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UNIVERSIDADE PAULISTA

Edmara Defendi Basílio

MEDIAÇÃO COMO MÉTODO DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS NO


DIREITO DE FAMÍLIA – DIVÓRCIO E ALIMENTOS

SÃO PAULO
2020
2

UNIVERSIDADE PAULISTA

Edmara Defendi Basílio

MEDIAÇÃO COMO MÉTODO DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS NO


DIREITO DE FAMÍLIA – DIVÓRCIO E ALIMENTOS

Trabalho de conclusão de curso para


obtenção do título de graduação em
Direto apresentado à Universidade
Paulista – UNIP.
Orientador: Professor Marco Antonio
Garcia Lopes Lorencini,

SÃO PAULO
2020
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EDMARA DEFENDI

MEDIAÇÃO COMO MÉTODO DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS NO


DIREITO DE FAMÍLIA – DIVÓRCIO E ALIMENTOS

Trabalho de conclusão de curso para


obtenção do título de graduação em
Direto apresentado à Universidade
Paulista – UNIP.

Aprovado em:

BANCA EXAMINADORA
_______________________/__/___
Prof. Nome do Professor
Universidade Paulista – UNIP
_______________________/__/___
Prof. Nome do Professor
Universidade Paulista – UNIP
_______________________/__/___
Prof. Nome do Professor
Universidade Paulista UNIP
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DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho ao meu grande amigo Justino Finardi, por ter me
acompanhado nesta jornada. Seu apoio, carinho e motivação foram essenciais,
acreditar em meu potencial e investir seus recursos, me amparar nos
momentos difíceis elevaram minha confiança e esperança de dias melhores.
Sou grata eternamente!
5

AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar à DEUS por ser a base das minhas conquistas;
Aos meus familiares, em especial, meu filho Gustavo e marido Gilberto, por
acreditar e terem interesse em minhas escolhas, apoiando-me e esforçando-se
junto a mim, para que eu suprisse todas elas;
Ao professor, doutor e mestre Marco Lorencini, pela dedicação e incentivo em
suas orientações prestadas na elaboração deste trabalho;
Aos meu colegas de sala, pela cooperação em todos os sentidos, empréstimos
de livros, artigos e ideias.
A todos, o meu muito obrigado!!
6

(EPIGRAFE)

“A menos que modifiquemos nossa maneira de pensar, não seremos capazes


de resolver os problemas causados pela forma que nos acostumamos a ver o
mundo”.
Albert Einstein
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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso apresenta o tema do o uso


da mediação como meio para resolução de conflitos no ramo do Direito de
Família, com foco em Divórcio/União estável e Alimentos, visto que esta
técnica busca restabelecer a comunicação entre as partes envolvidas em um
impasse. Além de explanar sobre a complexidade do Direito de Família e como
este ramo está em constante evolução, o trabalho aborda a atual crise no
Poder Judiciário e como ela é prejudicial aos conflitos familiares. A metodologia
usada na pesquisa é a dedutiva e possui como suporte referências
bibliográficas que tratam sobre o tema, artigos acadêmicos e a legislação
brasileira. O estudo tem relevância jurídica, pois o Estado começou a usar os
meios alternativos de resolução de conflitos como forma de desobstruir o Poder
Judiciário e promulgou leis que privilegiam e regulam a mediação. Neste
sentido, conclui-se que a mediação pode ser eficaz para a resolução de
conflitos oriundos do Direito de Família, visto que esta técnica é voltada para
conflitos que já havia um vínculo entre os envolvidos, garantido durante todo o
seu procedimento que eles dialoguem e se tratem de forma igualitária e com
respeito mútuo.

Palavras-chave: Direito de Família. Mediação. Conflitos Familiares. Crise.


Resolução de conflitos. Mediação Familiar.
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ABSTRACT

The present conclusion work of the course presents the theme of the use
of mediation as a means for resolving conflicts in the field of Family Law,
focusing on Divorce/Stable Union and Food, since this technique seeks to
reestablish communication between the parties involved in a standoff. In
addition to explaining the complexity of Family Law and how this branch is
constantly evolving, the work addresses the current crisis in the Judiciary and
how it is harmful to family conflicts. The methodology used in the research is
deductive and has as support bibliographic references that deal with the th eme,
academic articles and Brazilian legislation. The study has legal relevance,
because the State began to use alternative means of conflict resolution as a
way to clear the judiciary and enacted laws that favor and regulate mediation. In
this sense, it is concluded that mediation can be effective for the resolution of
conflicts arising from the Law of Family, since this technique is focused on
conflicts that already had a bond between those involved, guaranteed
throughout their procedure that they dialogue and treat each other equally and
with mutual respect.

Keywords: Family Law. Mediation. Familiar conflicts. Crisis. Conflict resolution.


Family Mediation.
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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 11
2. O DIREITO DE FAMILIA ........................................................................................ 13
2.1 Evolução e Delimitações conceituais com base no Direito de família e no
Estatuto da Criança e do Adolescente. .................................................................... 13
2.2 Princípios basilares do Direito de Família ......................................................... 18
2.2.1 O princípio da dignidade da pessoa humana ................................................ 18
2.2.2 O princípio da igualdade jurídica dos cônjuges e dos companheiros ....... 18
2.2.3 O princípio da igualdade jurídica de todos os filhos..................................... 19
2.3.4 O princípio do pluralismo familiar .................................................................... 19
2.3.5 O princípio da mínima intervenção do Estado ou da liberdade.................. 19
3 A CRISE NO PODER JUDICIÁRIO ....................................................................... 20
3.1 Ampliação do uso dos meios alternativos de resolução de conflito.............. 20
3.2 A emenda constitucional 45/2004 e a Resolução nº 125/2010 do Conselho
Nacional de Justiça...................................................................................................... 20
3.3 O novo Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015) e a Lei da Mediação
(Lei nº 13.140/2015) .................................................................................................... 22
4 MEDIAÇÃO................................................................................................................ 26
4.1 Conceito e características da Mediação............................................................ 26
4.1.1 Breve diferenciação entre mediação e conciliação ...................................... 30
4.2 Os princípios basilares da Mediação ................................................................. 32
4.2.1 Voluntariedade ou liberdade das partes......................................................... 32
4.2.2 Não-competitividade ou não-adversariedade................................................ 32
4.2.3 Presença de Terceiro Interventor .................................................................... 32
4.2.4 Autoridade das partes ....................................................................................... 33
4.2.5 Confidencialidade ou sigilo ............................................................................... 33
4.3 Os objetivos da Mediação.................................................................................... 34
4.4 A Mediação familiar............................................................................................... 34
5. Divórcio e Alimentos 36
5.1 Divórcio 37
5.1.1 Modalidades de Divórcio 38
5.2 Alimentos 38
5.3 Das vantagens da Mediação 45
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................... 45
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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 48


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1. INTRODUÇÃO

O Direito de Família é um ramo do Direito que rege os direitos


personalíssimos do ser humano, sendo considerado muito complexo, visto que
ao tratar de relações afetivas e familiares da pessoa também está encarregado
de cuidar das emoções e sentimentos intrínsecos a estas relações.
Neste sentido, os conflitos oriundos do Direito de Família merecem um
tratamento especial, devendo ser resolvidos sob dois planos: o jurídico, para
analisar as questões materiais do conflito, e o psicológico para cuidar dos
sentimentos das partes.
Entretanto, é sabido que o Poder Judiciário está sobrecarregado, razão
pela qual um Magistrado pode demorar anos para decidir sobre determinado
litígio. Tal morosidade afasta o Judiciário de promover a efetiva justiça e
também prejudica a resolução de conflitos familiares, uma vez que as emoções
sentidas pelas partes envolvidas no impasse – como a raiva ou rancor –,
também se estendem no tempo.
Desta forma, o presente trabalho irá abordar a Mediação aplicada no
âmbito do Direito de Família, em especial nos conflitos relacionados ao
Divórcio/União Estável e Alimentos. Logo, o objetivo essencial do presente
trabalho é analisar a mediação como meio adequado de tratar os conflitos
familiares advindos das ações de divórcio, a fim de provocar discussões acerca
do tema e desenvolver estudos que resultem na aplicação de meios pacíficos
de forma eficaz e segura.
O tema ganhou relevância jurídica, pois o Poder Judiciário, como dito
anteriormente, está sobrecarregado e o Estado, por meio de seus legisladores,
vem promulgando novas normas e resoluções que dão certa preferência aos
meios alternativos de resolução de conflitos. Como exemplo, podemos citar
além da Emenda Constitucional nº 45/2010 (que incu be ao Estado a tarefa de
oferecer outros meios de solução de conflitos), o novo Código de Processo
Civil, que dá preferência a Mediação e Conciliação e a Lei de Mediação, que
regula este instituto.
Assim procedendo, a principal finalidade deste trabalho é analisar como
a técnica da mediação pode auxiliar na resolução dos conflitos familiares,
explanando sobre o Direito de Família, bem como sobre a atual crise do Poder
Judiciário e o procedimento da medição nos conflitos de Divórcio e Alimentos.
12

A pesquisa foi realizada através da metodologia dedutiva, sendo utilizadas


referências bibliográficas que dissertam – direita ou indiretamente – sobre o
tema, artigos científicos, documentos legislativos e a consulta à própria
legislação brasileira.
O presente trabalho foi dividido em três tópicos, sendo o primeiro
reservado para analisar o conceito de Direito de Família na Constituição de
1.988 e NCPC de 2015, a fim de demonstrar a complexidade dos conflitos
decorrentes deste ramo do direito e que ele está em constante evolução.
Já o segundo tópico foi destinado para dissertar sobre o Poder
Judiciário, uma vez que este poder se encontra sobrecarregado e não
consegue resolver de maneira eficaz os conflitos familiares. Neste sentido, o
segundo tópico também aborda as soluções trazidas pelo Estado para
desobstruir o Poder Judiciário, quais sejam, a Emenda Constitucional nº
45/2004, a Resolução nº 125/2010, o novo Código de Processo Civil e a Lei nº
13.140/2015, que buscou privilegiar e regulamentar algum dos meios
alternativos de resolução de conflitos.
Por fim, cuida-se da aplicabilidade da mediação nos casos específicos
de dissolução da entidade familiar, divórcio e alimentos.
13

2. O DIREITO DE FAMILIA

A família se reveste de maior significação porque, sem qualquer dúvida


é a célula mater da sociedade, ou seja, o núcleo fundamental, a base sólida em
que se repousa a organização social.
Com a evolução, os indivíduos passaram a constituir novos arranjos
familiares, sempre marcados pelas características da entidade familiar. Em
nosso cenário jurídico atual possuímos diversas espécies de família, sem a
obrigação de seguir o conceito ultrapassado de família que está positivado em
diversas leis. A Carta Magna elencou as famílias constituídas pelo casamento,
pela união estável e as monoparentais, porém, são diversos os tipos de família,
conforme se verá a seguir. Esse assunto, trataremos neste capítulo de uma
forma mais clara e exemplificativa.

2.1 Evolução e Delimitações conceituais com base no Direito de família e no


Estatuto da Criança e do Adolescente.

As famílias não possuíam, em épocas mais remotas, o grande


significado que passaram a possuir nas sociedades contemporâneas. Elas
eram apenas um agrupamento informal, possuindo como escopo a proteção
mútua e a reprodução da espécie.
Os núcleos familiares, por muito tempo, foram regidos por fatores
alheios ao afeto, dentre eles os interesses econômicos e de reprodução, a
concentração de fortuna e poder, e a manutenção do cu lto familiar, da maneira
de estarem os integrantes destes núcleos sob as ordens de um patriarca, em
uma relação frequentemente de posse por parte deste último para com os
demais.
Segundo Dias (2016, p. 48):

Em uma sociedade conservadora, para merecer aceitação social e


reconhecimento jurídico, o núcleo f amiliar dispunha de perf il
hierarquizado e patriarcal. Necessitava ser chancelado pelo que se
convencionou chamar de matrimônio. A f amília tinha f ormação
extensiva, verdadeira comunidade rural, integrada po r todos os
parentes, f ormando unidade de produção, com amplo incentivo à
procriação. Tratava-se de uma entidade patrimonializada, cujos
14

membros representavam f orça de trabalho. O crescimento da f amília


ensejava melhores condições de sobrevivência a todos.

Não obstante, a fase a qual sucedeu a Revolução Industrial, um


processo de transformação se inicia nas famílias, posto que, com o fim das
oficinas familiares de produção e com a independência financeira de seus
integrantes, a família deixa de ter conotação econômica para executar o ofício
espiritual, moral, ética e afetiva (VENOSA, 2019, p. 8).
Na mesma toada, a professora Dias (2016, p. 48) diz que:

Este quadro não resistiu à revolução industrial, que f ez aumentar a


necessidade de mão de obra, principalmente para desempenhar
atividades terciárias. Foi assim que a mulher ingressou no mercado
de trabalho, deixando o homem de ser a única f onte de subsistência
da f amília. A estrutura da f amília se alterou. Tornou-se nuclear,
restrita ao casal e a sua prole. Acabou a prevalência do seu caráter
produtivo e reprodutivo. A f amília migrou do campo para as cidad es e
passou a conviver em espaços menores. Isso levou à aproximação
dos seus membros, sendo mais prestigiado o vínculo af etivo que
envolve seus integrantes. Surge a concepção da f amília f ormada por
laços af etivos de carinho, de amor. A valorização do af eto deixou de
se limitar apenas ao momento de celebração do matrimônio, devend o
perdurar por toda a relação. Disso resulta que, cessado o af eto, está
ruída a base de sustentação da f amília, e a dissolução do vínculo do
casamento é o único modo de garantir a dignidade da pessoa.

Porém, o Direito nem sempre é capaz de acompanhar as


transfigurações sociais, de jeito que, pelo o que ensina Rodrigues (2008, p. 4),
as Constituições brasileiras promulgadas advindas de 1934, até a de 1988,
condicionavam a abstração de família à de casamento, reconhecendo apenas
às famílias legitimas, na contramão do cenário social então em mutação.
Por sua vez, as Constituições brasileiras anteriores a de 1934, de cunho
claramente liberal, nem ao menos se dispuseram a tratar das familiaridades,
conforme Lôbo (1989, p. 60):

As Constituições de 1824 e de 1891 são marcadamente liberais.


Nelas, de acordo como espírito da época (hegemonia do
individualismo), não há qualquer ref erência à f amília. Na constituição
de 1891 há um único dispositivo (art. 72, § 4º), com o seguinte texto:
A república só reconhece o casamento civil, cuja celebração será
gratuita.

Já pelo Código Civil Brasileiro de 1916, conforme preceitua Gonçalves


(2017, p. 32), a família surgia unicamente através vínculo matrimonial, regida
de forma patriarcal e hierarquizada, de sorte que, Lôbo (1989, p. 60) a instigar
15

a distinção das funções da mulher e do homem na relação familiar, bem como


classificar a prole e as uniões como legitimas e ilegítimas.
Neste sentido, a legislação brasileira na maior parte do século XX,
desamparava e condenava as relações livres e os descendentes havidos fora
do casamento civil, priorizando as repercussões patrimoniais e as organizações
familiares em detrimento do bem-estar dos indivíduos que a integravam.
Inobstante, em meados de 1916, onde a família tradicional a qual era
regulada pela modalidade patriarcal, quando a nubente contraia de vez o
matrimônio nupcial, o qual era indissolúvel naquela época, com seu prometido,
tornava-se relativamente incapaz, não podendo exercer alguns de seus atos
civis, necessitando ser assistida, conforme previsão no obsoleto Código Civil
Brasileiro, com amparo no dispositivo 6º da lei 3.071 de 1º de janeiro de 1916.
Não obstante, a mulher devotada, era igualada aos pródigos, menores
de idade, bem como os silvícolas, como elenca o item 6º da referida legislação.
Em meados de 1962, para ser mais preciso, no dia 17 de agosto de
1962, fora promulgada a Lei nº 4.121, conhecida informalmente como o
Estatuto da Mulher casada, que rege sobre os atos e comportamento das
mulheres casadas perante a sociedade brasileira daquela temporada, em que
eram corriqueiras tais situações. (KANEZIN, 2004)
O dispositivo 233, elenca em seu teor algumas dessas práticas que a
cônjuge deveria respeitar, ipsis litteris:

Art. 233. O marido é o chef e da sociedade conjugal, f unção que


exerce com a colaboração da mulher, no interesse comum do casal e
dos f ilhos (arts. 240, 247 e 251).
Compete-lhe:
I - A representação legal da f amília;
II - a administração dos bens comuns e dos particulares da mulher
que ao marido incumbir administrar, em virtude do regime matrimonial
adotado, ou de pacto, antenupcial [...].

No caso em tela, definia expressamente que o chefe da residência seria


o pai, o homem, bem como a administração dos bens da família, entre outras
particularidades.
Com o surgimento do novo diploma Civil Brasileiro de 2002, bem como o
Código de Processo Civil, o Estatuto da Mulher casada, tornou -se arcaico, eis
que a sociedade evoluiu ao ponto de não ser necessário mais.
16

Além do mais, esse sistema normativo jurídico regia outras práticas que
as mulheres que vivessem em situação matrimonial deveriam honrar, além de
a mulher casada assumir juntamente com o matrimônio o nome e/ou apelidos
do marido, com fulcro no item 240 elencado na Lei 4.121 de 27 de agosto de
1962.
Família, portanto, era conceituada de forma restrita como núcleo
formado pela mulher e homem unidos pelo matrimônio e sua prole, e de forma
mais ampla por todos aqueles unidos pela consanguinidade.
Porém, com a rápida evolução social e cientifica, o padrão da família
tradicional concebido pela legislação civil nos primeiros seis decênios do século
XX, conforme afirma Lôbo (1989, p. 54), entra em crise. A inexistência de
legislação que às regulamentem não impede a composição de novas
modalidades de família, que se concretizam a despeito da legislação.
É neste cenário que direito no âmbito familiar brasileiro passa a
apresentar sinais de mudança com a Lei (n.º 6.515 de 1977), que pela primeira
vez possibilitou a dissolução do casamento pelo divórcio. No entanto, o grande
marco se deu com a CF/88, a qual realizou a mais relevante modificação dos
paradigmas do direito no âmbito de família Brasileiro ao reconhecer os núcleos
familiares formados pela união estável, e os núcleos monoparentais, a paridade
entre os filhos, independentemente de sua origem, e a similaridade entre
homens e mulheres em direitos e obrigações.
Ocorre que, muito embora tenha representado avanço no que está
relacionado ao reconhecimento da filiação natural, de sorte que a oferecer
proteção aos filhos havidos fora do casamento, bem como no reconhecimento
dos núcleos familiarizados de origem diversa à do matrimônio, a CF/88 não
assistiu, de forma expressa, as modalidades de família contemporâneas, o que
vem a gerar grandes debates no mundo jurídico.
De outra banda, preceitua Madaleno (2018, p. 44), que seria um
equívoco se ater apenas ao rol de famílias reconhecidas pela CF/88, e ignorar
os demais moldes de núcleos familiares existentes, h aja vista não ser este o
intuito do legislador, pelo o que afirma:

Haveria evidente equívoco imaginar pudesse o texto constitucional


restringir sua proteção estatal exclusivamente ao citado trio de
entidades f amiliares (casamento, união estável e relação
monoparental), olvidando-se de sua f unção maior, de dar abrigo ao
sistema democrático e garantir a f elicidade através da plena
17

realização dos integrantes de qualquer arquétipo de ente f amiliar,


lastreado na consecução do af eto, pois, como prescreve a Carta
Política, a f amília como base da sociedade, tem especial proteção d o
Estado (CF, art. 226) e um Estado Democrático de Direito tem como
parte integrante de seu f undamento e existência a dignidade da
pessoa humana (CF, art. 1°, inc. III), que sob f orma alguma pode ser
taxada, restringida ou discriminada e prova disto f oi a consagração do
reconhecimento pelo Supremo Tribunal Federal da união homoaf etiva
como entidade f amiliar, regulamentando o CNJ o casamento entre
pessoas do mesmo sexo por meio da Resolução n.175/2013.
(MADALENO, 2018).

A família, muitas das vezes, não mais se enquadra perfeitamente em


uma abstração restrita, a qual, mulher e homem unidos pelo vínculo do
matrimônio e sua prole. O reconhecimento pela CF/88 da união estável como
entidade familiar (Art. 226, § 3º), da monoparentalidade (Art. 226, § 4º), da
igualdade entre homens e mulheres (Art. 226, § 5º), e a garantia constitucional
da dissolução do casamento pelo divórcio (Art. 226, §6º), bem como avanços
científicos, dentre eles a reprodução in vitro, e as inúmeras transformações
sociais do último século, mudaram drasticamente as bases do direito no âmbito
familiar brasileiro.
E nesta esteira, doutrina Venosa (2019, p. 10) ao afirmar que “o afeto,
com ou sem vínculo biológico, deve ser sempre o prisma mais amplo da
família, longe da velha asfixia do sistema patriarcal do passado, sempre em
prol da dignidade da pessoa humana”.
Com isto, a afetividade, ainda que de forma implícita, tem na
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, o seu fundamento, o
vínculo afetivo é o que é fundamental nas relações sociais, considerando que
se ampara em princípios como o da dignidade da pessoa humana, da
igualdade, da responsabilidade, do melhor interesse dos menores, e da
liberdade, tornando-se assim, também um princípio.
A família passa então a exercer função social, devendo, nessa
conformidade, apresentar-se como núcleo capaz de fomentar a comodidade e
o desenvolvimento de seus componentes (família eudemonista), cabendo à
jurisprudência ir julgando, na ausência de lei, regulamentar certas situações,
em prol do melhor interesse dos membros de um grupo familiar.
E tendo sido esta nova realidade considerada, inviável seria restringir a
definição de família apenas aos previstos em lei, ao passo que, conforme
explanado por Venosa (2019, p. 4), a “realidade sempre se posta fora da lei e
18

por muitas vezes além da ficção, cabendo às soluções ao poder criador da


jurisprudência”.
Não obstante todo o exposto, e o entendimento de que o conceito de
família não deve ser fechado, é preciso, nesse trabalho, delimitar alguns
conceitos. Estes servirão de base para o restante do nosso estudo, mas não
devem ser entendidos como taxativos.

2.2 Princípios basilares do Direito de Família

2.2.1 O princípio da dignidade da pessoa humana

O princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, inc. III) é tratado


como valor supremo pela Constituição Federal de 1988, definindo o mesmo
como alicerce da República. Atualmente é um princípio muito aclamado, até
mesmo por autores conservadores, tendo construção ao longo do tempo,
possibilitando oportunidade ao homem de garantir uma existência que permita
o acesso de todos aos direitos reputados como fundamentais.
Consagrando, em síntese, é um valor que protege o ser humano contra
uma vida repleta de menosprezo, em correlação a liberdade. Dentro do Direito
de Família este princípio está diretamente ligado ao pleno desenvolvimento
mútuo de seus integrantes, com ênfase nas proles e com base para a
fundamentação da liberdade ao planejamento familiar, da igualdade dos
cônjuges, da garantia do direito de dissolução da sociedade conjugal etc., ou
seja, define-se dignidade da pessoa humana como um princípio norteador dos
demais, uma vez que este representa a junção de direitos que garantem a
formalização de uma vida digna de modo conjunto, apreciando-o como
princípio fundamental do Direito.

2.2.2 O princípio da igualdade jurídica dos cônjuges e dos companheiros

Diante a este princípio temos a mudança de alguns paradigmas contidos


na idade moderna, ou seja, na sociedade contemporânea não mais prevalece o
poder marital que restringia a mulher, assim como estipula o art. 226, § 5 º da
Constituição Federal, em conformidade, ambos os cônjuges possuem direitos e
deveres na sociedade conjugal que devem ser exercidos de forma igualitária.
19

Um sistema de cogestão foi implantado, enquanto se decai o patriarcalismo.


Portanto, atualmente o casal exerce em conjunto seus direitos em
conformidade ao princípio da isonomia.

2.2.3 O princípio da igualdade jurídica de todos os filhos

A Constituição conjuntamente com o Código Civil estabelece absoluta


igualdade entre todos os filhos, não admitindo mais a distinção entre filhos
legítimos ou ilegítimos, segundo os pais fossem casados ou não, sendo
atualmente todos os filhos mesmo que fora do casamento.

2.3.4 O princípio do pluralismo familiar

A partir de uma nova ordem constitucional surge então uma nova forma
de encarar o direito, sendo ela mais humanizada colocando a pessoa no centro
das discussões e a sua proteção acima dos patrimôn ios. Neste sentido, surgem
outras formas de famílias ganhando formas diversas daquela anterior criando
um rompimento na estrutura patriarcal para o surgimento da responsabilidade
dividida entre ambos os cônjuges.

2.3.5 O princípio da mínima intervenção do Estado ou da liberdade

Neste princípio é assegurado o direito de construir uma relação estável,


de casar-se, de separar-se, dessa forma, procurar a melhor forma que melhor
conviver para a união em respeito às afetividades.
É dado ao indivíduo o direito de escolher e auto regulamentar sua vida,
fazendo suas próprias escolhas da melhor forma que o convém e sem qualquer
tipo de intervenção. Além disso, com base neste princípio também foi possível
reconhecer as uniões homoafetivas.
20

3 A CRISE NO PODER JUDICIÁRIO

3.1 Ampliações do uso dos meios alternativos de resolução de conflito

Os meios alternativos são formas extrajudiciais de resolução do


processo e possuem, se executados da forma correta, a mesma validade
perante terceiros e inter partes, que o procedimento judicial. Inclusive, a
decisão tomada terá poder coercitivo, sendo passível, se não cumprida, de
execução por via judicial.
Além do mais, os meios alternativos de resolução de conflitos trazem
para as partes um ganho que muitas sentenças não conseguem: o sentimento
de que o conflito acabou de uma forma justa e deveriam receber mais atenção
dentro do nosso judiciário, tendo em vista que são instrumentos muito
importantes para o desafogamento daquele.

3.2 A emenda constitucional 45/2004 e a Resolução nº 125/2010 do Conselho


Nacional de Justiça

Em 29 de novembro de 2010, o Conselho Nacional de Justiça criou a


Resolução nº 125, instituindo a Política Judiciária Nacional de tratamento
adequado de conflitos de interesse. Tal resolução consiste em um conjunto de
ações com intuito de dar mais eficiência e eficácia na solução de conflitos. É
por intermédio dessa resolução que o CNJ objetivou a consolidação de uma
política de incentivo aos mecanismos consensuais de solução de litígios, qual
seja a Política Judiciária Nacional de tratamentos Adequados de Conflitos de
Interesses, que visa disponibilizar as partes litigantes métodos mais
harmônicos de solução de conflitos. (THEODORO JÚNIOR, 2016)
A Resolução nº 125/2010 trouxe, em seu artigo 7º, o dever dos Tribunais
de Justiça de cada Estado de criar Núcleos Permanentes de Métodos
Consensuais de Solução de Conflitos, que serão compostas por magistrados
da ativa ou aposentados, atuantes na área. Para realização das reuniões e
sessões de audiência de conciliação e mediação, os núcleos deverão criar os
Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC’S), que
deverão ser instaladas pelo Poder Judiciário. As CEJUSC’S de cada ente
21

federativo englobam os setores pré-processuais, o setor de solução de conflitos


processuais e o setor de cidadania, este último sendo um espaço para
atendimento e orientação ao cidadão. (BRASIL, 2010)
Nessa Resolução estão inseridos quatro anexos, o primeiro é referente
aos cursos de capacitação e aperfeiçoamentos obrigatórios para os servidores,
o segundo dispõe sobre os procedimentos a serem adotados pelas CEJUSC’S,
o terceiro faz previsão ao Código de Ética para os conciliadores e mediadores,
e o quarto fala sobre o gerenciamento de dados estatísticos. (LEVY,
MANDELBAUM, BAYER, ALMEIDA, NETO & LORENCINI, 2011)
Para atuarem nos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e
Cidadania, o Poder Judiciário oferece cursos de capacitação para os servidores
que atuarão na área, sendo o Curso de Capacitação e Aperfeiçoamento. As
estruturas desses cursos contam com seis etapas, sendo elas: a justificativa; o
programa do módulo I, voltado aos servidores, conciliadores e mediadores; o
programa do módulo II, destinado aos con ciliadores e aos mediadores; o
programa do módulo III, específico para os mediadores; o programa de um
módulo especialmente voltado para magistrados; e o programa de um módulo
dedicado aos servidores, que trabalharão nas CEJUSC’S. (LEVY,
MANDELBAUM, BAYER, ALMEIDA, NETO & LORENCINI, 2011)
Estes programas de capacitação para os profissionais que atuarão
diretamente nas CEJUSC’S, visam garantir a qualidade e seriedade do serviço
prestado pelo Poder Judiciário às partes do conflito de interesse. Desta forma,
criou-se o curso de capacitação, visando à formação para os prestadores do
serviço de conciliação e de mediação. Esta formação deverá ser permanente,
como aduz o artigo 12, § 2º da Resolução, que estabelece que “todos os
conciliadores, mediadores e outros especialistas em métodos consensuais de
solução de conflitos deverão submeter-se a reciclagem permanente e à
avaliação do usuário”. (BRASIL, 2010)
A responsabilidade pela realização dos programas de treinamento e
atualização permanente de todos os servidores atuantes no serviço é do
Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos de cada
Tribunal, conforme prevê o inciso V do artigo 7º da Resolução. O magistrado
que coordena cada Centro acompanhará a capacitação em conjunto com a
atuação dos profissionais. Por isso a necessidade dele mesmo ser previamente
capacitado e atuante na área, para que possa coordenar o serviço com o
22

devido conhecimento da matéria. (LEVY, MANDELBAUM, BAYER, ALMEIDA,


NETO & LORENCINI, 2011)
Cada Centro conterá três setores para a implantação e funcionamento
dos CEJUSC’S. O primeiro setor é o de Solução de Conflitos Pré-Processual,
que receberá casos que versem sobre direitos disponíveis em matéria Cível, da
Fazenda Pública, Previdenciária, de Família, e da competência dos Juizados
Especiais. O interessado poderá comparecer ao setor e externar sua
reclamação e seu pedido, que não serão reduzidos a termo pelo servidor. Esse
servidor, que será devidamente treinado para a triagem, indicará o método
mais adequado para a resolução do litígio relatado, seja conciliação, mediação
ou outro disponível, agendando a reunião ou sessão de audiência de
conciliação ou mediação, na sequência conforme o caso. (LEVY,
MANDELBAUM, BAYER, ALMEIDA, NETO & LORENCINI, 2011)
O segundo, de Solução de Conflitos Processual, retrata que poderão ser
remetidos a ele os processos já distribuídos e despachados pelos magistrados.
Após análise do caso, será indicado o método de solução de conflitos mais
adequado a ser seguido. Após a realização das audiências de conciliação ou
de mediação, os processos retornarão ao órgão remetente, com a notícia de
acordo ou de não acordo. (LEVY, MANDELBAUM, BAYER, ALMEIDA, NETO &
LORENCINI, 2011)
O terceiro, conhecido como Setor de Cidadania, aduz que deverá prestar
serviços de informação, orientação jurídica, emissão de documentos, serviços
psicológicos e de assistência social, a toda e qualquer pessoa que os acione. O
servidor, capacitado e treinado que atender o caso, encaminhará o interessado
para o profissional competen te. (LEVY, MANDELBAUM, BAYER, ALMEIDA,
NETO & LORENCINI, 2011)

3.3 O novo Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015) e a Lei da Mediação


(Lei nº 13.140/2015)

Com a implementação da Lei 13.105 de 2015, o Novo Código de


Processo Civil, inseriu a mediação no campo judicial. É considerável em
múltiplos estudos que o Código de Processo Civil que entrou em validade em
18 de março de 2016 procura instigar as possibilidades de resolver conflitos de
forma pacífica.
23

A audiência preliminar é uma das amplas novidades estabelecidas pela


Lei 13.105/2015. Originalmente, no Código de Processo Civil de 1973 não
possuía menção acerca de uma audiência prévia ao procedimento ordinário,
sendo que somente no processo direto se fazia citação a uma audiência
conciliatória, a qual decorreu organizada pela Lei 8.952/94. Em seguida, a Lei
10.444/02 transformou a audiência conciliatória em audiência preliminar.
Portanto, é saliente que no Código de Processo Civil de 1973 já existia uma
audiência preliminar, contudo o mesmo n ão era tão abrangente ao tratar dos
canais alternativos de solução de conflitos.
Já o novo CPC proporciona de caráter comprovado a audiência
preliminar em seu art. 334:

Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não


f or o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará
audiência de conciliação ou de mediação com antecedência mínima
de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20
(vinte) dias de antecedência. (BRASIL, 2015).

Deste modo, esse argumento busca instigar às partes à solução


consensual do conflito, tendo em vista que expande o espaço para uma
comunicação amigável. Destaca-se que o propósito dessa audiência preliminar
é permitir também que as partes possam compor o litígio de maneira pacífica.
Não sendo necessário assim, que o processo siga até aos tribunais.
Perante a isso, constata-se que a audiência preliminar, de mediação,
instituída pelo novo CPC, de uma maneira enfática tem o intento de impulsionar
a solução de conflitos através do diálogo. Salienta-se que a mesma admitirá às
partes que discorram a respeito da questão, para que encontrem uma solução.
A Lei 13.140/2015 dispõe sobre a mediação como uma forma de
solução de controvérsias entre particulares e sobre a auto composição de
conflitos no âmbito da administração pública. É justamente o que consta em
seu art. 1º, definindo, ainda, em seu parágrafo ún ico, o conceito sobre o
instituto da mediação, considerando-a como uma negociação assistida,
extrajudicial, onde se utiliza técnicas de resolução de conflitos, tendo um
mediador o qual deverá ser imparcial e não terá poder de decisão. Este
mediador deverá ser aceito por ambas as partes e auxiliará no retorno de um
diálogo que não existia, permitindo que as partes cheguem a um acordo.
Por se tratar de um instituto jurídico, a mediação possui princípios que
informam, orientam e inspiram regras gerais, presentes no art. 2º da Lei,
24

dispostos da seguinte forma: princípio da imparcialidade do mediador (auxilia


as partes que estão em conflito a buscar uma solução que seja do interesse de
ambos); isonomia entre as partes (ambos possuem caráter de igualdade dentro
da mediação, não existe um perdedor e um vencedor); oralidade e
informalidade (valoriza-se o diálogo dentro da mediação, as intervenções são
feitas de forma oral, simples e objetivas); autonomia da vontade das partes
(não são obrigados a negociar, a mediar ou fazer acordo); busca do consenso
(devem buscar a melhor medida para resolução do conflito para ambas as
partes, não devendo uma parte ser prejudicada); confidencialidade e boa fé
(todos os envolvidos na mediação devem guardar sigilo sobre as coisas ali
ditas, podendo até mesmo as partes assinarem um termo de confidencialidade,
garantido que ambos estão ali com boas intenções, de livre e espontânea
vontade).
O objeto da mediação poderá ser conflitos que dizem respeito tanto a
direitos disponíveis quanto os direitos indisponíveis, dispostos no art. 3º desta
lei, sendo que a ressalva se dá em casos que tratem de direitos indisponíveis,
porém transigíveis, ou seja, que possibilite um acordo há obrigatoriedade de
ser homologado em juizado, com a oitiva do Ministério Público.
O segundo capítulo trata dos mediadores, sendo que, o art. 4º a lei
dispõe que o mediador será designado pelo tribunal ou escolhido pelas partes,
sendo que, terá a função de mediar à solução de conflitos entre as partes, para
que ambas cheguem num consenso, e também a mediação será uma forma
gratuita de resolução de conflitos aos mais necessitados.
O mediador ficará sujeito às mesmas obrigações e determinações legais
que os juízes, portanto, tem o dever de informar as partes a qualquer situação
que comprometa a sua imparcialidade, que possa prejudicar alguma das
partes. O mediador fica impedido, pelo prazo de um ano, contado do término
da última audiência em que atuou, de assessorar, representar ou patrocinar
qualquer das partes. Não poderá atuar como árbitro nem funcionar como
testemunha em processos judiciais ou arbitrais pertinentes a conflito em que
tenha atuado como mediador. O mediador e todos aqueles que o assessoram
no procedimento de mediação, quando no exercício de suas funções ou em
razão delas, são equiparados a servidor público, para os efeitos da legislação
penal.
25

Os mediadores poderão ser extrajudiciais e judiciais. Em relação aos


extrajudiciais, poderá ser qualquer pessoa que tenha a confianças das partes,
que tenha condições de fazer o processo de mediação, não se exige
bacharelado me direito, como dispõe seu art. 9º.
As partes poderão ser assistidas por advogados ou defensores públicos,
não sendo uma exigência, porém, durante a mediação, caso uma das partes
não esteja acompanhada pelos respectivos, o procedimento deverá ser
suspenso, até que todas estejam devidamente assistidas, conforme preceitua
seu art 10º, parágrafo único.
O art. 40 da referida Lei, nos traz a ressalva da possibilidade de
responsabilização dos servidores e empregados públicos que participarem do
acordo composto extrajudicialmente, estabelecendo que se por parte deles
houver qualquer dolo, fraude, receberem qualquer vantagem patrimonial
indevida, permitirem ou facilitarem sua recepção por terceiros ou para tal
concorrerem, poderão ser responsabilizados civil, administrativamente e
criminalmente.
Por conseguinte, o art. 41 nos remete a possibilidade de criação de um
banco de dados sobre boas práticas em mediação, assim como manter relação
de mediadores e de instituições de mediação, que poderá ser criado pela
Escola Nacional de Mediação e Conciliação, no âmbito do Ministério da Justiça.
Já o art. 42 estabelece certa limitação a aplicabilidade da referida Lei,
onde apesar de poder ser aplicada em resoluções dos mais diversos conflitos
como mediações comunitárias e escolares, o seu parágrafo único ressalva que
a mediação nas relações de trabalho, que será regulada por lei própria.
Não obstante, a referida Lei dispõe sobre a possibilidade de órgãos e
entidades da administração pública, como, por exemplo, o PROCON, poder
criar uma câmara de mediação para intermediar a solução dos conflitos entre
consumidores e fornecedores, conforme prevê o art. 43.
O art. 44 traz as alterações que passaram a vigorar nos arts. 1º e 2º da
Lei nº 9.469/97, conforme se observa:
Tornam-se perfeitamente possível que o advogado geral da União, seja
diretamente, seja mediante delegação, assim como os dirigentes máximos das
empresas públicas federais, conjuntamente com o dirigente estatutário da área
afeta ao assunto, autorizar a realização de acordos ou transações para
prevenir ou terminar litígios, inclusive os judiciais; onde poderão ser criadas
26

câmaras especializadas, compostas por servidores públicos ou empregados


públicos efetivos, com o objetivo de analisar e formular propostas de acordos
ou transações, sendo que deverão ter como integrante pelo menos um membro
efetivo da Advocacia-Geral da União ou, no caso das empresas públicas, um
assistente jurídico ou ocupante de função.

4 MEDIAÇÃO

4.1 Conceito e características da Mediação

Como visto, conflitos são inerentes às relações humanas e, por


conseguinte, ao ambiente familiar, sendo que, apesar de normalmente ser
visto como algo negativo pode ser positivo, tendo em vista o seu potencial
transformativo. É para que isto ocorra, ou seja, para que o conflito traga
mudanças satisfatórias nas vidas das pessoas, que a mediação é
apresentada.
Definir mediação não é tarefa fácil. Há uma variedade de conceitos,
devido notadamente à diversidade de ciências envolvidas em seu
procedimento, as quais conceituam a mediação, cada uma à sua maneira:

Mediadores, com f ormação em assistência social, def inem


mediação de divórcio salientando a divisão econômica integrante
do processo, ao passo que o terapeuta, imbuído da taref a de ajudar
os conf litantes a superar os malef ícios e a prosseguir diante da
realidade do desf azimento do casamento, tende a def inir como
sendo esse entendimento e aceitação o objetivo da mediação. Por
outro lado, mediadores com background nas ciências jurídicas
veem o processo, preponderantemente, sob o enf oque contratual e
legal (SERPA, 1998, p. 25-26).

Independentemente da ciência envolvida, a mediação traduz-se como


uma virada ideológica, trazendo consigo, portanto, algumas possíveis
ideologias subjacentes. De acordo com a ideologia da satisfação, a resolução
do conflito traduz-se na celebração do acordo, contrapondo-se a mediação à
prestação jurisdicional, uma vez que sua função seria a de desafogar o Poder
Judiciário.
Uma segunda ideologia seria a da equalização dos poderes, segundo
a qual o acordo seria privilegiado, mas não necessário, caracterizando-se a
mediação como uma prática social que serve à organização das pessoas e
comunidades.
27

A terceira vertente é a da opressão, pela qual o acordo seria tão


privilegiado e o objetivo de pacificação social e desafogamento do Poder
Judiciário tão fortes que fariam da mediação u m mecanismo de controle e
opressão.
A quarta ideologia caracteriza a mediação transformativa, na qual a
abordagem é notadamente comportamental, sendo os objetivos principais a
revalorização e o reconhecimento.
Por fim, há a vertente da mediação com base psicanalítica, segundo a
qual deve se compreender, de fato, o significado dos conflitos e os seus
múltiplos determinantes inconscientes (GROENINGA, 2010, p.88)
Giselle Groeninga define a mediação interdisciplinar com base
psicanalítica como:

[...] um método por meio do qual uma terceira pessoa imparcial,


especialmente f ormada, colabora com as pessoas de modo a que
ampliem a consciência dos determinantes dos conf litos, elaborando
as situações de mudança, a f im de que estabeleçam ou
restabeleçam a comunicação, propiciando um melhor
gerenciamento dos recursos (2010, p.89).

Ressalta-se que a mediação, para além de mera gestão de conflitos,


também representa um valioso instrumento de recomposição das relações
sociais, de transformações de relações entre indivíduos ou entre a sociedade
civil e o Estado. Em verdade, a mediação é um fenômeno plural, havendo
diferentes “mediações”, em diferentes áreas, podendo envolver tanto o
domínio do direito público quanto o domínio do direito privado (LOUREIRO,
1998, p. 95).
Assim, a mediação, além de ser um procedimento multidisciplinar, não
se restringe aos conflitos do ambiente familiar, mas pode ser aplicada a
conflitos decorrentes de outras formas de relacionamento social.
De outro lado, deve ser observado que a mediação não deve ser
utilizada para todo e qualquer caso, aplicando-se prioritariamente aos
relacionamentos interpessoais continuados. Exemplos destes conflitos são os
que envolvem cônjuges, familiares, vizinhos e associados, dando-se enfoque
aos primeiros neste trabalho. É na família que conflitos são inevitáveis e
bastante intensos, sendo que a sentença de um juiz nada transformará se o
conflito em si não for transformado.
28

Quanto aos casos que não são mediáveis, ressaltam-se os em que


houve violência física contra mulher, ou mesmo psíquica, a ponto que a vítima
esteja tão amedrontada que não seja mais possível estabelecer-se uma
relação de igualdade em que possa afirmar suas intenções, opiniões e
interesses. Igualmente, não é cabível mediação nos casos em que o consenso
esteja completamente prejudicado, o que deverá ser identificado pelo
mediador no caso concreto.
Conforme Maria Berenice Dias trata-se a mediação de um
acompanhamento das partes na gestão de seus conflitos, a fim de que tomem
uma decisão satisfatória e ponderada em relação aos seus interesses. Sua
finalidade seria, pois, permitir que os interessados resgatem a
responsabilidade por suas próprias escolhas, tornando possível que se
identifique a necessidade dos integrantes da família individualmente,
diferenciando-se funções, papéis e atribuições de cada um (DIAS, 2016,
p.608).
Para Humberto Dalla Bernardina de Pinho, para que haja mediação, é
necessário que coexistam três elementos essenciais: partes em conflito, uma
clara contraposição de interesses e um terceiro neutro que seja capaz de
auxiliar as partes na busca pelo acordo (2010, online)
O mencionado autor define mediação como um “trabalho artesanal”,
sendo cada caso único, demandando tempo, estudo e uma análise
aprofundada das questões sob os mais diversos ângulos (PINHEIRO, 2010,
online).
Esclarece-se que a mediação não se confunde com um procedimento
terapêutico, ou de acompanhamento psicológico ou psiquiátrico, devendo
estas atividades serem exercidas por profissionais devidamente habilitados.
Enquanto a mediação é caracterizada como um processo breve, a
terapia é um processo em que a duração variará conforme o paciente,
podendo durar anos. Quanto ao foco, o da mediação se dá no conflito,
considerando a emoção como um todo, bem como os estados emocionais
oriundos de um conflito, tais quais o choque, a negação, a culpa, o medo, a
depressão, a raiva e a aceitação. A terapia, de outro lado, foca na
investigação do vínculo, trabalhando os conteúdos emocionais. Além disso, a
mediação trabalha presente e futuro, ao passo que a terapia, além destes
tempos, investiga o passado dos envolvidos. Por fim, enquanto o
29

procedimento de mediação visa à transformação das relações e à tomada de


decisões, a terapia visa à transformação do vínculo em si, de forma mais
profunda (CEZAR FERREIRA, p. 175, 2017).
Águida Arruda Barbosa conceitua mediação como um “instrumento à
concretização dos ideais de distribuição de justiça, privilegiando as diferenças,
pelo acolhimento e reconhecimento do conflito em sua mais ampla
concepção”. A estrutura da mediação, para a autora, apoia-se na dicotomia
pensamento/sentimento, exigindo-se uma mudança de mentalidade que
agregue a consciência de que o ser humano é, sobretudo, um ser afetivo:

Mediação é comunicação, é um método f undamentado, teórica e


tecnicamente, por meio do qual uma terceira pessoa, imparcial e
especialmente f ormada para este mister, ensina os mediandos, por
meio de um comportamento adequado no qual verbalizam, tomam a
palavra – tornando-se capazes de volver os olhos para o f uturo – em
lugar de aprisionar o olhar no passado – e, assim, passam a narrar
os projetos para uma nova f ase da vida daquele núcleo f amiliar,
despertando os recursos pessoais adormecidos (2010, p. 386).

Visando a resgatar a autonomia e responsabilidade das partes, e


deixando de lado a culpa, proporciona a mediação que os envolvidos
conduzam melhor a nova estrutura familiar, quando ocorre separação, por
exemplo, prezando-se assim pelo bem-estar pessoal e também pelo melhor
interesse dos filhos, quando existentes, oriundos daquela relação. Afinal, é
bem verdade que os filhos sentem os prejuízos com a separação da família,
notadamente quando são usados como instrumentos de agressão entre
aqueles que um dia se uniram para construir uma família e para concebê-los.
Quanto às características do procedimento de mediação, a primeira é a
voluntariedade. Isso quer dizer que é premissa básica que as partes adotem o
procedimento da mediação voluntariamente. Se a mediação requer que os
envolvidos estejam dispostos a assumir uma posição não adversária, não é
possível que isso ocorra de modo forçado.
À voluntariedade relaciona-se o princípio da autodeterminação, o qual
fundamenta a mediação, significando que a opção pela mesma representa a
conquista de direitos e o comprometimento com responsabilidades.
A segunda característica é a confidencialidade, ou seja, firma-se o
compromisso entre as partes e o terceiro de que o transcorrido durante todo o
procedimento será mantido em sigilo em relação a terceiros alheios ao
mesmo, garantindo-se assim a privacidade das partes, fazendo com que se
30

sintam livres para expressar suas dores, angústias e mágoas ao longo dos
encontros de mediação.
A flexibilidade apresenta-se como a terceira característica da mediação,
sendo que, juntamente com a informalidade, norteia todo o procedimento para
que as técnicas de comunicação e negociação sejam aplicadas de acordo
com cada caso. O que existe são apenas diferentes modelos de abordagem,
os quais serão utilizados também conforme o caso concreto e também
variando de acordo com a formação do mediador.
Assim, baseia-se a mediação também na informalidade, uma vez que
não existe receita pronta ou fórmula mágica para que o resultado seja o
pretendido. Trata-se, pelo contrário, de um processo de permanente
negociação entre as partes.
A participação também é uma característica da mediação, sendo
requisito essencial à sua realização a participação ativa das partes nos
encontros realizados, restando ao terceiro apenas à tarefa de facilitar a
comunicação entre elas. São as próprias partes que apresentam as
alternativas do conflito.
Por fim, uma quinta característica da mediação é a economicidade. Isso
quer dizer que, comparando-se o procedimento de mediação com o processo
judicial, o tempo envolvido e os gastos tendem a ser bem menores.

4.1.1 Breve diferenciação entre mediação e conciliação

A mediação e conciliação são métodos de autocomposição também


conhecidos como sistema multiportas, que vem ocupando espaço significativo
nesses avanços do sistema processual brasileiro visando instaurar na
sociedade uma cultura de paz e novos métodos de resolução de conflitos de
forma não contenciosa mais célere contribuindo para o descongestionamento
do Poder Judiciário. É o que afirma Vasconcelos:

Com ef eito, a ideia de uma corte de múltiplas portas, qual seja, um


tribunal comprometido em apoiar e induzir a adoção de métodos mais
adequados de resolução de disputas, tais como a mediação, a
conciliação, a negociação, a avaliação neutra, a arbitrag em entre
outros [...], concorrem para a redução da sobrecarga dos
mecanismos adjudicativos, contribuem para o empoderamento e a
satisf ação dos vários protagonistas (VASCONCELOS, 2017, p. 86).

Ainda conforme afirmam Cappelletti e Garth “o acesso à justiça n ão é


apenas um direito social fundamental, crescentemente reconhecido; ele é,
31

também, necessariamente, o ponto central da moderna processualística”


(CAPPELETTI; GARTH, 1988, p.11-13).
A conciliação pode ser pré-processual, extraprocessual ou processual. A
conciliação pré-processual segundo o autor Petrônio Calmon ocorre sem que
haja um processo, mas é realizada em âmbito do Poder Judiciário, já a
conciliação extraprocessual não está sendo conduzida pelo Poder Judiciário,
ou seja, ela é realizada fora do âmbito do Poder Judiciário. A conciliação
processual, por sua vez, ocorre no ambiente judicial, podendo ser realizada
pelo juiz ou por conciliador, nesse sentido Petrônio Calmom afirma que; “as
experiências que se verificam hoje, no Brasil, indicam muito mais a atividade
conciliatória concomitantemente ao processo do que a pré- processual”
(CALMOM, 2015, p.143).
Diferentemente da mediação, na conciliação o conciliador pode interferir
no acordo entre as partes sugerindo hipóteses que possa levar a um acordo.
Ao tratar da mediação como método de resolução de conflito a abordagem é
diferente, ou seja, nesse método o mediador pode sugerir alternativas para
resolução dos conflitos e um possível acordo, mas não pode interferir. Segundo
Vasconcelos:

A mediação é método dialogal de solução ou transf ormação de


conf litos interpessoais em que os mediandos escolhem ou aceitam
terceiro, com aptidão para conduzir o processo e f acilitar o diálo g o , a
começar pelas apresentações, e explicações e compromissos iniciais,
seqüenciando com narrativa e escutas alternadas dos mediandos
recontextualizações e resumos do mediador, com vistas a se
construir a compreensão das vivencias af etivas e materiais da disputa
(VASCONCELOS, 2017, p. 60).

O mediador é um facilitador para as partes na busca por restabelecer o


diálogo para oportunizar as partes a possibilidade de chegar a um acordo e
entendimento.
Esses métodos de resolução de conflitos devem atender a necessidade
das partes oportunizando um acordo justo e que compreenda o sentimento que
gerou esse conflito, só assim será efetivo. “Os meios resolutórios, por
conseguinte, devem ser aderentes à realidade subjacente ao litígio a fim de
servir como instrumento de efetivação dos valores constitucionais”
(GONÇALVES, 2017, p. 245).
32

4.2 Os princípios basilares da Mediação

São princípios basilares da mediação a autodeterminação e a


imparcialidade, porém além desses dois ainda são levados em consideração
outros que trataremos a seguir:

4.2.1 Voluntariedade ou liberdade das partes

Este princípio significa que as partes devem estar conscientes e livres,


para solucionar o litígio em conflito através da mediação. Devem estar
voluntariamente na presença do mediador, sem qualquer tipo de repressão
coação, ou ameaça. É importante que haja a concordância da solução dos
conflitos por ambas as partes, para constatar a eficácia dos resultados da
mediação.

4.2.2 Não-competitividade ou não-adversariedade

O conflito na mediação deve ser abordado positivamente, de forma


madura, pois busca a harmonia entre as partes, com sentimentos positivos,
com o objetivo de se chegar à melhor conclusão, sem competições de
pensamentos e ações. A não-adversariedade consiste em colocar as partes em
situação de cooperadoras, incentivando a comunicação e reduzindo a
hostilidade.

4.2.3 Presença de Terceiro Interventor

O terceiro interventor diferencia a mediação de outras formas de solução


de conflitos, assim a conciliação objetiva a realização e um acordo, já a
mediação procura o restabelecimento do diálogo, sendo que o acordo é a
confirmação da comunicação entre as partes.
O mediador do procedimento apenas facilita a comunicação das partes,
sem decidir por ela e muito menos induzi-las a um acordo. Enquanto a
conciliação de litígios é adequada a conflitos instantâneos, a mediação é
apropriada a conflitos de relação contínuos. O terceiro interventor não pode
estar com vinculado a nenhuma das partes para garantir intervenção imparcial
e a neutralidade e a efetiva.
33

No entanto, o mediador deve ser capacitado para lidar com as situações


relacionadas ao conflito, sendo cauteloso, com as pessoas envolvidas pela
intensa carga emocional.

4.2.4 Autoridade das partes

Por ser um procedimento de autocomposição a mediação reveste as


partes de poder de decisão, para deliberar voluntariamente sem serem
coagidos a realizar o acordo final.
Cabe a eles a responsabilidade de dar andamento ao procedimento,
sendo auxiliado pelo mediador, sem que este influencie nas decisões de
qualquer das partes. Sobre o acordo Sobre a, Maria de Nazareth Serpa
enfatiza:

O único resultado que sujeita as partes é aquele que as partes


concordam. Qualquer processo sob o qual existe uma decisão
imposta às partes, seja estipulado pela terceira parte ou recebida de
qualquer outra maneira, não é mediação. (SERPA, 2004, 157-158).

Portanto, é oportuno salientar ser importante que os indivíduos do litígio


estejam em condições de igualdade, assim possibilitará decisões satisfatória,
justa e eficaz para se chegar ao acordo.

4.2.5 Confidencialidade ou sigilo

Considerado princípio basilar da mediação a confidencialidade e o sigilo


serão sempre mantidos no procedimento. Conforme Petrônio Calmon (2015):

É o princípio que af irma que toda inf ormação obtida pelo mediador ou
pelas partes se manterá dentro do programa de mediação, exceto se
eventual revelação f or autorizada previamente pelas partes
(CALMON, 2015, p. 123).

Incumbe ao mediador respeitar todo o conteúdo do procedimento da


mediação, sendo dever deste guardar para si todas as questões lançadas nas
discussões. Excepcionalmente as partes poderá permitir que o caso fosse
utilizado para fins estatísticos ou didáticos, desde que sejam sempre
preservados os nomes.
34

4.3 Os objetivos da Mediação

A mediação buscar ampliar o acesso a justiça e a real satisfação do


usuário, evitando a judicialização daquele conflito que pode ser resolvido
através do diálogo. É uma forma célere e justa para a solução dos conflitos. Ela
ocorre quando as partes contatam um terceiro - o mediador - para que ele
busque uma forma de solucionar o problema através de um acordo que
agradem todos os envolvidos no processo.
A rápida solução de conflitos é sem duvidas, o principal objetivo da
mediação. Ela surgiu para ajudar o Estado a melhorar a prestação judicial,
solucionando conflitos de forma eficaz célere, e principalmente, mais barata.
A mediação é um método informal de solução de conflitos, reduzindo o
culto exacerbado á formalidade praticada pela justiça estatal, sendo que os
meios comuns de resolução de mérito são pode demais custoso as partes,
tanto em tempo ou em dinheiro.
Em contrapartida aos processos judiciais que, lentos, mostram-se
custosos, os litígios levados à discussão através do Instituto da Mediação
tendem a ser resolvidos em tempo muito inferior ao que levariam se fossem
debatidos em Corte tradicional, o que acaba por acarretar uma diminuição do
custo indireto, eis que, quanto mais de alongar a pendência, maiores serão os
gastos com a sua resolução.

4.4 A Mediação familiar

Com as profundas modificações que tem passado as famílias ao logo


dos tempos, houve um grande reflexo nos conflitos familiares. Em uma relação
por envolver vínculos afetivos, é comum nos conflitos familiares que as
pessoas envolvidas quase sempre se encontram em estado de confusão de
sentimentos, onde amor e ódio se confundem, trazendo à tona sentimentos
como vingança, ódio e medo. Dificultando o diálogo entre as partes. Para Maria
Berenice Dias:

A sentença raramente produz um ef eito apaziguador desejado pela


justiça. Principalmente nos processos que envolvem vínculos af etivo s
– em que as partes estão repletas de temores, queixas e mágoas -,
sentimentos de amor e ódio se conf undem. A resposta judicial jamais
corresponde aos anseios de quem busca muito mais resgatar
prejuízos emocionais pelo sof rimento de sonhos acabado do que
35

reparações patrimoniais ou compensação de ordem econômica.


Independente do termino judicial, subsiste o sentido de impotência
dos componentes do litigio familiar. (DIAS, 2016, p. 85).

O judiciário, portanto, se mostra ineficiente em resolver conflitos na


seara familiar, pois a excessiva valorização da norma jurídica, só leva em conta
os anseios patrimoniais, impedindo, portanto, colocar sob proteção a família e
seus conflitos.
Não tendo possiblidade do poder judiciário regulamentar a singularidade
dos conflitos familiares, a medição vem ganhado força, propondo um
mecanismo eficiente em face dos conflitos no âmbito familiar. A mediação
familiar busca resolver as questões de conflitos, proporcionando a vontade das
partes prevalecendo à continuidade do relacionamento.
Um dos aspectos importantes surgidos com separação dos pais é a
ruptura da relação dos pais para com os filhos, consequências proporcionadas
pelas alterações inesperadas na família.
Contextualizando as soluções dos conflitos, a mediação é determinada
pela forma de se resolver um con flito colocar as partes em situação de
enfrentamento como adversários como ocorre no judiciário.
A metodologia utilizada do não-adversário, visa colaborar as partes para
que possam ter um relacionamento sincero e sadio, saindo do estágio de crise
para um de comunicação e respeito.
A mediação trata de momentos delicados, de matéria familiar envolvendo
fortes brigas no auge do divórcio ou separação, em que os casais se tornam
vulneráveis, afetando os demais entes da família.
O conflito quando é exteriorizado está no ápice dos conflitos, e por isso é
necessário recorrer à mediação, para tratar da intimidade, coletiva e pessoal da
família.
Quando o casal opta pelo divórcio e a separação, a mediação entra com a
finalidade de ajustar seus desacordos e resolver as divergências de forma
pacífica.
A mediação também é aplicada além do divórcio também em casos de
fixação de pensão alimentícia, regulamentação de visitas, guarda dos filhos,
bem como, a outros conflitos que envolvam brigas entre irmãos, tios e
membros familiares.
36

No que desrespeita ao casal e filhos, Petrônio Calmon (20015) discorre:

As f inalidades principais da mediação f amiliar são: of erecer ao casal


um contexto estruturado, no qual o mediador possa apoiar os
genitores na gestão do conf lito, com a vantagem da capacidade de
negociar o acordo; e f avorecer os genitores na procura das soluções
e dos seus problemas por todos aqueles aspectos que se relac io nam
à relação af etiva e educativa com os f ilhos. (CALMON, 2007, p. 127).

A mediação como já dito busca a preservar união da família mesmo


quando há o divórcio ou a separação, a fim de que se perdure as relações,
principalmente quando existem filhos em comum, tornando o problema ainda
mais complexo. Petrônio Calmon afirma:
Os objetivos da mediação f amiliar são: a continuação das relações
paternais, para a manutenção da estabilidade e signif icativos
relacionamentos do f ilho com ambos os pais; a responsabilidade
conjunta nas decisões a serem tomadas em relação aos f ilhos; o
equilíbrio entre deveres e direito s dos pais junto aos f ilhos; a
comunicação entre os genitores para levarem adiante um projeto
educativo compartilhado; a colaboração dos pais na gestão dos f ilhos;
o clima de conf iança recíproca que permitia manter um nível de
respeito recíproco entre os pais. (CALMON, 2015, p. 127).

Outra questão importante que envolve a mediação familiar, é a criança,


por ser dependente possui maiores necessidades em comparação aos demais
membros envolvidos.
Neste sentido, é essencial que mesmo após separação dos pais, este
continue mantendo relação amorosa e saudável com os filhos, mesmo que
venha a residir com apenas um dos pais. A separação, como consequência
implica em resultado de alguns conflitos, mas faz com que as crianças se
adaptem a uma série de situações novas. No entanto, mantendo-se a harmonia
com os pais se abrandam as consequências nocivas que a separação pode
gerar na criança.
Igualmente, a mediação não substitui à via judicial, constitui apenas
dispositivos alternativo que complemente a judicial. No entanto, a mediação
familiar deve atentar para os princípios e objetivos ensejadores, mas necessita
de maior atenção as suas peculiares, a carga emocional e à natureza desse
conflito.
Em regra geral, os casais que chegam à mediação possuem opiniões
construídas no decorrer da convivência conjugal, se mantém firmes em suas
escolhas, e com isso dificultam a abertura da comunicação, impondo ao
mediador este dever.
37

5 Divórcio e Alimentos

O fim de um casamento muitas vezes é um processo doloroso para


todos os envolvidos e uma boa parte dos casais acaba por recorrer a um
conflito judicial para resolver os conflitos decorrentes do término da união.
Porém, recorrer ao conflito judiciário, em grande parte dos casos leva o
casal à destruição de qualquer resquício de laço familiar. Neste sentido, surge
a mediação familiar como uma boa alternativa à via litigiosa visando conservar
o bom relacionamento entre o ex-cônjuges, bem como meio de auxílio em
relação à questão do necessário convívio familiar que ambos os lados devem
preservar junto os filhos do casal.
Através da ajuda de um mediador a família pode ser auxiliada fora do
Tribunal a resolver as questões que qualquer separação implica.
O mediador tem assim a função de auxiliar a família na gestão do
conflito tendo por objetivo resolver os conflitos de forma justa e equilibrada,
visando bem estar de todos, sobretudo dos filhos.

5.1 Divórcio

Segundo nos ensina Carlos Roberto Gonçalves (2017) "O divórcio é


uma das causas que ensejam o término da sociedade conjugal, tendo o condão
de dissolver o casamento válido mediante sentença judicial, habilitando as
pessoas a contrair novas núpcias”.
O divórcio teve início no Brasil a partir da emenda Constitucional n. 9, de
28 de junho de 1977, que alterou o § 1ºdo artigo 175 da então constituição
vigente, a constituição de 1969.
A partir desta emenda o princípio da indissolubilidade do casamento foi
suprimido através da Lei n. 6.515, de 26 de dezembro de 1977. O divórcio
dava-se então, em duas etapas: primeiro o casal se separava judicialmente,
após isso ambos teriam que esperar um período de três anos e só então se
podia requerer a conversão da separação em divórcio.
Todavia, este quadro foi alterado com o advento da Constituição de
1988 que reduziu o prazo para conversão da separação judicial em divórcio de
três para um ano no chamado divórcio-conversão e criou uma nova modalidade
38

de divórcio, o divórcio direto, que permitia o divórcio desde que fosse


comprovada a separação de fato do casal por um período superior a dois anos.
Com a constituição de 1988 foi criada uma nova lei do divórcio, a Lei
n.7.841 de 17 de outubro de 1989 que trouxe poucas mudanças em relação à
lei anterior.
A maior novidade foi a exclusão da discussão a respeito da causa
eventualmente culposa da separação. O único requisito para o divórcio passou
a ser a comprovação da separação de fato por mais de dois anos. Não há
nenhuma sanção para o cônjuge que tiver a iniciativa de ajuizar a ação de
divórcio.

5.1.1 Modalidades de Divórcio

Como já mencionado anteriormente após a constituição de 1988 temos o


divórcio-conversão e o divórcio-direto.
No caso do divórcio-conversão temos duas modalidades: o consensual,
quando formulado por ambos e o litigioso quando formulado por somente um
dos cônjuges.
Segundo prescreve o artigo 1.580 do código civil “Decorrido um ano do
trânsito em julgado da sentença que houver decretado a separação judicial, ou
da decisão concessiva da medida cautelar de separação de corpos, qualquer
das partes poderá requerer sua conversão em divórcio”. Este prazo legal de um
ano não é interrompido nem suspenso, nem mesmo caso ocorra eventual
reconciliação de fato.
No caso do divórcio direto, há previsão no artigo 226 da Constituição
Federal, permitindo o mesmo desde que exista comprovação da separação de
fato por um período igual ao superior a dois anos, não se exigindo
demonstração da causa da separação. Assim como o divórcio-conversão pode
ser consensual ou litigioso.
Segundo nos ensina Cahali (2015), “A sentença definitiva de divórcio
será averbada no registro público competente (C. C, art. 10, I), e “existindo
imóveis ou direitos reais sujeitos à registro, a sentença será igualmente
averbada no respectivo Registro de Imóveis”.
39

5.2 Alimentos

No sentido jurídico, a expressão alimentos designa as importâncias em


dinheiro ou prestações in natura que uma pessoa se obriga, por força de lei, a
prestar a outrem, denominado alimentando. Os alimentos não se referem
apenas à subsistência material do alimentan do, mas também à sua formação
intelectual, à sua educação. É um direito de conteúdo patrimonial e finalidade
pessoal, portanto, é personalíssimo.
A fome protesta por urgência e é por esse motivo que a Ação de
Alimentos antecede a qualquer outra ação – tem procedimento especial, célere,
porque objetiva evitar a morte por inanição do necessitado. Assim, uma vez
fixado os alimentos, o seu não cumprimento gera a mais grave consequência,
prevista no inciso LXVII de nossa Carta Magna, em matéria civil: a prisão do
devedor inadimplente.
É com maestria que age o legislador ao defender os direitos pela
sobrevivência digna de seres humanos incapazes de prover seu próprio
sustento.
No entanto, muito se observa nas ações de alimentos que não se
discute um direito lesado ou ameaçado e também muito embora se analisa o
binômio necessidade do alimentando x possibilidade (art. 1694, parágrafo 1º do
Código Civil/2002). Mas, o que se presencia (como nos casos acima
demonstrado) muitas vezes em audiências são sentimentos comezinhos
inerentes à condição humana, tais como: vingança, orgulho ferido, ciúmes,
frustração, fracasso, mágoa, além de toda sorte de ressentimentos. Como
sendo um meio de execrar e aborrecer a vida do outro.
Esse comportamento reluz um tormentoso problema na vida de qualquer
juiz além fazer com que a parte que atua no pólo passivo eternize em uma
melancolia. Nesse ponto, referimo-nos a parcela dos homens que agem de boa
fé e contribuem na medida de suas possibilidades e não ao devedor contumaz.
Tragicamente e quase diuturnamente assistimos a prisão de pessoas,
que em sua maioria são pobres, não possuindo condições de arcar com as
despesas alimentícias, em virtude de sensível modificação financeira – onde o
grande fator da causa é o desemprego –, sem prejuízo de seu sustento.
40

Assim, em vez de procurar o judiciário e propor alteração ou modificação


da prestação dos alimentos, simplesmente essas vítimas deixam de realizar os
pagamentos ficando em atraso, muitas vezes por desconhecimento dos seus
direitos resguardados pela Lei, § 1° do art. 1694 do Código Civil combinado
com o § 1º do art. 13, da Lei 5.478/68, nos esclarece que os alimentos poderão
ser revistos a qualquer tempo, sempre que houver modificação na situação
financeira das partes, sendo estes fixados na proporção das necessidades do
reclamante e dos recursos da pessoa obrigada.
Seguindo esse conjunto de ideias percebemos que a parte detentora –
onde tem conhecimento de que, na maioria vezes, a guarda dos filhos menores
fica ao encargo da mãe, em virtude das condições socioculturais de nosso país
- procura, quase sempre, agir de maneira maliciosa visando se beneficiar
financeiramente em detrimento da liberdade de quem não está tendo
possibilidades de arcar, outro procedimento totalmente desprezível é saber que
estão condicionando ainda, o direito de visitas a prestação de alimentos ou
pagamento.
Tristemente, vislumbra-se aqui que o filho é visto como uma mercadoria
e, quem age dessa maneira, esquece que as visitas existem para salvaguardar
os interesses de ambos os lados e, mormente o do menor.
Cabe ressaltar que o credor, salvo melhor juízo, ajuíza a ação de
execução coercitiva alegando que o devedor está inadimplente referente às 03
(três) últimas parcelas, sendo que em grande maioria não se junta aos autos
comprovantes do não pagamento fazendo uso apenas da argumentação ao
tempo de incitar o judiciário para que promova o pagamento. Note-se que não
há a intenção de que o devedor seja colocado em clausura.
No entanto, a autoridade máxima (o juiz) no devido cumprimento do
dever (de ofício) ordena a citação do réu, com fulcro no art. 733 do Código de
Processo Civil - CPC, para, no prazo de 03 dias, efetuar o pagamento, provar
que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo, sob pena de prisão que
varia de 30 (trinta) a 90 (noventa) dias.
Muito se discute sobre a duração da prisão civil do devedor de
alimentos, como é do conhecimento de todos, que a parcela das pessoas que
sofrem com a decisão de prisão é em sua maioria de baixa renda, com pouca
instrução escolar e um completo desconhecimento da Lei.
41

Nesse ponto, não me refiro ao devedor voluntário, cuja decisão é


pacífica em ser aplicada tanto à sonegação de alimentos provisionais como à
de alimentos definitivos, mas sim as pessoas de boa fé, respeitadora da lei,
criada na ética familiar e não pagaram porque não tem de onde retirar o
quantum acordado pela justiça. Reforça aqui, o triste adágio popular “que
prisão é lugar de pobre”, afinal quem tem condições de pagar, prefere pagar a
ir conviver em um ambiente insalubre, sombrio correndo o risco de ser
violentado pelos especialistas do crime.
A cada dia causa-se perplexidade ao assistir a superlotação nos
presídios e de igual modo na carceragem das delegacias espalhadas em todo
o território nacional. Não há condições de ver um pai de família, trabalhador e
honesto ser colocado e/ou equiparado a traficantes, estupradores e ladrões.
Porém, não havendo outra opção, o juiz está subordinado às normas vigentes
do Direito objetivo, devendo cumprir o que está previsto em lei.
Sábias são as palavras de Ana Candida Echevenguá que vieram a
corrobora com este trabalho ao acrescentar:

“A prisão é uma medida extrema e vexaminosa, repelida pela


consciência jurídica já que a liberdade é um dos valores que o direito
preserva. Torna-se justif icável somente quando o devedor da pensão
alimentícia inadimple-a de f orma voluntária e indesculpável, ou seja,
quando blef a deliberadamente com o direito à vida do alimentando.”

Aqui vale registrar que a prisão só deveria ser decretada ao devedor


contumaz, que tendo condições de arcar se esquiva de cumprir com sua
obrigação, não podendo essa decisão ser utilizada para levar pessoas pobres a
encher os presídios. Assim, já decidiu o Tribunal de Justiça de São Paulo:

“ALIMENTOS – PRISÃO CIVIL DO DEVEDOR – AUSÊNCIA DE MÁ


VONTADE EM SALDAR O DÉBITO – “A prisão civil por dívida de
alimentos é medida excepcional, que somente deve ser empregada
em casos extremos de contumácia, obstinação, teimosia, rebeldia do
devedor que embora possua meios necessários para saldar a dívida,
procura por todos meios protelar o pagamento judicialmente
homologado...”. (TJSP – HC 170.264-1/4 – 6a.c – j.20.8.92 – rel. des.
Melo Colombi) – RT 697/65).

É cediço que a notícia do cumprimento de uma pena/prisão,


independente da natureza do crime (alimentos, homicídio, roubo...) é por si só
um fato impeditivo para que essa pessoa possa assumir posição no mercado
de trabalho além de ensejar, em alguns casos, a demissão de familiares.
42

O legislador com toda inteligência que o cerca, equivocou -se sobre tal
possibilidade afinal, hoje mais do nunca sabemos que o desemprego
desestrutura qualquer família e está presente em nossa sociedade. Este país
não faz uso das belas palavras de nossa bandeira, a contrário senso, percebe-
se um retrocesso porque o Brasil hoje é a nação dos sem-terra, sem-dinheiro,
sem-emprego, sem-justiça, sem-segurança, sem dignidade, sem cidadania e
se não bastasse nas mãos de políticos corruptos que contam com a sorte de
promover o programa fome zero.
Do ponto de vista que a prisão civil, se não resolve a cronicidade da
inadimplência, só faz agravar a situação do devedor, que, confinado, não
trabalha nem recebe salário e, de consequência, não paga pensão, e em dobro
a do credor, que, se for o filho, perde a convivência e o auxílio material do pai,
este que muito constrangido diante de amigos, familiares, superiores
hierárquicos por essa medida deixará de prestar o afeto paterno a uma criança
ou adolescente nas fazes em que mais precisam, por implicância não
diretamente do credor, mas da pessoa por quem esse é assistido.
Quando referimo-nos a nova prisão estamos seguindo o entendimento
do legislador previsto no § 2 do artigo 733, ipsis litteris: “O cumprimento da
pena não exime o devedor do pagamento das prestações vencidas e
vincendas”, assim também se posicionou o TJSP:

”Não há qualquer óbice a que o devedor de alimentos tenha sua


prisão decretada tantas vezes quantas sejam necessárias para
constrangê-lo ao pontual desempenho de sua obrigaç ão”. (HC
35.054-1, 10.5.83, 1ª CC TJSP, Rel. Des. MENDES PEREIRA, in RT
577-65).

Assim, após o cumprimento da pena o devedor poderá ser condenado


novamente em virtude das parcelas que deixou de pagar durante a estadia qu e
passou na carceragem do presídio ou delegacia. Dessa maneira é que
assistimos a soberania do estado de direito, e a luz dessa teoria, é que se
promove a indústria da pensão alimentícia concomitante a indústria da prisão.
Infelizmente, nos salta aos olhos as tristes manchetes dos jornais e
revistas o envolvimento de pessoas que deveriam prezar pela legalidade, pela
moralidade e pela ética considerando o caráter especial de suas atividades nas
quais a sociedade depositava sua última confiança: a justiça.
43

Segundo o jornalista Rodrigo Rangel, “em todo o País, existem mais de


600 investigações envolvendo falcatruas de juízes. Poucos são punidos”
graças à aposentadoria compulsória. Sabe-se que muitos pagam pensões às
escondidas por filhos criados fora do lace matrimonial e que se quer tem o
nome do pai na certidão para preservar a sua “honradez”. Repisa-se aqui, os
sábios mestres chineses que sempre tem algo a nos ensinar por meio de seus
provérbios, tais como: "Ser pedra é fácil, o difícil é ser vidraça."
Considerando as agruras vividas pelo devedor observamos que no
processo de execução de alimentos, independente da justificativa que deve
passar pelo crivo do credor, ao réu não é dado o direito de se quer ser ouvido,
in loco, pela autoridade julgadora, este que, algumas vezes, encontra-se
desempregado e é forçado a levantar a quantia para saldar a dívida. E a
posição adotada dentro poder judiciário é que: “a fome persiste e não se cessa
porque o dinheiro acabou!” (DIAS, Maria Berenice. Súmula 309)
Em virtude do grande número de processos paralisados nos fóruns
acarretando, in thesi, tamanha injustiças e insegurança no âmbito civil o
legislador, por sua vez, procurando promover a celeridade, sem deixar de lado
a imparcialidade, a ética e o sigilo criou a arbitragem, a conciliação e a
mediação como formas de solucionar os conflitos (art. 98, inciso I, CF/88).
Assim, passaremos Apreciar de forma parcial o que seja os dois
primeiros, para adentrar com profundidade na mediação como forma de
desfazer o nó que prende e sobrecarrega o poder judiciário.
CONCILIAÇÃO: “é uma forma de resolução de controvérsias na relação
de interesses administrada por um Conciliador investido de autoridade ou
indicado pelas partes, a quem compete aproximá-las, controlar as negociações,
aparar as arestas, sugerir e formular propostas, apontar vantagens e
desvantagens, objetivando sempre a composição do litígio pelas partes".
MEDIAÇÃO: “é um método por meio do qual uma terceira pessoa,
imparcial, especialmente formada, auxilia as partes a ampliarem a
comunicação por meio de uma maior compreensão das raízes dos conflitos
que se apresentam”. A consequência da mediação é a assunção de maior
responsabilidade das partes na condução de suas vidas, sendo o acordo um
dos possíveis desdobramentos da mediação.
44

A Mediação tem ampla aplicabilidade, podendo ser utilizada em vários


contextos, como nos conflitos familiares, de vizinhança, em escolas e demais
instituições, assim como na reestruturação de empresas, principalmente
naquelas familiares e nas questões relativas à sucessão de gerações na
empresa, alcançando aí, com muita frequência, a função preventiva da
mediação.
Salienta-se que a pessoa incumbida de exercer o cargo de Mediador
não pode tomar partido nem decisões pela família, mas ajuda/provoque o casal
possa encontrar alternativas que sejam do seu interesse e de seus filhos,
chegando a um possível acordo.
Conforme pudemos observar a medição pode ser utilizada em casos de
família evitando um longo e desgastante processo judicial, assim propomos
que ela seja utilizada nas ações de execução, ou seja, que a parte devedora
primeiro seja convocada a participar de uma mediação para saber o porque
deixou de pagar. Havendo a inércia ou não justificação plausível pelo
inadimplemento, estará o magistrado coberto de suas razões para citar o
devedor em pagar, provar que pagou ou justificar, sob pena de prisão.

5.3 Das Vantagens da Mediação

Diversas são as vantagens da Mediação Familiar. Primeiramente, a


mediação familiar ocorre em sessões privadas em atmosfera confortável e
informal. O conteúdo das sessões é confidencial, e não pode ser utilizado como
prova em tribunal. Por ser um processo voluntário, o objeto do conflito só será
submetido à mediação se todas as partes envolvidas concordarem.
Também podemos citar como vantagens a mediação ser mais rápida
que a via Judicial, mais econômica e principalmente poupar os indivíduos de
desgastes emocionais. A mediação facilita a comunicação entre as partes e em
algumas situações ela acaba reestabelecendo a comunicação onde ela se
encontrava inexistente. Seu objetivo é a resolução pacífica da situação,
primando pela sensatez e pela manutenção da comunicação entre as partes.
45

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho tratou da mediação como forma alternativa à pacificação


dos conflitos envolvendo o Direito de Família, o qual se destaca por lidar com
a emoção daqueles que fazem parte do litígio. Isso porque o conflito não tem
início concomitante ao início da lide processual. O conflito, em verdade, está
presente em todas as relações familiares, sendo em grande parte das vezes
resolvido através de negociação direta dentro da própria família. De outro
lado, quando isso não é possível, volta-se a família ao Judiciário, visando à
resolução da situação insustentável que vivenciam.
Desta forma, o que chega às mãos do juiz é um conflito que as partes
já não conseguiram solucionar por si próprias, ou seja, é um caso envolto por
emoção e sofrimento traduzidos em processo. Consequentemente, o
processo judicial acaba sendo muitas vezes mero instrumento das partes
para, de alguma forma, atingir a outra, o que se denota das inúmeras ações
familiares em que o impulso retaliador é explícito. Enfim, buscam os
envolvidos conseguir através do processo o que não conseguiram sozinhos.
Contudo, dificilmente encontram solução satisfatória aos seus interesses,
uma vez que as relações familiares vão muito além do processo judicial, o
qual, em grande parte dos casos, não tem condições de responder aos
verdadeiros anseios daqueles que passam por conflitos familiares. A Justiça
de Família não pode, em decorrência, ser compreendida de forma
exclusivamente jurídica e formal.
Percebe-se, pois, a necessidade de uma intervenção interdisciplinar
na área do Direito de Família, a fim de que se atinja o bem estar individual e
social daqueles que buscam a solução para os seus conflitos, concretizando -
se o princípio da dignidade humana. Tal princípio coloca a pessoa humana
como valor-fonte de todos os valores, daí decorrendo a inserção de ciências
como a psicologia, a psicanálise, a sociologia e a assistência social no
âmbito do Direito de Família. Ou seja, busca-se o auxílio de outras ciências
para que haja uma compreensão mais ampla e satisfatória do sujeito de
direito e de seus conflitos.
Assim, partindo-se da premissa de que os conflitos são inerentes a
todos os relacionamentos familiares e capazes de levar a transformações
positivas ou negativas, dependendo da forma como são tratados, faz-se
46

necessária a reflexão sobre formas alternativas e criativas de resolução de


conflitos, que propiciem a sua pacificação efetiva e satisfatória aos interesses
e desejos dos envolvidos. E é nesse intuito que este trabalho apresentou a
mediação como possível mecanismo que satisfaça a ambas as partes
envolvidas, protegendo os seus direitos humanos e auxiliando-as a alcançar
o bem-estar social.
47

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Judiciário. In: JÚNIOR, Marcos Ehrhardt; ALVES, Leonardo Barreto Moreira
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