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RAFAELA MYLENA ZAGO

CONSTELAÇÕES FAMILIARES: A APLICABILIDADE NOS TRIBUNAIS COMO


MÉTODO DE RESOLUÇÃO ALTERNATIVA DE CONFLITOS

Trabalho de conclusão de curso


apresentado como requisito parcial à
obtenção do grau de Bacharel em
Direito, Departamento de Ciências
Sociais Aplicadas da Universidade
Regional Integrada do Alto Uruguai e
das Missões – Campus de Erechim.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Giana Lisa


Zanardo Sartori.

ERECHIM
2020
RAFAELA MYLENA ZAGO

CONSTELAÇÕES FAMILIARES: A APLICABILIDADE NOS TRIBUNAIS COMO


MÉTODO DE RESOLUÇÃO ALTERNATIVA DE CONFLITOS

Trabalho de conclusão de curso


apresentado como requisito parcial à
obtenção do grau de Bacharel em Direito,
Departamento de Ciências Sociais
Aplicadas da Universidade Regional
Integrada do Alto Uruguai e das Missões
– Campus de Erechim.

Erechim, ___ de ____________ de 2020.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________
Prof.ª Dr.ª Giana Lisa Zanardo Sartori
URI – Campus de Erechim

________________________________
Prof.ª Me. Andréa Mignoni
URI – Campus de Erechim

_________________________________
Prof.ª Me. Caroline Isabela Capalesso Ceni
URI – Campus de Erechim
Dedico este trabalho a toda minha
família, especialmente aos meus pais,
que me incentivaram e deram todo o
suporte necessário para que eu
conseguisse chegar ao fim desta
formação.
AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, por me amarem incondicionalmente, por não medirem


esforços durante toda esta caminhada para que eu pudesse realizar este sonho e,
por acreditarem na minha capacidade de voar alto e conquistar o que desejo.
À minha irmã Camila, por diariamente me fazer acreditar em um mundo
melhor e por ser um modelo para mim, me ajudando e encorajando em todos os
momentos.
Às minhas irmãs de alma, Letícia e Heloísa pelo apoio e incentivo em toda
esta jornada.
Aos meus amigos, por me ensinarem tanto sobre amizade, cumplicidade e
companheirismo.
À Adriana Ansolin por me iniciar no mundo das constelações familiares e por
me apresentar o verdadeiro movimento do amor.
Por fim, agradeço especialmente à minha orientadora Giana que me auxiliou
do começo ao fim deste trabalho, me inspirando a buscar um direito cada vez mais
humanizado, de soluções pacíficas e harmoniosas.
A vida lhe nega milagres, até que entenda
que tudo é um milagre.
A vida encurta seu tempo, para você se
apressar em aprender a viver.
(Bert Hellinger)
RESUMO

O presente trabalho analisou a aplicação do método de Constelação Familiar nos


Tribunais brasileiros, mais especificamente nas varas de família, como uma forma de
resolução alternativa de conflitos. O estudo procurou destacar a sua efetividade e
seu crescente uso para promoção da verdadeira justiça curativa. Por meio da
aplicação das constelações familiares traz-se consciência às partes do real motivo
que as levou ao conflito. O método de constelação familiar aplicado atualmente no
Poder Judiciário é baseado no modelo sistêmico de Bert Hellinger, que visa desfazer
os emaranhamentos dos sistemas familiares para posterior aplicação da Ordens do
Amor, sendo que ao final, o sistema familiar deve ser norteado pela ordem,
hierarquia e equilíbrio. Atualmente, busca-se mecanismos para auxiliar no
descongestionamento do Poder Judiciário, bem como, métodos de tornar a sentença
judicial mais eficiente a longo prazo. Nessa perspectiva, optou-se por uma análise
mais detalhada da temática em voga, com o intuito de aprofundar os estudos acerca
de diferentes autores, que mostrem como a constelação familiar pode auxiliar no
processo de descongestionamento, bem ainda na construção de um Poder
Judiciário mais humanizado e que promova transformações na vida das pessoas,
para que se sintam satisfeitas a longo prazo com a solução alcançada em vias
judiciais. O método de pesquisa, por sua vez, foi o analítico descritivo, por meio da
técnica de pesquisa documental e bibliográfica.

Palavras-chaves: Constelações Familiares. Poder Judiciário. Soluções pacíficas.


Conflitos.
Abstract

The present work aims to analyze Systemic Family Constellations, its applications as
an alternative method for conflict resolution, as well as the support of Brazilian
legislation through the use this therapeutic method in the judiciary. The application of
Family Constellations brings about to the involved the consciousness about the real
reason that led them to the conflict. This approach currently applied in the judiciary is
based on the systemic model of Bert Hellinger which aims to undo the entanglements
of family systems for posterior application of Orders of Love, being that at the end,
the family system must be guided by order, hierarchy and balance. Nowadays, it
seeks mechanisms to assist on the de-bottlenecking of the judiciary as well as
methods to make court sentence more efficient in the long run. In this perspective,
we opted for a more detailed analysis of the theme in vogue, aiming to make a
deeper study on different authors who shows how family constellation can help on
the decongestant process alongside on the construction of a more humanized
judiciary that promotes transformations in people’s lives for them feel long term
satisfied with the solution achieved in the legal means. The search method in turn
was analytical descriptive, by means of documentary and bibliographic research.

Keywords: Family Constellations. Judiciary. Pacific solutions. Conflicts.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO…………………………………………………………………………..10

2 BERT HELLINGER E A CRIAÇÃO DAS CONSTELAÇÕES


FAMILIARES…………...............................................................................................12

2.1 Fundamentos das constelações familiares………………………………...…...15

2.2 Conceituação de constelação familiar………………………………………...…18

2.3 Os níveis de consciência………………………………………………………...…20

2.3.1 A consciência pessoal…………………...…………………………………..…......22

2.3.2 A consciência coletiva…………………………………………..……………...…..23

2.3.3 A consciência espiritual………………………………………..……………...……24

2.4 As ordens do amor e suas leis………………………...…………………………..24

2.4.1 Lei do pertencimento……………………………………...…………………...……25

2.4.2 Lei do equilíbrio………………………………………………………………...……27

2.4.3 Lei da hierarquia……………………………………………………..………...……27

2.5 Funcionamento da constelação familiar…………………………...…………….28

3 AS CONSTELAÇÕES FAMILIARES NO ÂMBITO JURÍDICO……...……….........31

3.1 Possibilidade de utilização da constelação familiar como método de


resolução alternativa de conflitos, de acordo com a legislação
brasileira…...........................................................................................................….34

3.2 A constelação familiar e o Direito Sistêmico como instrumentos


terapêuticos….....………………………………………….……………………………...39

4 A APLICABILIDADE DAS CONSTELAÇÕES NOS TRIBUNAIS……...……...….43

4.1 Projetos de constelações familiares implementados no Poder


Judiciário…...............................................................................................................45
4.2 Resultados da aplicação das constelações familiares no Poder
Judiciário...................................................................................................................52

5 CONCLUSÃO……………………….……………...………………………………........56

REFERÊNCIAS……………………………………….……………………………...........59
10

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho visa analisar a aplicação do método de constelação


familiar nos tribunais, mais especificamente nas varas de família, como uma forma
de resolução alternativa de conflitos, bem como demonstrar sua efetividade e seu
crescente uso para promoção da verdadeira justiça curativa1.
O tema despertou interesse em razão da atual crise que assola o Poder
Judiciário brasileiro. A grande demanda pela utilização da justiça como um
mecanismo para auxiliar na resolução de litígios, gerou uma espécie de
congestionamento processual que, aliado à pouca aplicação de métodos
alternativos, ocasiona lentidão e ineficácia, uma vez que a decisão imposta pelo
Estado acaba não atendendo as necessidades das pessoas, raramente trazendo
paz aos envolvidos.
Em decorrência da evolução natural da sociedade e das relações, é inegável
que o número de demandas judiciais também tem aumentado nos últimos anos e,
com isso, a morosidade na prolação de uma decisão definitiva às partes. Assim, com
a entrada em vigor do Código de Processo Civil de 2015 e com a elaboração de
Resoluções do Conselho Nacional de Justiça, passou-se a dar destaque aos
chamados meios alternativos de solução de conflitos, dentre eles encontrando-se as
constelações sistêmicas.
Justifica-se a importância da presente monografia tendo em vista a
problemática enfrentada pelos profissionais da área jurídica e pela sociedade em
geral na falta de soluções profundas e duradouras nos processos judiciais. Percebe-
se o retorno de muitas questões ao Judiciário, pela falta de resultados eficazes e
adequados em longo prazo, uma vez que o problema inicialmente solucionado pela
sentença não produz às partes um mecanismo de cura.
Atualmente, unidades de justiça de pelo menos dezesseis estados brasileiros
e o Distrito Federal já fazem uso das constelações familiares. O propósito maior da
utilização desta técnica no Judiciário é trazer às partes um processo mais
humanizado, buscando esclarecer as dinâmicas que estão por trás dos conflitos
enfrentados, em razão de que, os casos levados para uma sessão de constelação,
1
Termo utilizado pelo Procurador de Justiça Amilton Plácido da Rosa para se referir aos efeitos
promovidos pela utilização da constelação familiar e do método sistêmico no Poder Judiciário, uma
vez que promovem um verdadeiro mecanismo de cura e transformação familiar.
11

em geral, versam acerca de questões de origem familiar, tais como, divórcios,


abandonos, adoções, guarda dos filhos e violência doméstica.
Em decorrência da aplicação das constelações familiares na prática jurídica,
aos poucos a legislação brasileira está tendo que se adaptar, criando projetos que
formalizem as regras e procedimentos dessa nova técnica.
Desse modo, no primeiro capítulo se analisará o método criado por Bert
Hellinger, seus fundamentos, níveis de consciências, classificações, leis e
funcionamento da dinâmica de constelação familiar.
No segundo capítulo, se investigará os conflitos, bem como a possibilidade de
aplicação das constelações familiares no Poder Judiciário, à luz da legislação
brasileira. Além disso, analisar-se-á o aspecto terapêutico, e também, a
possibilidade de transformação pessoal e familiar que esse método sistêmico
fornece.
Por sua vez, no terceiro capítulo se estudará a forma como a constelação
familiar vem sendo aplicada nos tribunais, expondo os resultados e pesquisas feitas
até então, bem como os índices de aprovação e rejeição.
Por fim, ao realizar um estudo sobre a importância das
constelações familiares quando aplicadas nos tribunais, busca-se expor as
vantagens da adoção deste método por juízes, uma vez que promove o direito da
reconciliação e auxilia no descongestionamento do Poder Judiciário.
A metodologia utilizada foi a analítico-descritiva e o raciocínio indutivo, com
técnica de pesquisa documental e bibliográfica.
12

2 BERT HELLINGER E A CRIAÇÃO DAS CONSTELAÇÕES FAMILIARES

Bert Hellinger nasceu em 16 de dezembro de 1925, em Leimen, uma cidade


do noroeste da Alemanha, em uma numerosa família católica. Começou estudar em
um monastério aos dez anos de idade. Entre vários episódios marcantes da vida do
psicoterapeuta alemão, tem-se o momento em que acabou como prisioneiro por um
ano, em um campo de concentração na Bélgica.
Posteriormente, após conseguir fugir do campo de concentração, voltou para
a Alemanha, seu país de origem, a fim de terminar sua formação. Após se tornar
padre, foi enviado como missionário para a África do Sul onde, no período, reinava o
regime de segregação racial do Apartheid.
Depois de viver cerca de dezesseis anos na África do Sul e presenciar muitos
conflitos raciais, começou uma investigação para entender quais eram as origens
das lutas sociais. Buscava compreender por que, para algumas pessoas, os valores
sociais eram mais importantes do que a própria vida humana. Com anseio de
pesquisa, largou seu trabalho como padre e missionário para aprofundar-se no
campo da psicanálise.
Discorre, em seu livro Ordens do Amor (2001) sobre a importância da
experiência que teve com os zulus, durante sua passagem pela África do Sul, pois lá
conheceu uma forma de convívio humano totalmente diferente entre os membros
daquela comunidade, apesar do Apartheid que assolava o país. Ali, as relações
eram norteadas pelo respeito, paciência e não havia espaço para ofensas entre os
membros. Dessa forma, preservavam-se os semblantes e a dignidade. Com efeito,
os zulus faziam valer a autoridade familiar e jamais se ouvia alguém falando
depreciativamente dos próprios pais (HELLINGER, 2001).
Já em meados dos anos 60, ao aprofundar sua pesquisa, descobriu os níveis
de consciência e, também as leis que definem o método sistêmico, quais sejam,
pertencimento, equilíbrio e hierarquia. A partir disso, começou a perceber também a
fenomenologia como fonte de todo o conhecimento.
Bert (2001) analisa, além disso, que essa ciência é justamente o movimento
de olhar os detalhes e depois perceber o todo, ou seja, a diversidade de percepções
é o que gera conhecimento. A referência à renúncia, por sua vez, é muito presente
em suas obras, pois é por meio dela, quando se afastam pré-conceitos, que a
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realidade aparece tal qual ela é. Mas, para que a renúncia aconteça, é necessário
coragem e destemor.
Ao estudar sobre fenomenologia filosófica, Bert descobriu alguns aspectos
essenciais da consciência. Retrata (2001) que é por meio da consciência (boa e má,
sentida e oculta) que, inicialmente, pode-se perceber se um indivíduo faz parte ou
não de um sistema e também se a consciência é regida por sentimentos de
inocência e de culpa. É, portanto, a consciência que norteia todo seu trabalho sobre
constelações familiares.
Além disso, Hellinger teve sua pesquisa baseada em vários outros
estudiosos. Descreve como chegou à psicoterapia sistêmica:

É difícil para mim refazer esse caminho, pois já se passou muito tempo.
Porém, quanto me lembre, o insight decisivo me veio quando pratiquei a
Análise do Script segundo Eric Berne. Ele partiu da constatação de que
cada pessoa vive de acordo com determinado padrão. Esse padrão pode
ser encontrado em histórias literárias como contos de fadas, romances,
filmes, etc., que impressionaram essa pessoa. Pede-se a ela que mencione
uma história que a comoveu em sua primeira infância — ainda antes do
quinto ano de vida —, e uma segunda história que a comove atualmente.
Então se comparam essas duas histórias e a partir do elemento comum a
ambas se deduz qual é o secreto plano de vida daquela pessoa. Eric Berne
acreditava que esse script resultava das primeiras mensagens que os pais
transmitem aos filhos. Entretanto, descobri de repente que isso não é
verdade. (HELLINGER, 2001, p. 270).

Prossegue, ainda, dizendo que:

Depois de algum tempo, descobri que muitas dessas histórias


absolutamente não se referem à pessoa que as conta, mas a outra pessoa
de sua família. Por exemplo, certa vez encontrei um homem que em criança
se impressionara muito com a história de Otelo. Aí me ocorreu, de repente,
que essa história não poderia referir-se a ele mesmo, pois uma criança não
pode vivenciar o que Otelo vivenciou. Então perguntei-lhe, de chofre: que
homem de sua família matou alguém por ciúme? Ele respondeu: meu avô.
Sua mulher lhe fora infiel e ele fuzilou o amante. Desde então, passei a
distinguir muito claramente, quando trabalhava com scripts, se a história
dizia respeito a uma vivência do próprio cliente ou de alguma outra pessoa.
Assim deparei, pela primeira vez, com a dimensão sistêmica dos problemas
e dos destinos pessoais. (HELLINGER, 2001, p. 270).

Na mesma esteira, Bert (2001) atribui também a Arthur Janov, autor de The
Primal Scream (1970) e criador da teoria de terapia primal, a concessão de
embasamento científico para criação do método sistêmico. Depois de finalizar a
formação em psicanálise, dentre os anos de 1974 a 1988, combinou a análise do
script de Berne com a terapia primal de Janov. Em 1979, começou a ocupar-se com
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a terapia familiar, onde teve como mestres Ruth McClendon e Les Kadis, que faziam
constelações familiares e encontravam, por meio delas, bons resultados. Aliado a
isso, participou de dois cursos com Thea Schönfelder sobre esse tema.
Com efeito, faz-se necessário salientar o relevante papel que a
psicoterapeuta norte-americana Virgínia Satir teve na criação do método hoje
conhecido como constelação familiar. Virgínia foi a criadora do conceito de
esculturas familiares que nada mais é do que uma representação simbólica do
sistema familiar. Esse foi um instrumento eficaz de posicionamento dos membros de
uma família dentro da chamada teia relacional. Por meio deste método, combinava-
se a técnica de terapia familiar com as esculturas familiares (IPÊ ROXO, 2018).
Carola Castillo afirma:

Virgínia Satir (1916-1988) desenvolveu um extenso repertório de técnicas


terapêuticas, todas elas enfocadas no trabalho com a família como sistema,
e no que a comunicação tinha papel fundamental. [...] Virgínia Satir chamou
a estrutura familiar que desenvolveu de Técnicas de uma situação familiar.
Nesse método, os membros da família eram dispostos em uma
representação espacial para que pudessem revelar as relações na estrutura
da família. Os membros da família assumiam seus verdadeiros papéis ou
estes eram atuados por outros participantes do workshop. [...] Satir usou
essa estrutura de trabalho no âmbito das reconstruções familiares para
confrontar intensamente o paciente com sua história familiar. (CASTILLO,
2016, p. 21).

Bert refere (2001) que foi somente no ano de 1995 que escreveu seu primeiro
livro, chamado A Simetria Oculta do Amor, muito em razão do convite e influência
direta do psiquiatra alemão Gunthard Weber.
Demais disso, pode-se dizer que o amor é o sentimento que norteia todo o
trabalho e a vida de Bert Hellinger. Diz, em sua obra (2001), que o ponto mais
importante para a criação do método sistêmico foi reconhecer que o amor atua por
trás de todos os comportamentos humanos. Cita também:

[...] é fundamental na terapia que encontremos o ponto onde se concentra o


amor. Então chegamos à raiz, onde se encontra também o caminho para a
solução, que sempre passa também pelo amor. Isso eu vivenciei primeiro
na terapia primal e, em seguida, também na análise do script e na terapia
familiar. Notei que grande parte do tão decantado trabalho com emoções,
onde o terapeuta diz ao cliente ―Solte sua raiva‖, deixa escapar o essencial.
Já vi casos em que alguém é incitado a dizer aos pais que está furioso com
eles ou mesmo que deseja matá-los, e mais tarde se castiga severamente
por isso. A alma da criança não tolera nenhuma depreciação dos pais. Só
quando vi isso é que tomei plena consciência da dimensão desse amor. Por
15

isso, procuro sempre e antes de tudo pelo amor, e oponho-me a tudo que o
coloque em risco. (HELLINGER, 2001, p. 276).

Foi por meio de muito de trabalho, teorias e pesquisas que Bert Hellinger,
com o auxílio de sua esposa Sophie Hellinger, construiu o método sistêmico
conhecido atualmente. Seu respeito pela observação e pelos fenômenos como são,
foram os pilares para o surgimento da Hellinger Sciencia em 2005, que é o conceito
da ciência universal das relações baseada no amor, onde a hierarquia, o equilíbrio e
o pertencimento devem prevalecer. A Hellinger Sciencia encontrou sua aplicação na
psicoterapia, medicina, educação, economia, política e também no judiciário e
acabou se espalhando pelo mundo.

2.1 Fundamentos das constelações familiares

A constelação familiar encontra seus fundamentos na fenomenologia, na


observação e na experiência. O modelo de estudo fenomenológico foi criado por
Edmund Husserl no final do século XIX e início do século XX.
A fenomenologia tem seu surgimento na filosofia como ciência e versa acerca
da experiência que a consciência tem do mundo. Husserl entendia o mundo como
um fenômeno que precisa ser desvelado e trabalhava a consciência não como algo
vazio, e sim como mutável, fluxo. Pode-se dizer que seu propósito era buscar e
analisar os fenômenos como uma experiência consciente, da maneira mais afastada
de pré-conceitos possível.
Acima de tudo, a fenomenologia busca descobrir quais são pontos limitantes
do conhecimento. Trata-se de um estudo sobre o que pode e o que não pode ser
percebido, com a intenção de compreender a experiência humana, esclarecendo
como a mente encaminha o pensamento à certos objetos ou à realidade.
Hellinger (2001) explica a fenomenologia como um movimento que leva o ser
humano ao conhecimento.

Dois movimentos nos levam ao conhecimento. O primeiro é exploratório e


quer abarcar alguma coisa até então desconhecida, para apropriar-se e
dispor dela. O esforço científico pertence a esse tipo e sabemos quanto ele
transformou, assegurou e enriqueceu o nosso mundo e a nossa vida. O
segundo movimento nasce quando nos detemos durante o esforço
exploratório e dirigimos o olhar, não mais para um determinado objeto
apreensível, mas para um todo. Assim, o olhar se dispõe a receber
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simultaneamente a diversidade com que se defronta. Quando nos deixamos


levar por esse movimento diante de uma paisagem, por exemplo, de uma
tarefa ou de um problema, notamos como nosso olhar fica simultaneamente
pleno e vazio. Pois só quando prescindimos das particularidades é que
conseguimos expor-nos à plenitude e suportá-la. Assim, detemo-nos em
nosso movimento exploratório e recuamos um pouco, até atingir aquele
vazio que pode fazer face à plenitude e à diversidade. Esse movimento, que
inicialmente se detém e depois se retrai, eu chamo de fenomenológico. Ele
nos leva a conhecimentos diferentes dos que podemos obter pelo
movimento do conhecimento exploratório. Ambos se completam, porém.
Pois também no movimento do conhecimento científico exploratório,
precisamos às vezes parar e dirigir o olhar do estreito ao amplo, do próximo
ao distante. Por sua vez, o conhecimento obtido pela fenomenologia precisa
ser verificado no indivíduo e no próximo. (HELLINGER, 2001, p. 9-10).

Hellinger (2001, p. 10), recomenda: ―Quem teme o que a realidade traz à luz
coloca uma viseira nos olhos. E quem receia o que outros vão pensar ou fazer
quando diz o que percebeu fecha-se a um novo conhecimento.‖ Por meio disso,
destaca a importância da coragem, aliada à ausência de intenção, para se chegar à
verdade real ao final do caminho fenomenológico.
Dentro da dinâmica, os representantes se movimentam no campo do
constelado por meio de sensações físicas. O terapeuta responsável por coordenar o
método sistêmico, juntamente com o cliente, analisa o comportamento dos
representantes, a fim de chegar a uma visualização da dinâmica que está
inicialmente oculta e entender a origem do problema a ser constelado (CÉSPEDES,
2017).
Bert explica como esse movimento ocorre dentro do campo familiar em uma
constelação.

O cliente escolhe arbitrariamente, entre os participantes de um grupo,


representantes para si próprio e para outros membros significativos de sua
família, por exemplo, seu pai, sua mãe e seus irmãos. Estando
interiormente centrado, o cliente posiciona os representantes no recinto,
relacionando-os entre si. Através desse processo, o cliente é surpreendido
por algo que subitamente vem à luz. Isto significa que, no processo da
configuração da família, ele entra em contato com um saber que antes lhe
estava vedado. Um colega me contou recentemente um exemplo do fato.
Na constelação de uma família evidenciou-se que a cliente estava
identificada com uma ex-namorada de seu pai. Posteriormente, ela
interrogou o pai e outros parentes a respeito, mas todos lhe garantiram que
estava enganada. Alguns meses mais tarde, seu pai recebeu uma carta da
Bielo-Rússia. Era de uma mulher que tinha sido seu grande amor durante a
guerra e descobrira seu endereço depois de uma longa procura. Mas este é
apenas um lado, o do cliente. O outro lado é que o representante, logo que
é posicionado, começa a sentir-se como a pessoa que representa; às
vezes, chega a experimentar sintomas físicos dela. Presenciei casos em
que o representante ouviu intimamente o nome da pessoa. Tudo isso é
experimentado, embora os representantes saibam somente qual é a pessoa
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que estão representando. Portanto, no trabalho com as constelações


familiares, fica evidente que entre o cliente e os membros de seu sistema
atua um campo de força que é dotado de saber e o transmite através da
simples participação, sem mediação externa. O mais surpreendente é que
também os representantes possam conectar-se com esse conhecimento e
com a realidade dessa família, embora nada tenham a ver com ela e nada
possam saber sobre ela. (HELLINGER, 2001, p. 11).

O campo de força citado por Bert, que é também fundamento do método


sistêmico, é explicado por Rupert Sheldrake, biólogo inglês. Rupert propõe a
existência de campos de informações não materiais que são transmitidos e
compartilhados pelos seres humanos por meio da ressonância, são os chamados
campos morfogenéticos. É por meio desse processo de ressonância, que ocorre
dentro de sistemas com características semelhantes, que acontecimentos,
pensamentos e comportamentos retrógrados influenciam no presente (IPÊ ROXO,
2019).
A teoria criada pelo biólogo é também fundamento da constelação familiar.
Por meio dela, diz-se que os indivíduos do sistema são inspirados por outros
indivíduos em seus comportamentos e ações. As informações vistas no decorrer das
constelações familiares surgem dos campos mórficos, e repercutem nos
representantes, que passam a ter sensações em seus próprios corpos, gerando
movimento. O movimento é claro e não necessita de interpretação (IPÊ ROXO,
2019).
De acordo com o entendimento de Castillo (2016), o biólogo Rupert
Sheldrake, em sua teoria dos campos morfogenéticos, expõe que existe um efeito
ressoante, que explica a interação entre os campos.

Os campos morfogenéticos apoiam-se na existência de uma memória


inerente, baseada em qualquer tipo de sistema organizado que atua como
uma espécie de memória. A maneira como essa memória se transforma e
se transfere é por meio do que se denomina ressonância mórfica. Portanto,
qualquer indivíduo se encontra influenciado por/influenciado essa memória,
e a experiência de qualquer pessoa pode fazer uma contribuição a essa
memória, e vice-versa. Essa concepção do universo cheio de campos que
criam forças interativas explica nossa capacidade para nos afetarmos
mutuamente à distância por meios diferentes da palavra ou da visão. Ou
seja, a transmissão de informação entre organismos da mesma espécie,
sem medir ou interagir, é possível. (CASTILLO, 2016, p. 29).

Os corpos que apresentam características semelhantes tornam-se mais


potentes e ressoam melhor as informações do campo morfogenético. Essa teoria é
passível de visualização na constelação, quando pessoas que não tem
18

conhecimento acerca do sistema familiar do constelado, acabam sentindo os


acontecimentos do campo. É instintivo, muitas vezes, que pessoas escolhidas para
atuarem como representantes apresentem assuntos em comum com o objeto da
constelação.
Hellinger, ao reconhecer a existência desses campos, descobriu as leis que
regem o sistema familiar. É por meio do pertencimento que todos devem fazer parte
do sistema, sem nenhuma exclusão ou exceção. A hierarquia tem ligação com a
ordem, onde os antecessores tem precedência sobre os sucessores. O equilíbrio,
por sua vez, dispõe que as relações de dar e receber tem o mesmo peso e devem
fluir de maneira igualitária. As dificuldades e problemas surgem quando alguma
dessas leis é desrespeitada.

2.2 Conceituação de constelação familiar

A constelação familiar é uma técnica terapêutica que vem ganhando espaço


no mundo inteiro em diversas áreas do conhecimento e, inclusive, dentro do âmbito
jurídico. É considerada uma prática sistêmica porque compreende a família como
um sistema no qual, as características, emoções, arquétipos comportamentais,
exclusões, conflitos e acontecimentos em geral que são transmitidos de geração
para geração.
Para Oldoni, Lippmann e Girardi (2017) as constelações familiares podem ser
definidas como um método no qual se criam ―esculturas vivas‖, reconstruindo a
árvore genealógica de uma determinada pessoa, o que possibilita encontrar e
remover bloqueios do fluxo amoroso de qualquer geração ou membro da família.
A prática sistêmica ocorre por meio de representação, onde o cliente a ser
constelado escolhe pessoas para representar os membros de sua família de acordo
com sua vontade e íntima percepção.

O que é curioso nessas constelações é que as pessoas escolhidas para


representar os membros da família se sentem como as pessoas reais, tão
logo se encontrem na constelação. Algumas vezes começam a sentir até os
sintomas que os membros dessa família têm, sem sequer saber algo sobre
eles. Por exemplo, uma pessoa teve uma vez um ataque epiléptico quando
representou um epiléptico. Ou frequentemente um representante tem
taquicardia ou sente que um lado do corpo está frio. Se questionarmos as
pessoas reais, verificamos que é realmente o que sentem. Não existe uma
19

explicação para esse fato. Mas foi constatado milhares de vezes nessas
constelações. (TEN HÖVEL; HELLINGER, 2006, não paginado).

No desenrolar dessa terapia, pode-se perceber que muitos litígios, doenças,


sentimentos e problemas podem ter ligação direta com outros membros da família,
que também apresentaram as mesmas dores e frustrações. Bert chama de
emaranhamento essas repetições de comportamentos.

Emaranhamento significa que alguém na família retoma e revive


inconscientemente o destino de um familiar que viveu antes dele. Se, por
exemplo, numa família, uma criança foi entregue para adoção, mesmo
numa geração anterior, então um membro posterior dessa família se
comporta como se ele mesmo tivesse sido entregue. Sem conhecer esse
emaranhamento não poderá se livrar dele. A solução segue o caminho
contrário: a pessoa que foi entregue para adoção entra novamente em jogo.
E colocada, por exemplo, na constelação familiar. De repente, a pessoa que
foi excluída da família passa a ser uma proteção para aquela que estava
identificada com ela. Quando essa pessoa volta a fazer parte do sistema
familiar e é honrada, ela olha afetuosamente para os descendentes. (TEN
HÖVEL; HELLINGER, 2006, não paginado).

Esclarece ainda que,

[...] na terapia familiar sistêmica, trata-se de averiguar se no sistema familiar


ampliado existe alguém que esteja emaranhado nos destinos de membros
anteriores dessa família. Isso pode ser trazido à luz através do trabalho com
constelações familiares. Trazendo-se à luz os emaranhamentos, a pessoa
consegue se libertar mais facilmente deles. (TEN HÖVEL; HELLINGER,
2006, não paginado).

Além disso, Hellinger (2006) exemplifica que as repetições de


comportamentos ocorrem de forma desorientada, pois o sistema familiar dispõe de
um inconsciente coletivo que norteia todos os membros. Se, em algum momento,
algum membro sofrer alguma injustiça, for excluído ou vier a falecer de forma
precipitada, surge, no grupo, uma necessidade de compensação. Ou seja, a injustiça
sofrida por aquele indivíduo será representada e sofrida posteriormente por outro
como uma forma de compensação e repetição.
Entretanto ocorre que,

[...] essa forma de repetição nunca coloca nada em ordem. Aqueles que
devem assumir o destino de um membro excluído da família são escolhidos
e tratados injustamente pela consciência de grupo. São, na verdade,
completamente inocentes. Contudo, pode ser que aqueles que se tornaram
realmente culpados, porque abandonaram ou excluíram um membro da
família, por exemplo, sintam-se bem. A consciência de grupo não conhece
20

justiça para os descendentes, mas somente para os ascendentes.


Obviamente, isso tem a ver com a ordem básica dos sistemas familiares.
Ela atende à lei de que aquele que pertenceu uma vez ao sistema tem o
mesmo direito de pertinência que todos os outros. Mas, quando alguém é
condenado ou expulso, isso significa: ―Você tem menos direito de pertencer
ao sistema do que eu‖. Essa é a injustiça expiada através do
emaranhamento [...] (TEN HÖVEL; HELLINGER, 2006, não paginado).

De acordo com esse método terapêutico, todas as pessoas da família são


instigadas pelas ordens do amor. Quando há a ocorrência de um emaranhamento,
há uma intervenção nessas ordens. A constelação familiar atua justamente neste
ponto, resgatando o equilíbrio e trazendo de volta ao sistema os membros que
foram, de alguma forma, excluídos, dando-os voz, reconhecimento e amor.

2.3 Os níveis de consciência

A consciência e seu funcionamento regem a constelação sistêmica.


Destacam-se três níveis, sendo que cada um constrói uma extensão do que é real.
Quanto mais a consciência é expandida, mais o ser humano se afasta das crenças
limitantes e amplia seu processo de conhecimento fenomenológico.
Bert Hellinger em seu livro, onde é entrevistado por Gabriele Ten Hövel
(2006), cita que a descoberta da consciência, com o auxílio da fenomenologia, foi
decisiva para o desenvolvimento das constelações familiares.

Perguntei-me durante anos: O que é realmente a consciência? O que


significa ser consciencioso e o que acontece com as pessoas que são
conscienciosas? O que é que elas provocam: o bem ou o mal? Observei
como a consciência atua. Ela nega o amor àqueles que estão fora do grupo.
Isso foi um conhecimento importante para mim. Só é possível amar, honrar
e respeitar os que estão de fora do grupo transcendendo a consciência. Isso
é importante para o meu trabalho. Esse conhecimento é o resultado de uma
observação cuidadosa, não de qualquer ensino ou tradição.‖ (TEN HÖVEL;
HELLINGER, 2006, não paginado).

Para chegar a essa conclusão, Bert analisou os efeitos da inocência e da


culpa, uma vez que elas são vividas de maneiras opostas, variando conforme a
conjuntura em que se encontram. Relata que observou,

[...] que a consciência não é nada homogênea; ela tem muitas camadas.
Está limitada a uma determinada área, a um determinado grupo de pessoas
e tem um importante papel no comportamento humano. Mas não tem
nenhuma função superior ou, por assim dizer, divina. Portanto, ela não nos
21

diz o que é bom e o que é ruim em contextos mais amplos. (TEN HÖVEL;
HELLINGER, 2006, não paginado).

Para Bert (2002), a consciência é vivida como uma espécie de sentido, pelo
qual as pessoas percebem a que grupo pertencem. Para esclarecer o que é a
consciência, faz uma analogia com o senso de equilíbrio. Veja-se:

[...] logo que perdemos o equilíbrio, temos uma sensação de tontura, e essa
sensação faz com que corrijamos, imediatamente, a nossa postura, para
voltarmos novamente ao equilíbrio e ficarmos firmes. A consciência pessoal
atua de forma semelhante. Tão logo alguém se desvie daquilo que é válido
em sua família, em seu grupo, isto é, quando precisa temer que através de
seus atos coloca em jogo a sua pertinência, tem uma consciência pesada. A
consciência pesada é tão desagradável que faz com que ele mude o seu
comportamento de tal forma que possa pertencer novamente. Assim atua a
consciência pessoal. (HELLINGER, 2002, não paginado).

Além disso, esclarece que: ―A consciência funciona como uma peça de


equilíbrio do sistema do grupo, que acusa imediatamente se o indivíduo encontra-se
ou não em equilíbrio e harmonia com o mesmo. Pode-se falar em três tipos de
consciência, pessoal, coletiva e ampla.‖ (HELLINGER, 2001, apud MASIERO, 2016,
p.23).
Na mesma toada, discorre acerca dos três níveis de consciência:

As diferentes consciências são campos espirituais. A primeira delas, a


consciência pessoal é estreita e tem o seu alcance limitado. Pois, através
de sua diferenciação entre o bom e o mau, só reconhece para alguns o
direito de pertencer, excluindo outros. A segunda, a consciência coletiva, é
mais ampla, defendendo também os interesses daqueles que foram
excluídos pela consciência pessoal. Por isso, está frequentemente em
conflito com a consciência pessoal. Contudo, a consciência coletiva também
tem um limite porque abrange somente os membros dos grupos que são
governados por ela. A terceira, a consciência espiritual, supera as limitações
das outras duas consciências, limitações estas que surgem através da
diferenciação entre bom e mal e da diferenciação entre pertencimento e
exclusão. (HELLINGER, 2015, p. 53).

Portanto, para melhor compreensão do mecanismo de constelação familiar,


os três níveis de consciência serão abordados a seguir.
22

2.3.1 A consciência pessoal

O primeiro nível de consciência, conhecido como pessoal, é bastante estrito,


reduzido. Aqui, a consciência é tratada como boa e má, sendo que a pessoa sente-
se bem quanto apresenta uma boa consciência e mal quando dispõe de uma má
consciência.
A má consciência ocorre quando o ser humano não consegue ficar em
harmonia com o que lhe é exigido pelo grupo de pessoas ao qual quer ou necessita
pertencer, ocasionando um sentimento de temor. A consciência atua para que a
conexão entre as pessoas não seja perdida, para reestabelecer a ordem, afastando
o ser humano de pensamentos e ações que não condizem com o grupo ao qual
pertence. A má consciência é sentida de maneira mais forte, porque ela está ligada
ao receio de não conseguir pertencer, ou seja, ao medo da solidão (SCHEFFER,
2014).
Quando o indivíduo está em harmonia com o grupo, surge a boa consciência,
que traz segurança. Nesse caso, não há preocupação em pertencer ou em ser
aceito, pois tudo flui de forma natural: o pertencimento está assegurado a todos os
indivíduos.
Bert (2001) discorre que, ao analisar a boa e a má consciência, levou em
consideração aspectos essenciais, como por exemplo, a maneira como ela atua em
um órgão de equilíbrio sistêmico.

Dessa maneira, considerei os aspectos essenciais da consciência, por


exemplo, que ela atua como um órgão de equilíbrio sistêmico, ajudando-me a
perceber imediatamente se me encontro ou não em sintonia com o sistema e
se o que faço preserva e assegura o meu pertencimento ou se, pelo contrário,
o coloca em risco ou suprime. Portanto, nesse contexto, a boa consciência
significa apenas: ―Posso estar seguro de que ainda pertenço ao meu grupo.‖
E a má consciência significa: ―Receio não fazer mais parte do grupo‖. Assim,
a consciência pouco tem a ver com leis e verdades universais, mas é relativa
e varia de um grupo para outro. (HELLINGER, 2001, não paginado).

Além disso, cita que: ―A consciência pessoal nos liga a pessoas e grupos que
são importantes para o nosso bem-estar e nossa vida. Contudo, é uma consciência
estreita, pois nos liga somente a determinadas pessoas e grupos, excluindo
simultaneamente de outros.‖ (HELLINGER, 2015, p. 53).
23

Assim, a consciência pessoal é tida como mais sucinta, pois liga os indivíduos
a grupos e pessoas que considera essenciais para sua vivência e para manutenção
do seu bem-estar, afastando os grupos e pessoas que não considera importante
para sua vida. De igual modo, a consciência interfere em âmbito social, quando
estabelece e diferencia o que é bom e o que é mau, ou seja, quais atitudes podem e
devem ser seguidas e quais colocam a vivência em risco.

2.3.2 A consciência coletiva

A consciência coletiva é extremamente importante dentro da constelação


familiar, e seus efeitos são muito mais fortes do que os da consciência pessoal,
porque nesse nível trata-se de grupos e não de indivíduos isolados. A consciência
coletiva não tolera que as ordens do amor sejam desrespeitadas. Segundo Bert
(2002), é nesse nível que surge a necessidade de pertencimento e do pertencimento
decorre a necessidade de restabelecimento da ordem quando um membro do grupo
familiar é excluído.
Scheffer (2014) explica que, além da necessidade de restabelecimento, surge
a compensação, que faz com que algum membro represente o indivíduo excluído
para que o sistema volte a fluir de forma natural e compensada. Nesse nível, pode-
se perceber que os indivíduos agem dentro do grupo e não de forma isolada, e todos
buscam pela sobrevivência desse grupo, mesmo que para isso haja a necessidade
de sacrifício de alguns. Desse modo, a consciência coletiva deve sempre prevalecer
à pessoal.
De acordo com Hellinger, os membros de um mesmo grupo são regidos por
uma consciência coletiva.

Essa consciência coletiva ata a família e um grupo. Vela para que ninguém se
perca. É uma consciência grupai na qual todos participam da mesma forma e
que, como uma instância superior, conduz todos a uma meta. Essa meta é,
primordialmente, a sobrevivência do grupo. Por isso, essa consciência não
tolera que alguém desse grupo seja excluído ou esquecido. (HELLINGER,
2002, não paginado).

Por fim, a consciência de grupo deve ser sempre guiada pela ordem. A
hierarquia familiar não deve ser ignorada, pois é por meio dela que se torna possível
buscar o equilíbrio do sistema. Para se chegar à ordem, deve-se desprender-se da
24

diferenciação de bem e mal trazida pela consciência pessoal, pois o grupo deve ser
olhado como um todo.

2.3.3 A consciência espiritual

O último nível de consciência abordado por Hellinger é a espiritual, que


supera os aspectos limitantes impostos pelas citadas anteriormente. A
movimentação da alma de maneira criativa, transcende os desejos e interesses
pessoais, conforme explica Mattos (2012), não havendo necessidade de exclusão e
nem de pertencimento.
Todos os acontecimentos estão submetidos ao movimento da alma e os
indivíduos são guiados por esse processo. Há de se destacar que, a consciência
espiritual está fortemente ligada à pessoal, pois aqui também há a existência da boa
e da má consciência.
A boa consciência é a harmonia, o saber. Ocorre quando o indivíduo flui de
acordo com a dedicação do espírito a tudo, de forma natural e sendo guiado pelo
amor. A má consciência, em contrapartida, ocorre quando o indivíduo se desvia do
amor, excluindo alguma pessoa, revertendo-se em uma espécie de bloqueio, que
limita e tira força.
A consciência espiritual aceita a realidade como ela é, inclusive os destinos
mais dolorosos e trágicos existentes dentro de um sistema familiar. Além disso, é um
elo, pois une o que estava separado, tirando a inquietação e todo bloqueio espiritual
para que se chegue ao ponto do amor mais puro e primordial, de forma que o
indivíduo se sinta em perfeita harmonia com a vida.

2.4 As ordens do amor e suas leis

As ordens do amor são leis naturais e pré-estabelecidas que regem as


constelações familiares e mantém todo o sistema funcionando de forma equilibrada.
Para Bert Hellinger (2001), existe um inconsciente coletivo que pertence e é seguido
por todos os membros da família. Todo esse sistema é movido e sempre deve seguir
uma lei maior, a lei do amor, que é o cerne de todos os problemas e também o ponto
inicial para a solução dos mesmos.
25

Bert cita que o aspecto mais importante dentro do estudo das constelações
familiares foi reconhecer onde o amor atua.

O aspecto mais importante foi reconhecer que o amor atua por trás de todos
os comportamentos, por mais estranhos que nos pareçam, e também de
todos os sintomas de uma pessoa. Por esse motivo, é fundamental na
terapia que encontremos o ponto onde se concentra o amor. Então
chegamos à raiz, onde se encontra também o caminho para a solução, que
sempre passa também pelo amor. Isso eu vivenciei primeiro na terapia
primal e, em seguida, também na análise do script e na terapia familiar.
Notei que grande parte do tão decantado trabalho com emoções, onde o
terapeuta diz ao cliente ―Solte sua raiva‖, deixa escapar o essencial. Já vi
casos em que alguém é incitado a dizer aos pais que está furioso com eles
ou mesmo que deseja matá-los, e mais tarde se castiga severamente por
isso. A alma da criança não tolera nenhuma depreciação dos pais. Só
quando vi isso é que tomei plena consciência da dimensão desse amor. Por
isso, procuro sempre e antes de tudo pelo amor, e oponho-me a tudo que o
coloque em risco. (HELLINGER, 2001, p. 276).

Entretanto, somente o amor não basta para que o sistema esteja em perfeito
funcionamento. Além do amor existente, as leis sistêmicas do pertencimento,
equilíbrio e hierarquia precisam ser respeitadas e seguidas para que se mantenha a
ordem, conforme Bert discorre.

Quando essas ordens não são respeitadas, as pessoas entram em crise ou


adoecem. Vou lhe dar um exemplo. Se numa família havia um homossexual
que tinha sido desprezado e excluído e ele recebe de volta o seu lugar de
direito, todos se sentem aliviados. Se ele permanece excluído, será mais
tarde imitado por um outro membro do sistema, sem que este se dê conta.
Essa ordem atua, independentemente de ser conhecida ou reconhecida por
nós. (TEN HÖVEL; HELLINGER, 2006, não paginado).

Com efeito, para Hellinger (2006) as ordens do amor têm o papel primordial e
fundamental de garantir que cada ser humano seja responsável e viva seu próprio
destino, não assumindo o lugar de outro membro. Desse modo, é somente pelo
respeito e aceitação à ordem e as suas leis que o sistema familiar fica equilibrado.
A seguir, dar-se-á enfoque a cada uma das leis sistêmicas criadas por Bert
Hellinger.

2.4.1 Lei do pertencimento

O pertencimento é um sentimento natural e inerente a todos os seres


humanos, uma vez que todos buscam reconhecimento, em qualquer tipo de relação
26

interpessoal. Para Bert Hellinger (2002), essa lei está presente no âmago do sistema
familiar e para que ele seja mantido de forma equilibrada, o pertencimento deve ser
assegurado a todos, inclusive aos mortos.

No sistema familiar reina, na profundeza, uma lei fundamental. Podemos ver


o que ela exige através dos seus efeitos. Essa lei diz: todos aqueles que
pertencem têm o mesmo direito à pertinência. Todos, também os mortos.
Na verdade, os mortos não estão fora do sistema, estão presentes de uma
forma especial. Quando os mortos que foram excluídos ou esquecidos são
reinseridos na família, os outros vivenciam isso como completude. Quando
todos estão lá, os vivos se sentem completos e, ao mesmo tempo, livres.
(HELLINGER, 2002, não paginado).

Oldoni, Lippmann e Girardi (2017) asseveram que um reflexo dessa lei é o


fato de que a alma do grupo não aceita exclusões e todos os membros do sistema
possuem igualmente direito ao pertencimento. No momento em que alguém é
excluído, outro integrante da família ocupa seu lugar de modo inconsciente, vindo a
repetir seu padrão.
Desse modo, Bert exemplifica:

Alguns são excluídos de um sistema porque se diz que não são dignos dele.
Por exemplo, porque são jogadores, alcoólatras, homossexuais ou
criminosos. Sempre que alguém é excluído e outros membros da família
dizem ―tenho maior direito de pertencer do que ele‖, o sistema fica
perturbado e, então, pressiona para o restabelecimento e reparação. Assim,
aquele que foi excluído ou deixado de lado dessa maneira é representado
mais tarde por um descendente, sem que esse perceba isso. Ele se sente
como o excluído, comporta- se como ele e, frequentemente, tem o mesmo
destino. (HELLINGER, 2002, não paginado).

O processo de compensação tem o objetivo de restituir a ordem, reequilibrar o


sistema e reparar a injustiça cometida ao membro que foi excluído. Todavia, esse
processo, que acontece de forma espontânea e inconsciente, não é suficiente para
que o sistema volte a ficar equilibrado. Para que isso ocorra, é necessário a
reinserção do excluído, com respeito a posição ocupada, além do pedido de perdão
dos demais membros pela injustiça cometida. Ocorre que, depois que volta a ser
incluído, ele compartilha sua força com todos os outros, tornando-se uma espécie de
defensor.
Pode-se, portanto, perceber que a lei do pertencimento atua dentro da
constelação familiar com o objetivo de reestabelecer a harmonia e o equilíbrio,
dando voz e espaço aos excluídos.
27

2.4.2 Lei do equilíbrio

A lei do equilíbrio entre dar e receber é imprescindível para o pleno


funcionamento dos sistemas familiares, uma vez que os seres humanos apresentam
a habilidade de mutuar, não somente seus bens materiais, mas também e
principalmente, dons e habilidades que influem de maneira positiva para o
crescimento de todos.
As relações interpessoais devem ocorrer de forma madura e com a finalidade
de alcançar o bem-estar e pleno desenvolvimento de todos. Entretanto, quando isso
não acontece e um dos membros dá ou recebe mais do que outro – tanto em
aspectos materiais quanto afetivos –, ocorre um desequilíbrio que ocasiona, em
alguns casos, términos de relacionamentos, afastamentos, desrespeito e
intolerância.
A única relação interpessoal na qual não há a ocorrência de desequilíbrio, é a
dos pais para com os filhos. Nesse caso, os pais sempre dão mais do que os filhos e
estes, por sua vez, sempre recebem mais do que os pais. Essa dinâmica é natural e
está intimamente atrelada à lei da hierarquia que será abordada a seguir.
Quando as trocas ocorrem de forma igualitária, tudo flui em harmonia. Um
sistema familiar equilibrado traz sucesso, felicidade e completude para todos os que
a ele pertencem, conforme explicado por Bert.

Bem no fundo da alma, existe a necessidade de equilíbrio. Quem recebe algo


tem a necessidade de recompensar, na mesma medida em que recebeu. Isso
tem uma função social muito importante: possibilita o intercâmbio e a
solidariedade. Um grupo mantém-se unido quando todos dão e recebem de
modo equilibrado. (TEN HÖVEL; HELLINGER, 2006, não paginado).

Notadamente, por meio das constelações familiares pode-se perceber que as


adversidades ocorrem quando atos desatentam às leis sistêmicas, sendo refletidos e
reproduzidos nas gerações posteriores, de forma puramente inconsciente.

2.4.3 Lei da hierarquia

Por sua vez, a lei da hierarquia está ligada ao respeito a quem chegou
primeiro dentro da família. Os membros devem sempre ser vistos de forma
28

hierárquica. Para Bert (2002), embora atualmente a hierarquia tenha perdido boa
parte do sentido, ainda é extremamente necessária e precisa ser respeitada.

Essa hierarquia está em conformidade com o tempo. Quer dizer que antigos
membros têm precedência em relação àqueles que vêm mais tarde. Quando,
portanto, um membro anterior é excluído, membros posteriores têm de
substituí-lo. Com efeito, dessa maneira, exerce-se, em certo sentido, justiça
perante os anteriores, mas não perante os posteriores. Os posteriores são
sacrificados sem escrúpulos à justiça perante os anteriores. (HELLINGER,
2002, não paginado).

Os relacionamentos interpessoais e afetivos podem ser atingidos por


desavenças, desentendimentos e complicações quando a hierarquia não é
respeitada. Quando os pais ou sogros não são aceitos, o sistema familiar adoece e
sofre, tornando a relação desequilibrada. Quando um indivíduo quer modificar os
outros, ou então tomar o seu lugar, todos perdem força. Desse modo, percebe-se
que a ordem precisa ser respeitada para que todos cresçam juntos.
Além disso, quando ocorre uma tragédia, quer dizer que alguém, em posição
de sucessão, violou a hierarquia do sistema, colocando-se em um lugar que
pertence à outro. Ressalta-se que exclusões e emaranhamentos existem em todos
os sistemas e as constelações familiares buscam trazer paz aos vivos e aos mortos.
Esse método foi desenvolvido com o intuito de ser terapêutico e curativo tanto no
sentido físico como no emocional, mental e espiritual (BASSOI, 2016).
Assim, essa terapia atua para que todos esses problemas familiares sejam
sanados. Visa colocar o sistema em ordem, de forma que, primeiro dá-se preferência
aos pais e depois aos filhos, por ordem de nascimento. Acima de tudo, busca honrar
todos os membros e a posição que ocupam.

2.5 Funcionamento da constelação familiar

O método sistêmico é procurado quando um indivíduo apresenta algum


problema em uma área específica de sua vida. Para resolução, utiliza-se a
constelação familiar através do método de representação, que pode ser realizado
por meio de bonecos ou então com o auxílio de outras pessoas, que tornam tudo
mais humano e natural. Nesse item, abordaremos o método de constelação familiar
com pessoas.
29

Bert Hellinger esclarece como o método de representação ocorre dentro da


constelação familiar.

No decorrer das mesmas o cliente escolhe, dentre os participantes,


representantes para os membros de sua família que são importantes,
portanto, para o pai, a mãe, os irmãos etc. Então, concentrado e a partir de
seu sentimento interno coloca-os, uns em relação aos outros. Antes o cliente
deve preparar-se para fazê-lo concentrado e também se expor internamente
à dor, à tristeza e ao desafio que se originam do trabalho. Isso é muito
importante. (HELLINGER, 2002, não paginado).

Importante ressaltar que a pessoa a ser constelada deve respeitar os


sentimentos de seu grupo familiar. Se alguém se coloca em oposição à realização
da constelação, essa decisão deve ser respeitada, porque o método movimenta a
vida de todos.
Uma vez escolhidos os representantes, estes são posicionados dentro do
campo morfogenético, que é um campo de força, estudado por Rupert Sheldrake,
para que o sistema familiar se forme. Ocorre que, de forma intuitiva, em algumas
sessões, as pessoas escolhidas para atuarem como representantes apresentam
problemas familiares parecidos com os da pessoa constelada. Por isso, diz-se que
essa técnica terapêutica cura todos que dela participam.
A representação não é uma tarefa fácil, mas, ainda assim, é um ato de amor.
Os envolvidos nesse processo, além de exporem sentimentos inerentes às pessoas
que representam, muitas vezes manifestam até mesmo dores físicas.
Com efeito, quando questionado sobre como a realidade sistêmica se
manifesta nas constelações familiares, Bert (2001) descreve que não pode explicar,
relata que tudo simplesmente acontece e que esse processo tem início quando os
representantes acessam o campo de memória da família (um inconsciente coletivo
que rege todos os membros do sistema familiar).

Isso eu não posso explicar. Mas é possível ver que os participantes de uma
constelação familiar, desde que são colocados em relação uns com os
outros, não estão mais em si, mas se comportam e sentem como os
membros da família que representam. Chegam até a sentir sintomas físicos
deles. (HELLINGER, 2001, p. 273).

Bert (2002) esclarece, ainda, que só posiciona dentro do campo


morfogenético os membros mais importantes. A partir daí, questiona o constelado
sobre a existência de algum acontecimento marcante na família: mortes
30

inesperadas, experiências traumatizantes na infância ou no nascimento,


casamentos, separações ou doenças graves, por exemplo. Essas são as
informações necessárias para que a constelação tenha início.

Coloco tão poucas pessoas quanto possível. Por isso, começo com as
pessoas mais importantes. Feito isso, emerge uma nova informação a partir
da imagem e daquilo que a mesma desencadeou no cliente. Então, coloco
outras pessoas, também não mais que o necessário. Experimento o que
causam essas novas pessoas. Disso resulta se uma solução é possível ou
não. (HELLINGER, 2002, não paginado).

O facilitador pergunta ao cliente breves informações acerca do histórico de


sua família, com o escopo de verificar seu ―peso anímico‖ e saber com que
personagens poderá iniciar a constelação. Mas, quanto menos souberem os
representantes, mais convincente será para o constelado o que emergirá da
constelação (OLDONI; LIPPMANN; GIRARDI, 2017).
A partir disso, a constelação começa a se desenrolar. É por meio da
movimentação dos representantes dentro do campo, que o constelador consegue
encontrar o problema e trabalhar para que todos os membros assumam o lugar que
lhes é devido. O constelado, por sua vez, é responsável por indicar ao terapeuta
qual a melhor das possibilidades sugeridas para que a ordem seja reestabelecida,
mas para isso, é imprescindível que haja entendimento do funcionamento do
sistema familiar.
Depois que o problema vem à tona, cabe ao terapeuta orientar o constelado
acerca da melhor solução para que o processo se complete. Em alguns casos, faz-
se a inclusão do membro excluído, em outros, reconhece-se um fato que estava
sendo ignorado até então. Hellinger (2002) cita que é necessário que os
representantes estejam abertos e se entreguem ao inesperado, só assim os
processos fluem naturalmente.
Quanto mais os participantes se abrem e se envolvem, mais fácil torna-se o
método sistêmico. Os problemas e conflitos que vem à luz devem ser tratados com
respeito e responsabilidade pelo terapeuta, pois atingem todas as pessoas
envolvidas.
A implementação e o amparo legal para a utilização das constelações
familiares no âmbito dos tribunais, como um mecanismo terapêutico e inovador para
auxiliar na solução de conflitos, serão abordados no capítulo seguinte.
31

3 AS CONSTELAÇÕES FAMILIARES NO ÂMBITO JURÍDICO

A Constituição Federal tem como um de seus pilares o princípio do acesso à


justiça, ou princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional, garantido a todos
como um direito fundamental e servindo como base para todo o ordenamento
jurídico brasileiro. Disposto dentro do rol de Direitos Individuais e Coletivos e
expresso, mais especificadamente, no art. 5º, inciso XXXV do texto constitucional,
diz que:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: [...] XXXV - a lei não excluirá da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; [...] (BRASIL,
1988).

Em decorrência dessa garantia constitucional e do respectivo enquadramento


como direito fundamental, o acesso à justiça é garantido e prestado pelo Poder
Judiciário, que é o maior responsável pela solução de conflitos. Diferente do que se
pensa, esse princípio não é simplesmente uma garantia de ingresso no Poder
Judiciário, mas sim uma tutela específica e primordialmente justa, que assegura às
partes, dentre outras coisas, uma justiça célere e eficaz.
A Constituição Federal de 1988 estabelece garantia não somente às lesões,
mas também aos direitos considerados ameaçados, o que possibilita uma tutela
jurisdicional mais ampla por parte do ente estatal.
Além disso, visando conceder maior efetividade ao princípio do acesso à
justiça, o legislador dispôs no texto constitucional sobre a gratuidade de ações como
habeas corpus e habeas data e, também, acerca da assistência judiciária gratuita
aos indivíduos que não dispuserem de recursos para arcar com o processo judicial.
Esses mecanismos estão dispostos no art. 5º, incisos LXXIV e LXXVII, veja-se:

[...] LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos; [...] LXXVII - são gratuitas as ações
de habeas corpus e habeas data, e, na forma da lei, os atos necessários ao
exercício da cidadania. [...] (BRASIL, 1988).
32

Na mesma toada, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos,


conhecida também como Pacto de San José da Costa Rica, versa em seu art. 8.1
acerca do princípio do acesso à justiça. Com efeito, tem-se que:

Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de
um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e
imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer
acusação penal formulada contra ela, ou para que se determinem seus
direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer
outra natureza (ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS, 1969).

Segundo Sales e Andrade,

O aparato estatal, sob essa perspectiva, deve oferecer mecanismos com a


possibilidade de ampliação do acesso à Justiça, não somente por meio da
busca ao Judiciário, mas como a efetiva divulgação e inserção dos direitos
básicos do cidadão, colaborando com a transformação da realidade social,
bem como despertar no cidadão consciente da sua responsabilidade como
multiplicador ativo de conhecimentos que favorecem a concretização da luta
pelos direitos que sua comunidade possui, mas que muitas vezes não
conhece, e, consequentemente, jamais poderá exercê-los, tampouco
defendê-los. (SALES; ANDRADE, 2011, p. 46).

Para Fernandes (2017, p. 30): ―Afinal, se o monopólio jurisdicional estatal não


mais funciona a contendo, de forma e atingir, de maneira plena e eficaz, o ideal
pacificador, outra opção não resta do que buscar novas alternativas.‖
Torna-se evidente, portanto, a preocupação do legislador com o fornecimento
de meios adequados para que a sociedade tenha acesso ao Poder Judiciário. Mas,
em contrapartida, em decorrência dessa garantia legal, atualmente, o sistema
judiciário brasileiro encontra-se sobrecarregado, ocasionando lentidão nos
processos.
Em razão disso, muito se discute acerca da implementação de novos
métodos com a finalidade de auxiliar na resolução das lides. A utilização de práticas
alternativas é útil e necessária, pois, por meio delas, se garantiria a eficácia do
princípio do acesso à justiça e, acima de tudo, daria-se às partes possibilidade de
encontrarem juntas uma solução para a própria controvérsia, por meio do diálogo.
O que se percebe é que, cada vez mais, os métodos alternativos de resolução
de conflitos tem se mostrado eficientes, principalmente em áreas como no direito de
família, onde as partes apresentam um vínculo afetivo, íntimo e níveis de
convivência permanentes.
33

Watanabe discorre acerca da importância de métodos consensuais no


judiciário:

Nos conflitos em que as partes estão em contato permanente, por exemplo,


entre dois vizinhos, entre duas pessoas que pertencem a uma mesma
associação ou empresa, entre marido e mulher, entre comerciante e seu
fornecedor, e outros similares, é altamente desejável que a solução do
conflito, na medida do possível, preserve a coexistência das pessoas
envolvidas, com a continuidade das relações entre elas existentes. E
semelhante solução muito dificilmente poderá ser alcançada por meio de
sentença. Somente com os meios consensuais, como a mediação e a
conciliação, em que a busca da solução se dá com a direta participação das
próprias partes interessadas, que conhecem melhor do que ninguém suas
peculiaridades, suas necessidades e suas possibilidades, poderá ser
encontrada a solução mais adequada para esse tipo de conflitos de
interesses (WATANABE, 2012, p. 88).

Percebe-se que, atualmente, é urgente a busca pela modernização do Poder


Judiciário para melhor atender as necessidades sociais. É essencial, cada vez mais,
afastar o pensamento predominante de que somente a sentença proferida por um
magistrado levaria a um resultado efetivo para as partes litigantes. Existe um
crescente viés no direito brasileiro dispondo acerca da humanização da justiça,
buscando soluções menos desgastantes para as partes, a fim de que se minimize o
embate e maximize os resultados pacíficos.
Nesse sentido, dentre os métodos alternativos mais usuais como a mediação
e conciliação, surge a constelação familiar, que já vem sendo aplicada em alguns
tribunais brasileiros. A técnica sistêmica criada por Bert Hellinger apresenta-se com
eficiência e tem mostrado bons resultados quando aplicada em litígios,
especialmente no direito de família.
Dá-se o nome de Direito Sistêmico ao ramo do direito que visa estudar e
aplicar a constelação familiar no âmbito judiciário. Essa nomenclatura é de autoria
do magistrado Sami Storch, que vem utilizando a constelação familiar como um
instrumento que visa auxiliar o julgamento dos processos, uma vez que atua no
cerne do litígio, realizando uma verdadeira justiça curativa e sem que seja
necessário um novo embate entre as partes depois de finalizado o primeiro processo
(MENDES; LIMA, 2017).
De acordo com Schmidt, Pan Nys e Passos (2017) a utilização da
constelação familiar como mecanismo de autocomposição é eficaz, pois, por meio
34

dela, traz-se a tona angústias profundas que dizem respeito ao litígio exposto em
âmbito judiciário.

Conseguir colocar luz na causa do conflito, visto de forma social ou


holística, possibilita aos envolvidos uma autodeterminação – daí, inclusive,
o caráter autocompositivo da utilização da constelação familiar como técnica
de solução de conflito –, sob outras formas ou matizes, possibilitando um
entendimento de que o litígio judicial, muitas vezes, não suprirá aquilo que
verdadeiramente se busca por meio da demanda judicial. Em outras
palavras: a utilização das constelações familiares no âmbito judiciário
possibilita desvelar determinadas angústias profundas que correspondem à
verdadeira genealogia de conflitos que aportam ao Judiciário, atuando,
assim, não apenas como mecanismo de resolução ou solução consensual,
mas também, vale frisar, de prevenção da litigiosidade. (SCHMIDT; PAN
NYS; PASSOS, 2017, não paginado).

Em razão do uso da técnica terapêutica de constelação familiar,


principalmente nas varas de família, percebe-se uma diminuição significativa de
retorno de processos ao judiciário. Isso ocorre porque as partes litigantes podem
visualizar o cerne do problema familiar que enfrentam e, posteriormente, ficam mais
abertas e dispostas a resolver consensualmente o lítigio, o que leva a resultados
mais eficientes já que a solução é encontrada pelas próprias partes e não imposta
por um terceiro, o juiz.

3.1 Possibilidade de utilização da constelação familiar como método de


resolução alternativa de conflitos, de acordo com a legislação brasileira

Conflito é sinônimo de litígio, embate, choque de ideias e de pensamentos.


Para Tartuce (2018), conflito é aquilo em razão do qual se instala uma divergência
entre fatos, coisas ou pessoas. Com efeito, a existência de controvérsias, é o que
leva muitas pessoas a fazerem uso do princípio constitucional do acesso à justiça e
buscar o Poder Judiciário.
Conforme exposto anteriormente, o surgimento de métodos alternativos de
resolução de conflitos, tem a finalidade de auxiliar na sobrecarga do Poder
Judiciário, solucionando o problema de ineficácia estatal na prestação jurisdicional.
O ordenamento jurídico brasileiro abrange um enorme leque de métodos de
resolução de litígios, que vão das práticas consensuais até medidas de cunho
coercitivo. Todas essas formas de composição atuam juntas, se complementando e
35

interagindo, para o alcance da justiça e paz social e com o intuito proporcionar ao


jurisdicionado mais opções para enfrentamento da controvérsia.
Existem vários conceitos que explicam de forma sintética o que são métodos
alternativos de resolução de conflitos, mas é necessário lembrar que, inicialmente,
esses métodos foram criados para resolver litígios na esfera privada, e não no
âmbito judicial, conforme explica Tartuce (2018). Alerta, além disso, para a
expressão alternative dispute resolution (usando a sigla, no plural, ADRs), resolução
alternativa de disputas (na sigla em português ―RAD‖) e meios alternativos de
solução de conflitos (na sigla em português ―MASCs‖).

À expressão Alternative Dispute Resolution (ADR) costuma-se


atribuir acepção estritamente técnica, relativa sobretudo aos expedientes
extrajudiciais ou não judiciais, destinados a resolver conflitos. Esse, porém,
não é o único sentido‖, devendo o operador do Direito ―ocupar-se de
maneira mais geral dos expedientes – judiciais ou não – que têm emergido
como alternativas aos tipos ordinários ou tradicionais de procedimentos‖,
mediante a ―adoção desta perspectiva mais ampla‖ na análise no quadro do
movimento universal de acesso à justiça (TARTUCE
2018 apud CAPELLETTI 20??, não paginado).

Saindo da esfera privada, os métodos de resolução alternativa de conflitos


adentraram no âmbito judicial. A busca pela humanização, bem como
pela desprocessualização dos litígios tem ganhado força ante os benefícios
apresentados em inúmeras áreas do direito, principalmente nas varas de família.
O Código de Processo Civil de 2015 traz, em seu art. 3º, que os métodos
alternativos deverão ser estimulados por todos os profissionais da área jurídica
atuantes no processo e, além disso, refere que a solução consensual dos conflitos
deve ser promovida sempre que possível por meio do ente estatal.

[...] Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a


direito.
§ 1º É permitida a arbitragem, na forma da lei.
§ 2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos
conflitos.
§ 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de
conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores
públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo
judicial. [...] (BRASIL, 2015).

Demais disso, o art. 694 do mesmo instrumento legal, destaca que em se


tratando de ações de família, deve-se priorizar a solução consensual do litígio,
36

sendo que esta pode, até mesmo, suspender o processo a fim de melhor resolução
da lide.

[...] Art. 694. Nas ações de família, todos os esforços serão empreendidos
para a solução consensual da controvérsia, devendo o juiz dispor do auxílio
de profissionais de outras áreas de conhecimento para a mediação e
conciliação.
Parágrafo único. A requerimento das partes, o juiz pode determinar a
suspensão do processo enquanto os litigantes se submetem a mediação
extrajudicial ou a atendimento multidisciplinar. [...] (BRASIL, 2015).

Do mesmo modo, o art. 139, inciso V, do mesmo diploma legal, estabelece


que incumbe ao juiz da causa, além de dirigir o processo conforme as disposições
legais, promover a autocomposição das partes, sendo que, para isso, deve-se valer,
preferencialmente, de conciliadores e mediadores judiciais.

[...] Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste


Código, incumbindo-lhe:
[...]
V - promover, a qualquer tempo, a autocomposição, preferencialmente com
auxílio de conciliadores e mediadores judiciais. [...] (BRASIL, 2015).

Outrossim, existem, na legislação brasileira, diversas possibilidades de


aplicação dos métodos alternativos. A Resolução 125/2010 do CNJ estabelece ―a
Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos de interesses no
âmbito do Poder Judiciário visando a necessidade de consolidação de uma política
pública permanentes de incentivo e aperfeiçoamento dos mecanismos consensuais
de solução de litígios‖.
O incentivo à utilização de mecanismos que visem a resolução consensual de
litígios está presente também em âmbito federal. A Resolução 398/2016 do
Conselho da Justiça Federal dispõe sobre ―a Política Judiciária de solução
consensual dos conflitos de interesse no âmbito da Justiça Federal‖.
Além disso, a Recomendação nº 50 do Conselho Nacional de Justiça, de 08
de maio de 2014, foi dirigida como forma de incentivo aos Tribunais de Justiça,
Tribunais Regionais do Trabalho e Tribunais Regionais Federais a realizarem
estudos e ações tendentes a dar continuidade ao movimento permanente pela
conciliação.
No mesmo sentido, tem-se a Resolução nº 225, de 31 de maio de 2016, do
Conselho Nacional de Justiça que versa sobre a implementação da justiça
37

restaurativa no âmbito do Poder Judiciário. Referida Resolução conceitua justiça


restaurativa como sendo um ―conjunto ordenado e sistêmico de princípios, métodos,
técnicas e atividades próprias, que visa a conscientização sobre os fatores
relacionais, institucionais e sociais motivadores de conflitos e violência, e por meio
do qual os conflitos que geram dano, concreto ou abstrato, são solucionados de
modo estruturado‖.
Em decorrência dos avanços legislativos, Watanabe relata que os métodos
alternativos de resolução de conflitos são um instrumento a mais nas mãos do Poder
Judiciário brasileiro.

A par das evoluções legislativas, que vêm incorporando ao nosso


ordenamento jurídico os meios alternativos de solução de conflitos, fazendo
deles um importante instrumental à disposição do próprio Poder Judiciário
para o melhor exercício de sua função de administrar a justiça, está
começando a ocorrer uma grande divulgação e mesmo aceitação da ideia
de solução consensual dos conflitos de interesses pelos profissionais do
direito e também pelos próprios jurisdicionados. (WATANABE, 2012, p. 91).

Paralelamente a isso, Watanabe (2012) também discorre acerca da


organização dos vários órgãos judiciais brasileiros que, com o auxílio de instituições
como a Defensoria Pública e o Ministério Público, vêm estabelecendo, cada vez
mais, setores e serviços de conciliação com a finalidade de obtenção de maiores
índices de acordos e soluções consensuais. Além disso, relata que a adoção de
métodos como a conciliação, mediação, arbitragem e avaliação neutra de terceiros
são uma tendência universal que o ordenamento jurídico brasileiro tem seguido.
Dentre os métodos de autocomposição, ressalta-se a constelação familiar,
que tem seu emprego alinhado com a Constituição Federal, Resoluções do CNJ e
com o Código de Processo Civil. Com efeito, a prática sistêmica, como já referido,
vem sendo aplicada em cerca de dezesseis estados brasileiros entre eles, Rio
Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Goiás e
etc (FARIELLO, 2019).
Atualmente, tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 9444/2017,
de autoria da Deputada Flávia Morais, que dispõe sobre a inclusão da constelação
sistêmica como um instrumento de mediação entre particulares, a fim de assistir à
solução de controvérsias. Ademais, o Projeto de Lei tem como premissa a instituição
da constelação sistêmica exercida por meio de um terceiro, que não apresente
38

dentro do processo poder de decisão, que deve ser escolhido por designação do
tribunal ou pelas partes. Com orientação de um terceiro, as partes seriam auxiliadas
e estimuladas a identificar solução consensual para o litígio, levando em
consideração o olhar sistêmico proposto por Bert Hellinger (BRASIL, 2017).
O art. 15 do referido instrumento legal em tramitação, estabelece sobre a
possibilidade de haver, dentro dos centros judiciários, a presença de consteladores,
que visam assessorar a prática de resolução de controvérsias:

Art. 15. Nos centros judiciários de solução consensual de conflitos, criados


pelos tribunais e responsáveis pela realização de sessões e audiências de
conciliação e mediação, pré-processuais e processuais, e pelo
desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e estimular
a autocomposição, poderá haver consteladores para assessorar a prática
de resolução de conflitos. (BRASIL, 2017).

O Projeto de Lei (2017) leva em consideração, para sua instituição, os


princípios da imparcialidade do constelador, informalidade, autonomia da vontade
das partes, busca da solução do conflito e boa-fé. Bem ainda, estabelece que
ninguém será obrigado a permanecer ou participar da constelação. Além disso,
dispõe que o método sistêmico pode ser utilizado antes do procedimento de
conciliação ou mediação, e tem como finalidade, facilitar a solução de controvérsias,
na medida em que incentiva às partes a chegarem a um consenso.
Tendo por base o princípio do acesso à justiça, o Projeto de Lei (2017)
estabelece que será garantido aos necessitados gratuidade da constelação.
Igualmente ao mediador, o constelador enquadra-se de acordo com a proposta
legislativa em tramitação, nas mesmas hipóteses legais de impedimento e
suspeição, sendo que todas as informações serão confidenciais.
Referente ao procedimento de constelação, o Projeto de Lei dispõe que:

[...] Art. 12. A Constelação deverá ser precedida de breve explicação a


respeito da técnica, ocasião em que o constelador deve orientar as partes
acerca das regras de confidencialidade aplicáveis ao procedimento.
[...]
Art. 13. A Constelação poderá ser realizada em sessão individual ou em
grupo, mas não se poderá constelar o mesmo tema objeto da controvérsia
mais de uma vez. [...] (BRASIL, 2017).
39

Por fim, embora os métodos de resolução alternativa de conflitos estejam


mostrando-se positivos, Tartuce alerta para algumas problemáticas decorrentes de
sua aplicação.

Ainda, porém, que este seja um fundamento pragmático de inegável


relevância para muitos, ele não deve ser o primordial condutor para tal
adoção. Embora efetivamente o uso de mecanismos extrajudiciais possa
gerar alívio no volume de trabalho dos órgãos estatais, a adoção deve se
pautar pela intenção de prover uma abordagem adequada dos conflitos em
prol de sua proveitosa composição. Além disso, em atendimento aos
comandos constitucionais, revela-se importante possibilitar a disseminação,
no tecido social, da cultura de paz; por tal razão, justifica-se a adoção de
meios que propiciem a solução harmônica e pacífica de controvérsias no
contexto da justiça coexistencial. (TARTUCE, 2018, não paginado).

No âmbito do direito de família, por exemplo, a constelação mostra-se


eficiente e com embasamento legal, mas sua aplicação deve ser feita com bastante
responsabilidade. É necessário que a aplicação seja coordenada por profissionais
capacitados e com formação na área do Direito Sistêmico. A falta de profissionais
qualificados na prestação deste serviço jurisdicional pode se tornar um risco sério
para as partes litigantes, uma vez que traz à tona problemas familiares, afetivos, de
cunho íntimo e pessoal.
Portanto, entende-se que, com as práticas adaquadas, aplicadas por pessoas
capacitadas, a constelação mostra-se como mais um mecanismo apto para auxiliar
no descongestionamento do Poder Judiciário, propondo uma forma de olhar mais
humana para os conflitos e trazendo paz, harmonia e uma solução adequada para
os envolvidos no processo.

3.2 A constelação familiar e o Direito Sistêmico como instrumentos


terapêuticos

Primordialmente, insta ressaltar, que a aplicabilidade das constelações


familiares nos tribunais, tem como ideal máximo a busca pela efetivação do princípio
constitucional do acesso à justiça. Para Capelletti e Garth (1988), embora o conceito
de efetivo acesso à justiça seja algo vago e ainda em construção, o mesmo poderia
ser expresso por meio do princípio da paridade de armas entre as partes de um
processo.
40

Expresso no art. 7º do Código de Processo Civil de 2015, o princípio


processual da paridade de armas visa garantir às partes litigantes tratamento
igualitário em relação ao exercício de direitos e também de faculdade e deveres. É
por meio da utilização deste princípio, em consonância com a igualdade material,
que o processo torna-se equilibrado, dando-se proteção jurídica para os grupos
sociais mais necessitados e vulneráveis.
O Direito Sistêmico surge para efetivar o princípio do acesso à justiça. Tal
termo, foi criado pelo magistrado Sami Storch que refere (2014) que essa
nomenclatura é dada a atuação dos profissionais da área jurídica nas constelações
familiares. Por meio dessa atuação, é possível levar às partes do processo um olhar
sistêmico, a fim de melhor solucionar o conflito existente.
Para o Procurador de Justiça Amilton Plácido da Rosa (2014), Direito
Sistêmico não é um novo ramo do direito, mas sim o mesmo direito de sempre,
sendo interpretado e aplicado dentro do judiciário brasileiro de uma nova forma
hermenêutica, chamada sistêmica. Discorre ainda que o método de interpretação
sistêmico não surge ao acaso, mas é decorrente de uma síntese da experiência
humana.
Amilton explica que o Direito Sistêmico, assim como a constelação familiar,
pode ser aplicado de duas maneiras:

(…) a primeira é aplicada fundamentalmente com a postura dos operadores


do direito, que devem ver as partes de uma maneira sistêmica, com tudo o
que elas trazem consigo, tendo em mente os princípios que regem todos os
sistemas vivos. Quando um juiz de direito recebe as partes e seus advogados
com essa postura, de respeito e amor, a audiência ocorre de uma forma
harmônica e conciliadora. Todos sentem o respeito que reina no ambiente e
percebem que dali sairá um bom resultado para todos os envolvidos no
problema. É um ir ao âmago da questão. É um ir à alma dos seres humanos,
para obter uma conciliação do coração de cada um dos envolvidos no conflito
(…). A segunda maneira de aplicar o Direito Sistêmico é por meio de
representações, seguindo a técnica usada nas constelações familiares. Essas
representações podem ser feitas em grupo ou individualmente. se for com
crianças e adolescentes, o trabalho individual pode ser feito de maneira bem
descontraída, como faz o juiz de direito Sami Storch, que trabalho com
adolescentes, usando os bonecos (playmobil). (ROSA, 2014, p. 54).
41

Sami Storch refere que:

A aplicação do Direito Sistêmico para e pelos profissionais do direito e de


áreas correlatas, que prestam auxílio às pessoas na resolução de conflitos de
interesse e relacionamento, pode dar-se de diversas formas. Trata-se de uma
ciência dos relacionamentos, válida para relações humanas, organizacionais
e relações jurídicas em geral, uma vez que toda relação constitui um sistema
ou se constitui dentro de um. (STORCH, 2017, não paginado).

Além disso, Sami (2017) dispõe que, o estudo do Direito Sistêmico atua de
forma a ampliar a compreensão sobre as dinâmicas ocultas nos conflitos. Relata que
cada parte tem motivos para ter se envolvido no litígio da forma como fez
(agressores, vítimas, devedores e etc.). E esses motivos, por sua vez, podem ter
raízes profundas que não dizem respeito à outra parte litigante, mas sim do sistema
familiar de cada um, do passado e, inclusive, de gerações anteriores.
Do mesmo modo, no âmbito do direito de família, as constelações familiares
servem como um instrumento de sensibilização para as partes litigantes. Por meio
deste mecanismo, as pessoas envolvidas no processo conseguem encontrar um
alívio pessoal e processual para a questão objeto de desavenças. A constelação
fornece às pessoas a capacidade de olhar de maneira mais amorosa, respeitosa e
menos conflitante em relação ao problema que enfrentam. Além disso, é através
desse método que os membros encontram reconhecimento, conseguem ser vistos e
terem voz, de forma que as mágoas, rancores e desentendimentos dão lugar ao
diálogo e ao entendimento.
Sami Storch relata que,

(...) na constelação familiar, uma pessoa se propõe a ―olhar‖ para o seu


próprio sistema familiar. Então são escolhidos, entre os presentes,
representantes para essa pessoa e para os membros de sua família. Com o
decorrer do trabalho, esses representantes começam a expressar
sentimentos que traduzem as dinâmicas ocultas nos relacionamentos nessa
família, chegando muitas vezes às origens das crises e dificuldades
enfrentadas, que podem estar relacionadas a fatos ocorridos no passado
familiar de cada um (inclusive de gerações anteriores). Podem, também,
observar quais os movimentos e posturas que conduzem a uma solução.
(STORCH, 2014, não paginado).

Com a implementação da constelação familiar, percebe-se que a


humanização do Poder Judiciário consegue ser alcançada, fazendo com que as
partes visualizem e entendam melhor o funcionamento das próprias relações. Na
42

maioria das vezes, não há necessidade de sentença ou qualquer ordem judicial,


porque se dá espaço para as partes conversarem e perceberem as dores e
problemas que o outro também enfrenta.
Esse processo é extremamente importante, uma vez que as ações de família
lidam com questões afetivas, com envolvimento emocional, vínculos consanguíneos
e apego entre as partes. A visualização do conflito permite que o ideal de justiça seja
alcançado, pois concessões são realizadas e o acordado é o que melhor atende as
necessidades de cada um, uma vez que as partes conhecem a realidade em que
vivem e sabem o que melhor se adequa a própria situação.
Em decorrência da relevância dos resultados da implementação da
constelação familiar nos tribunais, Rosa (2014) chegou a tratar a aplicação desse
método como capaz de produzir uma verdadeira justiça curativa.
Os resultados de aplicação dessa técnica são tão significativos que o SUS
(Sistema Único de Saúde), a incluiu dentro do rol de Práticas Integrativas e
Complementares em Saúde (PICS). De acordo com o Ministério da Saúde (2018), as
PICS têm a finalidade de auxiliar os indivíduos que utilizam o Sistema Único de
Saúde na prevenção de doenças como, por exemplo, depressão e hipertensão.
Desse modo, torna-se nítida a eficácia da aplicabilidade das constelações
familiares. Em razão dos inúmeros benefícios que a técnica terapêutica de Bert
Hellinger tem apresentado em diversos âmbitos da sociedade, inclusive no Sistema
Único de Saúde, é inegável que existe espaço para sua utilização também no
contexto jurídico.
Entende-se, portanto, que quando os profissionais da área jurídica utilizam a
constelação familiar podem alcançar resultados que atendam as necessidades
físicas, financeiras e pessoais dos envolvidos. Soluções duradouras só são
encontradas quando todos trabalham juntos e agem com respeito frente ao
problema enfrentado.
Uma das principais causas do abarrotamento do Poder Judiciário é a volta
dos processos já resolvidos para a esfera judicial, justamente porque a solução dada
inicialmente, de forma impositiva por um magistrado e sem visualização do cerne do
problema, não tem eficácia em longo prazo. Com efeito, os projetos atualmente
implementados no Poder Judiciário, bem como os resultados da utilização desta
técnica terapêutica serão abordados no próximo capítulo.
43

4 A APLICABILIDADE DAS CONSTELAÇÕES FAMILIARES NOS TRIBUNAIS

A aplicabilidade das constelações familiares, especialmente nas varas de


família, tem como escopo principal conduzir as partes à uma solução menos
desgastante, já que apresentam vínculo consanguíneo e afetivo anterior à lide
processual. Como já referido anteriormente, a sentença proferida pelo magistrado
nem sempre é a forma mais eficiente de resolver o litígio. Em muitos casos, acaba
por provocar ainda mais conflito entre as partes, ao invés de solucionar a disputa e
trazer harmonia familiar.
Demais disso, Sami Storch (2018), magistrado precurssor no uso de
constelação familiar nas varas de família dos tribunais brasileiros, refere que a
sentença de mérito ocasiona, algumas vezes, inconformismo entre as partes e que o
trâmite processual, em razão disso, é dificultado, o que faz com que o litígio se
delongue no tempo gerando mais custos para o ente estatal, incerteza e
ressentimento para as partes.

A instrução processual é nociva para todos os envolvidos. Cada testemunha


que depõe a favor de uma parte pode trazer à tona fatos comprometedores
relativos à outra, alimentando ressentimento e dificultando a paz. Assim,
mesmo depois de julgada a ação, esgotados os recursos e efetivada a
sentença, o conflito permanece. (STORCH, 2018, não paginado).

Diante dessas questões, a aplicação dos métodos alternativos nas varas de


família tem se mostrado cada vez mais útil, uma vez que possibilita tratamento
terapêutico como forma de resolução de conflitos, humanizando o judiciário. A
técnica sistêmica de contelação familiar trabalha com a finalidade de desfazer os
emaranhamentos existentes ocasionados por exclusões, abandonos, mortes
precipitadas ou trágicas, abortos, doenças, crimes e quaisquer outras situações que
possam gerar impactos, perturbações ou abalos dentro dos sistemas familiares.
Sami Storch esclarece como que, por meio do sistema de representação, os
problemas pertencentes a cada sistema familiar são reconhecidos e resolvidos,
desfazendo-se os emaranhamentos.

As constelações familiares consistem em um trabalho no qual pessoas são


convidadas a representar membros da família de uma outra pessoa (o
cliente) e, ao serem posicionadas umas em relação às outras, sentem como
se fossem as próprias pessoas representadas, expressando seus
44

sentimentos de forma impressionante, ainda que não as conheçam. Vêm à


tona as dinâmicas ocultas no sistema do cliente que lhe causam os
transtornos, mesmo que relativas a fatos ocorridos em gerações passadas,
inclusive fatos que ele desconhece. Pode-se propor frases e movimentos
que desfaçam os emaranhamentos, restabelecendo-se a ordem, unindo os
que no passado foram separados, proporcionando alívio a todos os
membros da família e fazendo desaparecer a necessidade inconsciente do
conflito, trazendo paz às relações. O Direito sistêmico vê as partes em
conflito como membros de um mesmo sistema, ao mesmo tempo em que vê
cada uma delas vinculada a outros sistemas dos quais simultaneamente
façam parte (família, categoria profissional, etnia, religião etc.) e busca
encontrar a solução que, considerando todo esse contexto, traga maior
equilíbrio. (STOCH, 2018, não paginado).

A ideia de tornar o Poder Judiciário como um mecanismo que promova


resultados eficientes em longo prazo e benéfico para as partes sempre norteou o
pensamento do magistrado Sami Storch, que viu a constelação familiar e o Direito
Sistêmico como um mecanismo eficaz para a solução de conflitos (2018). Desse
modo, Sami esclarece:

Há tempos se observa a incapacidade do Poder Judiciário de processar e


julgar a quantidade de ações que lhe são apresentadas. A estrutura de
pessoal e de material existente não é suficiente. Por outro lado, já é
reconhecida no meio jurídico e na sociedade a necessidade de novos
métodos de tratamento dos conflitos. Esses meios devem permitir não
apenas uma decisão judicial que estabeleça como deve ser a solução para
cada conflito — dizendo às partes quais os respectivos direitos e obrigações
—, mas também dar paz aos envolvidos, permitindo que eles mantenham
um bom relacionamento futuro e, inclusive, tratem de forma amigável outras
questões que se apresentem. (STORCH, 2018, não paginado).

Sami ainda discorre acerca dos benefícios dessa inovadora abordagem


jurídica.

Assim, dada a necessidade de se pensar os conflitos judiciais num contexto


mais abrangente e sistêmico, a implementação das constelações familiares
como técnica de solução no âmbito da prática forense objetiva viabilizar o
equilíbrio da relação conflituosa a partir de um viés terapêutico. De outro
lado, busca-se a conscientização acerca dos papeis de cada um dos
componentes do grupo familiar, de modo a evitar a formação de novos
conflitos. Significa dizer que a transposição da ciência dos relacionamentos
de Bert Hellinger para o Judiciário permite que tenhamos, no âmbito judicial,
um novo instrumento eficaz de solução e prevenção de conflitos,
consubstanciando um verdadeiro paradigma resolutivo-preventivo.
(SCHMIDT; PAN NYS; PASSOS, 2017, não paginado).

Na mesma toada, portanto, o viés terapêutico de cura presente nas


constelações familiares é grandioso e deve ser ressaltado. Como uma prática
45

terapêutica, a utilização do método sistêmico de Bert Hellinger, quando aplicada no


âmbito judiciário, atua não somente desfazendo o litígio existente e sim prevenindo
que outros venham a ocorrer.

De fato, o objetivo de desvelar a gênese da conflituosidade possibilita a


prevenção de que uma nova roupagem jurídica seja a ele atribuída, com
reingresso de demandas judiciais, como ocorre, por exemplo, nas formas de
compensação por um pai que não consegue transmitir o amor que a filha
espera dele receber, culminando com ação de alimentos e, após, no
ajuizamento da respectiva ação de execução de alimentos e, por fim, em
outras diversas ações que buscam compensar esse amor não recebido,
como ações indenizatórias, litígios envolvendo bens, etc. Conseguir colocar
luz na causa do conflito, visto de forma social ou holística, possibilita aos
envolvidos uma autodeterminação – daí, inclusive, o caráter
autocompositivo da utilização da constelação familiar como técnica de
solução de conflito –, sob outras formas ou matizes, possibilitando um
entendimento de que o litígio judicial, muitas vezes, não suprirá aquilo que
verdadeiramente se busca por meio da demanda judicial. Em outras
palavras: a utilização das constelações familiares no âmbito judiciário
possibilita desvelar determinadas angústias profundas que correspondem à
verdadeira genealogia de conflitos que aportam ao Judiciário, atuando,
assim, não apenas como mecanismo de resolução ou solução consensual,
mas também, vale frisar, de prevenção da litigiosidade. (SCHMIDT; PAN
NYS; PASSOS, 2017, não paginado).

Nesse sentido, visando alcançar um direito mais humanizado, menos


desgastante para as partes litigantes e de soluções profundas e duradouras, a
utilização das constelações familiares tem se difundido pelos mais variados tribunais
brasileiros. Sendo aplicada atualmente em cerca de dezessete estados brasileiros, a
prática sistêmica de Bert Hellinger, traz ao Poder Judiciário uma reflexão necessária:
já não há mais espaço para um judiciário preso às amarras do passado. É preciso
que esse órgão tão importante para a construção de uma sociedade justa,
equilibrada e harmônica reinvente-se a todo o momento, de maneira a melhor
atender as mudanças sociais.

4.1 Projetos de constelações familiares implementados no Poder Judiciário

O juiz de direito Sami Storch foi um dos primeiros magistrados a implementar


as constelações familiares no Poder Judiciário brasileiro. A utilização do método
sistêmico de Bert Hellinger como referência, lhe possibilitou obter relevantes
resultados nos processos em que implementou a técnica.
Ao ingressar na magistratura, no ano de 2006, Sami já estava findando sua
primeira formação em constelação familiar, relata (2016) que desde suas primeiras
46

atuações como juiz utilizando princípios sistêmicos, já conseguia compreender


melhor as dinâmicas existentes nos conflitos em que lidava na justiça, o que fez com
que buscasse as melhores soluções para cada caso.
Conforme Fariello (2018) o método de constelação familiar começou a ser
aplicado na Bahia, no ano de 2012.

Naquele ano, a técnica foi testada com cidadãos do município de Castro


Alves, a 191 quilômetros de Salvador. (...) ―As pessoas buscam o Judiciário
para resolver determinado conflito. Na Constelação, descobrem caminhos
para resolvê-lo por conta própria, de forma muito mais profunda que a
decisão judicial. Acabam quebrando padrões nocivos, relacionamentos
prejudiciais, comportamentos violentos‖, explica o juiz Storch. De lá para cá,
os projetos se multiplicaram pelo País e, em 2015, uma prática de mediação
familiar baseada nessa técnica, desenvolvida no 3º Centro Judiciário de
Soluções de Conflitos e Cidadania da comarca de Goiânia/GO, foi
vencedora do Prêmio Conciliar É Legal, do CNJ, além de receber em 2014
uma menção honrosa no XI Prêmio Innovare, concedido pelo Instituto
Innovare. No Poder Judiciário, as Constelações Familiares são feitas pelos
próprios juízes ou por psicólogos. No caso do Poder Judiciário de Goiânia, a
técnica é aplicada pela psicóloga Rosângela Alves Montefusco,
colaboradora do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO), com partes de ações
que estão em segundo grau (FARIELLO, 2018, não paginado).

Com efeito, as constelações familiares não foram introduzidas dentro do


processo judicial de forma abrupta, pelo contrário, o trabalho sistêmico começou a
ser utilizado de maneira tímida, porém, eficiente. Sami Storch (2016) conta que, no
início de sua atuação como magistrado nas varas de família, usava frases
sistêmicas para conseguir uma maior sensibilização das partes do processo,
fazendo com que estas voltassem seus olhares umas para as outras, reconhecendo
a dor que sofreram.

Em audiências nas ações de divórcio, alimentos e disputa pela guarda dos


filhos, logo ao perceber a existência de uma forte animosidade e resistência
para a realização de um acordo entre as partes, que frequentemente já
chegam manifestando mágoa e raiva, não permito que qualquer das partes
fale muito, especialmente no sentido de se queixarem ou atacarem
mutuamente, para não alimentarem o conflito e a necessidade de resposta
no mesmo tom. Peço-lhes silêncio e explico que, apesar desse sentimento
que estão expressando, elas estão ali por causa de uma história de amor.
Um dia ambos se conheceram e se gostaram. Tiveram momentos de prazer
e, quando foram casados e têm filhos em comum (na maioria dos casos
isso ocorreu), viveram um amor. Talvez tenham se apaixonado. Quando
casaram e se expuseram à possibilidade de ter um ou mais filhos juntos,
certamente tiveram sonhos, fizeram planos, se imaginaram numa família
feliz e harmônica. Fizeram promessas um ao outro, e com isso alimentaram
a esperança de um futuro feliz, juntos. Ao dizer isso, costumo observar que
ambos já estão emocionados, ao verem-se no começo de seu
47

relacionamento e lembrarem do profundo amor que tiveram. (STORCH,


2016, não paginado).

Dessa forma, pode-se perceber que o magistrado optou por atuar de forma
pacificadora dentro do processo, na medida em que sensibiliza as partes a voltarem
sua atenção para o sistema familiar, e não exclusivamente para o litígio. Sami (2016)
conta que muitas vezes, após suas falas, as partes já estão bastante emocionadas,
e conseguem olhar para o outro com amor e respeito novamente, deixando de lado
a necessidade de vingança ou sentimentos de raiva, rancor e dor.
Pode-se perceber que os conflitos são ainda mais delicados quando existem
filhos menores envolvidos no processo, exigindo ainda mais atenção do constelador.
Os litígios envolvendo guarda, adoção, alienação parental e etc., necessitam de
maior cuidado ante a necessidade de proteção à criança ou ao adolescente. Sami
(2016) refere que em muitos processos em que atua, as crianças e adolescentes
frutos de relações conjugais em processo de divórcio, não são poupadas de
comentários críticos, raiva e menosprezo em relação ao companheiro litigante.
Nesse caso, foca nos pais com a intenção de alertá-los sobre os efeitos danosos de
suas condutas, sempre amparado pelas leis e princípios transmitidos por Bert
Hellinger.

(...) ambos têm filhos juntos, mas não conseguem conversar entre si para
resolver como fazer, não disfarçam a raiva, nem escondem dos filhos
comentários de crítica e menosprezo em relação ao (à) ex-companheiro(a).
―Seu pai não presta‖; ―ele não paga nem sua pensão‖; ―ele não vale nada‖;
―sua mãe não te educa direito, ela não sabe de nada‖; ―é uma vagabunda‖;
―não quero vocês convivendo com aquele sujeito‖, são frases comumente
ouvidas pelos filhos de pais separados. Convido as partes a imaginar como
o filho se sente ao ouvir frases como essas e como demonstrações de
desrespeito e desconsideração entre os pais podem gerar conflitos internos
nos filhos, com dificuldades de relacionamento, de concentração e de
aprendizagem na escola, assim como eventual envolvimento com drogas.
Isso porque o filho sente uma profunda conexão com cada um dos pais e é
constituído por ambos. Negar a importância e o valor de qualquer um dos
pais tem, para o filho, o efeito de negar a sua própria importância. Faz com
que, internamente, ele se sinta desintegrado e vazio. Essa criança se sente
amada, se não vê os próprios pais respeitarem sua origem? Explico,
portanto, a importância de deixar o filho fora do conflito, e sugiro que se
imaginem dizendo a ele frases como: ―eu e seu pai/sua mãe temos
problemas, mas isso não tem nada a ver com você; nós somos adultos e
nós resolvemos‖; ―fique fora disso; você é só nosso filho‖; ―eu gostei muito
do seu pai/sua mãe, e você nasceu de um momento de amor que tivemos‖;
―eu e seu pai/sua mãe estaremos sempre juntos em você‖; ―quando eu olho
para você, vejo seu pai/sua mãe. (STORCH, 2016, não paginado).
48

A intenção da promoção desse diálogo inicial é a busca por um acordo entre


as partes de forma rápida, menos desgastante e dispendiosa. Atualmente, o rito
processual e a legislação brasileira, prezam por métodos compositivos, buscando
alcançar o cenário ideal de resolução do litígio, onde todos os envolvidos encontrem
satisfação, diminuindo os custos processuais e dando solução rápida, eficaz e
duradoura de uma maneira menos nociva e dentro das possibilidades de cada um.
Entretanto, a aplicação das constelações familiares nos tribunais não se limita
às explicações em audiências. Em decorrência dos resultados positivos alcançados
com a aplicação de frases sistêmicas, bem como a utilização de técnicas que
envolvem bonecos e representações, Sami sentiu necessidade de expandir o uso da
prática nos tribunais, visando melhores índices de acordos e tomando por base a
experiência positiva que vinha tendo na vara onde atuava no Tribunal de Justiça da
Bahia. Desse modo, o magistrado relata como a expansão começou a acontecer:

Depois de algumas experiências em audiências com explicações sobre


as dinâmicas sistêmicas dos relacionamentos, sugerindo a mentalização de
frases, utilizando constelações com bonecos e visualizações, com
resultados bastante interessantes nos índices de acordos, propus ao
Tribunal de Justiça da Bahia um projeto para a realização de uma palestra
vivencial com o tema ―Separação de casais, filhos e o vínculo que nunca se
desfaz‖, contando com a participação de pessoas envolvidas em ações
judiciais na área de família. Obtive imediato apoio e incentivo, de modo que
entre outubro de 2012 e setembro de 2013 realizamos seis eventos
desse tipo na Comarca de Castro Alves/BA, cada um com a presença de 40
a 100 pessoas, aproximadamente. (STORCH, 2016, não paginado).

Os eventos promovidos pelo magistrado iniciam-se com uma breve


explicação sobre o que é a constelação familiar, seus benefícios e impactos. A
explicação visa colocar as partes litigantes a par da dinâmica que vai ocorrer, bem
como de seu desenvolvimento e resultados. Durante a palestra, os participantes são
convidados a meditar, para que consigam se conectar com os sentimentos basilares
de uma relação familiar harmoniosa. Essa etapa é fundamental para a plena
vivência da prática e, principalmente, para que as leis do equilíbrio, hierarquia e
pertencimento sejam alcançadas, fazendo com que cada um encontre seu lugar no
sistema familiar.
Depois de findada a etapa inicial da palestra sobre a constelação familiar,
com explicação e meditação, os participantes passam a experimentar o método
terapêutico de Bert Hellinger.
49

Depois, podem vivenciar o método das constelações familiares –


―constelando‖ sua própria questão familiar, participando da constelação de
outra pessoa como representante de alguém da família ou apenas como
observadores. À pessoa que se dispõe a colocar sua questão, pergunto
apenas qual o tipo de processo em que está envolvida (divórcio, alimentos,
inventário, guarda, etc.) e quantos filhos tem em comum com a outra parte.
Não permito que fale detalhes ou nomes, para não expor intimidades
naquele âmbito – muitas pessoas ali se conhecem, por ser uma cidade do
interior, e a lei garante o segredo de Justiça em relação aos processos que
envolvem menores de idade. (STORCH, 2016, não paginado).

Sami preza pela utilização de representantes nas constelações , o que a torna


mais dinâmica e natural, além de evitar uma exposição íntima da pessoa que se
dispõe a ser constelada. Sami conta (2016) que, em alguns casos, quando julga
necessário, deixa os representantes de lado e atua diretamente com as pessoas
interessadas, ou seja, o sistema familiar é tal qual como se apresenta na realidade,
sem representantes.
Demais disso, antes de cada evento é realizada uma triagem, onde os
processos são separados de acordo com o assunto tratado, para que os escolhidos
a participar da constelação sejam referência para as famílias que só assistem. A
constelação vivenciada por uma família pode ser percebida por outras, seus
problemas, efeitos e resultados, na maioria das vezes, também são os de outras
pessoas presentes. Dessa forma, o magistrado busca, acima de tudo, uma
sensibilização para que as pessoas consigam ver sua própria realidade sendo
representada e, a partir disso, lidar com o litígio que enfrentam de forma mais
flexibilizada, sendo menos desgastante para todos os envolvidos.

Como em cada evento são colocadas somente duas ou três


constelações, procuro priorizar temas com os quais as outras pessoas
possam se identificar, tratando basicamente sobre a relação do casal e as
causas da crise, bem como da posição e postura em relação aos filhos,
tirando-os do ―fogo cruzado‖ e liberando-os do peso do conflito. É o
suficiente para uma variedade de temas se apresentar – abortos,
mortes, doenças, relacionamentos anteriores, adoções, etc. Durante as
constelações, procuro agir da forma mais didática possível, de modo que os
aprendizados sejam compartilhados por todos ali presentes, que em
sua maioria são pessoas bastante simples (inclusive muitos trabalhadores
rurais e analfabetos). Assim, ―leio‖ em voz alta as minhas percepções e os
movimentos que observo. Sempre, porém, cuidando para que se preserve a
intimidade e a honra das pessoas envolvidas. (STORCH, 2016, não
paginado).

A técnica de constelação familiar quando aplicada no Poder Judiciário faz


com que as partes encarem de frente o problema. Fariello (2018) relata que os
50

envolvidos, no dia da aplicação da constelação familiar, já chegam com barreiras


criadas e preparados para entrar em conflito, sendo que, quando os trabalhos são
iniciados, busca-se quebrar resistências e padrões familiares tóxicos. Dispõe que o
constelador muda as pessoas do lugar em que estão sentadas, colocando os
divorciados lado a lado, por exemplo, pois o problema não pode ser negligenciado,
pelo contrário, precisa ser enfrentado para que se consiga chegar a uma solução
harmoniosa, pacífica.

Um dos casos que mais chamou a atenção foi o de um casal de irmãos que
disputavam judicialmente um inventário de mais de R$ 10 milhões. Eles não
se falavam há 20 anos. O irmão era contra o casamento da irmã, realizado
aos 17 anos. Ao constatar que a presença do marido da irmã impedia
qualquer conversa, a psicóloga pediu para que ele se afastasse durante a
Constelação Familiar e, aos poucos, os irmãos começaram a conversar.
Acabaram chegando a um acordo em relação à herança e o processo foi
extinto. Mais do que isso, os irmão se reconciliaram, depois de duas
décadas de separação. ―A Constelação Familiar vai muito além do processo
— reconstitui vínculos. Uma herança, por exemplo, não é só feita de
dinheiro, mas vem sempre carregada de amores e dores‖, lembra
Rosângela Montefusco. De acordo com ela, toda pessoa é parte de um
sistema familiar e o que cada um faz pode interferir por quatro ou cinco
gerações à frente. Os familiares podem traçar, explica a psicóloga, uma
espécie de lealdade invisível. ―Por exemplo, uma avó costuma ser agredida
pelo marido. A sua neta pode acabar reproduzindo esse padrão, porque
inconscientemente pensa: como posso ser feliz se a minha avó não é?‖, diz
(FARIELLO, 2018, não paginado).

Fariello (2018) conta que na Comarca de Valença as partes dos processos


são convidadas a participar de Constelações Familiares de forma voluntária, sendo
que a negação ao convite em nada interfere no andamento ou no resultado
processual. Entretanto, a participação das partes em muito contribui para o célere
andamento dos processos, bem ainda, para uma transformação pessoal e também
do sistema familiar.

Na Constelação Familiar de que a senhora — que aqui chamaremos de


Laura — participou, estavam presentes as partes envolvidas nas ações,
profissionais do direito, estudantes e outros convidados. Após a costumeira
explicação sobre as ordens sistêmicas, o juiz Storch conduziu uma
meditação e explicou como funcionam as constelações. Depois disso, Laura
procurou o juiz e se voluntariou para a prática. A senhora estava
acompanhada de uma assistente social, ciente de seu caso. Ela havia
ingressado com uma ação judicial, por meio da Defensoria Pública, pedindo
a internação compulsória da filha em uma instituição de tratamento e
desintoxicação. Aos 35 anos de idade, a filha era viciada em crack e
desenvolveu transtornos mentais. Vinha ameaçando e agredindo pessoas
na rua com uma faca e quebrava as coisas dentro de casa. Além disso, não
aceitava qualquer ajuda ou tratamento médico e se recusava a tomar os
51

remédios receitados, motivo que levou a mãe entrar na Justiça para obrigar
a filha a se internar. A liminar foi concedida pelo juiz e a filha foi internada. A
Constelação foi iniciada com pessoas representando a filha viciada, o pai de
Laura, o avô da garota e o próprio crack. O personagem que fazia o papel
da droga se colocou entre mãe e filha, impedindo que se comunicassem.
Durante a experiência, algumas histórias vieram à tona: Laura, a mãe, havia
sido forçada pelo pai a se casar, motivo pelo qual cortara o contato com ele,
o que a fizera sofrer muito. E a exclusão do avô gerava grande mágoa
também na neta. Segundo Bert Hellinger, o inventor da Constelação
Familiar, a droga representa para o viciado alguém da família que foi
excluído — geralmente o pai. Depois de muita resistência, Laura conseguiu
encarar a pessoa que representava o seu pai e o abraçou. Neste momento,
o juiz interrompeu a sessão de Constelação. Dias depois, a assistente social
comunicou ao juiz que Laura estava bem mais tranquila e havia retomado
contato com sua filha, em um diálogo inicialmente travado por telefone. A
instituição de tratamento informou, também, que houve melhora sensível no
quadro psicológico da filha. Resultados como esse são comuns após a
Constelação Familiar – mães reestabelecem o contato com filhos,
adolescentes que cumprem medida socioeducativa deixam a violência de
lado, pessoas que disputam a guarda de crianças entram em acordo.
(FARIELLO, 2018, não paginado).

Com o intuito de resgatar vínculos familiares, a juíza Wilka Vilela Domingues,


titular da 5ª Vera de Família e Registro Civil da Capital, no estado de Pernambuco
(TJPE), por meio da Coordenadoria da Central de Conciliação, Mediação e
Arbitragem, utilizou o método sistêmico em 30 processos de alto sigilo, convidando
os casais das ações para a palestra e vivência sobre a constelação familiar
sistêmica, como um instrumento de resolução de conflitos no Poder Judiciário.

A magistrada exibiu um vídeo com uma matéria sobre os resultados da


aplicação da técnica do Tribunal de Justiça da Bahia que teve como
proposta intensificar o número de conciliações em ações de família. A
reportagem trazia depoimentos de representantes do Judiciário baiano que
utilizaram a pratica, ressaltando um aumento das conciliações
conquistadas, e também de casais que conseguiram chegar a um consenso
sobre um conflito após participar da técnica terapêutica.Para finalizar o
encontro, a juíza Wilka Vilela Domingues aplicou o método da Constelação
Familiar Sistêmica entre os presentes. Os participantes representaram
papéis de parentes de pessoas do grupo e revelavam o que sentiam a partir
do momento em que seus conflitos e emoções eram revelados e debatidos
com o interlocutor. ―Buscamos com a prática perceber as relações daquela
família, o que precisa ser perdoado, resgatado e compreendido‖, sintetizou
a magistrada. Para o microempresário, Fernando da Silva, que participou da
prática, a experiência valeu a pena. ―Não sei como, mas acabei transferindo
para as pessoas que representavam meus parentes e minha ex-esposa a
vivência real com os membros familiares e, no final, no momento de
reconciliação, eu me vi fazendo parte desse resgate. Foi muito importante
para mim‖, revelou. Após essa etapa de introdução da técnica terapêutica
no Judiciário estadual, a ideia da magistrada é buscar inserir a prática em
outras unidades judiciárias. ―Hoje, estamos realizando uma experiência
introdutória, que chamamos de pré-projeto, para num segundo momento
tentarmos ampliar a ação no tribunal‖, disse. A iniciativa de expansão da
técnica integra o projeto Um Novo Olhar, que está sendo desenvolvido
52

pelos juízes Wilka Vilela, Élio Braz, Laura Simões e Ana Cecilia Toscano. O
projeto será apresentado à Coordenadoria da Central de Conciliação,
Mediação e Arbitragem do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) ainda
este ano. ―O objetivo é que possamos resolver ou transformar os conflitos
de forma definitiva, e, não apenas resolver o processo, resgatando o
convívio familiar dos jurisdicionados que é o mais importante‖, enfatizou a
juíza. (BRASIL, 2016, não paginado).

Salienta-se que outras experiências vêm sendo realizadas com auxílio das
constelações na justiça, tais como: interrogatório de crianças e adolescentes com
uso de bonecos; constelações em instituições de acolhimento para buscar a melhor
solução para crianças e adolescentes institucionalizados – retorno à família de
origem, encaminhamento à família extensa ou à adoção; constelações na área
criminal com agressores, vítimas e agentes do Estado; constelações com
adolescentes autores de atos infracionais, suas famílias e vítimas; etc. (SAMI, 2016).

4.2 Resultados da aplicação das constelações familiares no Poder Judiciário

É inegável que a crescente utilização das constelações familiares tem


contribuído para uma mudança cultural e de mentalidade no Poder Judiciário
brasileiro. Sami (2014) explica que a mudança é percebida principalmente na visão
dos advogados e dos servidores em relação aos conflitos e ações.
Percebe-se que, por meio da constelação familiar, as pessoas ficam muito
mais abertas ao diálogo, tendo mais possibilidade de encontrarem uma solução
consensual para o litígio que enfrentam. Quando na prática terapêutica visualiza-se
os problemas familiares, os bloqueios, emaranhamentos, posicionamentos e
comportamentos tóxicos, voluntários ou não, o diálogo é facilitado na medida em
que as barreiras impostas pelos conflitos são quebradas.
Sami (2014) relata que durante as audiências, os operadores do direito
notaram que ficou acessível conciliar os processos em que uma ou ambas as partes
vivenciaram o evento de constelações familiares. Refere ainda que questionários
são aplicados a fim de avaliar os efeitos, quantitativa e qualitativamente, sendo que
os resultados vêm mostrando o quão positivo está sendo a aplicação desse trabalho
sobre cada uma das partes envolvidas.
Sami (2014) ainda ressalta que, das noventa audiências dos processos nos
quais pelo menos uma das partes participou da vivência de constelações, o índice
53

de conciliações foi de 91%; nos demais, foi de 73%. Além disso, nos processos em
que ambas as partes participaram da vivência, o índice de acordos chegou à 100%.

Através de questionários respondidos após a audiência de conciliação por


80 pessoas que participaram das vivências de constelações ao longo do 1º
semestre de 2013, obtivemos as seguintes respostas: 59% das pessoas
disseram ter percebido, desde a palestra, mudança de comportamento do
pai/mãe de seu filho que melhorou o relacionamento entre as partes. Para
28,9%, a mudança foi considerável ou muita. 59% afirmaram que a palestra
ajudou ou facilitou na obtenção do acordo para conciliação durante a
audiência. Para 27%, ajudou consideravelmente. Para 20,9%, ajudou muito.
77% disseram que a palestra ajudou a melhorar as conversas entre os pais
quanto à guarda, visitas, dinheiro e outras decisões em relação ao filho das
partes. Para 41%, a ajuda foi considerável; para outros 15,5%, ajudou
muito. 71% disseram ter havido melhora no relacionamento com o pai/mãe
de seu(s) filho(s), após a palestra. Melhorou consideravelmente para 26,8%
e muito para 12,2%. 94,5% relataram melhora no seu relacionamento com o
filho. Melhorou muito para 48,8%, e consideravelmente para outras 30,4%.
Somente 4 pessoas (4,8%) não notaram tal melhora. 76,8% notaram
melhora no relacionamento do pai/mãe de seu(ua) filho(a) com ele(a). Essa
melhora foi considerável em 41,5% dos casos e muita para 9,8% dos casos.
Além disso, 55% das pessoas afirmaram que desde a vivência de
constelações familiares se sentiu mais calmo para tratar do assunto; 45%
disseram que diminuíram as mágoas; 33% disse que ficou mais fácil o
diálogo com a outra pessoa; 36% disse que passou a respeitar mais a outra
pessoa e compreender suas dificuldades; e 24% disse que a outra pessoa
envolvida passou a lhe respeitar mais. (STORCH, 2014, não paginado).

Além disso, de acordo com o jornal Diário do Sul (2018), o CEJUSC (Centro
Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania) do município de Tubarão, que é
coordenado pela magistrada Miriam Regina Garcia Cavalcanti, titular da Vara de
Família, Órfãos, Infância e Juventude, registrou um índice de conciliação superior à
75%, com a obtenção de 87 acordos em 115 audiências efetivamente realizadas. O
método sistêmico de Bert Hellinger é utilizado na referida comarca desde de
dezembro de 2014.
Sami (2016) explica que, além de contribuir para o aperfeiçoamento da
justiça, a prática também ocasiona uma melhoria nos relacionamentos das famílias –
que, sabendo lidar melhor com os conflitos, podem viver em paz e assim
proporcionar um ambiente melhor para o crescimento e desenvolvimento dos filhos,
com respeito e consideração à importância de cada um. Tendo como uma
consequência natural disso, a melhora nos relacionamentos em geral e a redução
dos conflitos na comunidade.
54

Nesse sentido, Schmidt, Pan Nys e Passos (2017), esclarecem os resultados


da implementação das constelações na Comarca de Capão da Canoa, no estado do
Rio Grande do Sul, com o Projeto Justiça Sistêmica. Veja-se:

(...) em aproximadamente sete meses de implementação do Projeto foi


possível colher importantes resultados, tal como o índice de não
envolvimento dos adolescentes encaminhados ao Projeto com a prática de
atos infracionais, o qual alcançou o percentual de 93%, ou seja, apenas
7% dos adolescentes encaminhados ao Projeto Justiça Sistêmica voltaram
a se envolver em outros atos infracionais no período de 07 meses. Tal
índice mostra-se bastante representativo quando, segundo pesquisas (vide
reportagem da Revista Veja, edição 2460, ano 49, p. 74/75), a taxa (média)
de reincidência entre os adolescentes chega a 68%, sendo que metade
dos adolescentes que estiveram com medida de internação tornam a
delinquir nos três primeiros meses de liberdade. Daí já se constata a
relevância do Projeto tanto no âmbito social como jurídico. Nessa
perspectiva, importa referir que a visão sistêmica acerca do envolvimento
dos menores em atos infracionais indica que a prática de tais atos está
diretamente relacionada à desestruturação familiar e, muitas vezes, quando
acompanhado do vício de entorpecentes, vem atrelada, especificamente, à
falta da figura paterna. Logo, a partir da técnica das constelações é possível
mostrar a esse adolescente o ponto de desequilíbrio familiar e dar a ele uma
nova chance de acabar com a desordem ou desequilíbrio interpessoal, ou,
ao menos, saber lidar com ela. Já na casa de acolhimento de Capão da
Canoa, no período de quatro meses de implementação da técnica das
constelações, foi possível verificar uma taxa de desacolhimentos de 40%,
sem novas medidas equivalentes durante o período. Afora isso, o trabalho
realizado com as cuidadoras das crianças e adolescentes acolhidos permitiu
que elas adquirissem maior estrutura emocional, e, conhecedoras das
ordens do amor propugnadas por Bert Hellinger (pertencimento, hierarquia e
equilíbrio), pudessem disseminar a cultura de paz, evitando inclusive de
cometerem o erro de buscar se colocar no papel de substitutos
dos genitores e demais familiares. (SCHMIDT; PAN NYS; PASSOS, 2017,
não paginado).

Portanto, o que se percebe, é que além dos altos índices de aprovação da


utilização da constelação familiar como um método de resolução de conflitos, essa
técnica terapêutica vem, cada vez mais, auxiliando as pessoas num processo de
cura e transformação. Atualmente, na crescente e pertinente busca pela
humanização do Poder Judiciário, é essencial que se priorize a resolução
consensual que promova uma reconciliação plena, definitiva e livre de traumas para
as pessoas envolvidas.
A constelação familiar se apresenta como um método inovador e abrangente,
com potencial para auxiliar os tribunais a se aproximarem da comunidade,
expandido a sua atuação através dessas práticas alternativas. O Poder Judiciário
brasileiro deve estar em constante evolução, atento às mudanças, para cumprir da
55

melhor forma possível o seu papel na construção de uma sociedade cada vez mais
justa, pacífica e humanizada.
56

5 CONCLUSÃO

A pesquisa realizada discorreu sobre a Constelação Familiar e sua


aplicabilidade dentro do Poder Judiciário, especialmente no Direito de Família. Esse
método alternativo de resolução de conflitos busca, através de abordagens mais
atuais e humanizadas, contrapor o modelo defasado de imposição de decisões, tão
comum na justiça brasileira, que torna os processos cada vez mais morosos e
ineficazes, deixando de fornecer às partes resultados satisfatórios em longo prazo.
Conforme disposto pela legislação nacional, é de responsabilidade do Poder
Judiciário resolver os conflitos da sociedade em geral de forma imparcial e
abrangente. Porém, atualmente, o Estado falha ao não considerar diversos aspectos
envolvidos para prolação de sentenças, especialmente por não utilizar o contato
adequado com as partes e não dispor de mecanismos apropriados pra realizar as
resoluções processuais da melhor forma.
Diante do significativo avanço social e tecnológico pelo qual a sociedade
contemporânea passa, onde os métodos habituais não têm a mesma aplicação
como tinham outrora, a mudança visando evolução é imprescindível e deve
acontecer de forma natural. Em todas áreas de conhecimento há necessidade de
transformação e inclusão de novas metodologias, essa premissa também se aplica
ao direito, considerando sua função essencial como regulador da vida em
sociedade.
A grande quantidade de processos existentes no Poder Judiciário e a
lentidão dos tramites até a resolução da lide, causa angústia aos envolvidos,
principalmente no Direito de Família, onde há presença de vínculo consanguíneo,
afetivo e íntimos níveis de convivência entre as partes. E é nesse contexto que a
Constelação Familiar pode atuar, trazendo mais agilidade às decisões, através de
uma mediação inclusiva que busca a conciliação definitiva. Esses modelos
alternativos estão cada vez mais presentes no ordenamento jurídico brasileiro.
Conforme apresentado nesse estudo, tais métodos costumam utilizar um terceiro
(mediador, conciliador) para auxiliar no diálogo entre as partes e,
consequentemente, fornecer ajuda na busca pela conclusão do processo de forma
pacífica e harmoniosa.
Os conceitos básicos da constelação familiar se originam da abordagem
57

sistêmica criada por Bert Hellinger a partir da observação e estudo de inúmeras


escolas psicoterapêuticas e psicanalistas, difundidas por grandes nomes da história
da humanidade, como Arthur Janoff, Virgínia Satir, Milton Ericsson, etc.
A dinâmica proposta por Bert Hellinger é considerada inusitada para o direito
tradicional estudado atualmente, o que explica parcialmente a resistência à
aplicação desse mecanismo. Novas formas de atuação tendem a ocasionar
relutância, eis que mentalidades e conceitos aprendidos até então precisam ser
afastados, para que outros ganhem forma. Entretanto, os resultados exitosos
alcançados por meio da implementação das constelações familiares nos tribunais
brasileiros, conforme dados e explicações elencados no presente trabalho
acadêmico, não deixam dúvidas acerca de sua efetividade.
Pôde-se perceber que tal método promove uma transformação verdadeira e
definitiva na vida das pessoas envolvidas no processo, na medida em que traz às
partes solução permanente para o problema que enfrentam. Além disso, por meio da
constelação familiar, cada indivíduo é instigado a visualizar a dinâmica das relações
existentes, indo além do conflito, percebendo, honrando e dialogando sobre suas
questões e, dessa forma amenizando o embate.
A possibilidade de praticar uma justiça curativa, que venha a gerar
resultados eficientes em longo prazo, causando o mínimo de trauma possível aos
envolvidos deve ser prioridade dentro do direito. Essa abordagem mais profunda
contrasta com a praticada atualmente onde, em muitos casos, as partes são
estimuladas, pelos próprios operadores jurídicos, a buscarem a lide, para fins de
consolidação e satisfação da justiça de forma simplista.
Uma vez que a legislação brasileira permite que seja adotada, é preciso
inserir no Poder Judiciário a ideia de que métodos alternativos de resolução de
conflitos, como a constelação familiar, podem ser satisfatórios às partes, servindo
como eficientes ferramentas pra otimizar as decisões. Fica clara a necessidade
crescente pela humanização na esfera judicial, para que se desprenda das amarras
do passado e acompanhe as mudanças sociais.
Por fim, verificou-se que a constelação, quando empregada corretamente,
pode resolver os conflitos de maneira pacífica, diminuindo a morosidade e lentidão
dos processos, auxiliando na transformação de pessoas e relações familiares e,
consequentemente, melhorando a qualidade de vida dos envolvidos, trazendo
58

equilíbrio, harmonia e promovendo uma cura verdadeira através da justiça.


59

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Rafael Alves de (Org.); ALMEIDA, Tania (Org.); CRESPO, Mariana


Hernandez (Org.). Tribunal Multiportas: Investindo no capital social para maximizar
o sisema de solução de conflitos no Brasil. Rio de Janeiro: FGV, 2012.

BANDEIRA, Regina. Juiz consegue 100% de acordos usando técnica alemã


antes das sessões de conciliação. Disponível em:
http://cnj.jus.br/noticias/cnj/62242-juiz-consegue-100-de-acordos-usando-
tecnica alema-antes-das-sessoes-de-conciliacao. Acesso em: 21 ago. 2020.

BASSOI, Vera Lucia Muniz. Comunicação e pensamento sistêmico: um estudo


sobre ―constelações familiares‖. Sorocaba, 2016. 124 f il.

BITENCOURT, Daiana Tolfo. Aplicabilidade das constelações familiares como


método alternativo na resolução de conflitos no direito de família. DireitoNet, 06
maio. 2019. Disponível em:
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