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TRABALHO DE CONCLUSÃO

DE CURSO II

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TRABALHO DE CONCLUSÃO
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MEDIAÇÃO X JUIZ JULGADOR: O QUE É MAIS EFETIVO NA RESOLUÇÃO DE

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CONFLITOS FAMILIARES?1

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Daniela Sabrina Drescher2

SUMÁRIO: INTRODUÇÃO; 1 O SENTIDO DE FAMÍLIA A PARTIR DA


CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988; 2 A
FAMÍLIA NO PODER JUDICIÁRIO; 3 O INSTITUTO DA MEDIAÇÃO NO BRASIL E
SUA APLICABILIDADE NAS RELAÇÕES FAMILIARES; 3.1 Do procedimento da
mediação; CONCLUSÃO; REFERÊNCIAS; ANEXO A - ESTATÍSTICAS 2015; ANEXO

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B - ESTATÍSTICAS 2016; ANEXO C - ESTATÍSTICAS 2017; ANEXO D - ESTATÍSTICAS


2018; ANEXO E - ESTATÍSTICAS 2019.

RESUMO
A presente pesquisa tem como tema a comparação dos modelos de jurisdição na resolução de
conflitos familiares e foi assim delimitado: modelo tradicional na figura do Juiz julgador versus
utilização da mediação nos conflitos familiares. Notadamente, definiu-se como problema de pesquisa:
O que é mais efetivo para a resolução de conflitos familiares: mediação ou jurisdição tradicional? A
partir do tema e problema de pesquisa propostos, adotou-se o método de procedimento bibliográfico,
tendo em questão o estudo específico do tema, através de pesquisas e doutrinas. Como método de
abordagem, foi utilizado o método dedutivo, e como os métodos de procedimento, o histórico e o
monográfico. Ainda, em relação à técnica de pesquisa, adotou-se a pesquisa qualiquantitativa. O
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presente artigo se enquadra na Linha de Pesquisa Novos Direitos na Sociedade Globalizada do curso
de Direito da Faculdade Metodista Centenário (FMC). Foi traçado como objetivo geral desta pesquisa
construir subsídios teóricos que permitam verificar se há mais efetividade da mediação na resolução
dos conflitos familiares, enquanto instrumento pacificador na continuidade da relação entre os
integrantes da família, quando comparada à jurisdição tradicional, que se desdobrou em objetivos
específicos organizados em capítulos, que iniciam pela análise da mudança das famílias a partir da
CF/88 e seus fundamentais princípios norteadores, seguindo pelo levantamento de dados do Poder
Judiciário acerca da existência de conflitos nas relações familiares. A pesquisa ainda contou com o
estudo do instituto da mediação no Brasil e a possibilidade de utilização nas relações familiares, de
modo a possibilitar responder o problema de pesquisa, verificando se há mais efetividade na
utilização da mediação para a resolução de conflitos familiares quando comparada com a jurisdição
tradicional. Ao final, concluiu-se que enquanto o método tradicional de jurisdição não tem se mostrado
suficiente para reduzir o número de demandas, tampouco promover a chamada paz social entre as

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Artigo realizado como requisito de obtenção parcial de aprovação da disciplina de Trabalho Final de
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partes, a mediação familiar, por outro lado, surge como possibilidade que se mostra vantajosa, visto
que, além de ter procedimentos mais céleres, propõe a composição entre as próprias partes, de
forma mais pacífica e menos litigiosa.
Palavras-chave: Conflitos familiares. Jurisdição tradicional. Mediação. Mediação familiar. Mediação
no Brasil. Modelo de jurisdição.

ABSTRACT
The present research has as its theme the comparison of jurisdiction models in the resolution of family
conflicts and was thus delimited: traditional model in the figure of the judgmental judge versus use of
mediation in family conflicts. Notably, it was defined as a research problem: What is most effective for
the resolution of family conflicts: mediation or traditional jurisdiction? Based on the proposed theme
and research problem, the method of bibliographic procedure was adopted, considering the specific
study of the theme, through researches and doctrines. As a method of approach, the deductive
Graduação II, do Curso de Direito da Faculdade Metodista Centenário - FMC, sob a orientação do
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method was used, as well as the procedural, historical and monographic methods. Also, regarding the
research technique, we adopted the qualitative quantitative research. This article is part of the
Research Line New Rights in the Globalized Society of the Law course of the Faculdade Metodista
Centenário (FMC). It was designed as a general objective of this research to build theoretical
subsidies that allow to verify if there is more effectiveness of mediation in the resolution of family
conflicts, as a peacemaking instrument in the continuity of the relationship between family members,
when compared to traditional jurisdiction, which has unfolded into specific objectives organized into
chapters, which begin by analysing the change of families starting from CF/88 and its fundamental
guiding principles, following by collecting data from the Judiciary about the existence of conflicts in
family relations. The research also included the study of the mediation institute in Brazil and the
possibility of using it in family relationships, in order to answer the research problem, checking whether
there is more effectiveness in the use of mediation for the resolution of family conflicts when compared
to traditional jurisdiction. In the end, it was concluded that while the traditional method of jurisdiction
has not proved sufficient to reduce the number of demands, nor to promote the so-called social peace

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between the parties, family mediation, on the other hand, appears as an advantageous possibility,
since, in addition to having faster procedures, it proposes the composition between the parties
themselves in a more peaceful and less contentious way.
Keywords: Family conflicts. Traditional jurisdiction. Mediation. Family mediation. Mediation in Brazil.
Jurisdiction model.

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, tem-se acompanhado o uso da mediação como


instrumento para a resolução de conflitos, sendo vital verificar se existem mais
Prof. Dr. Rafael Friedrich.
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vantagens na utilização dessa forma não adversária para a resolução dos conflitos
familiares, com a construção de uma solução menos desgastante para os
integrantes da família. Principalmente, quando se envolve o interesse de um terceiro
(menor de idade), pois conflitos mexem com a vida/psicológico das pessoas, e
também dos que convivem no ciclo familiar.
Dessa maneira, a implementação da mediação propõe que as partes entrem
em consenso sobre a solução de um conflito existente, com a participação ativa das
partes no processo decisório pelo viés do verdadeiro exercício da cidadania. Nos

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dias atuais, é perceptível uma crise de jurisdição, principalmente no que tange ao


modelo quantitativo das decisões, dado que o poder judiciário, por várias vezes, tem
suas sentenças prolatadas sem alcançarem a efetiva qualidade, não extinguindo
efetivamente o conflito, ou seja, não proporcionando o restabelecimento do respeito
e diálogo entre os litigantes.
Nessa perspectiva, a presente pesquisa tem como tema a comparação dos
modelos de jurisdição na resolução de conflitos familiares, sendo assim delimitado:

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modelo tradicional na figura do juiz julgador versus utilização da mediação nos


conflitos familiares.
A partir do tema proposto, como metodologia de pesquisa, foi utilizado o
método de procedimento bibliográfico, tendo em questão o estudo específico do
tema, através de pesquisas e doutrinas.
Como método de abordagem, foi utilizado o método dedutivo, partindo-se de
uma generalização para uma questão particularizada, método proposto por
Descartes, Spinoza e Leibniz, que propõe que somente a razão - nesse caso, a

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pesquisa científica - é capaz de levar ao conhecimento verdadeiro, processando


inúmeras informações e chegando a uma conclusão. No caso, trata-se de processo
de análise da informação que utiliza o raciocínio lógico e a dedução para obter uma
conclusão a respeito de um determinado assunto.
Os métodos de procedimento relacionam-se, especificamente, com as fases
da pesquisa e não com o plano geral dela, tendo sido adotado para a presente
pesquisa os métodos histórico - ao passo que se reconstitui a figura do juiz julgador -

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Acadêmica do Curso de Direito da FMC. Endereço eletrônico: drescher.dani@hotmail.com
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e monográfico - a fim de que se analise a realidade experimentada na resolução de


conflitos familiares.
Finalmente, em relação à técnica de pesquisa, adotou-se a pesquisa
qualiquantitativa, já que, inicialmente, realizou-se pesquisa bibliográfica, sobre a qual
recai análise de forma qualitativa. Ainda, para a consecução dos objetivos do
presente artigo, foi realizada pesquisa de dados e mapas de ações distribuídas e
julgadas pelo Poder Judiciário do Estado do Rio Grande do Sul, limitada ao período
compreendido nos anos de 2015 a 2019, utilizando-se as ações como filtro, que

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possuem, no seu mérito, o direito de família, ECA, sucessões e união estável, cuja
análise se deu de forma quantitativa.
Foi traçado como problema de pesquisa: O que é mais efetivo para a
resolução de conflitos familiares: mediação ou jurisdição tradicional? E, para
responder tal problema, foi determinado como objetivo geral desta pesquisa
construir subsídios teóricos que permitam verificar se há mais efetividade da
mediação na resolução dos conflitos familiares, enquanto instrumento pacificador na
continuidade da relação entre os integrantes da família, quando comparada à

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jurisdição tradicional. Para atingir tal objetivo, foram determinados como objetivos
específicos: (a) analisar a mudança das famílias a partir da CRFB/88 e seus
principais princípios norteadores; (b) perscrutar dados do Poder Judiciário acerca da
existência de conflitos nas relações familiares; (c) estudar o instituto da mediação no
Brasil e a possibilidade de utilização nas relações familiares; e (d) responder ao
problema de pesquisa, verificando se há mais efetividade na utilização da mediação
para a resolução de conflitos familiares, quando comparada com a jurisdição
tradicional.

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O instituto da mediação familiar tem como finalidade tornar mais efetiva a


resolução dos conflitos decorrentes das relações familiares, através de uma solução
dialógica; enquanto, na atividade jurisdicional tradicional, percebe-se o processo
decisório na figura do juiz apenas como julgador, onde não há oportunidade para as
partes dialogarem e construírem uma solução mais pacífica ao caso concreto.
Para tanto, antes de se pensar na utilização da mediação, é necessário
analisar a ascensão dos novos modelos de famílias que surgiram com o fluir dos
tempos e seus princípios norteadores, assim como a própria existência de conflitos

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nas relações familiares, para que seja implementado, cada vez mais, o diálogo como
instrumento pacificador.
Diante do exposto, evidencia-se a relevância e atualidade do tema, tanto
para os estudiosos de Direito, como também para a comunidade em geral que tenha
interesse em conhecer e entender melhor o instituto da mediação nas relações
familiares como possibilidade de modelo jurisdicional.
O presente artigo se enquadra na Linha de Pesquisa Novos Direitos na
Sociedade Globalizada do curso de Direito da Faculdade Metodista Centenário

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(FMC), uma vez que está edificado sob a mediação como uma nova possibilidade de
prestação jurisdicional, tratando não apenas de novas demandas do Direito, como
também os seus reflexos nas ações do direito de família.

1 O SENTIDO DE FAMÍLIA A PARTIR DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA


FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

O conceito de família teve seu início junto com o surgimento da sociedade,


quando o agrupamento de pessoas se tornou necessário para a melhoria da
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qualidade de vida, dando início, então, às primeiras famílias (GONÇALVES, 2017).


Embora outras sete constituições antecedam a vigente Carta Magna, nenhuma

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delas protegeu ou sequer deu direitos à instituição familiar como a Constituição

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Federal de 1988 (CF/88).3


Müller (2017) alega que os princípios constitucionais do Direito de Família
trouxeram consigo uma evolução bastante significativa ao ordenamento jurídico
brasileiro. Desses princípios, pode-se destacar o Princípio da Solidariedade Familiar,
que tem a sua origem pelo vínculo afetivo, onde a solidariedade é o que se deve ao
outro. Assim, os conceitos de reciprocidade e fraternidade são os que sustentam os
laços que constituem a família. Observa-se o caso de crianças e adolescentes, as
responsabilidades que são básicas cabem à família, depois a sociedade e, por fim,

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ao Estado, como dispõe no artigo 227 da Constituição da República Federativa do


Brasil de 1988 (MARTINS, 2017).
Do Princípio da Solidariedade, tem-se o dever de assistência dos pais aos
filhos, conforme dispõe o artigo 229 da CF/88: “Art. 229. Os pais têm o dever de
assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e
amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade” (BRASIL, 1988).
Já, o artigo 230 da CF/88 também prevê o amparo às pessoas idosas:

3
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.
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Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as


pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo
sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.
§ 1º Os programas de amparo aos idosos serão executados
preferencialmente em seus lares.
§ 2º Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos
transportes coletivos urbanos (BRASIL, 1988).

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Tartuce (2007) diz que, desse modo, gera-se a solidariedade, assistência


moral, material e o amparo mutuamente entre os membros da família, constituindo-
se responsabilidade entre a família, sociedade e o Estado.
Nessa enseada, destaca-se o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana,
visto que é também um dos mais importantes princípios do ordenamento jurídico
brasileiro, onde coloca as pessoas no centro da proteção de seus direitos e é
atribuído o dever de se receber proteção, respeito e intocabilidade (GONÇALVES,
2017).

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Conforme Müller (2017), o direito humano está ligado ao direito de família,


baseado na dignidade da pessoa humana, onde todos são tratados igualmente sem
nenhum tipo de distinção dos tipos e formações de constituição de família.
O artigo 1º, inciso III, da CF/88 dispõe:

Art. 1º: A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel


dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos:

§ 1º O casamento é civil e gratuita a celebração.


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III - a dignidade da pessoa humana (BRASIL, 1988). 4

Cabe à ordem constitucional a proteção para todos, independentemente da


sua origem, assim, se faça que várias entidades familiares tenham mais amor,
união, afeto, confiança e respeito, possibilitando, com isso, o desenvolvimento social
dos mesmos.
Tartuce (2007) destaca outro princípio de suma importância que é o
Princípio de Igualdade entre os filhos. Sabe-se que, nos tempos passados, os filhos
havidos fora do casamento eram tratados com diferença dos legítimos, não havia
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isonomia entre eles. Com a implantação da CF/88 e, deste princípio, a falta desta
isonomia veio a cessar-se. O artigo 227, § 6º, da CF/88 dispõe: “Os filhos, havidos
ou não da relação de casamento, ou por adoção terão os mesmos direitos e
qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”. 5
Juridicamente, em suma, todos os filhos são iguais, estes havidos ou não na
constância do casamento. Essa igualdade engloba também filhos adotivos, os
havidos por inseminação e os biológicos.

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De acordo com Tartuce (2007), a vista disso, não se utiliza mais expressões
discriminatórias como filho incestuoso, bastardo e adulterino, dado que,
juridicamente, todos os filhos são iguais. E não é mais admitida qualquer forma de
distinção jurídica, assim, sob pena da lei.
Müller (2017) também destaca o Princípio da Proteção Integral às Crianças,
Adolescentes e Idosos, que, como os outros princípios estudados, estabelece o
dever de a família, o Estado e a sociedade assegurar à criança e ao adolescente o
direito à dignidade, vida, segurança, saúde, liberdade, alimentação, respeito e

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também convivência familiar e social. Também estabelece o dever de mantê-los a


salvos de todo preconceito, de qualquer tipo de violência, exploração, opressão e
tratamento cruel. Muitas vezes a intervenção do Estado se faz necessária para
assegurar o bem-estar da criança e do adolescente e também o direito à dignidade e
ao desenvolvimento integral.
Também, para Müller (2017), a implementação das garantias mencionadas
consta no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990). O referido

§ 2º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.


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estatuto é conduzido pelo Princípio da Proteção Integral, paternidade responsável,


assim com o intuito de guiar o menor à maioridade de maneira que seja responsável,
que seja o condutor da sua própria vida e capaz de gozar de seus direitos
fundamentais.
Ainda sobre princípios constitucionais, é vedada também a discriminação em
razão de idade, como a proteção especial ao idoso. Dessa forma, é atribuído à
família, à sociedade e ao Estado o dever de assegurar ao idoso respectivo cuidado
necessário, bem como bem-estar, garantia à dignidade e principalmente à vida.

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Em relação a essas garantias, alude a CF/88 em seu artigo 230:

Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as


pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo
sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.
§ 1º Os programas de amparo aos idosos serão executados
preferencialmente em seus lares.
§ 2º Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos
transportes coletivos urbanos (BRASIL, 1988).

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Para que essas garantias sejam efetivadas de fato, se faz necessário que o
Estado adote políticas de amparo para idosos, como, por exemplo, atendimento
preferencial nos hospitais e em filas, transporte gratuito acima de 60 anos, assentos
identificados no transporte coletivo, planos de saúde não podem reajustar o valor por
mudança de faixa etária, entre outros.
Por último, tem-se o Princípio do Pluralismo das Entidades Familiares, que,
com a CF/88, começou a considerar-se a possibilidade do pluralismo familiar,
significando que, com o passar dos anos, as famílias passaram a ter diferentes

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estruturações. Outrora, apenas o matrimônio era digno da proteção do Estado,


outros vínculos eram totalmente ignorados, sendo condenados à invisibilidade.
Há na atualidade um novo conceito de modelo familiar, baseado no afeto,
onde, independente da forma que é apresentado, abrange a ideia que famílias se
formem a partir do elo da afetividade.
Yassue (2010) adverte que, com o a advento da CF/88 e o passar dos anos,
a família brasileira sofreu grandes transformações na sua formação, vindo a ter

§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher
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diversos modelos de composição, já que a Família Matrimonial era o único tipo de


família reconhecido por lei e com proteção jurídica no ordenamento jurídico
brasileiro.
Aos poucos, novos formatos familiares foram surgindo e, necessariamente,
sendo tutelados pelo ordenamento jurídico, passando, assim, a reconhecer a Família
Informal, que é decorrente da União Estável, Família Monoparental, formada apenas

como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.


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por um dos pais e seu(s) filho(s). Destaca-se que a separação ou a morte são as
principais causas da monoparentalidade.
Ainda, há também a família Anaparental, que é formada apenas por irmãos.
Chama-se atenção para as famílias reconstruídas, recompostas ou Mosaico, que
são aquelas formadas a partir da união de casais onde um ou dois dos cônjuges
possuem filhos da união anterior.
Já a família Eudemonista tem como base o afeto recíproco entre seus
membros, dos laços consanguíneos. A doutrina também traz a família unipessoal

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independentemente, sendo aquela formada por apenas uma pessoa, ocorre de


pessoas viúvas ou solteiras que moram sozinhas.
De outro lado, tem-se a família paralela ou simultânea, caracterizada pela
mera sociedade de fato, chamado de concubinato, assegurada nos termos do art.
1.727 do Código Civil.6
Outro formato familiar que surgiu são as famílias homoafetivas, onde foi
julgado pelo Supremo Tribunal Federal a Arguição de Descumprimento de Preceito

§ 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e
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Fundamental 132 e Ação Direta Inconstitucionalidade 4.277, que, em 2011,


reconheceu como entidade familiar a família homoafetiva, formada por pessoas do
mesmo sexo, seguida pela Resolução nº 175/2013 Conselho Nacional Justiça, assim
possibilitando o casamento civil, com os mesmos direitos garantidos em casamentos
heterossexuais.
Geralmente, quando é abordado o tema “família”, é pensado o modelo
tradicional, onde homem e mulher são unidos por matrimônio e, assim, tem o intuito
de gerar filhos. Desse modo, Dias (2017, p. 146) elucida o conceito atual de família:

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Conceito atual de família: Difícil encontrar uma definição de família de forma


a dimensionar o que, no contexto dos dias de hoje, se insere nesse
conceito. Sempre vem à mente a imagem da família patriarcal: o homem
como figura central, tendo a esposa ao lado, rodeado de filhos, genros,
noras e netos. Essa visão hierarquizada da família sofreu enormes
transformações. Além da significativa diminuição do número de seus
componentes, houve verdadeiro embaralhamento de papéis. A
emancipação feminina e o ingresso da mulher no mercado de trabalho a
levaram para fora do lar. Deixou o homem de ser o provedor exclusivo da
família, e foi exigida sua participação nas atividades domésticas.

seus descendentes.
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TRABALHO DE CONCLUSÃO
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Nesse ínterim, o autor elucida que atualmente tornou-se difícil definir uma
forma exata de família, visto que há muita diversidade em sua formação; porém
todas as famílias têm algo em comum: são nutridas pelo afeto (DIAS, 2017). Nesse
aspecto, observa-se que, a partir da CF/88, o Brasil migrou para um novo sentido de
família, não mais vinculado aos conceitos tradicionais e sanguíneos, agora superado
por relações de solidariedade e afetividade recíproca entre todos os seus
integrantes, sejam crianças, adultos ou idosos, nos seus mais diversos vínculos.

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TRABALHO DE CONCLUSÃO
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2 A FAMÍLIA NO PODER JUDICIÁRIO

É condição natural da vida humana a existência de pensamentos


divergentes, em qualquer tipo de relação que se estabeleça, mesmo que em
relações familiares. Na realidade, a convivência próxima e íntima em uma relação
familiar propicia que os diálogos sejam ainda mais francos e, por vezes, conflituosos.

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TRABALHO DE CONCLUSÃO
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Segundo Vasconcelos (2008), o conflito decorre de expectativas, valores e


interesses contrariados, algo natural da condição humana, que acaba por colocar a
outra parte em disputa, como se adversário fosse, infiel ou inimigo. Para o autor, é o
estado emocional que estimula a polarização e dificulta a percepção de interesse
comum (VASCONCELOS, 2008).
Foi nesse enredo que, antes de verificar as possibilidades promovidas pelo
instituto da mediação familiar, tornou-se imperioso buscar dados que demonstrem
se, de fato, chegam ao poder judiciário pedidos de tutela para litígios familiares. Tal

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TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

busca está enredada na simples necessidade de constatação da utilidade da


medição familiar, já que, se não existirem conflitos, não haverá necessidade de
composição dos mesmos.
Para tanto, a fim de alcançar os objetivos do presente artigo e responder ao
problema de pesquisa proposto, foram perscrutados dados junto ao site eletrônico
do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, relativos aos últimos 05
anos. Utilizaram-se como filtro de busca as ações distribuídas e julgadas, tendo

§ 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e
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TRABALHO DE CONCLUSÃO
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como matéria assuntos “família”, “criança e adolescente”, “sucessões” e “união


estável”, pois são as matérias que envolvem o direito de família e permitirão verificar
a (in)existência de conflitos, o que se demonstrará na forma de percentuais e
gráficos.
Conforme se observa do Gráfico 1, em que pese o sistema judicial e
extrajudicial tenha implementado diversas medidas de resolução pacífica de
conflitos, ainda assim, nos últimos 05 anos, ocorreu significativo crescimento no

pela mulher.
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TRABALHO DE CONCLUSÃO
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número de processos distribuídos pela jurisdição tradicional. Importando, com isso,


em praticamente a dobra de números, dado que, no ano de 2015, os processos
novos relativos às matérias pesquisadas representavam 7,16% do total de ações,
enquanto, no ano de 2019, representou 12,93%.

§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio.


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TRABALHO DE CONCLUSÃO
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TRABALHO DE CONCLUSÃO
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Gráfico 1 - Novos processos

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Novos Processos

7,16% 2019
12,93%
2018
2017
8,78% 2016
2015

§ 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o


12,74%
48
13,15%
TRABALHO DE CONCLUSÃO
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Fonte: Da autora, com base nos Relatórios anuais do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul dos
anos de 2015 a 2019.

No mesmo ritmo, se depreende do Gráfico 2 que o número de processos


julgados cresceu proporcionalmente à suba de processos distribuídos.

Gráfico 2 - Processos julgados

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Processos Julgados

7.3% 2019
12.46%
2018
2017
8.1% 2016
2015

planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo


11.95% ao Estado propiciar recursos educacionais
50
12.34%
TRABALHO DE CONCLUSÃO
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Fonte: Da autora, com base nos Relatórios anuais do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul dos
anos de 2015 a 2019.

De forma detalhada, os dados que seguem evidenciam o quanto tem


crescido percentualmente a necessidade de prestação de tutela pelo Estado para
atender às demandas familiares, não estando computadas aqui as diversas soluções
extrajudiciais que têm sido possibilitadas pela legislação, pelo menos nos últimos 10
anos.

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Tabela 1 - Mapa de Processos 2019


2019 Novos Julgados
Família 6,89 6,15
Direito da Criança e do Adolescente 4,24 4,58
Sucessões 1,07 1,01
União Estável 0,73 0,72
TOTAL 12,93 12,46
Fonte: Da autora, com base nos Relatórios anuais do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul dos
anos de 2015 a 2019.

e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições
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TRABALHO DE CONCLUSÃO
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Tabela 2 - Mapa de Processos 2018


2018 Novos Julgados
Família 5,71 5,27
Direito da Criança e do Adolescente 5,27 4,98
Sucessões 0,93 0,9
União Estável 0,83 0,8
TOTAL 12,74 11,95
Fonte: Da autora, com base nos Relatórios anuais do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul dos
anos de 2015 a 2019.

Tabela 3 - Mapa de Processos 2017


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2017 Novos Julgados


Família 5,11 4,84
Direito da Criança e do Adolescente 6,58 6,2
Sucessões 0,77 0,68
União Estável 0,69 0,62
TOTAL 13,15 12,34
Fonte: Da autora, com base nos Relatórios anuais do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul dos
anos de 2015 a 2019.

oficiais ou privadas.
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Tabela 4 - Mapa de Processos 2016


2016 Novos Julgados
Família 3,45 3,26
Direito da Criança e do Adolescente 4,25 3,81
Sucessões 0,62 0,61
55
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

União Estável 0,46 0,42


TOTAL 8,78 8,1
Fonte: Da autora, com base nos Relatórios anuais do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul dos
anos de 2015 a 2019.

Tabela 5 - Mapa de Processos 2015


2015 Novos Julgados
Família 3,12 3,14
Direito da Criança e do Adolescente 3,03 3,15
Sucessões 0,61 0,61

§ 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando
56
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

União Estável 0,4 0,4


TOTAL 7,16 7,3
Fonte: Da autora, com base nos Relatórios anuais do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul dos
anos de 2015 a 2019.

Os dados coletados referentes aos últimos 05 anos no Tribunal de Justiça do


Estado do Rio Grande do Sul, tornam de claridade solar que as formas tradicionais
de resolução de conflitos não têm sido bem-sucedidas, ao passo que, ainda que

mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações (BRASIL, 1988).


57
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

tenha crescido o movimento em direção às medidas extrajudiciais, a tutela judicial


praticamente dobrou no período.

3 O INSTITUTO DA MEDIAÇÃO NO BRASIL E SUA APLICABILIDADE NAS


RELAÇÕES FAMILIARES

Para Vasconcelos (2008), o conflito não é algo que deva ser encarado
negativamente, já que, a partir da neutralização do estado emocional, é possível

58
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

perceber a existência de interesses comuns, sendo valoroso que cada pessoa seja
dotada de originalidade única, com experiências e circunstâncias existenciais
personalíssimas. Assim sendo, é possível que, a partir de uma relação conflituosa,
inicialmente na condição de adversários, se (re)construa uma relação de harmonia e
solidariedade entre as partes, na condição de colaboradores.
Nesse contexto, para além de uma jurisdição tradicional onde uma sentença
diz o direito, elegendo um vencedor e um perdedor - que provavelmente não

4
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e
59
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

estabelecerão mais nenhum tipo de relação de afeto, ainda que integrantes de um


mesmo núcleo familiar - surge a necessidade de uma atuação pacificadora, que
restabeleça o diálogo positivo e afetuoso, sem vencedores e perdedores, no
procedimento do que se chama “ganha-ganha”.
A mediação tem seu amparo na Lei nº 13.140/2015 e conceitua-se como
uma forma extrajudicial para a solução de conflitos, onde é nomeado um terceiro,
este denominado mediador, para que intervenha e auxilie na resolução do conflito

do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:


60
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

através da comunicação (BRASIL, 2015b). Desse modo, a mediação vem com o


intuito de converter a cultura do conflito pela cultura do diálogo (DIREITO
PROFISSIONAL, 2017).
Conforme ressalta Spengler (2010), com o crescimento das demandas
judiciais, a mediação (através de um terceiro) traz como possibilidade a solução dos
conflitos de uma maneira consensual, sem que necessite a sentença de uma ação
judicial.

I - a soberania;
61
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

Nesse contexto, a mediação é considerada atualmente uma maneira


“ecológica de resolução dos conflitos sociais e jurídicos, uma forma na qual
o intuito de satisfação do desejo substitui a aplicação coercitiva de uma
sanção legal”. Diz-se dela uma forma consensuada de tratamento do litígio,
uma vez que o terceiro mediador tem um “poder de decisão limitado ou não
autoritário, e que ajuda as partes envolvidas a chegarem voluntariamente a
um acordo, mutuamente aceitável com relação às questões em disputa”.
Por isso, não se pode perder de vista a importância desta prática em uma
sociedade cada vez mais complexa, plural e multifacetada, produtora de
demandas que a cada dia se superam qualitativamente e quantitativamente
(SPENGLER, 2010, p. 319).

62
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

A mediação surgiu com o intuito de diminuir as demandas judiciais, visto


que, cada vez mais, o Poder Judiciário está tornando-se lento e incapaz para
resolver suas lides de uma maneira justa. A mediação é utilizada para a solução de
diferentes casos, trazendo vantagens, como a rapidez, e também fazendo com que
as partes entrem em acordo de modo consensual (NASCIMENTO, 2011).
Nesse ínterim, Yarn (1999, p. 87) aclara o conceito de mediação:

Um processo autocompositivo segundo o qual as partes em disputa são


auxiliadas por uma terceira parte, neutra ao conflito, ou um painel de
63
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

pessoas sem interesse na causa, para auxiliá-las a chegar a uma


composição. Trata-se de uma negociação assistida ou facilitada por um ou
mais terceiros na qual se desenvolve processo composto por vários atos
procedimentais pelos quais o(s) terceiro(s) imparcial (is) facilita(m) a
negociação entre pessoas em conflito, habilitando-as a melhor compreender
suas posições e a encontrar soluções que se compatibilizam aos seus
interesses e necessidades.
O instituto da mediação tem grande notoriedade social, onde busca,
juntamente com o mediador, de modo imparcial, encontrar com as partes a solução
para a resolução de conflitos que vem enfrentando. A palavra mediação tem como

II - a cidadania;
64
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

significado o procedimento que busca o desenvolvimento de um litígio, através da


utilização de um intermediário entre as partes conflitantes (DICIO, 2020).
Diante do exposto, é compreendido que a mediação é composta pela
resolução de conflitos, onde o mediador auxilia na comunicação entre as partes com
o intuito de cessar a cultura do conflito, fazendo com que a cultura do diálogo seja
inserida e obtendo-se ou não o acordo. Faz-se com que as partes dialoguem de
maneira amigável, fazendo com que seus litígios sejam resolvidos e, desse modo,

65
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

analisa-se os seus relevantes princípios. Assim sendo, a jurista Marinela (2012, p.


25) conceitua-os:

Assim, os princípios são mandamentos de otimização, normas que ordenam


a melhor aplicação possível, dentro das possibilidades jurídicas e reais
existentes, portanto, a sua incidência depende de ponderações a serem
realizadas no momento de sua aplicação. Existindo para o caso concreto
mais de um princípio aplicável, esses não se excluem.

66
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

Os seguintes princípios regem a mediação na solução de conflitos. O


Princípio da Busca pelo Consenso é onde a mediação procura a solução de conflitos
apenas no consenso, dado que não há nenhum profissional que possa decidir o
resultado, assim, a solução do conflito é o acordo entre as partes envolvidas
(DIREITO PROFISSIONAL, 2019).
O Princípio da Confidencialidade trata do sigilo das informações tratadas na
sessão e que só poderão ser utilizadas com a autorização dos envolvidos. A
garantia da confidencialidade existe para que as partes mostrem seus pontos de

67
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

vista e as reais intenções sem receios, pois esse princípio garante que não será
usado a seu desfavor em um futuro. Com isso, pelo Princípio da Confidencialidade,
todas as informações colocadas durante as sessões de mediação são sigilosas, de
modo que não se guarda registro sobre o que foi dito durante as sessões (ROSA,
2012).

III - a dignidade da pessoa humana;


68
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

O Princípio da Competência diz que qualquer informação das sessões não


poderá ser utilizada em qualquer situação, sequer como provas, caso o conflito
torne-se um processo judicial (DIREITO PROFISSIONAL, 2019).
No Princípio da Decisão Informada, é imprescindível que as partes tenham
conhecimento das regras, dos direitos e também dos deveres que devem ser
respeitados durante as sessões de mediação (DIREITO PROFISSIONAL, 2019).
Parte-se para o Princípio da Imparcialidade, onde o mediador tem o dever de
agir de forma totalmente neutra e imparcial, sem dar preferência ou favorecimento

69
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

para nenhuma das partes. Caso haja comprovação de imparcialidade, o processo de


mediação será invalidado (DIREITO PROFISSIONAL, 2019).
O Princípio da Isonomia entre as partes é de suma importância na
mediação, onde o mediador deve contribuir para que o desfecho seja harmônico
entre as partes. Com isso, se faz necessário que o tratamento dos envolvidos seja
igual, utilizando-se os mesmos critérios de participação (DIREITO PROFISSIONAL,
2019).

70
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

Já o Princípio da Independência e Autonomia diz que só acontecerá o


processo de mediação se houver o consentimento entre as partes (DIREITO
PROFISSIONAL, 2019).
O Princípio do Respeito à Ordem Pública e às Leis Vigentes diz respeito
sobre o mediador trabalhar com liberdade, sem ser coagido, internamente ou
externamente, assim podendo suspender ou até mesmo recusar-se a mediar a
sessão caso as condições não sejam adequadas para o prosseguimento (DIREITO
PROFISSIONAL, 2019).

71
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

O Princípio do Empoderamento significa que as partes são as principais


responsáveis pelo andamento da mediação, sendo assim, é necessário que haja um
componente educativo para que as partes tenham autocontrole da situação
(DIREITO PROFISSIONAL, 2019).
O Princípio da Validação aborda a humanização no andamento da
mediação. O mediador deve agir com empatia, compreensão e, principalmente, ter a

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; (Vide Lei nº 13.874, de 201
72
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

preocupação pelo conflito e interesse mútuo pelas partes (DIREITO


PROFISSIONAL, 2019).
O Princípio da Informalidade mostra que não há uma forma exata para
conduzir o processo da mediação, salvo orientações dispostas pela lei. Esse
princípio se mostra fundamental para que as partes tenham a liberdade em definir a
melhor solução para o seu conflito. A ausência dessas diretrizes não retira o caráter
informal da mediação, por isso existem as normas e princípios para serem seguidos
(DIREITO PROFISSIONAL, 2019).

73
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

O Princípio da Oralidade mostra a extrema necessidade do uso da


comunicação entre as partes, desse modo, precisa-se do entendimento do que está
sendo tratado. Isto é o que difere de um processo judicial, onde a finalidade da
mediação não é a resposta imediata e sim o diálogo entre as partes para que entrem
em consenso sobre o seu conflito (DIREITO PROFISSIONAL, 2019).

74
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

O Princípio da Boa-Fé é de grande relevância na mediação, já que se tem a


necessidade da honestidade, sinceridade, lealdade e também da justiça para que
seja justo para as partes (DIREITO PROFISSIONAL, 2019).
E, por fim, o Princípio da Simplicidade, onde o mediador deve, com seu
conhecimento e técnicas, facilitar o procedimento para o fácil entendimento das
partes, para que fiquem mais à vontade, permitindo que as mesmas tenham um
comportamento natural e franco, sendo importante para o desfecho positivo do
conflito (DIREITO PROFISSIONAL, 2019).

75
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

3.1 Do procedimento da mediação

De acordo com a Resolução de nº 125, foi introduzida a mediação e


conciliação no Brasil, atribuindo, dessa maneira, as obrigações e deveres constados
no seu Código de Ética de Conciliadores e Mediadores Judiciais (BRASIL, 2010).
Saliente-se, ainda, que foi apenas com a entrada do Código de Processo Civil, em
2016, que se trouxe a determinação da realização de sessões de mediação.

V - o pluralismo político.


76
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

Conforme o artigo 1º, Anexo, da Resolução de nº 125: “Artigo 1º - São princípios


fundamentais que regem a atuação de conciliadores e mediadores judiciais:
confidencialidade, competência, imparcialidade, neutralidade, independência e
autonomia, respeito à ordem pública e às leis vigentes” (BRASIL, 2010, p. 7).
Sobre os princípios fundamentais dos mediadores, tem-se o da
Confidencialidade, onde se deve manter totalmente em sigilo o que foi discutido na
sessão, somente diante da autorização das partes poderão ser divulgadas as
informações ou em caso de violação das leis vigentes ou violação à ordem pública.

77
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

Assim sendo, o mediador não pode atuar como advogado das partes, sequer ser
testemunha do caso.
No que tange à competência do mediador, é necessário que tenha a
qualificação e habilitação para atuar judicialmente, obtendo regularmente
conhecimento atualizado e obrigatório.
Além da qualificação adequada e reconhecida do mediador, também este
deve ser imparcial, ou seja, a imparcialidade é um dos princípios fundamentais, onde

78
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

se deve agir sem favoritismo entre as partes, viabilizando, assim, valores e conceitos
pessoais, sem que haja preconceito ou preferência, tampouco aceitar subornos para
favorecimento alheio.
Destaca-se, ainda, a neutralidade, que é respeitar os pontos de vista de
ambas partes, tratando com igualdade seus valores e também se mantendo neutro e
imparcial.
O mediador possui autonomia para atuar com liberdade, sem quaisquer
coações, tanto internas quanto externas, assim podendo suspender, interromper ou

79
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

recusar a sessão caso se façam para ausentes tais condições de extrema


necessidade o bom desenvolvimento da mesma. E também o respeito à ordem
pública e suas leis vigentes, devendo garantir que o eventual acordo entre as partes
não contenha violações à ordem pública ou às leis vigentes.

Art. 2º. As regras que regem o procedimento da conciliação/mediação são


normas de conduta a serem observadas pelos conciliadores/mediadores
para seu bom desenvolvimento, permitindo que haja o engajamento dos

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou
80
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

envolvidos, com vistas à sua pacificação e ao comprometimento com


eventual acordo obtido [...] (BRASIL, 2010, p. 8).

Das regras que regem a conciliação e mediação, a informação é onde se


deve clarificar aos envolvidos o método de trabalho que é empregado nas sessões,
de forma clara, assim informando sobre os princípios deontológicos, juntamente com
as regras de conduta necessárias no processo.

diretamente, nos termos desta Constituição (BRASIL, 1988).


81
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

A autonomia da vontade é a incumbência do mediador de respeitar


diferentes pontos de vistas das partes, garantindo que alcancem a decisão
totalmente voluntária e de modo algum coercitiva, dessa forma, tendo a total
independência para tomar as decisões no curso do processo, podendo interrompê-lo
a qualquer instante.
Já a ausência de obrigação de resultado é o dever do mediador de não
forçar acordos e muito menos decidir pelos envolvidos. Pode-se criar opções apenas
no caso da conciliação, que poderão ou não serem acolhidas pelas partes.

82
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

A desvinculação da profissão de origem trata-se como o dever do


esclarecimento, onde se explica às partes que o mediador trabalha totalmente
desvinculado da sua profissão de origem, pois, caso seja necessário
aconselhamento ou orientação de qualquer assunto, deve-se convocar para a
sessão um profissional para o respectivo assunto, desde que haja o aval de todos.

5
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao
83
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

O teste de realidade é o dever de assegurar para os envolvidos que, ao


chegarem a um acordo, entendem perfeitamente suas decisões, que devem ser
executáveis, cumprindo o que for acordado.

Art. 3º. Apenas poderão exercer suas funções perante o Poder Judiciário
conciliadores e mediadores devidamente capacitados e cadastrados pelos
tribunais, aos quais competirá regulamentar o processo de inclusão e
exclusão no respectivo cadastro (BRASIL, 2010, p. 9).

jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
84
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

Nesse diapasão, poderão apenas exercer suas funções diante do Poder


Judiciário conciliadores e mediadores capacitados e cadastrados pelos tribunais,
que tocará na regulamentação do processo de inclusão e exclusão de cadastro.

Art. 4º. O conciliador/mediador deve exercer sua função com lisura,


respeitando os princípios e regras deste Código, assinando, para tanto, no
início do exercício, termo de compromisso e submetendo-se às orientações
do juiz coordenador da unidade a que vinculado (BRASIL, 2010, p. 9).

85
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

Os conciliadores e mediadores devem exercer a sua função com


integridade, respeitando todos princípios e regras do Código de Ética de
Conciliadores e Mediadores Judiciais. Desse modo, se faz necessária, no início de
seu exercício, a assinatura em termo de compromisso, onde submetem-se às
orientações do juiz encarregado da unidade que foram vinculados.
“Art. 5º. Aplicam-se aos conciliadores/mediadores os mesmos motivos de
impedimento e suspeição dos juízes, devendo, quando constatados, serem

profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e


86
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

informados aos envolvidos, com a interrupção da sessão e sua substituição”


(BRASIL, 2010, p. 9). É posto aos conciliadores e mediadores os mesmos
impedimentos e suspeição de juízes, que, ao serem constatados, devem informar às
partes, para que se possa ser feita a substituição e, assim, dar-se seguimento à
sessão.
“Art. 6º. No caso de impossibilidade temporária do exercício da função, o
conciliador/mediador deverá informar com antecedência ao responsável para que

comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,


87
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

seja providenciada sua substituição na condução das sessões” (BRASIL, 2010, p. 9).
Deve-se informar com antecedência caso haja impedimento temporário no exercício
da função do conciliador ou mediador, para que, então, seja providenciada a
substituição e dado o seguimento nas sessões.
“Art. 7º. O conciliador/mediador fica absolutamente impedido de prestar
serviços profissionais, de qualquer natureza, pelo prazo de dois anos, aos
envolvidos em processo de conciliação/mediação sob sua condução” (BRASIL,

violência, crueldade e opressão.


88
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

2010, p. 9). É absolutamente vedado que o conciliador ou mediador preste serviços


profissionais às partes, seja de qualquer natureza, no prazo de dois anos após
encerrado o processo de conciliação ou mediação sob sua orientação.

Art. 8º. O descumprimento dos princípios e regras estabelecidos neste


Código, bem como a condenação definitiva em processo criminal, resultará
na exclusão do conciliador/mediador do respectivo cadastro e no
impedimento para atuar nesta função em qualquer outro órgão do Poder
Judiciário nacional.
Parágrafo único – Qualquer pessoa que venha a ter conhecimento de
conduta inadequada por parte do conciliador/mediador poderá representá-lo

89
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

ao Juiz Coordenador a fim de que sejam adotadas as providências cabíveis


(BRASIL, 2010, p. 9).

Caso seja comprovado o descumprimento dos princípios e regras do referido


Código de Ética de Conciliadores e Mediadores Judiciais, cabe condenação em
esfera criminal, resultando, então, na exclusão imediata do referido conciliador ou
mediador do cadastro e ficando vedada a sua atuação nesta função ou em qualquer
outro órgão do Poder Judiciário Nacional. Ressaltando-se que qualquer pessoa que

90
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

tenha conhecimento de condutas impróprias por parte do conciliador ou mediador


pode retratar ao Juiz Coordenador para que sejam tomadas as devidas providências
adequadas.
A mediação extrajudicial é um procedimento que ocorre fora dos tribunais e
necessita que seja procurada de forma espontânea por uma das partes e
devidamente aceita pela outra parte. Nesse modo de mediação, as partes podem
ser assistidas por advogados ou defensores públicos e o objetivo do mediador é
facilitar a negociação entre as partes com suas técnicas de diálogo (COZENSA,

91
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

2018). Diante disso, é escolhido o mediador através de uma lista de nomes


capacitados, e sobre eles recai os mesmos impedimentos previstos em lei sobre os
magistrados, no Código de Processo Civil:

Art. 145. Há suspeição do juiz:


I - amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados;
II - que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa antes
ou depois de iniciado o processo, que aconselhar alguma das partes acerca
do objeto da causa ou que subministrar meios para atender às despesas do
litígio;

§ 1º O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança, do adolescente e do


92
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

III - quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu
cônjuge ou companheiro ou de parentes destes, em linha reta até o terceiro
grau, inclusive;
IV - interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das
partes.
§ 1º Poderá o juiz declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, sem
necessidade de declarar suas razões.
§ 2º Será ilegítima a alegação de suspeição quando:
I - houver sido provocada por quem a alega;
II - a parte que a alega houver praticado ato que signifique manifesta
aceitação do arguido (BRASIL, 2015a).

93
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

Do mesmo modo que em processos judiciais, existem prazos a serem


cumpridos, local para a realização da primeira sessão de mediação e também
medidas cabíveis para a parte que não comparecer à sessão. A mediação é voltada
ao diálogo, para que, assim, se chegue a um acordo entre as partes sem a
necessidade de enfrentar o caos judicial (MIGALHAS, 2017).

jovem, admitida a participação de entidades não governamentais, mediante políticas específicas e


94
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

Com caráter informal, célere e oral, a mediação não tem formação ou regra
rígida que deva ser seguida, tudo depende da necessidade das partes. No entanto,
é de suma importância que o mediador defina as etapas claramente.
Existem seis etapas na mediação extrajudicial a serem seguidas, que são: a
pré-mediação, reunião de informações, identificação de questões, interesses e
sentimentos, esclarecimento de controvérsias, resoluções de questões e o registro
das soluções encontradas. Cada etapa tem seu prazo para ser concluída, que são

obedecendo aos seguintes preceitos:


95
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

de acordo com a situação a ser mediada e também há a importância de ressaltar


que, no final da mediação, pode ou não haver acordo. Com o acordo efetuado, a
mediação se faz encerrada e, assim, será constituído um título executivo
extrajudicial (DIREITO PROFISSIONAL, 2018).
Entretanto, na mediação judicial, o mediador será indicado pelo tribunal, este
não sendo de escolha das partes: “Art. 25. Na mediação judicial, os mediadores não
estarão sujeitos à prévia aceitação das partes, observado o disposto no art. 5º desta
Lei” (BRASIL, 2015b). O prazo para esse procedimento é de, no máximo, sessenta

96
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

dias, contados a partir da primeira sessão, podendo ser prorrogado a pedido das
partes e também, caso comprovada insuficiência financeira, poderão ser
assegurados pela Defensoria Pública.
Será designada a audiência após o recebimento da petição inicial, para que
haja uma tentativa de solucionar o litígio de forma pré-processual. Se assim feito,
será homologado pelo juiz como título executivo judicial. Todavia, caso não haja
acordo, o processo seguirá seu curso judicial.

97
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

Desse modo, Spengler e Spengler Neto (2016, p. 61) esclarecem: “A


mediação não procura ‘culpados’ nem tão poucos “inocentes”, mas apenas incentiva
as partes a encontrar uma solução consensual, onde juntas, através do diálogo,
solucionem seus conflitos sem precisar ingressar com um processo judicial”.
Destaca-se que, no Brasil, entrou em vigor a Lei de nº 13.140, de 26 de
junho 2015 - Lei da Mediação - que disciplina a mediação. No que tange a conflitos
familiares, é perfeitamente possível sua aplicabilidade, principalmente por se tratar
de relações continuadas e que merecem maior cuidado ao tratar de questões de

98
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

guarda, alimentos, visitas, filhos dependentes dos pais ou responsáveis para seu
pleno desenvolvimento e, nesses casos, o respeito e o diálogo são a melhor
alternativa na resolução desses litígios.
Nesse sentido, também importante lembrar que a mediação proporciona que
os próprios envolvidos no conflito possam construir soluções, criar e estarem
ativamente presentes no processo decisório.

I -  aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à saúde na assistência materno-infantil;
99
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

Posto isto, entende-se que o instituto da mediação pode ser utilizado de


forma alternativa para a resolução de conflitos e também para a diminuição de
demandas judiciais, assim visando o desafogamento do Poder Judiciário. No
entanto, conforme leituras realizadas, esse não é o principal escopo da mediação
nos conflitos familiares. O principal é restabelecer o respeito e o diálogo entre os
seus integrantes (ex-marido, ex-esposa, avós, tios, etc.) para propiciar aos filhos
havidos da relação conjugal uma vida saudável, sem brigas e desentendimentos

100
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

entre os adultos, visto que, para os filhos, o mais importante é que se tenha uma
relação baseada no afeto, respeito, solidariedade e harmonia entre todos.

CONCLUSÃO

Conforme se observou, desde as primeiras formações, a família sempre teve


como fim o agrupamento de pessoas para a melhoria da qualidade de vida. Dessa

101
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

forma, por evidência, não se pode considerar como natural a existência de conflitos,
especialmente que demandem a intervenção do Estado, pois tal condição fere de
morte o objetivo precípuo, a melhoria da qualidade de vida.
Em que pese tal expectativa, no fluir do viver, observou-se um crescente no
número de processos judicializados envolvendo o direito de família e conflitos
decorrentes de relações familiares, o que acompanha, por coincidência ou não, o
surgimento de novos modelos e formações família.

102
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

Nessa perspectiva, deveria a tutela estatal buscar um resultado pacificador


dessas relações, de forma atenta e coerente com os princípios norteadores do
direito de família. Durante a pesquisa, verificou-se que, em sentido contrário, o
método tradicional de tramitação e julgamento dos processos - no qual um juiz
preside a ação e ao final julga o caso e diz o direito de acordo com suas convicções
- não tem sido suficiente para reduzir o número de demandas judicializadas,
tampouco restaurar os laços afetivos existem antes do surgimento do conflito.

II -  criação de programas de prevenção e atendimento especializado para as pessoas portadoras de


103
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

Tanto é assim, que, no Capítulo 2, é demonstrado que, nos últimos cinco


anos, se notou um crescimento significativo no número de processos distribuídos,
assim, praticamente dobrando os números. No ano de 2015, novos processos
representavam 13% no total das novas ações, já em 2019 representou 24%. Por
outro lado, a mediação surgiu no Brasil com a Lei nº 13.140, de 26 de junho de
2015, e veio com o intuito de diminuir as demandas judiciais.

deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente e do jovem
104
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

A mediação acontece com a nomeação de um terceiro, o mediador, para


que intervenha e auxilie na resolução do conflito através da comunicação, de modo
imparcial, encontrando com as partes a solução para a resolução de conflitos que
vêm sendo enfrentados.
A mediação extrajudicial ocorre fora dos tribunais e é necessário que seja
procurada pelos envolvidos, de forma espontânea. As partes devem ser assistidas
por advogados ou defensores públicos e o objetivo do mediador é a facilitação do

portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do


105
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

diálogo entre as partes, para que ambas cheguem em comum acordo, tem como
prazo máximo de três meses para a sua manifestação após receber a notificação. Já
na mediação judicial, não se faz necessária a aceitação do mediador pelas partes,
assim será designada a audiência após recebida a petição inicial, iniciando o
processo da mediação, onde haverá tentativas para solucionar o litígio. Obtendo
sucesso na tentativa, será homologado pelo juiz um acordo como título executivo
judicial; entretanto, não havendo acordo, o processo seguirá como judicial. O prazo

acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de obstáculos arquitetônicos e de todas as
106
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

desse procedimento é de sessenta dias, podendo ser prorrogado caso solicitado


pelas partes.
O principal intuito da mediação é o restabelecimento do diálogo e respeito
entre as partes, para que, assim, seja proporcionada uma vida saudável, sem
conflitos aos filhos havidos na relação conjugal, onde o mais importante para os
filhos é a demonstração de afeito, respeito e harmonia entre todos.
Destarte, no que se refere a conflitos familiares, é possível a aplicabilidade
da mediação, especialmente por se tratar de relações continuadas e estas

107
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

necessitam uma maior atenção, dado que se tratam de alimentos, guardas e visitas,
onde os filhos dependem dos pais e/ou responsáveis para o seu desenvolvimento, e,
tratando-se disso, o diálogo e respeito são os melhores métodos para se obter êxito.
Conclui-se que, enquanto os dados coletados evidenciam que o método
tradicional de jurisdição não tem se mostrado suficiente para reduzir o número de
demandas, tampouco promover a chamada paz social entre as partes, a mediação
familiar, por outro lado, surge como possibilidade que, respondendo ao problema de

formas de discriminação.
108
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

pesquisa, se mostra vantajosa. Além de ter procedimentos mais céleres, a mediação


propõe a composição entre as próprias partes, de forma mais pacífica e menos
litigiosa.

REFERÊNCIAS

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de 2010. Dispõe sobre a Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos
conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário e dá outras providências.
109
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

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Acesso em: 18 jun. 2020.

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1988. Brasília: Presidência da República, 2020. Disponível em:
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TRABALHO DE CONCLUSÃO
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Disponível em: https://www.dicio.com.br/mediacao/. Acesso em: 12 jun. 2020.

MEDIAÇÃO de conflitos - conheça tudo sobre o tema. Direito Profissional, [S. l.],
04 mai. 2017. Disponível em: https://www.direitoprofissional.com/mediacao/. Acesso
em: 18 jun. 2020.

fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às pessoas


114
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

MÜLLER, Meri. Princípios constitucionais da família. Jus Navigandi, [S. l.], set.
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NASCIMENTO, Joelma Gomes do. Mediação: Meio alternativo para solução de


conflitos. Âmbito Jurídico, Rio Grande, n. 84, jan. 2011. Disponível em:
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-processual-civil/mediacao-meio-
alternativo-para-solucao-de-conflitos/. Acesso em: 18 jun. 2020.

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TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

OS PRINCÍPIOS da mediação de conflitos. Direito Profissional, [S. l.], 07 mai.


2019. Disponível em: https://www.direitoprofissional.com/principios-da-mediacao/.
Acesso em: 19 jun. 2020.

QUAIS SÃO as etapas da mediação extrajudicial?. Direito Profissional, [S. l.], 18


jun. 2018. Disponível em: https://www.direitoprofissional.com/etapas-da-mediacao-
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ROSA, Conrado Paulinho da. Desatando nós e criando laços: os novos desafios


da mediação familiar. Belo Horizonte: Del Rey, 2012.

portadoras de deficiência.
116
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

SPENGLER, Fabiana Marion. Da jurisdição à mediação: por uma cultura no


tratamento de conflitos. Ijuí. Unijuí, 2010.

SPENGLER, Fabiana Marion; SPENGLER NETO, Theobaldo (Orgs.). Mediação,


conciliação e arbitragem: artigo por artigo de acordo com a Lei nº 13.140/2015, Lei
nº 9.307/1996, Lei nº 13.105/2015 e com a Resolução nº 125=2010 do CNJ
(Emendas I e II). Rio de Janeiro: FGV, 2016.

TARTUCE, Flávio. Novos princípios do Direito de Família Brasileiro. IBDFAM, Belo


Horizonte, 27 jun. 2007. Disponível em:
http://www.ibdfam.org.br/artigos/308/Novos+princípios+do+Direito+de+Família+Brasi
leiro. Acesso em: 19 mai. 2020.
117
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

VASCONCELOS, Carlos Eduardo de. Mediação de conflitos e práticas


restaurativas: modelo, processos, ética e aplicações. São Paulo: Método, 2008.

YARN, Douglas. Dictionary of Conflict Resolution. São Francisco: Jossey-Bass


Inc., 1999.

YASSUE, Izabela. A família na Constituição Federal de 1988. DireitoNet, [S. l.], 18


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familia-na-Constituicao-Federal-de-1988. Acesso em: 19 mai. 2020.

118
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

ANEXO A - ESTATÍSTICAS 2015

119
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

§ 3º O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos:


120
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121
TRABALHO DE CONCLUSÃO
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TRABALHO DE CONCLUSÃO
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123
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I -  idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho, observado o disposto no art. 7º,
124
TRABALHO DE CONCLUSÃO
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125
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

XXXIII;
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TRABALHO DE CONCLUSÃO
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ANEXO B - ESTATÍSTICAS 2016

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TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

II -  garantia de direitos previdenciários e trabalhistas;


130
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131
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132
TRABALHO DE CONCLUSÃO
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TRABALHO DE CONCLUSÃO
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III -  garantia de acesso do trabalhador adolescente e jovem à escola;


134
TRABALHO DE CONCLUSÃO
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ANEXO C - ESTATÍSTICAS 2017

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TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

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TRABALHO DE CONCLUSÃO
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TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

138
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DE CURSO II

processual e defesa técnica por profissional habilitado, segundo dispuser a legislação tutelar
139
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

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TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

ANEXO D - ESTATÍSTICAS 2018

específica;
141
TRABALHO DE CONCLUSÃO
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TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

143
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida privativa da liberdade;


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TRABALHO DE CONCLUSÃO
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145
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

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TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

ANEXO E - ESTATÍSTICAS 2019

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DE CURSO II

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TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

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TRABALHO DE CONCLUSÃO
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abandonado;
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DE CURSO II

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152
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

153
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

154
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

155
TRABALHO DE CONCLUSÃO
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156
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

157
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

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TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

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TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.


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DE CURSO II

161
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

162
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

163
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

164
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

165
TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

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TRABALHO DE CONCLUSÃO
DE CURSO II

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TRABALHO DE CONCLUSÃO
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