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TÉCNICAS DE MEDIAÇÃO E A CONSTELAÇÃO FAMILIAR COMO

MECANISMO DE EFETIVAÇÃO DAS MEDIAÇÕES


O presente trabalho visa discorrer acerca da constelação familiar e como se dá o seu
funcionamento como mecanismo de efetivação das mediações, abordando sua gênese,
desenvolvimento e aplicação inovadora no Direito brasileiro, bem como os desdobramentos de
seu uso no dia a dia das conciliações e os resultados positivos para os envolvidos.

Os meios consensuais de resolução de conflitos são caminhos alternativos ao Poder


Judiciário, pois consistem em técnicas empregadas por um terceiro neutro, similar ao juiz
togado, geralmente indicado ou escolhido pelas partes, que irá contribuir para que os envolvidos
possam construir em conjunto uma solução que satisfaça os interesses, ou decidirá por eles,
sendo um método extremamente útil, eficaz e célere, sem contar a mitigação que causa no
tocante aos números de casos represados no Judiciário pendentes de julgamento.

Os métodos mais conhecidos e amplamente usados são a Mediação e Conciliação,


dirigida por um terceiro imparcial, de modo sigiloso, que exerce a função de facilitador do
diálogo, separando tempo e atenção para cada uma das partes, sempre em busca de compreender
as fragilidades e pontos cruciais de cada lado, abrindo caminho para um consenso. Sobre o
assunto, assevera Vasconcelos (2020, p. 92) que:

A mediação é tida como um método dialogal e autocompositivo, no campo da retórica


material e, também, como uma metodologia, em virtude de constituir um
procedimento baseado num complexo interdisciplinar de conhecimentos científicos
extraídos especialmente da comunicação, da psicologia, da sociologia, da
antropologia, do direito e da teoria dos sistemas. E é, também, como tal, uma arte, em
face das habilidades e sensibilidades próprias do mediador. (VASCONCELOS, 2020,
p. 92).

Já a Arbitragem, por sua vez, também é um meio alternativo para solução de conflitos,
mas que se difere da Mediação e Conciliação em razão da concentração do poder decisório em
um terceiro, o árbitro. Conforme preleciona a doutrina “a arbitragem é um método
heterocompositivo de solução de conflitos por meio do qual um terceiro imparcial, escolhido
pelas partes, decide a controvérsia, segundo normas e procedimentos previamente acordados.”
(PINHO; MAZOLLA, 2022, p. 281).

Em suma, ambas possuem características comuns e detém outras de modo exclusivo,


mas atuam de maneira similar, uma vez que empregam técnicas estratégicas de negociação para
dirimir as divergências, viabilizar o diálogo e criar um ambiente harmonioso, propício para uma
conclusão mutuamente vantajosa.
Vários são os mecanismos utilizados para resolver os massivos problemas de
consumidores, familiares e menores infratores, dentre esses campos de atuação, ressalta-se um
método que surgiu recentemente, que na verdade surgiu originalmente como método
terapêutico, mas que fora posteriormente aplicado em âmbito jurídico, a Constelação Familiar.

Constelação, na astronomia, é um conjunto de estrelas próximas umas às outras, que


podem ser vistas da terra e terem linhas imaginárias traçadas, é nesse sentido que o autor nomeia
a técnica; e familiar porque é um dos campos sociais que a referida técnica pode ser aplicada,
tomando a família como um todo, um sistema interligado de pessoas conectadas por laços
sanguíneos ou legais, um verdadeiro sistema.

Criado pelo terapeuta e filósofo, Bert Hellinger, a Constelação Familiar, em alemão


Familienstellen, possui como base as leis sistêmicas ou as “Ordens do Amor”, quais sejam:
hierarquia, a lei que trata da configuração de cada integrante dentro do sistema, sendo
organizado pela ‘ordem de chegada’, devendo ser respeitada tal disposição; pertencimento, ou
seja, a ordem que declara a inclusão de todos no mesmo sistema, não podendo serem excluídos
ou não reintegrados, em caso de saída do sistema; e equilíbrio entre dar e receber, que trata da
mútua troca entre as pessoas, isto é, a reciprocidade.

Quando uma dessas leis é quebrada, seja pela morte trágica, violência, aborto ou
divórcio litigioso, deixa uma marca no sistema familiar, que deve ser resolvida por aquelas
pessoas, caso contrário, a chamada “agenda oculta” surge, que nada mais é do que a extensão
dessas situações que já aconteceram para as gerações posteriores, mesmo que tenha ocorrido
com os antepassados, mas, por não terem sido resolvidas, se propagam na descendência,
gerando um emaranhamento que acarreia sofrimento para todos.

No Brasil, o pioneiro pela introdução dessa técnica foi o juiz Sami Storch, que sendo
conhecedor do método, vislumbrou uma boa oportunidade em aplicar no seu cotidiano
profissional, mormente em casos de família. A Constelação Familiar, em suma, funciona como
uma peça de teatro simulado por voluntários que, representando os familiares, desenvolvem
diálogos e situações, de modo a despertar circunstâncias até o momento inéditas ou inativas e
corrigir os motivos originários dos problemas.

Os resultados práticos são surpreendentes, aumenta-se o respeito e consideração mútua


entre os pares, bem como o desejo de conciliar e pôr fim no litígio. Mas esse benefício não se
restringe ao Judiciário, porque diante do sucesso apresentado em casos concretos, passou a
figurar até mesmo no Sistema Único de Saúde (SUS), tendo sido incluído como terapia, é o que
nos informa Guilherme (2022, p.57):

Em março do ano de 2019 o Ministério da Saúde incluiu a constelação familiar no rol


de procedimentos disponíveis no Sistema Único de Saúde. A terapia foi incluída,
então, no escopo das Práticas Integrativas e Complementares (PICs), enquadrando-se
como uma forma de terapia complementar que pode contribuir para a saúde e bem-
estar da população. (GUILHERME, 2022, p. 57).

Sobre sua profusa utilização, continua Guilherme (2022, p.56):

A técnica vem sendo usada pelos Estados de Goiás, São Paulo, Rondônia, Bahia, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Rio Grande do Sul, Alagoas, Amapá e
Distrito Federal, no intento de ajudar a solucionar conflitos na Justiça brasileira. Em
Goiás, o Projeto Mediação Familiar, do 3º Centro Judiciário de Soluções de Conflitos
e Cidadania da Comarca de Goiânia, conferiu ao Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-
GO) o primeiro lugar no V Prêmio Conciliar é Legal, promovido pelo CNJ.
(GUILHERME, 2022, p. 57).

Diante da efetividade proporcionada pela técnica em tela, corre na Câmara dos


Deputados o PL 9.444/2017, que objetiva inserir a constelação sistêmica na política pública de
solução consensual de controvérsias jurídicas. Dentre os aspectos abordados da PL, destacam-
se os princípios da informalidade, boa-fé, autonomia da vontade das partes e outros,
imprescindíveis para reger o procedimento e viabilizar a solução.

Portanto, nota-se que o método da Constelação Sistêmica em meio familiar tem ganhado
força e espaço dentro dos meios alternativos de solução de conflitos, sendo mais uma forma de
dirimir e pacificar controvérsias, uma contribuição de peso para o bem estar social e familiar
dos envolvidos, evitando que as próximas gerações padeçam por situações delicadas.

Nome: Thiago Henrique Rodrigues da Silva

RA: 2522666
Referências:
GUILHERME, Luiz Fernando do Vale de A. Manual de arbitragem e mediação:
conciliação e negociação. 6. ed. São Paulo: Saraiva Jur, 2022. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9786553620568. Acesso em: 14 maio. 2022.

PASCHOAL, Rosani. As ordens do amor e as consequências para a vida: leis deixadas


por Bert Hellinger e sua aplicação. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/88718/as-
ordens-do-amor-e-as-consequencias-para-a-vida. Acesso em: 21 maio. 2022.

PINHO, Humberto Dalla Bernardina D.; MAZZOLA, Marcelo. Manual de Mediação e


Arbitragem. 2. ed. São Paulo: Saraiva Jur, 2022. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598087/. Acesso em: 16 maio.
2022.

VASCONCELOS, Carlos Eduardo D. Mediação de Conflitos e Práticas Restaurativas. 7.


ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530991463/. Acesso em: 16 maio.
2022.

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