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ISSN IMPRESSO 2316-3321

E - ISSN 2316-381X
DOI - 10.17564/2316-381X.2017v6n1p9-22

MÉTODOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS E A PROBLEMÁTICA DO ACESSO A


JUSTIÇA EM FACE DA CULTURA DO LITÍGIO
ALTERNATIVE METHODS OF RESOLVING CONFLICTS AND THE PROBLEM OF ACCESS TO JUSTICE IN THE FACE OF THE CULTURE OF THE DISPUTE

MÉTODOS ALTERNATIVOS DE RESOLUCIÓN DE CONFLICTOS Y LA PROBLEMÁTICA DEL ACCESO A JUSTICIA EN LA CULTURA DEL LITÍGIO

Eduardo Silva Luz1 Gabriele Sapio2

Resumo
O artigo busca analisar a concretização do direito gislativas que visam reformar e resolver o problema,
de acesso à justiça, garantido constitucionalmente principalmente estimulando a utilização de métodos
e inscrito pelo constituinte dentre o rol dos direitos alternativos de resolução de conflitos, como forma
fundamentais, será apresentado também à impor- adequada de resolver a maioria dos problemas, e
tância desse direito como forma de garantia dos de- propiciando a população a mudança da cultura do
mais direitos fundamentais. Esmiuçando os efeitos litígio para a do consenso, garantindo assim o tão
da justiça moderna nesse direito, sendo que esta desejado sentimento de justiça.
passa por um atual momento de crise judiciária,
devido a morosidade exacerbada e uma demasiada
quantidade de processos que impossibilitam a ga- Palavras-Chaves
rantia da justiça. Será analisada também, a cultura
do litígio bastante presente na sociedade moderna,
como uma das causas do problema no de esgotamen- Acesso à Justiça, Direitos Fundamentais, Cultura do
to do judiciário, apresentando as atuais reformas le- Litígio e Consenso.

Interfaces Científicas - Direito • Aracaju • V.6 • N.1 • p. 9 - 22 • Out. 2017


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Abstract
The article seeks to analyze an implementation of at reform and solve the problem mainly by stimulating
access to justice, guaranteed constitutionally and the use of alternative methods of conflict resolution,
inscribed by the Constituent Assembly on the list of as an appropriate way to solve most problems, and
fundamental rights, also will be presented the im- allowing the population to change the culture of liti-
portance of this right as a way of guaranteeing the gation to the consensus, thus ensuring the much-de-
fundamental rights. Examining the effects of modern sired sense of Justice.
justice in that right, that today be passing through a
judicial crisis, due to delays exacerbated and an ex-
cessive amount of processes that make it impossible Keywords
to guarantee justice. Also will be examined, the cul-
ture of litigation present in modern society, as one of
the causes of the problem of exhaustion of the judi- Access to Justice. Fundamental Rights. Culture of Lit-
ciary, showing the current legislative reforms aimed igation and Consensus

Resumen
El artículo busca analizar la concreción del derecho de das a reformar y resolver el problema, principalmente
acceso a la justicia, garantizado constitucionalmente e estimulando la utilización de métodos alternativos de
inscrito por el constituyente entre el rol de los derechos resolución de conflictos Como forma adecuada de re-
fundamentales, será presentada también a la impor- solver la mayoría de los problemas, y propiciando a la
tancia de ese derecho como forma de garantía de los población el cambio de la cultura del litigio hacia la del
demás derechos fundamentales. Emitiendo los efectos consenso, garantizando así el tan deseado sentimiento
de la justicia moderna en ese derecho, siendo que ésta de justicia.
pasa por un actual momento de crisis judicial, debido
a la morosidad exacerbada y una demasiada cantidad
de procesos que imposibilitan la garantía de la justicia. Palabras claves
Se analizará también la cultura del litigio bastante pre-
sente en la sociedad moderna, como una de las causas
del problema en el agotamiento del poder judicial, pre- Acceso a la justicia, derechos fundamentales, cultura
sentando las actuales reformas legislativas encamina- del litigio y consenso.

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1 INTRODUÇÃO
O presente artigo tem como precípua finalidade Nesse ponto com a missão de socorrer o judiciá-
apresentar como a utilização de Métodos Alternativos rio e desafogá-lo de processos, surgem-se assim os
de Resolução de Conflitos, também denominados de denominados métodos alternativos de resolução de
Alternative Dispute Resolution (ADR), podem ajudar conflitos, buscando a concretização do ideal de jus-
na solução da crise processual pela qual o Judiciário tiça e possibilitando com que os resultados sejam al-
Brasileiro encontra-se, devido ao excesso de proces- cançados de forma célere, que satisfaça ambos os la-
sos que aumentam progressivamente todos os dias, dos envolvidos na lide, antes de aprofundar a questão
em uma taxa que não é possível acompanhar. dentro seio do judiciário, entrando na fila de espera
Com a data vênia necessária e correndo risco de processual para que venha a ter um resultado, apenas
ser um pouco superficial, a problemática que hoje se em alguns anos.
encontra no seio do judiciário brasileiro, assemelha- Desta feita, mediação, conciliação e arbitragem,
-se por meio de analogia, à crise econômica de 1929, tratam-se de forma que podem ser utilizadas com
caracterizada como uma crise de superprodução mais veemência por parte dos interessados, com afã
pode-se, assim, correlacionar ao que acontece atual- de ter suas questões resolvidas, este procedimento
mente, na qual demasiadamente se judicializa ques- já adotado mundialmente, principalmente quando se
tões, até mesmo questões que podem ser considera- trata de arbitragem internacional, deve ser incentiva-
das fúteis, ou que talvez não merecessem o olhar mais do pelo Estado brasileiro, a fim de resgatar o poder
aprofundado pelo Estado-Juiz. judiciário da crise em que este se encontra, possi-
Entretanto, esse tipo de raciocínio, tem um proble- bilitando a garantia dos direitos constitucionais da
ma, porque entra em colapso, com a disposição cons- população.
titucional contida no artigo 5º, inciso XXXV, que de O antigo código processo civil de 1973, mesmo
forma rápida afirma que a lei não poderá impedir que que de forma modesta, já demonstrava, por parte do
o poder judiciário, aprecie qualquer lesão ou amea- Estado, uma tendência em se priorizar a resolução
ça ao direito, esta norma com eficácia imediata com dos conflitos fora da esfera judicial, mas, dentro das
status de direito fundamental, garante a todos as pes- denominadas câmaras de conciliação e arbitragem.
soas dentro do território brasileiro, a possibilidade de Com o atual código de processo civil de 2015, consoli-
ter sua questão, analisada pelo poder judiciário, não dou-se a ideia dos métodos alternativos de resolução
podendo ser impedido sem uma razão justificável. de conflitos, como uma etapa processual, na qual se
Porém, como garantir um processo judicial célere passou tratar de uma função inerente ao Estado-Juiz
e que passe a tão desejável sensação de justiça para buscar a conciliação ou mediação entre as partes.
a população, quando se tem um poder judiciário es- Desta forma, demonstra-se a importância de tais
gotado e mesmo impossibilitado de agir? A relação da métodos para a consolidação do ideal de justiça e a
população com o Judiciário, possuí um caráter quase pertinência deste artigo que busca estudá-los de
que paternalista, na qual esta desamparada ou aban- forma a não esgotar o tema, mas em fomentar ainda
donada pelos demais poderes da república recorrem mais o debate sobre esta nova-velha seara do direito,
ao judiciário, com os anseios de terem seus direitos com isso apresentar-se-á no decorrer do texto uma
fundamentais concretizados e respeitados, contudo, visão histórica, características e possibilidades da
toda a engrenagem do judiciário falha quando está utilização dos métodos alternativos de resolução de
sendo forçada demais, impossibilitando assim a con- conflitos.
secução da própria dignidade humana.

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2 VISÃO HISTÓRICA – DA AUTO TUTELA À legal, voltado para resolver os conflitos não foi uma
trajetória simples e passou-se por momentos de jus-
JURISDIÇÃO ESTATAL tiça com as próprias mãos até chegarmos à jurisdição
estatal. Antônio Cintra, Ada Grinover e Cândido Dina-
marco (2012, p. 28) apresentam de concisa, as diver-
Inicialmente, antes de aprofundar o assunto, ana-
sas formas de resolução de conflito:
lisando a evolução das formas de resolução de con-
flitos é de bom alvitre fazer uma análise filológica A eliminação dos conflitos ocorrentes na vida em so-
das palavras conflito e lide, pois estas têm bastante ciedade pode-se verificar por obra de um ou de ambos
pertinência e relação com o tema, e embora pareça os sujeitos dos interesses conflitantes, ou por ato de
terceiro. Na primeira hipótese, um dos sujeitos (ou
algo simplista vale ressaltar que não são elementos cada um deles) consente no sacrifício total ou parcial
obrigatórios do processo, ou seja, não é necessária a do próprio interesse (autocomposição) ou impõe o sacri-
existência de conflito para que seja provocada a ju- fício do interesse alheio (autodefesa ou autotutela). Na
risdição estatal, nesses casos fala-se em jurisdição segunda hipótese, enquadram-se a defesa de terceiro, a
conciliação, a ediação e o processo (estatal ou arbitral).
voluntária.
O conflito trata-se de um problema que está intrin- Percebe-se, a partir da citação dos eminentes pro-
secamente ligado com a vida em sociedade, inevita- cessualistas, a existência clássica de três formas de
velmente, o contato constante entre seres humanos resolução conflitos, que sejam elas Autotutela (so-
que possuem anseios e desejos diferentes ou mesmo mente admitida em nosso ordenamento, em casos
que às vezes se chocam, acabam por gerar o conflito. expressos na lei), Auto composição e a Jurisdição Es-
O Filosofo Moderno Hegel, em seu livro A Fenomeno- tatal, esta última tem sua a gênese a partir da conso-
logia do Espírito, explicita que uma das característi- lidação do Estado, quando ele chama as atribuições
cas fundamentais do Homem, trata-se do desejo de jurisdicionais para sua esfera de competência, passa-
ser desejado e isso é a razão dos principais conflitos -se a discorrer sucintamente das três formas.
da humanidade. A primeira forma de resolução de conflitos trata-se
O jurista italiano Carnelluti (1944 apud TARTUCE, da autotutela característica marcante das sociedades
2008, p. 25) explicita fundamentalmente o que para primitivas em razão da inexistência de leis e por um
ele seria a gênese do conflito: “A ambição (ou a ne- estado incipiente ou ausente, que não possuía meios
cessidade) do homem é ilimitada, enquanto os bens que garantissem a ordem e o cumprimento do direito.
(corpóreos e incorpóreos), passíveis de ser objeto des- Assim, a autotutela caracterizava-se por ser o
sa ambição são limitados; a disputa, por conseguinte, exercício arbitrário do direito subjetivo por meio da
é inevitável”. Com isso, analisando as ideias de Hegel coerção física e moral, a justiça era determinada e
e Carnelluti, percebemos que o conflito nasce em ra- feita pelas próprias mãos com a submissão dos mais
zão da vontade humana de ter determinado bem ou fracos, aos desejos e anseios daqueles que possuíam
seja de uma pretensão a um ou situação de vida e sua mais força para defender os seus direitos, Cintra, Gri-
impossibilidade de obter, em razão do choque com os nover, Dinamarco (2012, p. 28):
interesses de um terceiro.
E, hodiernamente, o Direito tem a função de orde- Nas civilizações primitivas, onde não havia um Estado
nar a sociedade, tentando de essa forma resolver es- suficientemente forte para superar os ímpetos individu-
ses conflitos, coordenando os interesses que se apre- alistas dos homens e impor o direito acima da vontade
dos particulares, nem sequer existiam as leis a serem
sentam no cotidiano em sociedade, e possibilitando a impostas pelo Estado sobre os particulares, quem tives-
cooperação entre as pessoas, porém o caminho para se uma pretensão resistida ou impedida por outro, trata-
chegar nesse ponto em que existe todo um aparato ria de satisfazer essa pretensão através da força física.

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Na esfera penal, esta forma de agir foi denominada judiciário, pelo seu caráter consensual e altruísta, na
de vingança privada, em que a própria pessoa que so- qual os próprios membros do litígio procuram a solu-
fria o dano ou mesmo seus parentes, realizava a justiça ção mais adequada para sua divergência.
com as próprias mãos em face do autor do crime, mais Com a progressão da vida em sociedade e com a
uma demonstração de uma vontade que se impunha à complexidade de alguns casos, os indivíduos começa-
outra pela força sem a intervenção de terceiro. ram a procurar uma pessoa imparcial e de confiança
No atual ordenamento jurídico brasileiro, já não se mútua, para intervir no conflito, ajudando a encontrar
permite mais a autotutela, exceto nos casos em que a uma solução para a divergência. Inicialmente esse
lei prevê e possibilita que seja realizado como nos ca- terceiro imparcial, era os sacerdotes ou sábios, que
sos de legítima defesa ou estado de necessidade, bem chamavam para si uma função de árbitro, o que iria
como nos casos de direito de retenção de imóveis. En- gerar futuramente o instituto da arbitragem, bastante
tretanto se faz necessário ressaltar que essas hipóteses utilizada atualmente, principalmente para resolução
de autotutela, previstas pelo direito brasileiro, não se de conflitos no âmbito do direito internacional priva-
assemelha com a autotutela presente em civilizações do e mesmo no direito interno.
primitivas, em razão de tratar-se de medidas excepcio- A consolidação do Estado, com o seu poder e so-
nais e com limites previstos na própria legislação. berania dentro do seu território, passou a intervir nos
A outra forma de resolução clássica de conflitos conflitos, chamando para si a competência para a
trata-se da autocomposição, que embora tenha sur- resolução dos conflitos, a fim de manter a ordem e a
gido com as sociedades primitivas, permanece forte harmonia social. Conflitos antes solucionados de for-
no direito atual, se materializando basicamente em ma privada passaram para a esfera estatal, adquirindo
três formas, a negociação, mediação e a conciliação. um caráter público pela função jurisdicional do Estado.
Dessa forma a autocomposição caracteriza-se por uma A arbitragem que se caracterizava por ser faculta-
situação em que uma das partes do conflito ou até as tiva foi englobada pela função jurisdicional do Esta-
duas, abre mão de seu interesse no todo ou em parte de do, que deveria ser provocado, para por meio dos seus
modo que ambas possam sair satisfeitas, poderíamos Estado-Juízes, oferecerem soluções aos litígios. Hum-
vislumbrar como uma forma de ajuste ou entendimento berto Theodoro Júnior (2015, p. 45) analisa a ativida-
de vontades, a fim de dirimir ou acabar com o conflito. de jurisdicional do Estado da seguinte forma:
A composição do conflito, por meio da autocom-
Em linhas gerais, a jurisdição caracteriza-se como o
posição tradicionalmente se dava por meio da desis- poder que toca ao Estado, entre suas atividades sobe-
tência, submissão e da transação, mais uma vez cita- ranas, de formular e fazer atuar praticamente a regra
-se os preclaros doutrinadores processualistas Cintra, jurídica concreta que, por força do direito vigente, dis-
Grinover e Dinamarco (2012, p. 29): ciplina determinada situação jurídica conflituosa. O
processo é o método, o sistema de compor a lide em
São três as formas de autocomposição (as quais sobre- juízo mediante de uma relação jurídica vinculativa de
vivem até hoje com referência aos interesses disponí- direito público. Por fim, a ação é o direito público sub-
veis): a) desistência (renúncia a pretensão); b)submis- jetivo abstrato, exercitável pela parte para exigir do
são (renúncia a resistência oferecida à pretensão);c) Estado a obrigação da prestação jurisdicional.
transação (concessões recíprocas). Todas essas solu-
ções têm em comum a circunstância de serem parciais Desta forma, surge a outra forma de resolução de
– no sentido que dependem da vontade e da atividade
de uma ou de ambas as partes envolvidas.
conflitos e consequentemente a mais utilizada pela
sociedade em geral hodiernamente, que se trata da
A autocomposição é a forma mais comum de reso- jurisdição estatal, meio esse que foi garantido como
lução de conflitos e principalmente por meio da tran- direito fundamental, na carta magna de 1988, quando
sação, deveria ser bastante incentivada pelo poder garante ao acesso a justiça.

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Entretanto vale advertir, que a evolução histórica Porém, como está claro na citação, para que esse
aqui colocada de forma linear, não se deu exatamente direito seja efetivado de maneira que abranja toda a
dessa forma, seguindo algo cronológico e direto, em população, é necessário que esse sistema de justiça,
razão de que a história da humanidade é marcada ou seja, o poder judiciário seja acessível a todos, prin-
por avanços e retrocessos, escolheu-se essa forma de cipalmente para as camadas mais carentes da popula-
apresentação apenas para manter o caráter didático ção, que são os que mais sofrem, principalmente, por-
e facilitar o entendimento de como se evoluiu de um que para muitos destes, não há dignidade da pessoa
momento de um Estado incipiente, para um centrali- humana ou mesmo direito fundamental. Não se vive
zador que tem entre suas funções a tentativa de diri- mais no século passado, em que somente aqueles que
mir conflitos a fim de manter a harmonia social. tivessem recursos que pudessem pagar o alto custo
do processo, teriam acesso às vias do poder judiciário.
A justiça universal, acessível a todos e principal-
3 O ACESSO A JUSTIÇA COMO DIREITO mente as classes mais abastadas e carentes da po-
pulação é a concretização dos ideais do Estado De-
FUNDAMENTAL mocrático de Direito e dos princípios da dignidade
humana, provendo a ordem e a paz social.
O Constituinte achou por bem positivar o direito Quando o Estado possibilita, o acesso universal à
de acesso a justiça no rol dos direitos fundamentais, justiça, muito além de estar concretizando uma nor-
o fez para garantir que este tivesse uma eficácia ime- ma ou um princípio constitucional, está na verdade,
diata e não ficasse apenas no mundo das ideias, mas fortalecendo as instituições, dando uma nova concep-
que fosse concretizado. Tudo isso se deve ao fato de ção para o próprio Estado em si, como fonte da ex-
que o acesso à justiça vai servir como alicerce para pressão máxima da cidadania, atendendo os anseios
a garantia dos demais direitos fundamentais, pois é do povo, possibilitando meios para a prestação de um
partir deste que se possibilita a efetivação dos direitos serviço público eficaz e digno para a sociedade. No
individuais, sociais e difusos. mesmo viés vale citar Cintra, Grinover e Dinamarco
Muito além de apenas uma norma de eficácia ime- (2012, p. 42):
diata, o direito de acesso à justiça contido no artigo 5º, Acesso à justiça não se identifica, pois, com a mera
inciso XXXV, encontra-se segundo Cappelletti e Garth admissão ao processo ou possibilidade de ingresso em
(1988, p. 8) envolto de alguns princípios e finalidades: juízo. Como se verá no texto, para que haja o efetivo
acesso à justiça é indispensável que o maior núme-
A expressão “acesso à Justiça” é reconhecidamente ro possível de pessoas seja admitido a demandar e a
de difícil definição, mas serve para determinar duas defender-se adequadamente (inclusive em processo
finalidades básicas do sistema jurídico – o sistema criminal), sendo também condenáveis as restrições
pelo qual as pessoas podem reivindicar seus direitos quanto a determinadas causas (pequeno valor, inte-
e resolver seus litígios sob os auspícios do Estado. Pri- resses difusos); mas, para a integralidade do acesso à
meiro, o sistema deve ser igualmente acessível a to- justiça, é preciso isso e muito mais.
dos, ele deve produzir resultados que sejam individual
e socialmente justos. Aqui, chega-se ao grande ponto emblemático da
questão, a simples garantia do acesso as vias do po-
A partir da citação dos eminentes doutrinadores, per- der judiciário, por meio da universalização, que foi
cebe-se o que alhures foi comentado, o direito de acesso permitido por meio de assistência jurídica e da justi-
à justiça, tem uma finalidade exorbitante, pois é a partir ça gratuita, possibilitada pela ação das Defensorias
dele, que se consegue efetivar os demais direitos dentro públicas e da redução ou mesmo isenção das custa
do poder judiciário, para ter a solução de seus conflitos. processuais, para aqueles que se declararem pobres

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na forma da lei, não resolve o problema nem satisfaz Em relação à mediação e à conciliação, a exposição de
motivos da Res. N. 125/2010 do Conselho Nacional de
todo o viés do direito constitucional do acesso a justi-
Justiça deixa claro que o inc. XXXV do art. 5º da Cons-
ça e, aqui questiona-se, o que é preciso para concre- tituição, que literalmente trata apenas do acesso ao
tizar esse direito? Poder Judiciário, deve ser interpretado como garantia
A concretização desse direito, encontra-se intima- de acesso à Justiça por qualquer meio adequado de
solução de conflitos, como a mediação e a conciliação.
mente ligado também, ao acesso ao Poder Judiciário
com uma resposta tempestiva, ou seja, que não se
Com isso, para tentar resolver o quadro caótico e
prolongue demasiadamente no tempo, por meio de
complexo dos procedimentos processuais brasileiros,
uma solução efetiva para o conflito com uma partici-
que ao invés de resolver o problema, termina por ge-
pação pragmática e eficaz do Estado, respeitando os
rar uma sensação de impotência aos operadores de
direitos fundamentais.
direito e de injustiça aos que se socorrem do poder
Desta forma, o inciso XXXV do artigo 5º da Cons-
judiciário, em razão da demora demasiada na efetiva-
tituição Federal, tem uma melhor interpretação quan-
ção e conclusão do processo, assim deve-se alargar
do este é analisado não apenas como uma garantia
o conceito de acesso à justiça, que passa a compre-
do acesso ao judiciário (que por vezes é em demasia
ender assim os meios alternativos, que atualmente se
burocratizado e deficiente), mas como uma forma de
inserem em um amplo quadro de política judicial.
alcance à ordem jurídica justa de forma efetiva, tem-
Apesar do código de processo civil de 1973, já se
pestiva e adequada.
prevê, de forma tímida os meios alternativos de reso-
Vale ressaltar, que o conceito de acesso à justiça,
lução de conflitos, apenas com o código de processo
está totalmente conectado com a satisfação daquele
civil 2015, seguindo a tendência dos movimentos que
que se socorre no poder judiciário com o resultado final
buscam a desburocratização da justiça, foi que o le-
do processo que vêm a resolver o conflito e não com o
gislador no atual código decidiu observar as diretrizes
mero acesso ao Poder Judiciário, já que este acesso não
das resoluções do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
significa que a pessoa terá o seu problema resolvido.
e passou a tornar esses meios consensuais como in-
Nos últimos anos o legislador, atendendo os an-
dispensáveis à justiça, proporcionando a resolução
seios da população em ter seus problemas resolvidos
consensual e garantindo a pacificação social.
e dos próprios juristas que buscam solução para des-
Vale ressaltar que buscando um processo mais cé-
burocratizar e desafogar o judiciário, a fim de concre-
lere e justo, o Código de Processo Civil também trouxe
tizar o direito fundamental de acesso à justiça, tem
outras inovações, como a simplificação de procedi-
realizado bastantes mudanças, que analisando algu-
mentos e de atos processuais, como também a valori-
mas de forma cronológicas, podemos citar a partir da
zação da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal
Emenda Constitucional nº 45 de 2004, que contem-
(STF) e dos Tribunais Superiores, que passam a ser
plava mecanismos voltados para a busca da celeri-
obrigatórias, devendo nortear as decisões de todos os
dade e desburocratização das atividades judiciárias.
tribunais e juízes singulares de todo país, unificando
Dentre essas mudanças pode-se citar a vedação de fé-
assim o entendimento em certas matérias.
rias coletivas nos juízos e tribunais de segundo grau,
A Lei 13.140 de junho de 2015, também tem o
instalação da justiça itinerante.
condão de melhorar o acesso à justiça, ao regula-
A resolução nº 125/2010 do Conselho Nacional de
mentar a mediação, estabelecendo que poderão ser
Justiça, demonstra essa preocupação moderna, quan-
solucionados por meio desta lei todos os conflitos que
to ao processo e ao acesso à justiça e, enquadra-se
envolvam direitos disponíveis e os indisponíveis que
nesse atual movimento de mudanças de paradigmas,
admitam transação, bem como passou a estimular a
socorrem-se de novo das palavras dos eminentes dou-
mediação privada e prever a possibilidade de contra-
trinadores, Cintra, Grinover e Dinamarco (2012, p. 44):

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tos possuírem uma cláusula de mediação como opção muito embora esse poder deva exercer, primordial-
prévia, antes da abertura do processo. mente, um papel contramarjoritário, a população aca-
Percebe-se, analisando todo esse movimento nos ba se socorrendo ao poder judiciário a todo instante
últimos anos, uma tendência à valorização das vias em razão de se sentir abandonada pelos demais po-
conciliativas, que passam a ser instrumentos de des- deres, e a fim de terem seus anseios atendidos, judi-
taques como forma de acesso à justiça, em razão de cializam a questão, entrando assim para uma fila de
que o poder judiciário sofre o desgaste da falta de re- milhares que também tem o mesmo ideal.
cursos e em razão da superlotação de processo den- Vale ressaltar que a cultura do litígio da população
tro da via judiciária, estes meios surgem assim como não é o único motivo ou problema que causa a mo-
alternativas à morosidade e ao alto custo processual. rosidade no judiciário, considerar isso seria isentar o
Estado de qualquer responsabilidade e olhar apenas
um viés do problema, esquecendo-se assim da alta
4 DA CULTURA DO LITIGIO AOS MEIOS burocracia e da reforma pela qual o judiciário também
necessita passar.
ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS – Mas sim, “a cultura do litígio” nos brasileiros é
MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO uma das responsáveis pela grande sobrecarga de pro-
cessos no judiciário, seja em instâncias ordinárias,
bem como instâncias superiores, chegando à assus-
Como alhures explicado, a morosidade processual tadora marca de 100 milhões de processos, segundo
tende a estrangular os direitos fundamentais do cida- dados mais recentes do Conselho Nacional de Justiça.
dão e não possibilitar a resolução justa do conflito, em O número de processos impressiona, bem como é cer-
razão disso as mudanças que ocorreram no sistema to que muitos deles, levaram anos para serem conclu-
jurídico nacional, nos últimos anos, tentam estimular ídos, subindo de grau em grau com recursos, levará
e propiciar a população uma resolução de conflitos, a bastante tempo para se transformar em coisa julgada.
partir do consensualismo, resolvendo assim o proble- Fugir da cultura do litígio ou da cultura da senten-
ma da grande demanda judicial. ça em que deixe de se adjudicar todo e qualquer con-
Entretanto surge na sociedade de acordo com o flito, passando a resolvê-lo adequadamente por meio
avanço das tutelas ou prestação jurisdicionais, uma de métodos consensuais, passa por diversas etapas,
tendência de resolver tudo desde problemas de gran- que não se implantam imediatamente e que vai pas-
de complexidade até os mais fúteis, dentro da esfera sar por enorme resistência da sociedade.
estatal, se socorrendo assim do poder judiciário, algo A sociedade construiu a ideia de que se não judi-
que muitos doutrinadores têm entendido como uma cializar a questão, se não houver os embates homéri-
cultura do litígio. cos dentro do judiciário, não iria ter sua satisfação e
Passou-se, voltando a analisar a sociedade brasi- a outra parte controvertida sairá ganhando, qualquer
leira, a ter uma falsa ideia de que qualquer meio alter- método que fuja disso e que pregue o acordo e o con-
nativo para a solução de conflito, não terá segurança sensualismo, é encarado como derrota e mesmo per-
jurídica ou mesmo encontrar resultados práticos sa- ca de tempo pela população.
tisfatórios para resolução do problema. Trata-se aqui Nesse ponto, ganha extrema importância, a atua-
de uma cultura que penetrou bem profundamente nas ção do operador do direito, no intuito de apontar para
ideias do povo durante sua construção histórica. seu cliente, qual o caminho mais adequado à resolu-
Pode-se acrescentar outra problemática à cultu- ção do conflito que muitas vezes não passa pela tutela
ra do litigio que se tem na sociedade, que se trata do jurisdicional, podendo ser resolvido de forma conci-
caráter paternalista que a população vê no judiciário, liatória ou por meio da mediação, fugindo assim dos

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grandes problemas existentes dentro do judiciário desse projeto, assim o primeiro ponto como vinha-
como a lentidão e altas custas processuais. As benes- -se retratando no decorrer do texto é a mudança de
ses da conciliação seja ela realizada extraprocessual paradigmas. Vale citar o Roberto Portugal Bacellar
ou mesmo no curso da ação (endoprocessual), são (2011, p. 32-33):
diversas tanto para as partes, quanto para o próprio
A verdadeira justiça só se alcança quando os casos “se
poder judiciário, pois terá questão resolvida em curto solucionam” mediante consenso. Não se alcança a paz
espaço de tempo e com custo relativamente baixo. resolvendo só parcela do problema (controvérsia); o
Além de que vale ressaltar, até em demandas ju- que se busca é a pacificação social do conflito com a
diciais, a sentença nem sempre vai trazer satisfação solução de todas as questões que envolvam o relacio-
namento entre os interessados. Com a implementação
plena para o pseudo-vencedor da causa, ao contrário de um novo modelo mediacional, complementar e con-
da mediação e conciliação em que se busca sempre sensual de solução de dos conflitos, o Estado estará
a forma consensual mais adequada para as partes mais próximo da pacificação social da harmonia entre
conflitantes. as pessoas.
Desta feita, percebe-se que se faz necessária uma
mudança curricular nos próprios cursos de direitos, Um dos princípios do Estado Democrático de Direi-
para que seja incentivado aos futuros operadores do to é buscar, principalmente, a paz e a harmonia social,
direito, que estes devem buscar sempre a solução propiciando a satisfação, os respeitos dos direitos
mais adequada para seus clientes, fazendo-os perce- fundamentais da população e a solução de conflitos
ber que por vezes essa solução não passa pela pres- por meios consensuais, é uma forma de concretizar
tação jurisdicional estatal, quando a causa pode ser este princípio, pois proporciona a todos uma solução
resolvida por métodos consensuais, como mediação e prática e rápida, sem que tenha de passar anos aguar-
conciliação, encerrando-se assim a ideia de senso co- dando uma decisão judicial.
mum de que advogados devem sempre litigar a ques- Vale ressaltar que o Professor Kazuo Watanbe, em
tão judicialmente, demonstrando uma função mo- um seminário sobre mediação e arbitragem no dia 21
derna do operador do direito, que deve exercer uma de novembro de 2014, frisou que “é preciso adotar
função de conciliador e mediador. uma nova cultura que encontre meios adequados de
Outro ponto bastante relevante para tentar mu- solução de conflitos e não alternativos”, ou seja, a
dar a atual situação da cultura do litígio, trata-se de mediação, conciliação e arbitragem, não devem ser
incentivar também a participação dos juízes, estimu- tratadas apenas como meios alternativos a prestação
lando os jurisdicionados em achar uma solução con- jurisdicional, mas sim, como o meio adequado para a
sensual, seja por meio da mediação e conciliação, que resolução daquele conflito em questão sem a necessi-
vale ressaltar são atividades complementares e não dade de provocar a tutela estatal.
antagônicas do poder judiciário. A partir desse ponto, passa-se a discorrer generi-
Somente após a mudança da cultura do litígio, camente, sobre os três principais meios consensuais
é que se pode falar em métodos alternativos para a de resolução de conflitos, que sejam mediação, con-
resolução de conflitos, pois sem que haja essa mu- ciliação e arbitragem, com a finalidade entender um
dança, os resultados que poderiam ser obtidos pela pouco mais, sobre cada um desses institutos.
mediação, conciliação e arbitragem são inócuos ou A mediação trata-se de um método pacífico de re-
ineficientes, principalmente porque a característi- solução do conflito, por meio da qual um a terceira
ca principal desses métodos são a voluntariedade e pessoa que deve ser imparcial, irá conduzir encontros
o consensualismo, ou seja, é necessário que a po- em conjunto ou separado com as partes conflitantes,
pulação queira utilizar desses meios, não podendo com a precípua finalidade de incentivar o diálogo en-
ser forçada, pois estaria contradizendo todo o ideal tre as partes, para que desse modo possa se alcançar

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a resolução da contenda em que as partes estão en- A essência da conciliação é a solução rápida e ime-
volvidas. Torna-se bastante pertinente citar a defini- diata do problema, tendo um procedimento mais céle-
ção de Fernanda Tartuce (2015, p. 208): re, muitas vezes a problemática é resolvida em apenas
uma sessão conciliatória, este meio de resolução de
A mediação consiste na atividade de facilitar a co-
municação entre as partes para propiciar que estas
conflitos sempre esteve presente em nosso mundo ju-
próprias possam, visualizando melhor os meandros rídico e por vezes o juiz assumia papel de conciliador,
da situação controvertida, protagonizar uma solução vale citar Tartuce (2015, p. 90) sobre a conciliação em
consensual [...] o mediador não impõe decisões, mas nosso ordenamento:
dirige as regras de comunicação entre as partes.
Em nosso sistema lega, a adoção dos mecanismos “al-
Da citação da eminente doutrinadora, é possível ternativos” sempre se verificou de forma mais acentu-
inferir uma das principais características do media- ada com o incentivo à conciliação. A ideia de estimular
a decisão do conflito pelos seus próprios protagonis-
dor, que se trata que este não deve impor decisão tas, sempre esteve presente em nossa legislação pro-
(diferenciando de uma sentença), mas sim propiciar cessual civil, especialmente pela tentativa de concilia-
um ambiente saudável de diálogo entre as partes con- ção pelo magistrado.
flitantes, assim, conclui-se que o objeto principal da
medição não é o acordo em si, mas sim a resolução do Na conciliação, mesmo que sejam as partes, a
conflito, a partir do diálogo e a posterior satisfação de tentar achar um caminho para resolver o conflito, a
todos os envolvidos. figura do conciliador possui grande importância, pois
A mediação após a aprovação do Código de Pro- sua atuação deve proporcionar que as partes tenham
cesso Civil de 2015 ganhou bastante destaque, as- um ambiente saudável e demonstrar as vantagens de
sim como outros meios consensuais de resolução de ter o conflito resolvido de forma rápida, mas claro sem
conflito, e teve logo seu marco regulatório aprovado. prejudicar nenhuma das partes.
Assim a Lei 13.140/2015, veio a regular a mediação A conciliação é o meio mais adequado, para resol-
e definir o seu conceito legal no parágrafo único do ver aqueles conflitos em que as partes não tem uma
artigo primeiro da referida lei, assim como definir atu- relação interpessoal mais duradoura, ou seja, elas se
ação do mediador durante todo o processo de media- encontraram pela primeira vez ou tem pouco contato,
ção, fomentando ainda mais uso deste método para são os casos por exemplo de acidentes de trânsitos,
resolução de conflitos. em que as pessoas têm o contato pela primeira vez no
Após analisar um pouco sobre a mediação, passa- momento da ocorrência do problema.
-se a discorrer um pouco a respeito de outro método A conciliação no atual Código de Processo Civil,
consensual de resolução de conflitos que se trata da deu grande estímulo para a conciliação, na qual esta
conciliação, assim como a primeira forma apresenta- não se apresenta mais apenas com a simples indaga-
da, esta para que possa se concretizar é necessário ção sobre a possibilidade da conciliação, mas tem-se
que as partes queiram conciliar voluntariamente, ou agora uma maior interação entre as partes e com
seja é necessário a existência da concordância e futu- o juiz, exercendo uma função de conciliador, apre-
ramente do consenso. sentando caminhos e sugestões para a solução da
Na conciliação as partes têm um envolvimento demanda.
mais importante, com uma participação mais ativa A conciliação, assim como a mediação, são meios
no sentido de tentar resolver o conflito, produzindo consensuais que servem como uma alternativa, a ju-
assim um compromisso que se trata do resultado da risdição estatal, funcionando assim como meio ade-
conciliação, sendo estimuladas por um terceiro que quado de concretização da justiça, por meio de uma
adquire o formato de conciliador. resolução célere do problema. Porém, outro meio al-
ternativo ou “adequado” a resolução de conflitos fora

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da esfera estatal segundo o professor Kazuo Watana- disponível, para resolver o problema da morosidade e
be, trata-se da arbitragem. burocrático da jurisdição estatal.
A arbitragem ao contrário dos outros métodos Não se pode fechar os olhos e não reconhecer que
alternativos de resolução de conflitos, embora não a estrutura do judiciário passa por enormes problemas
possua a característica do consensualismo de forma que impossibilitam a concretização do direito funda-
bastante explícita, trata-se uma forma com a peculia- mental de acesso à justiça, a tutela estatal já não é
ridade bem marcante da voluntariedade, pois as par- mais capaz de atender aos anseios da população, seja
tes escolhem a arbitragem para resolver seus proble- pelo excesso de rigor ou pelo número excessivo de
mas em decorrência da morosidade e do excesso de processos, a morosidade tomou conta do judiciário.
burocracia existentes na jurisdição estatal. Deve-se ressaltar como foi trabalhado no decorrer
Essa forma de resolução de conflitos é bastante do presente artigo, o direito fundamental de acesso à
voltada para resolver problemas referentes a direitos justiça garantido pela constituição, não se caracteriza
patrimoniais, sendo bastante utilizado tanto por em- apenas pelo ingresso da população as vias do poder
presas no âmbito interno, como internacional. Para judiciário, é de extrema necessidade que a questão
garantir a eficácia desse método, escolhe-se um controversa seja resolvida, para somente assim po-
especialista na área do problema que melhor deci- der se falar de acesso à justiça, as sistemáticas pro-
dirá a controvérsia, neste fato tem-se a diferença cessuais formalistas atuais apenas garantem uma
primordial entre a arbitragem e a jurisdição estatal, justiça tardia.
em razão de que no caso da primeira, o problema é É claro que bastante ligado ao problema do acesso
resolvido por um especialista da área, o que aumen- à justiça, reside a questão de que hodiernamente vi-
ta as chances de que sua decisão satisfaça ambas as ve-se em uma sociedade baseada na cultura do litígio,
partes conflitantes. na qual todo e qualquer problema por mais pequeno
Com isso, muito embora exista uma diferença que seja, acaba adjudicado por meio de uma ação,
substancial entre arbitragem e mediação, concilia- tornando-se assim mais um processo a aparelhar o
ção, estas se caracterizam por ser meios voluntários Poder judiciário.
em que as partes querem convergir para um resulta- Com isso, entende-se que para mudar esse pano-
do em comum que é ter o conflito resolvido, sem ser rama caótico, é necessário mudar o entendimento da
necessário provocar a tutela jurisdicional estatal, na própria população, incentivando o diálogo e o consen-
qual serão encaminhados diversos procedimentos so, buscar resolver a questão sem a necessária pro-
burocráticos, para conseguir o tão almejado resul- vocação do poder judiciário, sendo assim utilizados
tado, que acaba por levar anos. Assim esses meios, outros meios que sejam mediação, conciliação e arbi-
apresentam-se como alternativos e adequados para a tragem, como forma de resolução do problema.
resolução do conflito. O próprio legislador, já entendeu que os meios
consensuais, é a forma mais adequada para tratar de
certos problemas, podemos perceber essa consciên-
5 CONCLUSÃO cia mais atualizada por meio do Código de Processo
Civil de 2015 e da Lei de Mediação nº 13.14-/2015. O
acesso à justiça atualmente não se encontra mais in-
Para muito além de uma análise Filológicos ou trinsecamente ligado ao âmbito do judiciário moroso,
mesmo de definição, se são métodos alternativos de mas sim, às formas mais adequadas de resolver a con-
resolução de conflitos, ou adequados e consensuais, trovérsia jurídica e garantir os direitos fundamentais.
como utilizado neste artigo, a mediação, conciliação
e arbitragem se apresentam como a melhor opção

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REFERÊNCIAS como meio de solução de controvérsias e sobre


a autocomposição de conflitos no âmbito da
administração pública e dá outras providências.
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Federal. In: RICHA, Morgana de Almeida; PELUSO,
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Morgana de Almeida; PELUSO, Antonio Cezar (Coord.). Janeiro: Forense, 2011.
Conciliação e mediação: estruturação da política
judiciária nacional. Rio de Janeiro: Forense, 2011 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à
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de-priorizacao-do-1-grau-de-jurisdicao/dados- Acesso em: 25 jan. 2016
estatisticos-priorizacao>. Acesso em: 30 jan. 2016.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito
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de Processo Civil. Diário Oficial da União, 17.3.2015. civil, processo de conhecimento e procedimento
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BRASIL. Lei nº 13.140, de 26 de junho de 2015.
Dispõe sobre a mediação entre particulares

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1. Mestrando em Direito pela Universidade Católica de Brasília, Bolsista


da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior-CAPES.
Bacharel em Direito pela Associação de Ensino Superior do Piauí. E-mail:
eduardoluz.silva@hotmail.com
Data da submissão: 2 de Maio de 2017
2. Doutorado En Ciencias Jurídicas Y Sociales, Universidad Del Museo So-
Avaliado em: 27 de Junho de 2017 (Avaliador A)
cial Argentino, UMSA, Argentina. Mestrado em Direito pela Universidade
Avaliado em: 1 de Agosto de 2017 (Avaliador B) Federal do Ceará. Professor da Universidade Estadual do Piauí. E-mail:
Aceito em: 3 de Agosto de 2017 leiordem1@gmail.com

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