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Na
senda da construção de sentido da mediação em contexto educativo
(Capitulo 6), in Veiga Simão, A. M., Caetano, A. P. & Freire, I. (orgs)
(2009). Tutoria e Mediação em Educação. Lisboa, EDUCA, 115-128.
Resumo
O presente artigo visa destacar algumas ideias centrais no plano da
concepção da mediação na actualidade, bem como alguns eixos analíticos
subjacentes à reflexão necessária sobre a especificidade da Mediação
Escolar.
2 Na mediação, a produção da comunicação compreende três etapas: a escuta, o tempo e a conclusão. A escuta permite
compreender a situação, os argumentos, e os significados atribuídos por cada uma das partes ao assunto em análise; o
tempo permite gerir os diferendos e favorece a tomada de posição em liberdade, sem precipitações e de forma consciente
pelas partes envolvidas; a conclusão é o produto do trabalho efectuado até ao momento, num esforço de respeito pela
identidade dos agentes em presença. Cada mediação é diferente e exige um tempo específico, diferente de mediação
para mediação, com o seu ritmo próprio. Compete ao mediador fazer com que a mediação seja bem sucedida no tempo;
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abertura em relação ao outro só valoriza a sua posição. A mediação permite a mudança
da argumentação de cada litigante, tornando-a mais racional e distante da vivência
pessoal. E este distanciamento aloja uma nova forma de encarar a realidade, de superar
constrangimentos e encontrar vias alternativas para o conflito.
o prolongamento ou a diminuição dos intervalos entre os reencontros de mediação resulta de uma adaptação contínua;
tudo isto para conduzir a mediação ao seu termo (Six, 1995, 144).
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A especificação conceptual, permite especificar eixos analíticos, como se de uma
teia cerzida se tratasse e cuja substancia se inscreve na lógica da (des)construção de
uma matriz analítica em matéria de mediação, com incidência na concepção de
mediação escolar, seus contributos e limitações. A que eixos nos referimos, e quais as
sua s características?
COMPLEXIDADE
CONCEPTUAL / MEDIAÇÃO
IDENTIDADE PROCESSUAL
m
PULVERIZAÇÃO DE DIVERSIDADE
DOMÍNIOS/ METODOLÓGICA /
AFIRMAÇÃO- PROCURA DE
DESCOBERTA DE ESPECIFICIDADES
POTENCIALIDADES
II III
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A articulação entre estes três eixos, potencia reflexões no plano da análise tanto
da visibilidade das práticas de mediação como dos seus contributos e limites. Vejamos,
em síntese alguns aspectos de cada um dos eixos aqui assinalados:
3 A terceira pessoa constitui uma das estruturas fundamentais da mediação, mas no domínio social e comunitário a
relação trial pode-se diversificar e integrar as solidariedades primárias e secundárias, visando objectivamente criar ou
renovar laços sociais (Almeida, 2001).
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sociologia, ao direito, à psicologia, às ciências da educação, ao serviço social. Não sendo
um campo específico estruturado apenas em torno de uma área de conhecimento, a
mediação assume um carácter identitário transversal e multidisciplinar.
4 De acordo com Briant e Palau (1999,43) a regulação social é o conjunto de mecanismos através dos quais se criam, se
transformam e se anulam as regras. A regulação social toma a forma de mediaç es sociais e interindividuais. .
5 Inserem-se nesta categoria as mediações da linguagem, do direito, da escola, enquanto operações de construção da
realidade, de laços sociais, vectores de sensibilidades e matrizes de sociabilidades (Debray, 1991, 15).
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laços sociais fundados em representações culturais e históricas da sociedade, mas ela é
igualmente um processo alternativo de resolução de conflitos, um modo que permite a
sua transformação, apoiando-se num compromisso voluntariamente definido e
assumido entre as partes.
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A construção das especificidades metodológicas articula conhecimentos
processuais, estruturados em torno dos objectivos visados, dos actores intervenientes
no processo de tomada de decisão, das estratégias associadas à tomada de
conhecimento sobre os diferendos existentes entre as partes, do momento da acção
mediadora, e da origem do mediador.
Esta questão é igualmente trabalhada por Jan Marie Fritz (2004, in Oliveira e
Galego, 2005:30), embora sob outro ângulo, que enuncia cinco paradigmas básicos:
Mediação centrada nos participantes - está ligada ao humanismo, à psicoterapia e à
socioterapia. Esta abordagem utiliza geralmente um modelo por etapas e focaliza-se no
que os indivíduos desejam trabalhar no processo de mediação. É sobretudo utilizada
em modelos terapêuticos de mediação familiar, em que o mediador é sobretudo um
facilitador; Mediação orientada para a solução - utiliza um modelo por etapas e o
mediador pode facilitar e dirigir, tomar parte e sugerir uma solução. Tem implícita uma
abordagem pragmática, behaviorista e funcionalista. Nela, o conflito pode ser visto
como uma perturbação; Mediação transformação - focalizada na necessidade de
mudança dos participantes. O conflito é um meio para o reconhecimento e a mudança
de atitude. Este paradigma está ligado ao humanismo e ao funcionalismo estrutural,
unido a uma visão comunicativa/social do conflito humano. Cada uma das partes é
6 Ao analisar a questão dos novos paradigmas, a autora identifica sete perspectivas: sistémica, dialógica, argumental,
geradora, de desempenho, narrativa, transformadora.
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responsável pelo resultado e o mediador é um facilitador; Mediação narrativa - o
mediador trabalha com as partes o desenvolvimento de uma história a propósito do
conflito: implica os participantes, decompõe o seu discurso e o argumento narrativo e
recria com eles uma nova história. Igualmente associado ao humanismo, sobretudo ao
pensamento pós-moderno, reconhece a existência de realidades múltiplas em
detrimento de uma realidade objectiva; Mediação processo integrado humanista -
acentua o humanismo, a competência cultural, a emancipação, o respeito e a
criatividade. O mediador é reflexivo, ajuda a que se avalie continuamente a interacção
entre os grupos. Valoriza o contexto, está centrado nos participantes, mas é flexível e
perante as circunstâncias pode integrar aspectos diversos. É uma abordagem
interactiva, focalizada na livre escolha e responsabilidade dos sujeitos envolvidos
(indivíduos, organizações, comunidades).
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aquisição de conhecimentos, é também um lugar de socialização, um lugar de
aprendizagem de formas de sociabilidade.
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Uma das primeiras dificuldades a enfrentar em contexto escolar, reside na criação
de uma dinâmica de (re) conhecimento da mediação, das suas vantagens e limites. Para
o efeito, é necessário investir na construção de uma identidade comum entre os
membros da comunidade educativa, que para além da possível diferença de origens
sociais, formação de base e idades, poderá não possuir hábitos de trabalho em comum
no estabelecimento de ensino. A partilha das incertezas, dos receios, bem como das
experiências positivas em sede de reunião periódica, desde o início do processo, a
sinalização e análise de situações, o envolvimento em tarefas comuns, a definição de
regras de funcionamento, poderão constituir estratégias adequadas ao processo de
construção de identidade dos mediadores e da mediação. A mediação não é uma manta
de retalhos de contributos individuais. O sentido da mediação tem de se inscrever num
projecto educativo mais amplo. Por isso, é igualmente importante a elaboração de
projectos de mediação, de forma partilhada e responsável, que tenham em
consideração ou possam dar visibilidade às diferentes lógicas de funcionamento
institucional (económica, organizacional, política, social, educativa), sem apropriação
de públicos alvo, num espírito de cooperação interpessoal, interinstitucional e
interprofissional, contribuindo desse modo para a melhoria do ambiente escolar.
Referências Bibliograficas
Bonafé-Schmitt, J.P. & al. (1999). Les médiations, la médiation, collection Trajets,
Toulouse : Éditions Érès.
Bonafé-Schmitt, J.P. & al. (2000). La médiation scolaire par les élèves. Paris : ESF
Éditeur.
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Milburn, Ph. (2002). La médiation : Expériences et compétences. Col Alternatives
Sociales, Paris : La Découverte.
Referenciação do texto :
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