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ERECHIM
2020
RAFAELA MYLENA ZAGO
BANCA EXAMINADORA
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Prof.ª Dr.ª Giana Lisa Zanardo Sartori
URI – Campus de Erechim
________________________________
Prof.ª Me. Andréa Mignoni
URI – Campus de Erechim
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Prof.ª Me. Caroline Isabela Capalesso Ceni
URI – Campus de Erechim
Dedico este trabalho a toda minha
família, especialmente aos meus pais,
que me incentivaram e deram todo o
suporte necessário para que eu
conseguisse chegar ao fim desta
formação.
AGRADECIMENTOS
The present work aims to analyze Systemic Family Constellations, its applications as
an alternative method for conflict resolution, as well as the support of Brazilian
legislation through the use this therapeutic method in the judiciary. The application of
Family Constellations brings about to the involved the consciousness about the real
reason that led them to the conflict. This approach currently applied in the judiciary is
based on the systemic model of Bert Hellinger which aims to undo the entanglements
of family systems for posterior application of Orders of Love, being that at the end,
the family system must be guided by order, hierarchy and balance. Nowadays, it
seeks mechanisms to assist on the de-bottlenecking of the judiciary as well as
methods to make court sentence more efficient in the long run. In this perspective,
we opted for a more detailed analysis of the theme in vogue, aiming to make a
deeper study on different authors who shows how family constellation can help on
the decongestant process alongside on the construction of a more humanized
judiciary that promotes transformations in people’s lives for them feel long term
satisfied with the solution achieved in the legal means. The search method in turn
was analytical descriptive, by means of documentary and bibliographic research.
1 INTRODUÇÃO…………………………………………………………………………..10
5 CONCLUSÃO……………………….……………...………………………………........56
REFERÊNCIAS……………………………………….……………………………...........59
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1 INTRODUÇÃO
realidade aparece tal qual ela é. Mas, para que a renúncia aconteça, é necessário
coragem e destemor.
Ao estudar sobre fenomenologia filosófica, Bert descobriu alguns aspectos
essenciais da consciência. Retrata (2001) que é por meio da consciência (boa e má,
sentida e oculta) que, inicialmente, pode-se perceber se um indivíduo faz parte ou
não de um sistema e também se a consciência é regida por sentimentos de
inocência e de culpa. É, portanto, a consciência que norteia todo seu trabalho sobre
constelações familiares.
Além disso, Hellinger teve sua pesquisa baseada em vários outros
estudiosos. Descreve como chegou à psicoterapia sistêmica:
É difícil para mim refazer esse caminho, pois já se passou muito tempo.
Porém, quanto me lembre, o insight decisivo me veio quando pratiquei a
Análise do Script segundo Eric Berne. Ele partiu da constatação de que
cada pessoa vive de acordo com determinado padrão. Esse padrão pode
ser encontrado em histórias literárias como contos de fadas, romances,
filmes, etc., que impressionaram essa pessoa. Pede-se a ela que mencione
uma história que a comoveu em sua primeira infância — ainda antes do
quinto ano de vida —, e uma segunda história que a comove atualmente.
Então se comparam essas duas histórias e a partir do elemento comum a
ambas se deduz qual é o secreto plano de vida daquela pessoa. Eric Berne
acreditava que esse script resultava das primeiras mensagens que os pais
transmitem aos filhos. Entretanto, descobri de repente que isso não é
verdade. (HELLINGER, 2001, p. 270).
Na mesma esteira, Bert (2001) atribui também a Arthur Janov, autor de The
Primal Scream (1970) e criador da teoria de terapia primal, a concessão de
embasamento científico para criação do método sistêmico. Depois de finalizar a
formação em psicanálise, dentre os anos de 1974 a 1988, combinou a análise do
script de Berne com a terapia primal de Janov. Em 1979, começou a ocupar-se com
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a terapia familiar, onde teve como mestres Ruth McClendon e Les Kadis, que faziam
constelações familiares e encontravam, por meio delas, bons resultados. Aliado a
isso, participou de dois cursos com Thea Schönfelder sobre esse tema.
Com efeito, faz-se necessário salientar o relevante papel que a
psicoterapeuta norte-americana Virgínia Satir teve na criação do método hoje
conhecido como constelação familiar. Virgínia foi a criadora do conceito de
esculturas familiares que nada mais é do que uma representação simbólica do
sistema familiar. Esse foi um instrumento eficaz de posicionamento dos membros de
uma família dentro da chamada teia relacional. Por meio deste método, combinava-
se a técnica de terapia familiar com as esculturas familiares (IPÊ ROXO, 2018).
Carola Castillo afirma:
Bert refere (2001) que foi somente no ano de 1995 que escreveu seu primeiro
livro, chamado A Simetria Oculta do Amor, muito em razão do convite e influência
direta do psiquiatra alemão Gunthard Weber.
Demais disso, pode-se dizer que o amor é o sentimento que norteia todo o
trabalho e a vida de Bert Hellinger. Diz, em sua obra (2001), que o ponto mais
importante para a criação do método sistêmico foi reconhecer que o amor atua por
trás de todos os comportamentos humanos. Cita também:
isso, procuro sempre e antes de tudo pelo amor, e oponho-me a tudo que o
coloque em risco. (HELLINGER, 2001, p. 276).
Foi por meio de muito de trabalho, teorias e pesquisas que Bert Hellinger,
com o auxílio de sua esposa Sophie Hellinger, construiu o método sistêmico
conhecido atualmente. Seu respeito pela observação e pelos fenômenos como são,
foram os pilares para o surgimento da Hellinger Sciencia em 2005, que é o conceito
da ciência universal das relações baseada no amor, onde a hierarquia, o equilíbrio e
o pertencimento devem prevalecer. A Hellinger Sciencia encontrou sua aplicação na
psicoterapia, medicina, educação, economia, política e também no judiciário e
acabou se espalhando pelo mundo.
Hellinger (2001, p. 10), recomenda: ―Quem teme o que a realidade traz à luz
coloca uma viseira nos olhos. E quem receia o que outros vão pensar ou fazer
quando diz o que percebeu fecha-se a um novo conhecimento.‖ Por meio disso,
destaca a importância da coragem, aliada à ausência de intenção, para se chegar à
verdade real ao final do caminho fenomenológico.
Dentro da dinâmica, os representantes se movimentam no campo do
constelado por meio de sensações físicas. O terapeuta responsável por coordenar o
método sistêmico, juntamente com o cliente, analisa o comportamento dos
representantes, a fim de chegar a uma visualização da dinâmica que está
inicialmente oculta e entender a origem do problema a ser constelado (CÉSPEDES,
2017).
Bert explica como esse movimento ocorre dentro do campo familiar em uma
constelação.
explicação para esse fato. Mas foi constatado milhares de vezes nessas
constelações. (TEN HÖVEL; HELLINGER, 2006, não paginado).
[...] essa forma de repetição nunca coloca nada em ordem. Aqueles que
devem assumir o destino de um membro excluído da família são escolhidos
e tratados injustamente pela consciência de grupo. São, na verdade,
completamente inocentes. Contudo, pode ser que aqueles que se tornaram
realmente culpados, porque abandonaram ou excluíram um membro da
família, por exemplo, sintam-se bem. A consciência de grupo não conhece
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[...] que a consciência não é nada homogênea; ela tem muitas camadas.
Está limitada a uma determinada área, a um determinado grupo de pessoas
e tem um importante papel no comportamento humano. Mas não tem
nenhuma função superior ou, por assim dizer, divina. Portanto, ela não nos
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diz o que é bom e o que é ruim em contextos mais amplos. (TEN HÖVEL;
HELLINGER, 2006, não paginado).
Para Bert (2002), a consciência é vivida como uma espécie de sentido, pelo
qual as pessoas percebem a que grupo pertencem. Para esclarecer o que é a
consciência, faz uma analogia com o senso de equilíbrio. Veja-se:
[...] logo que perdemos o equilíbrio, temos uma sensação de tontura, e essa
sensação faz com que corrijamos, imediatamente, a nossa postura, para
voltarmos novamente ao equilíbrio e ficarmos firmes. A consciência pessoal
atua de forma semelhante. Tão logo alguém se desvie daquilo que é válido
em sua família, em seu grupo, isto é, quando precisa temer que através de
seus atos coloca em jogo a sua pertinência, tem uma consciência pesada. A
consciência pesada é tão desagradável que faz com que ele mude o seu
comportamento de tal forma que possa pertencer novamente. Assim atua a
consciência pessoal. (HELLINGER, 2002, não paginado).
Além disso, cita que: ―A consciência pessoal nos liga a pessoas e grupos que
são importantes para o nosso bem-estar e nossa vida. Contudo, é uma consciência
estreita, pois nos liga somente a determinadas pessoas e grupos, excluindo
simultaneamente de outros.‖ (HELLINGER, 2015, p. 53).
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Assim, a consciência pessoal é tida como mais sucinta, pois liga os indivíduos
a grupos e pessoas que considera essenciais para sua vivência e para manutenção
do seu bem-estar, afastando os grupos e pessoas que não considera importante
para sua vida. De igual modo, a consciência interfere em âmbito social, quando
estabelece e diferencia o que é bom e o que é mau, ou seja, quais atitudes podem e
devem ser seguidas e quais colocam a vivência em risco.
Essa consciência coletiva ata a família e um grupo. Vela para que ninguém se
perca. É uma consciência grupai na qual todos participam da mesma forma e
que, como uma instância superior, conduz todos a uma meta. Essa meta é,
primordialmente, a sobrevivência do grupo. Por isso, essa consciência não
tolera que alguém desse grupo seja excluído ou esquecido. (HELLINGER,
2002, não paginado).
Por fim, a consciência de grupo deve ser sempre guiada pela ordem. A
hierarquia familiar não deve ser ignorada, pois é por meio dela que se torna possível
buscar o equilíbrio do sistema. Para se chegar à ordem, deve-se desprender-se da
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diferenciação de bem e mal trazida pela consciência pessoal, pois o grupo deve ser
olhado como um todo.
Bert cita que o aspecto mais importante dentro do estudo das constelações
familiares foi reconhecer onde o amor atua.
O aspecto mais importante foi reconhecer que o amor atua por trás de todos
os comportamentos, por mais estranhos que nos pareçam, e também de
todos os sintomas de uma pessoa. Por esse motivo, é fundamental na
terapia que encontremos o ponto onde se concentra o amor. Então
chegamos à raiz, onde se encontra também o caminho para a solução, que
sempre passa também pelo amor. Isso eu vivenciei primeiro na terapia
primal e, em seguida, também na análise do script e na terapia familiar.
Notei que grande parte do tão decantado trabalho com emoções, onde o
terapeuta diz ao cliente ―Solte sua raiva‖, deixa escapar o essencial. Já vi
casos em que alguém é incitado a dizer aos pais que está furioso com eles
ou mesmo que deseja matá-los, e mais tarde se castiga severamente por
isso. A alma da criança não tolera nenhuma depreciação dos pais. Só
quando vi isso é que tomei plena consciência da dimensão desse amor. Por
isso, procuro sempre e antes de tudo pelo amor, e oponho-me a tudo que o
coloque em risco. (HELLINGER, 2001, p. 276).
Entretanto, somente o amor não basta para que o sistema esteja em perfeito
funcionamento. Além do amor existente, as leis sistêmicas do pertencimento,
equilíbrio e hierarquia precisam ser respeitadas e seguidas para que se mantenha a
ordem, conforme Bert discorre.
Com efeito, para Hellinger (2006) as ordens do amor têm o papel primordial e
fundamental de garantir que cada ser humano seja responsável e viva seu próprio
destino, não assumindo o lugar de outro membro. Desse modo, é somente pelo
respeito e aceitação à ordem e as suas leis que o sistema familiar fica equilibrado.
A seguir, dar-se-á enfoque a cada uma das leis sistêmicas criadas por Bert
Hellinger.
interpessoal. Para Bert Hellinger (2002), essa lei está presente no âmago do sistema
familiar e para que ele seja mantido de forma equilibrada, o pertencimento deve ser
assegurado a todos, inclusive aos mortos.
Alguns são excluídos de um sistema porque se diz que não são dignos dele.
Por exemplo, porque são jogadores, alcoólatras, homossexuais ou
criminosos. Sempre que alguém é excluído e outros membros da família
dizem ―tenho maior direito de pertencer do que ele‖, o sistema fica
perturbado e, então, pressiona para o restabelecimento e reparação. Assim,
aquele que foi excluído ou deixado de lado dessa maneira é representado
mais tarde por um descendente, sem que esse perceba isso. Ele se sente
como o excluído, comporta- se como ele e, frequentemente, tem o mesmo
destino. (HELLINGER, 2002, não paginado).
Por sua vez, a lei da hierarquia está ligada ao respeito a quem chegou
primeiro dentro da família. Os membros devem sempre ser vistos de forma
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hierárquica. Para Bert (2002), embora atualmente a hierarquia tenha perdido boa
parte do sentido, ainda é extremamente necessária e precisa ser respeitada.
Essa hierarquia está em conformidade com o tempo. Quer dizer que antigos
membros têm precedência em relação àqueles que vêm mais tarde. Quando,
portanto, um membro anterior é excluído, membros posteriores têm de
substituí-lo. Com efeito, dessa maneira, exerce-se, em certo sentido, justiça
perante os anteriores, mas não perante os posteriores. Os posteriores são
sacrificados sem escrúpulos à justiça perante os anteriores. (HELLINGER,
2002, não paginado).
Isso eu não posso explicar. Mas é possível ver que os participantes de uma
constelação familiar, desde que são colocados em relação uns com os
outros, não estão mais em si, mas se comportam e sentem como os
membros da família que representam. Chegam até a sentir sintomas físicos
deles. (HELLINGER, 2001, p. 273).
Coloco tão poucas pessoas quanto possível. Por isso, começo com as
pessoas mais importantes. Feito isso, emerge uma nova informação a partir
da imagem e daquilo que a mesma desencadeou no cliente. Então, coloco
outras pessoas, também não mais que o necessário. Experimento o que
causam essas novas pessoas. Disso resulta se uma solução é possível ou
não. (HELLINGER, 2002, não paginado).
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: [...] XXXV - a lei não excluirá da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; [...] (BRASIL,
1988).
[...] LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos; [...] LXXVII - são gratuitas as ações
de habeas corpus e habeas data, e, na forma da lei, os atos necessários ao
exercício da cidadania. [...] (BRASIL, 1988).
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Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de
um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e
imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer
acusação penal formulada contra ela, ou para que se determinem seus
direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer
outra natureza (ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS, 1969).
dela, traz-se a tona angústias profundas que dizem respeito ao litígio exposto em
âmbito judiciário.
sendo que esta pode, até mesmo, suspender o processo a fim de melhor resolução
da lide.
[...] Art. 694. Nas ações de família, todos os esforços serão empreendidos
para a solução consensual da controvérsia, devendo o juiz dispor do auxílio
de profissionais de outras áreas de conhecimento para a mediação e
conciliação.
Parágrafo único. A requerimento das partes, o juiz pode determinar a
suspensão do processo enquanto os litigantes se submetem a mediação
extrajudicial ou a atendimento multidisciplinar. [...] (BRASIL, 2015).
dentro do processo poder de decisão, que deve ser escolhido por designação do
tribunal ou pelas partes. Com orientação de um terceiro, as partes seriam auxiliadas
e estimuladas a identificar solução consensual para o litígio, levando em
consideração o olhar sistêmico proposto por Bert Hellinger (BRASIL, 2017).
O art. 15 do referido instrumento legal em tramitação, estabelece sobre a
possibilidade de haver, dentro dos centros judiciários, a presença de consteladores,
que visam assessorar a prática de resolução de controvérsias:
Além disso, Sami (2017) dispõe que, o estudo do Direito Sistêmico atua de
forma a ampliar a compreensão sobre as dinâmicas ocultas nos conflitos. Relata que
cada parte tem motivos para ter se envolvido no litígio da forma como fez
(agressores, vítimas, devedores e etc.). E esses motivos, por sua vez, podem ter
raízes profundas que não dizem respeito à outra parte litigante, mas sim do sistema
familiar de cada um, do passado e, inclusive, de gerações anteriores.
Do mesmo modo, no âmbito do direito de família, as constelações familiares
servem como um instrumento de sensibilização para as partes litigantes. Por meio
deste mecanismo, as pessoas envolvidas no processo conseguem encontrar um
alívio pessoal e processual para a questão objeto de desavenças. A constelação
fornece às pessoas a capacidade de olhar de maneira mais amorosa, respeitosa e
menos conflitante em relação ao problema que enfrentam. Além disso, é através
desse método que os membros encontram reconhecimento, conseguem ser vistos e
terem voz, de forma que as mágoas, rancores e desentendimentos dão lugar ao
diálogo e ao entendimento.
Sami Storch relata que,
Dessa forma, pode-se perceber que o magistrado optou por atuar de forma
pacificadora dentro do processo, na medida em que sensibiliza as partes a voltarem
sua atenção para o sistema familiar, e não exclusivamente para o litígio. Sami (2016)
conta que muitas vezes, após suas falas, as partes já estão bastante emocionadas,
e conseguem olhar para o outro com amor e respeito novamente, deixando de lado
a necessidade de vingança ou sentimentos de raiva, rancor e dor.
Pode-se perceber que os conflitos são ainda mais delicados quando existem
filhos menores envolvidos no processo, exigindo ainda mais atenção do constelador.
Os litígios envolvendo guarda, adoção, alienação parental e etc., necessitam de
maior cuidado ante a necessidade de proteção à criança ou ao adolescente. Sami
(2016) refere que em muitos processos em que atua, as crianças e adolescentes
frutos de relações conjugais em processo de divórcio, não são poupadas de
comentários críticos, raiva e menosprezo em relação ao companheiro litigante.
Nesse caso, foca nos pais com a intenção de alertá-los sobre os efeitos danosos de
suas condutas, sempre amparado pelas leis e princípios transmitidos por Bert
Hellinger.
(...) ambos têm filhos juntos, mas não conseguem conversar entre si para
resolver como fazer, não disfarçam a raiva, nem escondem dos filhos
comentários de crítica e menosprezo em relação ao (à) ex-companheiro(a).
―Seu pai não presta‖; ―ele não paga nem sua pensão‖; ―ele não vale nada‖;
―sua mãe não te educa direito, ela não sabe de nada‖; ―é uma vagabunda‖;
―não quero vocês convivendo com aquele sujeito‖, são frases comumente
ouvidas pelos filhos de pais separados. Convido as partes a imaginar como
o filho se sente ao ouvir frases como essas e como demonstrações de
desrespeito e desconsideração entre os pais podem gerar conflitos internos
nos filhos, com dificuldades de relacionamento, de concentração e de
aprendizagem na escola, assim como eventual envolvimento com drogas.
Isso porque o filho sente uma profunda conexão com cada um dos pais e é
constituído por ambos. Negar a importância e o valor de qualquer um dos
pais tem, para o filho, o efeito de negar a sua própria importância. Faz com
que, internamente, ele se sinta desintegrado e vazio. Essa criança se sente
amada, se não vê os próprios pais respeitarem sua origem? Explico,
portanto, a importância de deixar o filho fora do conflito, e sugiro que se
imaginem dizendo a ele frases como: ―eu e seu pai/sua mãe temos
problemas, mas isso não tem nada a ver com você; nós somos adultos e
nós resolvemos‖; ―fique fora disso; você é só nosso filho‖; ―eu gostei muito
do seu pai/sua mãe, e você nasceu de um momento de amor que tivemos‖;
―eu e seu pai/sua mãe estaremos sempre juntos em você‖; ―quando eu olho
para você, vejo seu pai/sua mãe. (STORCH, 2016, não paginado).
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Um dos casos que mais chamou a atenção foi o de um casal de irmãos que
disputavam judicialmente um inventário de mais de R$ 10 milhões. Eles não
se falavam há 20 anos. O irmão era contra o casamento da irmã, realizado
aos 17 anos. Ao constatar que a presença do marido da irmã impedia
qualquer conversa, a psicóloga pediu para que ele se afastasse durante a
Constelação Familiar e, aos poucos, os irmãos começaram a conversar.
Acabaram chegando a um acordo em relação à herança e o processo foi
extinto. Mais do que isso, os irmão se reconciliaram, depois de duas
décadas de separação. ―A Constelação Familiar vai muito além do processo
— reconstitui vínculos. Uma herança, por exemplo, não é só feita de
dinheiro, mas vem sempre carregada de amores e dores‖, lembra
Rosângela Montefusco. De acordo com ela, toda pessoa é parte de um
sistema familiar e o que cada um faz pode interferir por quatro ou cinco
gerações à frente. Os familiares podem traçar, explica a psicóloga, uma
espécie de lealdade invisível. ―Por exemplo, uma avó costuma ser agredida
pelo marido. A sua neta pode acabar reproduzindo esse padrão, porque
inconscientemente pensa: como posso ser feliz se a minha avó não é?‖, diz
(FARIELLO, 2018, não paginado).
remédios receitados, motivo que levou a mãe entrar na Justiça para obrigar
a filha a se internar. A liminar foi concedida pelo juiz e a filha foi internada. A
Constelação foi iniciada com pessoas representando a filha viciada, o pai de
Laura, o avô da garota e o próprio crack. O personagem que fazia o papel
da droga se colocou entre mãe e filha, impedindo que se comunicassem.
Durante a experiência, algumas histórias vieram à tona: Laura, a mãe, havia
sido forçada pelo pai a se casar, motivo pelo qual cortara o contato com ele,
o que a fizera sofrer muito. E a exclusão do avô gerava grande mágoa
também na neta. Segundo Bert Hellinger, o inventor da Constelação
Familiar, a droga representa para o viciado alguém da família que foi
excluído — geralmente o pai. Depois de muita resistência, Laura conseguiu
encarar a pessoa que representava o seu pai e o abraçou. Neste momento,
o juiz interrompeu a sessão de Constelação. Dias depois, a assistente social
comunicou ao juiz que Laura estava bem mais tranquila e havia retomado
contato com sua filha, em um diálogo inicialmente travado por telefone. A
instituição de tratamento informou, também, que houve melhora sensível no
quadro psicológico da filha. Resultados como esse são comuns após a
Constelação Familiar – mães reestabelecem o contato com filhos,
adolescentes que cumprem medida socioeducativa deixam a violência de
lado, pessoas que disputam a guarda de crianças entram em acordo.
(FARIELLO, 2018, não paginado).
pelos juízes Wilka Vilela, Élio Braz, Laura Simões e Ana Cecilia Toscano. O
projeto será apresentado à Coordenadoria da Central de Conciliação,
Mediação e Arbitragem do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) ainda
este ano. ―O objetivo é que possamos resolver ou transformar os conflitos
de forma definitiva, e, não apenas resolver o processo, resgatando o
convívio familiar dos jurisdicionados que é o mais importante‖, enfatizou a
juíza. (BRASIL, 2016, não paginado).
Salienta-se que outras experiências vêm sendo realizadas com auxílio das
constelações na justiça, tais como: interrogatório de crianças e adolescentes com
uso de bonecos; constelações em instituições de acolhimento para buscar a melhor
solução para crianças e adolescentes institucionalizados – retorno à família de
origem, encaminhamento à família extensa ou à adoção; constelações na área
criminal com agressores, vítimas e agentes do Estado; constelações com
adolescentes autores de atos infracionais, suas famílias e vítimas; etc. (SAMI, 2016).
de conciliações foi de 91%; nos demais, foi de 73%. Além disso, nos processos em
que ambas as partes participaram da vivência, o índice de acordos chegou à 100%.
Além disso, de acordo com o jornal Diário do Sul (2018), o CEJUSC (Centro
Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania) do município de Tubarão, que é
coordenado pela magistrada Miriam Regina Garcia Cavalcanti, titular da Vara de
Família, Órfãos, Infância e Juventude, registrou um índice de conciliação superior à
75%, com a obtenção de 87 acordos em 115 audiências efetivamente realizadas. O
método sistêmico de Bert Hellinger é utilizado na referida comarca desde de
dezembro de 2014.
Sami (2016) explica que, além de contribuir para o aperfeiçoamento da
justiça, a prática também ocasiona uma melhoria nos relacionamentos das famílias –
que, sabendo lidar melhor com os conflitos, podem viver em paz e assim
proporcionar um ambiente melhor para o crescimento e desenvolvimento dos filhos,
com respeito e consideração à importância de cada um. Tendo como uma
consequência natural disso, a melhora nos relacionamentos em geral e a redução
dos conflitos na comunidade.
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melhor forma possível o seu papel na construção de uma sociedade cada vez mais
justa, pacífica e humanizada.
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5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei nº 9444, de 2017. Dispõe sobre a
inclusão da Constelação Sistêmica como um instrumento de mediação entre
particulares, a fim de assistir à solução de controvérsias. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=03AAAE
1AC4DDAB1B5CE74C798B0EC2DB.proposicoesWebExterno1?codteor=1635223&fi
lename=PL+9444/2017. Acesso em: 21 ago. 2020.
HELLINGER, Bert. A fonte não precisa perguntar pelo caminho. Patos de Minas:
Atman Ltda., 2002.
MENDES, Ana Tarda dos Santos; LIMA, Gabriel Nascimento. O que vem a ser
Direito Sistêmico? Jus, 2017, Teresina. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/54930/o-que-vem-a-ser-direito-sistemico. Acesso em: 21
ago. 2020.
SCHMIDT, Cândice C.; PAN NYS, Cristiane; PASSOS, Lizandra dos. Justiça
Sistêmica: Um novo olhar do judiciário sobre as dinâmicas familiares e a
resolução de conflitos. Disponível em:
https://www.tjrs.jus.br/export/poder_judiciario/tribunal_de_justica/centro_de_estudos/
horizontes/constelacoes_familiares_artigo.pdf. Acesso em: 15 jun. 2020.
STORCH, Sami. Direito sistêmico é uma luz no campo dos meios adequados de
solução de confitos. In: Revista Consultor Jurídico, São Paulo, 20 jun. 2018.
Disponível em:https://www.conjur.com.br/2018-jun-20/sami-storch-direito-sistemico-
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STORCH, Sami. Por que aprender Direito Sistêmico? Direito Sistêmico, 10 abr.
2017. Disponível em: https://direitosistemico.wordpress.com/2017/04/10/por-que-
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TARTUCE, Fernanda. Mediação nos conflitos civis. São Paulo: Forense Ltda.,
2018.