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Patrícia Menezes1
Darléa Carine Palma Mattiello2
RESUMO:
Esta pesquisa tem como objetivo central, avaliar a inserção das Constelações Sistêmicas
Familiares em processos judiciais. Desenvolvido através de pesquisa bibliográfica e
documental, em uma abordagem mista, quantitativa e qualitativa, com enfoque explicativo, o
estudo buscou abordar a efetividade do uso das Constelações Sistêmicas Familiares como
mecanismo de solução consensual de conflitos. O uso do método psicoterapêutico está em
consonância com uma das metas principais do Novo Código de Processo Civil de 2015, que é
incentivar a prática dos métodos de solução consensual de conflitos, bem como está em
conformidade com a Resolução 125/2010 do CNJ que estimula práticas que proporcionam
tratamento adequado aos conflitos de interesse do Poder Judiciário. As Constelações
Sistêmicas Familiares têm contribuído para o aumento no número de acordos em processos
judiciais, visto que, ao tomarem conhecimento sobre as causas que originam comportamentos
inadequados, as partes se mostram dispostas a chegar a uma solução consensual. A
contribuição deste estudo, é propor uma reflexão aos operadores do Direito, sobre a introdução
de novas formas de solução consensual, tal como a Constelação Sistêmica Familiar que se
mostra altamente efetiva na pacificação de conflitos.
3 Capítulo III – Dos Auxiliares da Justiça – Seção V – Dos Conciliadores e mediadores judiciais
(arts.165 a 175).
Impende esclarecer, que o acesso ao judiciário não foi afastado pela
novatio legis, pelo contrário, o princípio da inafastabilidade da jurisdição está
expresso no caput do artigo 3º o qual estabelece que “não se excluirá da
apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito”. Contudo, o novo Código
preconiza que isso é compatível com a utilização da solução consensual dos
conflitos, que deverão ser estimulados por todos os profissionais do Direito,
inclusive durante o curso do processo4 (CAMARA, 2017, p.18).
Em complemento, Theodoro Júnior (2018, p. 107) esclarece que
concomitantemente, o legislador assegura o amplo acesso à justiça e
recomenda as vantagens da solução consensual. Portanto, “não se trata de
desacreditar a Justiça estatal, mas de combater o excesso de litigiosidade que
domina a sociedade contemporânea, que crê na jurisdição como a única via
pacificadora de conflitos”, o que por consequência resulta em um número
exorbitante de processos, ultrapassando a capacidade de vasão do serviço
judiciário.
A cultura do litígio, também é mencionada por Donizetti (2017, p. 133). O
Estado possui o poder-dever de dizer e realizar o direito, solucionado os
conflitos de interesses na busca da paz social, função que é chamada de
jurisdição. Entretanto, no sistema almejado pelo legislador denominado
multiportas, a jurisdição deveria ser alternativa a ultima ratio, buscada apenas
quando esgotadas as formas consensuais existentes, “ocorre que a nossa
cultura prioriza o processo jurisdicional, no qual as partes são tratadas e se
tratam como adversários, cabendo ao juiz dirigir o processo com firmeza e
imparcialidade”.
O autor Câmara (2017, p. 18), avalia que as soluções consensuais em
alguns casos parecem mais adequadas do que a imposição jurisdicional de
uma decisão, mesmo que ela atenda ao contraditório e com a participação dos
interessados. A solução consensual é mais adequada, especialmente nos
conflitos de família, tendo em vista que os vínculos intersubjetivos existentes
entre os sujeitos, permanecerão ainda que definida a solução da causa.
4Art. 3º, § 3º, do CPC. A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de
conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do
Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial.
Nessa mesma linha de entendimento, Neves (2018, p. 62) compreende
a indiscutível relevância das formas consensuais de solução de conflitos em
determinadas situações, sobretudo no Direito de Família e de Vizinhança.
Pontua que a pacificação social poder ser melhor obtida por uma solução
derivada da vontade das partes, do que pela imposição de uma decisão
judicial. Afirma também, que se grande parte dos conflitos puderem ser
resolvidos fora da jurisdição, consequentemente haverá menor número de
processos e com isso o Judiciário atuará de forma mais célere e adequada.
Segundo Didier Jr., o Poder Legislativo tem reiteradamente incentivado a
solução consensual através da edição de várias leis nesse sentido. A chegada
do CPC/2015 reforça essa tendência, o que pode ser facilmente visualizado na
estrutura do Código. A mediação e a conciliação estão reguladas em capítulo
inteiro (arts. 165 a 175), o procedimento é realizado de modo a colocar a
tentativa de autocomposição como ato anterior ao oferecimento da defesa pelo
réu (arts. 334 e 695), permite a homologação judicial de acordo extrajudicial de
qualquer natureza (art. 515 e art. 725), possibilita que, no acordo judicial, seja
incluída matéria estranha ao objeto litigioso do processo (art. 515) permite
acordos processuais atípicos (DIDIER, JR., p. 306).
Vê-se, desse modo, a evidente primazia aos mecanismos de
autocomposição, principalmente nas ações de família, nas quais as tentativas
de resolução de conflitos são imprescindíveis. As diretrizes voltadas ao
consenso estão explicitadas no arts. 694, 696 e 697:
Art. 694. Nas ações de família, todos os esforços serão
empreendidos para a solução consensual da controvérsia, devendo o
juiz dispor do auxílio de profissionais de outras áreas de
conhecimento para a mediação e conciliação. Parágrafo único. A
requerimento das partes, o juiz pode determinar a suspensão do
processo enquanto os litigantes se submetem a mediação
extrajudicial ou a atendimento multidisciplinar. Art. 695. Recebida a
petição inicial e, se for o caso, tomadas as providências referentes à
tutela provisória, o juiz ordenará a citação do réu para comparecer à
audiência de mediação e conciliação, observado o disposto no art.
694. Art. 696. A audiência de mediação e conciliação poderá dividir-
se em tantas sessões quantas sejam necessárias para viabilizar a
solução consensual, sem prejuízo de providências jurisdicionais para
evitar o perecimento do direito. Art. 697. Não realizado o acordo,
passarão a incidir, a partir de então, as normas do procedimento
comum, observado o art. 335 (BRASIL, 2015).
2.1.2 Conciliação
A conciliação pode ser conceituada como um processo de
autocomposição em que as partes são auxiliadas por uma terceira pessoa sem
relações pretéritas, neutra e sem qualquer interesse na causa, para que
possam, por meio de técnicas apropriadas, ajudar aos interessados chegarem
a uma solução ou acordo.
Segundo Neves (2018, p. 63), a conciliação está fundada no sacrifício
integral ou em parte do interesse das partes envolvidas no conflito, por meio da
vontade unilateral ou bilateral dos litigantes. A autocomposição está dividida
em espécies, quais sejam, a transação, a submissão e a renúncia. Na primeira,
existe um sacrifício recíproco dos interesses, sendo que cada sujeito abre mão
parcialmente de sua pretensão para que se atinja a solução do conflito. Oposto
disso, é o que acontece na renúncia e na submissão, nas quais a solução
decorre de ato da parte que dispõe do exercício de um direito que seria
legítimo.
Vasconcellos (2018, p. 63) leciona que a conciliação é focada no acordo,
e é mais adequada para resolver relações eventuais, nas quais predomina o
objetivo de equacionar interesses materiais e jurídicos. É tradicionalmente
utilizada junto ao Poder Judiciário nas relações de consumo, podendo ser
também usada em conflitos corporativos, com a particularidade de que o
conciliador exerce pequena ascendência jurídica, visto que toma iniciativa e
expõe sugestões para a conciliação.
2.1.3 Mediação
A mediação pode ser conceituada como a negociação facilitada por um
terceiro, a quem se denomina mediador, o qual se habilita a compreender as
posições das partes e a encontrar soluções que satisfaçam os seus interesses
e necessidades.
Na definição da Lei n. 13.140/2015 (art. 1º, parágrafo único), “considera-
se mediação a atividade técnica exercida por terceiro imparcial sem poder
decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e estimula a
identificar ou desenvolver soluções consensuais para a controvérsia.
Segundo Tartuce (2018, p. 203), a mediação consiste no método
consensual de abordagem de controvérsias “em que alguém imparcial atua
para facilitar a comunicação entre os envolvidos e propiciar que eles possam, a
partir da percepção ampliada dos meandros da situação controvertida,
protagonizar saídas produtivas para os impasses que os envolvem”.
Explica a supramencionada autora, que na mediação alguém isento e
devidamente capacitado passa a contribuir, através de diálogo com as partes,
de modo que elas mesmas possam assumir posturas de protagonistas na
abordagem da controvérsia. Assim, a vantagem da mediação sobre os outros
meios, é oportunizar que as relações perdurem ao longo do tempo, pois a
proposta é apresentar a solução, para que uma vez finalizada a controvérsia,
os envolvidos sejam permitidos a cogitar perspectivas futuras na relação
(TARTUCE, 2018, p. 205).
No mesmo sentido, Vasconcellos (2018, p. 60) esclarece que na
mediação não há adversariedade porque as partes desempenham papel de
corresponsáveis na solução da disputa, todavia, contam com o apoio do
mediador, que, por sua vez, não é responsável por decidir quem está certo ou
errado, limitando-se sua função em auxiliar.
Nos conflitos entre pessoas que mantém relações permanentes ou
continuadas, as mediações trazem melhores resultados. Isso porque o
propósito não é apenas a obtenção do acordo, mas sim a capacitação do
mediandos a fim de identificar as expectativas, os reais interesses e
necessidades, para que haja a transformação do conflito ou restauração da
relação, e só assim constituir o acordo. Assim, em termos de pacificação social
a mediação se destaca em relação a conciliação, uma vez que não está
concentrada apenas no conflito em si, mas também nas causas que o
originaram.
Em que pese as posições contrárias da doutrina a respeito das
diferenças dos métodos apresentados, mediação e conciliação, a parte que
reconhece que há distinção entre eles, indicam como principal diferencial a
atuação do mediador e do conciliador, que, como já dito, enquanto esse opina
na solução do conflito, exercendo função relevantemente ativa na negociação,
aquele que atua como mediador, apenas induz às partes a descobrirem os
porquês de suas controvérsias, para que então, cheguem, por si sós, a solução
consensual.
Aliás, no art. 165, §§ 2º e 3º do NCPC, discrimina mediação e
conciliação, indicando a atuação do conciliador e mediador:
§ 2o O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em que
não houver vínculo anterior entre as partes, poderá sugerir soluções
para o litígio, sendo vedada a utilização de qualquer tipo de
constrangimento ou intimidação para que as partes conciliem.
2.2.1 A Origem
Anton “Sutibert” Hellinger, nasceu em 18 de dezembro de 1925, na
Alemanha, foi sacerdote e missionário junto dos Zulus na África do Sul,
educador, psicanalista, terapeuta corporal, terapeuta em dinâmica de grupos e
terapeuta familiar. As constelações familiares, suas observações acerca dos
emaranhamentos sistêmicos e a forma de os solucionar, tocaram a vida de
centenas de pessoas.
A principal influência de seu trabalho, foram os seus pais e a sua própria
infância. Em razão das inúmeras ausências de Hellinger nas reuniões da
“Juventude Hitleriana” e à sua participação numa organização ilegal de jovens
católicos, fez com que fosse considerado como “suspeito de ser inimigo
potencial do povo”. Assim, aos 17 anos de idade tornou-se um soldado,
experimentando situações de calamidade, da derrota e da vida num campo de
prisioneiros na guerra da Bélgica.
O segundo fator influenciador, foi, sem dúvidas, o sacerdócio. Aos 20
anos de idade, ingressou em uma ordem religiosa católica em que iniciou um
processo de purificação da mente, corpo e espírito, especialmente a
meditação. Já na África do Sul, atuou como missionário junto ao Povo Zulu, por
16 anos, experiência que gerou efeitos significativos em seu trabalho. O
entrechoque de cultura, mudou sua consciência acerca de muitos valores
culturais. A participação de Hellinger em treinamentos inter-racial, ecumênico e
em dinâmicas de grupo, conduzidas por clérigos anglicanos, foi extremamente
importante para a construção de seu método. Através disso, percebeu uma
maneira de trabalhar com grupos que valorizava o diálogo, a fenomenologia e a
experiência humana individual.
Do mesmo modo, a psicanálise e a psicoterapia foram grandes
influências que se seguiram. Diversas escolas terapêuticas trouxeram
contribuições na sua forma de trabalhar, além da orientação
fenomenológica/dialógica da dinâmica de grupos aprendida dos anglicanos, à
compreensão da necessidade fundamental dos seres humanos de se
alinharem com as forças da natureza, que aprendeu com os Zulus na África do
Sul, à psicanálise que aprendeu em Viena e ao trabalho corporal aprendido na
América. Aprendeu ferramentas específicas advindas de variáveis fontes, mas
a força dominante no seu trabalho está altamente relacionada a sua apurada
competência para escutar a autoridade da própria alma5.
Em seu trabalho como missionário na África do Sul, junto aos Zulus,
conheceu novas formas de relacionamento interpessoal, pois as relações
tribais eram baseadas no diálogo, no respeito recíproco da dignidade e do
papel de autoridade de cada uma.
2.2.2 O Método
A Constelação Familiar tem por base a terapia sistêmica, que trata sobre
as relações ocultas que vinculam uma pessoa à própria família. Na terapia
familiar sistêmica, se busca constatar se no sistema familiar existe alguém que
esteja emaranhado nos destinos dos integrantes anteriores dessa família.
Quando a pessoa descobre os emaranhamentos, pode se libertar deles com
mais facilidade (HELLINGER e HÖVEL, 2007, p. 11).
Explica Hellinger (2002, p. 13), que falar em emaranhamento significa
dizer que o membro da família, de forma inconsciente, passa a viver o destino
de um parente que viveu antes dele. No exemplo do autor, se uma criança foi
entregue para a adoção em uma geração anterior, um familiar posterior se
comporta como se fosse o adotado. Sente-se como se tivesse sido “excluído”
do núcleo familiar, ou seja, repete um destino que lhe é desconhecido.
Isso porque, existe uma consciência que influencia os membros de uma
família. Assim se qualquer um dos integrantes do sistema familiar foi tratado
injustamente, existirá uma necessidade de compensação. Significando que a
injustiça que foi praticada em gerações anteriores será repetida e sofrida por
alguém da família até que a ordem seja reestabelecida (HELLINGER e HÖVEL,
2007, p. 15).
Na visão adotada por Hellinger, cada indivíduo faz parte de um sistema,
compreendido como um grupo de pessoas interligadas por um destino comum
5
HELLINGER SCIENCIE, Biographical Sketch. Disponível em:
<https://www.hellinger.com/en/home/bert-hellinger/biographical-sketch/> Acesso em
20.11.2018.
e relações recíprocas, no qual cada integrante daquele sistema exerce
influência sobre os outros membros. Dessa maneira, o indivíduo não deve ser
visto de forma individual, mas sim como alguém que é guiado pelas forças do
seu próprio sistema, forças que, por sua vez, não são aparentes (OLDONI,
LIPPMANN e GIRARDI, 2017, p. 28).
Nota-se, então, que a principal característica das constelações familiares
é reconhecer que todos estão ligados ao destino da própria família, e cada
sistema familiar conecta-se por uma consciência coletiva.
2.2.3 O Procedimento
O método da constelação, segue algumas etapas, que podem variar
conforme a necessidade visualizada pelo terapeuta, no entanto, na maioria das
vezes ela ocorre da seguinte forma. O terapeuta solicita ao constelado, que
indique as pessoas que são significativas em suas relações, que têm
participação na questão tratada. Então, para representar os personagens, o
cliente escolhe os participantes do grupo terapêutico e os posiciona no
ambiente, de acordo com as relações que possui (SCHNEIDER, 2007, p. 15)
A escolha da posição deve ser feita a partir de seu sentimento, sem
pretensões, ou seja, sem imaginar as situações que já vivenciou. Tudo deve
ser feito pelo impulso, por uma atitude amorosa. No início do trabalho, o
facilitador (terapeuta) questiona o constelado a respeito de informações sobre
sua história familiar, mas os representantes não devem saber de antemão
quem estão representando, pois pode não se tornar convincente para o cliente
(SCHNEIDER, 2007, p.15).
No transcorrer das constelações os representantes acabam se guiando
mais pelo que sentem do que pelo que sabem. Hellinger e Hövel (2007, p. 12),
esclarecem bem “O que é curioso nas constelações é que as pessoas
escolhidas para representar os membros da família se sentem como as
pessoas reais, tão logo se encontrem na constelação”. Agem por puro instinto,
chegando a sentir sintomas dos representados.
Depois de posicionados os representantes, o constelado se senta, e
após um momento de concentração, o terapeuta solicita que os representantes
exponham seus sentimentos, percepções e sintomas corporais. Assim, o
conhecimento que a alma do cliente tem sobre sua família e sobre as forças
que nela existem torna-se visível para o próprio cliente, ao terapeuta e para os
representantes (SCHNEIDER, 2007, p.16).
A constelação encontra a paz quando os membros da família ali se
reencontram com respeito e amor, os anteriormente excluídos são restaurados
e cada um pode assumir o lugar que lhe pertence. O cliente, muitas vezes é
introduzido para sentir o sistema reconciliado ou reordenado.
Através da constelação permite-se ao cliente a visualização de seu
trauma familiar e os emaranhamentos nele existentes, ao passo que pode
compreender sentimentos e atitudes inconscientes por si praticadas e também
pelos membros do seu grupo familiar. Resultando no entendimento do seu
próprio agir, bem como se torna mais empático em relação aos outros
integrantes. Só assim, poderá encontrar soluções para seus dilemas familiares
ou ainda, compreender situações que não poderão ser modificadas, mas
aprender a conviver com elas.
As constelações, portanto, normalmente seguem as seguintes etapas:
1) A definição do problema O terapeuta pergunta ao cliente qual é o problema, ou seja,
ele quer saber o que o leva a uma constelação familiar. Ele
não está interessado na história “habitual”, em
interpretações, julgamentos e explicações que a
acompanham.
2) A escolha dos O cliente escolhe os participantes para o representar os
representantes membros selecionados da família e para representá-la.
Normalmente, no início de uma constelação, o terapeuta se
prende a um número mínimo.
3) Montagem da constelação O terapeuta pede ao cliente que monte a constelação, ou
seja, que disponha os representantes no espaço e que lhes
transmita uma orientação que evidencie as relações que uns
mantêm com os outros.
4) O processo de solução O terapeuta pode tanto interrogar os representantes sobre o
que está acontecendo com eles, como simplesmente deixá-
los fazer os “movimentos da alma”.
5) A solução A solução de uma constelação dá aos seus membros a
sensação de livrar-se de um peso. Traz paz e satisfação ao
campo de energia familiar.
6) O ritual de encerramento Existem inúmeras maneiras de deixar seu papel de
representante, uma sugestão é o cliente aproximar-se de
cada representante, pegar-lhe a mão e agradecer-lhe por ter
representado seu familiar.
Fonte: Oldoni, Lippmann e Girardi, 2017.
A prática da Constelação Sistêmica Familiar realizada em grupos, visa
descobrir os emaranhamentos possivelmente existentes no grupo familiar do
cliente que buscou a terapia, para que então, através da representação feita
por pessoas desconhecidas, possa encontrar a cura e a restauração do
equilíbrio. Não se trata de “teatro”, uma vez que as pessoas participantes do
grupo são impulsionadas por seus sentimentos, não há nada ensaiado.
As possíveis causas de uma desordem num sistema familiar estão
relacionadas a acontecimentos de vida que envolvem abortos, adoções
complicadas, filhos não reconhecidos, pessoas que foram esquecidas na
família, novas uniões afetivas construídas após o desfecho de um
relacionamento mal resolvido, homicídios, violência física, verbal ou sexual e
lutos não vivenciados (CORNELIUS, 2017, p.50 apud TEDESCO, 2017).
As complicações resultantes desses desequilíbrios, estão aptas a
manifestar nos membros daquela família, sintomas como depressão, insucesso
profissional, dificuldades de constituir relacionamentos, doenças, vícios,
dificuldade financeira, fatores que impedem o encontro com a paz e a
felicidade. A cura desses sintomas pode ser encontrada, quando as causas
tornam se visíveis (CORNELIUS, 2017, p. 51 apud TEDESCO, 2017).
Algumas coisas, os pais não devem dar aos seus filhos, a saber, dívidas,
obrigações, encargos de ocasião, injustiças sofridas e todos os privilégios
obtidos através de mérito pessoal. Isso porque, são coisas que os pais
obtiveram por meio de esforços e circunstâncias pessoais, por isso, não devem
ser transmitidas às gerações seguintes. Incumbe aos pais o dever de proteger
seus filhos de efeitos negativos, como cabe aos filhos permitir que os pais
sigam seus destinos. Do contrário, se os pais transferem aos filhos coisas
prejudiciais ou os filhos o tomam, o amor é ferido (HELLINGER; WEBER;
BEAUMONT, 2008, p. 70).
A necessidade de pertinência, o equilíbrio entre dar e o receber e
convenção social trabalham juntos para preservar grupos a que pertencemos.
Toda alma quer compensar aquilo que lhe é ofertado. Sentir-se em débito ou
credor são instintos naturais da alma, é assim que os vínculos constroem. Por
isso, na visão de Hellinger, os relacionamentos somente serão bem-sucedidos
se houver equilíbrio nessas três necessidades. Depois de abordadas as
Constelações Sistêmicas e suas nuances, é chegada a hora de analisar o uso
do método terapêutico no campo do Direito.
2.3.1 O Início
A relação entre as práticas das Constelações Sistêmicas Familiares e o
Direito Brasileiro, começou em meados de 2012, quando o Juiz de Direito Sami
Storch adotou o método em sua atuação jurisdicional.
No ano de 2006, quando ingressava na magistratura, Sami também
estudava a técnica das constelações. A visão sistêmica adquirida com a
formação em constelações, auxiliou o juiz na melhor compreensão nos conflitos
trazidos ao Poder Judiciário, bem como contribuiu para que adotasse a melhor
solução em cada caso. Sami considera que o conhecimento sobre as ordens
do amor descobertas por Hellinger, são capazes de tornar mais compreensível
a dinâmica dos conflitos possibilitando a solução mais eficaz para as partes do
litígio (STORCH, 2015).
A aplicação da visão sistêmica foi se desenvolvendo aos poucos na
prática judicante de Sami. Primeiro, elas se deram nas audiências relacionadas
ao Direito de Família, depois foram introduzidas meditações e os exercícios de
constelações com representantes, até que alcançou outras áreas do direito
como a criminal e a de infância e juventude.
Inicialmente foram usadas as frases sistêmicas, que surtiram efeitos
positivos. Em seu exemplo, conta que em uma audiência de divórcio, que inclui
pedidos de alimentos e disputa de guarda dos filhos ao notar a elevada
animosidade entre as partes envolvidas, Sami Storch não permite que falem
muito, para não amplificar o conflito. A conversa é iniciada e o juiz relembra os
conflitantes da história de amor que os trouxe até a sala de audiências, faz com
que rememorem os momentos bons e olhem para a família que construíram.
Logo o casal se emociona. (STORCH, 2015).
Na sequência, as partes são alertadas da dor da separação e percebem
que na verdade, o sentimento de raiva e mágoa está escondendo a dor que
sentem pela falência do relacionamento que possuíam. Registra o autor,
“nesse ponto, é comum que ambos estejam chorando. Já não se lembram
da raiva e da vontade de vingança, pois entraram em contato com o sentimento
primário da dor. Essa dor precisa ser vista e vivenciada, para que possa dar
lugar à paz” (STORCH, 2015).
Finalmente, Sami Storch critica o comportamento dos pais em relação
aos seus filhos, ao fazer comentários depreciativos um sobre o outro. Convida-
os então, a pensar como seus filhos se sentem ao ouvir frases ao estilo “Seu
pai não presta” ou “Sua mãe não te educa”, e imaginar que consequências
internas poderão vir com o desrespeito entre os pais.
Explica, portanto, a importância de não colocar o filho no conflito
existente entre o casal, sugerindo que eles se idealizem dizendo frases como:
“eu e seu pai/sua mãe temos problemas, mas isso não tem nada a ver com
você; nós somos adultos e nós resolvemos”; “fique fora disso; você é só nosso
filho”; “eu gostei muito do seu pai/sua mãe, e você nasceu de um momento de
amor que tivemos”; “eu e seu pai/sua mãe estaremos sempre juntos em você”;
“quando eu olho para você, vejo seu pai/sua mãe”. Diante disso, na maioria das
vezes, as partes diminuem suas resistências e conseguem chegar a um acordo
profícuo (STORCH, 2015).
Posteriormente ao uso da mentalização das frases e das constelações
com bonecos, foi instituído pelo Tribunal de Justiça da Bahia um projeto de
palestras vivenciais com o tema “Separação de casais, filhos e o vínculo que
nunca se desfaz”. Assim na Comarca de Castro Alves/BA, entre 2012 e 2013,
foram realizados seis eventos dentro do projeto. O evento se inicia com uma
palestra, abordando assuntos sobre vínculos sistêmicos familiares, as causas
das crises nos relacionamentos e a solução para lidar com isso. Depois de
meditarem, são convidadas a vivenciar o método das constelações familiares,
constelando sua própria história (STORCH, 2015).
A aplicação da técnica auxiliar na efetivação de conciliações verdadeiras
entre as partes, pois os participantes absorvem os assuntos tratados com
maior respeito e consideração em relação a outra parte envolvida. Realizado o
acordo, basta o juiz homologá-lo para que produza os efeitos de uma sentença,
evitando, assim, a longa instrução processual, que é nociva aos laços
familiares e podem agravar os rancores e prejudicar ainda mais a relação. Sem
contar que, uma solução imposta, está sujeita a não ser cumprida e deixar
ambos insatisfeitos (STORCH, 2015).
2.3.2. Os Resultados
O Juiz de Direito Sami Storch, realizou uma pequena pesquisa na
Comarca onde atua, na qual pessoas que participaram das vivências de
constelações responderam a um questionário, obtendo os seguintes
resultados:
59% afirmaram que a vivência ajudou ou facilitou a obtenção do acordo para conciliação
durante a audiência. Para 27%, ajudou consideravelmente. Para 20,9%, ajudou muito;
77% disseram que a vivência ajudou a melhorar as conversas entre os pais quanto à guarda,
visitas, dinheiro e outras decisões em relação ao filho das partes. Para 41%, a ajuda foi
considerável; para outros 15,5%, ajudou muito;
71% disseram ter havido melhora no relacionamento com o pai/mãe de seu (s) filho (s) após a
vivência. Melhorou consideravelmente para 26,8% e muito para 12,2%;
94,5% relataram melhora no seu relacionamento com o filho. Melhorou muito para 48,8%, e
consideravelmente para outras 30,4%. Somente 4 pessoas (4,8%) não notaram tal melhora;
76,8% notaram melhora no relacionamento do pai/mãe de seu (ua) filho (a) com ele(a). Essa
melhora foi considerável em 41,5% dos casos e muita para 9,8% dos casos;
55% das pessoas afirmaram que desde a vivência de constelações familiares se sentiram
mais calmas para tratar do assunto; 45% disseram que diminuíram as mágoas;
33% disseram que ficou mais fácil o diálogo com a outra pessoa; 36% disseram que passaram
a respeitar mais a outra pessoa e compreender suas dificuldades; e 24% disseram que a outra
pessoa envolvida passou a lhe respeitar mais.
Fonte: Sami Storch, 2018.
3 CONCLUSÃO
A pesquisa teve como objetivo central, avaliar a inserção das
Constelações Sistêmicas Familiares em processos judiciais. Para tanto, se fez
necessário examinar e descrever os meios consensuais de conflitos, conhecer
o método sistêmico e apontar sua aplicação no campo do Direito e identificar
os resultados obtidos. O objetivo principal foi satisfatoriamente respondido,
visto que a utilização das Constelações Sistêmicas Familiares é cada vez mais
crescente no ordenamento pátrio.
Constatou-se que o uso do método psicoterapêutico está em
consonância com uma das metas principais do Novo Código de Processo
Civil/2015, que é incentivar a prática dos métodos de solução consensual de
conflitos pelos operadores do Direito, bem como está em conformidade com a
Resolução do CNJ 125/2010 que estimula práticas que proporcionam
tratamento adequado aos conflitos de interesse do Poder Judiciário.
O método psicoterapêutico desenvolvido por Bert Hellinger é regido por
três Leis Naturais: pertencimento, equilíbrio e ordem, as quais, uma vez
desrespeitadas pelos indivíduos culminam em indesejáveis consequências,
gerando, dessa forma, conflitos que se repetem em gerações. Através das
Constelações é possível que a pessoa que passa por um conflito, descubra o
que está velado em seu comportamento, para que possa curá-lo e alcançar a
felicidade e a paz.
Com amparo jurídico e anuência de juízes e advogados, a Constelação
Sistêmica Familiar é inserida, na maioria das vezes, em casos judicias que
exigem maior sensibilidade dado às suas peculiaridades, como é o caso do
Direito de Família. A visão sistêmica de Hellinger é aplicada por juízes com o
auxílio de profissionais capacitados, através de sessões de constelações
familiares, oficinas, palestras e antes da audiência de mediação ou tentativa de
conciliação.
Desse modo, verifica-se que a aplicação das Constelações Sistêmicas
Familiares e métodos afins, gerou efeitos positivos na resolução de conflitos,
pois, percebeu-se um aumento significativo de acordos entre as partes. É que,
após tomarem consciência de seus emaranhamentos, as pessoas puderam
olhar para o seu conflito de forma diversa, se dispondo a resolvê-los de forma
mais pacífica.
Portanto, a prática das Constelações Sistêmicas Familiares, apesar de
não ser considerada um meio de solução de conflitos, inspira a resolução
consensual no decorrer do processo, precipuamente durante as audiências de
mediação e conciliação.
REFERÊNCIAS
DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil. 20. ed. rev.,
atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2017.