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Mediação de Conflitos

Disciplina: Fundamentos da Mediação

Modalidade de Curso
Curso Livre de Capacitação Profissional

Pedagógico do Instituto Souza


atendimento@institutosouza.com.br
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Mediação: um novo olhar para o tratamento de conflitos no


Brasil (Adaptado)
Daniela Torrada Pereira

1. INTRODUÇÃO

A concretização do Estado Democrático de Direito proposto na


(re)constitucionalização de 1988 levou à consequente ampliação de um sem número
de demandas junto ao Poder Judiciário. Esse crescimento, aliado à complexidade
das relações sociais, contribui deveras ao repensar da jurisdição enquanto efetiva
aliada da sociedade, haja vista que o Poder Judiciário, atualmente, não tem vencido
sua função de exercer a jurisdição estatal de modo eficaz e eficiente.

Assim, a impotência do Estado em atender de forma satisfatória – e em


consonância aos preceitos constitucionais – os anseios sociais na resolução dos
litígios leva à construção do entendimento que os próprios envolvidos nas demandas
teriam melhor legitimidade para resolvê-las, o que também leva ao o repensar sobre
a jurisdição hoje experienciada.

Sob essa perspectiva (re)surge a mediação, não só como mecanismo que


colabora com o abarrotamento do Poder Judiciário, mas como instrumento de
exercício de cidadania através da busca por uma decisão autônoma e consensual
por aqueles que jamais deveriam ter deixado de ocupar o papel protagonista na
demanda: os indivíduos diretamente envolvidos no conflito.

2. Mediação: conceito e evolução

A mediação, em linhas gerais, pode ser definida como uma técnica que,
através da linguagem, permite a criação ou recriação da relação humana; para isso,
se utiliza da figura de um intermediário – o mediador – que intervém de forma
imparcial com a facilitação da comunicação entre os indivíduos. (LASCOUX, 2006).
Assim, sua aplicabilidade não se restringe à Ciência do Direito, mas se estende a
uma infinidade de outras áreas. O termo mediação procede do latim mediare, que
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significa mediar, intervir, dividir ao meio (ROBERTS; PASTOR apudMORAIS;


SPENGLER, 2009, p. 147).

O que se pretende aqui, entretanto, é o estudo da mediação aplicada à área


do Direito como via alternativa à jurisdição estatal então vigente. Neste sentido, a
mediação representa um mecanismo no qual não há a imposição de uma decisão
por outrem [Estado-juiz], mas a construção, pelos próprios envolvidos na contenda,
com o auxilio de um facilitador do diálogo, de uma saída para o problema que
vivenciam.

Assim, enquanto espécie do gênero justiça consensual, pode ser definida,


de acordo com Luis Alberto Warat (apud MORAIS; SPENGLER, 2008, p. 133), como
“[...] a forma ecológica de resolução dos conflitos sociais e jurídicos, na qual o intuito
de satisfação do desejo substitui a aplicação coercitiva e terceirizada de uma sanção
legal”. Ao mencionar o termo ecológico, refere-se o autor à ecologia política
enquanto possibilidade de transformação dos conflitos que aponte pra uma melhor
qualidade de vida aos envolvidos (ALBERTON, 2008, p. 86).

Neste sentido, por meio da mediação os envolvidos buscam compreender as


fraquezas e fortalezas de seu problema a fim de tratar o conflito de forma
verdadeiramente satisfatória (MORAIS; SPENGLER, 2008, p. 132); o acordo final
aborda o problema com uma proposta consensual dos envolvidos e será estruturado
de modo a manter a continuidade de suas relações.

Destarte, cumpre destacar que a mediação se preocupa, não só com o


acordo em si, mas com o modo como ele será construído, já que isso influencia
diretamente no relacionamento dos indivíduos de forma positiva ou negativa. Assim,
ocupa-se com a busca não apenas da resolução do problema momentâneo que se
impõe [como faz o Poder Judiciário ao dar uma resposta processual aos conflitos],
mas com um tratamento adequado à relação que os envolvidos no conflito
estabelecem. É, portanto, um instituto que incentiva a autonomia da pessoa, exercita
a cidadania e atua como método de progressiva pacificação social.
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Nas palavras de José Luis Bolzan de Morais e Fabiana Marion Spengler


(2009, p. 139):

“[...] os objetivos da mediação dizem respeito ao restabelecimento da


comunicação, mas também à prevenção e ao tratamento dos conflitos
(através de uma visão positiva na pretensão de encará-lo como meio de
sociação, de transformação e evolução social), como meio de inclusão
social objetivando promover a paz social.”

Assim, percebe-se na mediação o enfrentamento do conflito sob um viés


positivo, o qual consistindo este na sobreposição de ideias necessária à evolução e
é inerente à sociedade. Não só, a mediação considera importante tratá-lo em sua
essência [desde o modo de percebê-lo ao de gerí-lo] no intuito de que não se faça
necessário trabalhar, especificamente, com seu tratamento.

Ademais, as circunstâncias apontam para a utilização da mediação [como


complemento da atividade jurisdicional] especialmente quando verificada a
inadequação das estruturas tradicionais para o tratamento dos conflitos no que
tange à questão dos interesses transindividuais, excesso de demandas, e na busca
por uma justiça mais comunitária, fundada sobre o consenso e não sobre a sanção
(MORAIS, SPENGLER, 2009, p. 139).

Na verdade, a mediação – assim como os demais métodos extrajudiciais de


solução de conflitos[1] – não constitui fenômeno novo; como forma de comunicação
entre os seres humanos, ela existe desde o tempo em que há a intervenção de
terceiros nos conflitos de outrem (LASCOUX, 2006) – o que remonta a própria
existência do homem na Terra. Evidentemente que não se trata da mediação tal qual
como se tende a defini-la desde o fim do século XX (CENTRO BRASILEIRO DE
MEDIAÇÃO, 2011), mas o instituto, com o passar do tempo, passa a ser
redescoberto e sua eficiência reconhecida para o Direito em meio a uma crise
profunda do sistema judiciário de regulação dos litígios (MORAIS, SPENGLER,
2008, pp. 113-134)[2].
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De acordo com Christoper Moore (1998, p. 32-34), a mediação já era


praticada para tratar os litígios bíblicos, especialmente nas comunidades judaicas;
após, seu uso se difundiu em várias culturas, dentre elas a islâmica, a hindu, a
chinesa e a japonesa. Segundo o autor “foi nos últimos 25 anos que a mediação se
expandiu exponencialmente no mundo, ganhando espaço e tornando-se
reconhecida como meio de tratamento de litígios alternativo às práticas judiciais”
(MOORE 32-34).

Na Antiguidade, a mediação era conhecida na Grécia, foi utilizada na China


e também pela Civilização Romana (CENTRO BRASLEIRO DE MEDIAÇÃO, 2011).

Na China desde a década de 50, é aplicada à resolução de conflitos


familiares e, atualmente, consiste no principal meio de solução de conflitos utilizado
no País através dos Comitês Populares de Conciliação e dos Tribunais de
Conciliação (MOORE, 1998, p. 41).

Com a emigração dos chineses para os Estados Unidos da América e para a


Europa, a mediação ganha espaço, à medida em que, a partir da década de 70, o
instituto se consolida nos Estados Unidos (AMARAL et. al., 2007, p. 15), difundindo-
se, posteriormente, para o Canadá e para alguns países da Europa (FONKERT,
2011, p. 01).

Conforme destaca o Centro Brasileiro de Mediação (2011) no ano de 1913,


nos Estados Unidos, foram nomeados mediadores na Secretaria de Trabalho para a
função de comissários de conciliação. Em 1946, com o objetivo precípuo de resolver
conflitos trabalhistas, criou-se o Serviço Federal de Mediação e Conciliação [Federal
Mediation and Conciliation Service – FMCS], que consolidou a figura do mediador
como profissional, o qual, nesse sentido, possuía mínimas oportunidades de atuação
fora deste departamento.

Apenas a partir de 1970, os americanos passaram a ver de fato nos meios


alternativos de solução de conflitos [Alternative Dispute Resolutions – ADR’s] uma
saída para desafogar o Judiciário, que se encontrava com acúmulo de processos
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oriundos do movimento de acesso à justiça daquele país (AMARAL et. al., 2007, p.
15). Em 1974, o psicólogo e advogado Dr. Coogler desenvolveu estudos sobre a
mediação como forma de resolução de quaisquer disputas (AMARAL et. al., 2007,
p.15).

Em 1976, como resultado da Conferência de Roscoe Pound, evento que


reuniu acadêmicos de Direito para discutir opções e buscar melhorias para o sistema
jurídico americano, tendo em vista a emergência de se encontrar alternativas ao
contencioso, o desenvolvimento da mediação se dividiu em duas direções: uma
baseada na noção de que representa uma extensão do sistema jurídico [devido a
qual muitas pessoas ainda a vêem apenas como meio eficaz de reduzir problemas
de litígios nos tribunais]; outra, desassociada do sistema jurídico, que apresenta a
mediação como um processo tendencioso a produzir melhores resultados do que
aqueles alcançados no sistema contraditório, justamente por se separar da
burocracia legal – essa última, vale dizer, configura-se a maior tendência mundial
(CENTRO BRASILEIRO DE MEDIAÇÃO, 2011). Além disso, em decorrência desta
conferência, foi alterado o Regimento Federal de Processo Civil norte-americano, no
sentido de modificar consubstancialmente a concepção de justiça legal para a até
então vigente, ao reconhecer a mediação como uma prática valiosa (CENTRO
BRASILEIRO DE MEDIAÇÃO, 2011).

Cumpre destacar, conforme José Morais e Fabiana Spengler (2009, p. 138),


que o emprego da mediação nos processos de família, utilizados inicialmente nos
Estados Unidos, teve a Inglaterra como porta de entrada na Europa. A mediação
obteve tamanho êxito no país norte-americano que considerável número de seus
Estados já a tornaram obrigatória em questões relativas a divórcio (MORAIS;
SPENGLER, 2009, p. 138).

Já no Reino Unido, a primeira vez em que foi empregada a mediação


familiar foi em Bristol, em 1976, com o objetivo de ajudar casais a reduzir os
problemas no relacionamento, especialmente quando houvesse filhos provenientes
da relação dos (ex)cônjuges (CENTRO BRASILEIRO DE MEDIAÇÃO, 2011). Desde
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já, a mediação se caracterizava por ser um procedimento voluntário, tendo como


objeto a melhora da comunicação dos indivíduos, dependendo apenas dos
envolvidos a decisão sobre o conflito e contando com um terceiro imparcial na
colaboração ao estabelecimento da comunicação (CENTRO BRASILEIRO DE
MEDIAÇÃO, 2011). Foi também no Reino Unido, especificamente na Grã-Bretanha,
que, em 1978, foi fundado o primeiro Serviço de Mediação Familiar, o qual se
alastrou por todo o País com o movimento Parents Forever (AMARAL et. al., 2007,
p.16)

Na França, por sua vez, a mediação surgiu no início dos anos 80, através do
contato dos franceses com a interdisciplinaridade (AMARAL et. al., 2007, p. 16),
configurando-se como um método de resolução de conflitos em que os mediandos,
além do dever de optar de maneira voluntária pelo procedimento, deveriam também
realizar a escolha do mediador (LASCOUX, 2006). Com o passar do tempo, a
prática passou a exigir maior regulamentação, o que ocorreu com o Código de
Processo Civil de 1995, pelo qual adveio a mediação ordenada no curso do
processo pelo juiz, que também passou a ser responsável pela designação do
mediador dependendo para isso da anuência dos envolvidos (LASCOUX, 2006).

Na Holanda, no inicio dos anos 90, a mediação se caracterizou,


essencialmente, por consistir numa sistematização de técnicas baseada, sobretudo,
em pesquisas americanas e numa maior profissionalização do procedimento
(CENTRO BRASILEIRO DE MEDIAÇÃO, 2011). No ano de 1992, foi criado o
Instituto de Mediação Holandês (The Netherlands Medation Institute - NMI),
sinalizando a institucionalização do procedimento da mediação no País; o Instituto
estabeleceu o código disciplinar para os mediadores e o caráter confidencial da
mediação; além disso, a regulamentou quanto aos pressupostos de voluntariedade
dos envolvidos e neutralidade do mediador (CENTRO BRASILEIRO DE MEDIAÇÃO,
2011).
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Também em 1990, a Austrália passou a desenvolver a mediação através da


elaboração de um relatório que indicava a extensão dos meios alternativos de
composição de conflitos ao trabalho dos Tribunais (AMARAL et. al., 2007, p.16).

Em 1997, no Canadá, o Governo de Quebec promulgou uma lei que


assegurava ao casal e às crianças envolvidas em conflito familiar uma sessão de
informação e cinco sessões gratuitas de mediação, acabando por incentivar a
utilização do instituto no país (AMARAL et. al., 2007, p. 16).

No tocante aos países europeus, é possível afirmar que


os Alternative Dispute Resolutions têm sido amplamente utilizados. Em 1998, foram
publicados os Princípios Europeus sobre Mediação Familiar [Recomendação n° 98
do Conselho da Europa], cujo texto foi elaborado pelos representantes dos 40
Estados membros do Conselho Europeu, consagrando-se como princípios da
mediação a voluntariedade dos participantes, a confidencialidade do mediador, a
resolução baseada no interesse dos envolvidos, o mediador como facilitador e não
como árbitro de decisões e o interesse em preservar determinada instituição para
tornar possível uma relação continuada.

Dentre os países da America Latina, a Argentina se destaca na aplicação da


mediação, já que esta é ministrada há anos nas Universidades e tem a profissão do
mediador legislação especial (AMARAL et. al., 2007, p. 16). Em 1996, foi editada a
Lei Federal n° 24.573, que regulamentou as atividades do mediador, as questões
éticas da profissão, tornou a mediação pré-requisito para o ajuizamento de ação
judicial em alguns casos e regulamentou a sua aplicação, no sentido de só poder ser
exercida por advogados (AMARAL et. al., 2007, p. 16).

No Brasil, tem-se notícia sobre a mediação desde o século XII (AMARAL et.
al., 2007, p. 16); todavia, há poucos resultados em termos de legislação, uma vez
que o instituto é aplicado, mormente, como meio alternativo ao Poder Judiciário.

O surgimento de projetos abordando a mediação como método ao


tratamento de conflitos, principalmente relacionados à área de família, tem sido
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crescente e as experiências obtidas com a mediação se mostram cada vez mais


exitosas (ALBERTON, 2008, pp. 89-91). Da mesma forma se percebe a
disseminação do instituto, através da realização de eventos tendo como foco o
estudo, a troca de experiências e a divulgação da mediação.

No Ordenamento Jurídico, a mediação foi recepcionada pelo Decreto n°


1.572/95, que a regulamentou nas negociações coletivas de natureza trabalhista
(LEAL, 2010, p. 45)[3]. Ademais, estão em tramitação no Congresso Nacional
projetos de lei que pretendem uma maior inserção da mediação como método
judicial de resolução de litígios[4].

Por fim, é possível afirmar que as duas últimas décadas do século passado
foram sobremaneira marcadas pela expansão da mediação. De acordo com Morais
e Spengler (2009, p. 147), naquele período observou-se o uso exacerbado do termo,
o que levou justamente à sua banalização. Atualmente, tendo em vista a
necessidade de comunicação – já que os indivíduos não conseguem restabelecer o
liame rompido pelo litígio (MORAIS; SPENGLER, 2009, p. 147) – emerge a
necessidade de situar a mediação na nossa sociedade; (re)surge, assim, a
mediação como uma forma de tratamento de conflitos que possa responder a esta
demanda.

3. Princípios básicos da mediação

A mediação como método alternativo à solução de conflitos que representa


ao lado da arbitragem e da conciliação é, não raro, confundida com esta última.
Portanto, cumpre estabelecer, de pronto, as principais diferenças entre os referidos
institutos.

Enquanto na arbitragem as partes interessadas escolhem um terceiro,


diverso do Juiz, para dirimir as divergências entre elas e emitir decisão sobre o
conflito que vivenciam [considerando que a resolução da controvérsia depende dos
envolvidos apenas na medida em que optam por esse meio de solução de disputas
e pelos mecanismos que serão utilizados pelo terceiro, para tanto], a conciliação e a
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mediação dependem do envolvimento direto dos envolvidos no litígio, através do


diálogo, para dirimir a controvérsia.

As diferenças primordiais entre os dois institutos [conciliação e mediação],


contudo, concretizam-se no sentido que, enquanto na conciliação o papel do
conciliador é incentivar e propor o acordo; na mediação, como foi visto, o mediador
atua como um mero facilitador do diálogo, dependendo a solução do conflito,
fundamentalmente, da iniciativa das pessoas envolvidas.

De acordo com Cintra, Dinamarco e Grinover (2006, p. 34):

“[...] em ambos procedimentos os interessados utilizam a intermediação


de um terceiro, particular, para chegarem à pacificação de seu conflito.
Entretanto, ao passo que a conciliação busca sobretudo o acordo entre
as partes, a mediação objetiva trabalhar o conflito, surgindo o acordo
como mera conseqüência.”

Neste sentido, observa-se que a mediação se estabelece, primordialmente,


como um modelo consensual de solução de controvérsias que visa o beneficiamento
de todos os envolvidos sem a busca de um culpado pela contenda. Não só, é um
mecanismo que pressupõe a identidade das pessoas: sua cultura, escolaridade,
características e laços, bem como seu deslocamento para o espaço de decisão.

Destarte, tem a mediação como princípios fundamentais a voluntariedade e


a total autonomia das decisões. Conforme estabelece o Regulamento de Mediação
do Conselho Nacional das Instituições de Mediação e Arbitragem – CONIMA
(2011b):

“A Mediação é um Processo não-adversarial e voluntário de resolução de


controvérsias por intermédio do qual duas ou mais pessoas, físicas ou jurídicas,
buscam obter uma solução consensual que possibilite preservar o relacionamento
entre elas.”
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Cumpre destacar que a voluntariedade diz respeito não só à pré-disposição


de todos os envolvidos no conflito para a utilização do método como opção viável à
solução do litígio, mas é o que garante e legitima o poder dos envolvidos de
administrá-lo, de estabelecer diferentes procedimentos e de tomar as próprias
decisões durante o processo (CONIMA, 2011a). Mais do que isso, é o que comprova
o verdadeiro anseio dos envolvidos pela resolução do problema que vivenciam e
pela continuidade da relação que estabelecem; é a disponibilidade que demonstram
para o diálogo.

A solução consensual, por sua vez, determina que o procedimento só


ensejará um acordo se todas as partes consentirem sobre os termos desse. A busca
pelo consenso tem como pressuposto a autonomia dos envolvidos em relação às
decisões sobre as questões que envolvem o conflito, partindo da ideia de que cabe
às partes a escolha do que for melhor para si; essa autonomia é o que afiança o
caráter emancipatório e democrático da mediação.

Assim, ao mediador caberá a intervenção como facilitador do diálogo,


orientador das melhores alternativas e mantenedor da regularidade do processo,
jamais manifestando [menos ainda impondo] sua opinião pessoal (AMARAL et. al.,
2007, p. 21). Após chegarem a um entendimento sobre as questões conflituosas, os
mediandos terão produzido a decisão do conflito, a qual será redigida na forma de
acordo, que poderá ser homologado pelo juiz[5]. Ainda, o acordo final poderá ser
refeito mesmo depois do término do procedimento [caso algum dos envolvidos se
sinta prejudicado], ou o Judiciário poderá intervir a pedido de qualquer dos
interessados, inclusive anulando eventual decisão resultante de má-fé (AMARAL et.
al., 2007, p. 21).

Ademais, através do consenso, a mediação pretende a aproximação das


partes não só para a decisão sobre um conflito específico, mas para a restauração
de toda a relação existe por trás deste, zelando pela manutenção do relacionamento
dos envolvidos. O processo judicial, por outro lado, com a solução de litígios
pontuais não pretende resolver a fragilidade em que se encontra, muitas vezes, o
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relacionamento dos litigantes, o que dá margem para o surgimento de novos


conflitos.

A reaproximação das partes e a restauração de suas relações têm como


conseqüência precípua a facilitação do andamento do procedimento e a solução
definitiva do conflito (AMARAL et. al., 2007, p. 22). Ainda, em consequência da
descoberta da capacidade de resolverem os seus próprios conflitos é comum os
indivíduos chegarem ao final do processo se sentido mais capazes, seguros e
adaptados ao diálogo; por tudo isso, a mediação atua como uma forma de
prevenção de conflitos.

Assim, ao tratar do tema harmonização das relações, fala-se não somente


em encerramento daquele dilema discutido, mas sim da final pacificação dos
conflitos entre as pessoas (MORAIS; SPENGLER, p. 137). Busca-se, na verdade,
que, após o processo, os envolvidos não somente se vejam ressarcidos dos
prejuízos sofridos, mas também sintam que aquele conflito pelo qual passaram
esteja superado, satisfazendo tanto a lide colocada em discussão como eventuais
conflitos sociais subjacentes (MORAIS; SPENGLER, p. 137)

Para que a mediação obtenha êxito, faz-se necessário que haja equilíbrio
nas relações entre os envolvidos, considerando ser fundamental que a todos seja
conferida a oportunidade de se manifestar, bem como garantida a compreensão das
ações que forem sendo desenvolvidas ao longo do procedimento (MORAIS;
SPENGLER, 2009, p. 137).

No Judiciário, observa-se com frequência, que, além da disparidade


[econômica e cultural] entre as partes, há um descaso com a explicação adequada
[leia-se compreensível] dos procedimentos aos litigantes. Entretanto, manter a
transparência do procedimento e a igualdade dos participantes, além de ser um
pressuposto de validade para um acordo contribui para que as pessoas aceitem
decisões que não partam de si (AMARAL et. al., 2007, p. 22).
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Em oposição à publicidade do processo judicial, a mediação se caracteriza


pela privacidade ou confidencialidadedo procedimento, já que nas sessões só se
fazem presentes o mediador e os envolvidos; via de regra, a divulgação das
reuniões só ocorre por vontade dos participantes (MORAIS; SPENGLER, 2008, p.
134).

Essa privacidade dedicada à mediação permite que os envolvidos se sintam


mais à vontade, facilitando o contato entre os mediandos e o diagnóstico do real
problema fomentador da discórdia [o qual, muitas vezes, não é o que se apresenta
num primeiro momento]. Entretanto, nos casos em que o interesse público se
sobrepõe ao interesse dos envolvidos em razão da garantia à ordem social, o sigilo
às informações prestadas pelos mediandos, por decisão judicial, legal ou por atitude
de política pública, poderá ser quebrado (MORAIS; SPENGLER, 2007, p. 134).

Ainda, por ser um procedimento que tem como objetivo a construção do


entendimento através da comunicação entre os envolvidos, evidentemente tem
como característica a oralidade. Nesse sentido, apesar da dificuldade emocional
gerada pela crise, é através da linguagem e do diálogo que os envolvidos
conseguirão superá-la: somente a partir daí será possível delinear a compreensão
recíproca dos participantes do procedimento, o que é pré-requisito ao entendimento.

No processo judicial, a oralidade pouco tem espaço, concentrando-se,


mormente, no papel desempenhado pelos advogados, os quais são limitados pelos
ritos e procedimentos previamente estabelecidos pelo Direito Processual. Nas
oportunidades que os envolvidos no conflito têm de se expressarem, via de regra,
não há tempo nem ambiente adequado para exporem suas opiniões pessoais
acerca do problema que vivenciam (AMARAL et. al., 2007, p. 22).

A bem da verdade, a oralidade só é possível com razoável amplitude na


mediação, tendo em vista que o procedimento também se caracteriza
pela informalidade. Esta, por sua vez, refere-se às exigências processuais mínimas
que oportunizam a flexibilidade do procedimento para que os mediandos possam
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comunicar suas preocupações e prioridades básicas em relação à disputa, bem


como definir o que pretendem como acordo conforme sua própria visão de justiça.

Não menos relevante é a economia financeira e de tempo oportunizada pelo


procedimento da mediação em contrapartida aos processos judiciais que, em razão
de serem eminentemente morosos, mostram-se mais custosos. Pelo fato de os
litígios levados à discussão através da mediação tenderem a ser resolvidos em
tempo inferior ao que levariam se fossem debatidos no Judiciário, há uma
diminuição de seu custo indireto [já que, quanto mais se alongar a pendência,
maiores serão os gastos com sua resolução] (MORAIS; SPNGLER, 2009, p. 134).

Fato é que tanto o custo quanto a demora dos processos se afiguram


barreiras ao acesso à justiça: quando estão na busca de um direito lesado as
pessoas procuram uma solução rápida para o seu problema de modo que a certeza
na demora de tal solução faz com que tais direitos muitas vezes sejam ignorados por
seus detentores os quais preferem abdicá-lo a enfrentar trâmites lentos, burocráticos
e dispendiosos (MORAIS, SPENGLER, 2009, p. 135); os altos custos, por sua vez,
ainda são empecilhos para que as camadas menos favorecidas financeiramente
[sobretudo essas] tenham acesso ao Judiciário, já que não têm condições de arcar
com as despesas processuais, além de, muitas vezes, desconhecerem os casos em
que são dispensadas de pagá-las. Não bastasse, os próprios serviços e
procedimentos gratuitos, por vezes, mostram-se dificultados.

Ademais, o fato de o processo judicial delimitar o assunto demandado nas


suas peças iniciais, como se vê, não é o bastante para que tenha seu tempo
reduzido de maneira eficiente; a mediação não delimita o(s) assunto(s) que irá
abordar – até porque isso iria de encontro à sua proposta – o que faz é a otimização
do tempo que dispõe; na verdade, a mediação é um processo de sensibilidade que
institui um novo tipo de temporalidade, de fazer do tempo um modo específico da
auto-alteração (WARAT, 2001, p. 38), o que é possibilitado pelas circunstancias
criadas e pela pré-disposição de todos ao consenso.
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Destarte, tem-se de um lado o processo judicial delimitando o tema e o


tempo dos procedimentos e, consequentemente, mitigando a participação de todos
os envolvidos no processo; de outro, a mediação, democratizando o campo
discursivo do litígio com um tempo diferenciado, de maneira a aproveitá-lo de forma
mais vantajosa ao indivíduo. Assim, o que se percebe hoje é a mediação
proporcionando maior aproveitamento do tempo e gerando [muito] menos custo com
a efetiva participação dos envolvidos para a resolução do litígio, o que tende a gerar
maior satisfação às pessoas.

Quanto à sua aplicação, é possível que aconteça em quaisquer conflitos que


versarem sobre direitos disponíveis, desde que haja interesse dos indivíduos na sua
discussão dessa forma. As principais matérias levadas à discussão através da
mediação dizem respeito aos problemas relacionados a um sem número de
questões cotidianas, tais como discordâncias entre membros de instituições de
ensino ou lazer, discussões familiares e entre vizinhos e conflitos sobre o meio
ambiente (MORAIS; SPENGLER, 2009, p. 137).

Assim, observa-se que a mediação consiste num procedimento simples, mas


bastante significativo, a partir do momento em que atua no tratamento de conflitos a
curto e longo prazo por meio da participação efetiva dos envolvidos na demanda,
visando a inclusão social à medida que colabora para a o acesso à justiça e
desperta nos indivíduos a capacidade de autodeterminação.

4. A mediação e a função do mediador na resolução dos conflitos

Cumpre identificar a mediação num espaço reconhecidamente democrático,


já que não se pretende a imposição de normas prontas, mas se trabalha com a
construção da solução para o conflito. Para tanto, o procedimento conta com a ajuda
da figura do mediador, o qual, ao invés de se posicionar em local superior aos
envolvidos na contenda [tal como é feito pelo juiz], encontra-se no meio deles,
partilhando um espaço comum participativo voltado à construção do consenso num
pertencer comum (MORAIS; SPENGLER, 2008, p. 149).
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Neste sentido, o mediador não pode se preocupar em intervir no conflito,


mas com seu dever intrínseco de oferecer liberdade aos indivíduos para tratá-lo.

Mais do que isso, a fim de que possa colaborar para o estabelecimento de


um ambiente fraterno – necessário à busca pelo entendimento – é importante que o
mediador esteja de acordo com os procedimentos que irão facilitar o diálogo e o
consenso, como a teoria que preconiza o instituto e as técnicas[6] interdisciplinares
aplicáveis no seu exercício. É imprescindível, entretanto, que esteja ligado à vida,
pois é só através da sensibilidade em relação aos problemas alheios que se
conseguirá garantir um espaço de fato comprometido com transformação social.

De acordo Amaral (et. al., 2007, p. 26), é fundamental a delimitação do papel


do mediador como:

“[...] um facilitador da comunicação entre os mediados, uma vez que ele


passa a trabalhar em conjunto com eles no sentido de auxiliá-los na
busca incessante de seus reais interesses em razão de um trabalho
cooperativo, que deverá ser comum entre todos os envolvidos.”

Assim, o mediador não é um juiz porque não impõe um veredicto, nem tem o
poder outorgado pela sociedade para decidir pelos demais; também não é um
negociador que toma parte na negociação como interessado pelo resultado: via de
regra, sequer cabe a ele a proposta de acordo, limitando-se sua função à garantia
aos envolvidos, de um espaço saudável, com vistas a facilitar o diálogo entre os
envolvidos e a sua consequente (re)aproximação ao consenso acerca da decisão
sobre o conflito e ao restabelecimento da relação que possuem.

Neste sentido, a função do mediador vai desde a avaliação sobre a


conveniência da utilização do procedimento ao caso concreto à tentativa do
estabelecimento de um tratamento igualitário aos envolvidos durante a execução do
procedimento – o que compreende as mesmas oportunidades para falarem, a
garantia da compreensão dos fatos e dos procedimentos em si por todos os
participantes. Ademais, o estabelecimento de uma relação baseada na confiança,
concretizada na imparcialidade, entre a sua pessoa e a dos mediandos é primordial
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para que se estabeleça um ambiente em que estes se sintam à vontade para falar
sobre seus problemas pessoais de maneira sincera. Essa relação de confiança da é,
pois, pressuposto ao êxito do procedimento.

Durante a mediação, tanto os mediandos quanto o mediador vão recebendo


informações e novos conhecimentos necessários ao desenvolvimento do processo
que possibilitam a elaboração de solução, ou possíveis soluções, para o conflito. Ao
final, essas pessoas terão adquirido, de forma intuitiva ou pragmaticamente,
conhecimentos que não dispunham no início do processo. Independentemente do
resultado, ou seja, obtendo-se ou não uma solução para o conflito ao final do
procedimento, todos têm oportunidade de reflexão e crescimento (AMARAL et. al.,
2007, p. 26).

O mesmo ocorre com os mediadores, em consequência não só da prática


repetitiva das técnicas, mas pelo contato com diferentes conflitos, pois a própria
noção sobre diferentes temas aumenta seu campo de conhecimento e, por óbvio, a
sua visão crítica sobre a realidade que os cerca. Evidentemente que tais
conhecimentos não serão utilizados para decidir ou influir na decisão final dos
envolvidos no conflito, mas para uma melhor estruturação do processo através da
compreensão e identificação do objeto da contenda conflito (AMARAL et.al., 2007, p.
26).

No desenvolvimento de suas atividades, o mediador deverá observar os


princípios de imparcialidade [deverá compreender a realidade dos mediandos sem
que nenhum preconceito ou valores pessoais venham a interferir no seu
trabalho], credibilidade [na sua postura e nos seus posicionamentos deverá ser
independente, franco e coerente], competência [deverá possuir a capacidade de
efetivamente mediar a controvérsia existente, ao passo que só deverá aceitar a
tarefa quando tiver as qualificações necessárias para satisfazer as expectativas
razoáveis dos indivíduos], confidencialidade [deverá obrigatoriamente manter o sigilo
sobre todo conteúdo do procedimento, não podendo ser testemunha do caso,
respeitando o princípio da autonomia da vontade, nos termos por elas
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convencionados – desde que não contrarie a ordem pública] e diligência [deverá ter
cuidado e prudência para a observância da regularidade, assegurando a qualidade
do processo e cuidando ativamente de todos os seus princípios fundamentais]
(CONIMA, 2011a).

Da análise dessas características, identifica-se a reiteração de alguns dos


caracteres básicos da mediação, como a autonomia da vontade – desde que esta
não contrarie os princípios da ordem pública –, a simplicidade e flexibilidade da
linguagem e dos procedimentos – a fim de atender à compreensão e às
necessidades do mercado para o qual se volta –, e a confidencialidade do processo
– com o fito de oferecer segurança em contraponto à eventual perturbação gerada
pelo processo público.

De acordo com o CONIMA (2011a), a credibilidade da mediação no Brasil


como processo eficaz para solução de controvérsias se vincula diretamente ao
respeito que os mediadores conquistaram por meio de um trabalho de alta qualidade
técnica, embasado nos referidos princípios éticos. De acordo com o referido
Conselho:

“O mediador é um terceiro imparcial que, por meio de uma série de


procedimentos próprios, auxilia as partes a identificar os seus conflitos e
interesses, e a construir, em conjunto, alternativas de solução visando o
consenso e a realização do acordo. O mediador, no desempenho de
suas funções, deve proceder de forma a preservar os princípios éticos.”

Ainda, deve ser admitida a mediação num espaço com a participação de


terceiros não ligados necessariamente à área jurídica, mas habilitados no assunto
objeto do litígio. Sob diferentes formas associativas, categorias profissionais de
vários segmentos estão se reunindo, ora somente entre seus pares, ora com
categorias profissionais variadas, para o desenvolvimento dessa forma de acesso à
justiça (AMARAL et. al., 2007, p. 27)

De acordo com Breitman (apud AMARAL et. al., 2007, p. 27) o perfil ideal do
mediador seria, pela interdisciplinaridade do procedimento, o profissional com
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conhecimento na área do direito e da psicologia, já que “[...] psicólogos e advogados


tendem a integrar seus conhecimentos, essa integração ‘cooperativa’ atende
eficazmente aos propostos de uma boa mediação”. Entretanto, de acordo com o
CONIMA (2011a), não há proibição de que profissional de qualquer outra área
realize a mediação, desde que detenha conhecimento e treinamento específico de
técnicas próprias para o tratamento do conflito nos termos pelos quais preza a
mediação.

Atualmente, ainda que exercida por operadores do Direito, infelizmente a


grande maioria dos profissionais desta área não está familiarizada com o tema
(AMARAL et. al., 2007, p. 29). Esta falta de conhecimento gera um sentimento de
insegurança ou até mesmo de desconfiança, além da preocupação com a hipotética
perda de lugar no mercado de trabalho (AMARAL et. al. 2007, p. 29).

Outra questão importante se refere à capacitação do mediador com o


objetivo de institucionalizar a pratica da mediação através da sua regulação jurídica.
Sobre o assunto, não há unanimidade de opiniões: em que pese sua necessidade
ser apontada pelos mesmos motivos que advogam a certificação de qualquer outro
profissional [como pelo fato da população ter direito à proteção da certificação e
licenciamento, como forma de protegê-las dos incompetentes que poderão oferecer
seus serviços como mediadores], há quem entenda que a profissionalização
excessiva da mediação pode levar ao aumento dos custos para a sua prática,
fazendo com que o público que a procura alternativamente ao sistema tradicional se
desiluda com um procedimento cada vez mais semelhante a um sistema alternativo.

Por fim, consoante Boaventura Souza Santos (apud ALBERTON, 2009, p.


88) é preciso admitir e construir espaços sociais públicos legítimos para que haja a
atuação dos participantes em conflito com a construção de praticas democráticas,
não exclusivamente sob a responsabilidade de juristas. Sob essa perspectiva
cumpre reconhecer a importância da figura do mediador, independente da
modalidade, enquanto facilitador do diálogo e propulsor do entendimento das
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pessoas no procedimento de mediação; mais do que isso enquanto ser, humano e


sensível, que serve de instrumento na busca pela paz.

5. CONCLUSÃO

Pelo fato do individuo e da sociedade estarem em frequente transformação,


se faz necessária a constante atualização dos meios de solução de conflitos, o que
não necessariamente significa retroagir, mas repensá-los e adaptá-los conforme as
necessidades impostas.

Neste sentido, a mediação aposta na concretização de um espaço aberto ao


diálogo, em que os indivíduos de maneira autônoma escolham e acordem sobre o
que considerarem mais benéfico a eles. Assim, o instituto não pretende exatamente
desafogar o Poder Judiciário, mas trabalha o conflito para que não ele fique
sobrecarregado. Destarte, a partir de uma dinâmica democrática/participativa, visa
não apenas a solução do conflito que se impõe, mas o verdadeiro tratamento para a
relação dos indivíduos, de modo a atuar como método de prevenção de conflitos.

Ademais, cumpre destacar que o resultado da mediação, pelo modo como é


conduzido o procedimento, é sempre positivo, independente dos mediandos terem
chegado a um acordo, isso porque pressupõe o envolvimento e o enfretamento das
pessoas frente ao seus próprios problemas, o que contribui à evolução.

Na verdade o que a mediação pretende é o reconhecimento e o respeito


acerca da alteridade do outro [que é igual em direitos enquanto pessoa humana e
que muitas vezes é similar em anseios] em um espaço democrático, porque apesar
de mais habitual o processo não se mostra o mais democrático meio de resolução
de conflitos. Sobretudo por isso é necessário que os indivíduos se admitam capazes
no espaço de decisão.

Nesse aspecto salienta-se a importância da figura do mediador enquanto


profissional facilitador do procedimento e o qual, apesar de não ser responsável por
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emitir decisão, tem em suas mãos o dever ainda mais complexo de manter um
espaço saudável entre os envolvidos para que estes cheguem num consenso.

O que se propõe não é a extinção do Poder Judiciário, mas sua


complementação com maior espaço aos métodos consensuais, tal como a
mediação. Com isto pretende-se que os indivíduos, ao optarem por determinada
estratégia, renunciando a terem uma decisão proferida eminentemente pelo Estado,
o façam de maneira realmente voluntária e não devido à inacessibilidade ao Poder
Judiciário como frequentemente acontece hoje.

Por outro lado é evidente que existem barreiras à ampliação do instituto


como medida eficaz de acesso à justiça, entretanto, é necessário que estas sejam
superadas. Para tanto, mostra-se imprescindível a mudança da lógica do modelo do
conflito ganha/perde para a lógica discursiva do entendimento, eis que o conflito
sempre foi e pra sempre será parte do cotidiano e o modo como será enfrentado é
que determina os diferentes resultados que produzirá na vida humana.

Por fim, cumpre observar que se legitima a medição a partir da


interdisciplinaridade que propõe ao perceber o Direito não como Ciência estática,
mas que por ser Ciência Humana deve estar em consonância não só com o conflito,
mas com o cotidiano de qualquer existência.

Assim, pode-se concluir que a mediação, é um método que tende a


corroborar com a cidadania e com a busca por um repensar da jurisdição vigente por
meio da jurisconstrução, a qual caminha rumo a uma justiça emancipatória, digna de
cidadãos que pretendem um verdadeiro Estado Democrático de Direito.
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Referências

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v. 4, n. 1, p. 53-98, jan./dez. 2009.

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Prudente para uma Vida Decente: Construção de Saberes na Prática Jurídica Contemporânea e a Questão do
Pluralismo Jurídico (Artigo Científico). Faculdade Anhanguera Educacional – Atlântico Sul: Pelotas, 2007.(artigo
inédito)

BREITMAN, Stella; PORTO, Alice Costa. Mediação Familiar: Uma Intervenção em busca da paz. Porto Alegre:
Criação Humana, 2001.

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Acesso em: 09 set. 2011.

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pacífica para seguir desfrutando de la vida. Madrid: Gaia Ediciones, 1993.

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WARAT, Luis Alberto (org.) Em nome do acordo: A mediação no direito. Florianópolis: ALMED, 1998.
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Notas

[1] Como a conciliação e a arbitragem.

[2] Conforme apontam José Morais e Fabiana Spengler (2009, p. 113): “A sociedade, consciente das limitações
estatais frente aos seus reclamos, jamais deixou de reservar outros métodos de tratamento dos conflitos,
embora o Estado detivesse o monopólio da Jurisdição”.

[3] De acordo com a referida lei, no caso de resultar frustrada a negociação direta, as partes poderão escolher,
de comum acordo, um mediador para a composição do conflito; discordando quanto à pessoa deste ou não
estando as partes em situação de equilíbrio para participar da negociação direta, poderão solicitar, a
designação de mediador pelo Ministério Trabalho. O mediador, por sua vez, será pessoa previamente
credenciada conforme regulamentação, ou servidor do referido Ministério.

[4] São exemplos: projeto de lei n° 4.827/98 de iniciativa da Deputada Zulaiê Cobra, o qual pretende
institucionalizar e disciplinar a mediação como método de prevenção e solução consensual de conflitos com
aplicação em toda matéria que admita conciliação, reconciliação, transação, ou acordo; projeto de lei n°
5.696/01 o qual pretende ampliar a competência do Juizado Especial Civel [Lei n° 9.099/95] para que julgue as
ações de família cujo patrimônio não exceda um imóvel, bem como introduzir a mediação em tais demandas de
maneira antecedente à conciliação devendo ser conduzida por equipe multidisciplinar, responsável por realizar
o trabalho de sensibilização das partes.

[5] O procedimento de mediação não produz título com força executiva; caso às partes queiram dar ao acordo
força de título de natureza judicial [sentença] deverão requerer sua homologação por juiz competente.

[6] Dentre as diversas téncias utilizadas na mediação, podem ser citadas: a arte de perguntar, o resumo, o
destaque dos aspectos positivos nas falas dos envolvidos, a validação do entendimento, a identificação de
soluções, o afago, o silêncio e a inversão de papéis [esta última utilizada apenas em reuniões unilaterais

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