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3 O HOMEM DE SANTORINI
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Ele não era o tipo de homem que acreditava no destino. Não até seu
caminho cruzar o de Jules Clarkson. Desde que a viu pela primeira vez, algo
dizia que ela seria a mulher de sua vida.
O grande obstáculo, contudo, é que a garota não fazia ideia de sua
existência, por mais que ele tentasse se fazer notar.
Determinado a ter sua chance, um dos solteiros mais cobiçados de
Nova Iorque saiu completamente de sua zona de conforto e traçou um plano
para conquistar a garota apaixonada por romances literários.
Se Jules Clarkson queria encontrar um homem como os personagens
dos livros que tanto amava, ele estava mais do que disposto a ser quem ela
desejava. Mesmo que para isso precisasse mergulhar no universo dos
romances eróticos e incorporar o mocinho dos sonhos mais quentes de uma
mulher viciada em livros picantes.
O Homem Dos Seus Sonhos é o ponto de vista do “Sr. Engravatado do
Elevador” para sua história com Jules e uma sequência de O Homem dos
Meus Livros.
É necessário ter lido os livros anteriores para compreender o desfecho
desta história.
Olá! Eu sou a Evy Maciel.
Escrevo romances contemporâneos para mulheres apaixonadas por
histórias de amor, intensas e de tirar o fôlego! E sobre mulheres que buscam
encontrar o caminho para a verdadeira felicidade!
Minha missão como escritora é proporcionar o lazer através da leitura,
incentivando o amor próprio, motivando a autoestima e evidenciando a
importância da independência emocional.
Acredito que não devemos ter medo de nos reinventar, aprendendo com
os erros e persistindo em nossos ideais sempre!
Nasci em 5 de abril de 1989. Sou gaúcha de Osório-RS, mas moro
quase a vida toda em um município de Santa Catarina, chamado Içara!
Comecei a escrever romances em 2012, por hobby, publicando no site
Nyah Fanfiction.
Em 2014, lancei meu primeiro livro na Amazon: O HOMEM DOS
MEUS LIVROS! Ele é o primeiro de uma série que intitulei de HOMENS
QUE AMAMOS!
Em 2015, decidi me arriscar a viver exclusivamente da escrita e
abandonei minha profissão de fotógrafa, fechando meu estúdio. E desde
então tenho me dedicado a escrever livros e interagir com meus leitores!
Em 2016, lancei meu primeiro livro por editora: O QUE ACONTECE
EM VEGAS FICA EM VEGAS, lançado na Bienal de São Paulo, com o selo
da Editora Qualis.
Ainda assim, continuei lançando meus e-books na Amazon de forma
independente.
Em 2018, lancei meu segundo livro com a Qualis, na Bienal de São
Paulo: VLAD – SEDUZIDA POR UM IMORTAL! Além dele, lancei no
mesmo evento outro romance, através da Editora Pandorga: RUDE –
Encontros & Confrontos.
Atualmente, tenho mais de 15 títulos publicados, entre contos, novelas
e romances, seja por editora ou de forma independente. Também atingi a
marca de 26 milhões de páginas lidas pelo sistema Kindle Unlimited da
Amazon, e o número cresce a cada dia.
Ao final deste livro, vou te recomendar algumas de minhas histórias,
caso você goste do meu estilo de escrita e queira conhecer mais do meu
trabalho! Espero de coração que essa seja uma boa leitura e se você quiser
entrar em contato comigo, basta acessar meu site e deixar um recado.
Respondo com frequência, não se preocupe!
Obrigada pela oportunidade!
Um grande abraço!
Viste o site:
www.evymaciel.com.br
SINOPSE
NOTA DA AUTORA
INTRODUÇÃO
PRÓLOGO
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO CATORZE
CAPÍTULO QUINZE
EPÍLOGO
BÔNUS
RECADINHO DA AUTORA
Se você leu a primeira ou segunda edição de O Homem Dos Meus
Livros há algum tempo, desconsidere o capítulo bônus no final, narrado
por Javier Stanton (a versão atualizada do e-book já não contém este
bônus).
No intuito de presentear minhas leitoras com o ponto de vista do
mocinho, escrevi um breve resumo de como Javier decidiu se tornar a
aventura que Jules tanto sonhava viver, para que tivesse a chance de
conquistá-la. Contudo, havia algumas discrepâncias no capítulo bônus que
não condiziam com o andamento da série.
Este livro é a versão oficial narrada por Javier e todos os fatos contidos
nele estão de acordo com os outros livros já publicados.
Por se tratar do mesmo enredo do livro 1 da série, haverá alguns
trechos repetidos na versão narrada por Jules Clarkson, mas apenas o
extremamente necessário, da mesma forma que pulei alguns acontecimentos,
justamente por já tê-los contado com mais detalhes no primeiro livro.
A intenção é proporcionar ao leitor uma nova experiência, apesar de
estar lendo uma história já conhecida. Por fim, você vai perceber que elas se
complementam.
Espero que se apaixone ainda mais pelo casal J&J!
Com amor, Evy.
Engraçado como essa coisa de destino pode te pegar de jeito, mesmo
que você não acredite. Então, acontece de repente, a vida te surpreende e
você conhece alguém que pode virar o seu mundo de pernas para o ar, apenas
com um sorriso. Ela pode nem saber da sua existência, mas tudo o que você
mais deseja é que ela, de alguma forma, te note no meio da multidão e decida
que você é o cara certo.
Comigo foi assim, de um jeito torto e engraçado, mas real, tão real que
jamais a deixaria passar despercebida.
Sabe aquela pessoa que tem luz própria? Que só de olhar te passa uma
energia positiva e contagia todo o ambiente?
Jules Clarkson é esse tipo de pessoa.
Não sei dizer ao certo se foi amor à primeira vista, mas depois de
algum tempo eu percebi que havia conhecido a mulher da minha vida antes
do que imaginei ter sido a primeira vez que a vi. E quando me dei conta
disso, comecei a desconfiar seriamente das coincidências da vida e de como
tudo parece conspirar para que algo aconteça simplesmente porque tem
mesmo que acontecer.
Parece loucura, mas comigo foi tão real que não há como duvidar de
uma força maior pairando sobre este vasto Universo.
Jules Clarkson aconteceu para mim e eu aconteci para ela,
simplesmente porque tinha que ser.
Acontecemos.
“Tudo o que você quer
Está bem na sua frente
Tudo que você precisa
É de amor…”
PASSENGER – ONEREPUBLIC
Correr pelo Central Park em uma manhã de sábado, em pleno verão,
era algo a que eu não estava acostumado. Não pelo clima em si, visto que
por residir em Sydney o calor era algo com o qual eu já sentia familiaridade.
O sedentarismo é que me pegou desprevenido e tive real percepção de que
precisava mudar isso. Viver enclausurado em um escritório, sob à
temperatura agradável do ar-condicionado, atrás de uma mesa e em frente ao
laptop me tornou um viciado em trabalho e completamente alheio a qualquer
tipo de exercício físico. Minha alimentação errada também não ajudou em
nada.
Estar um pouco acima do peso pode ter sido o que me motivou a
acordar cedo, sem ainda ter me adaptado ao fuso-horário. Mas depois de
meses sendo relapso com minha própria saúde e aparência, percebendo o
quanto meu corpo havia mudado porque me descuidei, o desejo de recuperar
a boa forma em um curto espaço de tempo fez com que eu deixasse o sono de
lado e iniciasse uma nova rotina.
— Você está sempre calculando nossa diferença de horários, presumo
eu. — Atendi a ligação de Hani enquanto caminhava de volta ao hotel.
Ouvi sua risada jovial do outro lado da linha.
— De fato, isso é verdade — confessou. — Prefiro conversar com você
ao invés de trocarmos mensagens, isso torna a distância menos chata. Como
você está, Javier?
Era o segundo ano que ela fazia aquilo.
Por que não esquecia ou simplesmente deixava de lado?
Porque ela era teimosa e quando metia uma coisa na cabeça, ninguém a
fazia mudar de ideia. Nem mesmo seu noivo, Zayn, um homem tão teimoso
quanto Hani.
— Levando a vida, seguindo em frente. Como tem que ser, estou
errado?
— Nem um pouco. Mas como me preocupo com você, estou ligando
para dar aquela importunada e dizer que mesmo sem tê-la conhecido, admiro
a mulher que ela foi e sou grata por sua mãe ter deixado no mundo um filho
tão maravilhoso como você.
— Obrigado, você é uma boa amiga.
— A recíproca é verdadeira.
Em uma de nossas muitas conversas, contei a Hani como havia sido
difícil lidar com a morte de minha mãe. Ela que tinha os pais sempre tão
preocupados com seu bem-estar, considerando um pouco sufocante
demasiada proteção, não fazia ideia que eu seria capaz de abrir mão da minha
fortuna para ter a chance de sentir os braços de minha mãe em torno de mim
outra vez. Depois daquela conversa, quando chegou o dia em que completava
mais um ano desde que a perdi, Hani me ligou para saber como eu estava, e
pelo visto ela manteria a tradição.
Não que eu estivesse reclamando. Mas era difícil, sempre foi.
Aceitar a perda e lidar com a saudade.
Só que a vida é assim mesmo, termina para alguns e continua para
outros.
— Como ficou sabendo que estou em Nova Iorque?
— Dedução. No ano passado você também estava.
Dentro de alguns meses eu retornaria a Nova Iorque e fixaria
residência em minha cidade natal, após anos vivendo na Terra do Canguru.
Atualmente estava de passagem, cuidando dos últimos detalhes da aquisição
de um apartamento na Quinta Avenida, onde escolhi morar quando chegasse
a hora. Não queria que Emma, minha representante na cidade, fosse
responsável por decidir onde eu moraria. Queria algo pessoal, que
considerasse um lar, onde após uma rotina de trabalho eu me sentisse
confortável para me desligar um pouco de toda a loucura da Wall Street. Ela
era uma boa secretária e eu acreditava em sua eficiência e bom gosto, mas
preferi eu mesmo fazer a escolha.
Por mais que confiasse em Hani e soubesse da sua discrição em relação
aos assuntos que conversávamos, ainda não estava pronto para revelar sobre
minha mudança. Levaria alguns meses até que tudo estivesse resolvido para
que finalmente me mudasse, talvez houvesse alguns imprevistos e eu preferia
que Thomas, meu sócio, fosse o primeiro, depois de meu avô, a saber de
minha decisão.
— Tirei alguns dias de férias e aproveitei para visitar meu avô. Nós
vamos jantar mais tarde, ele fica bastante melancólico nesta data.
Hospedado no Mitchell Royal Palace, próximo ao edifício no qual
estava interessado, eu permaneceria na cidade por quinze dias antes de voltar
para a Austrália. Por mais que meu avô insistisse que eu morasse com ele na
casa onde fui criado, não cedi. As boas lembranças que permeavam minha
memória seriam substituídas pela tristeza em relação à ausência de minha
mãe, desde que ela nos deixou após ser vítima de uma doença fatal. Por esse
motivo minhas visitas eram ocasionalmente rápidas, restringindo-se ao baile
anual que meu avô realizava com o intuito de arrecadar doações destinadas às
instituições não governamentais que prestavam serviços voluntários a
pacientes terminais.
Jonathan Stanton, além de um grande empresário, era um grande
homem. Seu trabalho filantrópico era digno de admiração. Ele não fazia
apenas como uma forma de manter viva a lembrança de sua única filha, mas
porque tinha verdadeira preocupação com o próximo.
Eu gostaria de ser um terço do homem que ele é.
Encontrá-lo na sede das Indústrias Stanton era minha zona de conforto.
Como seu único herdeiro, sabia que mais cedo ou mais tarde eu teria que
tomar a frente dos negócios da família. Não era algo que me desagradava,
porque nunca me foi imposto contra vontade. Cresci sabendo que daria
continuidade ao nosso legado e fiz questão de me preparar para isso.
— Vai ser bom para vocês a companhia um do outro. — A voz de Hani
era calma e compassiva.
— Sempre é.
Meu avô e eu nos dávamos muito bem, apesar da distância.
Os negócios na Austrália aconteceram de forma despretensiosa. Com o
falecimento de minha mãe, voltar para casa era uma ideia bastante dolorosa.
Meu avô entendia a minha relutância e me deu o tempo que eu precisava para
me reerguer.
A Stanhardton se tornou muito maior do que Thomas e eu prevíamos
quando começamos nossa sociedade. Pensei que vovô ficaria chateado ou até
mesmo furioso comigo quando decidi fixar moradia em Sydney após me
formar, mas o seu apoio foi imprescindível para que eu continuasse meus
projetos independentes. Embora soubesse que meu futuro seria as Indústrias
Stanton, fazer a Stanhardton prosperar se tornou meu objetivo de vida, um
feito que realizei antes dos trinta anos.
— Como está o curso? Falta pouco para se formar, hum? — mudei o
rumo de nossa conversa.
— Estou amando, como sempre amei — respondeu animada. —
Depois que me transferi para Londres, me sinto menos cansada. Zayn e eu
estamos mais perto e isso me deixa tranquila. Em Milão eu ficava o tempo
todo pensando nele, a ponto de achar que ia enlouquecer.
Soltei uma gargalhada enquanto me desviava de algumas pessoas.
Ainda era cedo, mas a cidade nunca dormia.
— Não só você, aposto! — provoquei. — Se Zayn já não fosse careca,
ele certamente teria ficado por sua culpa.
Ela gargalhou tão alto que precisei afastar o celular do ouvido, me
controlando para não me contagiar com o súbito ataque de riso.
— Ele raspa o cabelo! — defendeu ainda rindo. — Se Zayn te ouvisse
falar assim, certamente ficaria de péssimo humor. Sabe que ele detesta a
nossa diferença de idade, e se ouvir uma insinuação de que é velho demais
para mim, terei que lidar com uma crise de insegurança.
— Ou seja, ele ficará mais irritante que o habitual.
— Exatamente!
— Foi muito bom ouvir sua voz e principalmente a sua risada, querida.
Mas preciso desligar agora, tenho um compromisso.
— É sempre um prazer conversar contigo, Javi. Cuide-se, sim? E
mande um abraço para o Sr. Stanton.
— Mandarei.
Combinei com Emma de pegar as chaves do apartamento, ela
provavelmente já estava me esperando na entrada do edifício. Pontualidade
era o meu sobrenome e precisava acelerar o passo para não me atrasar.
O apartamento pelo qual me interessei ficava na cobertura. O imenso
armário rústico no hall de entrada foi uma característica bastante atraente e eu
soube logo de cara que aquela seria a minha escolha final. Não cogitei visitar
outros imóveis após ele. Depois de uma viagem relâmpago a Manhattan,
apenas para verificar o imóvel pessoalmente e me certificar de que ele era
ainda melhor do que as fotos retratavam, Emma cuidou dos documentos
necessários para efetuar a transação de compra. Com tudo acertado, eu era
oficialmente o proprietário e nos dias que me restavam da viagem,
providenciaria com uma arquiteta os projetos para reforma e mobília. Muita
coisa seria resolvida à distância, mas era certo que eu voltaria a Nova Iorque
mais uma ou duas vezes antes de me mudar definitivamente.
Guardei o celular no bolso e me preparei para fazer uma corrida até
meu futuro lar.
Porra, preciso mesmo tornar as corridas matinais um hábito!
Após dobrar a última esquina, desacelerei e retomei o ritmo de
caminhada. E foi por pouco! Se estivesse correndo naquele instante, era certo
que eu seria o responsável por um desastre de maiores proporções. A garota
que carregava uma caixa de papelão com mais peso do que poderia dar conta
não foi capaz de evitar que a caixa se desmanchasse, derrubando os livros no
chão.
Eu estava perto o bastante para pisoteá-la, se não tivesse parado de
correr.
Observei-a praguejar em voz alta um arsenal de palavras de baixo
calão, talvez sem se dar conta de estar na rua ou até mesmo diante de outra
pessoa. Segurei o riso, não por me divertir com sua falta de sorte, mas porque
ela ficava bonita e ao mesmo tempo engraçada enquanto reprimia a si mesma
pela falta de coordenação.
— Meus bebês! Ah, que porra! Tanta coisa inútil eu poderia deixar cair
no chão e foram logo os meus livrinhos preciosos… — Ajoelhou-se,
começando a empilhar os livros espalhados e verificando se algum deles
estava danificado.
Abaixei-me ao seu lado e comecei a ajudá-la a recolhê-los. Não sei
como ela faria para levá-los aonde quer que estivesse indo, pois a caixa
estava destruída.
Segurei dois livros em minha mão e, sem saber o porquê, me concentrei
nos títulos.
As crônicas de Nárnia – C.S.Lewis.
O verão e a cidade – Candace Bushnell.
Seu gosto era bastante eclético.
— Ei, moço. Muita gentileza sua me ajudar, obrigada!
Minha atenção se desviou dos livros para a garota ainda ajoelhada,
abraçando alguns exemplares contra o peito. Ela vestia jeans e camiseta preta
e calçava um par de All Star desbotado, meio acinzentado. Seus cabelos
castanhos combinavam com os olhos da mesma cor e sua pela clara era
levemente bronzeada.
Ela era linda, sem a exuberância de uma mulher produzida
esteticamente para esconder qualquer imperfeição. De forma natural, sem
nenhum artifício a não ser o próprio sorriso. Quando dei por mim, estava
sorrindo também.
Eu não estava nos meus melhores dias. Além de bastante desleixado
nos últimos meses, o peso não era a única coisa que me incomodava. Minha
barba estava bastante espessa e meu cabelo precisava ser aparado. O suor da
corrida não somava de forma positiva junto ao meu conjunto de calça e
jaqueta de moletom. Senti-me constrangido, o que era bem estranho, visto
que nunca me preocupei com o que as mulheres pensavam sobre minha
aparência. Talvez porque sempre fui um homem bem-apessoado e que atraía
o sexo oposto sem me esforçar além do habitual. Nada que um banho,
desodorante, colônia amadeirada, cabelo e barba feitos, combinados com meu
traje executivo, não resolvesse.
O fato era que eu não estava bem comigo mesmo. Sabia que precisava
me reerguer emocionalmente, diminuir o ritmo estressante do trabalho e
buscar um equilíbrio saudável entre minha vida pessoal e profissional.
Há quanto tempo eu não saía com uma mulher?
Já nem me lembrava mais.
Sexo? Sem comentários!
Algo estava errado, eu não era mais o mesmo Javier Stanton que
costumava ser. Nada grave havia acontecido, simplesmente caí no
ostracismo. Contudo, no instante em que meu olhar encontrou o dela, foi
como se um estalo tivesse me feito entender tudo.
“Acorda, cara! Você tem vinte e sete anos e está se esquecendo de
viver sua vida como ela merece ser vivida”, alertou minha consciência.
— Ei, filha! Está tudo bem aí? — Uma voz masculina soou
preocupada, se aproximando de mim e da garota.
— Querida, se machucou?
Virei-me para encarar o casal, certamente os pais da moça. Logo ambos
se abaixaram e começaram a recolher os livros.
— A caixa se desmanchou, pai — explicou ela, ainda me encarando.
Então me dei conta de que eu não havia falado nada ainda.
— Aqui, seus livros. — Estendi os dois exemplares que tinha segurado
em mãos e ela os pegou.
Quando sua mão roçou levemente a minha, a sensação terna que me
invadiu fez com que eu me assustasse. Claro que internamente, por fora
continuava o homem solícito e normal. Por dentro estava confuso com a
batalha que travei comigo mesmo.
— Muito obrigada por parar e ajudar minha menina. — Foi a senhora,
muito parecida com a garota, quem se dirigiu a mim.
— Não foi nada.
— Foi tudo — disse o homem, terminando de empilhar os últimos
livros. — Não é todo mundo que sabe ser gentil hoje em dia.
Levantei-me, acompanhando os três. Sem saber o que dizer, devido à
forma como me senti afetado, me afastei enquanto acenava com uma das
mãos.
— Tenham um bom dia.
O casal agradeceu mais uma vez e começou a caminhar em direção ao
prédio, carregando as pilhas de livros.
— Ei, moço, valeu mesmo! — A garota piscou um dos olhos e abriu
novamente o seu sorriso, iluminando meu sábado.
— Não tem de quê.
Dei-lhe as costas e voltei a correr, pois lembrei que estava atrasado para
meu compromisso. Por sorte o edifício onde eu moraria era a poucos passos
dali.
Sem saber, aquela garota fez parte de um momento importante em
minha existência. Quando eu finalmente acordei da vidinha programada à
qual estava habituado sem perceber o quanto me prejudicava.
Sem que soubéssemos, nossos destinos voltariam a se encontrar no ano
seguinte. Desta vez para sempre.
“Você é meu fogo
Meu único desejo
Acredite quando eu digo
Eu quero assim
Mas somos de dois mundos separados
Não consigo alcançar seu coração
Quando você diz
Eu quero assim…”
I WANT IT THAT WAY - BACK STREET BOYS
— Não acredito que está me deixando.
Pestanejei ao encarar a expressão chorosa de Rachel. Ela parecia
mesmo arrasada por eu estar indo embora.
— Querida, você sabia que isso ia acontecer. Já conversamos há alguns
meses. Sabe que poderá me visitar sempre que quiser.
Ela deu de ombros e me virou as costas, caminhando até as janelas de
vidro do arranha-céu.
Estávamos em meu escritório, na sede da Stanhardton, em Sydney. Era
meu último dia na empresa e fui apenas para me despedir da equipe de
colaboradores e verificar se não havia esquecido nada por lá. Thomas
cuidaria de tudo após minha partida e tão logo eu estivesse na América,
avaliaríamos como proceder dali em diante. Eu ainda era o sócio majoritário
e presidente da empresa, mas estava ciente de que tinha uma escolha a fazer.
Teoricamente era muito mais fácil, contudo, quando o momento chegou eu
protelei mais um pouco.
Rachel Hard era minha afilhada. A garota loira de olhos azuis
profundos tinha dezessete anos, mas se comportava como gente grande. Ao
menos era o que ela pensava. Mimada desde sempre por seu pai e por mim,
que tentamos compensá-la pelo abandono da mãe após o complicado
divórcio, Rachel era bastante apegada a mim desde criança. Assim que
revelei minha intenção de voltar a Nova Iorque, ela fez questão de ficar por
perto e tentar me fazer mudar de ideia.
— Sabe que logo eu entro na faculdade e não poderei te visitar. Por que
precisa ir embora? — Ela continuava fitando os prédios à sua frente, mas
reparei na tristeza em sua voz.
— Meu avô precisa de mim.
— Eu também preciso.
Caminhei até ela e me coloquei ao seu lado. Rachel sabia ser dramática
quando queria e eu a conhecia muito bem para não me deixar levar por seus
rompantes. Ela era uma adolescente de personalidade forte e acostumada a ter
suas vontades realizadas.
— Você tem seu pai. Thom faz tudo para te ver feliz, Rachel, sabe
disso. Não é como se nós nunca mais fôssemos nos ver. Pensei que fosse
madura o bastante para lidar com isso já que faz tanta questão de se
posicionar como uma adulta.
Eu sabia que estava sendo um pouco duro com ela, mas a garota
precisava se dar conta de que tentar me manipular com sua tristeza não ia
surtir efeito algum em minha decisão. Talvez a distância entre nós fosse o
melhor, assim Rachel entenderia que eu era apenas o seu tio de criação e não
alguém que ela pudesse controlar com seu charme.
Ficar longe de mim a faria bem. Logo ela ingressaria na universidade e
se apaixonaria por um garoto da sua idade.
— Só não se esqueça de mim, tá legal? Eu aprendi a lidar com a
rejeição da minha mãe, mas se você me rejeitar, Javier, não vou superar.
Daquela vez suas palavras não foram dissimuladas. Eu sabia o quanto
era difícil para Rachel, embora ela tentasse demonstrar indiferença. Puxei-a
para um abraço e beijei o topo de sua cabeça enquanto ela apertava seus
braços em volta da minha cintura e recostava o rosto em meu peito.
— Sou seu padrinho, Rachel. Nunca vou te esquecer ou abandonar.
Confesso que não estava muito animado para sair naquele sábado à
noite, mas de tanto Hani insistir, acabei cedendo. A Oásis, no Uper West
Side, era idêntica à de Londres. Fiquei ligeiramente impressionado. Era como
se eu estivesse lá a cada passo que dava dentro da casa noturna.
Subi até o andar dos camarotes, pois Zayn havia providenciado meu
livre acesso. Sentei-me em uma das banquetas do bar e pedi uma cerveja para
descontrair. Olhando em volta, observei homens e mulheres rindo,
conversando, dançando. Amigos ou casais.
Nenhuma mulher atraiu minha atenção e não me senti mal por isso,
afinal, não saí de casa com o intuito de ficar com alguém. Meu último
encontro havia sido com a morena no pub em Sydney, e por mais que eu
curtisse sexo, não estava desesperado para tê-lo.
A noite é uma criança e o que tiver que ser será. Agora, se Hani
perguntar se eu já estive na Oásis, posso afirmar e ela não vai mais pegar no
meu pé por causa disso.
— Boa noite, você é Javier Stanton, neto de Jonathan Stanton, das
Indústrias Stanton?
— Quanto Stanton em uma única frase. O sobrenome é tão importante
assim? Ou é pelo meu avô e o que ele tem? — Sorri para a ruiva à minha
frente, mas não foi um sorriso genuíno.
Ela não se intimidou pelo comentário sarcástico, embora não fosse
minha intenção soar de tal forma. Sentando-se na banqueta ao meu lado, se
virou para manter contato visual. Seus cabelos encaracolados iam até pouco
abaixo da orelha, mas não chegavam a alcançar os ombros. Aquela cor
ferrugem parecia natural, mas eu não era nenhum expert no assunto. Muito
bem maquiada e com um batom vermelho que deixava seus lábios carnudos
em evidência, a mulher aparentava vinte e poucos anos e o decote do vestido
preto era bastante ousado, o que mostrava o quanto ela era segura de si para
mostrar seus atributos, por assim dizer. Prestei atenção quando ela cruzou as
pernas e o tecido subiu, deixando as coxas à mostra de forma intencional.
— Perdão pela abordagem direta. — Estendeu-me a mão. — Sou
Brittany Carlton. Jornalista.
A música alta não me permitia ouvir muito bem e sequer prestei
atenção quando ela mencionou o nome da revista na qual trabalhava. Aceitei
seu cumprimento com educação e fingi não ter reparado na forma como ela
manteve a firmeza no aperto de mão e o tempo que levou para me soltar.
— Prazer em conhecê-la, Srta. Carlton. Sou Javier Stanton, mas isso a
senhorita já sabe.
— Pode me chamar de Brittany. — Alargou ainda mais o sorriso. —
Sua reputação o precede, Sr. Stanton. Fiquei curiosa por vê-lo em Nova
Iorque nessa época do ano, alguma novidade no mundo dos negócios?
— Por acaso essa conversa é algum tipo de entrevista? — Arqueei a
sobrancelha, intrigado pela forma como ela decidiu me abordar, em plena
noite de sábado em uma casa noturna. Momento de lazer.
Ela desviou o olhar, se intimidando um pouco com minha forma direta,
mas logo recuperou a compostura.
— Pode se dizer que sim. — Juntou as duas mãos, como se fosse uma
súplica. — Poderia me conceder algumas respostas? Juro que não vou ser
muito invasiva.
Soltei uma lufada de ar e tentei sorrir com simpatia. Juro que tentei.
Eu não era exatamente o tipo de pessoa habituada a estar na mídia. Em
Sydney, vez ou outra Thomas e eu éramos mencionados em jornais ou
revistas locais, visto que nossa empresa era bastante popular e havia o fato de
sermos solteiros, o que eu não conseguia entender era por que isso era tão
importante para outras pessoas. Afinal, se tratava de um assunto particular,
mas aprendi a lidar com a curiosidade alheia.
Pelo visto isso vai continuar aqui em Nova Iorque.
“Por que não pede licença e dá o fora daí? Está na cara que essa
mulher só está pensando na matéria que irá escrever a seu respeito!”
Aquela voz no meu inconsciente disse exatamente o que eu gostaria de
fazer, mas meu lado gentleman impedia que eu ouvisse aquele conselho e
acabei respondendo algumas perguntas, revelando minha volta aos Estados
Unidos e minha posição nas Indústrias Stanton, entre outras coisas que a ela
parecia significativo para sua matéria.
Não havia problema nenhum dar uma entrevista, mas a forma como fui
abordado e o local geraram desconforto. Ela poderia ter me pedido um cartão
para entrar em contato e agendar um horário com minha secretária, seria
muito mais profissional. Além disso, a maneira com que se insinuou me
incomodou, como se apenas pela sua aparência e charme eu fosse responder a
qualquer coisa. Talvez desse certo com outros homens, mas para mim deixou
uma impressão nada positiva. Podia ser que eu estivesse equivocado, mas foi
estranho.
— Stanton, finalmente achei você! — Um homem se aproximou,
sorrindo como se fôssemos velhos amigos, me deixando levemente intrigado.
Assim que meu olhar encontrou o dele, tive a impressão de já tê-lo
visto em algum lugar, mas não me recordava. Aquele sotaque não era
americano.
— Zayn avisou que viria, fiquei aguardando sua chegada. — Estendeu-
me a mão e aceitei o cumprimento de imediato, mesmo sem saber de quem se
tratava. — Alexios Kallias, muito prazer. Aquela reunião ainda está de pé?
Não tenho muito tempo disponível, volto para Seattle ainda hoje.
Ele ignorou a mulher ao meu lado deliberadamente e ela não pareceu se
importar.
Então aquele era o tão falado Alexios, amigo de Zayn e Hani.
— Prazer em conhecê-lo, Kallias. É claro que a reunião está de pé, vim
apenas para isso. — Não demorei a entender o que ele estava fazendo.
Voltei minha atenção para a jornalista e levantei-me da banqueta.
— Foi um prazer conhecê-la, Srta. Carlton. Espero que tenha
conseguido o suficiente para escrever sua matéria.
— O prazer foi todo meu, Javier. — Tirou um cartão de sua bolsa de
mão e me ofereceu. — Obrigada por ser tão atencioso. Se quiser pode me
ligar qualquer dia desses. Ou noite. Você escolhe.
— Obrigado. — Aceitei o cartão e sem olhá-lo guardei no bolso de
minha calça. Alriet certamente o acharia quando fosse enviar minhas roupas
para a lavanderia.
— Vamos? — chamou-me Alexios. — Meu escritório é no andar de
cima.
Acenei para a ruiva e segui o homem.
— Perdoe-me se eu estiver equivocado, mas achei que estava
precisando de uma forcinha para se livrar da inconveniência da Srta. Carlton.
Acessamos o elevador e logo chegamos ao outro andar da casa. Era
como estar em Londres, seguindo rumo ao escritório de Zayn.
— Ela me pegou desprevenido. — Ri.
— É o que ela faz com todos. Playboys e socialites, empresários,
celebridades e qualquer pessoa que ela considere interessante para escrever
sobre em sua coluna. — Abriu a porta e logo entramos.
— Pelo visto Brittany é bastante conhecida na casa.
Ele riu e deu de ombros, se sentando na poltrona atrás da imponente
mesa de mogno. A decoração ali não era em nada semelhante à do escritório
de Zayn.
Sentei-me na poltrona à sua frente, me sentindo bastante à vontade. O
fato de estar longe da música alta já era um grande alívio.
Acho que estou velho demais para baladas noturnas.
— De fato, ela é, mas não posso evitar sua presença na casa. A moça
paga a entrada e consome. Ela está proibida de fotografar dentro da Oásis,
mas tudo o que faz apenas é conversar. Não há reclamações sobre sua
inconveniência, eu é que tenho certa alergia à mídia.
— Entendo. Obrigado por intervir, eu não queria ser deselegante com
ela.
— Por sorte o reconheci e foi justamente por ter visto uma foto sua no
jornal em algum momento.
— Vai mesmo voltar para Seattle ainda hoje?
Ele negou com um gesto de cabeça.
— Lauren tem pavor que eu viaje à noite, então parto amanhã cedo.
Quase cinco horas de voo e estarei com minha garota.
Alexios foi até o frigobar e pegou duas long necks, me oferecendo uma
antes de voltar a se sentar.
— Deve ser cansativo. Vem com que frequência a Nova Iorque?
— A cada duas ou três semanas. Mas às vezes ela vem comigo. Desta
vez não foi possível.
Alexios e Lauren não eram casados, mas moravam juntos. Passamos
algumas horas conversando e ele me contou sua história com a garota de
Seattle. A forma como falava deixava evidente o quanto estava apaixonado e
realizado. Eu já havia testemunhado algo parecido, pois sempre que Zayn
falava de Hani ou vice-versa, era aquela melação toda. Embora eu achasse
engraçada a forma como eles falavam sobre suas amadas, admirava-os por
serem tão espontâneos ao se expressarem em relação ao amor que sentiam
por suas mulheres. Era sincero, sem medo e simplesmente feliz.
Eu queria isso para mim algum dia. Talvez não complicasse tanto as
coisas como Zayn e Alexios, ao menos era o que eu esperava.
— Está tarde, vou indo nessa. — Levantei-me. — Foi um prazer
conhecê-lo, Kallias.
Apertamos as mãos e ele me acompanhou até a porta do escritório.
— Não esqueça de avisar Hani que finalmente nos conhecemos,
Stanton. Ela parecia fazer tanta questão deste encontro.
— Avisarei. Hani quis fazer as vezes de cupido da amizade, eu acho.
Garota astuta. — Não contive uma risada.
Ele também riu.
— Isso porque você ainda não encontrou a sua garota dos sonhos.
Quando isso acontecer, se prepare. Aí sim ela vai atacar de cupido insana.
— Que Deus meu ajude!
Mal sabia eu que o grande dia estava cada vez mais próximo.
“Não te conheço há muito tempo
Mas agora consigo ver por que
Você está sempre na minha cabeça
Ninguém nunca me fez abrir os olhos
Você foi aquela que me fez perceber… perceber
Que eu estava incompleto
Faltando uma parte de mim
Cego pelo medo de algo novo
Mas agora vejo
O tempo todo o que faltava era você…”
INCOMPLETE – HOOBASTANK
Comecei a semana acordando cedo e indo correr no Central Park.
A verdade é que me bastou um fim de semana sozinho em meu
apartamento e eu já havia mudado de ideia quanto ao fato de tirar mais alguns
dias para me organizar. Eu estava instalado, Alriet e Emma trabalhavam em
sintonia e não demorei a me habituar ao fuso-horário. Ficar na inércia não era
algo que me agradava. Assisti a alguns filmes, li um livro e estive com meu
avô para um jantar no domingo.
Eu já estava me sentindo um nova-iorquino outra vez e pronto para
respirar os ares da Wall Street.
Organizei minha agenda com a programação semanal e fiz questão de
manter as corridas matinais como um hábito diário. Phillip e Alriet foram
informados e meu avô e Emma também.
Retornei ao apartamento e fui direto para o banho. Vesti-me com o traje
executivo ao qual já estava acostumado e fui para a cozinha preparar meu
café. Alriet só chegaria mais tarde, conforme o combinado, pois eu prezava
por meu momento sozinho antes de ir para a agitação do trabalho. Às sete em
ponto Phillip me aguardava, segurando em mãos as edições diárias do New
York Times e The Wall Street Journal para que eu os lesse durante o trajeto
até a Stanton Tower.
Aprendi com meu avô que a pontualidade era um requisito importante
para a boa reputação de um empresário. Antecipar-se aos imprevistos e evitar
atrasos mostrava o quão responsável com seus compromissos um homem de
negócios era.
Cheguei cedo ao edifício que sediava o escritório das Indústrias
Stanton. Em um prédio de trinta andares, não havia elevador privativo, e estar
ali antes da maioria era vital para evitar tumulto. Os elevadores disponíveis
ficavam bastante cheios nas primeiras horas da manhã.
— Bom dia, senhorita — cumprimentei a recepcionista assim que
cheguei à cobertura e ela sorriu ao me reconhecer.
Eu havia estado ali em outras ocasiões, mas reparei que não era a
mesma funcionária de antes e fiz questão de verificar o nome em seu crachá
para que da próxima vez eu o mencionasse. Fazia questão de saber o nome de
todos os colaboradores, tanto quanto fosse possível. A Srta. Hudson seria
uma presença constante, portanto era minha obrigação chamá-la pelo nome.
Mais um dos aprendizados que meu avô ensinou antes mesmo de eu
frequentar a high school.
— Bom dia, Sr. Stanton. Emma já está à sua espera, segunda porta à
direita.
— Obrigado.
Eu assumiria a presidência da empresa em alguns meses, após estar
totalmente a par dos negócios e ganhar a confiança do Conselho
Administrativo. Enquanto isso, ocuparia um escritório provisório e Emma me
atualizaria do que fosse preciso. Não era como se eu fosse inexperiente e não
fizesse ideia de como começar, só precisava pegar o ritmo e me familiarizar
com as pessoas.
Cumprimentei minha secretária e tentei não demonstrar surpresa com
sua mudança física. Emma era uma mulher elegante e bonita, não do tipo que
me atraía, até porque eu sempre soube separar o pessoal do profissional e
nunca abri exceções, nem permitia que alguém do meu quadro de
colaboradoras tivesse qualquer tipo de liberdade ou fizesse qualquer tipo de
insinuação em relação a mim. Ela era praticamente o meu braço direito em
Nova Iorque e nosso relacionamento profissional era de mútuo respeito e
cumplicidade. Eu confiava plenamente nela. Mas, voltando ao assunto da
mudança física, era impossível não reparar que minha colaboradora passou
por procedimentos estéticos desde a última vez que a vi. Aqueles lábios
estavam maiores do que podia me lembrar, assim como os seios, se é que
algum dia eu tivesse reparado neles, porque nunca me chamaram a atenção
como naquele instante e, aquela bunda! Tinha certeza que era inexistente até
algum tempo atrás.
— Bem-vindo, Sr. Stanton. — Estendeu-me a mão em cumprimento, a
qual aceitei prontamente.
— Obrigado, Emma. Mas vamos cortar as formalidades, você sabe que
pode me chamar pelo primeiro nome.
— Como preferir, Javier.
Ela devia estar na casa dos quarenta e poucos anos e já trabalhava para
meu avô antes de ser designada para ser minha representante. Sempre muito
cordial e profissional, eu sabia pouco a seu respeito. Mas não era casada nem
tinha filhos, pois esse tipo de informação não era difícil de ficar sabendo. De
resto, ela era muito reservada, e devido ao fato de eu ter morado em outro
país, não tínhamos contato frequente a ponto de eu saber mais detalhes. Não
que me interessasse, de fato.
— Meu avô já chegou?
— Sim, ele pediu que fosse até a sala dele assim que chegasse.
Quando finalmente concluí que estava indo longe demais por causa do
meu interesse inexplicável por aquela mulher e cheguei à decisão final de que
não continuaria com aquele jogo de sedução arriscado pela internet, o destino
parecia estar tramando um novo jeito de me unir a Jules sem que eu tivesse
planejado.
O Central Park era um verdadeiro oásis em meio aos arranha-céus
novaiorquinos, com mais de quatro quilômetros de comprimento e oitocentos
metros de largura. Eu tinha o privilégio de tê-lo como vista do meu
apartamento, e era em uma de suas trilhas para caminhada que seguia a minha
rotina de corrida matinal. Foi também ali que reencontrei a garota que não
saía dos meus pensamentos desde que a vi entrando no elevador da Stanton
Tower.
Vestindo legging e camiseta, Jules corria pela trilha um pouco mais à
minha frente. Com fones de ouvido, acho que ela nem percebia que cantava
em voz alta enquanto se exercitava, o que era engraçado, pois a respiração
pesada não a tornava a melhor cantora, embora sua voz fosse agradável de se
ouvir.
Mantive uma certa distância tão logo a reconheci, o que foi realmente
uma grande coincidência.
Eu não tinha o hábito de ouvir música enquanto corria, apenas durante
meus exercícios na pequena academia que montei num dos quartos vagos em
meu apartamento. Mas ela parecia distraída e acabei por segui-la, tomando o
cuidado de não a ultrapassar, pois queria continuar observando sua
espontaneidade.
Talvez eu deva me aproximar, aproveitar a oportunidade e…
Foi tudo tão rápido que não consegui evitar minha queda, mas tentei
não a machucar com o peso do meu corpo, sentindo minhas mãos sofrerem
escoriações do atrito com o chão.
Num segundo eu observava hipnotizado o quadril de Jules se
movimentar durante sua corrida, no instante seguinte eu caía por cima dela no
chão e nem me dei conta de como aquilo aconteceu.
Ouvi o gemido em agonia, ela tinha se machucado também.
Apoiando os braços no chão em uma flexão forçada, eu ainda pairava
sobre ela, sentindo meu corpo enfraquecer quando inspirei o ar e senti seu
cheiro feminino misturado a um pouco de suor, o que foi suficiente para
despertar meu pau.
Isso não é hora de ficar excitado, caralho!
Afastei-me para evitar um constrangimento maior e também para que
ela pudesse se levantar. Quando Jules se virou para mim, ainda sentada no
chão, vi seus joelhos ralados e o tecido da calça rasgado. Isso foi suficiente
para controlar meu tesão, pois fui invadido pela preocupação repentina.
— Você está bem? — Estendi minha mão para ajudá-la a se levantar,
ignorando que estava machucada.
Tudo o que eu conseguia fazer era observar cada detalhe daquela
mulher e me esforçar para não fazer papel de idiota.
Ela terminou de amarrar o cadarço do tênis antes de me responder, com
um sorriso envergonhado:
— S-sim. Apenas uma legging rasgada, dois joelhos ralados, um iPod
danificado e o ego ferido.
Eu nem sei por que comecei a rir, talvez fosse o nervosismo. Não
estava debochando dela, obviamente, e quando pensei que ela pudesse pensar
algo assim a meu respeito, tratei de mostrar minhas mãos e disse a primeira
coisa que me veio à mente:
— Acho que me machuquei também. Estava distraído e você caiu de
repente, não consegui evitar minha queda e quase te machuquei.
Tivemos um diálogo curto e um pouco esquisito. Ambos não sabíamos
bem o que dizer, mas tive a impressão de que, assim como eu, Jules também
não queria que nossa interação acabasse logo.
Eu não conseguia parar de sorrir para ela e tentava a todo custo
disfarçar a animação do meu amigo entre as pernas, com receio de que ela
percebesse o quanto eu estava começando a ficar excitado apenas de ouvi-la
falar.
Quando Jules sugeriu que eu fosse até seu apartamento para tratar dos
meus ferimentos, um alarme se acendeu em minha mente e senti a
necessidade de recuar.
— Eu também moro aqui perto, vou passar em uma farmácia para
limpar o ferimento e fazer um curativo. Talvez você queira me acompanhar e
cuidar do seu joelho… — falei, tentando de alguma forma mantê-la por
perto.
Era a minha chance de conhecê-la melhor, mas não achava certo ir até
o seu apartamento. Eu ainda era um estranho, ela devia ser mais cautelosa.
Além disso, não sabia como me comportar estando tão perto dela num
ambiente fechado. Provavelmente acabaria abrindo o jogo e lhe contando
sobre tê-la visto dias antes e toda aquela conversinha do elevador. Soaria
como um stalker.
Nunca foi tão difícil me aproximar de uma mulher que me interessava
quanto estava sendo com Jules Clarkson.
Ah, sim, ainda havia esse detalhe: ela não tinha me dito seu nome e eu
quase a chamei de Jules, o que certamente acabaria por assustá-la.
— Como você se chama?
Estava tão hipnotizado por ela que nem percebi que repeti seu nome em
voz alta, assim que ela finalmente o revelou. Com isso, e somado ao fato de
que Jules não se deu ao trabalho de perguntar o meu, acabei por nem me
apresentar.
Ali estava eu, desperdiçando todas as possibilidades que a casualidade
ou o destino jogava bem na minha cara. Poderia ser mais imbecil da minha
parte?
— Tudo bem então, moço. Preciso tratar dos meus ferimentos e você,
dos seus. Mais uma vez, me desculpe. Agora eu preciso ir!
Eu certamente passei a impressão errada, pois a postura de Jules
tornou-se defensiva e então, sem mais nem menos, a garota simplesmente
saiu correndo, me deixando ali sem entender porra nenhuma.
Passei as mãos pelo cabelo, frustrado e sem ação, observando-a se
afastar enquanto tentava não mancar. Seria engraçado se ela não estivesse
machucada.
Se eu for atrás dela, vou acabar assustando-a, pensei, odiando minha
lentidão em tomar uma atitude em relação a Jules.
— Droga! — Só me lembrei das escoriações quando senti a dor do
contado da ferida aberta com meu cabelo.
Eu tinha perdido todo o pique da corrida, e ainda precisava passar na
farmácia antes de voltar para casa. Acabei pisoteando algo quando me virei
para ir embora e não demorei para descobrir o que era. O iPod dela… Sorte
ou azar?
Já estava próximo do meu apartamento quando reconheci Jules,
entrando num dos prédios vizinhos.
Uau, que mundo pequeno. Tão perto e, ainda assim, tão longe.
“Hoje vai ser o dia
Que eles vão devolver isso para você
E neste momento você devia, de algum modo
Ter percebido o que tem de fazer
Eu não acredito que alguém
Se sinta do modo como me sinto
A seu respeito neste momento…”
WONDERWAL - OASIS
— Javier está apaixonado — disse Hani, batendo palminhas, animada.
— Como assim? Você mal chegou a Nova Iorque e já encontrou a
metade da sua laranja? — perguntou Zayn, mais curioso do que aparentava.
Eles ainda estavam de férias, em Santorini, mas minha amiga mandona
insistiu em outra chamada de vídeo.
— Não estou apaixonado, só muito interessado em uma pessoa —
confessei, um tanto sem graça.
Eu não costumava falar sobre minha vida sentimental na frente de
Zayn, mas Hani não conseguiu se conter.
— E o que te impede de tê-la? — ele quis saber.
Já que eu estava na chuva…
— Aparentemente, Jules acredita que os homens engravatados da
Stanton Tower são mais frios que iceberg. Ela adora ler aqueles livros onde
os grandes empresários são cheios de manias extravagantes e exalam uma
autoridade e possessividade aparentemente sensual.
Hani começou a rir sem parar.
Zayn franziu a testa, mas não conteve o sorriso.
— É, esses livros acabam com a gente — comentou meu amigo,
olhando enigmaticamente para sua noiva.
— Alto lá, campeões — protestou Hani. — Esses livros são ótimos
estimulantes para a imaginação feminina! Nós, mulheres, gostamos do
romance, mas não acreditamos em contos de fadas. Sabemos que não existe o
príncipe encantado, só queremos uma história que nos deixe com frio na
barriga e coração acelerado. E por que não uma calcinha molhada?
— Hani!
Foi minha vez de rir com a expressão de espanto no rosto de Zayn.
— Não me olha com essa cara, Habib! — Ela se fez de desentendida.
— Você não deve nada para os mocinhos literários!
O sorriso cínico brotou nos lábios do homem, e ele voltou a assumir a
postura confiante como de costume.
— Talvez seja o que a sua garota esteja procurando, Javier —
argumentou Zayn. — Se ela gosta tanto desses livros, o mais provável é que
deseje encontrar um homem à altura dos personagens, e não me refiro ao
dinheiro ou ao fato de serem executivos.
— Ainda não entendi aonde você está querendo chegar.
Hani interveio:
— Você me enviou mensagem no outro dia perguntando sobre Gideon
Cross. Ele é um personagem de livro que tem mania de controle, é lindo de
morrer e faz de tudo para obter a mulher que deseja.
— Eu sou lindo de morrer? — provoquei.
— Não responda — interferiu Zayn, mal-humorado.
— Parem com isso, rapazes — ralhou. Olhando para mim, ela
continuou: — Já te dei a ideia de criar algum tipo de jogo erótico para
envolver Jules e despertar o interesse dela. Sua garota quer se aventurar em
algo diferente. Proporcione isso. Ter um admirador secreto é sempre
interessante e acontece muito em livros de romance.
— O que mais posso fazer além de continuar a trocar e-mails? —
perguntei confuso.
Já havia passado um relatório completo a Hani sobre minha troca de e-
mails com Jules, mas não tive coragem de contar sobre o encontro no Central
Park. Eu sabia que tinha perdido uma ótima chance de me aproximar da Srta.
Atrevida e não precisava ter Hani me repreendendo pela minha falta de
iniciativa.
Estava sendo um covarde, não podia negar.
— Esses e-mails foram o pontapé para deixá-la curiosa a seu
respeito, querido. Assim que criarem uma conexão maior, tenho certeza de
que você pensará em algo. Terão de ultrapassar a barreira imposta pela
internet e se conhecerem pessoalmente, certo?
— É o que quero. — Só não fazia a menor ideia de quanto tempo
levaria.
Eu já havia me arrependido por ter começado a me corresponder com
Jules daquela forma atrevida e estava quase certo de que não continuaria com
aquele jogo. Mas depois do desastroso encontro no parque, e ouvindo Hani
dizer aquilo diante de um Zayn complacente, novamente eu me pegava
pensando em manter a estratégia.
Era o que parecia surtir algum efeito sobre Jules, no momento.
— Use os livros a seu favor — Hani continuou. — Você pode aprender
algumas coisas bem legais com esses personagens. Eles são sempre tão
intensos e dispostos a fazerem tudo para verem suas mulheres felizes! Aí está
o ponto principal, nós gostamos de ser prioridade na vida de nossos amados.
Então, Javi, torne-se uma junção de todos esses mocinhos e Jules ficará
caidinha por você, com certeza!
— Isso soa tão diabólico vindo de você — Zayn acusou sua namorada,
estranhamente bem-humorado.
— Eu me surpreendo com a minha capacidade incrível para ideias
inteligentes — disse Hani, nada modesta.
— Vocês, definitivamente, são o casal mais estranho que já conheci!
Aquela ideia era pura loucura, não havia a menor dúvida. Contudo,
acabei gostando do desafio. Não porque conquistar Jules era um jogo para
mim, mas justamente pelo empenho que eu precisaria dedicar para ter sua
atenção. Jamais faria algo assim por qualquer mulher. Entretanto, por Jules
Clarkson eu estava disposto.
— Assim que você conquistar essa mulher, preciso conhecê-la —
comentou Hani, me tirando dos devaneios.
— Por que, Hani? — foi Zayn quem perguntou.
A garota deu de ombros, mas encarou seu homem com um sorriso
diabólico.
— Ora, porque ela será uma das madrinhas do nosso casamento, Habib.
— Segurou o rosto de Zayn entre suas mãos. — Portanto, trate de torcer para
Javier!
Olhando para mim com uma expressão ameaçadora, Zayn falou:
— Você a ouviu, homem. Ganhe a mulher. Ela está no seu futuro!
— Você por aqui outra vez, acho que estou com sorte. — O tom de
flerte era evidente na voz de Brittany Carlton. — Esqueceu de me ligar,
Javier?
A jornalista que conheci da primeira vez que estive na Oásis havia
escrito uma matéria sobre mim, numa revista de fofocas. Nem me dei ao
trabalho de ler, mas Emma sempre me informava desses assuntos.
Ela estava muito bonita em um vestido de paetês, preto, que deixava
quase nada para a imaginação. O cabelo ruivo estava preso em um coque
elegante e ela usava um par de brincos enormes. Mas Brittany
definitivamente não era o tipo de mulher que me atraía, além disso, seu
comportamento invasivo me irritava.
— Na verdade, eu não tinha motivo algum para entrar em contato, Srta.
Carlton — Usei um tom polido, tentando não soar grosseiro.
Eu não queria passar o resto da noite sendo entrevistado.
O sorriso de Brittany vacilou, mas logo ela recuperou a postura
confiante.
Eu estava sentado em uma banqueta, no bar da área VIP, aguardando
Alexios e sua namorada. Brittany havia se sentado ao meu lado, e não parecia
disposta a me deixar em paz.
— Vocês se acham os superiores, não é? — perguntou com desdém,
enquanto bebericava um coquetel de frutas.
Não respondi, pois considerei algum tipo de provocação e não era do
meu feitio entrar em discussões desnecessárias. Ela podia dizer o que bem
entendesse, eu não dava a mínima.
— Alexios Kallias é mais arredio — Brittany continuou seu monólogo.
— Mas o seu silêncio deliberado é realmente ofensivo, Sr. Stanton.
Virei-me para encará-la. Seu tom amargo não passou despercebido.
— Estou quieto porque você parece gostar de falar bastante, Srta.
Carlton. Além disso, está sempre um passo à frente, sabendo de tudo. Não é
verdade? Como a sua matéria a meu respeito naquela revista.
Ocupei-me com uma long neck, me esforçando para não a deixar ali
falando sozinha. Eu era esperto o bastante para entender que ter uma inimiga
como Brittany seria tão incômodo quanto ter pregos dentro da cueca.
— Ah, então é isso. Você acha que quero escrever outra matéria a seu
respeito…
Dei de ombros.
— Só não me sinto confortável conversando com alguém que pode usar
qualquer assunto para arrancar informações a meu respeito e usá-las da
melhor forma que convier.
— Entendo. — Seu tom era complacente agora. — Acho que minha
abordagem é um tanto intimidante, ao que parece. É esse o meu problema?
— Pensei que soubesse, não foi intencional? — provoquei.
Ela franziu o cenho, ligeiramente incomodada.
— Na verdade, não. Eu sou uma pessoa direta, apenas isso.
Assenti em silêncio, voltando a me concentrar em minha cerveja
enquanto ela terminava sua bebida.
— Obrigada pelo feedback, Sr. Stanton — disse Brittany, algum tempo
depois. — Tenha uma excelente noite.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, a jornalista intrometida se
retirou, me deixando um tanto confuso. Eu não gostei da sensação incômoda
de tê-la ofendido ou chateado, mesmo que ela não fosse uma pessoa que eu
considerasse agradável como companhia.
Mal tive tempo de pensar a respeito, pois logo em seguida Alexios se
aproximou, acompanhado de uma mulher simplesmente deslumbrante.
— Stanton, é bom revê-lo!
— Digo o mesmo, Kallias. — Levantei-me para cumprimentá-lo.
— Deixe-me te apresentar minha namorada, Lauren.
Alexios e Lauren formavam um casal bonito e eram muito mais tranquilos
que os furacões Zayn e Hani. Passamos um bom tempo juntos, bebendo e
conversando. Eles eram obviamente felizes e loucamente apaixonados um
pelo outro, bastava observar a forma com que se olhavam.
Acabei me dando conta de que sentia certa inveja do casal.
Eu queria ter alguém que me olhasse da mesma forma que Lauren
encarava Alexios e queria olhar para uma mulher da mesma forma que
Alexios olhava para sua namorada. Desejava a cumplicidade, a intimidade, a
certeza de ter encontrado alguém que simplesmente me completasse. E com
isso eu também invejava Zayn e Hani.
Acabei me sentindo constrangido pela constatação do fato, e um pouco
incomodado. Pensei em Jules e em nossa interação totalmente fora do
convencional, deixando vir à tona uma onda de insegurança e despeito que
estragou meu humor.
Antes que o casal reparasse, tratei de me despedir, usando a chegada de
Rachel como desculpa para me retirar.
— Foi um prazer conhecê-lo, Javier — disse Lauren, num tom gentil.
— Até a próxima, amigo! — Acenou Alexios assim que me levantei.
— Ah, não! Você não pode ir embora agora, acabamos de chegar!
Virei-me na direção da voz conhecida, me deparando com Hani e Zayn.
Encarei Alexios em uma pergunta silenciosa e, pela expressão dele, estava
tão surpreso quanto eu.
— Hani quis fazer uma surpresa — explicou Zayn, ao me cumprimentar
com um abraço. — Ela sabia que Lauren e Alexios estariam por aqui, mas
você foi um bônus, Stanton.
Por insistência do casal recém-chegado, acabei ficando mais um pouco.
Mal podia acreditar que havia realmente feito o que fiz. Foi excitante
pra caralho, mas minha consciência se contorcia em culpa.
Não foi certo… Porra! Não foi certo!
Cometi um grande erro ao ceder à sua provocação. Sabia que Jules
estava reagindo motivada pela mágoa que lhe causei no dia anterior, e de
certa forma foi isso que me convenceu a ir até ela. Mas perdi o controle, me
deixei levar pelo desejo e nosso jogo secreto.
Fui fraco! Ela estava vulnerável e se arriscou em um encontro às cegas
com um desconhecido.
Meu Deus, onde eu estava com a cabeça?
Onde ela estava com a cabeça?
Cada segundo foi o céu e ao mesmo tempo o inferno. Seu gosto em
minha boca, o aroma inebriante, o corpo se moldando ao meu. Nenhuma
mulher mexeu comigo como aquela mulher sexy e maluquinha.
Eu soube, ali mesmo, que estava ferrado. Não se tratava apenas de uma
atração louca e alucinante… eu não correria tantos riscos por qualquer outra
mulher. Mas quando Jules Clarkson estava na jogada, o desejo de ser tudo o
que ela tanto precisava praticamente corria pelas minhas veias e eu nem sabia
ao certo o motivo.
Então por que estou me sentindo um merda de homem?
Assim que saí da Stanton Tower, avistei Phillip me aguardando na
calçada. Caminhei até ele, inquieto e irritado comigo mesmo.
Eu não a beijei. Não queria fazer isso sem que Jules soubesse quem eu
era.
Um beijo significava muito, ao menos para mim. Envolvia mais do que
apenas desejo e, embora já tivesse beijado outras mulheres sem me sentir
emocionalmente envolvido, era uma forma mais íntima de explorar a outra
pessoa e descobrir se a conexão entre os corpos seria intensa de uma forma
diferente da apenas carnal.
Beijar era uma preliminar preciosa.
No fundo, eu sabia que se a tivesse beijado, teria arrancado sua venda e
me revelado de uma vez por todas. Porém, algo em meu íntimo tinha receio
de que Jules me rejeitasse outra vez.
Assim que tranquei a porta da saída de incêndio, no andar superior ao
que estive com ela, fiz uma chamada para o chefe de segurança do edifício,
pedindo que monitorasse a saída de Jules a fim de liberar o acesso às escadas
quando ela finalmente fosse embora. Foi uma manobra ousada, digna
daqueles personagens controladores e obsessivos que conheci lendo os
romances eróticos.
As mulheres realmente se apaixonam por caras assim?
Antes de entrar no carro, rumo ao meu apartamento, parei
abruptamente, simplesmente não conseguindo seguir adiante.
Como será que Jules está se sentindo agora?
— Senhor… — ouvi Phillip me chamar e apenas acenei um gesto
negativo.
“Siga o seu coração, cara! Vá atrás dela e conte a porra da verdade!”
Maldito subconsciente atrasado!
— Já volto, Phil. — Virei-me na direção da Stanton Tower e, decidido,
dei passos largos para dentro.
Jules ainda estava lá, e talvez eu tivesse a oportunidade de colocar tudo
em pratos limpos. Podíamos encerrar aquele jogo insano, nos acertando de
uma vez por todas ou terminando tudo definitivamente.
Assim que passei pela porta giratória, engoli em seco quando meu olhar
encontrou o seu através do vidro. Enquanto eu entrava, Jules estava de saída.
Sua expressão desolada causou um aperto em meu peito, algo que só
senti quando descobri que minha mãe havia falecido. Nunca pensei que
sentiria aquela dor outra vez, não tão cedo. Não sem ter perdido alguém que
muito me importasse.
Já dentro do edifício, não olhei para trás. Simplesmente não consegui,
porque havia entendido o que tanto me incomodava: algo dentro de mim
sabia que a havia perdido.
Estraguei tudo!
Assim que voltei ao meu apartamento, após o jantar com meus amigos,
dispensei Phillip e fui tomar banho. Ainda me sentia inquieto e sabia que
seria uma noite de merda se eu tentasse dormir àquela hora.
Não estava com ânimo para me distrair na academia e até tentei pegar
um livro para ler, mas minha mente não se concentrava. Irritado, me levantei
e fui até o closet me vestir, decidido a sair de casa a fim de um pouco de
distração.
Fui dirigindo, mesmo sabendo que pretendia beber pelo menos uma
cerveja. Não era o correto, mas eu não estava dando muita importância às
regras naquela noite.
Acabei optando pelo mesmo pub que frequentei na semana anterior, e
foi a melhor escolha que eu poderia ter feito.
Quando ouvi aquela música sendo cantada por uma mulher no karaokê,
meu corpo reagiu instantaneamente e eu soube de quem se tratava.
— I threw a wish in the well, don't ask me, I'll never tell, I looked to
you as it fell, and now you're in my way…
Call Me Maybe, de Carly Rae Jepsen. A música que coloquei no iPod
de Jules, como uma mensagem subliminar.
Jules estava simplesmente maravilhosa em cima daquele palco.
Percebi sua insegurança diminuindo conforme as pessoas começaram a
levantar de suas mesas para dançar. Ela tinha uma voz bonita, embora tímida
pela exposição.
Eu não consegui desviar meu olhar, completamente hipnotizado. Em
um jeans justo, que realçava suas curvas perfeitas, ela dançava ao som da
música, até que seu olhar encontrou o meu. Por alguns segundos, senti que
vacilou, mas Jules não demorou para recuperar a compostura e continuou o
show, ignorando minha presença.
Não, maluquinha. Desta vez você não vai fugir. Eu vou agarrar essa
segunda chance com todas as minhas forças!
Mesmo nervosa, Jules irradiava uma energia vibrante que dava a
sensação de ter o mundo ao meu redor parando de se movimentar para que a
atenção fosse fixada nela com exclusividade.
É ela. A mulher que vai se tornar meu mundo. O pedaço da alma que
faltava se encaixar na minha. Caralho! É ela sim!
Foi naquela noite que eu me descobri completamente apaixonado por
Jules Clarkson.
“Não desistirei de nós
Mesmo que os céus fiquem violentos
Estou lhe dando todo meu amor
Ainda olho para cima
E quando precisar de seu espaço
Para navegar um pouco
Esperarei pacientemente
Para ver o que você descobrirá…”
I WON'T GIVE UP - JASON MRAZ
— Quando me virei para ver quem era a dona da voz no karaokê,
jamais cogitei que pudesse ser você. Então pensei: não posso desperdiçar essa
nova chance. E aqui estamos nós. — Na verdade, eu pressenti que era ela no
instante em que ouvi sua voz, mas achei que a assustaria com essa revelação.
— Aqui estamos! — O sorriso cativante e os olhos sonhadores, como
diria meu avô, estavam direcionados exclusivamente para mim.
Saber que Jules não me era indiferente, embora tenhamos tido alguns
desencontros, me deixou esperançoso. Nossa conversa começou um pouco
confusa e até mesmo eufórica, ambos tentando dizer as coisas certas e
esclarecer qualquer mal-entendido anterior. Por fim, recomeçamos e tivemos
um bom momento juntos.
Minhas mãos seguravam as suas e ela não se desvencilhou do meu
toque, pelo contrário, parecia apreciar o gesto.
Algumas informações a seu respeito eu já conhecia, pois verifiquei seu
perfil nas redes sociais logo que descobri seu nome, e-mail e telefone. Mas
não quis bancar o stalker, então recebi cada revelação dela com verdadeira
empolgação, pois vê-la disposta a falar de si era um bom sinal.
Jules tinha vinte e três anos, nascida em San Francisco, na Califórnia.
Era filha única, assim como eu. Formou-se em jornalismo, em Yale, e seu
emprego na Revista Glow ainda era um estágio remunerado, mas ela tinha
acabado de receber uma proposta para um contrato de dois anos, e pude ver o
brilho da alegria em seus olhos, era um sonho se realizando.
— Seus pais devem estar muito orgulhosos de você.
— Ainda não contei a eles, mas sei o quanto ficarão animados. — Ela
sorriu. — Estou feliz e um pouco aliviada também. Eles sempre foram
protetores comigo e eu queria mostrar que posso me virar bem sozinha.
— Acho que está trilhando um bom caminho, tem menos de um ano
que veio para Nova Iorque e tudo parece muito bem.
— Eu tive alguns privilégios — confessou, parecendo envergonhada
em admitir. — Donna já trabalhava na revista e foi quem nos contou sobre o
estágio, Sarah e eu nos candidatamos e tivemos a sorte de sermos
selecionadas na mesma época. Então meus pais me presentearam com um
apartamento na Quinta Avenida e insistiram em manter um fundo fiduciário
para mim, embora eu não mexa em nenhum centavo. O fato é: sei que se a
coisa apertar para o meu lado, tenho a quem recorrer. Mas também é
justamente por isso, por ter recebido apoio e incentivo, que quero ter certeza
de que sou capaz de conseguir por mim mesma. Eles acreditam em mim, no
meu potencial, e isso é muito encorajador.
Eu gostava da sua percepção. Não se tratava de algum tipo de
orgulho besta ou teimosia. Jules vinha de uma família que tinha ótimas
condições financeiras e ela não renegava os privilégios, embora valorizasse a
importância de não depender exclusivamente deles.
— Sarah é a amiga que também se formou em jornalismo, na sua turma
de Yale — mencionei, apenas para ter certeza de que havia decorado a
informação corretamente.
— Isso!
— E Donna é a prima de Sarah, que se tornou sua amiga tão logo você
começou o estágio na revista.
— Exatamente! — Seu sorriso se expandiu. Jules parecia satisfeita por
eu ter me lembrado do que ela disse.
— Donna e Sarah dividem um apartamento, por isso você acabou
ficando sozinha — continuei.
— Uhum.
— E Violet era uma ex-estagiária, que foi efetivada no ano anterior.
Então agora vocês quatro são melhores amigas inseparáveis.
Jules afastou suas mãos das minhas, para bater palmas, me fazendo rir.
— Você prestou mesmo atenção em tudo o que eu disse, Javier! Estou
impressionada! Eu sei que quando me empolgo acabo falando demais…
— Eu disse que queria te conhecer melhor — interrompi, não
permitindo que ela se autodepreciasse. — Adorei que você tenha se sentido à
vontade para contar tudo o que considera pertinente.
— Que tal retribuir me falando mais sobre você?
Antes de continuar nossa conversa, fiz questão de segurar suas mãos
entre as minhas novamente.
O tempo pareceu voar enquanto conversávamos sobre todos os assuntos
possíveis. Descobrir seus gostos e desgostos e, inevitavelmente, fazer uma
lista mental de tudo o que tínhamos em comum fez as duas horas seguintes
não serem suficientes para aplacar minha sede de conhecê-la melhor,
tratando-se apenas um aperitivo. Ainda assim, eu já estava me entregando a
Jules numa bandeja de ouro, se assim fosse a sua vontade.
Enquanto alguns homens considerariam Jules Clarkson uma conquista
complexa demais para seus esforços, eu adorava cada camada desvendada. A
beleza jovial e sua personalidade ímpar pareciam ter nascido da alquimia
entre a oxitocina, serotonina e dopamina, com a sensualidade, espontaneidade
e sagacidade, acrescentando uma boa dose de malícia e uma pitadinha de
ingenuidade.
A mulher era um fenômeno da natureza!
Quanto a mim? Um homem sortudo da porra!
— Acho que fui abandonada por minhas amigas.
Estivemos tão entretidos um com o outro que me esqueci de dizer a
Jules que adoraria ser apresentado às três mulheres que nos observavam de
uma forma nada discreta. Quando finalmente me lembrei de mencioná-las,
elas sumiram.
— Eu posso te dar uma carona, somos vizinhos de prédio.
Eu podia tê-la beijado. Ansiava por isso.
Entretanto, uma coisa levaria à outra.
Não queria apressar nada.
Se eu tivesse beijado Jules, certamente acabaríamos na cama. E apesar
de ser algo que eu desejava muito, também temia.
Será que ela me associaria ao Sr. Engravatado?
Não achava que poderia guardar esse segredo dela, principalmente se
minha principal intenção era fazê-la se apaixonar por mim. Queria Jules na
minha vida por tempo indeterminado, pretendia ter um relacionamento sério
com ela, com grandes expectativas de um futuro juntos. Manter um segredo
como esse seria viver uma mentira, e não era assim que eu pretendia tê-la
comigo.
Precisava contar a verdade para Jules.
Como eu faria isso? Ainda não tinha essa resposta.
Ela estava tão bonita naquela manhã de sábado, apesar do mau humor
matinal quando falamos ao telefone.
Eu gostava da sua simplicidade. Jules vestia legging e camiseta e
calçava um par de tênis de corrida que, não pude deixar de notar, não tinham
cadarços como os que usava na manhã em que caímos. Seu cabelo estava
preso em um rabo de cavalo, alguns fios soltos, deixando-a com uma
aparência jovial. Ela havia pintado um quadro totalmente diferente da
realidade quando disse que estava cheia de olheiras, porque para mim sua
aparência estava perfeita, mas entendi que o exagero fazia parte de um típico
comportamento feminino.
— Abra, é um presente pra você. — Estendi a sacola de papel para ela.
Querendo de alguma forma agradar Jules, acabei tendo a ideia de
surpreendê-la com uma brincadeira em relação a ela ter tentado me fazer
recuar usando como argumento sua aparência nada atraente.
Espero que ela não torça para o Red Sox!, pensei, observando-a tirar o
boné dos Yankees e os óculos de dentro do pacote. Rachel o havia deixado
em meu apartamento quando a mandei de volta para Sydney e considerei que
foi por ter ficado chateada, querendo de alguma forma me afetar —
inutilmente — rejeitando o presente. A garota era consumista a ponto de não
usar a maioria das coisas que comprava, por isso eu sabia que ela nem
sentiria falta dos óculos. Quanto ao boné, eu o comprei no dia em que
visitamos o Yankee Stadium e embora ela tivesse pegado emprestado, ele era
meu.
Agora seria de Jules.
— Ei, o que você está fazendo? — perguntou desconfiada, assim que
tirei o boné de sua mão e o coloquei em minha cabeça, temporariamente,
puxando o elástico que prendia seu cabelo logo em seguida.
— Estou fazendo uma trança pra você usar o boné — expliquei
enquanto me posicionava atrás dela, começando a pentear seus cabelos com
meus dedos.
Eu tinha que tocá-la de alguma forma e trançar seu cabelo me pareceu
uma desculpa perfeita. Ajudar Thomas com Rachel me fez bom naquilo.
Senti o aroma doce e frutado de sua pele quando cheguei mais perto, me
deliciando com a suavidade do perfume que considerei ser de algum
hidratante corporal.
Afastei-me assim que percebi minha excitação dominar meu corpo, não
querendo tornar o momento constrangedor para nós. Era difícil controlar o
desejo por Jules, ainda mais estando assim, tão perto. Mas não queria assustá-
la, nós estávamos recomeçando e eu precisava fazê-la enxergar que queria
mais do que sexo.
O que mais me surpreendia ao estar com Jules era o clima descontraído,
como se a gente já se conhecesse há muito tempo e estivéssemos
acostumados à companhia um do outro.
— Vamos? — convidou, caminhando à minha frente.
Alcançando-a, peguei sua mão e entrelacei nossos dedos sem dizer
nada. Jules aceitou meu toque em silêncio e fomos em direção ao Central
Park, assim que me livrei do saco de papel em que trouxe os seus presentes,
jogando-o em uma lixeira.
Caminhamos em silêncio, apreciando a companhia um do outro.
Jules parecia pensativa e não quis interromper seu momento.
Foi difícil conter meu sorriso. Estava me sentindo um adolescente,
envaidecido por ter conseguido um encontro com a garota mais bonita do
colégio. Mal podia acreditar que, depois de todos os percalços, eu finalmente
tive minha chance com Jules e ela também sentia algo por mim, mesmo que
fosse só atração física.
Se déssemos uma chance, poderíamos descobrir até onde chegaríamos
juntos.
Se dependesse de mim, iríamos longe o bastante para não conseguirmos
mais trilhar qualquer caminho que não fosse acompanhado um do outro.
— Aqui — quebrei o silêncio assim que chegamos aonde eu queria.
— O que tem aqui? — Pareceu confusa, fazendo com que eu sorrisse
ainda mais, completamente deslumbrado.
— Tire os óculos e olhe à nossa volta.
— Foi aqui que nos conhecemos…
Ela se lembrava!
— Foi aqui que deveríamos ter começado. — Cheguei mais perto, mas
não tanto quanto eu gostaria. — Eu aceitando ir até o seu apartamento,
deixando você limpar e cuidar dos ferimentos na minha mão. Então eu a
convidaria para almoçar, como agradecimento. Você aceitaria e eu me
sentiria um cara sortudo. A partir dali, iria fazer o impossível para você
aceitar um jantar, depois outro jantar, e talvez até outro, para mostrar que eu
não era só um brutamonte que caiu em cima de você no parque, mas que
também poderia ser uma ótima companhia.
— Então o que aconteceria depois de tudo isso? — Ela umedeceu os
lábios com a língua e eu quase não resisti ao impulso de tomá-la em meus
braços.
— Você ficaria louca para me beijar. — Sorri, satisfeito com sua
reação surpresa.
Dei mais um passo à frente, observando-a fechar os olhos quando
toquei seu rosto, acariciando-a com suavidade. Minha respiração falhou, meu
coração parecia que ia sair pela boca.
“Um adolescente apaixonado, que tocante!”, debochou o gênio do mal
que habitava meu subconsciente.
— E o que você faria a respeito? — Sua voz falhou, mas eu sabia que
Jules estava tão envolvida quanto eu, numa bolha de encantamento e desejo.
— O que você acha que eu faria? — desafiei, meu polegar roçando seu
lábio inferior, quase cedendo ao descontrole.
Jules era consideravelmente mais baixa que eu, mas meu corpo estava
inclinado para ela e, quando a vi levantar-se na ponta dos pés, me inclinei um
pouco mais. Ela segurou meu rosto entre suas mãos e nossas respirações se
misturaram.
— Eu não sei o que você faria — disse ela, sorrindo de um jeito que me
hipnotizava. — Mas sei o que eu vou fazer agora.
Foi Jules quem me beijou, e eu não demorei nem um segundo para
corresponder, aproximando nossos corpos e aprofundando o beijo, mantendo
a calma, mas não a intensidade.
Ignorei o boné caindo no chão e qualquer outro movimento que não
fosse o de nossas línguas se encontrando. Mantive uma das mãos em seu
rosto e a outra desceu até sua cintura, trazendo-a para mais perto de mim,
colando nossos corpos. Jules se apoiou em meus braços e a mão que tocava
seu rosto agora escorregava sem pressa até suas costas, movimentando-se
devagar, subindo e descendo, num toque sutil.
Havia tantas palavras não ditas naquele beijo e uma saudade
inexplicável. Era como se eu estivesse esperando por ela há muito mais
tempo do que apenas algumas semanas. Foi tão sublime… tão surreal que me
acertou em cheio.
Nunca um beijo foi tão perfeito quanto aquele.
Nunca uma mulher mexeu tanto comigo quanto ela.
Podia soar piegas, mas que se foda! Eu estava me sentindo nas nuvens.
O desejo latente misturado a uma onda de emoções conflitantes me fez
recuar, mas consegui manter a calma. Ambos estávamos sem fôlego e
acabamos rindo, nem sei por quê.
Tudo entre nós era diferente.
Leve e intenso ao mesmo tempo.
Eu precisava manter a calma. Não podia apressar as coisas ou poderia
colocar tudo a perder.
— Eu sou um cara de sorte — falei adotando um tom mais debochado.
— Seu cabelo pode estar desgrenhado, seu rosto inchado de tanto dormir,
mas ao menos você não tem mau hálito e beija muito bem.
Eu sabia que não era algo romântico de se dizer, mas precisava
descontrair um pouco. Quebrar o clima erótico e apaixonado, antes que
acabasse metendo os pés pelas mãos.
No fundo, eu sabia que estava sendo um covarde, mas precisava de um
pouco mais de tempo.
— Você sabe estragar o clima, hein? — Ela deu um tapinha em meu
braço, fazendo-se de irritada, e eu não podia a achar mais linda.
Quando Jules sugeriu que eu fosse até seu apartamento, meio que entrei
em pânico. Eu sabia que se ficássemos a sós o clima entre a gente não
demoraria a esquentar.
Mesmo que a desejasse loucamente, ainda tinha medo de que ela me
deixasse.
Nós fizemos sexo uma vez, embora não tenha sido algo convencional.
Sequer nos beijamos durante o ato. Mas, ainda assim, foi íntimo e intenso.
Se ela percebesse durante uma segunda transa que aquela não era nossa
primeira vez, eu não sabia o que poderia acontecer.
Precisava que Jules me conhecesse melhor, para quando eu lhe contasse
a verdade, ela acreditasse que minhas intenções foram as melhores e não um
jogo onde minha intenção foi apenas usá-la para meu próprio prazer.
Eu estava apaixonado e desejava ardentemente que ela também se
apaixonasse por mim, assim haveria uma chance de ser perdoado.
Não queria tê-la chateado, mas sabia que tinha feito mesmo sem
intenção.
Por mais que Jules negasse, eu podia sentir.
Precisava fazê-la entender meu receio, mesmo que ainda não
conseguisse confessar o verdadeiro motivo de tanto medo.
Quando liguei para ela, fui sincero em cada palavra, ainda que omitisse
muitas outras.
Ela me desejava, ansiava por mim.
Saber que eu exercia essa atração sobre ela me deixava excitado e
esperançoso.
— Ah, maluquinha. Será que você vai me perdoar quando souber a
verdade?
“Estou pensando em como
As pessoas se apaixonam de maneiras misteriosas
Talvez apenas o toque de uma mão
Eu, me apaixono por você a cada dia
Eu só quero te dizer que eu estou…
Quando Jules olhou para o Audi R8 Spyder branco que eu havia recém-
adquirido, tive certeza de quais eram os seus pensamentos. O sorrisinho
malicioso não me passou despercebido.
Eu sabia que aquele era um dos carros de Christian Grey, citado em 50
Tons de Cinza. Foi justamente por isso que o havia comprado. Isso foi logo
depois de eu ter decidido levar adiante aquele jogo de Sr. Engravatado, mas o
modelo precisou ser encomendado e tinha sido entregue naquele dia.
Fiquei receoso no começo, mas depois pensei melhor e achei que seria
interessante que ela me associasse a um dos seus mocinhos literários, sem
que eu precisasse voltar a ser o Sr. Engravatado.
Será que contaria pontos a meu favor?
Eu sabia que para Jules não era o dinheiro ou meu status social que
importava. Ela, mesmo tendo condições financeiras de viver no luxo,
mantinha uma simplicidade que nem toda garota na idade dela, com os meios
disponíveis, teria.
Nova Iorque era uma cidade cara e cheia de tentações, mas apesar de
um dos maiores sonhos de Jules fosse viver na Big Apple e ter seu
apartamento na Quinta Avenida, para ela era muito mais importante
desperdiçar uma hora do seu horário de almoço só para se deslocar da Wall
Street até o Central Park apenas para se sentar no gramado e comer um
cachorro-quente na companhia das melhores amigas.
Ela não queria o glamour, mas a liberdade de viver um sonho.
— Jules, querida. Chegamos.
Ela acabou adormecendo durante o trajeto até seu apartamento. Eu
demorei um pouco mais que o considerado normal, por cautela e também por
detestar o trânsito novaiorquino.
— Oi. Acho que peguei no sono.
Seu sorriso preguiçoso me fez querer beijá-la, mas me contive.
Nosso diálogo foi curto até que o silêncio prevaleceu outra vez, mas
ficamos ali, parados, encarando um ao outro sem que precisássemos dizer
qualquer coisa.
Será que meu avô está certo? Será que ela já se apaixonou por mim?
Se comigo aconteceu tão rápido, por que com ela não pode ter sido
igual?
“Quem é que está inseguro agora, Stanton?”
Ignorei meu subconsciente e me lembrei de que tinha um convite a
fazer.
— Meu sócio está vindo para Nova Iorque, mas isso você já sabe. O
que você ainda não sabe é que darei um jantar de boas-vindas, em meu
apartamento, para Thomas e Rachel. Eles chegam na quarta, mas nos
reuniremos na quinta-feira. Quero muito que você me faça companhia.
Aceita?
Jules levou algum tempo para responder e eu soube que seus
pensamentos deviam estar a mil por hora, em um pequeno conflito interno.
Aos poucos eu ia aprendendo a entendê-la.
A mente da minha garota era uma pequena caixa de Pandora, tornando-
a imprevisível.
— Vou adorar conhecer o seu apartamento. Seu sócio e sua afilhada
também, é claro.
Sorri, satisfeito com a resposta, embora soubesse de sua relutância
quanto a se encontrar com Rachel oficialmente.
— Não se preocupe com Rachel, ela é apenas minha afilhada.
— Eu sei.
Embora demonstrasse estar confiante, o leve tremor em seus lábios
quando me deu um sorriso tímido, denunciou sua insegurança.
Eu tinha que dizer a Jules como me sentia, o quanto antes, para fazê-la
entender de uma vez por todas que não havia nenhuma outra mulher capaz de
despertar em mim o que somente ela conseguia.
“Talvez a redenção tenha histórias a contar
Talvez o perdão esteja onde você sentiu
Pra onde você pode fugir para escapar de si própria?
Pra onde você quer ir?
Pra onde você quer ir?
A salvação está aqui…”
DARE YOU TO MOVE - SWITCHFOOT
— Javi! — Rachel se jogou nos meus braços assim que as portas do
elevador se abriram.
Eu os aguardava em minha cobertura.
Thomas apareceu logo atrás dela e fez uma careta, rindo em seguida.
Ele já estava acostumado à forma como Rachel se comportava comigo,
porque desde pequena ela era assim, efusiva. Acho que o fato de a garota se
comportar da mesma maneira com ele não dava margem para nenhuma má
interpretação.
Talvez por isso eu relutasse em achar que Rachel pudesse sentir algo
por mim além de um amor fraternal.
Apesar de nunca ter dito em alto e bom tom, eu percebia nas
entrelinhas e frases de duplo sentido o que ela tentava me transmitir. Rachel
era esperta, jamais se colocaria em uma situação que lhe fosse constrangedora
e eu nunca lhe dei qualquer abertura. Sendo assim, continuávamos a agir
como tio e sobrinha, mesmo sem nenhum grau de parentesco sanguíneo.
Ela estava crescendo e com os sentimentos confusos, era nisso que eu
preferia acreditar. Por ser mimada e acostumada a ter tudo o que sempre
desejou, justamente por Thomas e eu sempre satisfazermos seus caprichos,
tentando compensar a falta de uma mãe, ela havia se tornado possessiva em
relação a nós dois.
— Olá, moleca! — brinquei, deixando claro que eu ainda me lembrava
da sua travessura.
Rachel se afastou do abraço, fazendo uma careta de óbvio desagrado. O
nariz arrebitado e a postura imponente, que eu conhecia muito bem, era a
maneira de ela tentar se mostrar a adulta que ainda não era. Ajeitando os
longos cabelos loiros para trás do ombro, a garota me deu um sorriso forçado.
— Pare de me tratar como uma criança, Javier.
— Tente não se comportar mais como uma, querida — suavizei o tom
de voz, ignorando-a em seguida para cumprimentar meu sócio e melhor
amigo. — Você parece mais velho, Thom. Seu cabelo está ficando grisalho
ou é impressão minha?
Ele riu, retribuindo o abraço.
— Culpa da nossa garotinha, que está me dando mais trabalho do que
quando tinha sete anos e nós nos revezávamos para cuidar dela e estudar para
as provas na faculdade.
— Certo, vocês armaram algum tipo de complô contra mim? —
reclamou Rachel, com os braços cruzados e uma expressão irritadiça. — Foi
pra isso que viemos a Nova Iorque, papai? Uma bronca em dose dupla?
— Você sabe que cometeu um grande erro, querida — intervi num tom
gentil, me aproximando dela, colocando um dos braços por sobre seu ombro,
puxando-a para perto de mim. — E nós, como seus protetores, não vamos
simplesmente fingir que não aconteceu. Mas conversaremos sobre isso outra
hora, hoje você está livre de um sermão em dose dupla.
— Sua garota já chegou, Stanton? — perguntou Thom enquanto eu os
acompanhava até a sala de estar.
Thomas e Rachel estavam hospedados no Mitchell Royal Palace, por
insistência do meu amigo, pois eu havia lhes convidado para ficarem em meu
apartamento. Ele estava na cidade a negócios e o hotel oferecia algumas
regalias como sala de reuniões. Realmente era mais cômodo, já que os
empresários com quem se encontraria também se hospedariam no hotel.
— Ainda não, mas não deve demorar.
— Que garota? — perguntou Rachel, sentando-se em um dos sofás
enquanto Thom e eu íamos ao frigobar preparar nossos drinques.
— Seu padrinho tem uma namorada, filha.
Jules estava com o olhar fixo no grande armário do hall, quando me
aproximei para recebê-la.
— Boa noite, maluquinha. — Beijei seu rosto, me deliciando com o
perfume dela que havia se tornado meu novo vício.
— Estou impressionada. — Virou-se para me encarar e pude ver seus
olhos brilhando de encantamento. — Você tem o portal para Nárnia no hall
do seu apartamento. Quando podemos nos casar?
Soltei uma risada, sem conseguir me conter.
Como ela conseguia ser tão divertida e espontânea, num piscar de
olhos?
— É só um armário para guardar os casacos. — Dei de ombros.
— Se você está dizendo… mas eu moraria dentro desse armário sem
pestanejar.
Não podia negar que aquele armário fazia toda a diferença no ambiente.
Ele foi um dos pontos altos que me fizeram decidir pela compra do imóvel.
— Eu não duvido disso. — Ri outra vez.
Ela mal havia chegado e meu humor aumentou consideravelmente.
Sentia-me tão vivo em sua presença.
— Seus convidados já chegaram?
— Sim, mas a convidada de honra acabou de chegar.
Jules se aproximou de mim, pousando as mãos em meu tórax. Prendi a
respiração, tentando me controlar para que ela não percebesse o meu coração
batendo descompassado.
— Você é um fofo. Minhas amigas dizem isso o tempo todo, estou
começando a acreditar!
— Você é uma fofa — falei, tentando não soar abobalhado.
— Seus amigos dizem isso?
— Meu avô é quem diz.
Ela se afastou antes que eu pudesse beijá-la e começou a desabotoar o
sobretudo preto. Engoli em seco, tentando não deixar transparecer meu
desconforto.
Era o mesmo casaco que ela usou no dia em que cometemos aquela
loucura na escadaria da Stanton Tower. Também reparei que os sapatos eram
os mesmos.
Tenho que contar a ela logo…
Eu sabia que não podia protelar aquela conversa por muito mais tempo,
mas entre o saber e ter a coragem para agir havia um enorme abismo: o medo.
— O que houve?
— Acho que prefiro você sem o casaco — justifiquei, tentando não
parecer tenso.
Ajudei Jules a tirá-lo e abri o armário, ajeitando a peça de roupa em um
cabide.
Era um armário em madeira de demolição, com flores e borboletas
talhadas nas portas. Mas não era um simples móvel. Na verdade, a peça fazia
parte da construção, pois apesar de parecer que havia sido colocado ali, ele
foi feito exclusivamente para encobrir a entrada secreta de um quarto do
pânico.
Voltei-me para ela, ficando embasbacado.
Jules usava um vestido preto que a deixava sexy e elegante. Eu estava
me acostumando a vê-la em legging e camiseta, quando saía para caminhar
no parque, ou em jeans que deixavam suas curvas sensuais, quando saía para
curtir com as amigas. Até seus trajes executivos a tornavam uma mulher
sofisticada, embora a aparência jovial e sua espontaneidade lhe dessem um ar
de garota crescida. Mas a mulher que eu via à minha frente, me encarando
com expectativa e sorrindo como se eu fosse alguém especial, era uma
mistura das três e eu estava completamente fascinado.
Ela era jovem, sonhadora e tinha um senso de humor apurado e
desinibido. Era sexy, tímida, ousada e de bem com a vida.
— Você está linda, Jules.
Queria ter dito muito mais, porque não era de beleza física que eu
estava falando. Ia além da aparência, porque desde o primeiro momento em
que a vi, entrando naquele elevador cheio de homens sisudos, foi a aura em
torno de Jules que me conquistou logo de cara. Eu podia sentir que ela era
diferente de alguma forma, que parecia ser uma pessoa especial.
Bem, ao menos para mim ela era tudo isso.
— Venha, deixe-me apresentá-la aos meus convidados.
— Esse seu tom de voz não está me cheirando bem — comentei, assim
que atendi a ligação de Jules e percebi o excesso de serenidade ao me chamar
de querido.
— A senhora aqui da recepção acabou de dizer que você não se
encontra em seu escritório. Pensei que fosse me esperar em sua sala…
Como as mulheres conseguem dar um jeitinho de mostrar que estão
putas da vida usando um tom de voz tão delicado?
Eu tinha esquecido completamente de avisar a Emma sobre Jules.
Estou mais disperso do que imaginava!
Enquanto dirigia de volta para casa, pensei no que meu avô disse sobre
não julgar minha mãe e respeitar a decisão dela de não revelar quem era meu
pai. Dificilmente outro homem na situação dele faria o mesmo, ainda mais
quando a sociedade era hipócrita demais para ditar suas regras de como
deveria ser o comportamento adequado.
Minha mãe tinha dezenove anos quando ficou grávida. Estava na
faculdade e largou os estudos para se dedicar à gestação e depois a mim. No
fundo acho que ela optou por desistir por causa de meu pai, para que ele não
soubesse que estava grávida.
Quando era criança, eu tinha certa curiosidade sobre a identidade do
homem que contribuiu com a minha gestação. Mamãe sempre foi do tipo
amiga e costumava ser franca comigo, mas nunca me revelou quem ele era.
Dizia que não haveria ninguém no mundo capaz de me amar tanto quanto ela
e meu avô, e eu não precisava de um pai biológico para me tornar um homem
de bem, pois tinha um pai de coração, que, neste caso, também era o meu
avô.
Aprendi muito cedo que laços de sangue não determinam o amor
incondicional. Aos poucos fui percebendo que a escolha de minha mãe foi a
melhor para o meu bem, nosso bem. Quem quer que fosse o meu pai
biológico, essa ligação não era suficiente para fazê-lo me amar
incondicionalmente, e foi por isso que mamãe escolheu seguir sozinha com a
gravidez. Ela tinha seus motivos e eu confiava nela o bastante para acreditar
que tinha feito a melhor das escolhas. Nunca senti falta de ter um pai, porque
meu avô cumpriu esse papel. Além disso, nós tínhamos um laço de sangue
também e para mim sempre foi suficiente.
Quando conheci Thomas em todo o seu drama com a ex-esposa e o
abandono afetivo de Stella, mãe de Rachel, ignorando completamente a
própria filha, constatei que algumas pessoas, mesmo com a obrigação de
cumprir seu papel, não nasceram para ser pais. Stella não merecia ser mãe de
Rachel, assim como o homem que engravidou Samantha Stanton não merecia
ser meu pai.
Após a morte de mamãe, vovô perguntou se eu tinha o desejo de tentar
descobrir quem era o homem que havia me gerado. Eu disse que não. Estava
sofrendo com a perda prematura da mulher que eu mais amava, além de estar
em outro continente e começando minha vida adulta.
Só queria seguir em frente, do jeito que ela sempre me ensinou: cabeça
erguida e um coração honesto.
Um dia eu teria minha própria família e daria o meu melhor, tanto para
minha esposa quanto para os filhos que viríamos a ter. Honraria tudo o que
aprendi com mamãe e vovô e passaria adiante seus ensinamentos, além dos
meus aprendizados ao longo da vida.
Algo em mim apontava na direção de Jules quanto a esse sonho e foi
justamente por isso que não desisti no primeiro obstáculo.
Sentia em meu coração que ela era a pessoa certa para mim.
— Pensei que você fosse contar a Jules sobre… — Hani não concluiu,
pois ambos sabíamos exatamente sobre o que ela estava se referindo. —
Quase deixei escapar!
Eu já estava deitado em minha cama e caindo de sono quando ela me
ligou para contar que havia finalmente conhecido Jules. Zayn estava com
Alexios, tratando de negócios, e quando ela teve um momento a sós com a
minha garota, acabou se colocando numa saia justa.
— Era a minha intenção, mas depois que Jules voltou do banheiro
nossa conversa tomou um outro rumo — expliquei, não querendo entrar em
mais detalhes. — Eu sei que você se preocupa comigo, Hani. Sou grato a
todos os conselhos que tem me dado desde que conheci Jules e estive
tentando conquistá-la.
— Mas?
— Não tem um “mas”. — Soltei um longo suspiro. — Você está certa,
tenho que contar a verdade o quanto antes. Eu sei que estou me acovardando,
porra!
— Aproveite esses dias longe dela para colocar os pensamentos em
ordem, Javi. Talvez, quando voltar, já tenha tomado a coragem necessária.
— Não é mais uma questão de coragem, Hani. É sobre fazer o que é
certo e não posso mais continuar escondendo isso de Jules. Ela tem o direito
de saber.
— Se precisar de ajuda, qualquer coisa, sabe que pode contar comigo.
— Sim, eu sei. Obrigado.
— Boa noite, querido. E uma boa viagem também.
— Você está horrível — foi a primeira coisa que eu disse a ela assim
que Jules abriu a porta do seu apartamento, na manhã de sábado, parecendo
um completo desastre.
Fui forte o bastante para não rir, mas meu sorriso foi impossível de
esconder. A cena era engraçada e vê-la irritada por ter sido pega naquelas
condições enquanto eu estava impecável tornou tudo ainda mais divertido.
— Desculpe, Sr. Stanton, não saí de um conto de fadas — resmungou.
Peter, o zelador do prédio em que Jules morava, me deixou subir sem
comunicar minha presença. Ele já me conhecia das vezes em que esperei por
Jules na portaria, além disso, sabia quem eu era e isso contou pontos a meu
favor.
Era a primeira vez que eu ia ao apartamento dela, mas acho que Jules
estava com tanta ressaca da noite anterior que nem se deu conta disso.
Desencostei-me da parede do corredor para finalmente abraçá-la, mas
seu mau humor me alertou de que o melhor era ficar longe até que ela se
recompusesse.
— Não é um bom momento para você me abraçar. Eu bem que tentei
esconder minhas tendências homicidas, mas se você tocar em mim é capaz de
perder um braço. Então não se aproxime.
Eu me divertia com esse lado de Jules, porque ela não se importava em
posar de garota perfeita. Estava de ressaca, cabelos desgrenhados, olhos e
boca manchados por ter dormido com maquiagem, e uma meia fina rasgada
por não ter trocado de roupa quando chegou da Oásis. Ela não era exatamente
o tipo de pessoa que acordava feliz da vida e, desde que começamos a nos
ver, eu meio que aparecia ou ligava sempre nos momentos em que ela não
estava em sua melhor versão.
De todo jeito, Jules ainda era a mulher mais linda aos meus olhos.
— Desculpe-me, maluquinha. Mas foi inevitável. — Não fiz nenhuma
cerimônia ao entrar e me sentar no sofá, como se já tivesse estado ali várias
vezes.
— Fala sério, Javier. Estou me sentindo péssima e você aparece todo
lindo, dizendo que estou horrível. Além disso, essa dor de cabeça está
acabando comigo, se eu não estivesse apaixonada por você, seria um homem
gravemente ferido.
Era difícil me manter sério diante da sua indignação. Em pensar que há
dois dias eu não fazia ideia do que ela sentia por mim, agora Jules falava
abertamente sobre estar apaixonada, mesmo num contexto irritado.
Isso me deixava feliz e nem me dei ao trabalho de disfarçar.
E daí se não estava com o melhor humor? Ela continuava apaixonada
por mim!
— Sou um babaca insensível. — Segurei o riso, observando-a de pé em
minha frente, mantendo alguma distância.
Se ela estivesse um pouquinho mais perto, eu a puxaria para meu colo.
— Ah, sim! — Revirou os olhos, fazendo uma careta, mas estava se
segurando para não rir também. — Você é um babaca insensível.
Extremamente lindo, mas insensível.
Seu mau humor estava indo embora aos poucos, no fundo, Jules só
estava constrangida por eu ter aparecido em um dos seus momentos
vulneráveis.
— E o que eu posso fazer para me redimir com você?
Achei melhor não contar a Jules que pegaria o mesmo voo que Rachel e
Thomas.
Eu precisava parar de omitir informações, mas a tendência de Jules a
fugir de algumas situações me fazia recuar em certos momentos. Nós
teríamos que trabalhar isso, se quiséssemos que aquele relacionamento desse
certo, porém eu teria que dar o primeiro passo e ser mais sincero com ela.
Por uma infeliz coincidência, encontrei minha afilhada e seu pai assim
que descemos do táxi. Havia passado em meu apartamento para pegar a mala
e Jules me acompanhou até ali. A ideia era passarmos mais um tempo juntos
antes de eu embarcar, mas assim que Rachel se aproximou, eu soube, pela
expressão de Jules, que isso não ia acontecer.
— Javier! Nossos assentos são um do lado do outro, poderemos
conversar daqui até em casa. Não é o máximo? — Rachel se aproximou,
agindo de forma dissimulada, como se não tivéssemos tido aquela conversa
na outra noite.
Thomas observava em silêncio e eu estava puto, embora estivesse
conseguindo disfarçar. Eu teria que conversar com ele sobre o seu
comportamento passivo diante de momentos como aquele, onde Rachel
tomava as rédeas da situação.
— Estou cansado, Rachel. Não sei se terei energia o suficiente para ir
conversando com você por todo esse tempo. Mas é claro que teremos a
oportunidade de colocar os assuntos em dia. — Mantive um tom polido, sem
ser grosseiro, mas também não lhe dando espaço para ser mais invasiva.
— Cada minuto ao seu lado é precioso.
— Vamos fazer o check-in, Rachel — chamou Thomas, finalmente
tomando a porra de uma iniciativa.
— Tchau, Jules — disse Rachel, e eu sabia que era uma provocação
velada.
Puta que pariu! Essa garota está conseguindo me fazer detestá-la!
Assim que coloquei meus pés no salão de festas, eu já sabia que Jules
havia chegado. Enquanto perambulava à sua procura, fui parado algumas
vezes para ser cumprimentado e precisei esconder a impaciência, pois apesar
de meu avô ser o anfitrião da noite, eu era seu herdeiro e precisava cumprir
meu papel.
Talvez eu tenha bebido três ou quatro taças de champanhe,
distraidamente, enquanto socializava com os convidados e senti que aos
poucos o meu nervosismo diminuía.
Quando finalmente consegui me desvencilhar de um grupo de
empresários, eu a vi. Mesmo que estivesse usando uma máscara e alguns
metros distante, não foi difícil reconhecer Jules. Ela observava o cenário à
sua volta, e pelo seu sorriso eu sabia que estava encantada com tudo, como se
estivesse dentro de um dos seus livros favoritos.
Mantive-me à distância por um tempo, perscrutando-a sem que fosse
pego em flagrante. Ela segurava outra máscara em uma das mãos e eu sabia
que era para mim. Deslumbrante em um vestido longo, seus cabelos estavam
soltos e penteados para trás e um par de compridas luvas negras compunha o
visual elegante.
Simplesmente perfeita.
Soltei o ar dos pulmões e, adotando uma postura confiante, fui em sua
direção quando percebi que ela se refugiava em uma das varandas da mansão.
— Vai dar tudo certo — murmurei para mim mesmo enquanto me
aproximava.
Jules estava de costas para mim e aproveitando que ela não havia
percebido minha presença, eu me posicionei atrás dela e toquei sua cintura.
Assim que me inclinei para sussurrar ao pé do seu ouvido, fui nocauteado
pelo perfume de Jules e precisei de todo o meu esforço para não gemer e me
entregar à minha excitação.
— Eu disse que teria uma surpresa para você…
“Você não vai me salvar?
Pois a salvação é o que eu preciso
Eu apenas quero estar ao seu lado
Você não vai me salvar?
Eu não quero ficar
Apenas vagando através desse mar da vida…”
SAVE ME - HANSON
Assim que despertei na manhã de domingo, senti o vazio deixado por
Jules e soube que havia cometido outro erro. Talvez o maior de todos, maior
até que o sexo na escadaria da Stanton Tower. Então abri os olhos apenas
para constatar sua ausência, mas quando me sentei e puxei o lençol de seda
para cobrir minha nudez, identifiquei o vestido púrpura e uma ponta de
esperança surgiu. Levantei-me apressadamente e busquei por minhas roupas,
vestindo a boxer e a calça amarrotada, ignorando a camisa e percebendo a
ausência do meu smoking e da lingerie antes deixada no chão.
Merda, merda, merda!
Ela se foi.
Jules Clarkson fugiu de mim, mais uma vez.
O desespero começou a tomar conta, porque o fio de esperança que tive
ao ver seu vestido foi deixado de lado quando entendi que Jules tinha, sim,
ido embora e isso só podia significar que ela não aceitou a verdade de que o
Sr. Engravatado e eu éramos a mesma pessoa.
Obviamente, a culpa era toda minha. Foi minha decisão não dizer a
verdade com todas as letras, deixando para que ela descobrisse por si mesma.
Passei as mãos pelo cabelo, aflito, magoado e me corroendo com o
autojulgamento.
Senti os olhos arderem e sabia que estava prestes a chorar, engolindo
um gemido de agonia ao perceber a dor lancinante se instalando em meu
peito. Era uma dor profundamente emocional, como se o meu coração
estivesse se partindo.
A respiração acelerada fez com que eu amparasse minhas mãos na
mesa de frutas, intocada, fechando os olhos com força e sentindo as lágrimas
caírem, tendo a sensação incômoda e apavorante de que estava prestes a
sufocar.
Eu tinha inventando a desculpa de que meu voo havia atrasado, apenas
porque quis me esquivar de buscá-la em seu apartamento. Era como se algo
dentro de mim temesse que, ao vê-la, eu desistiria de levá-la ao baile, e se
isso acontecesse, certamente me esquivaria mais outra vez de dizer a verdade,
sempre inventando uma desculpa de que ainda não era o momento certo.
E o que fiz? Deixei que Jules descobrisse sozinha, ao me entregar a ela
de corpo e alma, acreditando que não haveria melhor maneira de fazê-la
entender que eu era o homem dos seus livros e que queria ser o homem de
sua vida.
Idiota! Estúpido!
Revivi em minha mente a expressão tensa de Jules se transformando
em genuíno alívio quando se virou para encontrar meu olhar com o seu,
assim que a abordei na varanda da mansão. Ali eu soube que ela havia me
associado ao Sr. Engravatado, mesmo que de forma inconsciente. E foi
naquele instante que decidi mostrar a verdade a ela sem que palavras
precisassem ser ditas. Um grande equívoco da minha parte, claro.
Um equívoco que fez com que Jules me abandonasse sem ao menos me
deixar explicar as razões pelas quais fiz o que fiz. Eu nem podia culpá-la de
fato, pois tive a oportunidade perfeita de ser sincero com ela e lhe dar a
chance de escolha, mas a desperdicei cedendo ao medo e me deixando levar
por um ideal romântico, onde todos os erros seriam esquecidos e perdoados e
um recomeço sem mentiras e segredos começaria a partir de então.
Como pude ser tão ingênuo ao pensar desta forma?
Eu não era mais um adolescente. Não podia justificar minhas atitudes
com atos impulsivos movidos pelo calor do momento, quando tudo o que fiz,
desde o início, foi de forma consciente.
Sempre soube dos riscos e os assumi.
Agora estava sofrendo as consequências.
Tão nítida, como um filme em full HD, a lembrança de Jules,
deslumbrante em seu vestido púrpura, com o corpo colado ao meu durante a
dança no salão do baile, tendo a máscara em seu rosto dando a ela um ar de
misteriosa sensualidade, era quase tão real que eu podia até mesmo sentir o
aroma do seu perfume adocicado.
“Há muitas coisas que você ainda não sabe, mas rezo todos os dias
para que me aceite com todos os meus defeitos. Eu juro, tudo o que mais
quero é ser o melhor para você, maluquinha”, ouvi minha própria voz
ecoando, dizendo a ela, de forma velada, todo o medo que eu sentia de perdê-
la.
O caminho até o minilabirinto foi percorrido cheio de expectativas,
ambos inebriados pela tensão sexual que nos cercava desde que nossos
olhares se cruzaram naquela noite.
Jules estava tão ansiosa quanto eu.
Assim que entramos na tenda fomos transportados para uma bolha
particular, onde ninguém além de nós dois importava. Jules amou cada
detalhe da surpresa que preparei para ela com ajuda de Hani, pude ver em
seus olhos e sorriso, até mesmo na respiração ofegante. Não foi preciso
colocar em palavras.
Quando ela me beijou, eu soube que não pararíamos até nos
entregarmos por inteiro e ignorei todos os sinais que meu subconsciente
enviava, tentando me fazer enxergar a razão. Como poderia parar de beijá-la,
se tudo o que mais desejava era me perder naquela mulher?
Agora eu a havia perdido. Que ironia do caralho!
Eu não seria indulgente comigo mesmo, usando o fato de ter bebido
como desculpa para amenizar meu erro. Não deveria tê-la deixado dormir
quando percebi que Jules havia finalmente ligado os pontos entre mim e o Sr.
Engravatado.
“Boa noite, anjo de boca suja”, foram minhas últimas palavras para
Jules, desperdiçando a oportunidade de abrir o jogo. Acreditei que na manhã
seguinte teríamos mais tempo para conversar e esclarecer tudo, sem tensão
sexual ou o efeito do álcool permeando nossos sentidos. Ledo engano.
No mundo dos negócios eu sempre me julguei esperto, mas se tratando
dos assuntos do coração, eu estava me saindo um perfeito fracassado.
Inventei todas as desculpas mais esfarrapadas possíveis, cegando a mim
mesmo, tentando justificar o injustificável, fazendo de um copo d’água uma
tempestade, por pura insegurança.
Estava colhendo o que eu mesmo plantei, tinha que reconhecer o fato.
Magoar Jules como o Sr. Engravatado podia ter sido bem doloroso para
nós dois. Entretanto, magoá-la como Javier… eu não conseguia descrever o
quanto estava me sentindo o pior dos homens.
Nossa noite tinha sido perfeita.
Até eu transformá-la num pesadelo.
Eu fui o vilão da minha própria história de amor.
Na teoria parecia fácil dar tempo ao tempo, mas a cada hora que
passava, sozinho em meu apartamento, tentando me distrair com exercícios
físicos para não sucumbir à fraqueza de esvaziar algumas garrafas de bebida
no meu frigobar, eu não conseguia parar de relembrar como era ter o corpo de
Jules junto ao meu, em como nos encaixávamos com perfeição e nos
entregamos ao prazer de forma tão visceral.
Quando chegamos à tenda, iluminada por velas espalhadas de forma
estratégica, eu cheguei a repensar por um instante a decisão de fazê-la
descobrir sozinha. Toda a minha insegurança e pensamentos controversos, no
entanto, se calaram no momento exato em que Jules colou sua boca na minha,
ativando um gatilho capaz de anular qualquer pensamento que não fosse
direcionado a fazer Jules minha outra vez, da maneira que sempre deveria ter
sido.
Fiquei puto da vida comigo mesmo ao sentir meu pau ganhando vida
com aquelas lembranças. Não era hora de me excitar revivendo as memórias
de como o sexo com Jules era incrível. Isso soava tão errado!
Saí da minha academia particular, despindo a bermuda e cueca pelo
caminho, deixando-as espalhadas pelo chão do corredor, e ignorando a ereção
pulsante, recusando a me tocar e obter qualquer tipo de prazer. Eu não
mancharia minha última lembrança com Jules em meus braços com algo tão
fugaz.
Durante o banho frio, ponderei sobre algumas coisas e cheguei a um
denominador comum entre mim e o personagem que criei: Javier usou o sexo
como forma de redenção, da mesma forma que o Sr. Engravatado usou o sexo
como forma de punição.
Nós estávamos indo muito bem enquanto eu contive meus impulsos e
optei por nos conhecermos melhor antes de qualquer envolvimento íntimo.
Mas estraguei tudo quando me precipitei e sucumbi ao desejo, jogando fora
toda a evolução que tínhamos conquistado até aquela noite.
Não foi certo resumir minha história com Jules a sexo quando havia
tantos sentimentos dentro de mim que ela havia despertado.
“Porque tudo de mim
Ama tudo em você
Ama suas curvas e todos os seus limites
Todas as suas perfeitas imperfeições
Dê tudo de você para mim
Eu te darei meu tudo
Você é o meu fim e meu começo
Mesmo quando perco estou ganhando
Porque te dou tudo de mim
E você me dá tudo de você…”
ALL OF ME - JOHN LEGEND
Quando vi Jules, na segunda-feira pela manhã, tudo o que eu mais
queria era ir até ela e levá-la para um lugar onde pudéssemos conversar a sós
e só sair de lá quando resolvêssemos tudo entre nós, definitivamente. De
preferência, voltando a ser namorados.
Ela parecia tão segura de si em seu traje executivo, mesmo que sua
expressão estivesse abatida e o sorriso radiante que sempre pairava em seus
lábios não estivesse lá. Os cabelos presos em um coque, deixando o rosto
delicado em evidência, fazendo com que eu desejasse segurá-la em meus
braços para sussurrar em seu ouvido o quanto estava me matando tê-la
afastada de mim. O quanto eu já sentia sua falta, desde o instante em que
acordei sozinho naquela tenda e percebi que a havia perdido.
— Aqui não é o lugar para resolver questões pessoais, jovem Stanton
— disse meu avô, me segurando pelo braço ao perceber que eu estava a um
passo de ir atrás de Jules.
As portas do elevador se fecharam e eu a perdi outra vez.
“Seu cretino idiota”, foram as últimas palavras que ouvi de Jules
naquela noite e tudo o que eu queria agora era ouvi-la dizer que, apesar de
tudo, ela me perdoava.
Eu sabia que não deveria misturar minha vida pessoal com a vida
profissional, mas foi impossível me manter concentrado no trabalho. Ainda
assim, me esforcei para resolver algumas pendências e pedi que Emma
reagendasse outros compromissos. Podia ficar enclausurado no meu
escritório, mas não estava apto a lidar com outras pessoas, principalmente
reuniões de negócios que demandavam minha total atenção.
De quanto tempo será que Jules precisa para aplacar sua raiva? O
jeito com que me olhou hoje cedo não demonstrava agressividade, mas
pesar…
Meus pensamentos foram interrompidos pelo toque do meu celular.
Donna! Eu havia salvado o número da amiga de Jules em meus
contatos, para o caso de precisar recorrer a ela mais uma vez. Nunca pensei
que fosse ela a me ligar, no entanto.
— Aconteceu alguma coisa com Jules? Ela está bem? — fui logo
perguntando, sentindo vir à tona toda a ansiedade que tentei controlar.
— Boa tarde pra você também. — Ela riu, e pensei que talvez aquilo
pudesse ser um bom sinal. — Acho que deveria entrar em contato com Jules.
Ela está mais calma, embora ainda magoada. Mas creio que, se passar mais
tempo, como sugeri antes, a insegurança da minha amiga vai começar a
alimentar todo tipo de teoria e acho que isso só pioraria as coisas, então…
meio que, quanto antes você explicar tudo a ela, melhor.
Levantei-me abruptamente, começando a andar de um lado ao outro,
tentando pensar em uma forma de resolver minha situação com Jules sem
afugentá-la.
— Alguma sugestão? — Não vi alternativa melhor do que pedir um
conselho a alguém que conhecia Jules melhor do que eu.
— Estamos no horário de trabalho, talvez um e-mail seja um bom
primeiro passo.
— Não sei por que está me ajudando, Donna, mas muito obrigado!
Considere-me em dívida com você.
— Pode me compensar colando os pedaços do coração da minha
amiga, que você mesmo partiu.
“Estou subindo.”
Nunca pensei que poderia ser torturado psicologicamente com apenas
duas palavras.
Eu sabia que precisava fazer melhor do que quando lhe enviei um iPod
com o número do meu telefone e uma música como mensagem subliminar.
Embora um e-mail não me desse nenhuma certeza de que Jules se abriria à
possibilidade de meu ouvir, eu segui a dica de Donna e escrevi para ela.
Não queria dizer que a amava através de e-mail, mas senti que
precisava dar a Jules um pouco das verdades que lhe escondi. Talvez assim
conseguisse uma chance de poder dizer em voz alta, frente a frente, tudo o
que eu sentia em meu coração quando se tratava dela.
Ao receber sua resposta, não consegui me concentrar em mais nada, a
não ser no relógio, onde a cada minuto que se passava e ela não aparecia
minha esperança se apagava um pouco.
Talvez ela tenha se arrependido de vir até aqui. Talvez tenha mentido,
só para me fazer esperar em vão… Não, ela não seria capaz de algo assim! A
minha Jules, não!
A batida na porta, leve e quase inaudível, fez com que eu me
sobressaltasse na cadeira presidente. Mas assim que o rosto de Emma
apareceu entre a fresta, minhas expectativas murcharam de vez.
— Sr. Stanton, se não precisar mais de mim por hoje, estou de saída.
— Pode ir. Até amanhã, Emma.
Soltei o ar dos pulmões, frustrado, cansado, sem um pingo de ânimo.
Esperei mais uns dez minutos e finalmente me dei por vencido.
Ela não vai aparecer…
Levantei-me, disposto a ir embora, até que uma outra batida na porta
reacendeu minhas expectativas.
Fiquei estático, observando Jules e memorizando cada traço do seu
rosto bonito e triste e me odiei por ter sido o responsável.
Se ela fosse capaz de me perdoar, eu jamais a faria sofrer outra vez.
— Não sei por onde começar… — falei assim que ela entrou no
escritório, passando por mim sem dizer nada. — Por que você fugiu de mim,
Jules?
Ela não respondeu e eu não a pressionei até que se sentisse à vontade
para começarmos aquela conversa.
— Eu precisava de um tempo pra pensar.
Eu sabia que não estava em condições de fazer nenhum tipo de
cobrança, mas não pude evitar.
— Precisa parar de fugir de mim — pedi num tom de súplica, pois seu
gesto de autodefesa favorito com certeza era um problema para mim.
— Você me enganou! — Acusou num tom raivoso, me pegando de
surpresa.
O tom que ela usou me intimidou, pois fez com que eu me sentisse um
canalha. Como se tudo o que fiz tivesse sido com a intenção de brincar com
seus sentimentos, o que não era verdade.
— Eu só estava tentando ser quem você queria, Jules! Você queria a
porra de um personagem de livro!
— Eu não queria um personagem!
Que merda! Se continuássemos assim, só pioraríamos tudo.
Não estávamos ali para competir e provar quem era o certo ou errado
daquela história.
Soltei uma lufada de ar, ponderando o meu comportamento. Eu sabia
das minhas responsabilidades e era humilde o suficiente para reconhecer cada
um dos meus erros, mas também queria que ela soubesse o que me motivou a
cometer cada um deles.
Para que Jules me ouvisse, eu não podia despejar tudo em cima dela
com gritos, como se quisesse lhe impor qualquer coisa. Então comecei a abrir
meu coração para ela, sem ressalvas, finalmente lhe contando toda a verdade.
Só esperava que não fosse tarde demais.
— Eu não acredito que você escreveu uma carta para o caso de ser
assassinada por mim! — Não consegui conter a risada, nem mesmo com
Jules me encarando com toda a sua falsa indignação.
Ao contrário do que sugeri quando saímos da Stanton Tower, não levei
Jules para o meu apartamento com o intuito de transar num armário, mas,
ainda assim, a convidei para passar a noite comigo.
Sabia que precisaria respeitar o seu espaço, mas tínhamos acabado de
acertar as arestas do nosso relacionamento, que ainda era um embrião em
desenvolvimento. Só queria ter certeza de que não corríamos nenhum risco.
Além disso, em nenhuma das vezes que estivemos juntos intimamente eu tive
a oportunidade de passar um tempo com ela e sentia que precisava disso.
Jules Clarkson, inteiramente minha. Podia soar meio possessivo, mas não me
importava. Só queria o meu coração sossegado.
— Ei, não me julgue. — Rolou seu corpo para cima de mim, os seios
desnudos roçando em meu tórax enquanto ela bagunçava meu cabelo com as
mãos, sem sequer se dar conta do ato que iniciou despretensiosamente. — Eu
não sabia que era você, esqueceu? Além disso, mal te conhecia, e pela forma
que arquitetou tudo, não negue que foi um tipo fofo de perseguição, mas
ainda assim uma perseguição. Então podia sim ser um serial killer, sei lá!
Assim que chegamos à minha cobertura, tomamos banho juntos e foi a
primeira vez que compartilhei o chuveiro com alguém. Era um ato tão íntimo
e me senti tão confortável em sua companhia que era como se estivéssemos
acostumados a fazê-lo constantemente. Jantamos uma lasanha vegetariana
que Alriet deixou preparada e até tentamos jogar conversa fora, mas bastou
um beijo para irmos parar na cama, onde não demoramos a nos perder um no
outro.
Quem poderia dizer que estivemos a um passo do rompimento
definitivo? Estávamos longe de parecer as duas pessoas arrasadas que éramos
algumas horas atrás.
— Ah, Jules, você não existe. — Acariciei seu rosto, mal acreditando
que ela estava ali, nua, em minha cama.
— Ah, eu existo, sim! — Ajeitou-se para que nossas bocas quase se
tocassem, parando de brincar com meus cabelos e segurando meu rosto entre
suas mãos. — E você me ama exatamente como eu sou. Estou enganada,
moço?
Havia uma boa dose de emoção em sua voz, e eu tinha certeza de que
não se tratava de insegurança. Ela sabia que eu a amava, mesmo que ainda
estivesse aprendendo a lidar com esse sentimento.
— Não, você não está enganada, Jules. Eu realmente amo você.
Seu semblante se tornou sério, e os lábios trêmulos denunciavam a
emoção contida.
— Sei que o que houve entre a gente naquela escadaria, na primeira
vez, foi uma completa inconsequência minha, mas eu tive sorte, porque era
você lá comigo.
Eu não iria julgá-la. Não depois de tudo o que eu fiz. Além disso, foram
nossos erros que nos levaram até ali. Talvez, se agíssemos de outra forma,
não estivéssemos juntos agora.
— Posso te pedir uma coisa? — Ela assentiu, então fui em frente: —
Promete que vai parar de fugir de mim? Que de agora em diante a gente vai
conversar e esclarecer qualquer mal-entendido?
— Eu prometo. Não vou mais fugir. Está mais do que na hora de
aprender a enfrentar os problemas de frente.
— Você pode me dizer qualquer coisa, Jules. Se eu fizer ou disser algo
que te incomoda, preciso que seja honesta comigo e se abra.
— Tudo bem, vou me esforçar. Prometo. Você vai fazer o mesmo,
certo?
— Mas é claro, maluquinha! — Inclinei-me para lhe dar um beijo,
selando nosso acordo.
— Não sei se gosto de você me chamando de maluquinha. — Fez uma
careta, mais cômica do que intimidadora. — Não pega bem para a imagem de
mulher adulta que estou tentando passar.
Peguei-a de surpresa ao nos mudar de posição na cama, deixando-a
debaixo de mim e aconchegando minhas pernas entre as dela, minha ereção
começando a dar sinal de vida outra vez.
Era verdade que eu não queria resumir meu relacionamento com Jules a
sexo, mas também era inegável que nossos corpos se atraíam sem que
precisássemos fazer grandes esforços. Até o cheirinho dela me dava tesão, e o
fato de Jules ser tão receptiva tornava ainda mais impossível me manter
longe.
— Passar para quem, posso saber? — Entrelacei nossas mãos,
posicionadas lado a lado, acima da sua cabeça.
— Sou jornalista, trabalho em uma revista importante. Minha chefe
acredita muito no meu trabalho e vê potencial em mim — argumentou com
um sorriso orgulhoso.
— E o que seu apelido tem a ver com isso?
— Não pareço uma doida varrida? — Ela deu de ombros. —
Irresponsável, sei lá!
Sim, Jules era uma mulher adulta. Mas possuía um quê de menina que
era o seu diferencial. Enquanto muitas outras eram céticas em se tratando do
amor, por exemplo, tudo o que Jules desejava era viver seu próprio conto de
fadas… com uma pitada de erotismo, mas não menos romântico que qualquer
outra história de amor. Ela era divertida e gostava de ver o lado bom da vida.
Tinha alguns objetivos na bagagem e eu sabia que alcançaria todos eles, pois
sua força de vontade e perspicácia eram apenas uma das muitas qualidades
que ela possuía e eu admirava.
— Deixe de bobagem, Srta. Clarkson. Você não é uma doida varrida, e
maluquinha é um apelido carinhoso.
Seu sorriso expandiu.
— Gosto dele somente quando você fala, mas tenho certeza de que
minhas amigas vão adotar o apelido também.
Mordisquei seu lábio inferior e movimentei meu quadril, fazendo com
que a ponta do meu pau se posicionasse em sua entrada, já molhada e
receptiva. Jules abriu um pouco mais as pernas e meu corpo estremeceu, mas
eu ainda não queria encerrar nossa conversa, embora já fosse tarde e eu
quisesse me enterrar nela uma última vez antes de sucumbir ao sono.
— Quando vai me apresentar às suas amigas, oficialmente?
— Humm… me deixa pensar. — Semicerrou os olhos e ficou em
silêncio por alguns segundos, soltando um gemido assim que me empurrei
um pouco para dentro dela.
Eu não conseguiria me segurar por muito mais tempo.
— Que tal amanhã?
— Perfeito. — Colei minha boca na sua e enterrei meu pau em sua
boceta.
Os gemidos de Jules estavam longe de ser um protesto pelo fim da
conversa.
O sentimento de paz que invadiu meu coração era uma das sensações
mais reconfortantes que já senti na vida.
Depois de todo o medo que me assolou, alimentado pelas decisões
erradas que tomei, ela finalmente estava em meus braços, por livre e
espontânea vontade, e sabendo exatamente quem eu era: Javier Stanton, vinte
e oito anos, CEO das Indústrias Stanton, sem fetiches BDSM, sem traumas
que me impediam de me abrir emocionalmente e sem nenhum medo de
entregar o meu coração a uma mulher, desde que ela estivesse disposta a
cuidar bem dele.
Jules era essa mulher, eu sabia disso agora.
“Muitas pessoas dizem
Que tudo tem seu tempo e o seu lugar
Até o dia tem que dar lugar à noite
Mas eu não acredito
Porque em seus olhos
Eu vejo um amor que queima eternamente
E se você visse o quão linda é para mim
Você saberia que eu não estou mentindo…”
SWEAR IT AGAIN - WESTLIFE
— Eu sempre soube, desde o início, que vocês voltariam — disse
Donna, me fazendo lembrar do empurrãozinho que ela me deu com seus
conselhos.
— As pessoas do Central Park não me conhecem, Donna — provocou
Jules. — Você não precisa sair gritando aos quatro cantos para me fazer
passar vergonha.
Sarah e Violet caíram na risada e eu precisei me segurar para não fazer
o mesmo.
— Isso é verdade! — Sarah complementou. — Nós sabíamos que
vocês se acertariam. A história de vocês é linda demais. Vocês são uns fofos,
merecem ser felizes.
Eu nem sabia o motivo de elas estarem falando sobre mim e Jules
termos voltado, já que alguns meses haviam se passado desde a nossa
reconciliação. Desde então, não nos largamos mais. Contudo, quando cheguei
ali, peguei o assunto pela metade.
— Vocês são impossíveis! — resmungou minha namorada, mas seu
sorriso denunciava o quanto ela estava feliz.
— Somos suas melhores amigas, Jules — argumentou Violet, revirando
os olhos em seguida. — Uma pena aquele amigo do Javier ter noiva…
Ela estava se referindo ao Zayn, mas não falava sério.
— Ah, mas ele com certeza deve ter outros amigos lindos. — Jules
entrou na brincadeira e acabei me lembrando do que Thomas disse a ela
quando esteve em Nova Iorque. — Vou perguntar a ele, quem sabe
marcamos alguma coisa, hein? Minhas amigas também precisam
desencalhar!
Elas caíram na gargalhada e Donna se aproximou de Jules, derrubando-
a na grama, fazendo Violet e Sarah aderirem à brincadeira. Jules estava sendo
praticamente esmagada pelas amigas quando eu finalmente decidi me fazer
presente, já que nenhuma delas tinha prestado atenção em mim até aquele
momento.
Elas já não almoçavam por ali todos os dias, nem mesmo eu tinha o
hábito de aparecer com frequência. Aquele era um momento entre amigas e
eu respeitava o espaço de Jules, assim como ela também respeitava o meu,
considerando minhas viagens a trabalho e as reuniões em horários não
comerciais.
A vida estava bastante corrida desde que assumi o posto de CEO nas
Indústrias Stanton, mas sempre soube que seria assim. Com isso, Jules e eu
aproveitávamos qualquer espaço de tempo para nos vermos e passar um bom
momento juntos.
— Posso saber por que estão maltratando minha namorada? —
perguntei, não me saindo muito bem em controlar o riso, observando uma
Jules com cabelos desgrenhados.
Fui até ela e estendi o braço, ajudando-a se levantar do gramado e a
tirar os pedaços de grama do seu cabelo.
— Você fica linda de qualquer jeito, maluquinha — elogiei, dando-lhe
um selinho nos lábios e ignorando os murmurinhos de suas amigas.
Jules havia me apresentado oficialmente a Donna, Sarah e Violet no dia
seguinte à nossa reconciliação. Eu realmente gostava daquelas garotas e do
quanto se preocupavam umas com as outras.
— Gostei de te ver por aqui. Está tudo bem? — O tom preocupado não
me passou despercebido.
Eu já imaginava que ela iria estranhar minha presença por ali, mas quis
aproveitar o intervalo para conversar a respeito de um assunto delicado. Pegar
Jules em um momento descontraído com suas amigas não foi aleatório.
Conhecendo-a melhor agora, sabia o quanto ela se desarmava de suas
barreiras emocionais quando estava com as garotas.
Nós ainda estávamos trabalhando em nossos pontos fracos. Eu, por
exemplo, me sentia mais confiante em relação a nós dois, sem todo aquele
medo de dar algum passo em falso e estragar tudo. Já Jules, se distanciava
cada vez mais de sua insegurança, entendendo de uma vez por todas que era a
mulher que eu amava e que ambos éramos merecedores de estarmos juntos
como um casal. Ainda tínhamos nossos tropeços, mas nada que uma conversa
franca não resolvesse.
Apesar de ter desejado encontrar o homem dos seus livros e brincar a
respeito dos CEOs engravatados de Nova Iorque, Jules não se sentia
absolutamente confortável com o status de namorada de Javier Stanton, o
herdeiro das Indústrias Stanton. Para ela, eu sempre seria o seu moço do
Central Park, e eu respeitava sua individualidade.
Desde que nossa primeira foto juntos saiu na mídia, na noite do baile de
máscaras, anunciando-a como minha namorada, combinamos de comum
acordo que tentaríamos deixar nosso relacionamento o mais longe possível
dos holofotes. Entretanto, recentemente, sugeri que Jules compartilhasse
nossa história em seu novo blog, e ela acabou aceitando a ideia, com a
condição de não mencionar meu sobrenome. Ainda assim, era inevitável que
nos associassem um ao outro, já que apesar de discretos, não mantínhamos
segredo quanto ao nosso namoro. Era apenas uma questão de se acostumar e
ignorar o irrelevante. Claro que Jules não entrou em detalhes, preservando as
partes mais íntimas, contudo, sendo uma boa escritora, seu público, grande
parte constituído por mulheres, estava se tornando fã do casal J&J, e vez ou
outra nós ganhávamos algum destaque na mídia online novaiorquina.
Eu já estava acostumado e achava até engraçado o interesse alheio em
nosso relacionamento, visto que nem éramos celebridades. Já Jules, mesmo
trabalhando em uma revista, ainda lidava com estranheza. Por isso, não foi
difícil deduzir que sua preocupação se dava ao receio de que alguma notícia a
nosso respeito tivesse sido publicada em um site de fofocas.
— Recebemos um convite de aniversário — tratei logo de informá-la,
para observar sua expressão cautelosa dar lugar à curiosidade.
— Pelo que sei, o aniversário do Big John foi em fevereiro. Quem
poderia ser?
Dei um meio sorriso, tentando disfarçar o nervosismo.
— Rachel.
Ainda era um assunto delicado. Embora Jules confiasse em mim e já
não fosse tão insegura em se tratando do nosso relacionamento, eu sabia que
ela não iria adquirir simpatia pela minha afilhada de uma hora para outra.
Talvez nunca acontecesse e, honestamente, não me achava no direito de
exigir isso dela.
Quando Thomas me ligou para fazer o convite, estendendo-o a Jules,
garantiu que Rachel havia mudado após iniciar o acompanhamento
psicológico e, inclusive, estava namorando o filho de um dos diretores da
Stanhardton, Scott Denvers. Foi em nome dela que Thomas entrou em
contato, mencionando o constrangimento de Rachel pela forma como se
comportou comigo. Ela se sentia envergonhada, mas também triste por ter me
afastado com suas atitudes.
No começo, me senti compelido a recusar de pronto. Mas ponderei,
sabendo que Thomas não teria convidado a mim e Jules se Rachel ainda
estivesse com pensamentos distorcidos a meu respeito. Rachel estava
completando a maioridade e logo entraria para a universidade, dando início a
uma nova fase da sua vida. Ainda assim, não confirmei nada com Thomas,
alegando que precisava conversar com minha namorada e verificar se nossas
agendas estariam disponíveis.
— Que ótimo! — O tom de desdém em sua voz deixava muito claro
que Jules ainda não havia se desfeito da impressão ruim que Rachel lhe
passara, e eu nem podia culpá-la, pois nada havia sido feito para que isso
acontecesse.
Desde que Rachel esteve em Nova Iorque com seu pai, nem eu nem
Jules tínhamos notícias dela. Thomas e eu combinamos que me manteria
afastado e foi o que fiz.
— Estamos juntos, Jules. — Fiz questão de lembrá-la, segurando seu
rosto entre minhas mãos. — Nada do que ela fizer vai me fazer desistir de
você. Rachel sempre será como uma filha. Enquanto você é a mulher que eu
amo e quero ao meu lado. Inclusive nessa festa de aniversário.
Os olhos castanhos me fitavam com tanta atenção, e ela levou um
tempo para se manifestar.
— Você quer me levar para a Austrália? — Ela parecia surpresa com
aquela constatação.
— Está com seu passaporte em dia? — Dei a Jules o meu melhor
sorriso, aquele que eu sabia ter um efeito sedutor sobre ela.
Então foi sua vez de me pegar de surpresa, sorrindo abertamente, se
mostrando receptiva ao convite.
— Mas é claro que sim, estou mesmo precisando pegar um bronzeado.
— Ótimo! — Puxei-a para um abraço. — Agora, que tal uma carona de
volta ao trabalho?
Jules se desfez do abraço e olhou para trás, onde suas amigas estiveram
antes, mas sorrateiramente haviam nos deixado a sós.
— Preciso ter uma conversinha com essas garotas — murmurou com
bom humor. — Convite aceito, moço!
[1]
Bennett e Chloe: referência aos personagens do romance Cretino Irresistível, escrito
por duas autoras sob o pseudônimo Christina Lauren.
[2]
Gideon Cross é personagem fictício da série Crossfire, romances eróticos de autoria de
Sylvia Day.
[3]
“Eu não faço amor, eu fodo com força” é uma citação de Christian Grey, personagem
fictício do romance erótico 50 Tons De Cinza. A frase tornou-se famosa devido ao sucesso
de repercussão do livro.