SIGNIFICADO AO TEXTO. INTERPRETAÇÃO LITERAL DO ART. 1.814, I, DO CC/2002.
HOMICÍDIO E ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO HOMICÍDIO. SENTIDO TÉCNICO E
JURÍDICO NA ESFERA PENAL. REPERCUSSÃO NÃO OBRIGATÓRIA NO ÂMBITO CIVIL.
CLÁUSULA GERAL. MATRIZ ÉTICA, MORAL E JURÍDICA. NÚCLEO ESSENCIAL. ATO
DOLOSO, CONSUMADO OU TENTADO, INDEPENDENTE DE MOTIVAÇÃO.
INTERPRETAÇÃO TELEOLÓGICA-FINALÍSTICA DA REGRA QUE VISA PREVENIR E
REPRIMIR O ATO DO HERDEIRO QUE ATENTA CONTRA A VIDA DOS PAIS. DIFERENÇA
TÉCNICO-JURÍDICA ENTRE HOMICÍDIO DOLOSO E ATO ANÁLOGO AO HOMICÍDIO
DOLOSO. IRRELEVÂNCIA PARA FINS CIVIS. EXCLUSÃO DO HERDEIRO MENOR POR ATO
ANÁLOGO AO HOMICÍDIO PRATICADO CONTRA SEUS PAIS. POSSIBILIDADE.
RESTRIÇÃO QUE OFENDERIA OS VALORES E FINALIDADES DA NORMA E ESVAZIARIAM
SEU CONTEÚDO.
1- Ação ajuizada em 09/11/2017. Recurso especial interposto em 25/03/2021 e
atribuído à Relatora em 24/06/2021.
2- O propósito recursal é definir se o ato infracional análogo ao homicídio, doloso e
consumado, praticado contra os pais, está abrangido pela regra do art. 1.814, I, do
CC/2002, segundo a qual será excluído da sucessão o herdeiro que seja autor, coautor

32
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/26052022-Para-Terceira-Turma--
atentado-contra-os-pais-cometido-por-menor-tambem-e-causa-de-exclusao-da-heranca.aspx

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ou partícipe de homicídio doloso, consumado ou tentado, contra os ascendentes de


cuja sucessão se trata.
3- Na esteira da majoritária doutrina, o rol do art. 1.814 do CC/2002, que prevê as
hipóteses autorizadoras de exclusão de herdeiros ou legatários da sucessão, é
taxativo, razão pela qual se conclui não ser admissível a criação de hipóteses não
previstas no dispositivo legal por intermédio da analogia ou da interpretação
extensiva.
4- O fato de o rol do art. 1.814 do CC/2002 ser taxativo não induz à necessidade de
interpretação literal de seu conteúdo e alcance, uma vez que a taxatividade do rol é
compatível com as interpretações lógica, histórico-evolutiva, sistemática, teleológica
e sociológica das hipóteses taxativamente listadas.
5- A diferenciação entre o texto de lei, enquanto proposição física, textual e escrita
de um dispositivo emanado do Poder Legislativo, e a norma jurídica, enquanto
produto da indispensável atividade interpretativa por meio da qual se atribui
significado ao texto, conduz à conclusão de que a interpretação literal é uma das
formas, mas não a única forma, de obtenção da norma jurídica que se encontra
descrita no art. 1.814, I, do CC/2002.
6- A regra do art. 1.814, I, do CC/2002, se interpretada literalmente, prima facie, de
forma irreflexiva, não contextual e adstrita ao aspecto semântico ou sintático da
língua, induziria ao resultado de que o uso da palavra homicídio possuiria um sentido
único, técnico e importado diretamente da legislação penal para a civil, razão pela
qual o ato infracional análogo ao homicídio praticado pelo filho contra os pais não
poderia acarretar a exclusão da sucessão, pois, tecnicamente, homicídio não houve.
7- A exclusão do herdeiro que atenta contra a vida dos pais, cláusula geral com raiz
ética, moral e jurídica existente desde o direito romano, está presente na maioria
dos ordenamentos jurídicos contemporâneos e, no Brasil, possui, como núcleo
essencial, a exigência de que a conduta ilícita do herdeiro seja dolosa, ainda que
meramente tentada, sendo irrelevante investigar se a motivação foi ou não o
recolhimento da herança.
8- A finalidade da regra que exclui da sucessão o herdeiro que atenta contra a vida
dos pais é, a um só tempo, prevenir a ocorrência do ato ilícito, tutelando bem jurídico
mais valioso do ordenamento jurídico, e reprimir o ato ilícito porventura praticado,
estabelecendo sanção civil consubstanciado na perda do quinhão por quem praticá-
lo.
9- Se o enunciado normativo do art. 1.814, I, do CC/2002, na perspectiva teleológica-
finalística, é de que não terá direito à herança quem atentar, propositalmente, contra
a vida de seus pais, ainda que a conduta não se consume, independentemente do
motivo, a diferença técnico-jurídica entre o homicídio doloso e o ato análogo ao
homicídio doloso, conquanto relevante para o âmbito penal diante das substanciais

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diferenças nas consequências e nas repercussões jurídicas do ato ilícito, não se


reveste da mesma relevância no âmbito civil, sob pena de ofensa aos valores e às
finalidades que nortearam a criação da norma e de completo esvaziamento de seu
conteúdo.
10- Hipótese em que é incontroverso o fato de que o recorrente, que à época dos
fatos possuía 17 anos e 06 meses, ceifou propositalmente a vida de seu pai e de sua
mãe, motivo pelo qual é correta a interpretação segundo a qual a regra do art. 1.814,
I, do CC/2002, contempla também o ato análogo ao homicídio, devendo ser mantida
a exclusão do recorrente da sucessão de seus pais.
11- Recurso especial conhecido e não-provido, com majoração de honorários.

ESPIA SÓ A NOVIDADE:

CC, Art. 1.815-A. Em qualquer dos casos de indignidade previstos no art. 1.814, o
trânsito em julgado da sentença penal condenatória acarretará a imediata exclusão
do herdeiro ou legatário indigno, independentemente da sentença prevista no caput
do art. 1.815 deste Código

(Incluído pela Lei nº 14.661, de 2023)

DICA DE IMPACTO
Caso o problema indicasse filhos deste excluído, haveria direito de representação;
sendo considerado, se fosse o caso, Joaquim como pré-morto

CC, Art. 1.816. São pessoais os efeitos da exclusão; os descendentes do herdeiro


excluído sucedem, como se ele morto fosse antes da abertura da sucessão.
Parágrafo único. O excluído da sucessão não terá direito ao usufruto ou à
administração dos bens que a seus sucessores couberem na herança, nem à sucessão
eventual desses bens

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3º passo: relacionar o acervo patrimonial, bens comuns do casal e bens particulares;


esquematizando eventuais quotas sucessórias

→ Descendentes

CC, art. 1.835. Na linha descendente, os filhos sucedem por cabeça, e os outros
descendentes, por cabeça ou por estirpe, conforme se achem ou não no mesmo grau
(igualdade sucessória entre filhos)

→ Cônjuge/companheiro: Nos bens que for meeiro, não será herdeiro; e nos bens que
não seja meeiro, logo, bens particulares, poderá herdar em concorrência com os
descendentes (se houver) SALVO se casado este com o falecido no regime da comunhão
universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se,
no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens
particulares

CC, art. 1.832. Em concorrência com os descendentes (art. 1.829, inciso I) caberá ao
cônjuge quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça, não podendo a sua quota ser
inferior à quarta parte da herança, SE for ascendente dos herdeiros com que concorrer.

DICA DE IMPACTO

RESERVA DA QUOTA PARTE DA HERANÇA

APENAS se em concorrência com 3 ou mais herdeiros em comum com o falecido


→ A interpretação mais razoável do enunciado normativo do art. 1.832 do Código
Civil é a de que a reserva de 1/4 da herança restringe-se à hipótese em que o cônjuge
ou companheiro concorrem com descendentes comuns

→ Enunciado 527 da Jornada de Direito Civil

→ A interpretação restritiva dessa disposição legal assegura a igualdade entre os


filhos, que dimana do Código Civil (art. 1.834 do CCB) e da própria Constituição
Federal (art. 227, §6º, da CF), bem como o direito dos descendentes exclusivos não

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verem seu patrimônio injustificadamente reduzido mediante interpretação extensiva


de norma.

→ Não haverá falar em reserva quando a concorrência se estabelece entre o


cônjuge/companheiro e os descendentes apenas do autor da herança ou, ainda, na
hipótese de concorrência híbrida, ou seja, quando concorrem descendentes comuns
e exclusivos do falecido. Especificamente na hipótese de concorrência híbrida o
quinhão hereditário do consorte há de ser igual ao dos descendentes.

.QUESTÃO 61 – Sobre o regime legal da lei n. 8.009/90 (impenhorabilidade do bem de


família), analise as afirmativas:

a) É válida a penhora de bem de família pertencente a devedor solidário de


contrato de locação. ( IMPENHORÁVEL)
b) O fato de se tratar de terreno não edificado é circunstância que, por si só, obsta
sua qualificação como bem de família ( IMPENHORÁVEL)
c) A impenhorabilidade do bem de família no qual reside o sócio devedor é afastada pelo
fato de o imóvel pertencer à sociedade empresária. ( IMPENHORÁVEL)
d) Opera-se a preclusão consumativa quanto à discussão acerca da penhorabilidade ou
impenhorabilidade do bem de família quando houver decisão definitiva anterior
acerca do tema, mesmo em se tratando de matéria de ordem pública.
e) O fato de a hipoteca não ter sido registrada pode ser utilizado como argumento pelo
devedor para evitar a penhora do bem de família ( PENHORÁVEL)

Gabarito: D
Comentários:

Na 2ª questão foi cobrado atualização sobre julgados recentes do STJ.


• Erro da letra a): NÃO é válida a penhora de bem de família pertencente a
devedor solidário de contrato de locação
Súmula 549-STJ: É válida a penhora de bem de família pertencente a fiador de
contrato de locação

Conclusão é diferente no caso de devedor solidário:


STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 2.118.730-PR (Info 763).
Não é possível a penhora do bem de família do devedor solidário do contrato
de locação; isso porque devedor solidário não é o mesmo que fiador, não se
admitindo interpretação extensiva. A posição jurídica de devedor solidário não
se confunde com a figura do fiador de contrato de locação, não podendo
receber o mesmo tratamento jurídico, notadamente para a incidência de norma
restritiva de direitos.

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• Erro da letra b): NÃO é válida a penhora de terreno não edificado; possibilidade
de ser caracterizado como bem de família

STJ. 3ª Turma. REsp 1417629/SP


O fato de se tratar de terreno não edificado é circunstância que, por si só, não
obsta sua qualificação como bem de família, na medida em que tal qualificação
pressupõe a análise, caso a caso, da finalidade realmente atribuída ao imóvel
(interpretação teleológica das impenhorabilidades).

• Erro da letra c): NÃO é válida a penhora de bem de família no qual reside o sócio
devedor, ainda que titularizado pela sociedade empresaria

STJ. 4ª Turma. EDcl no AREsp 511486-SC (Info 579)


A impenhorabilidade do bem de família no qual reside o sócio devedor não é
afastada pelo fato de o imóvel pertencer à sociedade empresária.

• Erro da letra e): É VÁLIDA a penhora de bem de família no qual reside o sócio
devedor, ainda que titularizado pela sociedade empresaria

STJ. 3ª Turma. REsp 1455554-RN (Info 585)


O fato de a hipoteca não ter sido registrada não pode ser utilizado como
argumento pelo devedor para evitar a penhora do bem de família.

 STJ. 4ª Turma. AgInt nos EDcl no AREsp 665.233/SC – Não se aplica aos casos
em que a hipoteca é dada como garantia de empréstimo contraído em favor de
terceiro; a penhora do bem de família somente será admitida se o imóvel foi
dado em garantia de uma dívida que beneficiou o casal ou entidade familiar.

.QUESTÃO 62 – Maria Flor procurou a Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais


alegando não gostar do seu prenome. Em atendimento, externou o seu desejo de
chamar Joana. Os Defensores tomaram todas as providências para atender seu pedido
e seu pleito restou deferido. Ocorre que um ano depois seus amigos e parentes seguiam
utilizando o prenome Maria Flor para se referir a Joana. Sendo assim, ela se arrependeu
da troca realizada e voltou a procurar a Defensoria Pública. De acordo com a situação
hipotética, o Defensor Público:

a) Deverá informar a assistida que não há a possibilidade de arrependimento


prevista na Lei de Registros Públicos para trocas voluntárias.

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b) Deverá dar início ao procedimento extrajudicial de troca de prenome perante o


Ofício de Registro Civil de Pessoas Naturais.
c) Poderá optar por realizar o pedido de troca de forma judicial ou extrajudicial,
conforme a defesa dos melhores interesses da assistida.
d) Deverá ajuizar ação judicial para a desconstituição da alteração, uma vez que
não há possibilidade de legal de desconstituição extrajudicial.
e) Esclarecerá a assistida que o pedido só pode ser realizado se o Tabelionato de
Registros de Pessoas Naturais considerar devidamente motivado o pedido.

Gabarito: D

Comentário:

A Lei de registros públicos (Lei nº 6.015) foi alterada pela lei 14.383/22.
Alterações legislativas sempre são apostas nas provas de primeira fase. Essa, em
especial, é importante para atuação prática da Defensoria Pública, então fique atento.

Art. 55. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome, observado
que ao prenome serão acrescidos os sobrenomes dos genitores ou de seus ascendentes, em qualquer
ordem e, na hipótese de acréscimo de sobrenome de ascendente que não conste das certidões
apresentadas, deverão ser apresentadas as certidões necessárias para comprovar a linha ascendente.
(Redação dada pela Lei nº 14.382, de 2022)

§ 1º O oficial de registro civil não registrará prenomes suscetíveis de expor ao ridículo os seus
portadores, observado que, quando os genitores não se conformarem com a recusa do oficial, este
submeterá por escrito o caso à decisão do juiz competente, independentemente da cobrança de
quaisquer emolumentos. (Incluído pela Lei nº 14.382, de 2022)

§ 2º Quando o declarante não indicar o nome completo, o oficial de registro lançará adiante do
prenome escolhido ao menos um sobrenome de cada um dos genitores, na ordem que julgar mais
conveniente para evitar homonímias. (Incluído pela Lei nº 14.382, de 2022)

§ 3º O oficial de registro orientará os pais acerca da conveniência de acrescer sobrenomes, a fim de se


evitar prejuízos à pessoa em razão da homonímia. (Incluído pela Lei nº 14.382, de 2022)

§ 4º Em até 15 (quinze) dias após o registro, qualquer dos genitores poderá apresentar, perante o
registro civil onde foi lavrado o assento de nascimento, oposição fundamentada ao prenome e
sobrenomes indicados pelo declarante, observado que, se houver manifestação consensual dos
genitores, será realizado o procedimento de retificação administrativa do registro, mas, se não houver
consenso, a oposição será encaminhada ao juiz competente para decisão. (Incluído pela Lei nº
14.382, de 2022)

Art. 56. A pessoa registrada poderá, após ter atingido a maioridade civil, requerer pessoalmente e
imotivadamente a alteração de seu prenome, independentemente de decisão judicial, e a alteração
será averbada e publicada em meio eletrônico. (Redação dada pela Lei nº 14.382, de 2022)

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§ 1º A alteração imotivada de prenome poderá ser feita na via extrajudicial apenas 1 (uma) vez, e sua
desconstituição dependerá de sentença judicial. (Incluído pela Lei nº 14.382, de 2022)

§ 2º A averbação de alteração de prenome conterá, obrigatoriamente, o prenome anterior, os números


de documento de identidade, de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) da Secretaria Especial
da Receita Federal do Brasil, de passaporte e de título de eleitor do registrado, dados esses que deverão
constar expressamente de todas as certidões solicitadas. (Incluído pela Lei nº 14.382, de 2022)

§ 3º Finalizado o procedimento de alteração no assento, o ofício de registro civil de pessoas naturais


no qual se processou a alteração, a expensas do requerente, comunicará o ato oficialmente aos órgãos
expedidores do documento de identidade, do CPF e do passaporte, bem como ao Tribunal Superior
Eleitoral, preferencialmente por meio eletrônico. (Incluído pela Lei nº 14.382, de 2022)

§ 4º Se suspeitar de fraude, falsidade, má-fé, vício de vontade ou simulação quanto à real intenção da
pessoa requerente, o oficial de registro civil fundamentadamente recusará a retificação. (Incluído
pela Lei nº 14.382, de 2022)

Art. 57. A alteração posterior de sobrenomes poderá ser requerida pessoalmente perante o oficial de
registro civil, com a apresentação de certidões e de documentos necessários, e será averbada nos
assentos de nascimento e casamento, independentemente de autorização judicial, a fim de:
(Redação dada pela Lei nº 14.382, de 2022)

I - inclusão de sobrenomes familiares; (Incluído pela Lei nº 14.382, de 2022)

II - inclusão ou exclusão de sobrenome do cônjuge, na constância do casamento; (Incluído pela Lei


nº 14.382, de 2022)

III - exclusão de sobrenome do ex-cônjuge, após a dissolução da sociedade conjugal, por qualquer de
suas causas; (Incluído pela Lei nº 14.382, de 2022)

IV - inclusão e exclusão de sobrenomes em razão de alteração das relações de filiação, inclusive para
os descendentes, cônjuge ou companheiro da pessoa que teve seu estado alterado. (Incluído pela
Lei nº 14.382, de 2022)

§ 1º Poderá, também, ser averbado, nos mesmos termos, o nome abreviado, usado como firma
comercial registrada ou em qualquer atividade profissional. (Incluído pela Lei nº 6.216, de
1975).

§ 2º Os conviventes em união estável devidamente registrada no registro civil de pessoas naturais


poderão requerer a inclusão de sobrenome de seu companheiro, a qualquer tempo, bem como alterar
seus sobrenomes nas mesmas hipóteses previstas para as pessoas casadas. (Redação dada pela Lei
nº 14.382, de 2022)

Assim, a questão pode ser resolvida com o texto expresso no artigo 56 colado
acima.

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.QUESTÃO 63 – Acerca dos direitos reais, assinale a alternativa incorreta:

a) Conforme entendimento do STJ, o fato um imóvel não atender ao mínimo dos


módulos urbanos exigidos pela legislação municipal para a respectiva área não é
motivo suficiente para se negar a usucapião.
b) O direito real de adjudicação somente será exercitável se o locatário efetuar o
depósito do preço do bem e das demais despesas de transferência; formular o
pedido de adjudicação no prazo de 6 (seis) meses do registro do contrato de
compra e venda do imóvel; bem como promover a averbação do contrato de
locação assinado por duas testemunhas na matrícula do bem no Cartório de
Registro de Imóveis, 30 (trinta) dias antes da referida alienação.
c) De acordo com o STJ, se os possuidores forem proprietários de metade do
imóvel usucapiendo incide a vedação de não possuir “outro imóvel” urbano,
contida no art. 1.240 do Código Civil.
d) A usucapião é forma de aquisição originária da propriedade, de modo que não
permanecem os ônus reais que gravavam o imóvel antes da sua declaração.
e) É necessária a citação de ambos os cônjuges nas ações que versem acerca de
direitos reais imobiliários, tratando-se de hipótese de litisconsórcio passivo
necessário.

Gabarito C.
Comentário:

Na 2ª questão foi cobrado conhecimentos acerca dos direitos reais. Nossa


intenção foi demonstrar a importância da leitura da jurisprudência em teses presente
no cronograma.
As alternativas B, D e E foram retiradas da jurisprudência em teses n. 133 que
trata do direito das coisas:

EDIÇÃO N. 133: DO DIREITO DAS COISAS


1) Por se tratar de competência relativa, a ação que se refira a direitos reais sobre
imóvel, excluídos aqueles que expressamente ensejem a competência absoluta do
foro em que situada a coisa (art. 47, § 1°, do CPC/2015), poderá ser ajuizada no foro
do domicílio do réu ou, se houver, no foro eleito pelas partes.

2) Os motivos que justificam a improrrogabilidade da competência das ações reais


imobiliárias cedem diante da competência conferida ao juízo indivisível da falência
que, por definição, é um foro de atração para o qual convergem a discussão de todas
as causas e as ações pertinentes a um patrimônio com universalidade jurídica.

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3) Os herdeiros possuem legitimidade ativa para atuarem diretamente em juízo em


ações de direito real, enquanto não aberto o inventário, por aplicação do princípio
de saisine.

4) É necessária a citação de ambos os cônjuges nas ações que versem acerca de


direitos reais imobiliários, tratando-se de hipótese de litisconsórcio passivo
necessário.

5) O promitente vendedor que readquire a titularidade do direito real sobre o bem


imóvel anteriormente alienado pode ser responsabilizado pelos débitos
condominiais posteriores à alienação e contemporâneos à posse do promissário
comprador, sem prejuízo de ulterior direito de regresso.

6) O contrato de promessa de compra e venda constitui justo título apto a ensejar a


aquisição da propriedade por usucapião.
A posse advinda do contrato de promessa de compra e venda, em princípio, não induz, de fato,
usucapião. Entretanto, há casos em que a prescrição aquisitiva pode se consumar, especialmente se
verificada a conversão da posse não própria em própria, momento a partir do qual o possuidor passa
a se comportar como se dono fosse em decorrência da interversio possessionis, como sucedeu no caso
em exame.
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 987.167/SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 16/05/2017.

7) A inexistência de registro imobiliário de imóvel objeto de ação de usucapião não


induz presunção de que o bem seja público (terras devolutas), cabendo ao Estado
provar a titularidade do terreno como óbice ao reconhecimento da prescrição
aquisitiva.

8) A usucapião é forma de aquisição originária da propriedade, de modo que não


permanecem os ônus reais que gravavam o imóvel antes da sua declaração.

9) A citação na ação possessória julgada improcedente não interrompe o prazo para


aquisição da propriedade por usucapião.

10) A inexistência de outros bens imóveis no patrimônio de cônjuge/companheiro


sobrevivente não é requisito para o reconhecimento do direito real de habitação.

11) O direito real de habitação pode ser exercido tanto pelo cônjuge como pelo
companheiro supérstite.

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12) O direito real de adjudicação somente será exercitável se o locatário efetuar o


depósito do preço do bem e das demais despesas de transferência; formular o
pedido de adjudicação no prazo de 6 (seis) meses do registro do contrato de compra
e venda do imóvel; bem como promover a averbação do contrato de locação
assinado por duas testemunhas na matrícula do bem no Cartório de Registro de
Imóveis, 30 (trinta) dias antes da referida alienação.33

A alternativa A foi retirada de um julgado importantíssimo (inclusive foi cobrado


recentemente na prova da DPE/SP). Vejamos:

Se forem preenchidos os requisitos do art. 1238 do CC/2002, a


pessoa terá direito à usucapião extraordinária e o fato de o imóvel
em questão não atender ao mínimo dos módulos urbanos exigidos
pela legislação municipal para a respectiva área (dimensão do lote)
não é motivo suficiente para se negar esse direito, pois não há na
legislação ordinária própria à disciplina da usucapião regra que
especifique área mínima. STJ. 2ª Seção. REsp 1667842/SC, Rel. Min.
Luis Felipe Salomão, julgado em 03/12/2020 (Tema 985 - Repetitivo).

Quanto ao gabarito da questão, o STJ decidiu no Informativo n. 753 que é o fato


de os possuidores serem proprietários de metade do imóvel usucapiendo não faz incidir
a vedação de não possuir “outro imóvel” urbano, contida no art. 1.240 do Código Civil.
A usucapião especial urbana foi concebida com o propósito de beneficiar as
pessoas que não possuem residência própria. Portanto, é requisito que o indivíduo não
possua nenhum outro imóvel registrado em seu nome.
Ocorre que a posse de apenas metade do imóvel não configura o obstáculo
mencionado no art. 1.240 do Código Civil. Isso se dá pelo fato de os coproprietários não
possuírem uma moradia própria, uma vez que teriam que negociar com o coproprietário
para desfrutarem a propriedade em caráter exclusivo:

O fato de os possuidores serem proprietários de metade do imóvel


usucapiendo não faz incidir a vedação de não possuir “outro imóvel”
urbano, contida no art. 1.240 do Código Civil.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.909.276-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 27/09/2022 (Info 753).

Aproveitando o gancho, vamos revisar as principais hipóteses de usucapião?

33
https://www.buscadordizerodireito.com.br/teses/detalhes/f033ab37c30201f73f142449d037028d?cat
egoria=4

178
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Requisitos Gerais
Tipo de Usucapião
Posse mansa, pacífica e ininterrupta por 15 anos (regra).
O prazo da usucapião extraordinária será de 10 anos se:
a) o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia
Usucapião Extraordinário (art.
habitual; OU
1238 do CC)
b) nele tiver realizado obras ou serviços de caráter produtivo.
Não se exige que a pessoa prove que tinha um justo título ou
que estava de boa-fé.
Posse mansa, pacífica e ininterrupta por 10 anos (caput)
5 anos (parágrafo único)
O prazo da usucapião ordinária será de apenas 5 anos se:
a) o imóvel tiver sido adquirido onerosamente com base no
Usucapião Ordinário(art. 1.242 do
registro e este registro foi cancelado depois; e
CC)
b) desde que os possuidores nele tiverem estabelecido
moradia, ou realizado investimentos de interesse social e
econômico.
- Justo título ou boa-fé do possuidor.

Posse mansa, pacífica e ininterrupta por 5 anos.


Usucapião Especial Urbano (art. Área urbana de até 250m².
1.240 do CC e art. 183 da CF) Utilização para moradia própria ou de sua família
Não ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

- Posse mansa, pacífica e ininterrupta por 5 anos


Área rural de até 50 hectares
Tornar a terra produtiva.
Usucapião Especial Rural
Não ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
Não se exige que a pessoa prove que tinha um justo título ou
que estava de boa-fé.

Existência de um núcleo urbano informal;


Área total dividida pelo número de possuidores seja inferior a
Usucapião Coletivo (art. 10 do
250m2;
Estatuto da Cidade)
Posse do imóvel há mais de 5 anos, sem oposição;
Não ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
- Posse exclusiva em razão do abandono do cônjuge ou
companheiro por, no mínimo, 2 anos.
Imóvel urbano de até 250m²
Usucapião por Abandono do Lar Propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que
abandonou o lar;
Utilização para moradia própria ou de sua família
Não ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

.QUESTÃO 64 – Jonas, 70 anos, firmou contrato de cessão de crédito com Paula e


Joaquina, tendo por objeto um precatório avaliado em quase R$ 1 milhão, que foi

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adquirido pelas cessionárias por R$ 200 mil. Um ano depois, Jonas veio a sofrer processo
de curatela, o que gerou a sua interdição, nos termos da lei civil. Após a morte do
cedente, seu espólio afirmou que ele não tinha capacidade mental suficiente para
celebrar o negócio, devido à idade avançada e a graves problemas de saúde – o que,
inclusive, teria ensejado sua interdição. Conforme ordenamento jurídico e
entendimentos do Superior Tribunal de Justiça, assinale compreensão correta acerca do
caso:

a) Em se tratando de negócio jurídico bilateral celebrado de forma voluntária entre


particulares, é prescindível a comprovação dos elementos subjetivos de conduta
dolosa.
b) É correto afirmar que a sentença de interdição possui natureza declaratória,
pois, declara uma incapacidade preexistente, bem como constitui uma nova
situação jurídica de sujeição do interditado à curatela.
c) Tendo em vista que toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil, os
atos do interditado anteriores à interdição devem ser anulados, pois se presume
o estado de incapacidade à época em que praticados.
d) A superveniência de incapacidade afeta, em regra, a validade dos contratos
firmados anteriormente, pois tem efeitos ex tunc.
e) Se demonstrado que houve dolo por parte das cessionárias, tendo estas se
aproveitado da situação do idoso para comprar o referido precatório, bem
como que tal conduta foi essencial para a cessão, deve o negócio ser anulado
por haver defeito insanável.

Gabarito: E

Comentários:

Galera, começamos nosso simulado com Direito Civil, tratando especialmente


dos seguintes pontos do Edital da DPE-MG:

4. Dos fatos jurídicos. Do negócio jurídico;

19. Jurisprudência dos Tribunais Superiores em matéria cível.

Neste sentido, foram feitas algumas ilações acerca de um caso prático,


questionando resoluções possíveis. Vamos analisar cada uma.

a) Em se tratando de negócio jurídico bilateral celebrado de forma voluntária entre


particulares, é prescindível a comprovação dos elementos subjetivos de conduta dolosa.

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ITEM ERRADO. A jurisprudência do STJ de que não há presunção da existência de dolo,


pois a boa-fé se presume! Neste sentido, ver Resp 1.834.877.

b) Item errado também. A Quarta Turma do STJ já assinalou o entendimento de que a


sentença de interdição possui natureza constitutiva, pois, além de declarar uma
incapacidade preexistente, constitui uma nova situação jurídica, de sujeição do
interditado à curatela, com efeitos ex nunc.

c) A jurisprudência inclina-se no sentido de que os atos do interditado anteriores à


interdição podem ser anulados desde que provado o estado de incapacidade à época
em que praticados, ou seja, não se pode falar em presunção de incapacidade. (AgInt
nos EDcl no REsp 1.834.877).

d) A compreensão de que a superveniência de incapacidade não afeta a validade dos


contratos firmados anteriormente está em consonância com a jurisprudência do STJ,
que prevê que a sentença de interdição, salvo pronunciamento judicial expresso em
sentido contrário, tem efeitos ex nunc.

e) Nossa resposta. De fato, se comprovado que houve dolo por parte das cessionárias,
que teriam se aproveitado da situação do idoso para comprar, por R$ 200 mil, um
precatório avaliado em quase R$ 1 milhão, e este se enquadra como DOLO PRINCIPAL
(causa do negócio jurídico), deverá a cessão ser anulada. Nos termos do Código Civil:

Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando


este for a sua causa.

.QUESTÃO 65 – Sobre as disposições legislativas que tratam sobre os temas da


Investigação de Paternidade, Bem de família e Combate à Intimidação Sistemática
(Bullying), assinale a afirmativa INCORRETA:

a) Sobre a regra da impenhorabilidade do bem de família, fundada no postulado da


dignidade da pessoa humana, pode-se afirmar que, conforme a lei de regência,
quando a residência familiar constituir-se em imóvel rural, a impenhorabilidade
restringir-se-á à sede de moradia, com os respectivos bens móveis.

b) Para os efeitos de impenhorabilidade do bem de família, considera-se residência


um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia
permanente

c) Na ação de investigação de paternidade, a recusa pelos parentes consanguíneos


de submeter-se a realização do exame de pareamento do código genético (DNA)
gerará a presunção da paternidade, a ser apreciada em conjunto com o contexto
probatório.

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d) Nos termos da lei de investigação de paternidade, o filho maior não pode ser
reconhecido sem o seu consentimento, sendo ainda possível legitimar e
reconhecer filho na ata do casamento..

e) A Lei 13.185/15 prevê que a intimidação sistemática (bullying) pode ser


classificada como material, quando consistir em furtar, roubar, destruir
pertences de outrem.

Gabarito: D
Comentário:

Na 2ª questão foram cobrados temas relativos à legislação esparsa de Direito


Civil, constantes do Edital da DPE-MG.

Inicialmente, questionou-se sobre a Lei 8.009/90 – Lei de Impenhorabilidade


do Bem de Família. Vejamos os principais artigos:

Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não responderá
por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos
cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses
previstas nesta lei.
Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se assentam a construção, as
plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso
profissional, ou móveis que guarnecem a casa, desde que quitados.
(…)
Art. 4º Não se beneficiará do disposto nesta lei aquele que, sabendo-se insolvente, adquire de má-fé
imóvel mais valioso para transferir a residência familiar, desfazendo-se ou não da moradia antiga. § 2º
Quando a residência familiar constituir-se em imóvel rural, a impenhorabilidade restringir-se-á à sede
de moradia, com os respectivos bens móveis, e, nos casos do art. 5º, inciso XXVI, da Constituição, à
área limitada como pequena propriedade rural.
Art. 5º Para os efeitos de impenhorabilidade, de que trata esta lei, considera-se residência um único
imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia permanente.

A Lei nº 8.560/92, que regula a investigação de paternidade, preconiza:

Art. 1° O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será feito:
I - no registro de nascimento;
II - por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório;
III - por testamento, ainda que incidentalmente manifestado;
IV - por manifestação expressa e direta perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o
objeto único e principal do ato que o contém.
Art. 3° É vedado legitimar e reconhecer filho na ata do casamento.
Parágrafo único. É ressalvado o direito de averbar alteração do patronímico materno, em decorrência
do casamento, no termo de nascimento do filho.
Art. 4° O filho maior não pode ser reconhecido sem o seu consentimento.

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Por fim, fiquem atentos à Lei 13.185/15, que combate a intimidação


sistemática (bullying), prevista expressamente no edital!! Atenção aos dispositivos mais
importantes:

Art. 1º Fica instituído o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying) em todo o


território nacional.
§ 1º No contexto e para os fins desta Lei, considera-se intimidação sistemática (bullying) todo ato de
violência física ou psicológica, intencional e repetitivo que ocorre sem motivação evidente, praticado
por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la,
causando dor e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas.
Art. 3º A intimidação sistemática (bullying) pode ser classificada, conforme as ações praticadas, como:
I - verbal: insultar, xingar e apelidar pejorativamente;
II - moral: difamar, caluniar, disseminar rumores;
III - sexual: assediar, induzir e/ou abusar; IV - social: ignorar, isolar e excluir;
V - psicológica: perseguir, amedrontar, aterrorizar, intimidar, dominar, manipular, chantagear e
infernizar;
VI - físico: socar, chutar, bater;
VII - material: furtar, roubar, destruir pertences de outrem;
VIII - virtual: depreciar, enviar mensagens intrusivas da intimidade, enviar ou adulterar fotos e dados
pessoais que resultem em sofrimento ou com o intuito de criar meios de constrangimento psicológico
e social.

Deste modo, item D é o item correto.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

.QUESTÃO 66 – Sobre a técnica de julgamento ampliado, analise as afirmativas:

I. Será aplicada apenas no caso de julgamento não unânime de


apelação e agravo de instrumento, quando houver reforma
da decisão que julgar parcialmente o mérito;
II. Pode ser aplicado no caso de julgamento não unânime
proferido, nos tribunais, pelo plenário ou corte especial;
III. Não será aplicado no caso de remessa necessária;
IV. Não será aplicado no caso de rescisão da sentença, em ação
rescisória.

Nesse contexto, pode-se afirmar:

a) Estão corretas as afirmativas I, III e IV, apenas.


b) Estão corretas as alternativas II, III e IV, apenas.

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c) Estão corretas as alternativas III e IV, apenas.


d) Somente a alternativa III está correta.
e) Todas as afirmativas estão incorretas.

Gabarito: D
Comentários:

Pessoal, atenção redobrada nas questões que envolvam esse tipo de


enunciado.

Sabemos que o examinador de Processo Civil é o mesmo da prova anterior,


então é bem possível que ele repita o estilo de cobrança que fez no concurso de 2019.

Analisando as questões elaboradas, a maioria tratou de institutos do próprio


CPC, com alguns “peguinhas” de letra de lei.

Na questão acima, cobramos sobre a técnica de julgamento ampliado, que é


tratada expressamente no art. 942 do CPC.

A técnica de julgamento ampliado refere-se ao prosseguimento da sessão de


julgamento com a presença de outros membros do colegiado, que serão convocados em
número suficiente para garantir a possibilidade de inversão do resultado inicial (art. 942,
caput, do CPC).

Ela será cabível em caso de julgamento NÃO UNÂNIME de:

• Apelação;
• Ação rescisória, quando o resultado for a rescisão da sentença.
• Agravo de instrumento, quando houver reforma da decisão que julgar
parcialmente o mérito.

O artigo, no §4º também determina as hipóteses de NÃO cabimento:

• Incidente de assunção de competência e incidente de resolução de


demandas repetitivas;
• Remessa necessária;
• Julgamento não unânime proferido, nos tribunais, pelo plenário ou pela
corte especial.

TÉCNICA JULGAMENTO AMPLIADO

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APLICÁVEL NÃO APLICÁVEL


• Apelação; • IAC e IRDR;
• Ação rescisória - se rescindir a • Remessa necessária;
sentença; • Julgamento não unânime
• Agravo de instrumento – em proferido, nos tribunais, pelo
reforma da decisão de plenário ou corte especial.
julgamento parcial do mérito.

E vem aí a DICA DE IMPACTO:

DICA DE IMPACTO ⭐
Perceba que, segundo a lei, a técnica será APLICADA nos institutos que
começam com a letra A.
Então pega esse macete para não errar na prova.

Mas ATENÇÃO nos Informativos 678 e 687 do STJ que permitiu a aplicação da
teoria no julgamento de embargos de declaração:

A técnica de julgamento ampliado do art. 942 do CPC aplica-se aos


aclaratórios opostos ao acórdão de apelação quando o voto vencido
nascido apenas nos embargos for suficiente para alterar o resultado
inicial do julgamento, independentemente do desfecho não unânime
dos declaratórios (se rejeitados ou se acolhidos, com ou sem efeito
modificativo). STJ. 3ª Turma. REsp 1786158-PR, Rel. Min. Nancy
Andrighi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 25/08/2020
(Info 678).

Deve ser aplicada a técnica de julgamento ampliado nos embargos de


declaração toda vez que o voto divergente possua aptidão para
alterar o resultado unânime do acórdão de apelação.
STJ. 4ª Turma. REsp 1910317-PE, Rel. Min. Antônio Carlos Ferreira,
julgado em 02/03/2021 (Info 687).

Aplica-se a técnica de ampliação do colegiado quando o Tribunal, por


maioria, der provimento aos embargos de declaração para reformar
a decisão embargada e, por consequência, reformar a decisão parcial
de mérito prolatada pelo juiz em 1ª instância. STJ. 3ª Turma. REsp
1841584-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
10/12/2019 (Info 662).

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Dessa forma, segundo o STJ, a técnica poderá ser aplicada no julgamento dos
embargos de declaração que possam resultar em alteração do resultado da apelação
ou mesmo da decisão de mérito.

Revisem ainda os julgados abaixo sobre o tema:

SE TEM JURIS TÁ NA PROVA! 🚨


Info. 713/STJ - Somente se admite a técnica do julgamento ampliado, em agravo de
instrumento, quando houver o provimento do recurso por maioria de votos e desde que a
decisão agravada tenha julgado parcialmente o mérito. No que tange ao agravo, só se aplica
o art. 942 do CPC, se a maioria do Tribunal estiver reformando a decisão interlocutória e
desde que esta verse sobre o mérito da causa. No caso concreto, a Câmara Cível estava
votando para negar provimento ao agravo e a decisão agravada não tratava sobre o mérito
da causa. Logo, não foi correto suspender o julgamento e aplicar a técnica do art. 942 do CPC.
STJ. 3ª Turma. REsp 1960580-MT, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 05/10/2021 (Info 713).

Info. 695/STJ - Aplica-se a técnica prevista no art. 942 do CPC no julgamento de recurso de
apelação interposto em mandado de segurança. STJ. 2ª Turma. REsp 1868072-RS, Rel. Min.
Francisco Falcão, julgado em 04/05/2021 (Info 695).

.QUESTÃO 67 – Sobre a improcedência liminar do pedido e precedentes qualificados,


analise as seguintes assertivas:

III. Será julgado liminarmente improcedente o pedido que, dispensando a


fase instrutória, contrariar entendimento firmado em incidente de
assunção de competência

PORQUE

IV. os acórdãos em incidente de assunção de competência são considerados


precedentes qualificados.

Sobre as assertivas, assinale a alternativa correta:

a) ambas assertivas são verdadeiras, e a assertiva II justifica a assertiva I.


b) ambas assertivas são verdadeiras e a assertiva II não justifica a assertiva II.
c) a assertiva I é verdadeira e a assertiva II é falsa.
d) a assertiva I é falsa e a assertiva II é verdadeira.
e) ambas assertivas são falsas.

Gabarito: A
Comentários:

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Na prova anterior, podemos observar que várias questões também foram


elaboradas nesse formato de enunciado, com justificativas, pressupostos e
comparativos de assertivas falsas/verdadeiras, o que pode pegar muita gente quando
não é realizada uma leitura atenta do enunciado.

Para resolver a questão, basta analisar dois artigos do CPC.

O primeiro, art. 332 do CPC, que trata das hipóteses de improcedência liminar
do pedido.

A improcedência liminar do pedido poderá ocorrer nas causas que dispensem


a fase instrutória e que o pedido contrariar precedentes específicos ou em caso de
decadência ou prescrição. Nesse caso, o juiz julgará, independentemente da citação do
réu, liminarmente improcedente o pedido.

Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação
do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar:
I - enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça;
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça
em julgamento de recursos repetitivos;
III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de
assunção de competência;
IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local.
§ 1º O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar, desde
logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição.
§ 2º Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da sentença, nos
termos do art. 241.
§ 3º Interposta a apelação, o juiz poderá retratar-se em 5 (cinco) dias.
§ 4º Se houver retratação, o juiz determinará o prosseguimento do processo, com a citação
do réu, e, se não houver retratação, determinará a citação do réu para apresentar
contrarrazões, no prazo de 15 (quinze) dias.

Atenção para a possibilidade de juízo de retratação no caso de apelação, no


prazo de 5 dias.

Outro apontamento sobre esse tema é para evitar a confusão com o


julgamento antecipado do mérito. Vamos para a tabela de comparação:

JULGAMENTO ANTECIPADO DO MÉRITO IMPROCEDÊNCIA LIMINAR DO PEDIDO

187
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I - não houver necessidade de produção Causas que dispensem a instrução


de outras provas; probatória:
II - o réu for revel, ocorrer o efeito I - enunciado de súmula do Supremo
previsto no art. 344 e não houver Tribunal Federal ou do Superior Tribunal
requerimento de prova, na forma do de Justiça;
art. 349. II - acórdão proferido pelo Supremo
Tribunal Federal ou pelo Superior
Poderá ser julgado de forma parcial o Tribunal de Justiça em julgamento de
pedido se mostrar incontroverso ou recursos repetitivos;
estiver em condições de imediato III - entendimento firmado em incidente
julgamento (art. 356 do CPC) de resolução de demandas repetitivas
ou de assunção de competência;
IV - enunciado de súmula de tribunal de
justiça sobre direito local.
V – decadência ou prescrição.

E o segundo, o art. 927 do CPC que, segundo a doutrina, traz de forma expressa
os precedentes qualificados a serem observados pelos juízes e tribunais em suas
decisões.

Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:


I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de
constitucionalidade;
II - os enunciados de súmula vinculante;
III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas
repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos;
IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do
Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional;
V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados.
§ 1º Os juízes e os tribunais observarão o disposto no art. 10 e no art. 489, § 1º, quando
decidirem com fundamento neste artigo.
§ 2º A alteração de tese jurídica adotada em enunciado de súmula ou em julgamento de casos
repetitivos poderá ser precedida de audiências públicas e da participação de pessoas, órgãos
ou entidades que possam contribuir para a rediscussão da tese.
§ 3º Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal e
dos tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos repetitivos, pode haver
modulação dos efeitos da alteração no interesse social e no da segurança jurídica.
§ 4º A modificação de enunciado de súmula, de jurisprudência pacificada ou de tese
adotada em julgamento de casos repetitivos observará a necessidade de fundamentação
adequada e específica, considerando os princípios da segurança jurídica, da proteção da
confiança e da isonomia.

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§ 5º Os tribunais darão publicidade a seus precedentes, organizando-os por questão jurídica


decidida e divulgando-os, preferencialmente, na rede mundial de computadores.

Sendo assim, a alternativa correta é a letra A.

.QUESTÃO 68 – A respeito das tutelas provisórias, avalie as assertivas a seguir e assinale


a alternativa que corresponde à ordem das afirmações verdadeiras (V) e falsas (F):

( ) Não atendido o prazo legal de 30 dias para formulação do pedido principal em tutela
cautelar requerida em caráter antecedente, a medida concedida mantém sua eficácia,
mas o procedimento de tutela antecedente será extinto sem exame do mérito.

( ) Concedida a tutela antecipada requerida em caráter antecedente, o autor deverá


aditar a petição inicial, com a complementação de sua argumentação, a juntada de
novos documentos e a confirmação do pedido de tutela final, em 15 (quinze) dias ou em
outro prazo maior que o juiz fixar. Não realizado o aditamento, o autor será intimado
novamente para fazê-lo e, caso não atenda à determinação, o processo será extinto sem
resolução de mérito.

( ) Caso o juiz entenda que não há elementos para a concessão de tutela antecipada
requerida em caráter antecedente, o órgão jurisdicional determinará a emenda da
petição inicial em até 5 (cinco) dias, sob pena de ser indeferida e de o processo ser
extinto sem resolução de mérito.

( ) Em relação à tutela de evidência, é constitucional a previsão de que é possível sua


concessão, sem prévia citação do réu, quando os fatos alegados possam ser
demonstrados documentalmente e a tese jurídica estiver consolidada em julgamento
de casos repetitivos ou em súmula vinculante.

a) F, V, V, V.
b) V, F, V, F.
c) V, V, F, F.
d) F, F, V, V.
e) F, V, V, F.

Gabarito: D

Comentários:

Questões sobre tutelas provisórias são bem comuns em provas de concurso,


então aqui vai uma questão que depende principalmente da leitura da lei seca.
A assertiva “I” está incorreta porque cessa a eficácia da tutela concedida em
caráter antecedente, se o autor não deduzir o pedido principal no prazo legal:

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Art. 309. Cessa a eficácia da tutela concedida em caráter antecedente, se:


I - o autor não deduzir o pedido principal no prazo legal;
II - não for efetivada dentro de 30 (trinta) dias;
III - o juiz julgar improcedente o pedido principal formulado pelo autor ou extinguir o processo sem
resolução de mérito.

Sobre esse tema, é legal lembrar que o prazo de 30 dias para apresentar o pedido
principal é contado em dias ÚTEIS!

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA!

STJ: Na tutela cautelar requerida em caráter antecedente, o prazo de 30 dias para a


formulação do pedido principal tem natureza processual, por isso a contagem é em DIAS
ÚTEIS.
4. Deferido o pedido de concessão de tutela cautelar requerido em caráter antecedente, o autor
deverá adotar as medidas necessárias para que a tutela seja efetivada dentro de 30 (trinta) dias,
sob pena de cessar a sua eficácia (art. 309, II, do CPC/2015). Após a sua efetivação integral, o
autor tem a incumbência de formular o pedido principal no prazo de 30 (trinta) dias, o que
deverá ser feito nos mesmos autos e independentemente do adiantamento de novas custas
processuais (art. 308 do CPC/2015).
5. O prazo de 30 (trinta) estabelecido no art. 308 do CPC/2015, diferentemente do que ocorria
no CPC/73, não é mais destinado ao ajuizamento de uma nova ação para buscar a tutela
definitiva, mas à formulação do pedido principal no processo já existente. Ou seja, a formulação
pedido principal é um ato processual, que produz efeitos no processo em curso.
Consequentemente, esse prazo tem natureza processual, devendo ser contado em DIAS ÚTEIS
(art. 219 do CPC/2015). (...) (REsp n. 2.066.868/SP, relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira
Turma, julgado em 20/6/2023, DJe de 26/6/2023.)

As assertivas II e III também podem ser respondidas pela leitura da lei. A


afirmação “II” está incorreta porque o CPC não prevê nova intimação antes da extinção
sem resolução de mérito. Já a assertiva “III” está correta:

Art. 303. Nos casos em que a urgência for contemporânea à propositura da ação, a petição inicial pode
limitar-se ao requerimento da tutela antecipada e à indicação do pedido de tutela final, com a exposição
da lide, do direito que se busca realizar e do perigo de dano ou do risco ao resultado útil do processo.
§ 1º Concedida a tutela antecipada a que se refere o caput deste artigo:
I - o autor deverá aditar a petição inicial, com a complementação de sua argumentação, a juntada de
novos documentos e a confirmação do pedido de tutela final, em 15 (QUINZE) DIAS ou em outro prazo
maior que o juiz fixar;
II - o réu será citado e intimado para a audiência de conciliação ou de mediação na forma do art. 334 ;
III - não havendo autocomposição, o prazo para contestação será contado na forma do art. 335 .

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§ 2º Não realizado o aditamento a que se refere o inciso I do § 1º deste artigo, o processo será extinto
sem resolução do mérito.
§ 3º O aditamento a que se refere o inciso I do § 1º deste artigo dar-se-á nos mesmos autos, sem incidência
de novas custas processuais.
§ 4º Na petição inicial a que se refere o caput deste artigo, o autor terá de indicar o valor da causa, que
deve levar em consideração o pedido de tutela final.
§ 5º O autor indicará na petição inicial, ainda, que pretende valer-se do benefício previsto no caput deste
artigo.
§ 6º Caso entenda que não há elementos para a concessão de tutela antecipada, o órgão jurisdicional
determinará a emenda da petição inicial em até 5 (CINCO) DIAS, sob pena de ser indeferida e de o
processo ser extinto sem resolução de mérito.

A assertiva “IV” está correta e o entendimento jurisprudencial citado no


enunciado foi recentemente fixado pelo STF, em julgamento realizado pelo Plenário, o
que torna o precedente ainda mais importante. Vejamos no quadro abaixo.

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA!

São constitucionais os dispositivos legais (arts. 9º, parágrafo único, III; e 311, parágrafo único,
CPC/2015) que, sem prévia citação do réu, admitem a concessão de tutela de evidência
quando os fatos alegados possam ser demonstrados documentalmente e a tese jurídica
estiver consolidada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante. Assim,
inexiste qualquer ofensa ao princípio do contraditório caso haja justificativa razoável e
proporcional para a postergação do contraditório e desde que se abra a possibilidade de a parte
se manifestar posteriormente acerca da decisão que a afetou, ou sobre o ato do qual não
participou. STF. Plenário. ADI 5.492/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 25/4/2023 (Info 1092).
STF. Plenário. ADI 5.737/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, redator do acórdão Min. Roberto Barroso,
julgado em 25/4/2023 (Info 1092).

.QUESTÃO 69 – A respeito da análise da instrução probatória no Código de Processo


Civil, assinale a alternativa incorreta:

a) Justiça e verdade são vocábulos que guardam em si elevado grau de subjetivismo. Seu
emprego não se adequa aos parâmetros constitucionais que regem a processualística
moderna, especialmente no que diz respeito à atividade instrutória. A prova, nesses
termos, não se presta à descoberta da verdade, mas à influência pelas partes sobre o
posicionamento judicial acerca de questão de fato.

b) O juiz que busca, por meio do processo, obter verdade “real”, distinta do juízo de
probabilidade viabilizado pela participação em simétrica paridade das partes, assume o
risco de arvorar-se em contraditor, com consequente rompimento da imparcialidade.

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c) A única hipótese em que a prova a ser emprestada, a despeito de colhida sem


contraditório na origem, pode ser admitida no segundo processo, ocorre quando se
constata, simultaneamente, sua irrepetibilidade e sua imprescindibilidade para
demonstração da questão de fato. Do contrário haverá denegação de acesso efetivo à
justiça.

d) A busca pela economia e pela celeridade processual não pode justificar a relativização
do devido processo legal, franqueando a admissão de informação adquirida fora do
processo por via da atividade instrutória irregular, independentemente da liberdade
judicial de valorar o documento emprestado e da possibilidade de sua impugnação no
processo ao qual ele é destinado.

e) Não é possível que o juiz imponha, sob pena de multa, que a parte exiba um
documento que supostamente está em seu poder e que foi requerido pela parte
contrária, ainda que prováveis a existência da relação jurídica entre as partes e do
documento ou coisa que se pretende seja exibido, e que outras medidas coercitivas
tenham sido infrutíferas.

Gabarito: E

Comentários:

O tema de provas no processo civil é um dos temas de preferência do


examinador, que escreveu o seguinte artigo: “Considerações Sobre a Prova Emprestada
no Código de Processo Civil”. Acessível em: https://rkladvocacia.com/consideracoes-
sobre-prova-emprestada-no-codigo-de-processo-civil-de-2015/
De acordo com o artigo do examinador, as alternativas “a”, “b”, “c” e “d” são
corretas.
Partindo-se de uma análise cuidadosa sobre a valoração da prova, realmente é
necessário cuidado com o excesso de subjetivismos, motivo pelo qual é necessário
valorizar o contraditório e a garantir que sejam preservadas as “regras do jogo”, ou
seja, os procedimentos legais. A busca pela “verdade real” pode ser um tanto falaciosa,
colocando o juiz em uma posição investigativa que contraria a imparcialidade.
Ademais, quanto à prova emprestada no processo civil, o examinador posiciona-
se no sentido de que é possível a utilização de prova colhida sem contraditório na
origem, em nome do acesso efetivo à Justiça. No entanto, ressalva que essa hipótese é
excepcional, apenas admitida no segundo processo quando irrepetível e
imprescindível.
Veja-se a previsão do Código de Processo Civil a respeito da prova emprestada:

Artigo 372, CPC: "o juiz poderá admitir a utilização de prova produzida em outro processo, atribuindo-
lhe o valor que considerar adequado, observado o contraditório".

Quanto à assertiva “e”, está incorreta porque vai na contramão da tese repetitiva
nº 1000, STJ:

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SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA!

Tema repetitivo nº 1000, STJ: Desde que prováveis a existência da relação jurídica entre as
partes e de documento ou coisa que se pretende seja exibido, apurada em contraditório prévio,
poderá o juiz, após tentativa de busca e apreensão ou outra medida coercitiva, determinar sua
exibição sob pena de multa com base no art. 400, parágrafo único, do CPC/2015.

Ainda sobre o tema prova emprestada, aí vão mais alguns julgados importantes:

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA!

Info 543-STJ: Prova emprestada oriunda de processo no qual não figuravam as mesmas partes
Em vista das reconhecidas vantagens da prova emprestada no processo civil, é recomendável
que essa seja utilizada sempre que possível, desde que se mantenha hígida a garantia do
contraditório. No entanto, a prova emprestada não pode se restringir a processos em que
figurem partes idênticas, sob pena de se reduzir excessivamente sua aplicabilidade, sem
justificativa razoável para tanto. Independentemente de haver identidade de partes, o
contraditório é o requisito primordial para o aproveitamento da prova emprestada, de maneira
que, assegurado às partes o contraditório sobre a prova, isto é, o direito de se insurgir contra
a prova e de refutá-la adequadamente, afigura-se válido o empréstimo.
(EREsp 617.428/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, CORTE ESPECIAL, julgado em 04/06/2014,
DJe 17/06/2014)

Info 536-STJ: Utilização de provas do processo criminal para condenar o réu em ação cível
Não há óbices para que o Juízo cível fundamente a decisão em provas colhidas na seara penal,
desde que observado o devido processo legal. In casu, os réus da Ação de Ressarcimento
também figuraram no pólo passivo da Ação Penal, portanto, restaram observados os princípios
do contraditório e ampla defesa, pois os acusados tiveram oportunidade de se manifestar sobre
as provas colhidas.
(AgRg no AREsp 24.940/RJ, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 18/02/2014, DJe 24/02/2014)

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preciosidade em busca da aprovação.

.QUESTÃO 70 – Sobre litisconsórcio e efeito expansivo subjetivo dos recursos, analise as


seguintes afirmativas:

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I. O efeito expansivo subjetivo dos recursos decorre da previsão


no art. 1.005 do CPC/2015 de que “o recurso interposto por
um dos litisconsortes a todos aproveita, salvo se distintos ou
opostos os seus interesses”
II. Havendo solidariedade passiva, o recurso interposto por um
devedor aproveitará aos outros quando as defesas opostas ao
credor lhes forem comuns
III. A expansão subjetiva dos efeitos do recurso pode ocorrer
quando há litisconsórcio unitário, solidariedade passiva e/ou
a ausência de tratamento igualitário entre as partes gerar
uma situação injustificável, insustentável ou aberrante.

Nesse contexto, pode-se afirmar:

a) Estão corretas as afirmativas I e II, apenas.


b) Estão corretas as afirmativas II e III, apenas.
c) Somente a afirmativa I está correta
d) Somente a afirmativa II está correta.
e) Todas as afirmativas estão corretas

Gabarito: E
Comentários:

Pessoal, essa pergunta exigiu conhecimento da lei seca e o modo que está sendo
aplicada pelos tribunais superiores. Vejamos:

CPC, Art. 113. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo,
em conjunto, ativa ou passivamente, quando:
I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações
relativamente à lide;
II - entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir;
III - ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito.

• Litisconsórcio necessário v. unitário

CPC, Art. 114. O litisconsórcio será necessário por disposição de lei ou


quando, pela natureza da relação jurídica controvertida, a eficácia da
sentença depender da citação de todos que devam ser litisconsortes.

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CPC, Art. 116. O litisconsórcio será unitário quando, pela natureza da


relação jurídica, o juiz tiver de decidir o mérito de modo uniforme para
todos os litisconsortes.

• Efeito extensivo subjetivo dos recursos

CPC, Art. 117. Os litisconsortes serão considerados, em suas relações


com a parte adversa, como litigantes distintos, exceto no litisconsórcio
unitário, caso em que os atos e as omissões de um não prejudicarão os
outros, mas os poderão beneficiar.

CPC, Art. 118. Cada litisconsorte tem o direito de promover o andamento


do processo, e todos devem ser intimados dos respectivos atos.

CPC, art. 1005:. O recurso interposto por um dos litisconsortes a todos


aproveita, salvo se distintos ou opostos os seus interesses.
Parágrafo único. Havendo solidariedade passiva, o recurso interposto por
um devedor aproveitará aos outros quando as defesas opostas ao credor
lhes forem comuns.

STJ. 3ª Turma. REsp 1993772-PR (Info 743).


A regra do art. 1.005 do CPC/2015 não se aplica apenas às hipóteses de
litisconsórcio unitário, mas, também, a quaisquer outras hipóteses em
que a ausência de tratamento igualitário entre as partes gere uma
situação injustificável, insustentável ou aberrante. A expansão subjetiva
dos efeitos do recurso pode ocorrer em três hipóteses:
1) quando há litisconsórcio unitário (art. 1.005, caput, c/c o art. 117)
2) quando há solidariedade passiva (art. 1.005, parágrafo único);
3) quando a ausência de tratamento igualitário entre as partes gerar uma
situação injustificável, insustentável ou aberrante (art. 1.005, caput)

.QUESTÃO 71 – Com base na lei de arbitragem (9.307/96):

a) Antes de instituída a arbitragem, as partes poderão recorrer ao Poder


Judiciário para a concessão de medida cautelar ou de urgência
b) No compromisso arbitral é a convenção por meio da qual as partes em um
contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam
vir a surgir, relativamente a tal contrato

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c) A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes


submetem um litígio à arbitragem de uma ou mais pessoas, podendo ser
judicial ou extrajudicial
d) Tramitam em segredo de justiça os processos que versem sobre arbitragem,
inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, ainda que a
confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o
juízo.
e) Não é possível a penhora no rosto dos autos de procedimento de
arbitragem para garantir o pagamento de dívida cobrada em execução
judicial.

Gabarito: A
Comentário:
Pessoal, essa pergunta exigiu conhecimento da lei seca e o modo que está sendo
aplicada pelos tribunais superiores. Vejamos:

• TUTELAS CAUTELARES E DE URGÊNCIA NA ARBITRAGEM

Lei 9307/96, art. 22-A. Antes de instituída a arbitragem, as partes poderão


recorrer ao Poder Judiciário para a concessão de medida cautelar ou de
urgência. Parágrafo único. Cessa a eficácia da medida cautelar ou de urgência
se a parte interessada não requerer a instituição da arbitragem no prazo de 30
dias, contado da data de efetivação da respectiva decisão.

Lei 9307/96, Art. 22-B. Instituída a arbitragem, caberá aos árbitros manter,
modificar ou revogar a medida cautelar ou de urgência concedida pelo Poder
Judiciário. Parágrafo único. Estando já instituída a arbitragem, a medida cautelar
ou de urgência será requerida diretamente aos árbitros.

• COMPROMISSO ARBITRAL V. CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA

Lei 9307/96, Art. 3º As partes interessadas podem submeter a solução de seus


litígios ao juízo arbitral mediante convenção de arbitragem (gênero) assim
entendida a cláusula compromissória e o compromisso arbitral (espécies)

Lei 9307/96, Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as


partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios
que POSSAM VIR A SURGIR, relativamente a tal contrato.
§ 1º A cláusula compromissória deve ser estipulada por escrito, podendo estar
inserta no próprio contrato ou em documento apartado que a ele se refira.

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§ 2º Nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o


aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar,
expressamente, com a sua instituição, desde que por escrito em documento
anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula
Lei 9307/96, Art. 8º A cláusula compromissória é autônoma em relação ao
contrato em que estiver inserta, de tal sorte que a nulidade deste não implica,
necessariamente, a nulidade da cláusula compromissória.
Parágrafo único. Caberá ao árbitro decidir de ofício, ou por provocação das
partes, as questões acerca da existência, validade e eficácia da convenção de
arbitragem e do contrato que contenha a cláusula compromissória.

Lei 9307/96, Art. 9º O compromisso arbitral é a convenção através da qual as


partes SUBMETEM UM LITÍGIO à arbitragem de uma ou mais pessoas, podendo
ser judicial ou extrajudicial.
§ 1º O compromisso arbitral judicial celebrar-se-á por termo nos autos, perante
o juízo ou tribunal, onde tem curso a demanda.
§ 2º O compromisso arbitral extrajudicial será celebrado por escrito particular,
assinado por duas testemunhas, ou por instrumento público.

• MITIGAÇÃO DA PUBLICIDADE PROCESSUAL

CPC, Art. 189. Os atos processuais são públicos, todavia tramitam em segredo
de justiça os processos: IV – que versem sobre arbitragem, inclusive sobre
cumprimento de carta arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na
arbitragem seja comprovada perante o juízo

• JURISPRUDÊNCIA SOBRE O TEMA

STJ. 3ª Turma. REsp 1900136/SP (Info 691).


A declaração de nulidade da sentença arbitral pode ser pleiteada, judicialmente,
por duas vias: a) ação declaratória de nulidade de sentença arbitral (art. 33, § 1º,
da Lei nº 9.307/96 – prazo decadencial de 90 dias, rol taxativo de matérias
passíveis de impugnação, art. 32 da lei de arbitragem); b) impugnação ao
cumprimento de sentença arbitral (art. 33, § 3º, da Lei nº 9.307/96 – não
obedece ao prazo de 90 dias, mas não poderá tratar das matérias previstas no
art. 32 da Lei de Arbitragem).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.678.224-SP(Info 648).

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É possível a penhora no rosto dos autos de procedimento de arbitragem para


garantir o pagamento de dívida cobrada em execução judicial. A penhora no
rosto dos autos consiste apenas numa averbação, cuja finalidade é atingida no
exato momento em que o devedor do executado toma ciência de que o
pagamento - ou parte dele - deverá, quando realizado, ser dirigido ao credor
deste, sob pena de responder pela dívida, nos termos do art. 312 do Código Civil.
Assim, é possível aplicar a regra do art. 860 do CPC, ao procedimento de
arbitragem, a fim de permitir que o juiz oficie o árbitro para que este faça constar
em sua decisão final, acaso favorável ao executado, a existência da ordem
judicial de expropriação.

.QUESTÃO 72 – Sobre ação monitória, analise as afirmativas:


I. Poderá ser proposta por aquele que afirmar, com base em
prova escrita sem eficácia de título executivo, ter direito de
exigir do devedor capaz obrigação de não fazer;
II. O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do
emitente de nota promissória sem força executiva é
quinquenal, a contar do dia seguinte ao vencimento do título;
III. Não será admissível em face da Fazenda Pública;
IV. Por ter um rito simplificado, não é possível citação por edital.
Nesse contexto, pode-se afirmar:
a) Estão corretas as afirmativas I, II e IV, apenas.
b) Estão corretas as afirmativas II, III e IV, apenas.
c) Estão corretas as afirmativas I e II, apenas
d) Somente a afirmativa I está correta.
e) Todas as afirmativas estão incorretas.
Gabarito: C
Comentários:
Atenção nas questões que envolvam esse tipo de enunciado. Sabemos que o
examinador de Processo Civil é o mesmo das provas anteriores, então é bem possível
que ele repita o estilo de cobrança dos concursos de 2014 e no de 2019.
Na questão acima, cobramos Ação Monitória que é um tema recorrente em
provas e foi cobrado pelo examinador na prova de 2014.
A referida ação pode ser proposta por aquele que afirmar, com base em prova
escrita sem eficácia de título executivo, ter direito de exigir do devedor capaz (art. 700
do CPC):

• o pagamento de quantia em dinheiro;


• a entrega de coisa fungível ou infungível ou de bem móvel ou imóvel;
• o adimplemento de obrigação de fazer ou de não fazer (o que torna o item I
correto).

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Quanto ao item II, trata-se da literalidade da Súmula 504 do STJ: “O prazo para
ajuizamento de ação monitória em face do emitente de nota promissória sem força
executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte ao vencimento do título”.
Acrescentamos este item apara servir de alerta para quem está negligenciando as
súmulas!
Os itens III e IV estão incorretos e podem ser resolvidos observando a literalidade
do Código de Processo Civil:
Art. 700. § 1º A prova escrita pode consistir em prova oral documentada, produzida
antecipadamente nos termos do art. 381.
§ 2º Na petição inicial, incumbe ao autor explicitar, conforme o caso:
I - a importância devida, instruindo-a com memória de cálculo;
II - o valor atual da coisa reclamada;
III - o conteúdo patrimonial em discussão ou o proveito econômico perseguido.
§ 3º O valor da causa deverá corresponder à importância prevista no § 2º, incisos I a
III. § 4º Além das hipóteses do art. 330, a petição inicial será indeferida quando não
atendido o disposto no § 2º deste artigo.
§ 5º Havendo dúvida quanto à idoneidade de prova documental apresentada pelo
autor, o juiz intimá-lo-á para, querendo, emendar a petição inicial, adaptando-a ao
procedimento comum.
§ 6º É admissível ação monitória em face da Fazenda Pública. (mesmo texto da
súmula 339 do STJ)
§ 7º Na ação monitória, admite-se citação por qualquer dos meios permitidos para
o procedimento comum.

.QUESTÃO 73 – No que tange aos embargos à execução, de acordo com o Código de


Processo Civil, é incorreto afirmar que:

a) Quando manifestamente protelatórios, o seu oferecimento configura conduta


atentatória à dignidade da justiça.
b) O juiz poderá conceder efeito suspensivo se o executado formular o pedido em
sua defesa e demonstrar a presença dos requisitos para a concessão da tutela
provisória, independentemente da garantia da execução.
c) O executado poderá alegar, em sua petição inicial, a inexequibilidade do título
em que se baseou a execução.
d) Deverão ser ofertados no prazo de quinze dias, contado da juntada aos autos do
mandado de citação do executado.
e) Quando houver mais de um executado, o prazo para cada um deles embargar
conta-se a partir da juntada do respectivo comprovante da citação, salvo no caso
de cônjuges ou de companheiros, quando será contado a partir da juntada do
último.

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Gabarito: B

Comentário:

Embargos à execução também é um tema que acaba sendo negligenciado por


muitos concurseiros. Por isso, vamos revisar seus principais aspectos:

O item A está correto estando previsto no art. 918. Parágrafo único. Considera-
se conduta atentatória à dignidade da justiça o oferecimento de embargos
manifestamente protelatórios.

O item B está incorreto (sendo o gabarito) uma vez que o art. 919 prevê:

Art. 919. Os embargos à execução não terão efeito suspensivo.

§ 1º O juiz poderá, a requerimento do embargante, atribuir efeito suspensivo


aos embargos quando verificados os requisitos para a concessão da tutela
provisória e desde que a execução já esteja garantida por penhora, depósito
ou caução suficientes.

Já as alternativas finais, pode ser solucionadas:

Art. 915. Os embargos serão oferecidos no prazo de 15 (quinze) dias, contado, conforme o
caso, na forma do art. 231 .
§ 1º Quando houver mais de um executado, o prazo para cada um deles embargar conta-se a
partir da juntada do respectivo comprovante da citação, salvo no caso de cônjuges ou de
companheiros, quando será contado a partir da juntada do último. - Item cobrado na ultima
prova

Art. 917. Nos embargos à execução, o executado poderá alegar:


I - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;
II - penhora incorreta ou avaliação errônea;
III - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;
IV - retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos casos de execução para entrega de
coisa certa;
V - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução;
VI - qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa em processo de conhecimento.

.QUESTÃO 74 – Sobre ações possessórias e atuação da Defensoria Pública, responda:

I. No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande número de


pessoas, serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no
local e a citação por edital dos demais, determinando-se, ainda, a intimação do
Ministério Público e, se envolver pessoas em situação de hipossuficiência

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econômica, da Defensoria Pública. Esta intervenção vem sendo chamada pela


doutrina de “custos vulnerabilis” ou “custos plebis”.

II. A função processual de representação postulatória confunde-se com a de


“custos vulnerabilis” na ação possessória.

III. Quanto às formas de intervenção processual da Defensoria Pública, entende-se


que esta pode desenvolver funções diversas no litígio coletivo possessório, por
exemplo, exercer a função de curadora especial nas hipóteses legais,
preenchendo a ausência de capacidade para estar em juízo.

IV. A intervenção da Defensoria Pública nos moldes do art. 554, §1º, do CPC, como
“custos vulnerabilis”, deve estar sustentada pelo interesse institucional.

Nesse contexto, pode-se afirmar:

a) Estão corretas as afirmativas I, III e IV, apenas..

b) Estão corretas as afirmativas II, III e IV, apenas.

c) Estão corretas as afirmativas III e IV, apenas.

d) Somente a afirmativa III está correta.

e) Todas as afirmativas estão incorretas.

Gabarito: A

Comentários:

I. CERTO! Conforme aponta Franklyn Roger Alves Silva34, a intenção do legislador é de


potencializar a ampla defesa e o contraditório das pessoas envolvidas na ação
possessória multitudinária. Portanto, seria um absoluto contrassenso a interpretação de
que a atuação da Defensoria Pública como custos vulnerabilis seria em substituição
processual dos demandados, como um tipo de curador especial de ausentes.

II. ERRADO! Maurílio Casas Maia observa que não pode-se entender que a função de
custos vulnerabilies seria de um representante postulatório da parte que não pode
pagar advogado, em razão da indispensabilidade da advocacia (art. 133, CF). Deste
modo, o referido autor conclui que “verificou-se aí uma forma de intervenção de
terceiro em nome do interesse institucional da Defensoria Pública (tutela da
coletividade necessitada)”, isso porque, prossegue, “se considerou a Defensoria Pública

34 SILVA, Franklyn Roger Alves. A nova disciplina da legitimação extraordinária da Defensoria Pública no
Novo Código de Processo Civil. In: SOUSA, José Augusto Garcia de. Defensoria Pública. Salvador:
Juspodivm, 2015, p. 335, Coleção Repercussões do Novo CPC, v. 5

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fora do esquema subjetivo mínimo do processo (autor-juiz-réu) e que seu atuar se daria
em nome de sua legitimidade coletiva (ou extraordinária) e com lastro em sua missão
constitucional”

III. CERTO! É função da DP exercer curadoria especial nas hipóteses legais, preenchendo
a ausência de capacidade para estar em juízo, dentre as quais o réu revel citado por
edital ou com hora certa, enquanto não for constituído advogado (CPC, art. 72, II). A
atuação tem a missão de preservar o contraditório, para exercício da defesa, sem
permitir a disponibilidade do direito material representado;

IV. CERTO! A atuação do art. 554, §1º, do CPC é inovadora no sistema processual
brasileiro, pautada no interesse institucional da Defensoria Pública, não podendo ser
confundida com a representação postulatória ou com uma curadoria especial.

.QUESTÃO 75 – Sobre direito processual civil, analise as seguintes assertivas:

I. Conforme entendimento já exarado pelo Superior Tribunal de Justiça, a prévia


expedição de ofício às concessionárias de serviços públicos, para fins de
localização do réu, antes de se autorizar a citação por edital, é facultativa.

II. A citação por edital é uma modalidade de citação ficta, tratando-se, portanto, de
ato excepcionalíssimo, somente sendo admitida nas hipóteses expressamente
previstas no Código de Processo Civil de 2015.

III. O STJ entende que a requisição de informações às concessionárias de serviços


públicos consiste em uma imposição legal, pois o o Juízo tem o dever de buscar
todos os meios possíveis de localização do réu, para se proceder à respectiva
citação pessoal.

IV. É causa de nulidade processual a falta de intimação do réu revel na fase de


cumprimento de sentença, devendo ser realizada por intermédio de carta com
aviso de recebimento nas hipóteses em que o executado estiver representado
pela Defensoria Pública ou não possuir procurador constituído nos autos.

Sobre as assertivas, assinale a alternativa correta:

a) I, II e IV são verdadeiras.
b) Apenas a assertiva II é verdadeira.
c) As assertivas I e II são verdadeiras.
d) As assertivas I, II e IV são verdadeiras.
e) Todas as assertivas são falsas.

Gabarito: D
Comentários:
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Essa questão exigiu conhecimento extraído do próprio CPC, bem como da


jurisprudência atualizada do Superior Tribunal de Justiça.

Nos termos do CPC, sobre citação por edital:

Art. 256. A citação por edital será feita:


I – quando desconhecido ou incerto o citando;

II – quando ignorado, incerto ou inacessível o lugar em que se encontrar o citando;

III – nos casos expressos em lei.

§1º Considera-se inacessível, para efeito de citação por edital, o país que recusar o cumprimento de
carta rogatória.

§ 2º No caso de ser inacessível o lugar em que se encontrar o réu, a notícia de sua citação será divulgada
também pelo rádio, se na comarca houver emissora de radiodifusão.

§ 3º O réu será considerado em local ignorado ou incerto se infrutíferas as tentativas de sua localização,
inclusive mediante requisição pelo juízo de informações sobre seu endereço nos cadastros de órgãos
públicos ou de concessionárias de serviços públicos.

Ainda, conforme julgados recentes do STJ:

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA! 🚨


Informativo: 780 - Origem: STJ - É necessária a intimação da parte executada na fase de
cumprimento de sentença, mesmo que ela tenha sido citada na fase de conhecimento e não
tenha constituído procurador, verificando-se a revelia. É causa de nulidade processual a falta
de intimação do réu revel na fase de cumprimento de sentença, devendo ser realizada por
intermédio de carta com aviso de recebimento nas hipóteses em que o executado estiver
representado pela Defensoria Pública ou não possuir procurador constituído nos autos, na
forma do art. 513, § 2º, II, do CPC/2015. (REsp n. 2.053.868/RS, relator Ministro Antonio
Carlos Ferreira, Quarta Turma, julgado em 6/6/2023, DJe de 12/6/2023).

Informativo: 12 - Origem: STJ - A prévia expedição de ofício às concessionárias de serviços


públicos, para fins de localização do réu, antes de se autorizar a citação por edital, é
facultativa. Nos termos do § 3º do art. 256 do CPC/2015, "O réu será considerado em local
ignorado ou incerto se infrutíferas as tentativas de sua localização, inclusive mediante
requisição pelo juízo de informações sobre seu endereço nos cadastros de órgãos públicos
ou de concessionárias de serviços públicos". O referido dispositivo legal deve ser

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interpretado no sentido de que o Juízo tem o dever de buscar todos os meios possíveis de
localização do réu, para se proceder à respectiva citação pessoal, devendo requisitar
informações sobre seu endereço nos cadastros de órgãos públicos ou de concessionárias de
serviços públicos, antes de determinar a citação por edital. No entanto, a requisição de
informações às concessionárias de serviços públicos consiste em uma alternativa dada ao
Juízo, e não uma imposição legal, não se podendo olvidar que a análise, para verificar se
houve ou não o esgotamento de todas as possibilidades de localização do réu, a fim de
viabilizar a citação por edital, deve ser casuística, observando-se as particularidades do caso
concreto. (REsp n. 1.971.968/DF, relator Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma,
julgado em 20/6/2023, DJe de 26/6/2023).

Sendo assim, a alternativa correta é a letra D.

DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

.QUESTÃO 76 – Sobre o poder de requisição da Defensoria Pública e Ações Civis Públicas,


assinale a alternativa incorreta:

a) É inconstitucional a lei que confere à Defensoria Pública a prerrogativa de


requisitar, de quaisquer autoridades públicas e de seus agentes, bem como de
particulares, certidões, exames, perícias, vistorias, diligências, processos,
documentos, informações, esclarecimentos e demais providências necessárias
ao exercício de suas atribuições.
b) A Defensoria Pública tem legitimidade para a propositura de ação civil pública
que vise a promover a tutela judicial de direitos difusos ou coletivos de que sejam
titulares, em tese, pessoas necessitadas.
c) A Defensoria Pública possui legitimidade ativa para propor ação civil pública com
vista a impor ao Estado o cumprimento de obrigações legais na tutela de
pequenos agricultores familiares, sendo prescindível a comprovação prévia e
concreta da carência dos assistidos.
d) A Defensoria Pública tem legitimidade para propor ação civil pública em defesa
de interesses individuais homogêneos de consumidores idosos que tiveram
plano de saúde reajustado em razão da mudança de faixa etária, ainda que os
titulares não sejam carentes de recursos econômicos.
e) O poder de requisição também será válido no âmbito do Processo Penal, para
a instauração de inquérito policial, conforme entendimento do Supremo
Tribunal Federal.

Gabarito: E

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Comentários:

Na matéria de Direitos Difusos e Coletivos temos o ponto “A Defensoria Pública


e a Tutela Coletiva”, por isso a escolha do tema.

A questão pode ser resolvida com a leitura de diversos julgamentos dos


Tribunais Superiores. Pedimos atenção especial na leitura do acórdão das ADI 6860/MT,
ADI 6861/PI e ADI 6863/PE, presentes no informativo 1067, por se tratar de uma super
explicação sobre o poder de requisição.
Segundo entendimento do STF, na ADI 230, não é possível que a Defensoria
Pública requisite de particulares documentos, certidões ou informações, declarando a
inconstitucionalidade do artigo da Constituição Estadual do Rio de Janeiro:
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. DEFENSOR PÚBLICO
ESTADUAL: GARANTIAS E PRERROGATIVAS. ART. 178, INC. I, ALÍNEAS F E G, II E
IV DA CONSTITUIÇÃO DO RIO DE JANEIRO (RENUMERADOS PARA ART. 181,
INC. I, ALÍNEAS F E G, II E IV). 1. A Emenda Constitucional fluminense n. 4/1991
alterou a numeração originária das normas contidas na Constituição
fluminense. Art. 178, inc. I, alíneas f e g, inc. II e IV atualmente correspondente
ao art. 181, inc. I, alíneas f e g, inc. II e IV da Constituição estadual. 2. Alteração
dos critérios para aposentadoria dos defensores públicos do Estado do Rio de
Janeiro pela Emenda Constitucional estadual n. 37/2006. Prejuízo do pedido
em relação ao art. 178, inc. I, alínea f, Constituição fluminense. 3. O prazo
trienal para aquisição de estabilidade no cargo, fixado pela Emenda
Constitucional n. 19/1998, é aplicável indistintamente a todos os servidores
públicos. Inconstitucionalidade do art. 178, inc. I, alínea g, da Constituição
fluminense. 4. Extensão da garantia de inamovibilidade aos defensores
públicos pela Emenda Constitucional n. 45/2004. Modificação do parâmetro de
controle de constitucionalidade. Prejuízo do pedido em relação ao art. 178, inc.
II, Constituição fluminense. 5. É inconstitucional a requisição por defensores
públicos a autoridade pública, a seus agentes e a entidade particular de
certidões, exames, perícias, vistorias, diligências, processos, documentos,
informações, esclarecimentos e providências, necessários ao exercício de
suas atribuições: exacerbação das prerrogativas asseguradas aos demais
advogados. Inconstitucionalidade do art. 178, inc. IV, alínea a, da Constituição
fluminense. 6. Não contraria a Constituição da República o direito de os
defensores públicos se comunicarem pessoal e reservadamente com seus
assistidos, mesmo os que estiverem presos, detidos ou incomunicáveis, e o de
terem livre acesso e trânsito aos estabelecimentos públicos ou destinados ao
público no exercício de sua funções (alíneas b e c do inc. IV do art. 178 da
Constituição fluminense). 7. Ação direta de inconstitucionalidade julgada
parcialmente procedente para declarar a inconstitucionalidade do art. 178, inc.
I, alínea g, e IV, alínea a; a constitucionalidade o art. 178, inc. IV, alíneas b e c;
e prejudicados os pedidos quanto ao art. 178, inc. I, alínea f, e II, todos da
Constituição do Rio de Janeiro.

Além disso, temos que ficar atentos que o recente entendimento proferido nas
ADIs 6860, 6861, 6863, NÃO SE MANIFESTOU sobre a prerrogativa de requisição em
relação à particulares e ou às entidades privadas, vejamos:

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É constitucional lei complementar estadual que, desde que observados os parâmetros


de razoabilidade e proporcionalidade, confere à Defensoria Pública a prerrogativa de
requisitar, de quaisquer autoridades públicas e de seus agentes, certidões, exames,
perícias, vistorias, diligências, processos, documentos, informações, esclarecimentos e
demais providências necessárias ao exercício de suas atribuições.
STF. Plenário. ADI 6860/MT, ADI 6861/PI e ADI 6863/PE, Rel. Min. Nunes Marques,
julgados em 13/9/2022 (Info 1067).

Da mesma forma isso se repetiu nas ADIs 6852 e 6862:

A Defensoria Pública detém a prerrogativa de requisitar, de quaisquer autoridades


públicas e de seus agentes, certidões, exames, perícias, vistorias, diligências, processos,
documentos, informações, esclarecimentos e demais providências necessárias à sua
atuação.
STF. Plenário. ADI 6852/DF e ADI 6862/PR, Rel. Min. Edson Fachin, julgados em
18/2/2022 (Info 1045).
STF. Plenário. ADI 6865/PB, ADI 6867/ES, ADI 6870/DF, ADI 6871/CE, ADI 6872/AP, ADI
6873/AM e ADI 6875/RN, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 18/2/2022 (Info
1045).

E, conforme consta na LCE 65/2003, foi atribuída ao Defensor Público Geral a


prerrogativa de requisição em face de entidades particulares:

Art. 9º – Compete ao Defensor Público Geral, além de outras atribuições que lhe sejam
conferidas por lei ou forem inerentes a seu cargo:

XVII – requisitar de qualquer autoridade pública e de seus agentes ou de entidade


particular certidão, exame, perícia, vistoria, diligência, processo, laudo e parecer
técnico, documento, informações, esclarecimentos e demais providências
indispensáveis à atuação da Defensoria Pública;

Por isso entendemos que precisamos ter bastante atenção ao tema, eis que já
foi considerada como atribuição inconstitucional anteriormente pelo STF, em normativa
de outro estado.

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA! 🚨


Info 1067/STF - É constitucional lei complementar estadual que, desde que observados os
parâmetros de razoabilidade e proporcionalidade, confere à Defensoria Pública a
prerrogativa de requisitar, de quaisquer autoridades públicas e de seus agentes, certidões,
exames, perícias, vistorias, diligências, processos, documentos, informações,
esclarecimentos e demais providências necessárias ao exercício de suas atribuições.

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O art. 134 da Constituição Federal, com redação dada pela EC 80/2014, configura
concretização do direito constitucional ao acesso à justiça, insculpido no art. 5º, LXXIV.
Assim, o direito fundamental de assistência jurídica, gratuita e integral converte-se em
verdadeira garantia constitucional, ao atribuir-se à Defensoria Pública a qualidade de
instituição permanente e essencial à função jurisdicional do Estado.
A Defensoria Pública está erigida como órgão autônomo da administração da justiça, e, por
isso, conta com independência e autonomia administrativa, financeira e orçamentária,
conferidas pelas EC 45/2004, 73 /2013 e 80/2014 e assentadas também no art. 134 da
Constituição Federal.
Delineado o papel atribuído à Defensoria Pública pela Constituição Federal, resta evidente
concluir que ela não é uma categoria equiparada à Advocacia, seja ela pública ou privada,
estando, na realidade, mais próxima ao desenho institucional atribuído ao próprio
Ministério Público.
Nesse sentido, assim como ocorre com o Ministério Público, igualmente legitimado para a
proteção de grupos vulneráveis, os poderes previstos à Defensoria Pública, seja em sede
constitucional - como a capacidade de se autogovernar - ou em âmbito infraconstitucional -
como a prerrogativa questionada de requisição - foram atribuídos como instrumentos para
a garantia do cumprimento de suas funções institucionais.
Ao conceder tal prerrogativa aos membros da Defensoria Pública, o legislador buscou
propiciar condições materiais para o exercício de suas atribuições, não havendo que se falar
em qualquer espécie de violação ao texto constitucional, mas, ao contrário, em sua
densificação.
A possibilidade de a Defensoria requisitar certidões, informações e documentos de órgãos
públicos, embora não tenha previsão constitucional expressa, é medida salutar porque
permite, inclusive, a solução de demandas pelas vias administrativas ou transacionais,
evitando o ajuizamento de processos judiciais.
Além disso, esse poder de requisição serve como um auxílio para o assistido conseguir obter
os documentos que necessita para a garantia de seus direitos, diminuindo o tempo que os
hipossuficientes precisarão esperar para serem atendidos.
Nesse sentido, a retirada da prerrogativa de requisição implicaria, na prática, a criação de
obstáculo à atuação da Defensoria Pública, a comprometer sua função primordial, bem
como a autonomia que lhe foi garantida.
O poder de requisitar de qualquer autoridade pública e de seus agentes, certidões, exames,
perícias, vistorias, diligências, processos, documentos, informações, esclarecimentos e
demais providências necessárias ao exercício de suas atribuições, foi atribuído aos membros
da Defensoria Pública porque eles exercem, e para que continuem a exercer de forma
desembaraçada, uma função essencial à Justiça e à democracia, especialmente, no tocante,
a sua atuação coletiva e fiscalizadora.
STF. Plenário. ADI 6860/MT, ADI 6861/PI e ADI 6863/PE, Rel. Min. Nunes Marques, julgados
em 13/9/2022.

Info 748/STJ - A Defensoria Pública tem legitimidade para propor ACP pedindo para que o
poder público disponibilize servidores e recursos técnicos para auxiliar os pequenos
agricultores a inscreverem seus imóveis no Cadastro Ambiental Rural.

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A Defensoria Pública possui legitimidade ativa para propor ação civil pública com vista a
impor ao Estado o cumprimento de obrigações legais na tutela de pequenos agricultores
familiares, sendo prescindível a comprovação prévia e concreta da carência dos assistidos.
Defensoria Pública ajuizou ação civil pública para tutelar direitos individuais homogêneos de
pequenos produtores, pretendendo dar implemento à previsão legal de necessidade de
apoio estatal, jurídico e técnico, aos pequenos agricultores de economia familiar, ou
equiparados, para registro gratuito da reserva legal no cadastro ambiental rural.
Diante disso, deve-se reconhecer que há presunção legal de hipossuficiência. Isso fica ainda
mais evidente quando se observa o art. 53, parágrafo único c/c o art. 3º, V, ambos da Lei nº
12.651/2012 (Código Florestal).
STJ. 2ª Turma. REsp 1847991-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 16/08/22 (Info 748).

STF/Tema 607 Repercussão geral - Tese: A Defensoria Pública tem legitimidade para a
propositura de ação civil pública que vise a promover a tutela judicial de direitos difusos
ou coletivos de que sejam titulares, em tese, pessoas necessitadas.
A expressão "necessitados" prevista no art. 134, caput, da CF/88, que qualifica e orienta a
atuação da Defensoria Pública, deve ser entendida, no campo da Ação Civil Pública, em
sentido amplo. RE 733433.

Info 573/STJ - A Defensoria Pública tem legitimidade para propor ação civil pública em
defesa de interesses individuais homogêneos de consumidores idosos que tiveram plano
de saúde reajustado em razão da mudança de faixa etária, ainda que os titulares não sejam
carentes de recursos econômicos.
A atuação primordial da Defensoria Pública, sem dúvida, é a assistência jurídica e a defesa
dos necessitados econômicos. Entretanto, também exerce suas atividades em auxílio a
necessitados jurídicos, não necessariamente carentes de recursos econômicos.
A expressão "necessitados" prevista no art. 134, caput, da CF/88, que qualifica e orienta a
atuação da Defensoria Pública, deve ser entendida, no campo da Ação Civil Pública, em
sentido amplo. Assim, a Defensoria pode atuar tanto em favor dos carentes de recursos
financeiros como também em prol do necessitado organizacional (que são os
"hipervulneráveis").
STJ. Corte Especial. EREsp 1192577-RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 21/10/2015 (Info
573)

⭐ ATENÇÃO MÁXIMA! DECLAROU A INCONSTITUCIONALIDADE DE NORMA DA DPE/MG


⭐ Info 1086/STF - É inconstitucional norma estadual que confere à Defensoria Pública o
poder de requisição para instaurar inquérito policial. Isso porque o poder de requisitar a
instauração de inquérito policial está intrinsecamente ligado à persecução penal, o que
exige uma disciplina uniforme em todo o território nacional. Nesse contexto, o art. 5º do
CPP — norma editada no exercício da competência privativa da União para legislar sobre
direito processual (art. 22, I, CF/88) — já delimitou essa atribuição, conferindo-a somente à
autoridade judiciária ou ao Ministério Público. Logo, viola o art. 22, I, da CF/88, a norma
estadual que, indo de encontro à disciplina processual editada pela União, amplia o poder de

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requisição para instauração de inquérito policial para conferir tal atribuição à Defensoria
Pública.
Com base nesse entendimento, o Plenário do STF julgou parcialmente procedente o pedido
apenas para declarar a inconstitucionalidade da expressão “a instauração de inquérito
policial”, constante do art. 45, XXI, da Lei Complementar nº 65/2003 do Estado de Minas
Gerais
STF. Plenário. ADI 4346/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, redator do acórdão Min. Alexandre
de Moraes, julgado em 13/03/2023 (Info 1086)

DICA DE IMPACTO ⭐
Consta da LCE 65/03 que o Defensor Público-Geral poderá fazer requisição de
documentos, certidões de particulares, no artigo 9º, XVII, vejamos:
Art. 9º – Compete ao Defensor Público Geral, além de outras atribuições que lhe sejam
conferidas por lei ou forem inerentes a seu cargo:
XVII – requisitar de qualquer autoridade pública e de seus agentes ou de entidade particular
certidão, exame, perícia, vistoria, diligência, processo, laudo e parecer técnico, documento,
informações, esclarecimentos e demais providências indispensáveis à atuação da Defensoria
Pública.
Mas, sabemos que na ADI 230, o STF considerou inconstitucional a prerrogativa de
requisição quando realizada em face de particulares, portanto atenção redobrada!

.QUESTÃO 77 – Assinale a alternativa incorreta sobre os processos estruturais:

a) O processo estrutural não tem previsão normativa e, diferentemente dos litígios


tradicionais, nos quais uma única decisão judicial resolve a lide, ele possui
solução complexa, com a finalidade de corrigir o problema estrutural que gerou
a demanda.
b) Litígios estruturais são litígios coletivos decorrentes do modo como uma
estrutura burocrática, usualmente, de natureza pública, opera. O funcionamento
da estrutura é que causa, permite ou perpetua a violação que dá origem ao litígio
coletivo.
c) O julgamento de improcedência liminar do pedido (ou de julgamento antecipado
do mérito) é, em regra, incompatível com os processos estruturais, ressalvada a
possibilidade de já ter havido a prévia formação de precedente qualificado sobre
o tema que inviabilize nova discussão da questão controvertida no âmbito do
Poder Judiciário.
d) Nos processos estruturais há utilização de técnicas processuais flexibilizadoras,
sem prejuízo do respeito a garantias básicas, como a estabilização do pedido e
a congruência entre pedido e sentença.
e) Para a correta intervenção no problema, o processo estrutural deve ser
permeado de decisões “em cascata”, com estabelecimento de planos e atenção
a regimes de transição.
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Gabarito: D

Comentários:

O tema da vez é o chamado processo estrutural. Foi cobrado recentemente no


Ministério Público de São Paulo.

Histórico: Caso Brown vs. Board of Education of Topeka – O caso tratou da


declaração de inconstitucionalidade da segregação racial nas escolas públicas dos EUA.
Ao reconhecer a evidente inconstitucionalidade da prática em alguns estados, a
Suprema Corte evidenciou que existia um problema enraizado na própria estrutura da
educação, que deveria ser integralmente alterada para sanar o problema. Porém, no
caso. a Suprema Corte EUA não estabeleceu soluções específicas, mas tão somente
remeteu os casos para os juízes locais para que entendessem as características do
problema de cada localidade e aí sim estabelecerem soluções para os problemas
estruturais, com “all deliberate speed”, ou seja, com a maior velocidade deliberada.

No Brasil, o primeiro caso julgado pelo STJ mencionando explicitamente a


doutrina sobre processos estruturais foi o REsp 1.854.842/CE sobre acolhimento
institucional de crianças e adolescentes no Estado do Ceará. O julgado apareceu no
informativo 673/STJ:

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA! 🚨


Info 673/STJ - Em ACP na qual se questiona acolhimento institucional de menor, não é
admissível o julgamento de improcedência liminar ou o julgamento antecipado do pedido,
especialmente quando não há tese jurídica fixada em precedente vinculante.
Caso concreto: o MP/CE ajuizou contra o Município de Fortaleza 10 ações civis públicas nas
quais alega que 10 diferentes crianças estão há mais tempo em acolhimento institucional do
que prevê a lei. Diante disso, o MP pediu que elas sejam encaminhadas à programa de
acolhimento familiar e que sejam indenizadas por danos morais. O juiz, invocando o art. 332,
III, do CPC, julgou improcedente liminarmente o pedido (rectius: julgou antecipadamente o
pedido), ao fundamento de que se trataria de controvérsia repetitiva justamente por se
tratar de 10 ações civis públicas versando sobre o mesmo objeto.
No mérito, a sentença afirmou que: i) o acolhimento por prazo superior a 2 anos, conquanto
ilegal, algumas vezes indispensável porque, em muitas hipóteses, não há família adequada
para recebê-lo; ii) não há prova de que o Município teria agido de modo doloso, intencional
ou negligente; iii) o problema do acolhimento institucional por período superior a 2 anos é
de natureza estrutural, eis que envolve a falta de recursos do Poder Público.
O STJ afirmou que não era admissível o julgamento de improcedência liminar ou o julgamento
antecipado do pedido.
Diferentemente do tratamento dado à matéria no revogado CPC/73, não mais se admite, no
CPC/2015, o julgamento de improcedência liminar do pedido com base no entendimento
firmado pelo juízo em que tramita o processo sobre a questão repetitiva, exigindo-se, ao

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revés, que tenha havido a prévia pacificação da questão jurídica controvertida no âmbito
dos Tribunais, materializada em determinadas espécies de precedentes vinculantes, a saber:
súmula do STF ou do STJ; súmula do TJ sobre direito local; tese firmada em recursos
repetitivos, em incidente de resolução de demandas repetitivas ou em incidente de assunção
de competência.
Por se tratar de regra que limita o pleno exercício de direitos fundamentais de índole
processual, em especial o contraditório e a ampla defesa, as hipóteses autorizadoras do
julgamento de improcedência liminar do pedido devem ser interpretadas restritivamente,
não se podendo dar a elas amplitude maior do que aquela textualmente indicada pelo
legislador no art. 332 do novo CPC.
De igual modo, para que possa o juiz resolver o mérito liminarmente e em favor do réu, ou
até mesmo para que haja o julgamento antecipado do mérito imediatamente após a citação
do réu, é indispensável que a causa não demande ampla dilação probatória.
STJ. 3ª Turma. REsp 1854842/CE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 02/06/2020 (Info 673).

Sobre o tema, indicamos para vocês o podcast do STJ – Entender Direito35. No


episódio, os professores Edilson Vitorelli e Fredie Didier Jr explicaram de forma bem
clara e objetiva sobre os conceitos, características e demais informações.

Mas segue o resumo sobre o que foi falado pelos professores:

• Problemas estruturais são problemas enraizados na estrutura da sociedade,


problemas históricos. Uma situação de desconformidade permanente cuja
solução é uma série de atos de reestruturação.
• O Processo Estrutural é um processo que tem por objeto um problema
estrutural.
• Normalmente os processos estruturais são coletivos, mas Didier entende que
nem sempre o processo estrutural será coletivo. Pode haver um caso, por
exemplo, de inventário e partilha de bens, cuja indivisão destes seja impossível

35
Spotify ou Youtube

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em relação ao número exorbitante de credores. Assim, a estrutura pode ser algo


individual e nem sempre afetará uma coletividade.
• Para Vitorelli, o Litígio Estrutural é sempre coletivo, que perpassa pela
sociedade, cuja causa é o mau funcionamento de uma estrutura determinada da
sociedade. Mas de que maneira esse litígio será estabelecido na demanda,
depende da análise dos problemas estruturais do caso. Estrutura – o conflito
instaurado depende do funcionamento de uma estrutura que pode ser uma
política pública, uma instituição, empresa privada que afeta a sociedade de tal
forma que a única solução é alterar a estrutura como um todo.
• Para Didier são 8 características do processo estrutural, as 5 primeiras são
típicas-essenciais e as 3 últimas são consideradas típicas mas não-essenciais:
i. Ter um problema estrutural;
ii. O processo tem por objeto o modo, o meio, o tempo e a intensidade de
reestruturação – então tem a finalidade de estabelecer uma transição
entre o problema anterior e o problema futuro;
iii. A consensualidade;
iv. A flexibilidade das normas processuais;
v. Separado em 2 grandes fases: a fase de identificação do problema, que
finaliza com uma decisão-princípio/decisão-meta, que reconhece a
existência do problema e estabelece o resultado que se espera com a
reestruturação/ a meta a ser alcançada; e a fase de estruturação, que é a
fase de implementar os objetivos e soluções e contém várias decisões em
cascata que estabelecem as condutas que devem ser tomadas para que
aquele problema estrutural seja resolvido. Nessa segunda fase deve ter
uma fiscalização e avaliação permanente, para verificar se as soluções são
adequadas ao problema.
vi. Multipolaridade de partes;
vii. Coletividade em uma das partes;
viii. Complexidade – o problema pode ser resolvido de mais de uma maneira.
• Para Vitorelli, são características do processo estrutural:
i. Ter um problema estrutural;
ii. Sempre terá o interesse da coletividade;
iii. Sempre vão envolver um grau de conflituosidade social – por envolver
uma coletividade, os grupos geralmente possuem interesses em conflito.
Além disso, os problemas não se resolvem apenas com uma decisão
judicial, pois os atores políticos muitas vezes não seguem as decisões,
como foi o caso da ADPF do Covid dos povos indígenas.
iv. Sempre terá uma complexidade, no sentido de que a conflituosidade deixa
as soluções mais complexas.
v. Fluidez no processo para atender as realidades que se renovam e mudam
com o passar do tempo.

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• Vitorelli entende que o processo estrutural não está ligado somente ao judicial,
mas pode ser estabelecido inclusive em inquéritos civis, TAC e recomendações.
Além disso, vê como necessário um juiz que esteja favorável a construir o
processo estrutural, caso contrário é melhor as partes buscarem
autocomposição extrajudicial para maior liberdade de conciliação. O juiz deve
decidir o mínimo, para que as partes demonstrem suas condições específicas
para a resolução do problema. Assim, entende que o processo pode ser
composto por quatro etapas: 1) diagnóstico do problema/litígio e de como ele
pode ser solucionado; 2) elaboração do plano de solução com quem diagnostica
o problema, de que maneira esse diagnóstico será executado e como será a
intervenção nesse problema da sociedade; 3) implementação da intervenção; 4)
acompanhamento da intervenção para diagnosticar a realidade do problema
pós intervenção, com novo plano, nova implementação e novo
acompanhamento. Dessa forma, o juiz consegue intervir de forma progressiva
sobre os problemas que vão surgindo durante a intervenção.
• Sobre a possibilidade de o processo estrutural configurar invasão do Poder
Judiciário no Poder Executivo ou Legislativo:
- Vitorelli: a intervenção é inevitável em razão da necessidade de mudar
resultados sociais. Mesmo demandas individuais como fornecimento de
remédio fora da lista do SUS ou de matrícula em creches municipais,
acarretam uma mudança de política pública. Isso porque com o aumento
dessas demandas individuais, o poder público terá que aumentar os
instrumentos para atender os direitos sociais demandados. Além disso, é
evidente que o assunto já está pacificado: o STJ e o STF entendem ser
possível a intervenção em políticas públicas. O grande desafio é a
intervenção positiva para realizar resultados positivos para a sociedade.
- Didier: nem sempre o processo estrutural estará ligado a políticas públicas.
Por isso o problema não será o processo estrutural, mas a harmonização
dos poderes.
• Sobre os pontos positivos do processo estrutural:
- Vitorelli: o processo estrutural não trata apenas de sentenças bonitas,
mas busca efetivamente o resultado das intervenções e metas estipuladas
para alteração da estrutura social.
- Didier: é um espaço de exercício de cidadania e democracia participativa
por ter diálogo e soluções construídas em consenso.

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Se sentirem necessidade de maior aprofundamento sobre o tema, leiam o


artigo elaborado por Fredie Didier Jr., Hermes Zaneti Jr. e Rafael Alexandria de Oliveira36.

.QUESTÃO 78 – A respeito do habeas corpus coletivo, assinale a alternativa incorreta:

a) No contexto de uma sociedade de massas, certos atos podem repercutir na


liberdade de locomoção de uma coletividade de pessoas, em razão disso, vem-
se admitindo a tutela coletiva do direito de locomoção no âmbito processual
penal, através do habeas corpus coletivo.
b) A utilização de processo coletivo ao invés da impetração de vários habeas corpus
individuais favorece celeridade nas decisões, razoável duração do processo e
isonomia, evitando decisões conflitantes.
c) Segundo o Supremo Tribunal Federal, no habeas corpus coletivo, é necessária
a indicação nominal de todas os pacientes, não bastando identificar apenas a
coletividade de pessoas atingidas, identificáveis pela identidade de situação
fática e jurídica.
d) É cabível a concessão de liminar no âmbito de habeas corpus coletivo.
e) Os legitimados ativos para a impetração de habeas corpus coletivo são os
mesmos legitimados para a impetração do mandado de injunção coletivo.

Gabarito: C
Comentários:

Segundo a doutrina de Renato Brasileiro, vivemos em uma sociedade de massas,


em que atos isolados podem repercutir na liberdade de locomoção de muitas pessoas.
Por isso, seguindo a lógica dos processos coletivos no âmbito civil, têm se admitido a
utilização do habeas corpus coletivo.

Vantagens do HC coletivo: celeridade, razoável duração do processo e isonomia,


evitando decisões conflitantes.

Paciente: no HC coletivo, o paciente deve ser uma coletividade identificável. Não


é necessário indicar nominalmente todos os integrantes dessa coletividade, mas deve-
se indicar a coletividade de forma que as pessoas possam ser individualizadas
posteriormente. Deve-se demonstrar qual a situação fática e jurídica que esses
pacientes têm em comum. Ex.: mães em cumprimento de pena no regime fechado ou
semiaberto, que devem ser postas em prisão domiciliar.

36
https://www.mprj.mp.br/documents/20184/1606558/Fredie_Didier_jr_%26_Hermes
_Zaneti_Jr_%26_Rafael_Alexandria_de_Oliveira.pdf

214
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Competência: é definida a partir da autoridade coatora, tal como ocorre com o


habeas corpus individual. Ex.: se o diretor da penitenciária determinar a inclusão de
todos os presos no RDD, cabe HC coletivo contra essa decisão, a ser impetrado perante
o juiz singular.

Fundamento legal: Art. 654, §2º, e 580, “caput”, do CPP. Os dois artigos falam da
possibilidade de estender decisões individuais para outras pessoas. O juiz pode conceder
HC de ofício. Isso permite estender a ordem para os presos que estejam em situação
idêntica. Nos recursos, se a decisão é favorável, pode haver extensão dos efeitos da
decisão:

Art. 654. O habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer pessoa, em seu favor ou de outrem, bem
como pelo Ministério Público.

(...) § 2o Os juízes e os tribunais têm competência para expedir de ofício ordem de habeas corpus, quando
no curso de processo verificarem que alguém sofre ou está na iminência de sofrer coação ilegal.

Art. 580. No caso de concurso de agentes (Código Penal, art. 25), a decisão do recurso interposto por um
dos réus, se fundado em motivos que não sejam de caráter exclusivamente pessoal, aproveitará aos
outros.

Legitimidade ativa: art. 12 da Lei nº 13.300/16. A jurisprudência entende que


são os mesmos legitimados do mandado de injunção coletivo:

Art. 12. O mandado de injunção coletivo pode ser promovido:

I - pelo Ministério Público, quando a tutela requerida for especialmente relevante para a defesa da ordem
jurídica, do regime democrático ou dos interesses sociais ou individuais indisponíveis;

II - por partido político com representação no Congresso Nacional, para assegurar o exercício de direitos,
liberdades e prerrogativas de seus integrantes ou relacionados com a finalidade partidária;

III - por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em


funcionamento há pelo menos 1 (um) ano, para assegurar o exercício de direitos, liberdades e
prerrogativas em favor da totalidade ou de parte de seus membros ou associados, na forma de seus
estatutos e desde que pertinentes a suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial;

IV - pela Defensoria Pública, quando a tutela requerida for especialmente relevante para a promoção dos
direitos humanos e a defesa dos direitos individuais e coletivos dos necessitados, na forma do inciso
LXXIV do art. 5º da Constituição Federal .

Parágrafo único. Os direitos, as liberdades e as prerrogativas protegidos por mandado de injunção coletivo
são os pertencentes, indistintamente, a uma coletividade indeterminada de pessoas ou determinada por
grupo, classe ou categoria.

O professor Renato Brasileiro de Lima gravou uma aula rápida explicando o


conteúdo acima, que está disponível no Youtube, para quem tiver interesse em assistir:
https://www.youtube.com/watch?v=L6JwkhuW5G0

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Agora vamos relembrar os casos paradigmáticos em que houve concessão de HC


coletivo:

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA!

1) HABEAS CORPUS nº 143.641/SP: concedeu a ordem para determinar a substituição da prisão


preventiva pela domiciliar [...] de todas as mulheres presas, gestantes, puérperas ou mães de
crianças e deficientes, [...] excetuados os casos de crimes praticados por elas mediante violência
ou grave ameaça, contra seus descendentes ou, ainda, em situações excepcionalíssimas, as
quais deverão ser devidamente fundamentadas (HC n. 143.641/SP, Ministro Ricardo
Lewandowski, Segunda Turma do STF, DJe 9/10/2018).

2) HABEAS CORPUS 143.988 – Superlotação e adolescentes em cumprimento de medida


socioeducativa no Espírito Santo

HABEAS CORPUS COLETIVO. CUMPRIMENTO DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS DE INTERNAÇÃO.


IMPETRAÇÃO VOLTADA A CORRIGIR ALEGADA SUPERLOTAÇÃO EM UNIDADES.
ADMISSIBILIDADE DA VIA EEITA PARA O EXAME DA QUESTÃO DE FUNDO. VIOLAÇÃO DE
DIREITOS FUNDAMENTAIS DOS ADOLESCENTES INTERNADOS. DEFICIÊNCIAS ESTRUTURAIS E
AUSÊNCIA DE VAGAS OFERTADAS EM INSTITUIÇÕES SIMILARES. FINALIDADES DA MEDIDA
SOCIOEDUCATIVA. DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL. PRINCÍPIOS DA BREVIDADE,
EXCEPCIONALIDADE E RESPEITO À CONDIÇÃO DE PESSOA EM DESENVOLVIMENTO. DIFERENÇAS
DAS POLÍTICAS DE ATENDIMENTO SOCIEDUCATIVO EM RELAÇÃO ÀS POLÍCIAS CRIMINAIS.
DEVERES ESTATAIS RECONHECIDOS PELA CORTE INTERAMERICANA. DIREITO DOS
ADOLESCENTES PRIVADOS DE LIBERDADE A DESENVOLVEREM OS SEUS PROJETOS DE VIDA.
IMPOSSIBILIDADE DE O PODER JUDICIÁRIO EXIMIR-SE DE SUA ATUAÇÃO NAS HIPÓTESES DE
VIOLAÇÃO IMINENTE OU EM CURSO A DIREITOS FUNDAMENTAIS. ENVERGADURA DO
POSTULADO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO.
ORDEM CONCEDIDA COM A FIXAÇÃO DE PARÂMETROS E CRITÉRIOS A SEREM OBSERVADOS
PELOS MAGISTRADOS. EVENTUAL DESCUMPRIMENTO PELOS DESTINATÁRIOS DA ORDEM
DESAFIARÁ A INTERPOSIÇÃO DE RECURSO NAS INSTÂNCIAS APROPRIADAS.

1. A Segunda Turma do STF, no julgamento do HC nº 143.641/SP, (julgado em 20.2.18), passou


a admitir a impetração de habeas corpus coletivo como via processual legítima, racional,
adequada e isonômica na tutela do direito à liberdade ambulatorial (HC 143.641/SP, Rel.
Ministro Ricardo Lewandowski, julgado 20/02/2018, DJe 215, divulg. 08/10/2018, publicado em
09/10/2018).

(...) 16. Ordem de habeas corpus concedida para determinar que as unidades de execução de
medida socioeducativa de internação de adolescentes não ultrapassem a capacidade projetada
de internação prevista para cada unidade, nos termos da impetração e extensões.

17. Propõe-se, ainda, a observância dos seguintes critérios e parâmetros, a serem observados
pelos Magistrados nas unidades de internação que operam com a taxa de ocupação dos
adolescentes superior à capacidade projetada: i) adoção do princípio numerus clausus como

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estratégia de gestão, com a liberação de nova vaga na hipótese de ingresso; ii) reavaliação dos
adolescentes internados exclusivamente em razão da reiteração em infrações cometidas sem
violência ou grave ameaça à pessoa, com a designação de audiência e oitiva da equipe técnica
para o mister; iii) proceder-se à transferência dos adolescentes sobressalentes para outras
unidades que não estejam com capacidade de ocupação superior ao limite projetado do
estabelecimento, contanto que em localidade próxima à residência dos seus familiares; iv)
subsidiariamente, caso as medidas propostas sejam insuficientes e essa transferência não seja
possível, o magistrado deverá atender ao parâmetro fixado no art. 49, II, da Lei 12.594/2012,
até que seja atingido o limite máximo de ocupação; v) na hipótese de impossibilidade de adoção
das medidas supra, que haja conversão de medidas de internação em internações domiciliares,
sem qualquer prejuízo ao escorreito cumprimento do plano individual de atendimento podendo
ser adotadas diligências adicionais de modo a viabilizar o seu adequado acompanhamento e
execução; vi) a internação domiciliar poderá ser cumulada com a imposição de medidas
protetivas e/ou acompanhada da advertência ao adolescente infrator de que o descumprimento
injustificado do plano individual de atendimento ou a reiteração em atos infracionais poderá
acarretar a volta ao estabelecimento de origem; vii) a fiscalização da internação domiciliar
poderá ser deprecada à respectiva Comarca, nos casos em que o local da residência do interno
não coincida com o da execução da medida de internação, respeitadas as regras de competência
e organização judiciária; viii) alternativamente, a adoção justificada pelo magistrado de outras
diretrizes que entenda adequadas e condizentes com os postulados constitucionais e demais
instrumentos normativos.

3) STF deferiu medida liminar em habeas corpus coletivo impetrado pela DPU para determinar
que os juízes e Tribunais do país cumpram a Recomendação 62/2020 do CNJ e adotassem uma
série de medidas para evitar a propagação da Covid-19 nos estabelecimentos prisionais. (HC
188820 MC-Ref, Relator(a): EDSON FACHIN, Segunda Turma, julgado em 24/02/2021, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-056 DIVULG 23-03-2021 PUBLIC 24-03-2021)

.QUESTÃO 79 – A respeito do mandado de segurança coletivo, assinale a alternativa


incorreta:

a) É desnecessária a autorização expressa dos associados, a relação nominal destes,


bem como a comprovação de filiação prévia, para a cobrança de valores
pretéritos de título judicial decorrente de mandado de segurança coletivo
impetrado por entidade associativa de caráter civil.
b) A Lei 12.016/09 prevê que pode ser objeto do mandado de segurança coletivo
a tutela de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos.
c) Se uma associação impetra mandado de segurança coletivo, essa decisão irá
beneficiar todos os integrantes da categoria substituída (mesmo que não sejam
associados); no entanto, essa decisão não beneficia pessoas que não sejam da
categoria substituída.

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d) A suspensão da liminar em mandado de segurança, salvo determinação em


contrário da decisão que a deferir, vigorará até o trânsito em julgado da decisão
definitiva de concessão da segurança ou, havendo recurso, até a sua
manutenção pelo Supremo Tribunal Federal, desde que o objeto da liminar
deferida coincida, total ou parcialmente, com o da impetração.
e) O mandado de segurança coletivo não induz litispendência para as ações
individuais, mas os efeitos da coisa julgada não beneficiarão o impetrante a título
individual se não requerer a desistência de seu mandado de segurança no prazo
de 30 dias a contar da ciência comprovada da impetração da segurança coletiva.

Gabarito: B

Comentários:

O mandado de segurança também é um tema recorrente em provas e, no caso


do mandado de segurança coletivo, há discussões importantes a respeito da
legitimidade da Defensoria Pública para impetrá-lo.
Como não há previsão legal expressa de competência da Defensoria Pública,
surge o debate se a Defensoria seria legitimada. Lembrando que o Ministério Público
também não consta no rol legal:

Art. 21. O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido político com representação
no Congresso Nacional, na defesa de seus interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade
partidária, ou por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em
funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa de direitos líquidos e certos da totalidade, ou de
parte, dos seus membros ou associados, na forma dos seus estatutos e desde que pertinentes às suas
finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial.

No entanto, pode-se concluir pela legitimidade da Defensoria Pública a partir das


suas funções institucionais, uma vez que, para a concretização destas, a utilização do
mandado de segurança coletivo é uma ferramenta importante, apta a preservar o
direito líquido e certo de grupos vulnerabilizados.

Além disso, a Lei do Mandado de Injunção e da Ação Civil Pública, que também
se inserem no microssistema processual coletivo, preveem expressamente a
legitimidade da Defensoria Pública, motivo pelo qual seria cabível a extensão desse rol
para o mandado de segurança coletivo (mas o tema é polêmico).

Com relação à legitimidade das associações, é importante lembrar que há tese


de repercussão geral do STF a respeito do tema. Diferente da ACP, a Lei 12.016/2009
prevê expressamente que é dispensada a autorização especial dos filiados para a
impetração. Nessa mesma lógica, decidiu o STF:

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA!

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É desnecessária a autorização expressa dos associados, a relação nominal destes, bem como
a comprovação de filiação prévia, para a cobrança de valores pretéritos de título judicial
decorrente de mandado de segurança coletivo impetrado por entidade associativa de caráter
civil. STF. Plenário. ARE 1293130 RG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/12/2020 (Repercussão
Geral – Tema 1.119).

E ainda, tem tema de recurso repetitivo do STJ sobre o assunto:

A coisa julgada formada no Mandado de Segurança Coletivo 2005.51.01.016159-0 (impetrado


pela Associação de Oficiais Militares do Estado do Rio de Janeiro -AME/RJ, enquanto substituta
processual) beneficia os militares e respectivos pensionistas do antigo Distrito Federal,
integrantes da categoria substituída - oficiais, independentemente de terem constado da lista
apresentada no momento do ajuizamento do mandamus ou de serem filiados à associação
impetrante. Assim, essa decisão beneficia todos os Oficiais do antigo Distrito Federal. No
entanto, não irá beneficiar outros militares do antigo Distrito Federal que não sejam Oficiais (ex:
um Terceiro Sargento). STJ. 1ª Seção. REsp 1.865.563-RJ, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. Acd. Min.
Gurgel de Faria, julgado em 21/10/2021 (Recurso Repetitivo – Tema 1056) (Info 715).

Para facilitar a memorização, vamos de tabela do Dizer do Direito a respeito da


necessidade de autorização dos filiados para o ajuizamento de ações pela associação 37:

37 https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2021/12/info-715-stj.pdf

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Quanto às espécies de direitos que são objeto de proteção do MS coletivo, a lei


apenas menciona os direitos coletivos e os individuais homogêneos, excluindo os
direitos difusos:

Art. 21. (...)

I - coletivos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os transindividuais, de natureza indivisível, de que
seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação
jurídica básica;

II - individuais homogêneos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os decorrentes de origem comum e
da atividade ou situação específica da totalidade ou de parte dos associados ou membros do impetrante.
Lei 12.016/09

Apesar da ausência de previsão legal, há doutrina defendendo que é possível a


impetração de mandado de segurança coletivo para a defesa de direitos difusos.

Quanto à suspensão de liminar no mandado se segurança, esta é cabível quando


a decisão proferida puder causar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à
economia públicas, mas sob um aspecto de direito público, tanto que a lei prevê
legitimidade da pessoa jurídica de direito público interessada ou do Ministério Público:

Art. 15. Quando, a requerimento de pessoa jurídica de direito público interessada ou do


Ministério Público e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas, o
presidente do tribunal ao qual couber o conhecimento do respectivo recurso suspender, em decisão
fundamentada, a execução da liminar e da sentença, dessa decisão caberá agravo, sem efeito
suspensivo, no prazo de 5 (cinco) dias, que será levado a julgamento na sessão seguinte à sua
interposição.

§ 1o Indeferido o pedido de suspensão ou provido o agravo a que se refere o caput deste artigo,
caberá novo pedido de suspensão ao presidente do tribunal competente para conhecer de eventual
recurso especial ou extraordinário.

§ 2o É cabível também o pedido de suspensão a que se refere o § 1o deste artigo, quando negado
provimento a agravo de instrumento interposto contra a liminar a que se refere este artigo.

§ 3o A interposição de agravo de instrumento contra liminar concedida nas ações movidas contra
o poder público e seus agentes não prejudica nem condiciona o julgamento do pedido de suspensão a
que se refere este artigo.

§ 4o O presidente do tribunal poderá conferir ao pedido efeito suspensivo liminar se constatar,


em juízo prévio, a plausibilidade do direito invocado e a urgência na concessão da medida.

§ 5o As liminares cujo objeto seja idêntico poderão ser suspensas em uma única decisão, podendo
o presidente do tribunal estender os efeitos da suspensão a liminares supervenientes, mediante simples
aditamento do pedido original.

A respeito da duração dessa suspensão de liminar, o STF editou a súmula nº 626:

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA!

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Súmula 626-STF: A suspensão da liminar em mandado de segurança, salvo determinação em


contrário da decisão que a deferir, vigorará até o trânsito em julgado da decisão definitiva de
concessão da segurança ou, havendo recurso, até a sua manutenção pelo Supremo Tribunal
Federal, desde que o objeto da liminar deferida coincida, total ou parcialmente, com o da
impetração.

Não há previsão legal de que a Defensoria pública possa requerer a suspensão


de liminar. Há controvérsias na jurisprudência a respeito da legitimidade ou não da
Defensoria, havendo precedentes favoráveis. Para se aprofundar, veja:
https://www.conjur.com.br/2023-mar-14/tribuna-defensoria-defensoria-publica-
pedido-suspensao

Quanto à necessidade de desistência da ação individual para se beneficiar da


decisão coletiva e o prazo para a desistência, vejamos o artigo 22 da Lei 12.016/2009:

Art. 22. No mandado de segurança coletivo, a sentença fará coisa julgada limitadamente aos membros
do grupo ou categoria substituídos pelo impetrante. (Vide ADIN 4296)

§ 1o O mandado de segurança coletivo não induz litispendência para as ações individuais, mas os efeitos
da coisa julgada não beneficiarão o impetrante a título individual se não requerer a desistência de seu
mandado de segurança no prazo de 30 (trinta) dias a contar da ciência comprovada da impetração da
segurança coletiva.

Por fim, sobre o tema mandado de segurança, há uma decisão importante do STJ
tratando da legitimidade do Defensor(a) Público(a) para impetrar mandado de
segurança em defesa das funções institucionais e prerrogativas de seus órgãos de
execução:

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA!

Info 742-STJ: O Defensor Público, atuando em nome da Defensoria Pública, possui


legitimidade para impetrar MS em defesa das funções institucionais e prerrogativas de seus
órgãos de execução; essa legitimidade não é exclusiva do Defensor Público-Geral.
1. O Defensor Público, atuando em nome da Defensoria Pública, possui legitimidade para
impetrar mandado de segurança em defesa das funções institucionais e prerrogativas de seus
órgãos de execução, nos termos do artigo 4°, IX, da Lei Complementar n° 80/94, atribuição não
conferida exclusivamente ao Defensor Público-Geral.
2. A circunstância de a parte autora ser assistida pela Defensoria Pública não afasta a atribuição
legal da instituição de, por meio de defensor distinto, exercer a curadoria do réu revel citado
por edital (Lei Complementar 80/94, art. 4º, inciso XVI).
3. Recurso em mandado de segurança provido para conceder a ordem.
(RMS n. 64.917/MT, relatora Ministra Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, julgado em 7/6/2022,
DJe de 10/6/2022.)

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.QUESTÃO 80 – Sobre a Ação Popular, é correto afirmar:

a) É vedado a habilitação de qualquer cidadão como litisconsorte ou assistente do


autor da ação popular.
b) O Ministério Público acompanhará a ação, cabendo-lhe apressar a produção da
prova, promover a responsabilidade, civil ou criminal, dos que nela incidirem, e,
como fiscal do ordenamento jurídico, se necessário, assumir a defesa do ato
impugnado ou dos seus autores.
c) Compete ao STF julgar a ação popular cujo pedido seja próprio de mandado de
segurança coletivo contra ato de Presidente da República, por força do art. 102,
I, “d”, da CF/88
d) O prazo de contestação é de 20 dias, improrrogáveis
e) Caso decorridos 30 dias da publicação da sentença condenatória de segunda
instância, sem que o autor ou terceiro promova a respectiva execução, o
representante do Ministério Público a promoverá nos 60 dias seguintes, sob
pena de falta grave.

Gabarito: C

Comentários:

Pessoal, essa questão cobrou o conhecimento da letra da lei de Ação Popular, bem
como da jurisprudência recente nesta temática, vejamos cada alternativa

• Errada a alternativa “a” – NÃO É vedado a habilitação de qualquer cidadão como


litisconsorte ou assistente do autor da ação popular.
o Lei n.4717/65, art. 6 §5º: É facultado a qualquer cidadão habilitar-se
como litisconsorte ou assistente do autor da ação popular.

• Errada a alternativa “b” – o Ministério público NÃO poderá assumir a defesa do


ato impugnado ou de seus autores
o Lei n.4717/65, art. 6 §4º: O Ministério Público acompanhará a ação,
cabendo-lhe apressar a produção da prova e promover a
responsabilidade, civil ou criminal, dos que nela incidirem, sendo-lhe
vedado, em qualquer hipótese, assumir a defesa do ato impugnado ou
dos seus autores

• Correta a alternativa “c” – trata-se de entendimento jurisprudencial que


excepciona a regra da competência nas ações populares

STF. Plenário. Pet 5856 AgR (Info 811).


A competência para julgar ação popular contra ato de qualquer autoridade, até
mesmo do Presidente da República, é, via de regra, do juízo de 1º grau.

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Exceção
STF. Plenário. Pet 8104 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 06/12/2019.
Competência do STF para julgar ação popular cujo pedido seja próprio de
mandado de segurança coletivo contra ato de Presidente da República, por força
do art. 102, I, “d”, da CF/88

• Errada a alternativa “d” – letra de lei e pegadinha com números, vejamos:


o Lei n.4717/65, art.7 §2, IV: O prazo de contestação é de 20 dias,
prorrogáveis por mais 20, a requerimento do interessado, se
particularmente difícil a produção de prova documental, e será comum a
todos os interessados, correndo da entrega em cartório do mandado
cumprido, ou, quando for o caso, do decurso do prazo assinado em edital.

• Errada a alternativa “e” – letra de lei e pegadinha com números, vejamos:


o Lei n.4717/65, art.16: Caso decorridos 60 dias da publicação da sentença
condenatória de segunda instância, sem que o autor ou terceiro
promova a respectiva execução. o representante do Ministério Público
a promoverá nos 30 dias seguintes, sob pena de falta grave.

.QUESTÃO 81 – No âmbito processual coletivo, assinale a alternativa incorreta:

a) A citação válida em ação coletiva por danos ambientais interrompe o prazo


prescricional da ação indenizatória individual se coincidente a causa de pedir das
demandas
b) Ainda que diante de demanda proposta por associações e fundações privadas,
parte que foi vencida em ação civil pública não tem o dever de pagar
honorários advocatícios em favor do autor da ação. A justificativa para isso está
no princípio da simetria. Isso porque se o autor da ACP perder a demanda, ele
não irá pagar
c) No âmbito do direito privado, é de cinco anos o prazo prescricional para
ajuizamento da execução individual em pedido de cumprimento de sentença
proferida em ação civil pública
d) A Defensoria Pública possui legitimidade ativa para propor ação civil pública com
vista a impor ao Estado o cumprimento de obrigações legais na tutela de
pequenos agricultores familiares, sendo prescindível a comprovação prévia e
concreta da carência dos assistidos.
e) Não é cabível promover a liquidação da sentença coletivo no foro do domicílio
do substituto processual se este não for o domicílio dos beneficiários ou o foro
em que o título foi proferido

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Gabarito: B

Comentários:

Pessoal, essa questão cobrou o conhecimento da jurisprudência recente nesta


temática, vejamos cada alternativa:

• Está correta a alternativa “a”: A citação válida em ação coletiva por danos
ambientais interrompe o prazo prescricional da ação indenizatória individual se
coincidente a causa de pedir das demandas

STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 2036247-RS (Info Especial 9).


Caso concreto: em 1998, houve um acidente com um navio, que causou danos
ambientais. Em 2000, o Ministério Público ajuizou ação civil pública contra a
empresa responsável pedindo a reparação integral dos danos ambientais e para
a saúde humana decorrentes do sinistro. Mais de três anos depois do acidente,
um pescador da região ajuizou ação individual contra a empresa responsável
pedindo indenização em razão de ter sido proibido de pescar por conta do
acidente. Não houve prescrição, no caso, porque a citação ocorrida na ação
coletiva por danos ambientais interrompeu o prazo prescricional da ação
indenizatória individual.

• Está incorreta a alternativa “b”: Ainda que diante de demanda proposta por
associações e fundações privadas, parte que foi vencida em ação civil pública não
tem o dever de pagar honorários advocatícios em favor do autor da ação. A
justificativa para isso está no princípio da simetria. Isso porque se o autor da ACP
perder a demanda, ele não irá pagar

STJ no EAREsp 962250/SP


A parte que foi vencida em ação civil pública não tem o dever de pagar
honorários advocatícios em favor do autor da ação. Isso porque se o autor da
ACP perder a demanda, ele não irá pagar honorários advocatícios, salvo se
estiver de má-fé (art. 18 da Lei nº 7.347/85). Logo, pelo princípio da simetria, se
o autor vencer a ação, também não deve ter direito de receber a verba. Desse
modo, em razão da simetria, descabe a condenação em honorários advocatícios
da parte requerida em ação civil pública, quando inexistente má-fé, de igual
sorte como ocorre com a parte autora.
EXCEÇÃO: se a ação tiver sido proposta por associações e fundações privadas e
a demanda tiver sido julgada procedente, neste caso, o demandado terá sim que
pagar honorários advocatícios. O entendimento do STJ manifestado no EAREsp
962.250/SP não se deve aplicar a demandas propostas por associações e
fundações privadas, pois, do contrário, barrado de fato estaria um dos objetivos

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mais nobres da Lei 7.347/85, qual seja, o viabilizar e ampliar o acesso à justiça
para a sociedade civil organizada – STJ. 3ª Turma.REsp 1974436-RJ, Rel. Min.
Nancy Andrighi, julgado em 22/03/2022 (Info 730).

• Está correta a alternativa “c”: No âmbito do direito privado, é de cinco anos o


prazo prescricional para ajuizamento da execução individual em pedido de
cumprimento de sentença proferida em ação civil pública

STJ. 4ª Turma. EDcl no REsp 1569684-SP (Info 756).


No âmbito do direito privado, é de cinco anos o prazo prescricional para
ajuizamento da execução individual em pedido de cumprimento de sentença
proferida em ação civil pública (Tema 515).

• Está correta a alternativa “d”: A Defensoria Pública possui legitimidade ativa para
propor ação civil pública com vista a impor ao Estado o cumprimento de
obrigações legais na tutela de pequenos agricultores familiares, sendo
prescindível a comprovação prévia e concreta da carência dos assistidos.

STJ. 2ª Turma. REsp 1847991-RS (Info 748).


A Defensoria Pública possui legitimidade ativa para propor ação civil pública com
vista a impor ao Estado o cumprimento de obrigações legais na tutela de
pequenos agricultores familiares, sendo prescindível a comprovação prévia e
concreta da carência dos assistidos.

STF. Plenário. ADI 576/RS


A Defensoria Pública, instituição essencial à função jurisdicional do Estado, é o
órgão responsável por conferir a máxima efetividade à garantia fundamental do
acesso à Justiça, uma vez que incumbida da orientação jurídica e da defesa dos
necessitados (CF, art. 134). O papel e o potencial da Defensoria Pública para
exercer a defesa jurídica integral dos necessitados hão de ser estendidos a atos
extraprocessuais, aí incluída a promoção da “conciliação entre as partes, quando
conveniente, antes da propositura da ação”. É incompatível com a Constituição
Federal, ainda que em sua redação original, a limitação da atuação da
Defensoria Pública às demandas individuais dos necessitados. O propósito
maior do órgão é assegurar o efetivo acesso à Justiça por todos os necessitados,
observados os direitos fundamentais previstos no art. 5º, XXXV, LXXIV e LXXVIII,
da Carta da República. A opção das ações coletivas racionaliza o trabalho do
Poder Judiciário e aumenta a possibilidade de serem alcançadas soluções
uniformes e igualitárias para os diferentes titulares dos mesmos direitos,
garantindo-se a eficiência da prestação jurisdicional, a duração razoável do
processo e a justiça das decisões. Mostra-se harmônica com o perfil

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constitucional da Defensoria Pública a competência para patrocinar os direitos e


interesses do consumidor, da criança e do adolescente, do idoso e das pessoas
com deficiência, mesmo que a atuação se dê em sede de ação coletiva.

• Está correta a alternativa “e”: Não é cabível promover a liquidação da sentença


coletivo no foro do domicílio do substituto processual se este não for o domicílio
dos beneficiários ou o foro em que o título foi proferido

STJ. 3ª Turma.REsp 1.866.440-AL (Info 774).


O consumidor tem a possibilidade de promover a liquidação e o cumprimento
da sentença coletiva:a) no foro de seu domicílio; ou b) no foro em que o título
executivo judicial foi proferido. Não cabe, por outro lado, a eleição (escolha) de
uma comarca aleatória, sem nenhuma justificativa plausível. Assim, não é cabível
promover a liquidação do título executivo judicial coletivo em foro aleatório, sem
nenhuma relação com as comarcas de domicílio dos beneficiários, ainda que se
trate do foro de domicílio do substituto processual extraordinário, sob pena de
afronta ao princípio do Juiz natural. Caso concreto: a sentença coletiva foi
proferida pelo juízo de Brasília/DF; a associação privada iniciou a liquidação de
sentença em Maceió/AL, local de seu domicílio; ocorre que os beneficiários eram
domiciliados em São Paulo/SP; constata-se, portanto, que a liquidação e
cumprimento pode ocorrer em Brasília ou São Paulo, não sendo o juízo da
comarca de Maceió competente para a causa, mesmo sendo o domicílio do
substituto.

.QUESTÃO 82 – A cidade de "Urbanville" enfrenta desafios relacionados ao crescimento


desordenado, e a Prefeitura busca utilizar os instrumentos do Estatuto da Cidade para
promover um desenvolvimento urbano mais sustentável. Com base nas diretrizes
estabelecidas na Lei 10.257/2001, qual das alternativas apresenta uma incorreção em
relação aos instrumentos de política urbana?

a) O direito de preempção confere ao Poder Público municipal preferência para


aquisição de imóvel urbano objeto de alienação onerosa entre particulares. Lei
municipal delimitará as áreas em que incidirá o direito de preempção e fixará
prazo de vigência, não superior a cinco anos, renovável a partir de um ano após
o decurso do prazo inicial de vigência
b) O Estatuto da Cidade veda expressamente a utilização de instrumentos como
a outorga onerosa do direito de construir e a transferência do direito de
construir, com o objetivo de evitar a especulação imobiliária.
c) O parcelamento, edificação ou utilização compulsórios podem ser aplicados
como sanção para imóveis urbanos que não cumprem a função social da
propriedade. O proprietário será notificado pelo Poder Executivo municipal para

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o cumprimento da obrigação, devendo a notificação ser averbada no cartório de


registro de imóveis
d) Os núcleos urbanos informais existentes sem oposição há mais de cinco anos e
cuja área total dividida pelo número de possuidores seja inferior a duzentos e
cinquenta metros quadrados por possuidor são suscetíveis de serem usucapidos
coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro
imóvel urbano ou rural.
e) Aquele que possuir como sua área ou edificação urbana de até duzentos e
cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição,
utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde
que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

Gabarito: B

Comentário:

A alternativa "a" está correta. O Estatuto da Cidade, em seu artigo 25, prevê o
direito de preempção, que permite ao Poder Público preferência na aquisição de
imóveis urbanos para a implantação de equipamentos públicos e programas de
habitação de interesse social, entre outros.

A alternativa "b" está incorreta. Pelo contrário, o Estatuto da Cidade não veda a
utilização dos instrumentos da outorga onerosa do direito de construir e da
transferência do direito de construir. Esses instrumentos são mencionados nos artigos
28 e 35 do Estatuto e têm como objetivo captar parte do valor gerado pela valorização
imobiliária para investir em melhorias urbanas e reduzir a especulação imobiliária.

A alternativa "c" está correta. O parcelamento, edificação ou utilização


compulsórios são instrumentos previstos no Estatuto da Cidade (artigo 5º) para imóveis
urbanos que não cumprem a função social da propriedade, obrigando o proprietário a
atender a tais exigências.

A alternativa "d" está correta. A concessão de uso especial para fins de moradia
é um instrumento previsto no Estatuto da Cidade (artigo 10) que visa regularizar
ocupações informais em imóveis públicos municipais, desde que atendidos
determinados requisitos.

Art. 10. Os núcleos urbanos informais existentes sem oposição há mais de cinco
anos e cuja área total dividida pelo número de possuidores seja inferior a duzentos e
cinquenta metros quadrados por possuidor são suscetíveis de serem usucapidos
coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel
urbano ou rural.

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A alternativa "e" está correta. O Estatuto da Cidade, em seu artigo 9º, prevê a
usucapião especial de imóvel urbano para aqueles que utilizam o imóvel como moradia
própria ou de sua família por pelo menos 5 anos, não sendo proprietário de outro imóvel
urbano ou rural.

.QUESTÃO 83 – O direito humano à alimentação adequada é uma preocupação global e


tem respaldo em instrumentos internacionais e legislações nacionais. A Lei 11.346/2006,
conhecida como Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional, visa garantir a todos
o acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, estabelecendo também a
participação da sociedade civil na formulação de políticas de segurança alimentar e
nutricional. Além disso, casos emblemáticos destacam a importância do direito à
alimentação. No caso "Lhaka Honhat (Nossa Terra) vs Argentina", a Corte
Interamericana de Direitos Humanos analisou a relação entre direitos indígenas e a
proteção dos seus recursos. Com base nesse contexto, assinale a alternativa correta:

a) A Lei 11.346/2006 assegura o acesso à alimentação, entretanto não abrange a


garantia da qualidade biológica e tecnológica dos alimentos.
b) No caso "Lhaka Honhat (Nossa Terra) vs Argentina", a Corte Interamericana
analisou o impacto da exploração de recursos naturais em territórios indígenas
na saúde dos povos indígenas, considerando o acesso limitado a alimentos
saudáveis. Assim, a Corte identificou violações aos direitos humanos à
alimentação e à água potável.
c) O Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN) é integrado
pelo Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA) e pelos
órgãos e entidades de segurança alimentar e nutricional da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios.
d) No caso "Lhaka Honhat (Nossa Terra) vs Argentina", a Corte Interamericana
concluiu que a negação do direito à consulta prévia aos povos indígenas afetados
não teve impacto significativo nos direitos humanos dessas comunidades.
e) O direito humano à alimentação adequada não é reconhecido
internacionalmente como um direito fundamental e, portanto, não possui base
legal em tratados internacionais.

Gabarito: B

Comentário:

A alternativa "a" está incorreta porque a Lei 11.346/2006 não se limita apenas a
assegurar o acesso à alimentação, mas também busca garantir a qualidade dos
alimentos, promovendo a segurança alimentar e nutricional.

Art. 4º A segurança alimentar e nutricional abrange:

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I - a ampliação das condições de acesso aos alimentos por meio da produção, em especial da
agricultura tradicional e familiar, do processamento, da industrialização, da comercialização,
incluindo-se os acordos internacionais, do abastecimento e da distribuição de alimentos,
incluindo-se a água, bem como das medidas que mitiguem o risco de escassez de água potável, da
geração de emprego e da redistribuição da renda; (Redação dada pela Lei nº 13.839, de 2019)

II – a conservação da biodiversidade e a utilização sustentável dos recursos;

III – a promoção da saúde, da nutrição e da alimentação da população, incluindo-se grupos


populacionais específicos e populações em situação de vulnerabilidade social;

IV – a garantia da qualidade biológica, sanitária, nutricional e tecnológica dos alimentos, bem


como seu aproveitamento, estimulando práticas alimentares e estilos de vida saudáveis que
respeitem a diversidade étnica e racial e cultural da população;

V – a produção de conhecimento e o acesso à informação; e

VI – a implementação de políticas públicas e estratégias sustentáveis e participativas de produção,


comercialização e consumo de alimentos, respeitando-se as múltiplas características culturais do
País.

VII - a formação de estoques reguladores e estratégicos de alimentos. (Incluído pela Lei nº


13.839, de 2019)

A alternativa "b" está correta, pois apesar de o caso analisar a relação entre
direitos indígenas e a proteção ambiental. A corte condenou o Estado argentino por não
garantir a segurança jurídica à propriedade comunitária, ao meio ambiente saudável, à
identidade cultural e também identificou violações aos direitos humanos à alimentação
e à água potável.

A alternativa C está incorreta. Conforme art. 11 da Lei n. 11.346/2006: Integram


o SISAN: a Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional; o CONSEA; a
Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional, integrada por Ministros
de Estado e Secretários Especiais responsáveis pelas pastas afetas à consecução da
segurança alimentar e nutricional; os órgãos e entidades de segurança alimentar e
nutricional da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; e as instituições
privadas, com ou sem fins lucrativos, que manifestem interesse na adesão e que
respeitem os critérios, princípios e diretrizes do SISAN.

A alternativa "d" está incorreta, pois apresenta uma afirmação que não
corresponde ao que foi decidido no caso "Lhaka Honhat (Nossa Terra) vs Argentina". A
Corte Interamericana de Direitos Humanos de fato concluiu que a negação do direito à
consulta prévia violou os direitos dos povos indígenas afetados.

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A alternativa "e" está incorreta, pois o direito humano à alimentação adequada


é reconhecido internacionalmente como um direito fundamental, respaldado por
tratados e convenções internacionais, incluindo o Pacto Internacional sobre Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais. Portanto, a afirmação de que esse direito não é
reconhecido internacionalmente é incorreta.

.QUESTÃO 84 – O dano moral coletivo tem sido concebido como categoria autônoma
de dano, que se caracteriza por lesão grave, injusta e intolerável a valores e a interesses
fundamentais da sociedade, independentemente da comprovação de prejuízos
concretos ou de efetivo abalo moral. Sobre o tema, é correto afirmar, segundo
entendimentos proferidos pelo Superior Tribunal de Justiça:

a) O STJ possui entendimento no sentido de que a falta de numerário nos caixas


de banco, que gere muito tempo de espera nas filas, em que pese caracterize
inadequada prestação de serviços bancários, não é apta a caracterizar danos
morais coletivos.
b) O dano moral coletivo é aferível in re ipsa, dispensando a demonstração de
prejuízos concretos, desde que evidentes os aspectos de ordem subjetiva.
c) Para haver danos morais coletivos é prescindível que a violação aos interesses
transindividuais se dê de maneira inescusável e injusta, percebida dentro de uma
apreciação predominantemente objetiva.
d) Os danos morais coletivos se configuram na própria prática ilícita, sendo
indispensável a prova de efetivo dano ou sofrimento da sociedade, e se baseiam
na responsabilidade de natureza objetiva, na qual é desnecessária a
comprovação de culpa ou de dolo do agente lesivo.
e) A contratação de servidores sem concurso consiste em conduta ilegítima e
de lesividade que ultrapassa a simples esfera da Administração Pública e atinge
valores da coletividade, sendo apta a caracterizar danos morais coletivos.

Gabarito: E
Comentários:

O item A é contrário ao julgado a seguir:

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA! 🚨

Info 726 - STJ - A inadequada prestação de serviços bancários, caracterizada pela


reiterada existência de caixas eletrônicos inoperantes, sobretudo por falta de
numerário, e pelo consequente excesso de espera em filas por tempo superior ao
estabelecido em legislação municipal, é apta a caracterizar danos morais coletivos.

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STJ. 3ª Turma. REsp 1.929.288-TO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/02/2022
(Info 726).

O item B afirma equivocadamente que se fariam necessários “evidentes os


aspectos de ordem subjetiva”:

“(...) 1. É remansosa a jurisprudência deste Tribunal Superior no sentido de que o dano


moral coletivo é aferível in re ipsa, dispensando a demonstração de prejuízos concretos
e de aspectos de ordem subjetiva. O referido dano será decorrente do próprio fato
apontado como violador dos direitos coletivos e difusos, por essência, de natureza
extrapatrimonial, sendo o fato, por si mesmo, passível de avaliação objetiva quanto a
ter ou não aptidão para caracterizar o prejuízo moral coletivo, este sim nitidamente
subjetivo e insindicável. 2. O dano moral coletivo somente se configurará se houver
grave ofensa à moralidade pública, objetivamente considerada, causando lesão a
valores fundamentais da sociedade e transbordando da tolerabilidade. A violação aos
interesses transindividuais deve ocorrer de maneira inescusável e injusta, percebida
dentro de uma apreciação predominantemente objetiva, de modo a não trivializar,
banalizar a configuração do aludido dano moral coletivo. EREsp n. 1.342.846/RS,
Relator Ministro Raul Araújo, Corte Especial, julgado em 16/6/2021, DJe de 3/8/2021.

O item C mostra-se errado porque é imprescindível que a violação aos


interesses transindividuais se dê de maneira inescusável e injusta.

O item D está errado, pois NÃO é indispensável a prova do efetivo dano! Do


contrário, é configurado in re ipsa! Vejam: Os danos morais coletivos se configuram na
própria prática ilícita, dispensam a prova de efetivo dano ou sofrimento da sociedade
e se baseiam na responsabilidade de natureza objetiva, na qual é desnecessária a
comprovação de culpa ou de dolo do agente lesivo (AgInt no AREsp 1.343.283/RJ, Rel.
Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, DJe 19/2/2020).

O item E está de acordo com julgado do STJ:

"(...) 5. No que concerne aos elementos caracterizadores do dano moral coletivo, este
Superior Tribunal já se manifestou no sentido de que "a possibilidade de indenização
por dano moral está prevista no art. 5º, inciso V, da Constituição Federal, não havendo
restrição da violação à esfera individual. A evolução da sociedade e da legislação tem
levado a doutrina e a jurisprudência a entender que, quando são atingidos valores e
interesses fundamentais de um grupo, não há como negar a essa coletividade a defesa
do seu patrimônio imaterial. O dano moral coletivo é a lesão na esfera moral de uma

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comunidade, isto é, a violação de direito transindividual de ordem coletiva, valores de


uma sociedade atingidos do ponto de vista jurídico, de forma a envolver não apenas a
dor psíquica, mas qualquer abalo negativo à moral da coletividade, pois o dano é, na
verdade, apenas a consequência da lesão à esfera extrapatrimonial de uma pessoa"
(REsp 1.397.870/MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA,
DJe 10/12/2014). 6. "Os danos morais coletivos se configuram na própria prática ilícita,
dispensam a prova de efetivo dano ou sofrimento da sociedade e se baseiam na
responsabilidade de natureza objetiva, na qual é desnecessária a comprovação de culpa
ou de dolo do agente lesivo" (AgInt no AREsp 1.343.283/RJ, Rel. Ministro MOURA
RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, DJe 19/2/2020). (...) Com efeito, havendo contratação de
servidores sem concurso, há presunção legal de ilegitimidade dessa conduta e também
de lesividade que ultrapassa a simples esfera da Administração Pública para atingir,
concomitantemente, valores da coletividade, que, com razão, espera e exige dos
administradores a correta gestão da coisa pública e, sobretudo, o estrito cumprimento
das leis e da Constituição. (...)" AgInt no AREsp n. 538.308/SP.

Portanto, item E é o item a ser assinalado.

.QUESTÃO 85 – Sobre a tutela coletiva dos direitos transindividuais, assinale o item


correto:

a) Para o Supremo Tribunal Federal, a atuação coletiva das associações genéricas


— que não representam nenhuma categoria econômica ou profissional
específica — se dá a partir da mera regularidade registral da entidade, sendo
desnecessária a filiação prévia pelos substituídos.
b) Conforme a Lei 7.347/85 e o CDC, as associações podem ajuizar ACP para a
defesa de direitos individuais homogêneos, situação em que atuam como
substitutas processuais, com dispensa da juntada das autorizações individuais
das pessoas interessadas.
c) A pretensão executória de obrigações de fazer previstas em Termo de
ajustamento de conduta (TAC) firmado para reparação de danos ambientais
decorrentes de empreendimento imobiliário, ainda que relacionadas a questões
patrimoniais, é imprescritível.
d) O Defensor Público, atuando em nome da Defensoria Pública, possui
legitimidade para impetrar mandado de segurança em defesa das funções
institucionais e prerrogativas de seus órgãos de execução, nos termos do artigo
4°, IX, da Lei Complementar n° 80/94, atribuição não conferida exclusivamente
ao Defensor Público-Geral.

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e) A liquidação da sentença coletiva, promovida pelo Ministério Público,


interrompe o prazo prescricional para o exercício da pretensão individual de
liquidação e execução pelas vítimas e seus sucessores.

Gabarito: D

Comentários:

Os julgados a seguir são muito importantes para a disciplina de Direitos


Difusos e Coletivos. Atenção aos julgados cobrados:

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA! 🚨

Info 1082 – STF - Não se aplica às associações genéricas — que não representam qualquer
categoria econômica ou profissional específica — a tese firmada no Tema 1.119 da
sistemática da repercussão geral, sendo insuficiente a mera regularidade registral da
entidade para sua atuação em sede de mandado de segurança coletivo, pois passível de
causar prejuízo aos interesses dos beneficiários supostamente defendidos. STF. 2ª Turma.
ARE 1.339.496 AgR/RJ, Rel. Min. Edson Fachin, redator do acórdão Min. André Mendonça,
julgado em 7/02/2023 (Info 1082).

Relembre: É desnecessária a autorização expressa dos associados, a relação nominal destes,


bem como a comprovação de filiação prévia, para a cobrança de valores pretéritos de título
judicial decorrente de mandado de segurança coletivo impetrado por entidade associativa
de caráter civil. STF. Plenário. ARE 1293130 RG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/12/2020
(Repercussão Geral – Tema 1.119).

Info 750 – STJ - Em ação civil pública ajuizada por associação civil, cujo estatuto prevê como
finalidade a defesa de direitos humanos, em que se postula por indenização por danos morais
decorrentes da prática de atos vexatórios em revistas íntimas para ingresso em centros de
detenção, não é obrigatória a juntada de autorização individual de cada uma das pessoas
interessadas. Caso concreto: Conectas Direitos Humanos, associação civil que tem como
finalidade estatutária a defesa dos direitos humanos, ajuizou ACP pedindo que o Estado de
São Paulo seja condenado a pagar indenização todas as mulheres vítimas que foram vítimas
de abusos na revista íntima realizada nos centros de detenção provisória. Neste caso, a
associação atuará como substituta processual, daí porque não é necessário que as pessoas
eventualmente lesadas sejam associadas ou autorizem, por qualquer meio, o ajuizamento da
ação. STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1833056-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em
22/08/2022 (Info 750).

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Info 744 - STJ - A pretensão executória de obrigações de fazer previstas em Termo de


ajustamento de conduta (TAC) firmado para reparação de danos ambientais decorrentes de
empreendimento imobiliário, quando relacionadas a questões meramente patrimoniais, não
visando a restauração de bens de natureza ambiental, sujeita-se à prescrição quinquenal. STJ.
1ª Turma. AREsp 1941907-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 09/08/2022 (Info
744).

Portanto, item D é o item a ser assinalado.

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

.QUESTÃO 86 – De acordo com as inovações normativas promovidas pela Lei n.


14.344/2022, assinale a alternativa correta:

a) Uma das finalidades do Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do


Adolescente é criar centros de atendimento integral e multidisciplinar.
b) O agressor poderá ser afastado imediatamente do lar pela autoridade policial,
pelo delegado de polícia, quando não houver comarca no Município, ou pelo
policial, quando não houver comarca nem delegado disponível, por meio de
representação do Conselho Tutelar.
c) Embora previsto na Lei 11.340/2006, não há na Lei 14.344/2022 não há na lei o
dever de a autoridade policial fornecer transporte para a vítima e seu
responsável ou acompanhante em caso de risco à vida.
d) Poderá o juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou Conselho
Tutelar, ou a pedido da vítima ou de quem esteja atuando em seu favor,
conceder novas medidas protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas,
se entender necessário à proteção da vítima, de seus familiares e de seu
patrimônio, ouvido o Ministério Público.
e) A Lei 13.431/2017 estabelece como tipos de violência contra a criança e o
adolescente a violência física, a violência psicológica, a violência sexual e a
violência institucional. Dessa forma, não reproduziu as violências patrimonial e
moral, como prevê a Lei 11.340/2006.

Gabarito: B
Comentários:

No Direito da Criança e Adolescente pedimos bastante atenção nas alterações


promovidas pela Lei nº 14.344/2022 em diversas outras normativas, que com certeza
serão tema de cobrança nas provas de Defensoria Pública, em especial na de Minas
Gerais.

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Nessa questão abordamos o Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do


Adolescente, medidas protetivas aplicáveis ao agressor, providências tomadas pela
autoridade policial, medidas protetivas aplicáveis à criança ou ao adolescente e, por fim,
a Lei nº 13.431/2017 que estabelece a proteção à adolescente ou criança vítima ou
testemunha de violência.

Lei 14.344/2022 - Art. 5º O Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente intervirá
nas situações de violência contra a criança e o adolescente com a finalidade de:
I - mapear as ocorrências das formas de violência e suas particularidades no território nacional;
II - prevenir os atos de violência contra a criança e o adolescente;
III - fazer cessar a violência quando esta ocorrer;
IV - prevenir a reiteração da violência já ocorrida;
V - promover o atendimento da criança e do adolescente para minimizar as sequelas da violência
sofrida; e
VI - promover a reparação integral dos direitos da criança e do adolescente.

Art. 7º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios poderão criar e promover, para a criança
e o adolescente em situação de violência doméstica e familiar, no limite das respectivas competências
e de acordo com o art. 88 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do
Adolescente):
I - centros de atendimento integral e multidisciplinar;
II - espaços para acolhimento familiar e institucional e programas de apadrinhamento;
III - delegacias, núcleos de defensoria pública, serviços de saúde e centros de perícia médico-legal
especializados;
IV - programas e campanhas de enfrentamento da violência doméstica e familiar;
V - centros de educação e de reabilitação para os agressores.

Art. 13. No atendimento à criança e ao adolescente em situação de violência doméstica e familiar, a


autoridade policial deverá, entre outras providências:
I - encaminhar a vítima ao Sistema Único de Saúde e ao Instituto Médico-Legal imediatamente;
II - encaminhar a vítima, os familiares e as testemunhas, caso sejam crianças ou adolescentes, ao
Conselho Tutelar para os encaminhamentos necessários, inclusive para a adoção das medidas
protetivas adequadas;
III - garantir proteção policial, quando necessário, comunicados de imediato o Ministério Público e o
Poder Judiciário;
IV - fornecer transporte para a vítima e, quando necessário, para seu responsável ou acompanhante,
para serviço de acolhimento existente ou local seguro, quando houver risco à vida.

Art. 14. Verificada a ocorrência de ação ou omissão que implique a ameaça ou a prática de violência
doméstica e familiar, com a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física da criança
e do adolescente, ou de seus familiares, o agressor será imediatamente afastado do lar, do domicílio
ou do local de convivência com a vítima:
I - pela autoridade judicial;
II - pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de comarca;
III - pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver delegado disponível no
momento da denúncia.

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§ 1º O Conselho Tutelar poderá representar às autoridades referidas nos incisos I, II e III do caput
deste artigo para requerer o afastamento do agressor do lar, do domicílio ou do local de convivência
com a vítima.
§ 2º Nas hipóteses previstas nos incisos II e III do caput deste artigo, o juiz será comunicado no prazo
máximo de 24 (vinte e quatro) horas e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a revogação
da medida aplicada, bem como dará ciência ao Ministério Público concomitantemente.
§ 3º Nos casos de risco à integridade física da vítima ou à efetividade da medida protetiva de urgência,
não será concedida liberdade provisória ao preso.

Art. 16. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a requerimento do
Ministério Público, da autoridade policial, do Conselho Tutelar ou a pedido da pessoa que atue em
favor da criança e do adolescente.
§ 1º As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de imediato, independentemente de
audiência das partes e de manifestação do Ministério Público, o qual deverá ser prontamente
comunicado.
§ 2º As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou cumulativamente e poderão ser
substituídas a qualquer tempo por outras de maior eficácia, sempre que os direitos reconhecidos nesta
Lei forem ameaçados ou violados.
§ 3º Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou do Conselho Tutelar, ou a pedido da
vítima ou de quem esteja atuando em seu favor, conceder novas medidas protetivas de urgência ou
rever aquelas já concedidas, se entender necessário à proteção da vítima, de seus familiares e de seu
patrimônio, ouvido o Ministério Público.

A Lei 14.344/22 acrescentou a violência patrimonial como espécie de violência


abrangida na Lei 13.431/17 mas, diversamente da Lei Maria da Penha, não possui a
violência moral.

Lei 13.431/2017: Art. 4º Para os efeitos desta Lei, sem prejuízo da tipificação das condutas criminosas,
são formas de violência:
I - violência física, entendida como a ação infligida à criança ou ao adolescente que ofenda sua
integridade ou saúde corporal ou que lhe cause sofrimento físico;
II - violência psicológica:
a) qualquer conduta de discriminação, depreciação ou desrespeito em relação à criança ou ao
adolescente mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, agressão
verbal e xingamento, ridicularização, indiferença, exploração ou intimidação sistemática (bullying) que
possa comprometer seu desenvolvimento psíquico ou emocional;
b) o ato de alienação parental, assim entendido como a interferência na formação psicológica da
criança ou do adolescente, promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou por quem os
tenha sob sua autoridade, guarda ou vigilância, que leve ao repúdio de genitor ou que cause prejuízo
ao estabelecimento ou à manutenção de vínculo com este;
c) qualquer conduta que exponha a criança ou o adolescente, direta ou indiretamente, a crime violento
contra membro de sua família ou de sua rede de apoio, independentemente do ambiente em que
cometido, particularmente quando isto a torna testemunha;
III - violência sexual, entendida como qualquer conduta que constranja a criança ou o adolescente a
praticar ou presenciar conjunção carnal ou qualquer outro ato libidinoso, inclusive exposição do corpo
em foto ou vídeo por meio eletrônico ou não, que compreenda:

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a) abuso sexual, entendido como toda ação que se utiliza da criança ou do adolescente para fins
sexuais, seja conjunção carnal ou outro ato libidinoso, realizado de modo presencial ou por meio
eletrônico, para estimulação sexual do agente ou de terceiro;
b) exploração sexual comercial, entendida como o uso da criança ou do adolescente em atividade
sexual em troca de remuneração ou qualquer outra forma de compensação, de forma independente
ou sob patrocínio, apoio ou incentivo de terceiro, seja de modo presencial ou por meio eletrônico;
c) tráfico de pessoas, entendido como o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou
o acolhimento da criança ou do adolescente, dentro do território nacional ou para o estrangeiro, com
o fim de exploração sexual, mediante ameaça, uso de força ou outra forma de coação, rapto, fraude,
engano, abuso de autoridade, aproveitamento de situação de vulnerabilidade ou entrega ou aceitação
de pagamento, entre os casos previstos na legislação;
IV - violência institucional, entendida como a praticada por instituição pública ou conveniada, inclusive
quando gerar revitimização.
V - violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração,
destruição parcial ou total de seus documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos
econômicos, incluídos os destinados a satisfazer suas necessidades, desde que a medida não se
enquadre como educacional. (Incluído pela Lei nº 14.344, de 2022) Vigência

Lei 11.340/06 - Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e
diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise
degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça,
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz,
insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir
e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;
(Redação dada pela Lei nº 13.772, de 2018)
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou
a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força;
que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar
qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição,
mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus
direitos sexuais e reprodutivos;
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração,
destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens,
valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.

.QUESTÃO 87 – A respeito da figura do “Defensor da Criança”, avalie as assertivas a


seguir e assinale a alternativa correta:

I - A nomeação de Defensor Público como “Defensor da Criança” não se confunde com


a atuação do Ministério Público na qualidade de substituto processual, nem com a
atuação da Defensoria Pública como curadora especial.

II - O Estatuto da Criança e do Adolescente realça a intenção do legislador em ver


resguardados às crianças e adolescentes seus direitos fundamentais, inerentes à

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qualquer pessoa humana, dentre os quais estão o direito à voz e participação, sobretudo
em demandas de acolhimento institucional/familiar, em que as decisões tomadas
afetarão sobremaneira a vida e dignidade desses. Nesses casos, é especialmente
importante que seja designado um Defensor Público para atuar como “Defensor da
Criança”.

III – A proteção dos interesses da criança nos processos que correm na Vara da Infância
e da Juventude é adequadamente realizada pelo Ministério Público, não se
identificando colisão de interesses entre a atuação do Parquet e a proteção da criança
no processo.

IV – O “Defensor da Criança” pode ser nomeado com fundamento no art. 206, parágrafo
único, do Estatuto da Criança e do Adolescente, que prevê: “206. A criança ou o
adolescente, seus pais ou responsável, e qualquer pessoa que tenha legítimo interesse
na solução da lide poderão intervir nos procedimentos de que trata esta Lei, através de
advogado, o qual será intimado para todos os atos, pessoalmente ou por publicação
oficial, respeitado o segredo de justiça. Parágrafo único. Será prestada assistência
judiciária integral e gratuita àqueles que dela necessitarem”.

a) Apenas as assertivas I, II e IV são corretas.


b) Apenas as assertivas II e IV são corretas.
c) Apenas a assertiva I está incorreta.
d) Apenas a assertiva IV está correta.
e) Todas as assertivas estão corretas.

Gabarito: A

Comentários:

A atuação da Defensoria Pública como Defensora da Criança é um tema que está


muito em alta, e a examinadora Daniele Bellettato Nesrala produziu artigos a respeito.
No site da DPMG há uma notícia sobre o assunto, que vale a leitura, sendo também
tema expresso do seu edital: https://defensoria.mg.def.br/defensoria-publica-de-
minas-gerais-promove-seminario-para-tracar-estrategias-de-atuacao-uniforme-como-
defensora-da-crianca%EF%BF%BC/

Feita a introdução, vamos direto ao ponto!


O Defensor da Criança tem origem no direito argentino e seria uma espécie de
representante processual da criança, cujo objetivo é garantir à criança o direito à voz no
processo, assim como seu direito de participação e informação, que é previsto tanto no
ECA, como na Convenção sobre Direitos da Criança.
Nesse aspecto, o princípio da autonomia progressiva, segundo o qual a criança
deve participar e se manifestar em conformidade com o que seu grau de
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desenvolvimento permite, revela que a criança e o adolescente devem participar do


processo.
O ECA prevê que, nos processos de adoção, a criança deve ser ouvida, de acordo
com a idade (art. 28, ECA), e isso é uma demonstração de que há necessidade de
preservar o direito de participação dos infantes (art. 100, XI e XII, ECA).
Principalmente em casos de acolhimento familiar e institucional, as
consequências da decisão afetam diretamente a criança, e o Ministério Público,
encarregado de ajuizar a ação, apesar de levar em conta o que acredita ser o melhor
interesse do infante, não necessariamente escuta ativamente a criança, busca
entender de forma aprofundada o seu contexto ou considera todas as consequências
práticas da decisão.
Assim, a atuação da Defensoria Pública como Defensora da Criança significa dar
à criança a possibilidade de, no processo, expressar-se e poder influir na decisão do juiz,
que tanto lhe afetará.
O fundamento legal para o Defensor da Criança advém do art. 227 da CF, que
prevê o princípio da prioridade absoluta, do art. 6º, do ECA, que prevê o princípio do
respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, no art. 4º., XI, da LC
80/94, que prevê a legitimidade da Defensoria Pública para atuar na defesa dos
direitos da criança e do adolescente, no art. 206, parágrafo único, do ECA, que prevê o
direito de participação da criança, e o direito a assistência judiciária, bem como dos
artigos 3º, 28, e 100, XI e XII, do ECA, adiante transcritos:

Art. 4º, LC 80/94: São funções institucionais da Defensoria


Pública, dentre outras:
XI – exercer a defesa dos interesses individuais e coletivos da criança e do adolescente, do idoso, da
pessoa portadora de necessidades especiais, da mulher vítima de violência doméstica e familiar e de
outros grupos sociais vulneráveis que mereçam proteção especial do Estado;

Art. 3º, ECA: A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa
humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por
outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico,
mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.
Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as crianças e adolescentes, sem
discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença,
deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente social,
região e local de moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em
que vivem. (incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) [...]

art. 6º, ECA - Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as
exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança
e do adolescente como pessoas em desenvolvimento.

Art. 28, ECA: A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção,
independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos desta Lei.

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§ 1º Sempre que possível, a criança ou o adolescente será previamente ouvido por equipe
interprofissional, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre as
implicações da medida, e terá sua opinião devidamente considerada. (Redação dada pela Lei nº 12.010,
de 2009) Vigência

Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as necessidades pedagógicas, preferindo-se
aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
Parágrafo único. São também princípios que regem a aplicação das medidas:
XI - obrigatoriedade da informação: a criança e o adolescente, respeitado seu estágio de
desenvolvimento e capacidade de compreensão, seus pais ou responsável devem ser informados dos
seus direitos, dos motivos que determinaram a intervenção e da forma como esta se processa; (Incluído
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o adolescente, em separado ou na companhia dos pais,
de responsável ou de pessoa por si indicada, bem como os seus pais ou responsável, têm direito a ser
ouvidos e a participar nos atos e na definição da medida de promoção dos direitos e de proteção, sendo
sua opinião devidamente considerada pela autoridade judiciária competente, observado o disposto nos
§§ 1 o e 2 o do art. 28 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)

Art. 206. A criança ou o adolescente, seus pais ou responsável, e qualquer pessoa que tenha legítimo
interesse na solução da lide poderão intervir nos procedimentos de que trata esta Lei, através de
advogado, o qual será intimado para todos os atos, pessoalmente ou por publicação oficial, respeitado o
segredo de justiça.
Parágrafo único. Será prestada assistência judiciária integral e gratuita àqueles que dela necessitarem.

Ademais, é importante diferenciar os institutos da curadoria especial,


substituição processual e a figura do defensor da criança.
A curadoria especial, especificamente no que tange à atuação da Defensoria
Pública, ocorre quando essa atua em nome próprio na defesa de terceiros, nos casos em
que crianças ou adolescentes não possuírem representante legal ou, ainda, quando os
interesses entre eles foram colidentes, sendo que seus fundamentos legais são aqueles
constantes do art. 72, parágrafo único, do CPC; art. 4º, XVI da LC 80/90; art. 5º, VIII da
LC/2003; e arts. 142, 148, parágrafo único, “f”, e 184, § 2º, do ECA.
No que tange à substituição processual dos infantes, como ocorre nos autos em
relação ao Ministério Público, a atuação do ente ministerial é meramente
formal/processual, atuando em defesa de direitos individuais indisponíveis, nos termos
do art. 127 da CR/88, não havendo participação efetiva do sujeito protegido no feito.
Por sua vez, a figura do defensor da criança, que diverge dos institutos acima
descritos, é fruto de um esforço interpretativo no sentido de conferir máxima
efetividade aos direitos das crianças e adolescentes, considerando especialmente sua
participação e interesse manifesto.
O Tribunal de Justiça de Minas Gerais já reconheceu a possibilidade de atuação
da Defensoria Pública como Defensora da Criança, em acórdão muito bem
fundamentado, cuja leitura é obrigatória!

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https://defensoria.mg.def.br/wp-content/uploads/2021/05/TJMG_acordao-5a-
CACIV_DEFENSOR-DA-CRIANCA.pdf

.QUESTÃO 88 – Com base nos entendimentos dos tribunais superiores, assinale a


alternativa correta:

a) A circunstância de ainda não ter sido proferida sentença nos autos da ação de
destituição do poder familiar veda que seja iniciada a colocação da criança em
família substituta
b) Mãe biológica não pode se opor à ação de guarda de sua filha mesmo que já
tenha perdido o poder familiar em ação proposta pelo MP com esse objetivo
c) Ante a regra da irrevogabilidade da adoção, não é possível a rescisão de sentença
concessiva de adoção ao fundamento de que o adotado, à época da adoção, não
a desejava verdadeiramente e de que, após atingir a maioridade, manifestou-se
nesse sentido.
d) É possível que a adoção conjunta seja transformada em unilateral post mortem
caso um dos autores desista e o outro morra sem ter manifestado intenção de
adotar unilateralmente
e) O registro civil de nascimento de pessoa adotada sob a égide do Código
Civil/1916 não pode ser alterado para a inclusão dos nomes dos ascendentes
dos pais adotivos

Gabarito: E
Comentários:

Pessoal, essa questão cobrou o conhecimento da jurisprudência recente nesta


temática, vejamos cada alternativa:

• Está incorreta a alternativa “a”:

STJ. 3ª Turma. HC 790.283-SP (Info 776).


A circunstância de ainda não ter sido proferida sentença nos autos da ação de
destituição do poder familiar NÃO VEDA que seja iniciada a colocação da criança
em família substituta

• Está incorreta a alternativa “b”:

STJ. 4ª Turma. REsp 1845146-ES (Info 661).


A mãe biológica DETÉM legitimidade para recorrer da sentença que julgou
procedente o pedido de guarda formulado por casal que exercia a guarda

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provisória da criança, mesmo se já destituída do poder familiar em outra ação


proposta pelo Ministério Público e já transitada em julgado. O fato de a mãe
biológica ter sido destituída, em outra ação, do poder familiar em relação a seu
filho, não significa, necessariamente, que ela tenha perdido a legitimidade
recursal na ação de guarda. Para a mãe biológica, devido aos laços naturais,
persiste o interesse fático e jurídico sobre a criação e destinação da criança,
mesmo após destituída do poder familiar. Assim, enquanto não cessado o
vínculo de parentesco com o filho, através da adoção, que extingue
definitivamente o poder familiar dos pais biológicos, é possível a ação de
restituição do poder familiar, a ser proposta pelo legítimo interessado, no caso,
os pais destituídos do poder familiar.

• Está incorreta a alternativa “c”:

STJ. 3ª Turma. REsp 1892782/PR (Info 691).


É possível, mesmo ante a regra da irrevogabilidade da adoção, a rescisão de
sentença concessiva de adoção ao fundamento de que o adotado, à época da
adoção, não a desejava verdadeiramente e de que, após atingir a maioridade,
manifestou-se nesse sentido. A interpretação sistemática e teleológica do § 1º
do art. 39 do ECA conduz à conclusão de que a irrevogabilidade da adoção não
é regra absoluta, podendo ser afastada sempre que, no caso concreto,
verificar-se que a manutenção da medida não apresenta reais vantagens para
o adotado, tampouco é apta a satisfazer os princípios da proteção integral e do
melhor interesse da criança e do adolescente.

• Está incorreta a alternativa “d”:

STJ. 3ª Turma. REsp 1421409-DF (Info 588).


Se, no curso da ação de adoção conjunta, um dos cônjuges desistir do pedido e
outro vier a falecer sem ter manifestado inequívoca intenção de adotar
unilateralmente, não poderá ser deferido ao interessado falecido o pedido de
adoção unilateral post mortem. Tratando-se de adoção em conjunto, um
cônjuge não pode adotar sem o consentimento do outro. Assim, se proposta
adoção em conjunto e um dos autores (candidatos a pai/mãe) desiste da ação, a
adoção deve ser indeferida, especialmente se o outro vem a morrer antes de
manifestar-se sobre a desistência.

• Está correta a alternativa “e”:

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STJ. 3ª Turma. REsp 1232387-MG (Info 666).


O registro civil de nascimento de pessoa adotada sob a égide do Código
Civil/1916 não pode ser alterado para a inclusão dos nomes dos ascendentes dos
pais adotivos. O ordenamento jurídico vigente ao tempo em que realizada a
adoção simples da peticionante por meio de escritura pública (natureza
contratual), previa que o parentesco resultante da adoção era meramente civil e
limitava-se ao adotante e ao adotado, não se estendendo aos familiares do
adotante visto que mantidos os vínculos do adotado com a sua família biológica.
Não se aplica o regime jurídico de adoção do ECA para este caso.

.QUESTÃO 89 –Acerca do Conselho Tutelar, assinale a alternativa incorreta:

a) Os casos de suspeita ou confirmação de castigo físico, de tratamento cruel ou


degradante e de maus-tratos contra criança ou adolescente serão
obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade,
sem prejuízo de outras providências legais.
b) O desaparecimento de criança ou adolescente será comunicado ao Conselho
Tutelar.
c) O conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, jurisdicional,
encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança
e do adolescente.
d) É atribuição do Conselho Tutelar atender à criança e ao adolescente vítima ou
testemunha de violência doméstica e familiar, ou submetido a tratamento cruel
ou degradante ou a formas violentas de educação, correção ou disciplina, a seus
familiares e a testemunhas, de forma a prover orientação e aconselhamento
acerca de seus direitos e dos encaminhamentos necessários
e) Em cada Município e em cada Região Administrativa do Distrito Federal haverá,
no mínimo, 1 (um) Conselho Tutelar como órgão integrante da administração
pública local, composto de 5 (cinco) membros, escolhidos pela população local
para mandato de 4 (quatro) anos, permitida recondução por novos processos de
escolha.

Gabarito: C

Comentário:

A alternativa "a" está correta segundo o ECA:

Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de castigo físico, de tratamento cruel


ou degradante e de maus-tratos contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente
comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras
providências legais.

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A alternativa "b" está correta. Já que a Lei 13.812/2019, que institui a Política
Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas, prevê no art. 8º. § 3º O desaparecimento
de criança ou adolescente será comunicado ao Conselho Tutelar.

A alternativa “c” está incorreta, pois o Conselho Tutelar, segundo art. 131 do ECA, é
órgão permanente e autônomo, NÃO jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar
pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta lei.

A alternativa "D" está correta. Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar:

XIV - atender à criança e ao adolescente vítima ou testemunha de violência


doméstica e familiar, ou submetido a tratamento cruel ou degradante ou a formas
violentas de educação, correção ou disciplina, a seus familiares e a testemunhas, de
forma a prover orientação e aconselhamento acerca de seus direitos e dos
encaminhamentos necessários;

Por fim, a alternativa “e” também está correta já que em cada Município e em cada
Região Administrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um) Conselho Tutelar
como órgão integrante da administração pública local, composto de 5 (cinco) membros,
escolhidos pela população local para mandato de 4 (quatro) anos, permitida recondução
por novos processos de escolha.

.QUESTÃO 90 - Alison, de 20 anos, foi sentenciado a cumprir medida socioeducativa de


internação em virtude de ato infracional análogo a furto, praticado quando ele era
adolescente. A sentença transitou em julgado e a vara de infância e juventude constatou
que Alison se encontra preso em razão de crime de roubo cometido quando já havia
alcançado a maioridade penal. Sobre o caso em tela e os temas relacionados, é correto
afirmar:

a) De acordo com a Lei 12.594/12, as medidas socioeducativas de liberdade


assistida, de semiliberdade e de internação deverão ser reavaliadas no mínimo a
cada 6 (seis) meses.
b) Para justificar a não substituição da medida por outra menos grave o juiz deve
se basear unicamente na gravidade do ato infracional, nos antecedentes e o
tempo de duração da medida.
c) A reavaliação da manutenção, da substituição ou da suspensão da medida de
meio aberto ou de privação da liberdade e do respectivo plano individual pode
ser solicitada após 6 meses do início da aplicação da referida medida, e a pedido
inclusive do defensor do adolescente, de seus pais ou responsável.
d) O art. 184 do ECA prevê que a oitiva do adolescente infrator e de seus pais é o
primeiro ato do procedimento de apuração de ato infracional. Portanto, deve ser
aplicado o critério da especialidade, prevalecendo esta norma sobre o CPP.

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e) É faculdade da vara de infância e juventude extinguir a execução da medida


socioeducativa por não restarem objetivos pedagógicos no cumprimento da
internação.

Gabarito: E
Comentários:

Galera, Direito da Criança e do Adolescente é matéria importantíssima para


a prova da DPE-MG, e o procedimento de apuração de ato infracional e de aplicação de
medidas socioeducativas são temas quentes!

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA! 🚨

Info 672 – STJ -O art. 46, § 1º da Lei nº 12.594/2012 (Lei do SINASE) prevê a seguinte
faculdade para o julgador: Art. 46 (...) § 1º No caso de o maior de 18 (dezoito) anos, em
cumprimento de medida socioeducativa, responder a processo-crime, caberá à autoridade
judiciária decidir sobre eventual extinção da execução, cientificando da decisão o juízo
criminal competente. STJ. 6ª Turma. HC 551.319-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em
12/05/2020 (Info 672).

Info 766 - STJ - O art. 400 do CPP afirma que o interrogatório será realizado ao final da
instrução criminal. O art. 184 do ECA, diferentemente do CPP, prevê que a oitiva do
adolescente infrator e de seus pais é o primeiro ato. Existe, portanto, uma antinomia
aparente de segundo grau. Neste caso, em regra, deveria prevalecer o critério da
especialidade. Logo, seria aplicada a regra do ECA (oitiva em primeiro lugar). Contudo, o STF
tem aplicado a orientação firmada no HC 127.900/AM (interrogatório como último ato da
instrução) ao procedimento de apuração de ato infracional, sob o fundamento de que o art.
400 do CPP possibilita ao representado exercer de modo mais eficaz a sua defesa. Logo, por
essa razão, em uma aplicação sistemática do direito, tal dispositivo legal deve suplantar o
estatuído no art. 184 do ECA. Diante disso, a oitiva do representado deve ser o último ato da
instrução também no procedimento de apuração de ato infracional. Assim, o adolescente irá
prestar suas declarações após ter contato com todo o acervo probatório produzido, tendo
maiores elementos para exercer sua autodefesa ou, se for caso, valer-se do direito ao
silêncio, sob pena de evidente prejuízo à concretização dos princípios do contraditório e da
ampla defesa. A aplicação do art. 400 do CPP ao procedimento de apuração de ato infracional
se justifica também porque o adolescente não pode receber tratamento mais gravoso do
aquele conferido ao adulto, de acordo com o art. 35, I, da Lei nº 12.594/2012 (Sistema
Nacional de Atendimento Socioeducativo) e o item 54 das Diretrizes das Nações Unidas para
a Prevenção da Delinquência Juvenil (Diretrizes de Riad). STJ. 6ª Turma. AgRg no HC
772.228/SC, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 28/2/2023 (Info 766).

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Lei 12.594/12 está prevista no edital e é muito importante a sua leitura!


Vejamos os dispositivos cobrados:

Art. 42. As medidas socioeducativas de liberdade assistida, de


semiliberdade e de internação deverão ser reavaliadas no máximo a
cada 6 (seis) meses, podendo a autoridade judiciária, se necessário,
designar audiência, no prazo máximo de 10 (dez) dias, cientificando o
defensor, o Ministério Público, a direção do programa de
atendimento, o adolescente e seus pais ou responsável.
§ 2º A gravidade do ato infracional, os antecedentes e o tempo de
duração da medida não são fatores que, por si, justifiquem a não
substituição da medida por outra menos grave.
Art. 43. A reavaliação da manutenção, da substituição ou da
suspensão das medidas de meio aberto ou de privação da liberdade
e do respectivo plano individual pode ser solicitada a qualquer tempo,
a pedido da direção do programa de atendimento, do defensor, do
Ministério Público, do adolescente, de seus pais ou responsável.

Portanto, o item E é o único correto.

DIREITO DO CONSUMIDOR

.QUESTÃO 91 – Analise as seguintes assertivas sobre superendividamento:


I. Entende-se por superendividamento a impossibilidade manifesta
de o consumidor pessoa natural e jurídica, de boa-fé, pagar a
totalidade de suas dívidas de consumo, exigíveis e vincendas, sem
comprometer seu mínimo existencial, nos termos da
regulamentação.
II. Não se aplica ao consumidor cujas dívidas decorram da aquisição
ou contratação de produtos e serviços de luxo de alto valor.
III. O processo de repactuação de dívidas abrange os contratos de
crédito com garantia real e de financiamentos imobiliários.
IV. O não comparecimento injustificado do credor à audiência de
conciliação acarreta a suspensão da exigibilidade do débito, mas
não gera a sujeição compulsória ao plano de pagamento da dívida
se esta não for certa e conhecida pelo consumidor.

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V. É permitido que, no atendimento de pretensões do consumidor,


o fornecedor condicione as tratativas ao pagamento de depósitos
judiciais.
Estão corretas as assertivas:
a) I, II, III e IV.
b) I, II, III e V.
c) I, II e V.
d) II, III e IV.
e) II e IV.

Gabarito: E
Comentários:

Pessoal, superendividamento é tema certo na nossa prova. Como vocês já estão


cansados de saber, além de ser alteração legislativa no CDC, é tema de predileção do
nosso examinador de consumidor.

Como já foi enviada para vocês a aposta de impacto de direito consumidor,


vamos apenas trazer os artigos utilizados para responder o gabarito a seguir:

Art. 54-A. § 1º Entende-se por superendividamento a impossibilidade manifesta de o


consumidor pessoa natural, de boa-fé, pagar a totalidade de suas dívidas de consumo,
exigíveis e vincendas, sem comprometer seu mínimo existencial, nos termos da
regulamentação.
§ 2º As dívidas referidas no § 1º deste artigo englobam quaisquer compromissos financeiros
assumidos decorrentes de relação de consumo, inclusive operações de crédito, compras a
prazo e serviços de prestação continuada.
§ 3º O disposto neste Capítulo não se aplica ao consumidor cujas dívidas tenham sido
contraídas mediante fraude ou má-fé, sejam oriundas de contratos celebrados dolosamente
com o propósito de não realizar o pagamento ou decorram da aquisição ou contratação de
produtos e serviços de luxo de alto valor.

Art. 54-C. É vedado, expressa ou implicitamente, na oferta de crédito ao consumidor,


publicitária ou não:
V - condicionar o atendimento de pretensões do consumidor ou o início de tratativas à
renúncia ou à desistência de demandas judiciais, ao pagamento de honorários advocatícios
ou a depósitos judiciais.

Art. 104-A. §1º Excluem-se do processo de repactuação as dívidas, ainda que decorrentes de
relações de consumo, oriundas de contratos celebrados dolosamente sem o propósito de
realizar pagamento, bem como as dívidas provenientes de contratos de crédito com garantia
real, de financiamentos imobiliários e de crédito rural.

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§ 2º O não comparecimento injustificado de qualquer credor, ou de seu procurador com


poderes especiais e plenos para transigir, à audiência de conciliação de que trata o caput
deste artigo acarretará a suspensão da exigibilidade do débito e a interrupção dos encargos
da mora, bem como a sujeição compulsória ao plano de pagamento da dívida se o montante
devido ao credor ausente for certo e conhecido pelo consumidor, devendo o pagamento a
esse credor ser estipulado para ocorrer apenas após o pagamento aos credores presentes à
audiência conciliatória.

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA! 🚨


Info. 768/STJ - Cabe à Justiça comum estadual e/ou distrital processar e julgar as demandas
oriundas de ações de repactuação de dívidas decorrentes de superendividamento, ainda
que exista interesse de ente federal.
A Lei n. 14.181/2021, ao alterar o Código de Defesa do Consumidor, cuidou especificamente
do instituto da repactuação de dívidas por superendividamento, a saber: o juiz, a
requerimento do devedor, poderá instaurar processo de repactuação de dívidas, tutelado
pelo art. 104-A e seguintes da legislação consumerista, com vistas à realização de audiência
conciliatória, presidida por ele ou por conciliador credenciado, com a presença de todos os
credores de dívidas, oportunidade em que o consumidor apresentará proposta de plano de
pagamento com prazo máximo de 5 (cinco) anos, preservados o mínimo existencial, as
garantias e as formas de pagamento originalmente pactuadas.
Em interpretação do art. 109, I, da Constituição Federal, que trata da competência dos juízes
federais, o Supremo Tribunal Federal (STF), na oportunidade do julgamento do RE 678162,
relator para acórdão Ministro Edson Fachin, DJe 13/5/2021, firmou tese no sentido de que
"a insolvência civil está entre as exceções da parte final do art. 109, I, da Constituição da
República, para fins de definição da competência da Justiça Federal".
Anota-se que, uma vez identificada a existência de concurso de credores, excepciona-se a
competência da Justiça Federal prevista no art. 109, I, da Constituição Federal. Tal
circunstância decorre da redação do art. 104-A do CDC, introduzido pela Lei n. 14.181/2021,
que estabelece a previsão de que, para instaurar o processo de repactuação de dívidas,
impõe-se a presença, perante o juízo, de todos os credores do consumidor superendividado,
a fim de que este possa propor àqueles o respectivo plano de pagamentos de seus débitos.
De fato, o procedimento judicial relacionado ao superendividamento, tal como o de
recuperação judicial ou falência, possui inegável e nítida natureza concursal, de modo que
as empresas públicas federais, excepcionalmente, sujeitam-se à competência da Justiça
estadual e/ou distrital, justamente em razão da existência de concursalidade entre
credores, impondo-se, dessa forma, a concentração, na Justiça comum estadual, de todos
os credores, bem como o próprio consumidor para a definição do plano de pagamento, suas
condições, o seu prazo e as formas de adimplemento dos débitos.
Eventual desmembramento ensejará notável prejuízo ao devedor (consumidor vulnerável,
reitere-se), porquanto, consoante dispõe a própria legislação de regência (art. 104-A do CDC),
todos os credores devem participar do procedimento, inclusive na oportunidade da
audiência conciliatória. Caso tramitem separadamente, em jurisdições diversas, federal e
estadual, estaria maculado o objetivo primário da Lei do Superendividamento, qual seja, o

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de conferir a oportunidade do consumidor - perante seus credores - de apresentar plano


de pagamentos a fim de quitar suas dívidas/obrigações contratuais. Haverá o risco de
decisões conflitantes entre os juízos acerca dos créditos examinados, em violação ao
comando do art. 104-A do CDC.
Assim, adota-se a compreensão segundo a qual cabe à Justiça comum estadual e/ou distrital
analisar as demandas cujo fundamento fático e jurídico possuem similitude com a insolvência
civil - como é a hipótese do superendividamento -, ainda que exista interesse de ente
federal, porquanto a exegese do art. 109, I, da Constituição Federal, deve ser teleológica de
forma a alcançar, na exceção da competência da Justiça Federal, as hipóteses em que existe
o concurso de credores. CC 193.066-DF, Relator Ministro Marco Buzzi, Segunda Seção, por
unanimidade, julgado em 22/3/2023.

.QUESTÃO 92 – A respeito do regramento e da jurisprudência envolvendo as coberturas


e obrigações dos planos de saúde, assinale a alternativa correta:

a) De acordo com o STJ, quando houver indicação médica para atendimento home
care, o plano de saúde será obrigado a custeá-lo, salvo se houver cláusula no
contrato que o vede.
b) As operadoras de planos de saúde estão obrigadas a fornecer medicamento não
registrado pela ANVISA, mesmo que não tenham a importação autorizada, para
preservar a saúde do paciente.
c) A operadora de plano de saúde não pode negar o fornecimento de tratamento
prescrito pelo médico sob o pretexto de que a sua utilização em favor do
paciente está fora das indicações descritas na bula/manual registrado na
ANVISA (uso off-label).
d) Não é abusiva a conduta da operadora que tenta descontinuar o custeio de
internação do neonato que seja filho de dependente e neto do titular
ultrapassado o prazo de 30 dias de seu nascimento.
e) É lícita a cláusula contratual de plano de saúde que limita no tempo a internação
hospitalar do segurado.
Gabarito: C
Comentários:
As coberturas obrigatórias e cláusulas abusivas em planos de saúde são um tema
bastante jurisprudencial que tem sido bastante cobrado em provas.

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA!

Quanto ao home care, o Superior Tribunal de Justiça entende que o plano de saúde é
obrigado a custear o home care, ainda que no contrato conste cláusula que o vede,
aplicando interpretação mais favorável ao aderente, vedada pelo art. 47 CDC, sob os
seguintes requisitos:

249
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• indicação do home care pelo médico assistente;

• real necessidade do atendimento domiciliar, com verificação do quadro clínico do

paciente;

• residência possua condições estruturais para o tratamento;

• haja solicitação da família do paciente; concordância do paciente; e

• não ocorra afetação do equilíbrio contratual em prejuízo do plano de saúde.

Assim, qualquer cláusula contratual ou ato da operadora de plano de saúde que importe
em absoluta vedação da internação domiciliar como alternativa de substituição à
internação hospitalar será abusiva, visto que se revela incompatível com a equidade e a
boa-fé, colocando o consumidor em situação de desvantagem exagerada (art. 51, IV,
CDC). STJ. 3ª Turma. REsp 1378707-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
26/5/2015 (Info 564). STJ. 3ª Turma. REsp 1537301-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 18/8/2015 (Info 571). STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1673498/SP, Rel.
Min. Raul Araújo, julgado em 19/10/2020.

A operadora de plano de saúde não pode negar o fornecimento de tratamento


prescrito pelo médico, sob o pretexto de que a sua utilização em favor do paciente
está fora das indicações descritas na bula/manual registrado na ANVISA (uso off-
label). STJ. 3ª Turma. REsp 1721705-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
28/08/2018 (Info 632).

Por outro lado, em regra, os planos de saúde não são obrigados a fornecer
medicamentos para tratamento domiciliar. São excepcionados, conforme alíneas ‘c’ do
inciso I e ‘g’ do inciso II do art. 12: a) os antineoplásicos orais (e correlacionados); b) a
medicação assistida (home care); e c) outros fármacos incluídos pela ANS (Agência
Nacional de Saúde Suplementar) no rol de fornecimento obrigatório. STJ. 3ª Turma. REsp
1692938/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 27/04/2021 (Info 694).

As operadoras de planos de saúde não são obrigadas a custear o medicamento


neste caso:

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA!

Tema repetitivo nº 990-STJ: As operadoras de plano de saúde não estão obrigadas a


fornecer medicamento não registrado pela ANVISA. (STJ. 2ª Seção. REsp 1.712.163-SP,
Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 08/11/2018. Recurso Repetitivo – Tema 990).

250
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- Mas há distinguishing em relação ao tema repetitivo, no caso de medicamento que


possui autorização para importação em caráter excepcional:

Info 717-STJ: A operadora do plano de saúde deve custear medicamento importado, o


qual, apesar de não registrado pela ANVISA, possui autorização para importação em
caráter excepcional. (...) 2. O propósito recursal consiste em decidir sobre (i) a obrigação
de a operadora de plano de saúde custear medicamento importado para o tratamento
da doença que acomete o beneficiário, o qual, apesar de não registrado pela ANVISA,
possui autorização para importação em caráter excepcional; e (ii) o cabimento da multa
por embargos protelatórios.

3. Segundo o entendimento consolidado pela 2ª Seção no julgamento do REsp


1.712.163/SP e do REsp 1.726.563/SP, sob a sistemática dos recursos repetitivos,
"as operadoras de plano de saúde não estão obrigadas a fornecer medicamento
não registrado pela ANVISA; (Tema 990 - julgado em 01/09/2020, DJe de 09/09/2020).

4. A autorização da ANVISA para a importação excepcional do medicamento para uso


próprio sob prescrição médica, é medida que, embora não substitua o devido registro,
evidencia a segurança sanitária do fármaco, porquanto pressupõe a análise da Agência
Reguladora quanto à sua segurança e eficácia, além de excluir a tipicidade das condutas
previstas no art. 10, IV, da Lei 6.437/77, bem como nos arts. 12 c/c 66 da Lei 6.360/76.

5. Necessária a realização da distinção (distinguishing) entre o entendimento firmado


no precedente vinculante e a hipótese concreta dos autos, na qual o medicamento
(PURODIOL 200 MG CBD) prescrito ao beneficiário do plano de saúde, embora se trate
de fármaco importado ainda não registrado pela ANVISA, teve a sua importação
excepcionalmente autorizada pela referida Agência Nacional, sendo, pois, de cobertura
obrigatória pela operadora de plano de saúde. (REsp 1943628/DF, Rel. Ministra NANCY
ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 26/10/2021, DJe 03/11/2021)

Quanto à obrigatoriedade de fornecimento de medicamento registrado na


ANVISA, mas que o uso prescrito pelo médico não está previsto na bula (uso “off-label”),
o STJ decidiu:

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA!

A recusa da operadora do plano de saúde em custear medicamento registrado pela


ANVISA e prescrito pelo médico do paciente é abusiva, ainda que se trate de fármaco
off-label ou utilizado em caráter experimental, especialmente na hipótese em que se
mostra imprescindível à conservação da vida e saúde do beneficiário. AgInt no AREsp
1.964.268-DF, Rel. Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, por unanimidade, julgado em
12/6/2023, DJe 19/6/2023.

251
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Ainda, é abusiva (logo, ilícita) a conduta da operadora que tenta descontinuar o


custeio de internação do neonato que seja filho de dependente e neto do titular
ultrapassado o prazo de 30 dias de seu nascimento:

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA!

Info 773-STJ: É ilícita a conduta da operadora de plano de saúde que nega a inscrição
de recém-nascido no plano de saúde de titularidade de avô, sendo a genitora
dependente/beneficiária desse plano.

Cinge-se a controvérsia a definir se a operadora é obrigada a inscrever o recém-nascido,


filho de dependente e neto do titular, no plano de saúde, na condição de dependente,
quando houver requerimento administrativo. Deve-se assegurar a inclusão no plano de
saúde obstétrico, na condição de dependente, do recém-nascido filho do consumidor, o
qual, por sua vez, pode ser do consumidor titular ou do consumidor dependente (arts.
12, III, "b", da Lei nº 9.656/1998; 23, II e III, da RN-ANS nº 428/2017, e 21, II e III, da RN-
ANS nº 465/2021).

A opção de inscrição do recém-nascido no plano de saúde é para filho do titular, bem


como para filho de seu dependente. A lei emprega o termo "consumidor", possibilitando
a inscrição não só do neonato filho do titular, mas também de seu neto no plano de
saúde, na condição de dependente e não de agregado.

Independentemente de haver inscrição do recém-nascido no plano de saúde do


beneficiário-consumidor, da segmentação hospitalar com obstetrícia, possui o neonato
proteção assistencial nos primeiros 30 (trinta) dias depois do parto, sendo considerado,
nesse período, um usuário por equiparação, ao lado, portanto, de seu genitor titular ou
genitor dependente (art. 12, III, "a", da Lei nº 9.656/1998).

Assim, conclui-se que é ilícita a conduta da operadora de plano de saúde que nega a
inscrição do recém-nascido no plano de saúde de titularidade do avô, seja a genitora
dependente/beneficiária de plano individual ou coletivo.

REsp 2.049.636-SP, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, por
unanimidade, julgado em 25/4/2023, DJe 28/4/2023.

Por fim, também é abusiva a cláusula que limita no tempo a internação hospitalar
do segurado.

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA!

Súmula 302-STJ: É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita no tempo
a internação hospitalar do segurado.

252
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.QUESTÃO 93 – Analise as seguintes assertivas sobre relações de consumo:

I. A emissão, por terceiro, de boleto fraudado, configura fato


exclusivo de terceiro somente quando evidenciado o nexo
causal entre as atividades desempenhadas pela instituição
financeira e o dano vivenciado pelo consumidor
II. A responsabilidade da instituição financeira fica afastada
se o evento danoso decorre de transações realizadas com
a apresentação física do cartão original e mediante uso de
senha pessoal do correntista.
III. Nos contratos de aluguel de cofre, não é abusiva a cláusula
que impõe limite aos valores e objetos que podem ser
armazenados, sobre os quais incidirá a obrigação de
segurança e proteção.
IV. O Código de Defesa do Consumidor é inaplicável ao
contrato de fiança bancária acessório a contrato
administrativo

Estão corretas as assertivas:

a) I e IV
b) I, III e IV
c) Apenas a II
d) I, II, III e IV
e) Todas alternativas estão incorretas

Gabarito: D
Comentários:

Pessoal, essa questão cobrou o conhecimento da jurisprudência recente nesta


temática, vejamos cada alternativa:

• Está correta a assertiva ”I”: A emissão, por terceiro, de boleto fraudado,


configura fato exclusivo de terceiro somente quando evidenciado o nexo
causal entre as atividades desempenhadas pela instituição financeira e o dano
vivenciado pelo consumidor

253
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STJ. 3ª Turma. REsp 2.046.026-RJ (Info 12 – Edição Extraordinária).


No caso concreto, João comprou um automóvel de Pedro. Vale ressaltar que
ainda faltava Pedro pagar uma parte do financiamento ao banco. João deu uma
entrada para Pedro e assumiu o valor do financiamento que ainda estava
pendente de pagamento. O adquirente realizou a quitação via boleto bancário,
recebido pelo vendedor através de e-mail supostamente enviado pelo banco.
Entretanto, ficou comprovado que o boleto não foi emitido pela instituição
financeira, mas sim por terceiro estelionatário, e o e-mail usado para o envio do
boleto também não é de titularidade do banco. No caso concreto, a operação foi
efetuada, em sua integralidade, fora da rede bancária. Portanto, não houve falha
na prestação dos serviços e a fraude não guarda conexidade com a atividade
desempenhada pelo recorrente, caracterizando-se como fato exclusivo de
terceiro. Logo, o banco não possui responsabilidade.

• Está correta a assertiva ”II”: A responsabilidade da instituição financeira fica


afastada se o evento danoso decorre de transações realizadas com a
apresentação física do cartão original e mediante uso de senha pessoal do
correntista

STJ. 3ª Turma. REsp 1633785/SP


A responsabilidade da instituição financeira deve ser afastada quando o evento
danoso decorre de transações que, embora contestadas, são realizadas com a
apresentação física do cartão original e mediante uso de senha pessoal do
correntista. O cartão magnético e a respectiva senha são de uso exclusivo do
correntista, que deve tomar as devidas cautelas para impedir que terceiros
tenham acesso a eles. Se ficou demonstrado na perícia que as transações
contestadas foram feitas com o cartão original e mediante uso de senha pessoal
do correntista, passa a ser do consumidor a incumbência de comprovar que a
instituição financeira agiu com negligência, imprudência ou imperícia ao efetivar
a entrega de numerário a terceiros. O cliente que permite que terceiro tenha
acesso à senha do seu cartão não pode atribuir ao banco a responsabilidade
pelos saques indevidos.

‘  ATENÇÃO – distinguishing

STJ. 3ª Turma. REsp 1.995.458/SP,


O propósito do recurso consistia em perquirir se existe falha na prestação do
serviço bancário quando o correntista é vítima do golpe do motoboy. Ainda que
produtos e serviços possam oferecer riscos, estes não podem ser excessivos ou
potencializados por falhas na atividade econômica desenvolvida pelo
fornecedor. Se as transações contestadas forem feitas com o cartão original e

254
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mediante uso de senha pessoal do correntista, passa a ser do consumidor a


incumbência de comprovar que a instituição financeira agiu com negligência,
imprudência ou imperícia ao efetivar a entrega de numerário a terceiros. A
jurisprudência deste STJ consigna que o fato de as compras terem sido realizadas
no lapso existente entre o furto e a comunicação ao banco não afasta a
responsabilidade da instituição financeira. Cabe às administradoras, em parceria
com o restante da cadeia de fornecedores do serviço (proprietárias das
bandeiras, adquirentes e estabelecimentos comerciais), a verificação da
idoneidade das compras realizadas com cartões magnéticos, utilizando-se de
meios que dificultem ou impossibilitem fraudes e transações realizadas por
estranhos em nome de seus clientes, independentemente de qualquer ato do
consumidor, tenha ou não ocorrido roubo ou furto. A vulnerabilidade do
sistema bancário, que admite operações totalmente atípicas em relação ao
padrão de consumo dos consumidores, viola o dever de segurança que cabe às
instituições financeiras e, por conseguinte, incorre em falha da prestação de
serviço. Para a ocorrência do evento danoso, isto é, o êxito do estelionato,
necessária concorrência de causas: (i) por parte do consumidor, ao fornecer o
cartão magnético e a senha pessoal ao estelionatário, bem como (ii) por parte
do banco, ao violar o seu dever de segurança por não criar mecanismos que
obstem transações bancárias com aparência de ilegalidade por destoarem do
perfil de compra do consumidor. Na hipótese, contudo, verifica-se que o
consumidor é pessoa idosa, razão pela qual a imputação de responsabilidade
há de ser feita sob as luzes do Estatuto do Idoso e da Convenção Interamericana
sobre a Proteção dos Direitos Humanos dos Idosos, sempre considerando a sua
peculiar situação de consumidor hipervulnerável

• Está correta a assertiva “III”: Nos contratos de aluguel de cofre, não é abusiva a
cláusula que impõe limite aos valores e objetos que podem ser armazenados,
sobre os quais incidirá a obrigação de segurança e proteção.

STJ. 4ª Turma. AgInt nos EDcl nos EDcl no REsp 1627962/SP


Prevalece no STJ a orientação de que nos contratos de aluguel de cofre, não é
abusiva a cláusula que impõe limite aos valores e objetos que podem ser
armazenados, sobre os quais incidirá a obrigação de segurança e proteção.

 NÃO CONFUNDIR - Súmula 638-STJ: É abusiva a cláusula contratual que


restringe a responsabilidade de instituição financeira pelos danos decorrentes
de roubo, furto ou extravio de bem entregue em garantia no âmbito de contrato
de penhor civil.

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• Está correta a assertiva “IV”: O Código de Defesa do Consumidor é inaplicável


ao contrato de fiança bancária acessório a contrato administrativo

STJ. 3ª Turma. REsp 1.745.415-SP (Info 649).


Não se aplica o CDC aos contratos administrativos, tendo em vista que a
Administração Pública já goza de outras prerrogativas asseguradas pela lei.
A fiança bancária, quando contratada no âmbito de um contrato administrativo,
também sofre incidência do regime publicístico, uma vez a contratação dessa
garantia não decorre da liberdade de contratar, mas da posição de supremacia
que a lei confere à Administração Pública nos contratos administrativos. Pode-
se concluir, portanto, que a fiança bancária acessória a um contrato
administrativo também não reÀ Ouvidoria-Geral compete participar, com direito
a voz e voto, do Conselho Superior da Defensoria Pública presenta uma relação
de consumo.

.QUESTÃO 94 – Analise as seguintes afirmações relacionadas ao Código de Defesa do


Consumidor.

I) A sentença fará coisa julgada ultra partes quando julgado procedente o pedido
em ações de defesa de interesses e direitos coletivos, não induzindo
litispendência para ações individuais. C
II) Os interesses difusos são de natureza transindividual e de caráter indivisível,
enquanto os direitos coletivos são de natureza coletiva, mas individualizáveis. E
III) A sentença fará coisa julgada ultra partes quando julgado procedente o pedido
em ações de defesa de interesses e direitos individuais homogêneos E
IV) São direitos difusos os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam
titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato. C
V) A homogeneidade dos interesses ou direitos individuais homogêneos não está
na origem da lesão sofrida por seus titulares e nem na expressão individual do
dano. E

Dessas afirmações, é(são) correta(s):

a) todas.
b) duas.
c) três.
d) quatro.
e) apenas uma

Gabarito: B

Comentário:

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Esses conceitos são fáceis de confundir e estão sempre presentes em provas.


Então vamos revisar:

INDIVIDUAIS
DIFUSOS COLETIVOS
HOMOGÊNEOS

São transindividuais (há São transindividuais (há Há uma


uma transindividualidade uma transindividualidade transindividualidade
real ou material). real ou material). ARTIFICIAL, formal ou
relativa (são direitos
individuais que, no
entanto, recebem
tratamento legal de
direitos transindividuais).

Têm natureza INDIVISÍVEL. Têm natureza INDIVISÍVEL. Têm natureza DIVISÍVEL. O


Tais direitos pertencem a O resultado será o mesmo resultado da demanda
todos de forma para aqueles que fizerem pode ser diferente para os
simultânea e indistinta. O parte do grupo, categoria diversos titulares (ex: o
resultado será o mesmo ou classe de pessoas valor da indenização pode
para todos os titulares variar).

Os titulares são pessoas: Os titulares são pessoas: Os titulares são pessoas:

• indeterminadas e • indeterminadas • determinadas ou

• indetermináveis. • mas determináveis. • determináveis.

Não se tem como Os titulares são, a


determinar (dizer de princípio, indeterminados,
maneira específica) quem mas é possível que eles
são os titulares desses sejam identificados.
direitos.
Os titulares fazem parte
Isso porque são direitos de um grupo, categoria ou
que não pertencem a classe de pessoas.
apenas uma pessoa, mas
sim à coletividade.

Os titulares desses direitos EXISTE uma relação Os titulares não são


NÃO possuem relação jurídica base entre os ligados entre si, mas seus
jurídica entre si. titulares. interesses decorrem de
uma ORIGEM COMUM.

257
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Os titulares são ligados Os titulares são ligados


por CIRCUNSTÂNCIAS DE entre si ou com a parte
FATO. Os titulares se contrária em virtude de
encontram em uma uma RELAÇÃO JURÍDICA
situação de fato comum BASE.

O Código de Defesa do Consumidor traz esses conceitos:

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas
poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste


código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares
pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;

II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste


código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo,
categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por
uma relação jurídica base;

III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os


decorrentes de origem comum.

No que tange a coisa julgada, o CDC dispõe:

Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa
julgada:

I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência


de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação,
com idêntico fundamento valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I
do parágrafo único do art. 81 [INTERESSES DIFUSOS];

II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo


improcedência por insuficiência de provas, nos termos do inciso anterior,
quando se tratar da hipótese prevista no inciso II do parágrafo único do art.
81 [INTERESSES COLETIVOS];

III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar


todas as vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo
único do art. 81 [INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS].

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§ 1° Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não


prejudicarão interesses e direitos individuais dos integrantes da
coletividade, do grupo, categoria ou classe.

§ 2° Na hipótese prevista no inciso III, em caso de improcedência do


pedido, os interessados que não tiverem intervindo no processo como
litisconsortes poderão propor ação de indenização a título individual.

§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o


art. 13 da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações de
indenização por danos pessoalmente sofridos, propostas individualmente
ou na forma prevista neste código, mas, se procedente o pedido,
beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que poderão proceder à
liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99.

§ 4º Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sentença penal


condenatória.

DIREITOS DIFUSOS

Sentença Coisa Julgada Efeito

Procedente Coisa julgada material Efeito erga omnes

Efeito erga omnes.

Obs.: impede somente


nova propositura de
Improcedente (por outro ação coletiva. Não
motivo que não a Coisa julgada material impede que os
insuficiência de provas) consumidores intentem

ações individuais pelos


danos individualmente
sofridos (art. 103, §1º)

Qualquer legitimado do
art. 82 poderá intentar
Improcedente por Não faz coisa julgada
novamente a ação
insuficiência de provas material
coletiva, bastando
possuir nova prova.

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DIREITOS COLETIVOS

Sentença Coisa Julgada Efeito

Procedente Coisa julgada material Efeito ultra partes

Efeito ultra partes

Obs.: impede somente


nova propositura de
Improcedente (por outro ação coletiva. Não
motivo que não a Coisa julgada material impede que os
insuficiência de provas) consumidores intentem

ações individuais pelos


danos individualmente
sofridos (art. 103, §1º)

Qualquer legitimado do
art. 82 poderá intentar
Improcedente por Não faz coisa julgada
novamente a ação
insuficiência de provas material
coletiva, bastando
possuir nova prova.

DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS

Sentença Coisa Julgada Efeito

Efeito erga omnes,


bastando o consumidor
se habilitar na
Procedente Coisa julgada material liquidação e promover
a

execução, provando o
dano sofrido.)

Se o consumidor integrou
o processo como
Não poderá intentar a
Improcedente litisconsorte, sofre os
ação individual.
efeitos da coisa julgada
material.

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Se o consumidor ficou
inerte ao processo, não Poderá intentar a ação
Improcedente
sofre os efeitos da coisa individual.
julgada material.

.QUESTÃO 95 – Direito básico estabelecido pelo Código de Defesa do Consumidor, a


proteção da vida, da saúde e da segurança impõe que os fornecedores devem garantir
que os produtos e serviços que colocam no mercado de consumo sejam seguros. Além
disso, o direito à informação consagra que os produtos e serviços devem ser oferecidos
com informações corretas e claras, sobre as suas características, quantidade, qualidade,
composição (ingredientes), preço, garantia, prazo de validade, fabricante, origem e
sobre eventuais riscos decorrentes de sua utilização. Acerca do Direito Consumerista,
analise as afirmativas a seguir assinalando o item correto:

a) O Superior Tribunal de Justiça reconhece a responsabilidade solidária pelos


danos causados pelos bens comercializados por aquele que os coloca no
mercado de consumo, sob o mesmo nome ou marca do fornecedor primário,
pois ainda que não tenha sido o fabricante direto do produto defeituoso,
enquadra-se na categoria de fornecedor aparente.
b) Segundo o STJ, para fins de aplicação da Teoria Menor da desconsideração da
personalidade jurídica, a regra do CDC que preleciona que pode ser
desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for, de alguma
forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores, é
fundamento suficiente para admitir a responsabilização pessoal do quem
administrador não sócio.
c) Acerca do tratamento de fertilização in vitro, o STJ proferiu entendimento
recente no sentido de que se mostra abusiva a negativa de custeio, pela
operadora do plano de saúde, ainda que não haja previsão contratual expressa,
em razão do princípio da igualdade material e do direito ao livre planejamento
familiar.
d) Prevalece no âmbito doutrinário e jurisprudencial que a inversão do ônus da
prova prevista no art. 6º, VIII, do CDC é regra de julgamento (e não regra de
instrução), de forma que não há nulidade em suposta ausência de sinalização,
por parte do juiz, de que iria aplicar esta norma.
e) Sobre competência para julgamento de demanda que envolve superendividado,
o STJ proferiu entendimento no sentido de que o referido processo de
repactuação de dívidas é de competência da Justiça Estadual, salvo se também
envolver a Caixa Econômica Federal (empresa pública).

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Gabarito: A
Comentários:

Galera, em Direito do Consumidor existe uma intensa cobrança de julgados,


especialmente do Superior Tribunal de Justiça. A resposta da nossa questão pode ser
encontrada a partir do conhecimento dos entendimentos a seguir:

SE TEM JURIS, TÁ NA PROVA! 🚨

Info 642 - STJ - O conceito legal de “fornecedor” previsto no art. 3º do CDC abrange também
a figura do “fornecedor aparente”, que consiste naquele que, embora não tendo participado
diretamente do processo de fabricação, apresenta-se como tal por ostentar nome, marca ou
outro sinal de identificação em comum com o bem que foi fabricado por um terceiro,
assumindo a posição de real fabricante do produto perante o mercado consumidor. O
fornecedor aparente, em prol das vantagens da utilização de marca internacionalmente
reconhecida, não pode se eximir dos ônus daí decorrentes, em atenção à teoria do risco da
atividade adotada pelo CDC. Dessa forma, reconhece-se a responsabilidade solidária do
fornecedor aparente para arcar com os danos causados pelos bens comercializados sob a
mesma identificação (nome/marca), de modo que resta configurada sua legitimidade
passiva para a respectiva ação de indenização em razão do fato ou vício do produto ou
serviço. STJ. 4ª Turma. REsp 1.580.432-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 06/12/2018
(Info 642).

Info 754 – STJ – Para fins de aplicação da Teoria Menor da desconsideração da personalidade
jurídica, o § 5º do art. 28 do CDC não dá margem para admitir a responsabilização pessoal
de quem não integra o quadro societário da empresa (administrador não sócio). STJ. 3ª
Turma. REsp 1.862.557/DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 15/6/2021. STJ.
4ª Turma. REsp 1.860.333-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 11/10/2022 (Info 754).

Info 768 – STJ – Cabe à Justiça comum estadual e/ou distrital processar e julgar as demandas
oriundas de ações de repactuação de dívidas decorrentes de superendividamento – ainda
que exista interesse de ente federal (CEF). Isso porque a interpretação do art. 109, I, da
CF/88, deve ser teleológica de forma a alcançar, na exceção da competência da Justiça
Federal, as hipóteses em que existe o concurso de credores. STJ. 2ª Seção. CC 193.066-DF,
Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 22/3/2023 (Info 768).

Info 701 – STJ - A inversão do ônus da prova prevista no art. 6º, VIII, do Código de Defesa do
Consumidor é regra de instrução e não regra de julgamento, motivo pelo qual a decisão
judicial que a determina deve ocorrer antes da etapa instrutória ou, quando proferida em
momento posterior, há que se garantir à parte a quem foi imposto o ônus a oportunidade de
apresentar suas provas, sob pena de absoluto cerceamento de defesa. STJ. 4ª Turma. REsp
1.286.273-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 08/06/2021 (Info 701).

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Portanto, o item A é o único correto.

PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS DA DEFENSORIA PÚBLICA

.QUESTÃO 96 – Segundo o regimento interno da Corregedoria-Geral da Defensoria


Pública do Estado de Minas Gerais, não compete ao Corregedor Geral da Defensoria
Pública:

a) receber e processar representação contra Defensor Público e encaminhá-la, com


parecer, ao Conselho Superior.
b) aprovar o Plano Geral de Atuação.
c) propor, fundamentadamente, a exoneração do Defensor Público em estágio
probatório, com base em avaliação especial, procedida por comissão constituída
especificamente para esse fim.
d) apresentar, quando requisitado pelo Defensor Público Geral, relatório estatístico
sobre as atividades dos órgãos de atuação.
e) convocar Defensores Públicos para deliberação sobre matéria administrativa ou
de interesse da instituição.

Gabarito: B
Comentários:

Nos estudos para princípios institucionais, sugerimos a leitura pré-prova das


normativas mais importantes da instituição: LC 80/94, LCE 65/03 e regimentos internos
sobre os órgãos e funcionamento da própria Defensoria Pública.

Na questão abordamos as competências do Corregedor-Geral. É preciso ter


muita atenção pois nas provas é comum a cobrança das competências, misturando-as
entre os órgãos da administração superior, como a Corregedoria e o Conselho Superior,
como fizemos.

Abaixo vocês podem conferir todas as atribuições do Corregedor Geral,


presentes do Regimento Interno da Corregedoria Geral, bem como as competências do
Conselho Superior, trazidas na LCE 65/03.

Regimento Interno da Corregedoria:


Art. 5º. Compete ao Corregedor Geral da Defensoria Pública, nos termos do art. 34 da Lei
Complementar Estadual n.º 65, de 16 de janeiro de 2003:

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I – realizar inspeções e correições funcionais nos Núcleos e nos serviços da Defensoria Pública e
remeter relatório reservado ao Conselho Superior;
II – sugerir ao Defensor Público Geral, fundamentadamente, o afastamento do Defensor Público que
esteja sendo submetido a correição, sindicância ou processo administrativo-disciplinar;
III – receber e processar representação contra Defensor Público e encaminhá-la, com parecer, ao
Conselho Superior;
IV – propor a instauração de processo administrativo-disciplinar contra Defensor Público e servidor
administrativo auxiliar e encaminhar a proposição ao Defensor Público Geral;
V – propor ao Conselho Superior, fundamentadamente, a suspensão do estágio probatório do Defensor
Público;
VI – acompanhar a atuação do Defensor Público durante o estágio probatório, mediante avaliação
permanente de seu desempenho;
VII – propor ao Conselho Superior, fundamentadamente, a confirmação do Defensor Público no cargo,
até sessenta dias antes do término do estágio probatório;
VIII – propor, fundamentadamente, a exoneração do Defensor Público em estágio probatório, com
base em avaliação especial, procedida por comissão constituída especificamente para esse fim;
IX – representar sobre verificação de incapacidade física, mental ou pessoal de membros da Defensoria
Pública;
X – integrar como membro nato o Conselho Superior da Defensoria Pública;
XI – baixar instruções, sem caráter vinculativo e no limite de suas atribuições, visando à regularidade e
ao aperfeiçoamento das atividades da Defensoria Pública, bem como à independência funcional de
seus membros;
XII – manter atualizados os assentamentos funcionais e os registros estatísticos de atuação dos
membros da Defensoria Pública, especialmente para efeito de aferição de merecimento, neles
devendo constar:
a) os pareceres da Corregedoria-Geral, inclusive o previsto no art. 52 desta lei complementar, e a
decisão do Conselho Superior sobre o estágio probatório;
b) as observações feitas em inspeções e correições;
c) as penalidades disciplinares aplicadas;
XIII – oferecer ao Conselho Superior da Defensoria Pública, quando da composição de listas tríplices
para promoção, os assentamentos sobre a vida funcional dos Defensores Públicos que satisfaçam o
requisito de interstício, assim como outras informações consideradas necessárias;
XIV – exercer outras atribuições que lhe forem cometidas pelo Defensor Público Geral ou pelo Conselho
Superior da Defensoria Pública;
XV – encaminhar ao Defensor Público Geral o processo administrativo-disciplinar afeto à decisão deste;
XVI – apresentar, quando requisitado pelo Defensor Público Geral, relatório estatístico sobre as
atividades dos órgãos de atuação;
XVII – prestar ao Defensor Público informações de caráter pessoal e funcional, assegurando-lhe o
direito de acesso, retificação e complementação dos dados;
XVIII – requisitar informações, exames, perícias, documentos, diligências, certidões, pareceres técnicos
e informações indispensáveis ao bom desempenho de suas funções;
XIX – elaborar o regulamento do estágio probatório;
XX – propor ao Defensor Público Geral e ao Conselho Superior a expedição de instruções e outras
normas administrativas, sempre que necessário ou conveniente ao serviço;
XXI – convocar Defensores Públicos para deliberação sobre matéria administrativa ou de interesse
da instituição;
XXII – desempenhar outras atribuições previstas em lei ou no Regulamento Interno da
Defensoria Pública.

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LCE 65/03 Art. 28 – Ao Conselho Superior da Defensoria Pública compete:


I – exercer o poder normativo no âmbito da Defensoria Pública;
II – opinar, por solicitação do Defensor Público Geral, sobre matéria pertinente à independência
funcional e à autonomia administrativa da Defensoria Pública do Estado;
III – indicar ao Defensor Público Geral, em lista tríplice, os candidatos à promoção por merecimento;
IV – aprovar a lista de antigüidade dos membros da Defensoria Pública e decidir sobre reclamações a
ela concernentes, no prazo de quinze dias;
V – recomendar ao Defensor Público Geral a instauração de processo administrativo-disciplinar contra
Defensores Públicos e servidores auxiliares da Defensoria Pública;
VI – conhecer e julgar recurso contra decisão em processo administrativo-disciplinar;
VII – decidir sobre pedido de revisão de processo administrativo-disciplinar;
VIII – decidir sobre a remoção voluntária dos integrantes da carreira de Defensor Público;
IX – determinar, por voto de dois terços de seus integrantes, a remoção ou disponibilidade compulsória
de membro da Defensoria Pública;
X – decidir sobre a destituição do Corregedor-Geral, por voto de dois terços de seus membros,
assegurada ampla defesa;
XI – deliberar sobre a organização do concurso para ingresso na carreira e designar os representantes
da Defensoria Pública que integrarão a Comissão de Concurso;
XII – recomendar correições extraordinárias;
XIII – aprovar o Plano Geral de Atuação;
XIV – sugerir ao Defensor Público Geral a edição de recomendação, sem caráter vinculativo, aos órgãos
de execução, para o desempenho de suas funções;
XV – deliberar, atendida a necessidade do serviço, sobre a licença de membro da Defensoria Pública
para freqüentar curso ou seminário de aperfeiçoamento ou estudos, no País ou no exterior,
evidenciado o interesse da instituição;
XVI – autorizar, em razão de ato excepcional e fundamentado, pelo voto de dois terços de seus
integrantes, o Defensor Público Geral a exercer, pessoalmente ou por designação, as funções
processuais afetas a outro membro da instituição;
XVII – representar ao Corregedor-Geral sobre a instauração de processo administrativo-disciplinar
contra membro da Defensoria Pública;
XVIII – opinar sobre o aproveitamento de membro da Defensoria Pública em disponibilidade;
XIX – solicitar ao Corregedor-Geral da Defensoria Pública informações sobre a conduta e a atuação
funcional de membro da instituição, determinando a realização de visitas de inspeção para verificação
de irregularidade no serviço, especialmente no caso de inscritos para a promoção ou remoção
voluntária;
XX – conhecer dos relatórios reservados elaborados pela Corregedoria-Geral em inspeções e
correições, recomendando as providências cabíveis;
XXI – decidir, em sessão pública e pelo voto de dois terços de seus integrantes, sobre a avaliação e a
permanência na carreira dos membros da Defensoria Pública em estágio probatório;
XXII – determinar a suspensão do exercício funcional de membro da Defensoria Pública em caso de
verificação de incapacidade física ou mental;
XXIII – aprovar o regulamento de estágio probatório elaborado pela Corregedoria-Geral;
XXIV – dar posse ao Defensor Público Geral, nos termos do art. 8º desta lei complementar;
XXV – aprovar o Regulamento Interno da Defensoria Pública;
XXVI – exercer outras atribuições previstas em lei ou no Regulamento Interno.
§ 1º – Salvo disposição em contrário, as deliberações do Conselho Superior serão tomadas por maioria
de votos abertos e nominais, presente a maioria de seus membros, cabendo ao seu Presidente o voto
de qualidade.

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§ 2º – As decisões do Conselho Superior da Defensoria Pública serão fundamentadas e publicadas no


prazo de cinco dias, exceto nas hipóteses legais de sigilo, sob forma de deliberação.
§ 3º – Na indicação à promoção por antigüidade, observar-se-á o disposto no art. 61 desta lei
complementar.
§ 4º – Na indicação à promoção por merecimento, o processo de votação será oral, atendidos os
critérios estabelecidos no art. 63 desta lei complementar.

.QUESTÃO 97 – Considerando os princípios institucionais da Defensoria Pública,


assinale a alternativa incorreta:

a) O princípio da indivisibilidade estabelece que a Defensoria Pública não está


sujeita a rupturas e fracionamentos. Possui relação de dependência com o
princípio da unidade, de projeção interna. Significa que a atuação dos membros
da defensoria é impessoal, por isso podem se substituir uns aos outros, em caso
de férias, licença, impedimento, sem que exista prejuízo à atuação da instituição.
b) Os princípios institucionais da Defensoria Pública são a unidade, a indivisibilidade
e a independência funcional, e todos encontram fundamento constitucional
expresso.
c) A autonomia funcional é uma característica da instituição e não do membro da
defensoria, e consiste na possibilidade do exercício de funções livre de
ingerências de qualquer órgão do Estado.
d) O princípio da independência funcional assegura a atuação do membro da
Defensoria Pública conforme a lei e sua própria convicção no exercício das
funções institucionais, além de assegurar independência administrativa.
e) A Defensoria Pública também possui autonomia financeira, consubstanciada na
iniciativa de sua proposta orçamentária, nos limites estabelecidos pela Lei de
Diretrizes Orçamentárias. O fundamento da autonomia financeira é evitar que a
Defensoria Pública seja alvo de pressões econômicas exercidas por outros
Poderes.

Gabarito: D
Comentários:
A assertiva “D” é a única incorreta, porque existe uma subordinação hierárquica
do Defensor Público no plano administrativo, em relação às normativas da instituição.
Vamos revisão um pouco sobre os princípios institucionais
A função dos princípios institucionais é basicamente a de iluminar a leitura de
toda a legislação, numa perspectiva de sistema, representando, portanto, diretrizes para
a compreensão do regime jurídico da Defensoria.

Conforme o art. 134, §4º, da CF e o art. 3º da LC nº. 80/94, são princípios


institucionais da Defensoria Pública a unidade, a indivisibilidade e a independência
funcional.

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Os referidos princípios apenas foram alçados ao caráter de normas


constitucionais com a EC n. 80/14.

O princípio da unidade estabelece que a Defensoria deve ser vista como uma
instituição única, apesar das prerrogativas e independências dos seus órgãos de
execução.

O princípio da unidade é dividido em três:

a) unidade hierárquica-administrativa: uma instituição dentro de cada estado e gerida


por administração superior própria;

(b) unidade funcional: cada instituição deve se empenhar para que os objetivos
institucionais comuns façam parte de uma atuação conjunta;

(c) unidade normativa: as Defensorias se submetem às regras gerais de um mesmo


regime jurídico previsto na CF e na LC 80/94, embora existam regras específicas em cada
LC.

Destaque-se, portanto, que do ponto de vista hierárquico administrativo não há


qualquer vinculação entre DPU, DPEs e DPDF.

O princípio da indivisibilidade estabelece que a Defensoria não está sujeita a


rupturas e fracionamentos. Possui relação de dependência com o princípio da unidade
(projeção interna). Significa que a atuação dos membros da defensoria é impessoal, por
isso podem se substituir uns aos outros (em caso de férias, licença, impedimento, etc.),
sem que exista prejuízo a atuação da instituição.

Não existe uma vinculação do defensor ao processo em que atua (fungibilidade).

Entretanto, a indivisibilidade deve ser lida em conjunto com a independência


funcional, de modo que não há vinculação de opiniões jurídicas de diversos membros
sobre um mesmo caso. Assim, o substituto não é obrigado a adotar a mesma linha do
substituído.

O princípio da independência funcional assegura a atuação do membro da


Defensoria conforme a lei e sua própria convicção no exercício das funções
institucionais.

A independência funcional impede que existam interferências internas (de


outros membros da defensoria ou de qualquer hierarquia) ou externas (de outros atores
do sistema de justiça, poder executivo, legislativo, sociedade, etc.).

Não há independência administrativa, de modo que existe uma subordinação


hierárquica – no plano administrativo – às normativas da instituição a qual pertença (ex.:
dever de preencher relatórios administrativos, etc.).
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E a independência funcional não se confunde com a autonomia funcional, que é


uma característica da instituição e não do membro da defensoria.

Além disso, a independência não é absoluta. Limita-se a aspectos funcionais e


técnicos, bem como ao próprio sistema jurídico.

A AUTONOMIA FUNCIONAL é entendida como a possibilidade do exercício de


funções livre de ingerências de qualquer órgão do Estado. Desse modo, a autonomia
funcional assegura à Defensoria Pública plena liberdade de atuação no exercício de suas
funções institucionais, submetendo-se somente aos limites determinados pela CF, pela
lei e pela independência funcional de seus membros.

A AUTONOMIA ADMINISTRATIVA, por seu turno, significa que cabe à instituição


organizar a sua administração, praticar atos de gestão, decidir sobre situação funcional
de seu pessoal, prover cargos nos termos da lei etc.

A AUTONOMIA FINANCEIRA, consiste na iniciativa de sua proposta


orçamentária, nos limites estabelecidos pela lei de diretrizes orçamentárias. O
fundamento da autonomia financeira é evitar que a Defensoria Pública seja alvo de

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pressões econômicas exercidas por outros Poderes. De toda sorte, por força da LC nº.
132/09, o legislador infraconstitucional regulamentou a iniciativa da instituição para a
elaboração da sua proposta orçamentária, na forma do art. 97-B, veja-se:

Art. 97-B. A Defensoria Pública do Estado elaborará sua proposta orçamentária atendendo aos seus
princípios, às diretrizes e aos limites definidos na lei de diretrizes orçamentárias, encaminhando-a ao
Chefe do Poder Executivo para consolidação e encaminhamento ao Poder Legislativo.

§ 1º Se a Defensoria Pública do Estado não encaminhar a respectiva proposta orçamentária dentro do


prazo estabelecido na lei de diretrizes orçamentárias, o Poder Executivo considerará, para fins de
consolidação da proposta orçamentária anual, os valores aprovados na lei orçamentária vigente,
ajustados de acordo com os limites estipulados na forma do caput.

§ 2º Se a proposta orçamentária de que trata este artigo for encaminhada em desacordo com os limites
estipulados no caput, o Poder Executivo procederá aos ajustes necessários para fim de consolidação da
proposta orçamentária anual.

§ 3º Durante a execução orçamentária do exercício, não poderá haver a realização de despesas que
extrapolem os limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias, exceto se previamente
autorizadas, mediante a abertura de créditos suplementares ou especiais.

§ 4º Os recursos correspondentes às suas dotações orçamentárias próprias e globais, compreendidos os


créditos suplementares e especiais, ser-lhe-ão entregues, até o dia 20 (vinte) de cada mês, na forma do
art. 168 da Constituição Federal.

§ 5º As decisões da Defensoria Pública do Estado, fundadas em sua autonomia funcional e administrativa,


obedecidas as formalidades legais, têm eficácia plena e executoriedade imediata, ressalvada a
competência constitucional do Poder Judiciário e do Tribunal de Contas.

§ 6º A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da Defensoria Pública do


Estado, quanto à legalidade, legitimidade, aplicação de dotações e recursos próprios e renúncia de
receitas, será exercida pelo Poder Legislativo, mediante controle externo e pelo sistema de controle
interno estabelecido em lei.

.QUESTÃO 98 – Com base na LCE n.65/2003, é possível afirmar:

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a) A Ouvidoria-Geral é órgão da administração superior da Defensoria Pública e tem


como finalidade a promoção da qualidade dos serviços prestados pela
instituição.
b) Ouvidor-Geral será escolhido pelo Conselho Superior dentre cidadãos de
reputação ilibada, excetuados os membros da Defensoria Pública e os
integrantes do quadro administrativo, salvo se inativos, indicados em lista
tríplice formada pela sociedade civil, para mandato de dois anos, permitida uma
recondução.
c) O Cargo de Ouvidor-Geral, a ser criado em lei específica, será exercido em regime
de dedicação exclusiva e jornada de quarenta horas semanais, vedada qualquer
outra atividade remunerada
d) Caso o Defensor Público-Geral não efetive a nomeação do Ouvidor-Geral nos
quinze dias que se seguirem ao recebimento da indicação feita pelo Conselho
Superior, será investido no cargo, para exercício do mandato, o candidato mais
votado da lista tríplice, ainda que não escolhido pelo conselho superior.
e) Na hipótese de destituição do Ouvidor-Geral, o Conselho Superior escolherá,
no prazo de quinze dias, um dentre os dois últimos integrantes da lista tríplice,
para complementar o mandato.

Gabarito: E

Comentários:

Pessoal, essa questão cobrou o conhecimento da letra de lei da legislação


complementar estadual da DPE/MG. Em institucional, a cobrança da lei é de maior
incidência. Vejamos cada alternativa:

• Está incorreta a alternativa “a:”:

Art. 40-D – A Ouvidoria-Geral é órgão auxiliar da Defensoria


Pública e tem como finalidade a promoção da qualidade dos
serviços prestados pela instituição.

Parágrafo único – A Ouvidoria-Geral contará com servidores da


Defensoria Pública e terá sua estrutura definida pelo Conselho
Superior, a partir de proposta do Ouvidor-Geral, observada a
disponibilidade orçamentária e de pessoal para sua
implementação.

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• Está incorreta a alternativa “b”:

Art. 40-E – O Ouvidor-Geral será escolhido pelo Conselho


Superior dentre cidadãos de reputação ilibada, excetuados os
membros da Defensoria Pública e os integrantes do quadro
administrativo, ativos ou inativos, indicados em lista tríplice
formada pela sociedade civil, para mandato de dois anos,
permitida uma recondução.

§ 1º – O Conselho Superior editará normas regulamentando os


critérios e a forma de elaboração da lista tríplice.

§ 2º – As indicações de candidatos a Ouvidor-Geral recairão sobre


pessoas ou representantes de entidades notoriamente
compromissadas com os princípios e atribuições da Defensoria
Pública.

§ 3º – É vedada a nomeação, para o cargo de Ouvidor-Geral, de


cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por
afinidade, até o terceiro grau, inclusive, dos membros e
servidores, ativos ou inativos, da Defensoria Pública.

§ 4º – O Ouvidor-Geral será indicado pelo Conselho Superior no


prazo de quinze dias, contados do recebimento da lista tríplice, e
nomeado pelo Defensor Público-Geral em igual prazo, contado
da indicação pelo Conselho Superior.

§ 5º – Caso o Conselho Superior não efetive a indicação do


Ouvidor-Geral nos quinze dias que se seguirem ao recebimento da
lista tríplice, será considerado escolhido automaticamente para o
exercício do mandato o mais votado da lista.

• Está incorreta a alternativa “c”:


.

Art. 40-E § 7º – O Cargo de Ouvidor-Geral, a ser criado em lei


específica, será exercido em regime de dedicação exclusiva e
jornada de quarenta horas semanais, vedada qualquer outra
atividade remunerada, salvo uma de magistério.

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• Está incorreta a alternativa “d”:

Art. 40-E §6º – Caso o Defensor Público-Geral não efetive a


nomeação do Ouvidor-Geral nos quinze dias que se seguirem ao
recebimento da indicação feita pelo Conselho Superior, será
investido no cargo, para exercício do mandato, o candidato
indicado pelo Conselho Superior

• Está correta a alternativa “e”:

Art. 40-H – Na hipótese de destituição do Ouvidor-Geral, o


Conselho Superior escolherá, no prazo de quinze dias, um dentre
os dois últimos integrantes da lista tríplice, para complementar
o mandato

 CONSTITUCIONALIDADE DA OUVIDORIA-GERAL

STF. Plenário. ADI 4608/DF (Info 1054).


Caso concreto: o art. 105-B e o art. 105-C, da LC 80/94, acrescentados pela LC 132/2009,
tratam sobre a Ouvidoria-Geral das Defensorias Públicas dos Estados-membros.
Determinado partido político argumentou que a União excedeu sua competência para
estabelecer normas gerais sobre a Defensoria Pública, prevista no art. 24, XIII e §1º, da
Constituição Federal. O STF não concordou. Ao editar a LC 80/94, a União atuou
conforme sua competência legislativa, pois se limitou a instituir diretrizes gerais sobre a
organização e a estrutura da Ouvidoria-Geral das Defensorias Públicas estaduais, sem
prever qualquer singularidade regional ou especificidade local. Não há singularidade
regional ou especificidade local que justifique a impugnação da referida norma. Antes,
a legislação veio a garantir que o órgão não tenha atribuições distintas em cada unidade
da federação, desvirtuando sua função.

.QUESTÃO 99 – De acordo com os critérios de hipossuficiência previstos pela Defensoria


Pública de Minas Gerais, assinale a alternativa incorreta:

a) Considera-se hipossuficiente, sob o aspecto financeiro, para fins de


assistência jurídica integral e gratuita, a pessoa jurídica sem fins lucrativos
que o objeto social se destina à defesa ou promoção de interesses dos
hipossuficientes econômicos, ou tem relevante interesse social, bem como o
risco de prejuízo para consecução do objeto social.

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b) Consideram-se hipossuficientes jurídicos, todos aqueles que, mesmo tendo


condições econômicas, se encontrem indefesos em processos criminais ou
infracionais previstos no Estatuto da Criança e Adolescente;
c) Em todos os casos deverá ser verificada, ainda, a condição de
hipossuficiência dos sócios, administradores, associados, mantenedores ou
daqueles que, de qualquer forma, sejam financiadores da pessoa jurídica.
d) Nos casos de inventário, arrolamento de bens e alvará, o patrocínio da
Defensoria Pública considerará a renda mensal e o patrimônio de cada
interessado no atendimento, conforme os critérios previstos na Deliberação
da Defensoria Pública de Minas Gerais para as pessoas naturais, devendo-se
considerar ainda o quinhão hereditário cabível à entidade familiar.
e) Considera-se hipossuficiente, sob o aspecto econômico, toda pessoa
natural, nacional ou estrangeira, residente ou não no Brasil, que atenda,
possua renda mensal individual não superior ao valor de 5 (cinco) salários-
mínimos ou renda mensal familiar não superior a 6 (seis) salários-mínimos;

Gabarito: E

Comentário:

Os critérios de atendimento das Defensorias Públicas são comumente cobrados


em provas de primeira fase. Por isso achamos interessante que vocês façam a leitura e
treinem esses critérios.
A DPE/MG possui uma cartilha explicativa que pode ser acessada aqui:
https://defensoria.mg.def.br/wp-content/uploads/2022/10/DPMG_CARTILHA-
CRITERIOS-DE-ATENDIMENTO_NOV-2020.pdf
Além disso, os parâmetros para o atendimento estão na Deliberação nº 25/2015
e seu texto atualizado pode ser encontrado aqui:
https://defensoria.mg.def.br/wp-content/uploads/2023/05/DPMG_Del_25-2015.pdf

Passando para as alternativas, o item “a” está correto. De acordo com o Art. 4. II
§1º da Deliberação: no caso de pessoa jurídica sem fins lucrativos deverá ser
demonstrado que o objeto social se destina à defesa ou promoção de interesses dos
hipossuficientes econômicos, ou tem relevante interesse social, bem como o risco de
prejuízo para consecução do objeto social. (Incluído pela Deliberação nº 113/2019, de
18/11/2019).
A alternativa “b” está correta:
Art. 2. §2º. Consideram-se hipossuficientes jurídicos, entre outros previstos
em lei: (Alterado pela Deliberação nº 113/2019, de 18/11/2019).
a) todos aqueles que, mesmo tendo condições econômicas, se encontrem
indefesos em

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processos criminais ou infracionais previstos no Estatuto da Criança e


Adolescente; (Alterado pela Deliberação nº 113/2019, de 18/11/2019).

A alternativa “c” também está correta: Art. 4 - §2º. Em todos os casos deverá ser
verificada, ainda, a condição de hipossuficiência dos sócios, administradores,
associados, mantenedores ou daqueles que, de qualquer forma, sejam financiadores da
pessoa jurídica. (Incluído pela Deliberação nº 113/2019, de 18/11/2019).

A alternativa “d ” também está correta: Art. 5°. Nos casos de inventário,


arrolamento de bens e alvará, o patrocínio da Defensoria Pública considerará a renda
mensal e o patrimônio de cada interessado no atendimento, conforme os critérios
previstos nesta Deliberação para as pessoas naturais, devendo-se considerar ainda o
quinhão hereditário cabível à entidade familiar. (Alterado pela Deliberação nº 113/2019,
de 18/11/2019).
Já o item “e” possuiu uma incorreção com relação aos valores trazidos pela
Deliberação:
Art. 3º. Considera-se hipossuficiente, sob o aspecto econômico, toda pessoa
natural, nacional ou estrangeira, residente ou não no Brasil, que atenda,
cumulativamente, às seguintes condições: (Alterado pela Deliberação nº 113/2019, de
18/11/2019).
I - renda mensal individual não superior ao valor de 3 (três) salários mínimos
ou renda mensal familiar não superior a 4 (quatro) salários mínimos;
(Incluído pela Deliberação nº 113/2019, de 18/11/2019).
II - não seja proprietária, possuidora ou titular de direito sobre bens móveis,
de valor superior a 40 (quarenta) salários mínimos, ressalvados os
instrumentos de trabalho; (Incluído pela Deliberação nº 113/2019, de
18/11/2019).
III - não seja proprietária, possuidora ou titular de direito sobre aplicações
financeiras ou investimentos de valor superior a 40 (quarenta) salários
mínimos; (Incluído pela Deliberação nº 113/2019, de 18/11/2019).
IV - não seja proprietária ou possuidora de bens imóveis em valor total
superior a 300
(trezentos) salários mínimos. (Incluído pela Deliberação nº 113/2019, de
18/11/2019).

Não deixem de fazer a leitura da íntegra da Cartilha e mais perto da prova fazer
leitura completa da Lei Estadual que rege a DPE/MG.

.QUESTÃO 100 – Sobre os princípios e atribuições institucionais da Defensoria Pública,


assinale a alternativa que se encontra inconsistente, diante da legislação e a doutrina
atinentes ao tema:

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a) A Defensoria Pública tem por baliza de atuação a vulnerabilidade econômica


da pessoa, de modo que aquele que procura o atendimento da instituição deve
comprovar que não possui capacidade financeira para pagar as custas do
processo e um advogado particular sem comprometer seu próprio sustento e de
sua família.
b) A DPE-MG pode atuar, independente da comprovação da carência financeira,
em casos de pessoas indefesas em processos criminais ou infracionais, mulheres
em situação de violência doméstica e familiar, pessoa com deficiência (física,
mental, intelectual e sensorial), crianças e adolescentes ou ainda pessoas em
execução de pena.
c) Nos termos da Lei Complementar Estadual nº 65/03, compete ao Corregedor-
Geral da Defensoria Pública acompanhar a atuação do Defensor Público durante
o estágio probatório.
d) A LCE nº 65/03 prevê a remoção compulsória como espécie de penalidade a
ser aplicada quando a infração praticada pelo membro da Defensoria tornar
incompatível a sua permanência no órgão de atuação em que está lotado.
e) Conforme a LCE nº 65/03, o processo administrativo-disciplinar será
instaurado, em regra, por ato do Corregedor-Geral, e será confidencial, de
modo que as sanções disciplinares farão referência exclusivamente ao número
do processo, sem menção ao fato que lhe deu origem.

Gabarito: E
Comentários:

Nos estudos para princípios institucionais, sugerimos a leitura pré-prova das


normativas mais importantes da instituição: LC 80/94, LCE 65/03 e regimentos internos
sobre os órgãos e funcionamento da própria Defensoria Pública.

Os itens A e B foram elaborados com base na Cartilha “Critérios de


Atendimento pela Defensoria Pública de Minas Gerais”, divulgada pela própria DPE-
MG, em site oficial, tratando acerca das orientações à população sobre as normas
utilizadas para a prestação dos serviços da Instituição e quais os requisitos e
documentos precisam ser apresentados no momento do atendimento. Além dos
critérios e documentação necessária para o atendimento, a publicação apresenta
também informações importantes para que o serviço seja prestado.

Na questão abordamos também as competências do Corregedor-Geral. É


preciso ter muita atenção pois nas provas é comum a cobrança das competências,
misturando-as entre os órgãos da administração superior, como a Corregedoria e o
Conselho Superior, como fizemos.

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Abaixo vocês podem conferir todas as atribuições do Corregedor Geral, trazidas


na LCE 65/03.

LCE 65/03 Art. 34 – Ao Corregedor-Geral da Defensoria Pública compete:


I – realizar inspeções e correições funcionais nos Núcleos e nos serviços da Defensoria Pública e
remeter relatório reservado ao Conselho Superior;
II – sugerir ao Defensor Público Geral, fundamentadamente, o afastamento do Defensor Público que
esteja sendo submetido a correição, sindicância ou processo administrativo-disciplinar;
III – receber e processar representação contra Defensor Público e encaminhá-la, com parecer, ao
Conselho Superior;
IV – propor a instauração de processo administrativo-disciplinar contra Defensor Público e servidor
administrativo auxiliar e encaminhar a proposição ao Defensor Público Geral;
V – propor ao Conselho Superior, fundamentadamente, a suspensão do estágio probatório do Defensor
Público;
VI – acompanhar a atuação do Defensor Público durante o estágio probatório, mediante avaliação
permanente de seu desempenho;
VII – propor ao Conselho Superior, fundamentadamente, a confirmação do Defensor Público no cargo,
até sessenta dias antes do término do estágio probatório;
VIII – propor, fundamentadamente, a exoneração do Defensor Público em estágio probatório, com
base em avaliação especial, procedida por comissão constituída especificamente para esse fim;
IX – representar sobre verificação de incapacidade física, mental ou moral de membros da Defensoria
Pública;
X – integrar como membro nato o Conselho Superior da Defensoria Pública;
XI – baixar instruções, sem caráter vinculativo e no limite de suas atribuições, visando à regularidade e
ao aperfeiçoamento das atividades da Defensoria Pública, bem como à independência funcional de
seus membros;
XII – manter atualizados os assentamentos funcionais e os registros estatísticos de atuação dos
membros da Defensoria Pública, especialmente para efeito de aferição de merecimento, neles
devendo constar:
a) os pareceres da Corregedoria-Geral, inclusive o previsto no art. 52 desta lei complementar, e a
decisão do Conselho Superior sobre o estágio probatório;
b) as observações feitas em inspeções e correições;
c) as penalidades disciplinares aplicadas;
XIII – oferecer ao Conselho Superior da Defensoria Pública, quando da composição de listas tríplices
para promoção, os assentamentos sobre a vida funcional dos Defensores Públicos que satisfaçam o
requisito de interstício, assim como outras informações consideradas necessárias;
XIV – exercer outras atribuições que lhe forem cometidas pelo Defensor Público Geral ou pelo Conselho
Superior da Defensoria Pública;
XV – encaminhar ao Defensor Público Geral o processo administrativo disciplinar afeto à decisão deste;
XVI – apresentar, quando requisitado pelo Defensor Público Geral, relatório estatístico sobre as
atividades dos órgãos de atuação;
XVII – prestar ao Defensor Público informações de caráter pessoal e funcional, assegurando-lhe o
direito de acesso, retificação e complementação dos dados;
XVIII – requisitar informações, exames, perícias, documentos, diligências, certidões, pareceres técnicos
e informações indispensáveis ao bom desempenho de suas funções;
XIX – elaborar o regulamento do estágio probatório;
XX – propor ao Defensor Público Geral e ao Conselho Superior a expedição de instruções e outras
normas administrativas, sempre que necessário ou conveniente ao serviço;

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XXI – convocar Defensores Públicos para deliberação sobre matéria administrativa ou de interesse da
instituição;
XXII – desempenhar outras atribuições previstas em lei ou no Regulamento Interno da Defensoria
Pública.
Parágrafo único – As anotações que importem demérito serão lançadas no assentamento funcional,
após prévia ciência do interessado, permitindo-se a retificação, na forma prevista no art. 124 desta lei
complementar.

Os itens D e E giram na órbita do tema do processo administrativo-


disciplinar. Atenção aos artigos que elucidam a questão:

LCE 65/03
Art. 94 – A remoção compulsória será aplicada quando a infração praticada, por sua gravidade e
repercussão, tornar incompatível a permanência do membro da Defensoria Pública no órgão de
atuação em que está lotado.
Art. 112 – O processo administrativo-disciplinar poderá ser confidencial, a critério da autoridade
instauradora, e as sanções disciplinares farão referência exclusivamente ao número do processo, sem
menção ao fato que lhe deu origem.

Portanto, o item E traz afirmativa inverídica, pois conforme artigo 112 da


LCE o PAD PODERÁ ser sigiloso, a critério da autoridade instauradora. É um jogo de
palavras que faz toda a diferença numa prova objetiva.

Ufa! Encerramos nosso simulado! Nesse último mês pré-prova é muito


importante revisar pontos fundamentais de lei seca e intensificar a resolução de
questões, revendo os erros. Agradecemos imensamente pela confiança e por você nos
permitir participar da sua trajetória.

Com carinho,

Equipe Jus Impacto.

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