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Resumo de : Schnitman,D.

, Novos Paradigmas na Resolução de Conflitos

Resolução de Conflitos e Cultura Contemporânea

O novo paradigma sociocultural e tecnológico deu origem ao desenvolvimento de metodologias


inovadoras de resolução de conflitos.
- De que modo é que as novas tecnologias se relacionam com a cultura contemporânea?
- De que modo se explica o seu crescimento intenso a partir da década de 70?
- Qual a sua conexão com os paradigmas científicos e culturais, e quais as perspetivas emergentes?
Processos de mudanças sociais e culturais nos diferentes contextos – laboral, familiar, educativo, etc
- tornando-os cada vez mais complexos. Os conflitos emergentes podem ser encarados como
indesejáveis ou como oportunidades de mudança. As metodologias alternativas para a resolução de
conflitos facilitam o caminho para as soluções desses conflitos. “As mediações e outras
metodologias podem facilitar o diálogo e prover destrezas para a resolução de situações
conflitivas.” (p.17). Ao longo do processo de mediação, os sujeitos têm a possibilidade de adquirir
habilidades para resolver por si mesmo as diferenças que podem vir a ser suscitadas no futuro com
os seus pares, familiares, colegas, ou na comunidade. Numa cultura que privilegie o paradigma
ganhar-perder, numa lógica determinista binária, as opções de solução possíveis ficam limitadas. A
discussão e o litígio, como métodos para resolver divergências, dão origem a mais disputas, onde
alguém ganha e alguém perde, empobrecendo o leque de soluções, e dificultando a relação entre as
pessoas, gerando ainda custos económicos, afetivos e relacionais.
Contextos alternativos, como a mediação de conflitos, direcionam para a coparticipação
responsável, “admitem a consideração e o reconhecimento da singularidade de cada participante no
conflito, consideram a possibilidade de ganhar conjuntamente, de construir o comum e assentar as
bases de soluções efetivas que legitimem a participação de todos os setores envolvidos” (p.18).
Das novas metodologias conduzem à resolução de conflitos de forma colaborativa, promovendo a
mudança através da busca de soluções e a construção de”” lugares” sociais legítimos para os
participantes” (p.18).
A diferença cultural, religiosa, racial, económica ou geográfica, marcam os contextos da cultura
contemporânea. Nestes contextos os modos tradicionais de resolução de conflitos não conduzem a
resolução nem a aprender como contribuir para ela.
Litigio não se apresenta como resolução para os conflitos. As novas metodologias são práticas
capacitadas para atravessar a diversidade de contextos sociais; são estruturadas de modo a
possibilitar às pessoas aprenderem a aprender permitindo-lhes uma maior integração. “A partir do
momento em que as divergências podem ser dirimidas, a Escalada dos conflitos se reduz, aumenta a

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habilidade para compreender os diversos pontos de vista e são geradas, durante o processo, novas
possibilidades, novos enquadramentos e maneiras de litigar com as diferenças.” (p.18) . Sendo as
divergências dirimidas, reduz a Escalada dos conflitos e aumenta a capacidade para entender os
vários pontos de vista, sendo geradas novas possibilidades e enquadramentos de maneiras práticas
de dirimir as diferenças.
As novas metodologias permitem: aumentar a compreensão e o reconhecimento dos participantes; a
construção de ações coordenadas; a incrementação do diálogo e da capacidade das pessoas e as
comunidades se comprometerem com decisões e acordos participativos, Através da mudanças que
ocorrem nas práticas materiais e nos papeis relacionais que se estabelecem sobre novas bases da
perspectivas e visões construídas através da mediação.
Os acordes apresentam resultados efetivos porque permitem que considerar disputas e diferenças e
por que as pessoas elaboram na prática novos métodos para a reorganização das suas relações.
Portanto, um novo benefício acrescido das novas metodologias é o que transcende o imediatismo
dos problemas.
As novas metodologias para a resolução de conflitos promovem o respeito pela diferença, a
coordenação na complexidade e a construção de acordos através de práticas de democráticas que
não são restritas a peritos. São importantes porque se tornam uma maneira de resolver conflitos e de
promover a participação e a colaboração na base da comunidade. Tal se espera de casos como o do
conflito Israel-Palestina -como de países onde as democracias ainda não se encontram consolidadas.
As novas metodologias apoiam o funcionamento de redes comunitárias no leque que abrange
escolas, saúde, administração, relações internacionais, negócios e comunidade, oferecendo ainda
modos de ampliação das possibilidades de colaboração e coordenação dentro da polaridade, e
aumentando a capacidade de gestão e participação, e favorecendo a criação de novas comunidades
de interesse (p.19).

Novas práticas, novos paradigmas (p.19)


“As metodologias para a resolução alternativa de conflitos podem ser definidas como práticas
emergentes que operam entre o existente e o possível. À luz de novos paradigmas, tais processos
emergentes podem ser entendidos como processos auto organizativos em sistemas complexos,
processos nos quais os participantes ao construírem renovadas possibilidades na resolução de seus
conflitos, reconstroem suas relações e reconstroem a si mesmos (Fried Scnitman, 1998b)” (p.19).

Os autores sugerem a compreensão das novas metodologias de resolução alternativa de conflitos


como fazendo parte do novo contexto cultural e científico, que se esforça no sentido de coordenar
essa complexidade, reorganizando as lógicas dos paradigmas conflito/competência – ganhar/perder,
esta construção de novos meios de ação, que incluam uma linguagem centrada no comum, na
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ecologia social e na qualidade de vida. As novas metodologias baseiam-se na reorientação às
ecologias relacionais que suportam o desenvolvimento participativo e responsável favorecendo a
diversidade entre os recursos da sociedade civil. “A capacidade de se perguntar sobre as diversas
estratégias disponíveis frente ao conflito, de refletir, formular questões significativas, aprender a
aprender, transforma-se em meios ativos de enfrentar os conflitos e resistir às simplificações de
velhos paradigmas.” (p.19)
A consciência na rede multicultural contemporânea em põe a necessidade de métodos para resolver
conflitos, mas também como um paradigma que confira tanta força à articulação e integração como
a distinção e a oposição. As metodologias para a resolução de conflitos são um instrumento para
repensar a própria cultura e a transformação dos discursos culturais e institucionais. (p.20)
Realidades nas quais predominam o confronto eu conflito coexistem com espaços dentro dessas
mesmas realidades em que se construíram espaços de diálogo sem prejuízo dos traços distintivos e
das suas diferenças.
O conflito é também uma oportunidade de crescimento e de desenvolvimento. Estas práticas
interessam se por soluções criativas que assumam as diferenças, complexidade e a diversidade.
“Assim, opções criativas de acordos ou diferenciação, possibilidades de ganhar conjuntamente,
construir colaborativamente, descobrir saídas inesperadas ou diferenciar-se e concordar sobre
aquelas áreas em que se pode e é preciso coordenar, coexistir na diferença, aparecem como parte de
um novo espectro de caminhos viáveis, criativos e amplos” (p.20). Por vezes, essas estratégias
procuram um compromisso, noutras trabalham as diferenças, transformam-nas, construindo
possibilidades inéditas. Perante o conflito, elaboram se estratégias em que há compromisso com a
diversidade.
A construção de formas de relacionamento, bem como o diálogo apresentam-se como dimensões
transversais destas metodologias.
O mediador tem um papel construtivo no processo de mediação, tentando proporcionar opções
capazes de articular processos de auto-organização. Ao encontrar o elemento articulador, através do
seu envolvimento consegue facilitar o diálogo e as oportunidades emergentes do próprio processo.
“Tais circunstâncias favorecem a criação de plataformas inéditas e inesperadas a partir do mesmo
processo construtivo as flutuações, o acaso e a criatividade fazem parte desse processo. Os modelos
enquadrados nos novos paradigmas integram a ênfase programática às destrezas e soluções com
uma preocupação pelos processos emergentes.” (p.21)
Os modelos tradicionais operam a partir de:
1. Arbitragem;
2. Negociação;
3. ou Terapia.

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Os 2 primeiros consideram os conflitos como relações palpáveis para a materialização daquilo que
as pessoas podem fazer para resolver os problemas. Os estilos terapêuticos, focam se nos aspetos
internos da experiência sentimentos e pensamentos, nos traços subjetivos das disputas.
A perspetiva dos autores é de que se deve promover a construção de diálogos de modo a encontrar
palavras que possam ser experimentadas e assumidas como próprias pelos participantes de modo a
definir ou espaços conducentes a um futuro possível, Através de modelos comunicativos de modo a
pôr o foco NOS domínios simbólicos, nas construções narrativas e nas tramas dialógicas que
constroem transformando práticas e significados (p.21
Os novos paradigmas integram uma perspetiva transformadora através da criação de condições para
a resolução e para a apropriação responsável de soluções ações e conhecimentos. “O termo
empowerment alude, precisamente a essa ‘recuperação’ como uma magnitude da transformação.
Deste modo distinguem-se modelos em que o mediador decide conceder poder às pessoas, e outros
modelos, centrados no empowerment, que facilitam que os participantes recuperem o seu próprio
poder, promovendo a reciclagem dos seus recursos e a criação de novas possibilidades (p.21)
Através da construção social da realidade, da inclusão do Observador e em processos de
autorreflexividade, os novos paradigmas fornecem novas perspetivas para a participação dos atores
sociais, os quais podem promover a sua capacidade para o início de novas ações, atuando como
protagonistas ao envolver-se e resolver conflitos e dilemas nas suas vidas.

A expansão de perspetivas e contextos de mudança

foi na noção de mudança que a modernidade enraizou a sua existência, mas a palavra mudança
tinha um significado predominantemente tecnológico
os novos paradigmas e os contextos atuais incluem o emergente, ou viver com, e a administração de
processos de mudança permanente, bem como a surpresa de explorar o desconhecido e descobrir
possibilidades de trabalhar e construir na incerteza.
É assim, tornam-se temas centrais para a mediação dos conflitos e a mudança nos sistemas
humanos, fatores como:
a) abandono da ideia the deficit como foco na resolução de problemas;
b) direcionamento para processos que reconhecem as perspetivas, oportunidades, esperanças, e
expectativas centradas nos núcleos do problema;
c) a adoção de uma linguagem no sentido de apreciação do existente, do que funciona,
alimentando a aprendizagem e criando possibilidades de mudança positiva;
d) trabalho prospetivo através da construção do presente mediante a inclusão de possíveis
soluções, a capacidade de construir aquilo que ainda não existe, isto é a construção de um
presente a partir de um futuro projetado e desejado;
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e) a construção de sujeitos como co-construtores das suas realidades;
f) A consciência do papel construtivo das flutuações, da desordem, dos processos distantes do
equilíbrio, da não-linearidade, o acaso e os processos de auto-organização na geração de
possibilidades emergentes;
g) a noção de pequenas flutuações que, por ampliação, podem ocasionar mudanças numa
escala maior.

Novos paradigmas
Qual é a relação do exposto anteriormente com os novos paradigmas?
Novos paradigmas significa uma maneira de aludir a mudanças através das quais passaram a
teoria e a prática científicas nas décadas de 70 a 90. A ideia de novos paradigmas remete a
Ideias de auto-organização, caos e irreversibilidade temporal; noção de complexidade, ênfase na
construção social das ciências, inclusão do observador proposta pelo construtivismo e pelo
construcionismo, em ciência; construção de mundos pros possíveis. No processo da cultura
contemporânea as perspetivas expostas tendem a misturarem se e a deixarem de ser
configuradas isoladamente.
De acordo com os paradigmas anteriores a ciência podia conduzir a certeza e ao previsível.
Tudo o que acontecia devia ser explicável em termos de leis gerais e imutáveis. O nosso próprio
conhecimento era um reflexo da realidade que já existia. Segundo Fox Keller, é a história do
desaparecimento do autor/observador científico, o que permitiu a representação do mundo
actual sem sujeito. A partir desse ponto de vista, o curso dos acontecimentos nada tem a ver com
a nossa participação.
“O papel do tempo e seu papel inovador-criativo, o caos como fonte unificadora, a aleatoriedade
, o interesse pelos processos emergentes e a novidade, a complexidade como um mundo aberto
de possibilidades, a oportunidade de construir nosso lugar ativamente, o conhecimento como um
processo construtivo-gerador, todos são recursos com os quais os novos paradigmas permitem
que nos desloquemos de visões ligadas a leis gerais e a modelos normativos que configuram um
mundo ordenado e previsível, para outras visões em que as turbulências, as oscilações e a
novidade fazem parte do cotidiano, e a inovação faz parte da construção da mudança para um
futuro aberto.” (p.23)
Partindo desta perspetiva, o mundo é um evento emergente que implica uma abertura ao novo e
ao inesperado. A ciência, a pesquisa, etc., são diálogos, não monólogos.
Resumindo: a mudança principal baseia-se num conceito de um universo plural e multidimensional
no qual nos integramos e que está constituído pelos nossos atos comunicativos.
Os novos paradigmas guiam nos na construção de futuros possíveis, não na sua previsão, mas na
participação do seu acontecimento. Fornecem uma perspetiva renovada no que diz respeito ao foco
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e estratégia para desenhar a nova e concretizar a nova prática profissional. Não se trata de um plano
monológico elaborado por um perito, mas sim de ideias-farol. A estratégia consiste na arte de
trabalhar com participativa mente na complexidade e na incerteza. (p.23). Trata-se de adquirir
posições reflexivas, colaborativas, multivocais, dialógicas, geradoras. “Mais do que um saber
omnisciente, propõe-se um saber gerador e diverso aregado local/ecologicamente, uma integração
entre ‘saber’ e ‘saber fazer’, e questionam a lógica disjuntiva da racionalidade técnica.” (p. 23)
Contrutivismo-construcionismo - Ambos os desenvolvimentos teóricos estão de acordo na rejeição
do dualismo sujeito-objeto e concordam também que o conhecimento é uma representação
adequada do mundo. Ambas as perspectivas sugerem que as construções do mundo ocorrem dentro
de formas de relação.

As relações com sistemas comunicativos: novos paradigmas em comunicação

Os novos paradigmas concordam que na comunicação são construídos mundos sociais e que ela
própria é uma forma de ação simbólica, ou não, com propósitos e efeitos.
No modelo objetivista do conhecimento, como NOS modelos de Transmissão, a comunicação é
considerada como um reflexo no qual se privilegia a clareza e adequação do conteúdo da
Mensagem. O foco orienta-se para as pessoas enquanto unidades individuais, para os seus mapas
comunicadores e cognitivos, e para os conflitos como unidades discretas, possíveis de serem
desativadas e ativadas uma de cada vez. Esta perspetiva é acompanhada de uma Visão de
organização centrada em funções individuais específicas previamente consignadas. (p.24)
na perspetiva dos novos paradigmas, muitos autores apresentam a compreensão da comunicação
enquanto possibilidade de entender e operar na construção, reprodução e transformação de
processos relacionais em deal. Os conflitos são entendidos como processos, enquanto parte de
eventos comunicativos, e a argumentação surge como uma lente conceptual que é construída através
da comunicação. A comunicação é desempenho, a execução, promotora de relações. A comunicação
é um meio, não um fim (digo eu).
“Essa perspetiva, de base construcionista social, define então a comunicação como um conjunto
de processos - verbais e não verbais - para conhecer e fazer, de ação e interpretação, de fluxo
constante, interativo e co-evolutivo, que estimula formas de operar mediante as quais as pessoas
criam, mantêm, negoceiam e transformam pessoas realidades sociais” (p.24)

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