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Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

PJe - Processo Judicial Eletrônico

16/04/2020

Número: 0702592-52.2020.8.07.0018
Classe: AÇÃO POPULAR
Órgão julgador: 3ª Vara da Fazenda Pública do DF
Última distribuição : 13/04/2020
Valor da causa: R$ 276.000.000,00
Assuntos: Anulação
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Advogados
ELIZETE SOARES DA SILVA (AUTOR)
PEDRO PEREIRA DE SOUZA JUNIOR (ADVOGADO)
BRB BANCO DE BRASILIA SA (RÉU)
CONFEDERACAO NACIONAL DO COMERCIO DE BENS,
SERVICOS E TURISMO - CNC (RÉU)
DISTRITO FEDERAL (RÉU)
PAULO HENRIQUE BEZERRA RODRIGUES COSTA (RÉU)

Outros participantes
MINISTERIO PUBLICO DO DISTRITO FEDERAL E DOS
TERRITORIOS (FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
61325450 16/04/2020 Manifestação MPDFT Petição
10:16
MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO
MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO E SOCIAL

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARA DA FAZENDA


PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL.

Autos nº 0702592-52.2020.8.07.0018

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E


TERRITÓRIOS, por seu Promotor de Justiça, vem perante Vossa Excelência dizer e
requerer o que se segue:

Cuida-se de Ação Popular ajuizada em nome de ELIZETE SOARES


DA SILVA, como substituto da Coletividade, em petição inicial firmada pelo advogado
PEDRO PEREIRA DE SOUSA JÚNIOR, OAB/DF 20.870, questionando a legalidade,
sob o enfoque da preservação do patrimônio público, de contrato de aluguel firmado
sem licitação pelo BANCO DE BRASÍLIA S/A e a CONFEDERAÇÃO NACIONAL
DO COMÉRCIO DE BENS SERVIÇOS E TURISMO – CNC.

Consoante levantamento realizado, o mesmo advogado firmou outras


5 petições iniciais de Ações Populares com objeto idêntico, alterando apenas o nome
de cidadão que encabeça o expediente. No total, como pudemos conferir, a sequências
foi essa:

Número do documento: 20041610160749600000058501841


https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=20041610160749600000058501841
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MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO E SOCIAL

VARA AUTOS AUTOR ADVOGADO


2ª 0702588-15.2020.8.07.0018 MARCELO OLIVEIRA PEDRO PEREIRA DE
MORGADO SOUSA JÚNIOR
3ª 0702592-52.2020.8.07.0018 ELIZETE SOARES DA PEDRO PEREIRA DE
SILVA SOUSA JÚNIOR
4ª 0702587-30.2020.8.07.0018 MARCELO LIMA SILVA PEDRO PEREIRA DE
SOUSA JÚNIOR
5ª 0702584-75.2020.8.07.0018 ELIZETE SOARES DA PEDRO PEREIRA DE
SILVA SOUSA JÚNIOR
6ª 0702590-82.2020.8.07.0018 STELA SALAZAR PEDRO PEREIRA DE
RIBEIRO SOUSA JÚNIOR
7ª 0702585-60.2020.8.07.0018 EZIO RICARDO PEDRO PEREIRA DE
BORGHETTI SOUSA JÚNIOR
8ª 0702591-67.2020.8.07.0018 CESAR LOPES DA PEDRO PEREIRA DE
CUNHA SOUSA JÚNIOR

Assim que alcançou um provimento liminar nesse juízo da 3ª Vara da


Fazenda, o advogado formulou pedidos de desistências das demais ações distribuídas
às outras Varas.

O quadro revela destacado ardil, permita-se.

O ajuizamento de ações idênticas em Juízos diferentes, motivado pelo


objetivo inequívoco de obtenção de decisão judicial que lhe seja mais conveniente,
configura conduta temerária.

As circunstâncias permitem deduzir que essa conduta indevida é de


responsabilidade do advogado signatário das petições iniciais. As partes cujos nomes
encabeçam as peças aparentam ser meros objetos, permita-se novamente.

Mas a legislação processual civil protege o profissional habilitado,


mesmo em situações graves como a que se tem em tela. Cabe ação regressiva (STJ, 4ª
Turma, REsp 1.331.660/SP, rel. Ministro Raul Araújo, j. 17/12/2013, DJe 11/04/2014),

Número do documento: 20041610160749600000058501841


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mas, no caso, aplicar multa por litigância de má-fé aos titulares dos nomes alocados na
inicial e obrigá-los a ajuizar futura ação regressiva seria penalidade excessiva, sob
nossos olhos.

O TJDFT já teve oportunidade de conhecer situação semelhante e


decidiu pela presença de litigância de má-fé, mas afastou a possibilidade de se alcançar
a penalidade ao advogado no próprio feito onde foi praticado o ato:

EMENTA PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. MANDADO DE


SEGURANÇA. VARA DE FAZENDA PÚBLICA. AÇÃO ANULATÓRIA.
JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA. IDENTIDADE DE
PEDIDO E CAUSA DE PEDIR. LITISPENDÊNCIA. LITIGÂNCIA DE
MÁ-FÉ. CONDENAÇÃO IMPOSTA AO ADVOGADO DA PARTE
AUTORA. IMPOSSIBILIDADE. APURAÇÃO EM AÇÃO PRÓPRIA.
MULTA AFASTADA. SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA.

1. Há litispendência quando se reproduz uma ação idêntica a outra, havendo


coincidência entre as partes, causa de pedir e pedido, simultaneamente.

2. O ajuizamento de duas ações idênticas configura a litigância de má-fé,


tendo em vista que é dever das partes a exposição dos fatos de acordo com a
verdade, bem como também lhes é vedado não formular pretensões
destituídas de fundamento, nos termos do art. 77, I e II, CPC.

3. Aplicam-se as penalidades por litigância de má-fé quando verificada a


ocorrência de quaisquer das hipóteses constantes do art. 80 do Código de
Processo Civil e somente as partes podem praticar o ato que se reputa de má-
fé. Inteligência do art. 79 do CPC.

4. Eventual responsabilidade do advogado por sua conduta deve ser apurada


em ação própria, e não nos autos em que atuou, nos termos do art. 32 da Lei
8.906/94.

5. Preliminar de nulidade rejeitada. Apelação conhecida e parcialmente


provida. (Acórdão 1096638, 07124241720178070018, Relator: Des.
Sebastião Coelho, 5ª Turma Cível, data de julgamento: 16/5/2018, publicado
no DJE: 24/5/2018. Pág.: Sem Página Cadastrada.)

Enquanto não houver legislação diversa que altere essa proteção


excessiva, conviver-se-á com situações como esta.

Mas a presença da situação formal descrita no art. 80, V, do CPC é


ostensiva.

Número do documento: 20041610160749600000058501841


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Evidenciada a conduta temerária no próprio ajuizamento da Ação, o


caso é de extinção do feito sem julgamento de mérito, aproveitando-se os atos
voluntários (mas carregados de temeridade) de desistência formulados nos demais feitos
correlatos, em que o advogado firmou pedidos expressos de encerramento das Ações
Populares assim que alcançou o primeiro provimento liminar.

Feito processual não convive com má-fé em seus atos de impulso.

A nódoa da ilicitude contamina este e as demais Ações Populares


desde a origem e, embora a legislação especial da Ação Popular preveja a assunção da
causa pelo Ministério Público no caso de desistência do Autor, o caso não comporta
essa situação.

Não vamos aderir àquilo que começa de forma tortuosa, o que


violaria o dever primário de defensor da ordem jurídica.

Diante do exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO


FEDERAL E TERRITÓRIOS requer a extinção do presente processo, sem
julgamento de mérito, revogando-se a liminar concedida, com expedição de ofício à
OAB/DF relatando a prática executada pelo advogado perante esse juízo.

Deixa de formular pedido expresso de aplicação de multa à parte –


sem prejuízo de entendimento diverso desse Juízo, como de resto é a regra processual –
porque aquele cujo nome aparenta ter sido usado para o fim indevido seria obrigado a
alimentar uma roda processual para alcançar o verdadeiro responsável (dadas as
circunstâncias apresentadas), dupla penalidade.

Brasília, 16 de abril de 2020.

Eduardo Gazzinelli Veloso


Promotor de Justiça

Número do documento: 20041610160749600000058501841


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