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JESUS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DIREITO
PROCESSUAL CIVIL
VILA VELHA
2017
FERNANDA FERRARI BREMENKAMP
VILA VELHA
2017
FERNANDA FERRARI BREMENKAMP
TERMO DE APROVAÇÃO
This study aims to reflect on the use of appropriate conflict resolution methods within
the scope of the current Brazilian legislation, such as Resolution No. 125 of the CNJ,
the New Code of Civil Procedure and the Mediation Law, in order to verify the effects
of the innovations brought with the advent of the insertion of such devices in our legal
system, as well as the challenges that this innovation represents. In addition, it aims
to clarify the reflexes of the appropriate methods in access to justice, their legal and
social consequences, as well as the challenges of the legal operators to their effective
insertion in forensic practice. To this end, the types of appropriate methods of conflict
resolution, such as conciliation, mediation and arbitration, will be considered, as well
as their impact on access to justice. Lastly, although it seems at first glance to be a
great solution for guaranteeing effective access to justice for society, the question
arises as to the degree of effectiveness of a popular culture (including the judiciary
itself) tendentious to judicialize all Litigation.
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 07
CONCLUSÃO........................................................................................................... 56
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................... 57
INTRODUÇÃO
A clássica concepção de acesso à justiça, bem como de quais são os meios mais
adequados de se obter tal tutela, têm passado por uma radical transformação.
A justiça estatal clássica, guiada pela figura do magistrado, não se revela mais o único
meio para que sejam solucionados os conflitos. Ao lado dessa justiça estigmatizada
como sendo a única via, surgem novas possibilidades, novas vias, novas portas de
acesso. Surge, pois, a justiça multiportas.
Nessa nova concepção, as sentenças judiciais tendem a perder a sua primazia, assim
como o seu status de única via possível para que um litígio seja resolvido. Passam a
ser almejadas soluções através de métodos de autocomposição.
A busca pela adequada tutela dos direitos, de forma efetiva e tempestiva, exige com
que sejam feitas também adequações nos caminhos que viabilizem tal tutela. Para
tanto, o presente artigo científico tem por objetivo fazer uma reflexão sobre o direito
fundamental ao acesso à justiça, no aspecto de sua democratização, universalidade
e propondo, dessa forma, uma análise dos meios adequados de composição dos
conflitos.
Neste sentido, levanta-se a discussão de que o direito e acesso à justiça deva ser
exercido não apenas dentro de uma ritualística procedimental e estagnada, que
impera atualmente nos tribunais, mas, sim, através de outros modelos que levem em
consideração a participação das partes conflitantes e que consequentemente resultem
na transformação do contexto social de suas relações, visando a efetiva pacificação
das demandas.
Nos primórdios da civilização dos povos, havendo um conflito, este seria solucionado
pelas próprias partes envolvidas, cada qual com a sua própria força, a fim de
satisfazerem suas pretensões.
Em que pese se tratar de alterativas, certamente, até mais antigas do que os meios
judiciais de resolução dos conflitos, aquelas ainda se mostram buscando seu espaço
no cenário nacional, mas de forma cada vez mais efetiva.
Isso porque, com o passar dos anos, o Estado passou a intervir nas relações
individuais, tomando para si o poder decisório, intervindo como terceiro imparcial nas
causas e ditando o direito acima da vontade dos particulares. Ocorreu, dessa forma,
uma migração da autotutela para a jurisdição.
Num contexto em que a autotutela, tanto estatal quando particular passaram a ser
caracterizadas, em regra, como crimes – exercício arbitrário das próprias razões e
exercício arbitrário ou abuso de poder, respectivamente – e em que a autocomposição
e a arbitragem são praticamente desconhecidos, fez-se necessário voltar os olhares
para todas essas modalidades alternativas à via jurisdicional de pacificação social.
Dessa forma,
Tais práticas, portanto, deixam de ser encaradas como alternativas, passando a ser
analisadas como sendo os métodos mais adequados.
O Novo Código de Processo Civil já induz a esse novo olhar sobre a conciliação,
mediação e arbitragem, uma vez que faz referência à adequação e flexibilidade dos
procedimentos a serem adotados como suas premissas para se atingir o objetivo da
tutela adequada e específica.
Nesse contexto, os métodos adequados de resolução dos conflitos têm sido cada vez
mais abordados e ganhado destaque no âmbito jurídico. Apesar de, por um lado,
ainda prosperar uma perspectiva repreensiva quanto aos alcances dessa mudança,
pela descrença no próprio Poder Judiciário, ainda restam esperanças e um olhar
otimista quanto ao alcance de um novo paradigma para o acesso à justiça.
Passando para análise da atual legislação brasileira quanto aos métodos adequados
de solução dos conflitos, seguindo a ordem cronológica dos acontecimentos no
ordenamento jurídico brasileiro, destaca-se a Lei de Arbitragem (Lei nº 9.307/96), a
qual entrou em vigor em 1966, sendo declarada constitucional posteriormente no ano
de 2011, por meio do julgamento do SE 5206/STF.
O marco seguinte representou uma enorme conquista legislativa quanto aos meios
adequados de resolução de conflitos, uma vez que se consolidou no ano de 2010 a
Resolução nº 125 do Conselho Nacional de Justiça, dispondo sobre: A Política
Judiciária Nacional de Tratamento Adequado dos Conflitos de Interesses no Âmbito
do Poder Judiciário.
Sander, após reunir um conjunto de ideias, concluiu que seria necessária a criação de
um sistema que oferecesse várias opções de abordagem para os conflitos trazidos
pelas pessoas. Assim, as partes poderiam ser direcionadas de acordo com a
particularidade de seu conflito para a melhor forma de solucioná-lo. Exemplos de
soluções adequadas para os conflitos seriam a negociação, mediação,
conciliação, arbitragem, dentre outros.
Não significa dizer que o Judiciário passou a restringir o processo clássico aliado à
sentença imposta por decisão judicial, com todos os seus trâmites e formalidades,
mas, tão somente, que diante das necessidades reais da população, foi pensada uma
Política que disponibiliza diversas “portas” a serem seguidas, de acordo com a que
representar a solução mais adequada para o caso concreto.
Sobre o objetivo de ensejar uma nova roupagem ao Judiciário brasileiro, foi registrado
no Manual de Mediação do CNJ:
O novo Código de Processo Civil traz como objetivo a busca pela celeridade
processual e a tentativa de desafogar o Poder Judiciário. Juntamente com a adoção
de penalidades em casos de recursos meramente protelatórios, dentre outras
medidas, o Novo Código trouxe a figura da chamada conciliação ou mediação
obrigatórias como etapa inicial do procedimento a ser seguido pelas partes da
contenda, ressalvados os casos em que a matéria sob litígio não comportar
autocomposição.
Diz-se obrigatória, pois, pelo teor do artigo 334 do novo Código de Processo Civil,
assim que recebida a petição inicial, o juiz designará audiência de conciliação ou
mediação, citando o réu e intimando-o para que ele compareça obrigatoriamente na
audiência designada, sendo aplicada multa de até 2% da vantagem econômica
pretendida ou do valor da causa (§ 8º).
Essa audiência apenas não ocorrerá se ambas as partes informarem ao juiz seu
desinteresse na tentativa de composição amigável. Ou seja, basta uma das partes ter
interesse na audiência, que ela necessariamente ocorrerá.
Merece também destaque que o novo Código de Processo Civil estabelece em seu
art. 165, §2º, não uma definição de conciliação mas uma orientação de
encaminhamento . De igual forma o §3º, do mesmo artigo não define mediação, mas
apenas orienta o encaminhamento de casos.
O estímulo pretendido foi tão enfático que o § 4o do mesmo artigo estabelece que a
audiência não será realizada apenas se ambas as partes manifestarem,
expressamente, desinteresse na composição consensual ou quando não se admitir a
autocomposição.
A referida Lei, assim como as disposições sobre a mediação trazidas no Novo Código
de Processo Civil, foram amplamente influenciadas pelas diretrizes da Política
Judiciária Nacional no Tratamento Adequado dos Conflitos no Âmbito do Poder
Judiciário, instituída pela Resolução nº 125 do CNJ.
O CPC de 2015, por seu turno, não admitiu expressamente a mediação para gestão
de controvérsias sobre direitos indisponíveis. Porém, também não a vedou,
estabelecendo apenas que a audiência de conciliação ou mediação não ocorrerá
quando não se admitir a autocomposição. Sobre esse assunto, a Resolução nº 125
do CNJ nada dispôs.
Para fins de aplicação da lei penal, dispõe o artigo 8º da Lei de Mediação que os
mediadores serão equiparados aos servidores públicos.
Caso a atuação dos mediadores ocorra de forma inadequada, mas não tão grave à
ponto de ensejar sua exclusão dos quadros de registro do tribunal, o artigo 173, §3º
do CPC de 2015 prevê a possibilidade de afastamento do mediador ou conciliador,
pelo período de até 180 (cento e oitenta) dias, devendo ser instaurado processo
administrativo.
Caso a tentativa de mediação seja inciativa de somente uma das partes, será enviada
uma carta solicitando o comparecimento da outra parte à sessão de mediação.
Restando frustrada a sua presença, o procedimento de mediação deverá ser
encerrado, em virtude da ausência da voluntariedade, princípio regente da mediação.
Os magistrados apenas conduzirão a mediação nos casos em que ainda não houver
CEJUSCs no respectivo tribunal ou quando, em qualquer tempo ou grau de jurisdição
(não necessariamente no início do processo) se mostrar viável nova tentativa de
autocomposição entre as partes.
A mediação judicial também exige que as partes sejam assistidas por advogados ou
defensores durante o procedimento de mediação, conforme dispõe o artigo 26 da Lei
de Mediação.
Apresentada a petição inicial ao magistrado, estando seus requisitos essenciais
preenchidos e, não sendo caso de improcedência liminar do pedido, será designada
audiência de mediação ou, caso o juiz entenda que seja mais eficaz para a solução
do conflito a designação de uma audiência de conciliação, esta deverá ser a posição
adotada.
Segundo Mauro Cappelletti (1988, p. 31), o acesso à justiça pode ser considerado
como um direito humano fundamental, que compreende o acesso a um sistema
jurídico moderno e igualitário que garanta direitos e não apenas o proclame.
Nota-se que o Sistema Tribunal Multiportas, tem o condão de efetivar tais direitos, vez
que ele dá liberdade aos indivíduos que compõem o litígio, para que solucionem seus
conflitos de forma consensual, equitativa, pacífica e fraterna.
Apesar de suas acepções formais, que remetem à ideia de que o efetivo acesso à
justiça se daria através de uma análise judiciária sobre o litígio, a essência do acesso
à justiça deve refletir a busca por uma decisão justa, seja ela tomada sob o enfoque
do Poder Judiciário, ou mesmo alcançada através de uma solução consensual do
conflito.
Em verdade, o acesso à justiça, enquanto obtenção por parte dos envolvidos de uma
solução com equilíbrio e igualdade constituiu o verdadeiro escopo do Direito, não se
tratando, portanto, apenas em oportunidade de ajuizamento de ações.
Nestes dizeres pode entender como ocorre o direito ao acesso à justiça efetiva. Este
pressupõe capacidade e oportunidade de realização de um direito, o primordial dos
direitos humanos, assim considerados os direitos civis, políticos e sociais, que dão
suporte a configuração leal e verdadeira da cidadania. Somente com essas bases se
pode entender o Direito como construção do justo.
A justiça, então, passa a ser analisada sob uma ótica coexistencial. Trata-se de uma
justiça conciliatória, que exclama que as resoluções de conflitos não se exaurem nas
vias judiciais. Dependendo da natureza do litígio, o caráter adversarial pode não ser o
mais adequado.
Porém, diante de tais relações conflituosas, havendo uma relação continuada entre
as partes, os indivíduos deveriam se preocupar um pouco mais com os resultados de
uma decisão judicial à longo prazo. Deveriam evitar rupturas bruscas nas relações,
buscando a pacificação de seus conflitos não apenas no momento em que uma
decisão seja proferida, mas, também, daquele momento em diante.
Este entendimento foi adotado de forma a organizar, em todo território nacional, não
somente os serviços prestados no curso de relações já judicializadas, como também
os que pudessem incentivar a atividade do Poder Judiciário na prevenção do
ajuizamento de demandas.
Busca-se, assim, estabelecer uma nova roupagem ao Judiciário, a fim de que este
seja compreendido como um local onde pessoas buscam e encontram suas soluções
– um centro de harmonização social.
Apesar de muito bem elaborada, a Resolução nº 125 pode ser alvo de difícil
implantação, mesmo com o Novo CPC e a Lei de Mediação ratificando seus principais
aspectos. Isto porque a mudança de paradigma quanto a papéis exercidos no Poder
Judiciário como quanto à sua gestão, tornam especialmente desafiadoras a criação
de CEJUSCs e o encaminhamento de casos a mediadores que atuem como auxiliares
da justiça.
De igual forma, a Resolução tem logrado êxito também ao emprestar um tom mais
positivo à busca do cidadão por justiça perante o Judiciário. A perspectiva de que se
mostra desagradável ou desconfortável resolver conflitos no Judiciário começa a
lentamente se alterar para uma visão da sociedade de que os tribunais podem e
devem ser vistos como centros de soluções efetivas de disputas.
Isso porque, para a implementação dos CEJUSCs, a fim de que os mesmos se tornem
responsáveis pela realização das audiências de mediação e conciliação judiciais, além
de outras práticas que os tornem referências como verdadeiros centros de cidadania
e acesso integral à justiça, imperioso que se possa contar com estrutura física e
financeira para suprir suas necessidades.
Por este motivo, além dos mediadores voluntários, que foram autorizados a aturem
nos tribunais conforme disposto no 169, §1º do CPC de 2015, também se revela
necessário que essa função corresponda à uma remuneração atrativa, haja vista que
não se pode apoiar o sucesso de uma Política deste porte na voluntariedade de seus
servidores.
Para tanto, foram estabelecidos muitos requisitos quanto à atuação dos mediadores
e conciliadores judiciais. Conforme mencionado, só estará habilitado para atuar como
mediador, segundo estabelecido pela Lei de Mediação: pessoas capazes; graduadas
há pelo menos dois anos em curso de ensino superior de instituição reconhecida pelo
MEC; que tenha obtido capacitação em escola ou instituição de formação de
mediadores reconhecida pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de
Magistrados ou pelo tribunal; que tenham observados os requisitos mínimos
estabelecidos pelo CNJ em parceria com o Ministério da Justiça.
Em que pese a Resolução nº 125 do CNJ, o CPC de 2015 e a Lei de Mediação não
terem estendido tais exigências aos mediadores extrajudiciais, imperioso se faz que
estes também acolham tais requisitos, a fim de exercerem suas funções com
excelência.
Durante a sua realização, que envolve grande parte dos tribunais brasileiros, são
selecionados alguns processos que evidenciem possibilidade de acordo, os quais são
levados à tentativa de solução do conflito de forma negociada entre as partes.
Sendo assim, nota-se que tais medidas possuem enorme valor, mas o fenômeno da
judicialização permanece sendo uma realidade no Brasil, isso não se pode negar.
Contudo, deve-se buscar que a judicialização, ao invés de ser a opção principal dos
indivíduos, passe a representar um caráter secundário.
3.1 Mediação
Ocorre que estas decisões judiciais não refletem numa solução adequada para as
demandas, pois apesar de os magistrados agirem conforme os direcionamentos que
lhes são induzidos a adotarem, a fim de colocarem fim às demandas em conformidade
com a lei e o que poderia se considerar “justo”, há muita coisa por trás dos conflitos
que lhes são postos.
Não se trata simplesmente de fazer a subsunção do fato à norma. Esta prática pode
resultar numa solução para o litígio, mas isso não significa que essa solução seja a
mais adequada, ou sequer, que, de fato, seja uma solução.
As posições, por sua vez, refletem o que o indivíduo declara ou acredita que seja
aquilo que necessita, ou seja, são os seus posicionamentos firmados, no intuído de
externar o que almejam, apesar de suas posições nem sempre corresponderem com
os seus reais anseios e necessidades – interesses.
Dessa forma, para saber quais são os interesses dos mediados, o mediador deve se
concentrar em suas posições verbalizadas, posturas explicitamente evidenciadas
daquilo que realmente acreditam necessitar, a fim de que possa filtrá-las e
compreender seus interesses.
Elucidando tal distinção entre interesses e posições, cabe a análise aplicada do que
fora ressaltado por Gladys S. Álvares (2003, p. 63):
Dessa forma, as posições sempre serão aquelas que se sobressairão, que serão
externadas pelas partes. Enquanto isso, seus interesses podem corresponder às
posições manifestadas ou, então, permanecerem velados – o que pode resultar no
engessamento para a resolução consensual do conflito.
Este fator também gera prejuízos para a solução de um litígio posto à apreciação do
Judiciário, eis que o magistrado ficará adstrito ao que for externado pelas partes, ou
seja, às suas posições e não aos seus reais interesses que eventualmente estejam
velados.
Sendo assim, há a percepção de que o papel do mediador vai muito além do que o
que pode ser desempenhado por um juiz diante de uma demanda que lhe é
direcionada. O mediador buscará, portanto, compreender os reais interesses dos
envolvidos, pois não se vincula às posições declaradas pelos mediados.
Portanto, é possível depreender que a atuação dos mediadores ocorre de forma muito
mais aprofundada e detalhada quanto à busca efetiva pela solução do litígio. Isso
porque o objetivo será sempre a pacificação do conflito através de um resultado que
atenda aos interesses dos mediados.
Por outro lado, é possível que litígios levados à apreciação do Judiciário se encerrem
sem que nenhuma das partes esteja satisfeita com o resultado, pois terão suas
posições atendidas, mas não os seus interesses, o que não irá gerar a pacificação da
relação conflituosa e, consequentemente, o conflito permanecerá.
O que vem sendo construído neste trabalho é a busca pela solução autônoma e não
violenta ou irracional de um conflito, a qual somente será conquistada com o respeito
e responsabilidade pelos interesses do próximo. Não se trata de uma tarefa fácil,
porém imprescindível para o convívio em harmonia. Para Ricardo Goretti (2017, p.
158), a “[...] dimensão essencial do homem responsável pelo Outro (seu semelhante)
deve ser compreendida a partir de preceitos constitutivos da ideia de outridade, que
equivale à noção de sujeito ético”.
Como fora dito, não se trata de uma prática simples. Muito pelo contrário. A superação
não violenta e irracional dos conflitos se traduz num desafio extremamente complexo,
que irá exigir dos sujeitos, além do diálogo, cognição das particularidades do quadro
conflituoso, respeito, dedicação, paciência e cooperação.
Todos estes serão escopos visados na mediação em seu viés filosófico, o que nos
condiciona a enxergar a mediação como sendo um reflexo da vida em sociedade,
pautada pela ética e alteridade dos indivíduos, convivendo com respeito e
solucionando suas demandas por meio do diálogo.
Na perspectiva de Rafael Mendonça (2006, p. 18-19), a mediação, assumindo seu
caráter filosófico, pode ser conceituada
Dentre outros exemplos, a mediação já vinha sendo amplamente difundida, tanto nas
práticas Judiciárias, quanto no meio acadêmico. Por esse motivo, tão logo surgiu a
primeira proposta de regulamentação da mediação no âmbito infraconstitucional,
através do Projeto de Lei nº 4.827/1998. No desembolar de seus trâmites, o referido
projeto acabou sendo devolvido “sem manifestação” à Comissão de Constituição e
Justiça e da Cidadania, no ano de 2010.
O conceito de mediação passou então a ser elucidado pelo parágrafo único do artigo
1º, do novo diploma legal
Art. 1º. Esta Lei dispõe sobre a mediação como meio de solução de
controvérsias entre particulares e sobre a autocomposição de conflitos no
âmbito da administração pública.
Parágrafo único. Considera-se mediação a atividade técnica exercida
por terceiro imparcial sem poder decisório, que, escolhido ou aceito
pelas partes, as auxilia e estimula a identificar ou desenvolver soluções
consensuais para a controvérsia. (Grifo nosso).
Com o advento do Novo Código de Processo Civil, o mediador passou a ter sua função
reconhecida como sendo um auxiliar da justiça (art. 149 do CPC de 2015), exercendo
um papel relevante no desenvolvimento da cidadania.
A mediação pode ser identificada como uma negociação assistida ou facilitada por um
terceiro. Trata-se de um mecanismo de abordagem consensual de controvérsias,
através do qual as partes – que já possuíam algum vínculo entre si – são auxiliadas a
encontrarem, por si sós, a solução mais viável para a demanda em questão.
Cabe ressaltar que nesta forma de resolução de conflitos o terceiro facilitador, o qual
irá mediar o conflito, não deverá influenciar ou persuadir as partes para que estas
entrem em acordo. O papel do facilitador será tão somente o de reestabelecer o
diálogo entre as partes ali presentes, o qual foi rompido por determinado fator e
ocasionou na impossibilidade de solução da causa por elas próprias. O surgimento de
um acordo torna-se mera consequência.
Por esta razão, a localização dos dispositivos referentes à mediação no CPC de 2015
é bem variada, o que demonstra, mais uma vez, que tal método adequado possui
eficácia para lidar com controvérsias não apenas no começo do conflito, mas em
qualquer momento.
3.2 Conciliação
Também não se trata de uma prática recente. Já era possível identificar características
conciliatórias nas resoluções de conflitos há centenas de anos. Tanto funcionou, que
a conciliação representa, hoje, um dos mais utilizados métodos de solução de conflitos
no Brasil.
Tanto na modalidade judicial ou extrajudicial, a conciliação busca a obtenção de um
acordo mútuo e voluntário, conduzindo as partes ao caminho do entendimento.
Segundo Petrônio Calmon,
Neste ponto, importante destacar que o conciliador deverá sempre atuar de forma
imparcial, não incumbindo ao mesmo julgar os interesses e propostas das partes.
Logo, ao conciliador também serão aplicáveis as regras de suspeição e impedimento
que recaem sobre os serventuários da justiça, conforme disposto nos artigos 134, 135
e 138, II do CPC de 2015.
São aquelas relações que, por possuírem múltiplos vínculos, não se encerrarão após
a solução do conflito. Pelo contrário, continuarão existindo. Logo, há a necessidade
de uma intervenção mais profunda e detalhada por parte do mediador, com uma
atuação que não se limite à simples facilitação de um acordo.
Pode-se dizer que a conciliação se afasta da mediação por esta ser mais ritualística e
um pouco mais demorada, enquanto a conciliação é mais ágil e informal.
Não raro as partes comparecem até o conciliador sem terem a menor noção do que
pretendem ou com alguma proposta de acordo já pré-definida. Nesses casos, o papel
do terceiro interveniente – conciliador – se torna ainda mais importante, sendo
necessário que o mesmo dedique atenção especial, a fim de que não reste frustrada
a tentativa de solução amigável do conflito.
O conciliador deverá canalizar as discussões para as áreas onde o acordo seja mais
provável. Poderá também alertar sobre os riscos e efeitos caso não seja possível um
consenso entre as partes. Intervindo de forma mais incisiva, o conciliador poderá,
inclusive, fornecer novas propostas de acordo ainda não pensadas antes.
Imperioso mencionar que o papel do conciliador, apesar de poder ser muito mais ativo
do que o mediador, jamais poderá deixar de agir com imparcialidade, pois senão
restaria frustrado o propósito da conciliação. Assim, dispõe Ricardo Goretti Santos
Por fim, temos a etapa mais esperada desde o início dos diálogos do processo
conciliatório: o acordo. Este se dará com a redação e assinatura das partes. Para
tanto, é importante que não restem dúvidas quanto aos seus termos e quanto ao aceite
de todos os envolvidos, a fim de que o acordo corresponda com os desejos e
necessidades das partes conciliadas. Estando todos de acordo, o conciliador poderá
colher as assinaturas e encerrar o procedimento.
Diante da divisão desses quatro momentos da conciliação, não significa dizer que
esse procedimento ocorrerá em quatro encontros distintos. Todo o procedimento pode
ser concluído com uma, duas ou mais sessões. Tudo irá depender de como as partes
estarão preparadas para o acordo e a forma como o conciliador irá conduzi-las. Diante
da flexibilidade do procedimento conciliatório, este poderá ocorrer no tempo e modo
que forem mais apropriados para cada caso e suas particularidades.
3.3 Arbitragem
A arbitragem não se trata se um instituto novo no direito brasileiro. Isso porque, desde
a Constituição Imperial de 1824, em seu artigo 160, até a atualidade, sempre esteve
presente no ordenamento jurídico, com a denominação de juízo arbitral ou
compromisso. Trata-se de uma alternativa a ser utilizada para a resolução de conflitos
que versem sobre direitos patrimoniais disponíveis. Por exemplo, tudo que possa ser
estabelecido em um contrato pode ser solucionado por arbitragem.
Por outro lado, cabe ressaltar que estarão fora do âmbito de aplicação da arbitragem
questões sobre as quais as partes não possam efetuar transações, de modo que todas
as questões que estejam fora da livre disposição das pessoas deverão ser resolvidas
pelo Judiciário.
Enquanto prevista nos artigos 1.037 a 1.048 do Código Civil de 1916 e nos artigos
1.072 a 1.102 do Código de Processo Civil de 1973, a arbitragem ainda se
subordinava à homologação judicial.
Assim, sendo possível, as partes deverão nomear árbitros. O árbitro, ou vários árbitros
(desde que seja em número ímpar), poderá ser qualquer pessoa maior de idade, no
domínio de suas faculdades mentais e que tenha a confiança das partes. Também
deverá atuar de forma independente e imparcial, de modo que não poderá estar
vinculado a nenhuma das partes ou, sequer, possuir algum tipo de interesse na
demanda.
Esse método de pacificação dos conflitos foi conceituado por José Maria Rossani
Garcez (2002, p. 48) como
[...] uma técnica que visa solucionar questões de interesse de duas ou mais
pessoas, físicas ou jurídicas, sobre as quais as mesmas possam dispor
livremente em termos de transação e renúncia, por decisão de uma ou mais
pessoas – o árbitro ou os árbitros – os quais têm poderes para assim decidir
pelas partes por delegação expressa destas, resultante de convenção
privada, sem estar investidos dessas funções pelo Estado.
Por ser praticada por árbitros ou tribunais privados, a arbitragem guarda semelhança,
no que tange aos seus escopos, com a atividade jurisdicional exercida pelo Estado,
apesar de não se confundirem.
A convenção arbitral remete, dessa forma, à autonomia da vontade das partes, como
ensina André Ramos Tavares:
A escolha da arbitragem como meio de se alcançar uma solução para o conflito possui
algumas vantagens. Dentre elas, a celeridade, uma vez que a questão posta ao árbitro
deverá ser solucionada no prazo fixado pelas partes ou, caso não haja disposição
nesse sentido, o prazo máximo estabelecido pela Lei é o período de 06 (seis) meses.
Não se fala em recurso da sentença arbitral. A lei 9307/96, por sua vez, faz referência
somente a duas formas de impugnação, a ação de nulidade proposta no judiciário (art.
32) e os embargos de declaração (art. 30).
A nulidade ocorrerá nos casos em que: a) quem foi árbitro estava impedido; b) quando
a sentença não estiver fundamentada; c) quando não decidir toda a controvérsia; d)
quando for comprovado que foi proferida por prevaricação, concussão ou corrupção
passiva; e) quando não observou os princípios da igualdade das partes e do direito de
defesa; f) quando for proferida fora do prazo.
Isso porque, sendo a sentença arbitral um ato jurídico, esta deverá, portanto,
preencher os requisitos de validade dos atos jurídicos. Dentre os requisitos, estão um
agente capaz, objeto lícito e forma prescrita ou não defesa em lei.
Havendo vícios na livre manifestação de vontade, por meio de coação, dolo ou erro,
isso irá refletir na capacidade do agente. Sendo assim, o mesmo não estará capaz de
negociar e, portanto, o ato jurídico não terá preenchido os seus requisitos de validade,
que são cumulativos. Logo, a ação de nulidade do ato jurídico também será um meio
de impugnação àquela decisão arbitral quando emanada de erro, dolo ou coação.
Quanto aos custos pela escolha da arbitragem, as partes poderão dispor em comum
acordo como serão divididas as despesas, dentre as opções de serem divididas na
metade ou deixar que o árbitro decida sobre essa questão.
A arbitragem, como exposto, se revela uma prática de suma importância, pois
representa mais uma opção a ser escolhida no leque das vias adequadas de resolução
dos conflitos.
CONCLUSÃO
Sendo o acesso à justiça considerado um direito fundamental basilar, pelo qual outros
direitos se resultam, e neste mesmo caminho surgem meios de combate à redução
das desigualdades sociais, todo esforço deve ser empreendido para que o paradigma
atual da máquina Judiciária, que se encontra engessada, seja repensada.
Nesse contexto, pode-se entender que o manejo das formas adequadas de resolução
de conflitos podem alcançar verdadeiramente a pacificação social, trazendo reflexos
diretos na diminuição da judicialização de demandas (e não no número das demandas
já existentes), que consequentemente contribuirão para uma real possibilidade de
melhora na prestação da jurisdição institucional.
Por fim, pode-se compreender que negar o amplo acesso a uma justiça efetiva e de
qualidade resultaria colocar em risco os princípios de respeito à dignidade humana e
da própria democracia. Sem que tal direito se efetive plenamente, o desenvolvimento
harmônico não é possível.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Fábio Portela Lopes de. A teoria dos jogos: uma fundamentação teórica
dos métodos de resolução de disputa. In: AZEVEDO, André Gomma de (Org.).
Estudos em arbitragem, mediação e negociação. Brasília: Ed. Grupos de Pesquisa,
2003. V. 2.
ÁLVARES, Gladys Stella. La mediación para resolver conflitos. Buenos Aires: Ad-Hoc,
2. Ed., 2008.
VEZZULA, Juan Carlos, apud SALES, Lília Maria de Moraes. Justiça e mediação de
conflitos. Belo Horizonte: Del Rey, 2004.