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INSPER
INSTITUTO DE ENSINO E PESQUISA

Mayra Correa dos Santos

HOLDING FAMILIAR:
PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO E PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO

SÃO PAULO
2016
2

Mayra Correa dos Santos

Holding Familiar:
Planejamento Sucessório e Proteção do Patrimônio

Monografia apresentada ao Programa de LL.C em


Direito Empresarial do Insper – Instituto de Ensino e
Pesquisa, como parte dos requisitos para a obtenção
do título de Pós-Graduação Lato Sensu em Direito.
Área de concentração: Direito Societário.
Orientadora: Pamela Gabrielle Romeu Gomes
Roque.

SÃO PAULO
2016
3

Santos, Mayra Correa

Holding Familiar: Planejamento Sucessório e Proteção do Patrimônio /


Mayra Correa dos Santos. São Paulo: Insper, 2016. 29 fls.

Monografia (LL.C em Direito Empresarial). Programa de Pós-Graduação


em Direito. Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. Orientadora: Pamela
Gabrielle Romeu Gomes Roque.

1. Holding Familiar; 2. Sociedade Familiar; 3. Proteção do patrimônio; 4.


Planejamento Sucessório; 5. Instrumentos Societários.
4

Mayra Correa dos Santos

Holding Familiar:
Planejamento Sucessório e Proteção do Patrimônio

Monografia apresentada ao Programa de LLC


em Direito Empresarial do Insper – Instituto de
Ensino e Pesquisa, como parte dos requisitos
para a obtenção do título de pós lato sensu em
Direito.
Área de concentração: Direito Societário
Orientadora: Pamela Gabrielle Romeu Gomes
Roque

BANCA EXAMINADORA

Prof. Pamela Gabrielle Romeu Gomes Roque


Orientadora
Instituição: Insper Assinatura: ________________________

Prof.
Instituição: Assinatura: ________________________

Prof.
Instituição: Assinatura: _________________________
5

RESUMO

As Sociedades Familiares representam uma importante parcela das sociedades. O


trabalho em questão tem como objetivo estudar e entender as peculiaridades do
planejamento sucessório através da instituição de uma Holding Familiar nesse
mundo fascinante das empresas familiares. A complexidade das relações afetivas, a
necessidade de proteção do patrimônio e planejamento tributário carecem de uma
ferramenta auxiliadora. A Holding Familiar estabelece uma administração corporativa
e uma unidade estratégica de negócio, evitando, portanto, a instalação de conflitos
internos e consequentes prejuízos para toda a família. Ao final do trabalho serão
apresentadas o resumo das características e o benefício estratégico da instituição
de uma Holding Familiar.

Palavras-chave: Holding Familiar, Sociedade Familiar, Proteção do Patrimônio,


Planejamento Sucessório, Instrumentos Societários.
6

ABSTRACT

Family Societies represent an important part of societies. This present work aims to
study and understand the peculiarities of corporate planning through the
establishment of a Family Holding in this fascinating world of family businesses. The
complexity of affective relationships, the need for heritage protection and the tax
planning needs a common tool. The Family Holding establishes a corporate
administration and a strategic business unit, therefore avoiding the installation of
internal conflicts and consequent damages for the whole family. The summary of the
characteristics and the strategic benefits of the Family Holding establishment will be
presented at the end of this work.

Keyword: Family Holding, Family Societies, Protection of assets, Succession


Planning, Corporate Actions.
7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8
1. EMPRESAS FAMILIARES .............................................................................. 10
1.1. Aspectos Gerais .............................................................................................. 10
1.2. A empresa familiar e sua importância na economia brasileira ......................... 12
1.3. Sucessão na Empresa Familiar ....................................................................... 13
2. HOLDING ........................................................................................................ 16
2.1. Origem e Conceito ........................................................................................... 16
2.1.1. Sociedade Simples ....................................................................................... 17
2.1.2. Sociedade Limitada ...................................................................................... 18
2.2. Classificações da Holding ................................................................................ 19
2.2.1. Holding Familiar ............................................................................................ 19
3. PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO E A HOLDING FAMILIAR ......................... 23
3.1. Aspectos Societários e Proteção do Patrimônio .............................................. 23
3.2. Aspectos Fiscais e Tributários ......................................................................... 25
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 27
REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 28
8

INTRODUÇÃO

O sistema das sucessões, previsto na Legislação Civil, na maioria das vezes não
atende as pretensões dos indivíduos. Desse modo, o planejamento sucessório,
apesar de um utensílio pouco utilizado, pode garantir uma partilha de bens que
melhor reflita a vontade final do interessado.

No âmbito das empresas familiares, maior ainda se revela a preocupação com a


sucessão. Segundo estudos, a sucessão é um ponto extremamente crítico nas
organizações familiares. Como afirma Bernhoeft:
A sucessão nas sociedades familiares é algo muito delicado, não
existindo lógica ou racionalidade que o resolva completamente.
Torna-se necessário um grande envolvimento de todas as partes
interessadas. O início das discussões e análise do tema deve ser
feito pelo próprio fundador. Assim, se o processo se inicia com ele
em vida, existem grandes possibilidades de sucesso, exigindo muito
desprendimento e capacidade de entender que a obra e seus ideias
devem ultrapassar sua existência.1

A transmissão dos bens aos herdeiros é normalmente cercada de controvérsias e


impasses por diversos motivos. Os herdeiros que prestaram assistência aos pais na
velhice entendem que devem receber uma maior parte dos bens. De igual modo, os
herdeiros que trabalharam com o responsável pela herança, pretendem receber
maior número de quota/ações entre diversas outras discussões que nascem nesse
momento tão delicado.

Com a estruturação de um planejamento, antes do falecimento, nascem inúmeras


vantagens ao testador e aos seus herdeiros, é uma saudável preocupação com o
futuro.
Assim sendo, a formação das Holdings tem se mostrado uma ferramenta insuperável
em planejamento, soluções societárias e controle.

As circunstâncias atuais, sociais, de mercado e as pressões fiscais também indicam


que não é a hora de se adotar atitudes impensadas.
A Holding, diante deste cenário, assume o papel para proteção do grupo e do
planejamento bem-executado.

O presente trabalho é constituído de três capítulos com estrutura e conteúdo bem


definidos que visam otimizar o entendimento e principalmente facilitar a aplicação do
instituto pelos leitores.

1
BERNHOEFT, 1996, apud, LEONE, Nilda Maria de Clodoaldo Pinto Guerra. Sucessão na Empresa Familiar. São
Paulo. Atlas, 2005. p. 41.
9

O Capítulo 1 apresenta um panorama geral das Empresas Familiares, os principais


desafios enfrentados por este tipo de sociedade, sua importância na economia
mundial e brasileira e os aspectos delicados e conflitos da sucessão que são
enfrentados.
O Capítulo 2 aborda o tema Holding, desde seu desenvolvimento, conceitos básicos
até sua efetiva aplicação como ferramenta ao planejamento sucessório.

O Capítulo 3 evidencia o planejamento sucessório, seus aspectos sucessórios, de


proteção ao patrimônio, fiscais e tributários com a constituição de uma Holding
Familiar, esclarecendo conceitos e aplicações das holdings dentro do campo familiar
empresarial.

Ao final, será apresentado resumo dos principais temas abordados durante o


trabalho e a consolidação do entendimento acerca da estratégia e benefícios com a
utilização da Holding Familiar.
10

1. EMPRESAS FAMILIARES

1.1. Aspectos Gerais

O objetivo deste capítulo é mergulharmos no mundo das empresas familiares, quais


são as peculiaridades existentes em sua forma de administração, seus principais
aspectos e como acontece a gestão corporativa. Para, superada essa etapa,
abordarmos as empresas familiares na forma de uma Holding Patrimonial.

De acordo com Bornholdt, 75% das empresas familiares estão sob o comando dos
fundadores, 20% delas encontram-se sob a gestão dos filhos dos fundadores
(primeira geração) e apenas 5% sob o controle das gerações seguintes.2
Na medida em que os espaços e as diferenças entre o "velho" e o "novo" vão se
estreitando, é importante criar regras claras, cuja implantação e o desenvolvimento
possam ocorrer ao longo do tempo.3

Considera-se uma empresa familiar quando um ou mais dos fundamentos abaixo


podem ser identificados numa organização ou grupo de empresas, vejamos: (a) o
controle acionário pertence a uma família e/ou a seus herdeiros; (b) os laços
familiares determinam a sucessão no poder; (c) os parentes se encontram em
posições estratégicas, como na diretoria ou no conselho de administração; (d) as
crenças e os valores da organização identificam-se com os da família; (e) os atos
dos membros da família repercutem na empresa, não importando se nela atuam; e
(f) ausência de liberdade total ou parcial de vender suas participações/quotas
acumuladas ou herdadas na empresa.4

A empresa familiar, de antemão, recebeu o estigma de incompetência por possuir


uma organização informal, confusa e incompleta, utilizando-se da confiança pessoal
em prejuízo da competência, nepotismo, acarretando na impossibilidade de
profissionalização.5

Todavia, apesar das características acima que identificamos em diversas empresas,


não só em empresas familiares, a sociedade familiar é, sem dúvidas, uma das mais
antigas formas de sociedades. Como se pode constatar, pelo menos no Brasil, a
forma mais comum, prática e simples de se empreender.

Contudo, a sobrevivência da empresa familiar parece vincular-se à capacidade da


família controladora em administrar as suas relações com a firma e evitar as

2
BORNHOLDT, Werner. Governança na empresa familiar. Porto Alegre: Bookman, 2005. p. 5.
3
Ibidem, p. 45
4
Ibidem, p. 34.
5
LEONE, Nilda Maria de Clodoaldo Pinto Guerra. Empresa Familiar: desvendando competências,
racionalidades e afetos. São Paulo: Atlas, 2010. p. 17.
11

situações que possam prejudicá-la, principalmente nas fases da sucessão do


controle estratégico da organização.6

Além da complexidade nas relações interpessoais dos sujeitos que integram uma
empresa familiar, também existe a questão da garantia de sobrevivência da empresa
no mercado globalizado, o que com a modificação dos mercados, torna-se cada vez
mais difícil. Todavia, é notório a força de algumas empresas familiares na economia
global – tema que será abordado no próximo tópico.
Para Bornholdt os pontos fortes da organização familiar no país são: (a)
proximidades entre a empresa e o centro do poder; (ii) possibilidade de decisões
ágeis; (iii) conhecimento das características do país; (iv) facilidade para implantar
mudanças estruturais; e (v) agilidade para estabelecer parcerias tecnológicas.7

De igual modo, conforme preceitua Ricca, os pontos fortes são: (a) carisma do
fundador; (b) rapidez de decisão; (c) lealdade e obediência dos empregados à
tradição e cultura empresarial muito forte; (d) nome do fundados como um símbolo;
(e) se a figura do dono é um exemplo, a empresa como um todo cria valores
consentâneos com os do fundados (...).8

Assim sendo, as empresas familiares possuem características próprias que as


distinguem fortemente das demais e as tornam únicas.

Todas as características da família tendem a se reproduzir no sistema empresarial,


como os laços familiares, cultura familiar, dedicação muitas vezes integral de seus
integrantes, respeito pela história e desejo de conservar para as próximas gerações,
etc.

Percebe-se o quão importante é a presença de uma boa gestão corporativa nas


empresas familiares, com a implantação de regras de convivência, limites entre os
integrantes, profissionalização e integração das próximas gerações, definição de
uma cultura organizacional e especialmente respeito em relação às crenças e
valores.

Este sistema tende a evitar diversos conflitos, prejuízos afetivos e financeiros,


fortificando a sociedade familiar e desmistificando a visão das pessoas sobre uma
sociedade frágil e complexa.

A imagem de empresa familiar não pode ser mais associada à imagem tradicional
de gestão patriarcal ou matriarcal de negócios. Atualmente existem grupos e
empresas familiares que tem uma estrutura financeira e de gestão altamente
profissional.9

6
CASTRO; MORAIS; CRUBELLATE, 2001, apud LEONE, Nilda Maria de Clodoaldo Pinto Guerra. Empresa
Familiar: desvendando competências, racionalidades e afetos. São Paulo: Atlas, 2010. p.18.
7
BORNHOLDT, 1990, apud LEONE, Nilda Maria de Clodoaldo Pinto Guerra. Sucessão na Empresa Familiar:
preparando as mudanças para garantir sobrevivência no mercado globalizado. São Paulo: Atlas, 2005. p.12.
8
Ibidem, RICCA, 1998, apud LEONE, p.13.
9
Ibidem, p. 16.
12

1.2. A empresa familiar e sua importância na economia brasileira

Oliveira dispõe que as empresas familiares correspondem a (i) mais de 4/5 da


quantidade das empresas privadas brasileiras; (ii) respondem por mais de 3/5 da
receita; (iii) correspondem a 2/3 dos empregos quando se considera o total das
empresas privadas brasileiras; e (iv) 1/5 das empresas familiares tem apresentado
sérios problemas de sucessão.10

Deste cenário presume-se que a empresa familiar é crucial para o Brasil e seu
desenvolvimento econômico, contudo enfrenta um obstáculo para seu
desenvolvimento que é a sucessão.

De acordo com uma pesquisa realizada em mais de 30 (trinta) países pela


PricewaterhouseCoopers (PWC), restou demonstrado que as empresas familiares
têm uma importante contribuição a dar para as sociedades onde estão inseridas.
Além disso, foi identificado que para essas sociedades crescerem, além de superar
conflitos inerentes ao seu próprio modelo de negócios é de suma importância que os
governos ofereçam apoio, que pode variar de uma política fiscal mais construtiva aos
programas de treinamento para implementação de Governança Corporativa.11
Figura 1 – Gráfico o Governo reconhece a importância da empresa familiar?

Fonte: Pesquisa sobre Empresas Familiares, PwC. (2012)

10
OLIVEIRA, 1999, apud, LEONE, Nilda Maria de Clodoaldo Pinto Guerra. Sucessão na Empresa Familiar:
preparando as mudanças para garantir sobrevivência no mercado globalizado. São Paulo: Atlas, 2005. p. 23.
11
Disponível em: < http://www.pwc.com.br/pt/10minutes/assets/10-min-empresas-familiares-13.pdf >.
Acesso em 23 nov.2016.
13

Assim sendo, percebe-se que a empresa familiar tem papel fundamental não só na
economia brasileira, como mundial.
Todavia, como se pode constatar não são todos os países que as empresas
familiares recebem este reconhecimento. De toda sorte, se observarmos no geral,
as empresas familiares vêm cativando o seu espaço e prosperando na economia
global.
Nota-se, portanto, um contexto positivo para as empresas familiares. Analisando
todos os aspectos na economia brasileira, a empresa familiar no Brasil é realmente
reconhecida, somente carece de incentivos do Governo, são eles de natureza fiscal
e tributária, formação de profissionais, investimentos, treinamento em Governança
Corporativa e Sucessão que são pontos essenciais para a sobrevivência de uma
empresa familiar e crescimento estratégico.

1.3. Sucessão na Empresa Familiar

O Direito das Sucessões encontra-se disciplinado no Código Civil Brasileiro (CC). O


tema é tratado no Livro V, Título I (da sucessão em geral); Título II (da sucessão
legítima); Título III (da sucessão testamentária) e Título IV (do inventário e da
partilha), de acordo com os artigos 1.784 a 2.027.12
Em geral, as empresas mais afetadas em um processo de sucessão são as
pequenas e médias empresas.
Segundo Leone e Sousa, a problemática do processo sucessório tem sido mais
estudada nas empresas familiares, o processo sucessório atinge as empresas
quando uma geração abre espaço à preparação da outra para assumir o comando. 13
Entende-se que a sucessão é crucial para uma empresa familiar. Para amenizar as
empresas vem investindo em governança empresarial e, inclusive, estabelecendo
diretrizes que ajudam a perpetuar o negócio.
Para muitos a falta de planejamento sucessório é fonte de conflitos. Quando a
sucessão é bem planejada evita uma série de problemas, como lista COHN:
 Membros qualificados da família desligam-se dos negócios por
nunca terem tido a oportunidade de utilizar sua qualificação na
empresa;
 Filhos e empregados mal preparados para o papel da liderança;
 Proprietário que não tem a devida percepção das opções
disponíveis;
 Proprietário que não deseja abrir mão do controle; e

12
BRASIL, Lei 10.406 de 10 de Janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm> Acesso em 26 out. 2016
13
LEONE e SOUSA, 1993, apud, LEONE, Nilda Maria de Clodoaldo Pinto Guerra. Sucessão na Empresa Familiar:
preparando as mudanças para garantir sobrevivência no mercado globalizado. São Paulo: Atlas, 2005. p. 41.
14

 Família que sofre significativa perda financeira, não em virtude de


tributação, mas de falta de planejamento.14

Para que isso não ocorra, a Governança Corporativa assume o papel, como uma
espécie de salvação para tentar minimizar tais conflitos, buscando a transparência
nas relações familiares através de métodos de planejamento e supervisão.
É claro que quando falamos de sucessão não existe formula mágica para que isso
aconteça e dê certo em 100% (cem por cento) dos casos, mas destaca-se alguns
pontos que devem ser estudados nos sucessores, tais como qualificação técnica,
postura de liderança, respeito, confiança e claro o interesse singular do indivíduo.
A mudança de gestão deve ser planejada, preparada e implantada com cautela, a
fim de que mudança de geração não coloque em perigo a empresa.15
De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
(SEBRAE), os herdeiros devem ser conscientizados de que não herdaram uma
empresa, mas uma sociedade composta por pessoas que não se escolheram. Desta
feita, é imprescindível separar os conceitos de familiar, propriedade e empresa e o
clima de diálogo deve estar presente para tratar os conflitos já existentes e os que
podem surgir. 16
Em seguida, o mesmo artigo lista algumas variáveis que afetam o processo de
sucessão e que tem forte tendência a ser tornarem conflitos:
Quem será o novo responsável pelo comando da empresa?
Quando acontecerá a transição?
Como será o processo de sucessão?
Quem pode e quem não pode fazer parte da empresa?
Qual o limite para a admissão de membros da família na empresa?
Como será exercida a autoridade?
Que preparação será necessária para o processo de transição?
O que será feito, se o processo sucessório não for bem-sucedido?
Quem pode possuir cotas da empresa?
Como serão avaliados e pagos os membros da família?
O que acontecerá em caso de divórcio ou falecimento?
Que responsabilidades há em relação à comunidade?
Que responsabilidades há em relação aos funcionários mais
antigos?
Que responsabilidade há em relação aos outros membros da
família?17

Nota-se, portanto, que várias das questões indicadas acima, podem ser facilmente
eliminadas com um diálogo das partes, planejamento, treinamento e

14
COHN, 1991, apud, LEONE, Nilda Maria de Clodoaldo Pinto Guerra. Sucessão na Empresa Familiar:
preparando as mudanças para garantir sobrevivência no mercado globalizado. São Paulo: Atlas, 2005.
p. 51.
15
Ibidem. p.53.
16
Disponível em: < https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/e-importante-planejar-a-sucessao-
na-empresa-familiar,d5e89e665b182410VgnVCM100000b272010aRCRD >. Acesso em 24 nov.2016
17
Ibidem. Acesso em 24 nov.2016
15

acompanhamento da sociedade por seus sucessores, se eventualmente já estiverem


definidos.
Nos Estados Unidos, estima-se que 30% das empresas familiares sobrevivem à
mudança para a segunda geração, cerca de 12% passam para a terceira geração e
apenas 3% passam para a quarta geração. No Brasil, os números são parecidos e
apenas 5% das empresas familiares têm chegado à terceira geração.18

Muitos ainda entendem que esse tipo de estruturação com a implantação de


Governança Corporativa pertence apenas a grandes empresas. Entretanto, este
entendimento tem se mostrado cada vez mais desatualizado.

Um bom exemplo é a criação de um conselho. Empresa familiares que incorporam


o conselho de família em sua estrutura se antecipam e resolvem de forma
transparente os temas que podem levar a eventuais conflitos, discutindo posições de
consenso para todos.

Conclui-se, portanto, que o ciclo de vida da empresa está intimamente ligado a


sucessão, capacitar e profissionalizar os jovens que demonstram interesse e
empreendedorismo para assumirem uma posição de gestão e liderança é a
estratégia para garantir a sobrevivência da empresa, bem como a implantação do
sistema de Governança na Empresa Familiar.

18
Conforme: CHEHAB, Eduardo. Por que tão poucas empresas familiares conseguem chegar à segunda
geração? . 2011. Disponível em: http://www.ibefsp.com.br/artigos/por-que-tao-poucas-empresas-familiares-
conseguem-chegar-a-segunda-geracao/ >. Acesso em: 25 nov. 2016.
16

2. HOLDING

2.1. Origem e Conceito

A palavra Holding tem sua origem da expressão holding, do verbo do idioma inglês
to hold, que significa manter, controlar ou guardar.
Os objetivos de uma Holding são diversos, tais como (i) representação institucional
do grupo; (ii) administradora dos interesses de seus sócios ou acionistas; (iii) sócia
ou acionista das coligadas e controladas do grupo; (iv) coordenadora de investimento
do grupo; (v) prestadora de serviços às empresas do grupo; e (vi) gerenciadora de
interesses societários internos.19
A holding teve seu início há mais de 20 anos nos Estados Unidos por grande
influência de uma entidade financeira, onde a visão antiga considerava a palavra
sinônimo de delito econômico e fraude.20
Com o passar dos anos, o entendimento supracitado foi se modificando. Convém
destacar o entendimento de LODI21 sobre o tema:
Enquanto as empresas, chamadas operadoras estão preocupadas
com o mercado em que atuam, com as tendências do cliente, com a
concorrência e com outros problemas externos, a holding tem uma
visão voltada para dentro. Seu interesse é a produtividade de suas
empresas controladas e não o produto que elas oferecem. A holding
como empresa controladora tem como meta principal a rentabilidade.
A ela não compete saber o que se faz, mas sim se faz o melhor e
mais rentavelmente.

O surgimento da holding se deu no Brasil em 1976 com a Lei nº 6.404, a Lei das
Sociedades Anônimas, como é o caso do artigo 2º, § 3º que ordena:

Art. 2º Pode ser objeto da companhia qualquer empresa de fim


lucrativo, não contrário a lei, à ordem pública e aos bons costumes.
§ 3º A companhia pode ter por objeto participar de outras sociedades;
ainda que não prevista no estatuto, a participação é facultada como
meio de realizar o objeto social, ou para beneficiar-se de incentivos
fiscais.22

Apesar de não existir previsão expressa na Lei 6.404/76, a holding pode ser
constituída na forma de EIRELI - Empresa Individual de Responsabilidade Limitada,
Sociedade Limitada, Sociedade Anônima e Sociedade Simples, cuja discussão
doutrinaria para essa última hipótese vem se pacificando com o decorrer dos anos.
19
Conforme: LODI, João Bosco et al. Holding. 3. Ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004. p. 55.
20
Ibidem. Conforme: LODI, João Bosco et al. p. 2.
21
Ibidem, p.1.
22
BRASIL, Lei nº 6.404, de 15 de Dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6404consol.htm>. Acesso em 25 out. 2016.
17

Sendo assim, o tipo societário adotado não altera a sua característica nem
compromete a sua finalidade, tampouco diferencia o tratamento fiscal da holding.
Usualmente, utiliza-se para as holdings familiares a forma de Sociedade Limitada.

2.1.1. Sociedade Simples

Antes de mais nada, cabe destacar que o Código Civil, como regra geral, classifica
as sociedades de duas formas, são elas: (i) as sociedades empresárias e as (ii) as
sociedades não empresarias, conforme art. Art. 982 do Código Civil23:
Art. 982 - Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a
sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de
empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais.
Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se
empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa.

A sociedade empresária é aquela que tem natureza econômica, cujo objeto é a


produção ou a troca de bens ou serviços. Já as Sociedades Simples são constituídas
com a finalidade da prestação de serviços decorrentes de atividade intelectual e de
cooperativa.
Desta feita, a diferença de uma sociedade simples para empresária não se identifica
apenas na aferição de lucro. A caracterização como sociedade simples ou
empresária será o modo de exploração do objeto da sociedade. O objeto exercido
sem organização profissional confere à sociedade o caráter simples, enquanto a
exploração do objeto caracterizará a sociedade como empresária.
É por este motivo que há uma discussão doutrinaria acerca do tema para a
constituição de uma Holding como Sociedade Simples.
Alguns autores entendem que não há qualquer limitação ou determinação sobre a
natureza jurídica de uma Holding, que, em tese podem possuir a natureza simples
ou empresária e, dependendo do tipo societário que escolham, poderão ser
registradas perante a Junta Comercial ou perante o Cartório de Pessoas Jurídicas.
De outro lado, outros autores entendem que devido a atividade econômica destinada
à produção de bens e serviços impediria a classificação como este tipo de sociedade.
Ainda, existe a questão do controle societário que não se confunde com as atividades
de cunho intelectual, praticada por profissionais liberais.

23
BRASIL, Lei 10.406 de 10 de Janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 10 nov. 2016
18

2.1.2. Sociedade Limitada

Conforme descreve COELHO24, a Sociedade Limitada é o tipo societário de maior


presença na economia brasileira. Introduzida no nosso direito em 1911, ela
representa hoje mais de 90% das sociedades empresarias registradas nas Juntas
Comerciais.
A Limitada é disciplinada pelos artigos 1.052 a 1.087 do Código Civil. Todavia, outros
diplomas legais são aplicáveis as Sociedades Limitadas, inclusive pela Lei das
Sociedades Anônimas. Para isso acontecer, os sócios precisam dispor em cláusula
expressa no Contrato Social que na hipótese de omissão da lei especifica, será
aplicada a Lei das Sociedades por Ações.
Nela os sócios se responsabilizam pelo valor de suas quotas. Em situações
peculiares também podem responder com seu patrimônio particular, de forma
solidária, quando a totalidade das quotas não houver sido integralizada ao Capital
Social.
A maior de suas características é a contratualidade. A relação entre os sócios passa
a ser mais estreita e pautar-se nas disposições de vantagens destes com maior
margem para negociações.25

O Contrato Social deve ser minuciosamente elaborado para evitar dissabores,


principalmente na alienação dos bens, se houver.
Refletindo acerca da constituição de uma Holding Familiar, os vínculos pessoais
estão sempre em destaque, considerando que o Contrato Social geralmente
favorece a permanência das quotas na família através da transmissão para os
herdeiros e de restrições à transmissão para terceiros.
Além disso, notadamente a Holding traz algumas faculdades em relação a Sociedade
Anônima, como a faculdade de constituição de um Conselho Fiscal, conforme
preceitua o art. 1.066 do Código Civil.26

Seguindo o mesmo discurso, observa-se também que não há os mesmos rigores ou


balizamentos próprios do regime legal das Sociedades Anônimas.
No momento da constituição utilizando-se a Sociedade Limitada, os sócios deverão
ser no mínimo, duas pessoas, não há especificação legal de que sejam pessoas
físicas ou pessoas jurídicas. De outro lado, para as Sociedades Anônimas, existe

24
COELHO, Fabio Ulhôa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 24ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2012,
p.186.
25
Ibidem, p. 186.
26
BRASIL, Lei 10.406 de 10 de Janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em 10 nov. 2016
19

uma norma que determina que existam duas pessoas fiscais, no mínimo, para a
gerencia e que outros sócios poderão ser pessoas jurídicas. 27

São por alguns desses motivos que a Sociedade Limitada se mostra mais vantajosa
para constituição de uma Holding. A praticidade encontrada na Sociedade Limitada
se assemelha com o escopo da Holding.

2.2. Classificações da Holding

As holdings têm diversas classificações doutrinárias e estruturais, são elas: de


controle, de participação, de administração, patrimonial, imobiliária. Contudo, a mais
relevante é a definição de holding pura ou mista.
Conforme preceitua Bulgarelli, a holding pode ser pura (quando seu objeto único é o
controle de outra sociedade) ou mista (quando se dedica também a uma atividade
empresarial).28
A holding pura pode ser definida como uma sociedade que os exercícios e objetos
principais são a alienação, titularidade, aquisição e controle de participação
societárias. Os escopos mencionados são exercidos de forma regular e estritamente
adequada, vez que a holding os utiliza como atividade principal.
De outro lado, a holding mista é aquela que exerce participação e atividade
empresarial. No Brasil este tipo de holding é o mais utilizado.

2.2.1. Holding Familiar

Por ser o tema objeto do trabalho em comento tratar-se-á especificamente da


Holding Familiar, mesmo porque é a espécie mais difundida e conhecida, em função
da sua grande utilidade na concentração patrimonial, facilitação na sucessão
hereditária e na administração dos bens.
A holding familiar não é um tipo específico, considerando que pode se enquadrar
como uma holding pura ou mista. O que a diferencia é a formação exclusiva por
membros da família. A holding familiar possui entre outras características obedecer
ao planejamento desenvolvido, organização de patrimônio, administração de bens,
otimização fiscal e sucessão hereditária.
Ultimamente nota-se que os idosos estão cada vez mais longevos e os jovens mais
produtivos cada vez mais cedo e encontra-se na constituição de uma holding um
espaço para diálogo das gerações.29

27
Conforme: LODI, Edna Pires; LODI, João Bosco. Holding. 3. Ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004.
p. 16.
28
BULGARELLI, Waldirio. Manual das Sociedade Anônimas. 13 Ed. São Paulo: Atlas, 2001. p. 299.
29
Conforme: LODI, Edna Pires; LODI, João Bosco. Holding. 3. Ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004.
p. 63.
20

A holding pode facilitar o planejamento, a organização, o controle e também


proporcionar a pessoa/família a possibilidade de melhor distribuir em vida seu
patrimônio, sem ficar privado de seu efetivo e amplo processo administrativo. Nesse
contexto, que temos há influência significativa no processo sucessório.30
A holding familiar é constituída por bens de seus integrantes e torna-se um aliado da
reestruturação patrimonial, considerando que mantém os bens no âmbito da família.
Não se confunde com pacto entre sócios, pois trata-se de uma nova pessoa jurídica.
Entre suas vantagens, lista-se a (i) proteção do patrimônio familiar, (ii) gestão dos
ativos com benefícios fiscais, como no processo sucessório com a diminuição do
imposto de transmissão causa mortis.
É a popularmente denominada "Blindagem" do Patrimônio, o auxílio para
conservação financeira e familiar.

Na atual conjuntura econômica do Brasil, as pessoas físicas buscam cada vez mais
proteger o seu patrimônio de quaisquer ações que possam deprecia-lo.

Na holding familiar, todos os herdeiros, junto com seus pais, são colocados na
mesma condição: sócios.31
Na maioria dos casos para melhor estruturar a Holding Familiar é elaborado
Contrato/Estatuto Social, a depender do tipo societário escolhido, seguido de acordo
de acionistas, com a finalidade de regular questões como direito de voto,
administração, entrada e saída de sócios etc. Desse modo, em caso de discórdias,
a votação decidirá sobre os caminhos a serem seguidos na empresa, rejeitando a
emoção dos membros e agindo como pessoa jurídica, evitando, portanto, que as
empresas sejam afetadas.

Ainda, na hipótese de falecimento de um dos sócios, única e exclusivamente a


participação societária referente ao de cujus será transmitida aos sucessores.

30
OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças. Holding, administração corporativa e unidade estratégica de negócio:
uma abordagem prática. São Paulo: Atlas, 1995. p. 19.
31
Conforme: RYZEWSKI, Juliano. Holding Familiar. Disponível em:
http://revistavisaojuridica.uol.com.br/advogados-leis-jurisprudencia/99/artigo323905-1.asp. Acesso em 03
nov. 2016.
21

Conforme expõe LODI, existem 04 (quatro) pontos que sustentam o bom negócio.
Os documentos utilizados são32:

Figura 2 – Gráfico a Tranquilidade da Empresa Familiar

Fonte: LODI (2004).

1. O Acordo Societário: De acordo com o autor, a peça jurídica em comento


é de suma importância e explorada de forma constante pelas Sociedades
Limitadas. Detalhes como pessoas envolvidas, relacionamentos no momento
do voto, entrada e condições da entrada da sociedade, são exaustivamente
debatidos e, de igual forma, as regras de comportamento societário. 33

2. Holdings Familiares: Conforme preceitua LODI, a Holding é um instrumento


que auxilia na preservação do patrimônio de forma cuidadosa. Muitas vezes, a
transformação dos imóveis em quotas, por exemplo, desestimula a criação de
disputas entre os familiares.34
Além disso, dispõe que a instituição da Holding proporciona uma gestão
compartilhada, onde os sócios da primeira geração oferecem lugares aos da
segunda geração e assim também evita-se adotar decisões solitárias,
especialmente em relação as questões de cunho financeiro.35

Ainda, importante destacar, outras muitas vantagens como a questão do bem


comum, imposto de transmissão conhecido por onerar excessivamente a
sucessão que será abordado em capitulo próprio no decorrer do trabalho, e que
neste caso poderá resguardará o patrimônio familiar, as participações

32
LODI, Edna Pires; LODI, João Bosco. Holding. 3. Ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004. p. 78.
33
Ibidem, p. 78.
34
Ibidem, p. 78-86
35
Ibidem, p. 78-86
22

societárias não serão mais pulverizadas, planejamento tributário, os negócios


terão um só comando profissionalizado por meio de conselho, o ônus e o lucro
também pertencerão a todos, entre outras.36

3. Desenvolvimento e Preparação: O autor esclarece que os sócios precisam


ter preparação para se tornarem sócios participativos e criativos para em
momento futuro não ignorância sobre a situação da sociedade. Ainda, destaca
que ainda lhe espanta a falta de sistematização quando se fala de filhos os ou
parentes. Do pilar indicado supra é o que necessita de grande reforço.37

4. Testamento: O testamento quando bem elaborado com justiça e bom senso


é um elemento de segurança no momento da sucessão. Desta feita, destaca-
se sua grande importância. 38

Feitas as considerações acima, percebe-se o quão importante são esses 04


pontos citados por LODI. Pontos que trazem segurança, tranquilidade e
principalmente transparência no momento da sucessão do negócio, em
especial para a Holding.

De acordo com diversos estudos que têm sido desenvolvidos, a questão da


sucessão é ponto crítico nas empresas familiares. Para isso, a sugestão é que
uma boa governança empresarial, com destaque para os instrumentos
referenciados acima, em destaque para a Holding Familiar, assume papel
crucial e relevante, auxiliando na resolução dos conflitos.39

36
Conforme: LODI, Edna Pires; LODI, João Bosco. Holding. 3. Ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004.
p. 78-86
37
Ibidem, p. 78-86.
38
Ibidem, p. 78-86.
39
LEONE, Nilda Maria de Clodoaldo Pinto Guerra. Sucessão na Empresa Familiar: Preparando as mudanças
para garantir sobrevivência no mercado globalizado. São Paulo: Atlas, 2005. p. 41.
23

3. PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO E A HOLDING FAMILIAR

3.1. Aspectos Societários e Proteção do Patrimônio

O planejamento sucessório é o procedimento pelo qual a família utiliza-se


instrumentos que permitem a manutenção duradoura, governável e coerente do
patrimônio.
No âmbito das sucessões, as Holdings são um instrumento conhecido por proteger
o patrimônio e auxiliarem no planejamento sucessório.
Quando constituída uma Holding, o sucedido transferirá para a sociedade seu
patrimônio, que será convertido em quotas. Nesta etapa, as regras de divisão e
transmissão das quotas aos sucessores são definidas, considerando que admite a
possibilidade de doação com reserva de usufruto, tornando-se o patriarca um
usufrutuário.

Desta feita, com o falecimento do sucedido, o controle do patrimônio e financeiro já


estará na Holding, que prosseguirá com a administração nos moldes previamente
estabelecidos por ele.

Assim sendo, o desgaste emocional dos sucessores com disputas judiciais de posse
e administração do patrimônio, será evitado e no caso da Holding Familiar, este
ponto é decisivo para evitar o desgaste dos laços familiares e, inclusive,
prosseguimento da sociedade de forma saudável.

Ainda, o sucedido poderá acrescentar cláusulas para evitar a dissolução dos bens,
visando a proteção do patrimônio.

De acordo com VISCARDI, a doação de quotas com reserva de usufruto é o


mecanismo que determinará a divisão do patrimônio entre os herdeiros e por
consequência conforme cláusulas de restrições, não permitirá a dilapidação do
patrimônio a curto e médio prazo.40

Ainda preceitua o autor sobre o tema, as quotas doadas aos herdeiros serão
gravadas com as cláusulas de inalienabilidade, incomunicabilidade,
impenhorabilidade e reversão.41

A cláusula de inalienabilidade possui a função primordial instituir sobre as quotas


doadas uma vedação aos herdeiros, uma vez que ficarão impedidos de alienar as
quotas recebidas. Com a previsão da cláusula de inalienabilidade no contrato social,

40
VISCARDI, Diego. Holding Patrimonial: As Vantagens Tributárias e o Planejamento Sucessório. JurisWay,
São Paulo, 2016. Disponível em: < http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=12303>. Acesso em 23
nov.2016.
41
Ibidem. Acesso em 23 nov.2016.
24

automaticamente o patriarca estará gravando as quotas também com


incomunicabilidade e impenhorabilidade. Essa regra está presente no artigo 1.911
do Código Civil.42

A cláusula de incomunicabilidade é caracterizada por proteger as quotas doadas de


futuros casamentos, uma vez que gravadas com incomunicabilidade as quotas
recebidas pelos herdeiros serão exclusivamente de sua propriedade, não se
comunicando em um futuro divórcio, mesmo que o herdeiro seja casado sob o regime
da comunhão universal de bens.43

Quanto a cláusula de impenhorabilidade tem como principal escopo proteger as


quotas da sociedade de futuros processos em que os herdeiros, ou a própria
sociedade venha a ser devedores, protegendo desta maneira a penhorabilidade das
quotas. Entretanto é importante destacar que a cláusula de impenhorabilidade
protegerá somente as quotas de eventuais penhoras. De outro lado, os lucros e
dividendos recebidos pelos herdeiros não existe nenhuma proteção e poderão o ser
objetos de penhora sem nenhuma objeção. Essa regra encontra base no artigo 1.026
do Código Civil.44

E em relação a cláusula de reversão deve estar expressamente prevista no Contrato


Social, pois em caso de ocorrer a morte de um dos herdeiros antes do patriarca, as
quotas pertencentes ao herdeiro falecido retornaram a ser de propriedade do doador
sem nenhum ônus. O Código Civil em seu artigo 547 enaltece essa regra. 45

Portanto, a Holding Familiar se apresenta como um instituto jurídico extremamente


eficiente para planejamento sucessório e planejamento patrimonial que estão
intimamente ligados. Busca-se um planejamento eficiente, visando desonerar e
facilitar a sucessão, garantindo, inclusive, a segurança, continuidade dos negócios,
gestão e prevenção a fraudes.

Ainda, quando se compara o prazo estimado do Inventário que é de 05 (cinco) anos


e o tempo para criação da Holding que é estimado em 30 (trinta) dias, compreende-
se exatamente o quão vantajoso é a criação desse instituto. A otimização do tempo
e custo são dois aliados para atuação e consolidação da sociedade.

42
Conforme: VISCARDI, Diego. Holding Patrimonial: As Vantagens Tributárias e o Planejamento Sucessório.
JurisWay, São Paulo, 2016. Disponível em: < http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=12303>. Acesso
em 23 nov.2016.
43
Ibidem. Acesso em 23 nov.2016.
44
Ibidem. Acesso em 23 nov.2016.
45
Ibidem. Acesso em 23 nov.2016.
25

Por fim, para auxiliar no entendimento dos pontos elencados no capitulo, apresenta-
se abaixo, o processo de constituição de uma Holding Familiar e a continuidade com
a morte do sucedido e o inventário, vejamos:

Figura 3 – Constituição da Holding Familiar

Fonte: MAMEDE (2014, p. 87)46

3.2. Aspectos Fiscais e Tributários

Quando pensamos em Brasil, verifica-se que o planejamento tributário assume


elevada importância, tendo em vista a atual fase econômica de dificuldades,
associada com elevados níveis de exigibilidade fiscal, que configura alta pressão
tributária sobre a atividade econômica privada.47
De acordo com Caron, a empresa pode ser organizada de forma a evitar excessos
de operações tributadas e, consequentemente, minimizar a ocorrência de fatos
geradores para ela e perante a lei desnecessários, e também funcionar por
modalidades legais menos tributadas. Fica ao contribuinte a faculdade de escolha
de seu planejamento fiscal. 48

46
MAMEDE, Gladston et al. Holding Familiar e suas Vantagens.6 ed. São Paulo: Editora Atlas, 2014.p. 87.
47
OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças. Holding, administração corporativa e unidade estratégica de negócio:
uma abordagem prática. São Paulo: Atlas, 1995. p. 30.
48
Ibidem, CARON, 1987, apud, OLIVEIRA. p. 30.
26

O planejamento tributário de uma holding é, do ponto de vista geral, conciso e


diligente que contribui para redução de custos, redução dos encargos fiscais e
otimização operacional das atividades da Holding com os órgãos públicos.

Figura 4 – Vantagens da Holding Familiar em relação aos inventários

Fonte: Orsi & Barreto Consultoria Empresarial49

Note-se que a desoneração tributária no aspecto da sucessão incide no Imposto


sobre Transmissão "Causa Mortis" e Doação (ITCMD). Assim, o imposto citado irá
incidir no momento da doação das quotas com reserva de usufruto, abordada
anteriormente e será eliminado no processo de inventário.50
De igual modo, a taxa judiciaria também será eliminada, pois no momento que
ocorrer a morte do patriarca não será iniciada uma demanda judicial sobre os imóveis
integralizados na holding, bem como os honorários advocatícios.51
Por fim, cabe destacar que com a Holding Familiar também é possível uma
diminuição na carga tributária em relação aos rendimentos advindos da exploração
dos imóveis, se é a opção for de lucro presumido em vez de lucro real. Aplica-se uma
redução de 32% da base de cálculo. 52

49
ORSI, apud, TEIXEIRA, João Alberto Borges. Holding Familiar: Tipo Societário e seu Regime Tributário. 2007.
Disponível em: < http://www.fiscosoft.com.br/a/3gw6/holding-familiar-tipo-societario-e-seu-regime-
tributario-joao-alberto-borges-teixeira-2007.%20Acesso%20em%2025/10/2013 > Acesso em: 25 nov. 2016.
50
Conforme: VISCARDI, Diego. Holding Patrimonial: As Vantagens Tributárias e o Planejamento Sucessório.
JurisWay, São Paulo, 2016. Disponível em: < http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=12303>. Acesso
em: 23 nov.2016.
51
Ibidem. Acesso em 23 nov.2016.
52
MARTINS, Danilo. Holdings: Patrimônio Blindado. 2014. Disponível em: <
http://www.valor.com.br/financas/3389076/holdings-patrimonio-blindado> Acesso em: 23 nov. 2016.
27

CONSIDERAÇÕES FINAIS

À luz da realidade fática conhecida pelo empreendedor nacional, é fácil notar o quão
oneroso é exercer a atividade empresarial no Brasil. A pesada carga tributária
somada aos outros encargos e as nuances do mercado aumentam de forma
incomensurável o risco.

Nessa esteira, faz-se imprescindível o planejamento empresarial e a estruturação


societária, otimizando receitas, protegendo os ativos e minimizando a carga
tributária.

Durante o trabalho se compreendeu a dificuldade de integração da Governança em


empresas familiares, especialmente relacionado ao aspecto sucessório.

O planejamento sucessório é a segurança de continuidade dos negócios familiares,


pois visa manter de forma saudável a fonte de renda e evita disputas judiciais e
processos de anos e anos, os quais trazem muito desgaste aos sucessores, além do
esgotamento das famílias.
A formação da empresa familiar em uma holding é usualmente vista como uma peça
chave para a formação do planejamento tributário e de proteção do patrimônio
familiar, todavia seus benefícios superam esses conceitos, podendo representar
uma estrutura essencial para a sobrevivência da empresa familiar.

As vantagens de antecipação na legítima são eficientes para eliminar os conflitos


relacionados à sucessão e com a integração dos sucessores preparados
profissionalmente, eventuais desavenças são eliminadas desse processo tão
delicado que as empresas enfrentam todos os dias.

Assim sendo, a família não será prejudicada em eventual processo sucessório,


independentemente da quantidade de gerações. O poder decisório, controle,
diretrizes e valores da Holding Familiar sempre estarão interligados e mantidos.

Ainda, importante ressaltar que os benefícios podem ir além, pois a Holding poderá
usufruir de outros instrumentos societários para suporte, tais como conselho de
família – citado no trabalho e acordo de acionistas.

A tranquilidade, estabilidade e segurança na condução dos negócios estarão


respaldados com o instituto tema do presente trabalho.
28

REFERÊNCIAS

Livros
BORNHOLDT, Werner. Governança na empresa familiar, implementação e
prática. Porto Alegre: Bookman, 2005. p.182.

BULGARELLI, Waldirio. Manual das Sociedade Anônimas. 13 Ed. São Paulo:


Atlas, 2001, p. 299.

COELHO, Fabio Ulhôa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 24ª Ed.
São Paulo: Saraiva, 2012, p.556.

LEONE, Nilda Maria de Clodoaldo Pinto Guerra. Sucessão na Empresa Familiar:


preparando as mudanças para garantir sobrevivência no mercado globalizado.
São Paulo: Atlas, 2005.p.198.
LEONE, Nilda Maria de Clodoaldo Pinto Guerra. Empresa Familiar: desvendando
competências, racionalidades e afetos. São Paulo: Atlas, 2010. p.201.

LODI, João Bosco et al. Holding. 3. Ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning,
2004, p. 165.

MAMEDE, Gladston et al. Holding Familiar e suas Vantagens.6 ed. São Paulo:
Editora Atlas, 2014.p. 87.

OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças. Holding, administração corporativa e


unidade estratégica de negócio: uma abordagem prática. São Paulo: Atlas, 1995,
p. 118.

Artigos online

CHEHAB, Eduardo. Por que tão poucas empresas familiares conseguem chegar
à segunda geração?. 2011. Disponível em: http://www.ibefsp.com.br/artigos/por-que-
tao-poucas-empresas-familiares-conseguem-chegar-a-segunda-geracao/>. Acesso
em: 25 nov. 2016.

MARTINS, Danilo. Holdings: Patrimônio Blindado. 2014. Disponível em: <


http://www.valor.com.br/financas/3389076/holdings-patrimonio-blindado> Acesso
em: 23 nov. 2016.

PWC. Empresa familiar: Um negócio que se adapta ao século 21. 2013. Disponível
em: < http://www.pwc.com.br/pt/10minutes/assets/10-min-empresas-familiares-
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RYZEWSKI, Juliano. Holding Familiar. Disponível em: <
http://revistavisaojuridica.uol.com.br/advogados-leisjurisprudencia/99/artigo323905-
1.asp.> Acesso em 03 nov. 2016.
29

SEBRAE. É importante planejar a sucessão na empresa familiar. 2016.


Disponível em: < https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/e-
importante-planejar-a-sucessao-na-
empresafamiliar,d5e89e665b182410VgnVCM100000b272010aRCRD >. Acesso em
24 nov.2016

TEIXEIRA, João Alberto Borges, Holding Familiar: Tipo Societário e seu Regime
Tributário. 2007. Disponível em: < http://www.fiscosoft.com.br/a/3gw6/holding-
familiar-tipo-societario-e-seu-regime-tributario-joao-alberto-borges-teixeira-
2007.%20Acesso%20em%2025/10/2013 > Acesso em: 25 nov. 2016.

VISCARDI, Diego. Holding Patrimonial: As Vantagens Tributárias e o


Planejamento Sucessório. JurisWay, São Paulo, 2016. Disponível em: <
http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=12303>. Acesso em 23 nov.2016.

Legislação

BRASIL, Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:
< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm> Acesso em 26 out.
2016

BRASIL, Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por


Ações. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6404consol.htm>.
Acesso em 25 out. 2016.

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