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JUSTIÇA RESTAURATIVA E O DIREITO DE FAMÍLIA: ALGUMAS APROXIMAÇÕES

Leticia Nunes de ALVARENGA1

BRAVO, Taciane2

RESUMO: A pesquisa apresentada tem como tema o estudo da Justiça Restaurativa e sua
contribuição para o Direito de Família, principalmente ao se considerar como potencial
conciliador e pacificador da Justiça Restaurativa. Considerando a escassez de bibliografia
especifica que tratasse do tema, o estudo apresentado representa uma singela contribuição
sobre essa temática. A partir da pesquisa realizada, constatou-se que as práticas
restaurativas tem sido amplamente defendidas e apoiadas pelo Conselho Nacional de
Justiça – CNJ – como alternativas viáveis, tanto para desafogar o judiciário e a tendência
crescente a judicialização dos conflitos, quanto pelos efetivos resultados na pacificação dos
conflitos e restauração do convívio social envolvendo as partes e outras pessoas afetadas.
Na Justiça Restaurativa além da figura do ofensor e do ofendido, estão presentes também
representantes da comunidade, familiares e os facilitadores, que são os profissionais que
conduzem e auxiliam nos procedimentos restaurativos. São características diferenciadas e
ao mesmo tempo fatores inovadores do processo em satisfazer as pretensões das partes.
Outro aspecto igualmente importante, é que a Justiça Restaurativa não veio para competir
com as formas tradicionais de atuação do judiciário, mas, para contribuir onde seja possível
conforme o caso concreto a disposição das partes em participar.

Palavras-chave: Direito de Família. Conflitos. Judiciário. Justiça Restaurativa.

1. INTRODUÇÃO

O estudo apresentado teve como problema, pensar que contribuições a Justiça


Restaurativa poderia oferecer para a resolução de conflitos no âmbito familiar. O interesse
por esse assunto teve início durante os estágios realizados no Núcleo de Prática Jurídica
localizado na Cidade Industrial de Curitiba e vinculado ao curso de Direito do Centro
Universitário Santa Cruz sob a coordenação atenta e carinhosa da Profa. Me. Taciane
Bravo.

1
Pedagoga formada pelas Faculdades Bagozzi, Especialista em Psicopedagogia Institucional pela Pós-Graduação Itecne
Madalena Sofia, acadêmica do 10º período do curso de Direito do Centro Universitário Santa Cruz. E-mail:
letician2011@live.com
2
Buscando responder a essa questão a primeira dificuldade foi a escassez de
bibliografia especifica sobre esse tema, visto que tradicionalmente a Justiça Restaurativa
teve seu início e maior presença no direito penal. Uma realidade que vem se transformando
com a expansão das práticas restaurativas para diferentes esferas do direito, e outras
instituições, como escolas e empresas. Uma expansão coerente, pois onde há pessoas,
haverá conflitos e a necessidade de restauração de vínculos e de pacificação.
A metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica e análise exploratória. O percurso
desenvolvido buscou inicialmente nos manuais de direito civil e nos doutrinadores de maior
reconhecimento, identificar contribuições para desenvolvimento desse estudo. Em seguida
a pesquisa voltou-se aos livros e artigos que tratasse da temática ou que tivessem alguma
relação com a mesma. A pouca produção especifica no tema pesquisado, fez com o estudo
buscasse construir aproximações com a Justiça Restaurativa, o que de certa forma
justificou esse trabalho como um esforço singelo, mas inovador, ao tentar contribuir com
uma reflexão de aproximação entre Direito de Família, resolução de conflitos e Justiça
restaurativa.
O texto foi organizado em três seções, sendo a primeira a realização de um estudo
conceitual sobre justiça e um breve histórico da Justiça Restaurativa., com destaque para
a atuação do Conselho Nacional de Justiça – CNJ, que colocou a expansão das práticas
restaurativas como política nacional do judiciário. A terceira seção tratou dos métodos e do
funcionamento da Justiça Restaurativa, seus princípios, objetivos e técnicas. Entre as
técnicas mais utilizadas, foi explicado o conceito de círculo da paz, sua descrição e
funcionamento. Na terceira e última seção o foco se dirigiu-se a aplicação da Justiça
Restaurativa no Judiciário, com recorte para o âmbito do Direito familiar, seguido das
conclusões desse estudo.

2. JUSTIÇA RESTAURATIVA: UMA BREVE TRAJETÓRIA

Antes de iniciar esse estudo, faz-se necessário buscar uma maior compreensão
sobre a ideia de justiça, a partir de algumas ponderações. O dicionário Abbagnano de
filosofia (2007) apresenta dois significados de justiça, o primeiro como aquela conduta que
se conforma a norma instituída em relação a vida social e civil, o que torna possível a
convivência humana. O segundo significado diz respeito às próprias normas e sua eficiência
em contribuir para a convivência humana e para as relações sociais. Na primeira concepção
de justiça o foco é o comportamento humano e o quanto esse comportamento se aproxima
ou se distancia da norma instituída. Na segunda concepção o foco é direcionado as próprias
normas e sua efetividade, eficiência e os valores que as embasam.
Na tradição do pensamento filosófico é preciosa a contribuição de Aristóteles (2002),
para quem a ideia de justiça tem relação com equidade, não necessariamente com
igualdade em sentido geral. Equidade quer dizer, para esse filósofo, que os iguais deveriam
ser tratados iguais e os diferentes de maneira diferente, isso no sentido de alcançar maior
equilíbrio. Podemos relacionar essa ideia com a realidade da educação no ambiente
escolar, área em que a autora desse texto tem formação e experiência profissional. Um
professor que avalia alunos mais avançados e alunos com algum déficit da mesma forma,
agiu com igualdade, porém fui injusto com os alunos com déficits. Com base na concepção
de justiça de Aristóteles para ser realmente justo o professor deveria ter avaliado de
maneira diferente, os alunos em suas condições e diferenças. A ideia de equidade, estará
presente ao longo desse estudo, refletindo-se no esforço de compreender e apresentar o
potencial da Justiça Restaurativa.
No seu início, por volta do final da década de 1990 um dos autores que deram início
a discussão sobre Justiça Restaurativa é Tony Marshall apud Ferreira (2006), jurista norte
americano, para que quem trata-se de um processo em que as partes envolvidas na ofensa,
escolhem um caminho diferenciado para resolver o problema do conflito e suas
consequências. Nessa linha a Justiça Restaurativa vai além de uma visão apenas punitiva,
ou retributiva do direito propondo um novo olhar, uma verdadeira humanização em torno
das causas e consequências dos conflitos.
Existem aspectos éticos, sociais e inclusivos em torno da Justiça Restaurativa que
acabam por dar mais poder aos sujeitos envolvidos em situações conflituosos que chegam
ao judiciário. Esse empoderamento ocorre a partir do processo de resolução do conflito, no
qual os sujeitos participam ativamente da construção da solução, restauração de vínculos,
e na responsabilização consciente do agressor.
Por meio das práticas da Justiça Restaurativa, os participantes do processo
assumem um maior protagonismo, se tornam sujeitos, não ficam somente esperando uma
decisão da autoridade, mas contribuem para a construção dessa decisão e se reconhecem
nela como coautores. Esse é um aspecto fundamental para marcar a diferença entre a
Justiça Restaurativa e a resolução convencional mediante o processo tradicional do
judiciário. Existe um componente comunitário nos encaminhamentos da Justiça
Restaurativa que confere ainda mais legitimidade e eficácia as resoluções que são
construídas.
A partir das leituras realizadas vai se evidenciado que a Justiça Restaurativa
proporciona a humanização do judiciário, dando vez e voz, mas também poder aos
envolvidos. Não significa com isso se tratar de algo marginal ou revelia do judiciário, mesmo
porque, as decisões construídas no âmbito da Justiça Restaurativa passam pelos trâmites
do judiciário, com a escrita, formalização, homologação e publicização para os efeitos na
órbita judicial, uma vez que dentro esfera relacional e social já alcançou sua efetividade e
reconhecimento.
Existem autores como Brancher (2011) que localizam as origens da Justiça
Restaurativa entre as práticas ancestrais de povos indígenas de origem norte-americana.
Era muito comum que entre diferentes grupos étnicos de indígenas diversos problemas da
tribo fossem discutidos em rodas de conversas com a mediação dos mais velhos e sábios.
Faz muito sentido imaginar essa origem, visto que ainda hoje as comunidades indígenas
não só dos EUA, mas diversas outras espalhadas pelo mundo ainda mantenham suas
tradições de resolução de conflitos envolvendo toda a comunidade nesse processo.
Numa ponderação, a justiça dentro de um contexto assim descrito, passa a ser
construída socialmente com a participação coletiva. As próprias normas e leis dessas
comunidades, refletem suas vidas, seus valores e tradições. Não são o resultado de
decisões de legisladores, muitas vezes distantes e alheios de suas necessidades, como em
geral acontece nas sociedades não indígenas.
Considerando as diferenças culturais entre os povos e comunidades indígenas, é
muito frequente que os estudos antropológicos Carneiro, (1987), reconheçam como traço
comum, que as práticas da justiça adotadas por diversos povos originários, tendem a refletir
seus valores costumes, estando em consonância com suas vidas e tradições.
De fato, segundo Kay Pranis, as comunidades ancestrais e seus remanescentes tem
muito a ensinar sobre a relação com a natureza e com nossos semelhantes. Pranis é
considerada idealizadora dos processos circulares da Justiça Restaurativa, e em palestra
proferida na Associação dos Magistrados Brasileiros – AMB - em 2019, os Círculos da Paz
a autora afirmou que esses círculos são muito semelhantes as rodas de conversas dos
indígenas, tendo com esses, uma relação ancestral, mas adaptados à realidade das
culturas urbanas.
As práticas da Justiça Restaurativa tiveram um crescimento muito grande na última
década tornando-se uma proposta adaptada e aplicada em diversas realidades e
instituições, desde Associação de Bairros, a Igrejas, Escolas, Prisões e Empresas. O que
fez com as técnicas da Justiça Restaurativa alcançassem grande influência e notoriedade,
estando presentes em diversos os países mundo afora.
Os ótimos resultados alcançados no plano da resolução de tensões e conflitos nas
mais diversas áreas, fizeram com que a ONU a partir da Resolução n. 1999/26, de 28 de
julho de 2000 colocasse como recomendação oficial a todos os países-membro a adoção
das práticas restaurativas no âmbito de seus sistemas de justiça e assistência. Essa media
alcançou o mundo interior e diversos países desenvolveram programas de formação de
agentes da Justiça Restaurativa para aplicar e desenvolver suas práticas na infraestrutura
judicial.
No Brasil, será a partir de 2005 o marco temporal a indicar o surgimento e
intensificação da Justiça Restaurativa, principalmente nas Varas do Juizado da Infância e
Juventude no Rio Grande do Sul (CNJ, 2019). Nos diversos casos registrados, em que as
partes optaram pela resolução alternativa de seus conflitos, agressor e vítima, bem como
membros dos familiares e representantes da comunidade ingressam numa jornada de
restauração mediante as reuniões dos Círculos de Paz.
Um processo realizado com o auxílio dos facilitadores, pessoas qualificadas a
trabalharem com as técnicas da Justiça Restaurativa, funcionários do judiciário, técnicos e
voluntários debatem os fatos e a infração cometida se utilizando da comunicação não
violenta. Uma esfera de comunicação restauradora é criada de maneira a formar um
compromisso das dos envolvidos no processo na recuperação social do jovem infrator.
A Justiça Restaurativa não realiza a abolição do ordenamento jurídico, nem funciona
à sua margem, mas contribui com a política judiciária e as demandas sociais, na busca por
encontrar formas inovadoras de aplicar a legislação e alcançar a pacificação social. Nesse
sentido a Justiça Restaurativa possui elementos jurídicos, terapêuticos e socioeducativos
com potencial de alcançar maior efetividade no âmbito jurídico e social (BIANCHINI, 2012).
Na última década, a Justiça Restaurativa foi ganhando força, apoio e credibilidade
por todo o país. Seus resultados fizeram com que diversas experiências de Justiça
Restaurativa fossem realizadas em vários Estados da Federação. Os projetos e as ações
que vem sendo realizadas, levam em consideração os potenciais e desafios locais,
aspectos culturais e demandas, conforme os diferentes o perfil das instituições e as
demandas da comunidade. Em todo o país por meio das práticas restaurativas vão sendo
recriada outras possibilidades de socialização e convivência, mesmo diante dos desafios
que que o enfrentamento dos conflitos traz as pessoas, instituições e sociedades.
De maneira didática pode-se observar no quadro histórico as diversas iniciativas
legais no Brasil e no mundo sobre o desenvolvimento da Justiça Restaurativa:
Figura 1 – Quadro histórico da Justiça Restaurativa3

Diante dos bons resultados e considerando os riscos de que a Justiça Restaurativa


possa sofrer algum tipo de monopólio, personalização e até desvirtuamento da Justiça
Restaurativa, o Conselho Nacional de Justiça editou a Resolução nº 225/2016,
estabelecendo uma Política Nacional de Justiça Restaurativa, de maneira a nortear, orientar
e regulamentar as práticas restaurativas o âmbito do poder judiciário. Textualmente se pode
ler:

A Justiça Restaurativa constitui-se como um conjunto ordenado e sistêmico de


princípios, métodos, técnicas e atividades próprias, que visa à conscientização
sobre os fatores relacionais, institucionais e sociais motivadores de conflitos e
violência, e por meio do qual os conflitos que geram dano, concreto ou abstrato, são
solucionados de modo estruturado [...]

Corroborando a ideia de zelo o inciso II ainda reforça

O inciso II deste artigo, por sua vez, afirma que as práticas restaurativas serão
coordenadas por facilitadores restaurativos capacitados em técnicas
autocompositivas e consensuais de solução de conflitos próprias da Justiça
Restaurativa, podendo ser servidor do tribunal, agente público, voluntário ou
indicado por entidades parceiras.4

A mesma resolução ainda determina a necessidade da criação do Comitê Gestor da


Justiça Restaurativa formado por Conselheiros e por Juízes, de diferentes regiões do País,
muitos dos quais que foram precursores na recepção e implantação da Justiça Restaurativa
no Brasil. Muitos desses juízes ainda hoje estão na liderança de iniciativas e projetos
espalhados por todo território nacional
Esse Comitê também realiza ações de articulação entre coletivos, iniciativas sociais
e o poder judiciário na promoção e consolidação dos princípios e valores restaurativos.
Outra atribuição é normatizar e criar planos formativos e de políticas públicas, considerando
as diversas experiencias de sucesso no país de maneira a respeitar e contemplar as
metodologias em uso alinhadas aos pressupostos restaurativos.
Em pesquisa realizada em 2019, o CNJ apurou que dos 32 Tribunais do país que
responderam a pesquisa somente três, não desenvolvem alguma iniciativa ligada a Justiça

3Elaborado por MENDONÇA & COUTO, 2015, citado por RAMOS, 2016, p. 33
4
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA – CNJ – Resolução nº 225 de 31 de maio de 2016. Disponível em:
<https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/atos-normativos?documento=2289> – Acesso em setembro de 2021
Restaurativa. Os dados publicados no relatório5 do CNJ ainda detalham os tipos de
programas implantados, seu funcionamento, coordenação e gestão, além dos processos
de implantação, avaliação e de formação dos recursos humanos que atuam nas iniciativas.
A análise do relatório, permite concluir que no geral, os programas, projetos e ações
em Justiça Restaurativa são implementados, mantidos e coordenados pelo próprio Poder
Judiciário, sendo que em muitas regiões e realidades, dispõe de pessoal qualificado na área
e com tempo de dedicação para atuar. Em outras realidades, as iniciativas e projetos da
Justiça Restaurativa acaba tendo de compartilhar espaços com setores, como os Centro
Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania -CEJUSCs.
Em relação às metodologias mais utilizadas da Justiça Restaurativa, estão os
círculos de construção da paz e comunicação não violenta, inspirados no modelo de Kay
Pranis, como já dito anteriormente. Um diferencial é que nessas iniciativas é comum a
presença de outras pessoas, além do autor e réu (ofensor e vítima). Membros da
comunidade, familiares e participam processo conferindo apoio e reconhecimento aos
acordos celebrados.
As áreas mais comuns de aplicação da Justiça Restaurativa são os conflitos
envolvendo infância e juventude e delitos na esfera criminal, mas cresce a cada dia seu uso
em situações de violência doméstica e ações voltadas ao direito de família.

3. OBJETIVOS E MÉTODOS NA JUSTIÇA RESTAURATIVA

Como medida de ampliação do o acesso à justiça, a Justiça Restaurativa busca


estender as possibilidades da prestação jurisdicional e a realização dos direitos por meio
das de suas práticas. Entre os objetivos principais da Justiça Restaurativa fica evidente
segundo Ramos (2016; p.63) a necessidade de

- Qualificar a execução das medidas socioeducativas nas Varas da Infância e da


Juventude, no âmbito do processo judicial e do atendimento técnico, mediante os
princípios e métodos da Justiça Restaurativa;
- Contribuir com a garantia dos direitos humanos e com a prevenção da violência nas
relações em que os adolescentes em atendimento tomam parte;

5
CNJ. MAPEAMENTO DOS PROGRAMAS DE Justiça Restaurativa. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-
content/uploads/conteudo/arquivo/2019/06/8e6cf55c06c5593974bfb8803a8697f3.pdf - acesso em outubro de 2021
- Sistematizar e difundir a metodologia necessária à implantação da Justiça
Restaurativa no Sistema de Justiça da Infância e da Juventude, e nas demais políticas
públicas.

Esses objetivos são materializados em diversas práticas e metodologias tendo uma


abordagem bastante simplificada envolvendo a escuta qualificada e atenção aos
sentimentos dos envolvidos, sobretudo do ofensor e da vítima. Os facilitadores recebem
uma qualificação formal e estão atento aos pedidos e relatos estimulando todos os
participantes a ter empatia. As intervenções são sempre pautadas pela comunicação não
violenta, a partir da qual a subjetividade dos participantes e sua dignidade são o tempo todo
respeitadas.

Ainda segundo o mesmo, as práticas da Justiça Restaurativa são inspiradas e


orientadas por alguns princípios:

Voluntariedade: A Justiça Restaurativa depende da concordância das partes em


conflito que deverá se manifesta de maneira expressa, com a possibilidade de que
as mesmas podem a qualquer momento, durante o andamento do procedimento
poderá se retirar e optar por prosseguir pelo meio convencional. Torna-se
importante esclarecer as partes e os demais participantes da busca pelo diálogo e
de que a opção pela Justiça Restaurativa visa alcançar a pacificação e a
responsabilização por outro caminho, e não acelerar o processo ou evitar
sobrecarregar o judiciário
Consenso: Justiça Restaurativa se legitima em seu funcionamento efetividade pela
construção do acordo sem sentido ampliado, podendo facultar as partes expor sem
limitações seus pontos de vista sobre a demanda e dos direitos e obrigações que o
procedimento envolve. Tanto o acordo, quanto a sua construção colaborativa são
os aspectos mais importantes do processo em sua dimensão integrativa e
responsiva.
Confidencialidade: Todos os procedimentos e vivencias ocorridas na Justiça
Restaurativa são confidenciais e protegidas pela justiça. Em caso de restar
infrutífero os procedimentos no âmbito da Justiça Restaurativa tudo que foi dito e
tratado não poderá ser utilizado como prova em processo do mesmo fato e partes.
Ser confidencial é condição para que as que os interessados se sintam confiantes
em se expor e relatar sua versão dos fatos, bem como expressar seus sentimentos
e os danos que sofreram. Situação que muitas vezes o aflorar de emoções e
conhecimento de aspectos da intimidade das partes. Somente com autorização
expressa das partes, poderão os conteúdos ser conhecidos ou divulgados, ou ainda
por situações que envolvam a violação à ordem pública ou às leis vigentes.

O Tribunal de Justiça do Paraná- TJ/PR elaborou uma Manual de Justiça de


Restaurativa para servir de apoio a realização de suas práticas. De maneira esquemática
pode-se compreender como se dá estruturação dos círculos de construção da paz em suas
etapas e funcionamento.
Ao ponderar sobre a descrição do quadro, resta evidente que a opção pela resolução
do conflito via Justiça Restaurativa é muito comum que é usual que os participantes sejam
organizados sentados em círculo, chamados de círculo de construção da paz. Embasam
os métodos restaurativos a conscientização, a responsabilização e busca por reparar o
dano causado e a restauração das relações humanos e sociais.
Ainda segundo Kay Pranis (2010, p. 78), precursora da Justiça Restaurativa no
mundo e idealizadora dos círculos, os mesmos se valem de uma estrutura para criar
possibilidades de

liberdade: liberdade para expressar a verdade pessoal, para deixar de lado as


máscaras e defesas, para estar presente como um ser humano inteiro, para
conseguir reconhecer erros e temores e para agir segundo nossos valores mais
fundamentais. Os participantes se sentam nas cadeiras dispostas em roda, sem
mesa no centro. Às vezes se coloca no centro algum objeto que tenha significado
especial para o grupo, como inspiração, algo que evoque nos participantes valores
comuns. O formato espacial do círculo simboliza liderança partilhada, igualdade,
conexão e inclusão. Também promove foco, responsabilidade e participação de
todos. Usando elementos estruturais intencionais (cerimônia, um bastão-de-fala,
um facilitador ou coordenador, orientações e um processo decisório consensual)
os Círculos objetivam criar um espaço onde os participantes se sentem seguros
para serem totalmente autênticos e fiéis a si mesmos.

Vê-se que a base da Justiça Restaurativa é possibilitar que os participantes possam


expressar sua experiência em relação ao fato, em como a situação afetou suas vidas, o
que muitas vezes envolve ir além do relato factual, abrangendo a trajetória de vida das
pessoas, seus problemas, dramas, alegrias e tragédias. A confluência de narrativas é algo
natural e benefício, possibilitando tocar o que une as pessoas em sua humanidade, as
conecta e fasta medos e bloqueios entre elas. Nesse sentido, poder participar do circulo
envolve aspectos terapêuticos que auxiliam as pessoas em lidar com as causas e
consequências do fato e do conflito decorrente do mesmo.
Do exposto, existem ainda outros valores e princípios que norteiam e inspiram os
métodos da Justiça Restaurativa como esperança, o compromisso consciente,
transparência nas narrativas, a afirmação de credibilidade, o respeito mútuo, a vontade e
autonomia em participar do processo, a construção de maior empoderamento em lidar com
as adversidades. Fica ainda salvaguardada a confidencialidade, a honestidade, a
humildade, a solidariedade, um foco humanista, visão comunitária e equilíbrio na busca
pela restauração.

4. A APLICAÇÃO DA JUSTIÇA RESTAURATIVA


Como já dito, a Justiça Restaurativa não existe ou funciona à margem do judiciário,
mas pelo contrário, representa uma das formas de acesso e realização da justiça acessível
aos cidadãos e que possui diferenciações em seus conceitos e aplicações, como veremos
mais adiante.
Como ferramenta do judiciário, a Justiça Restaurativa tem aplicação nas diversas
demandas e conflitos que adentram o ordenamento jurídico, cabendo analisar a pertinência
de seu uso conforme cada caso concreto e a disposição das partes em resolver a demanda
por seu intermédio. Sua operacionalização se dará pelo emprego de suas técnicas,
procedimentos e métodos em diferentes áreas do direito seja na fase pré-processual ou
processual.
Na área do direito de família, o processo poderá ser remetido para a Justiça
Restaurativa em qualquer fase do processo, seja tratando-se de procedimento comum ou
espacial havendo interesse e disponibilidade das partes. Na fase de conhecimento, poderá
ocorrer antes ou depois da audiência de conciliação, mesmo que a mesma não tenha sido
frutífera. É possível ainda que mesmo após a sentença ou ainda em fase recursal, uma
solução restaurativa seja encontrada.
Em face do exposto, convém demarcar o aspecto inovador e de quebra de
paradigma trazido pela Justiça Restaurativa. A propósito desse aspecto é elucidativo o
quadro comparativo elaborado por Howard Zehr (2014, p. 72) (Segue em anexo).

Numa análise comparativa das perspectivas retributiva e restaurativa, fica claro as


diferenças entre ambas. O judiciário opera com essa dupla possibilidade, principalmente
em função de que cresce a cada a dia o reconhecimento e efetividade da Justiça
Restaurativa . Se de um lado a perspectiva retributiva se afirma muito mais pela punição
em relação a lei descumprida, busacando operando pela busca do equilibrio atingido pelo
fato delituoso. Em direção diferente, a restauração prioriza restaurar os vínculos rompidos,
não necessáriamente forçando uma reconciliação entre ofendido e ofensor, na mediação
social e intervenção da comunidade no processo. Fica claro que o objetivo das práticas
resurativas é construir uma maior compreensão e responsabilização em torno do conflito,
fazendo com que muitas vezes se opere uma efetiva pacificação social e estabelização
das relações entre os envolvidos direta e indiretamente no conflito.
O que reforça a contribuição desse estudo, no sentido de apresentar, mesmo que
de maneira introdutória os potenciais da Justiça Restaurativa como forma ampliada e
diferenciada de acesso à justiça, indo além do ingresso ao judiciário, as também com
a possibilidade que a prestação jurisdicional possa garatir a satisfação do senso de
justiça em atendimento as demandas sociais por pacificação, direito e dignidade.
Fatores de grande importancia para o bem da sociedade e de seu funcionamento
(ROBALO, 2012).

4.1 JUSTIÇA RESTAURATIVA E CONFLITOS FAMILIARES

O direito de familia possui longa tradição dentro do ordenamento jurídico brasileiro,


estando relacionado a própria estrutura da vida social e privada. Nas últimas décadas tem
se observado diversas mudanças na cultura e na sociesdade, o avanço dos direitos
humanos, a defesa e a ampliação dos direitos civis, os debates sobre identidades de
gênero, as conquistas do movimento feminista e as novas configurações familaires trazem
novas demandas para o judiciário e a necessidade de garantir os direitos e a proteção da
dignidade humana.
A partir de 2016 o Código de Processo Civil ao regrar as ações de família informa
também o papel de protagonismo do judiciário em resolver as demandas, inclusive com o
auxílio de corpo técnico e interdisciplinar para auxiliar o juiz em seu convencimento e
decisões, dando preferencia para formas de mediação e concliliação conforme pode-se
no que dispõe os artigos 693 a 699 do CPC.
Embora tenha havido várias mudanças e avanços inclusive na legislação sobre
esses temas, o direito de familia precisa avançar frente às demandas atuais, conforme
afirma Lobo (2015, p. 25) é processo que evolui em todo o mundo com a revalorização da
dignidade humana e da pessoa

como centro da tutela jurídica, antes obscurecida pela primazia dos interesses
patrimoniais, nomeadamente durante a hegemonia do individualismo proprietário,
que determinou o conteúdo das grandes codificações. Com bastante lucidez, a
doutrina vem revelando esse aspecto pouco investigado dos fundamentos
tradicionais do direito de família, a saber, o predomínio da patrimonial, que
converte a pessoa humana em mero homo economicus

Não se pode perder de vista que os princípios de proteção da familia, como a


solidariedade, a fraternidade, a reciprocidade e a afetividade, no contexto de uma
sociedade plural, abre-se para novas possibilidades de configurações familiares, o que na
atualidade é denominado de família multiparental (DIAS, 2013).
Na mesma direção indica Tartuce (2017), em relação as questões de familia, tem
prevalescido tanto na doutrina como na jurisprudência, o entendimento de que a realidade
jurídica familiar não taxativo e aberto ao acolhimento da realidade social múltipla e plural.
Se por um lado, o potencial de reliazação humana é abrigado no seio familiar como espaço
de amor e reconhecimento, as mudanças da sociedade e nas relações famialires também
tem potencializado novos conflitos que precisam de respostas por parte do judiciario.
A mediação familiar, tem sido uma solução muito positiva que antecedeu a
ampliação da Justiça Restaurativa. Trata-se de método alternativo muito efetivo para
auxiliar as partes em suas pretenções, indo além do foco exclusivo no conflito e na lei
atacada (BARBOSA, 2014). A mediação familiar representa no campo da resolução dos
conflitos de família uma antecipação das tecnicas aplicadas pela Justiça Restaurativa.
De acordo com informações do CNJ, existem registros de inicitivas e projetos do
Poder Judiciário brasileiro do uso da Justiça Restaurativa inclusive para resolução de
conflitos em casos de violência doméstica. Na cidade de Ponta Grossa, cidade com 341
mil habitantes, a Justiça Restaurativa vem sendo aplicada desde 2016 em atendimentos
a vítimas de violência doméstica, uma situação sensivel que recebe especial atenção,
conforme afirmou a juíza Jurema Carolina Gomes, da Comissão de Justiça Restaurativa,
integrante do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR), ao destacar os ótimos indices de
participação e satisfação das mulhesres vitimas e seus famiiares que participaram das
praticas restaurativas.
Ainda segundo essa magistrada, as ações desenvovlidas resultam de um projeto
institucionalizado que visa oferecer a prestação jurisdicional de maneira célere e
desburocratizada, dando condições, vez e voz aos participantes da relação conflituosa .
Trata-se de uma abordagem que visa construir a conscientização dos participantes,
sobretudo do agressor em relação á sua responsabilziação cosnciente de seus atos. Nas
palavras da juiza: “mais do que ter violado uma lei, queremos que essa pessoa entenda
que causou um dano a alguém e que esse dano precisa ser reparado, ainda que
simbolicamente”.
O Tribunal de Justiça do Paraná ainda oferece Oficinas para explicar e capacitar
os participantes dos círculos de construção da paz. Essa formação possibilita aos
faciliatores compreender que as ofensas e conflitos precisam ser compreendidos e
analisados conforme cada caso concreto que adentra o judiciario. Tanto os ofensores
quanto as vítimas e seus familiares participam das oficinas formativas para posteriomente
poderem participar os Círculos Restaurativos e terem a oportunidade de lidar diretamente
do conflito que os fez buscar a justiça. Esse trabalho pode durar de 2 a 4 horas, a depender
da complexidade do caso e do andamento dos trabalhos. As questões que dizem respeito
ao conflito, são pautados no grupo conforme a dinamica evolui. As praticas estaurativas
tem evitado a judicialziação e o aumento das ações sobre o judiciario. Para a Juiza “além
de finalizados de maneira mais rápida e efetiva, os casos poderiam ter se multiplicado em
dezenas de processos cíveis, de guarda de filhos, pensão, alienação parental e até
mesmo criminais”.
E ainda sobre os resultados prossegue a juíza reiterando que além das questões
jurídicas as práticas restauraticvas cotribuem para as proprias pessoas, onde mulhesres
que chegavam “amarguradas, com muita raiva ou deprimidas e, após as sessões,
mudarem: tornarem-se mais confiantes e os homens, mais conscientes”. Uma
consideração que a juiza disse cada vez mais evidente após os mais 170 casos desde
entre 2016 a 2020.
Outro exemplo, no Rio Grande do Sul, em diversas comarcas existem projetos e
ações da Justiça Restaurativa. Além de atender as demandas de violência domestica, são
atendidos também casos envolvendo crianças e adolescentes em situação de
vulnerabilidade e abusos. Segundo o Tribunal de Justiça do estado (TJRS), de 2015
quando tiveram início as ações da Justiça Restauratina até 2017 já existiam 35 unidades
implantadas no estado. Os projetos e ações desenvolvidas no RS são semelhantes as ao
que ocorre no Parná com a multiplicação dos Círculos de Construção de Paz e o apoio da
rede de proteção e atenção a vítima e familiares.6
Em pesquisa realizada pelo CNJ em 2019, o mapeamento das práticas da Justiça
Restaurativa é possivel observar

6
Os dados do relatório e entrevista com a Juíza Jurema Carolina Gomes, da Comissão de Justiça
Restaurativa, integrante do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR) estão disponíveis no site do CNJ -
https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/justica-restaurativa/justica-restaurativa-noticias/ - acesso em
novembro de 2021
Figura 2 – Áreas de aplicação das prárticas restaurativas
Fonte; CNJ, 20217

Ao observar o gráfico, na barra de número 7, pode-se ler que 40,9% das demadas
em relação aos conflitos de familia, estão sendo atendidos e resolvidos pela Justiça
Restaurativa, é dado expressivo considerando que a pesquisa foi ambito nacional com 32
Tribunais.
Considerando ainda que quando se coloca os conflitos de familia sob a ótica da
Justiça Restaurativa, vê-se que sua aplicação pode alcançar maior ampliação pelo seu
potencial resolutivo, dialogal e até pedagógico no sentido de contribuir para valorização
do diálogo, do respeito e da comunicação não violenta.
Os autores citados concordam que as demandas no ambito familiar requerer maior
cuidado e atenção. É preciso uma abordagem mais abrangente e interisciplinar em
condições de oferecer suporte psicologico, sensibilidade a acolhimento aos afetados pelo
conflito.
Durante o período em que a autora desse estudo realizou seus estágios no NPJ foi
possível observar que a oferta da Justiça Restaurativa poderia ter sido uma nova
possibilidade a ser oferecida a comunidade, um diferencial inovador e eficiente. Era

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CNJ – Disponível: https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/justica-restaurativa/justica-restaurativa-noticias/ -
acesso em novembro de 2021
visível, em muitas citações observadas durante o estágio, os limites dos procedimentos
convecionais que por vezes não eram capazes de solucionar as questões de forma
integral.
Cresce cada vez mais, a comprenssão sobre a necessidade de oferecer práticas
ou medidas que sejam restaurativas de modo a atender em sentido integral as partes em
conflito, especialmente quando a situação de conflito familiar repercute sobre outras
pessoas, sejam elas crianças ou idosos, como aliás, acontece com frequência do que se
gostaria de constatar. Desse modo, a Justiça Restarativa pode efetivamete contribui no
fortalecimento dos vinculos sociais, intersubjetivos e comunitarios.
Ao longo dessa pesquisa ficou evidente a dificuldade de encontrar farta bibliografia
que tratase do recorte temático desenvolvido, sobre a contribuição da Justiça Restaurativa
na resolução dos conflitos no ambito do direito de família. Uma dificuldade superada em
parte, com o esforço de aproximação, em apresentar a Justiça Restaurativa em seu
desenvolvimento, funcionamento e resultados inclusive pelo Conselho Nacional de
Justiça, ao implementar uma política nacional de valorização e amplicação das práticas
restaurativas em todo o judiciário.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo dessa pesquisa foi possível oferecer um entendimento sobre a Justiça


Restaurativa e suas contribuições na resolução dos conflitos no âmbito familiar. O ideal da
equidade como uma concepção de justiça traz a compreensão de que os princípios da
Justiça Restaurativa estão além de uma visão meramente punitivista, visando encontrar
novas possibilidades de superar os conflitos humanos.
Considerando a experiência em período de estágio no NPJ, restou evidente que em
muitas situações, a abordagem convencional de mediação e conciliação se mostrou
insuficiente, pois o formalismo e os procedimentos que devem ser adotados, não permitem
que as partes tenham maior autonomia e independência na condução do processo, de ouvir
e ser ouvido, de falar como sujeito da narrativa e da busca interagir, dialogar para além do
procedimento e seu rito. Os procedimentos convencionais também não contemplam a
participação de familiares e da comunidade, de pessoas que também possam ter sido
afetados pelos efeitos do conflito para além das partes, além da participação da
comunidade. A dimensão social e humana das relações afetadas pelo conflito, o sofrimento
e os danos psíquicos encontram melhor acolhida e tratamento a partir das práticas
restaurativas.
Apesar da dificuldade em encontrar bibliografia especifica com pesquisas sobre a
aplicação da Justiça Restaurativa nos conflitos de família, foi possível construir uma
aproximação com o referencial bibliográfico utilizado, de modo a mostrar o potencial que as
práticas restaurativas representam para âmbito familiar dentro do judiciário. Um potencial
que inclusive, tem sido reconhecido e implementado em outras esferas da vida social que
não somente o direito, com a presença dos princípios das práticas restaurativas do direito
também em escolas e empresas. O próprio fato de existir uma política nacional
desenvolvida pelo CNJ para ampliação da justiça restaurativa em todas as esferas do
judiciário, atesta esse potencial e a efetividade da Justiça Restaurativa como forma
diferenciada de promover direitos e acesso à justiça.
É preciso reafirmar que o cidadão tem direito constitucional de aceso a justiça, no
entanto ter acesso por meio do direito de ação, não representa efetivamente alcançar a
satisfação mediada pelo judiciário. A morosidade que em boa medida define o judiciário
brasileiro soma-se ao formalismo, a ritualística e as tecnicidades, que para o cidadão
comum é estranha e distante de sua vida, fazendo-lhe pouco sentido esse universo muitas
vezes frio e indiferente a aspectos mais profundos e pessoais de sua demanda. Muitas
vezes os estragos ocasionados por um conflito, não podem ser reparados por uma
sentença ou cumprimento de uma pena. Essa questão coloca outro aspecto fundamental
da Justiça Restaurativa que é o processo de consciência, discernimento e
responsabilização que envolve as práticas restaurativas.
O desfecho alcançado nessa abordagem, consegue trazer maior satisfação e
responsabilização entre agressor e agredido. Reconhecer a própria culpa, obter
consciência sobre os danos causados, aceitar a punição, bem como as possibilidades de
composição contribui, inclusive para a diminuição de reincidência e desafogar o já
sobrecarregado sistema judicial brasileiro.
No direito de família os conflitos de relacionamento, as disputas pela guarda dos filhos,
a exigência de pensão fora das possibilidades, situações de alienação parental que muitas
vezes acompanham uma ação de divórcio poderiam receber um tratamento diferenciado e
muito mais humano e acolhedor a partir da abordagem restaurativa. Reitera-se que a
sugestão de aplicar a justiça restaurativa em um determinado caso concreto poderá ser do
juiz ou das partes em conflito, pois trata-se de uma modelo de justiça que busca maior
aproximação entre vítima e ofensor, de maneira que a pessoa que sofreu o dano exerça
papel central durante todo o processo.
Como já dito, a bibliografia se mostra escassa, o que evidencia a contribuição do
estudo apresentado, reforçando a necessidade por mais pesquisas e aprofundamento
sobre esses temas. Não seria difícil que a partir desses e outros temas relacionado ao
âmbito familiar poderiam ser formuladas.
Por fim, é importante reafirmar o aspecto de que Justiça Restaurativa possui uma
maneira efetiva a pacificação social por meio do empoderamento das pessoas atingidas no
conflito. A pacificação alcançada tem um enorme potencial para restaura o convívio social
e os valores como respeito e reconhecimento.
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