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ESCOLA SUPERIOR DE ADVOCACIA

ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL – SECÇÃO DE SÃO PAULO

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL


E SUCESSÕES

ALISSON SILVA GARCIA

DANOS DERIVADOS DO DESCUMPRIMENTO DOS DEVERES


CONJUGAIS E DO ROMPIMENTO MATRIMONIAL

São Bernardo do Campo


2020
ALISSON SILVA GARCIA

DANOS DERIVADOS DO DESCUMPRIMENTO DOS DEVERES


CONJUGAIS E DO ROMPIMENTO MATRIMONIAL

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Instituição ESA – Escola
Superior da Advocacia no curso de Pós
Graduação, como requisito parcial para
obtenção do título de Pós-graduado em
Direito Processual Civil e Sucessões.

Orientadora: Profª. Dra. Carla Matuck


Borba Seraphim

São Bernardo do Campo


2020
ALISSON SILVA GARCIA

DANOS DERIVADOS DO DESCUMPRIMENTO DOS


DEVERES CONJUGAIS E DO ROMPIMENTO MATRIMONIAL

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Instituição ESA – Escola
Superior da Advocacia no curso de Pós
Graduação, como requisito parcial para
obtenção do título de Pós-graduado em
Direito Processual Civil e Sucessões.

São Bernardo do Campo, ___/___/___

BANCA EXAMINADORA

___________________________________
Orientadora Profª Dra. Carla Matuck Borba
Seraphim

____________________________________
Coordenadora Profª Dra. Irma Pereira Maceira
Dedicatória

Ao querido José Pedro, amigo, herdeiro, e companheiro, meu filho muito amado cuja
alegria abastece a motiva minha existência.
Agradecimentos

À querida professora Irma Pereira Maceira, pela brilhante coordenação do curso de


pós-graduação da ESA;

À professora Carla Matuck Borba Seraphim, pela inestimável orientação;

Aos professores do curso pelo apoio constante;

Aos colegas do curso, em especial Moacyr, Ana Paula, Edinilson e Alberto, pela
amizade e companheirismo.
Cada ser humano é um universo em miniatura. Quando eu não mais me sentir mais
útil, quando sentir que estou pensando só em mim mesmo, eu não tenho mais o
direito de estar vivo.

Enéias Carneiro
RESUMO

A reparação pecuniária de danos é uma das formas mais eficazes que o ser humano
encontrou para resolver seus problemas com o menor efeito colateral possível; no
âmbito do direito de família não é diferente; em que pese as complexidades que
permeiam as relações familiares, há de se convir que o fato de tais relações conterem
de sentimentos de afeto, tal condição é fundamental para aumentar ainda mais a
necessidade de ressarcimento indenizatório quando eventualmente houver a prática
de atos que margeiam a legislação vigente; considerando que existem regras que
regem o direito de família, o descumprimento destas podem e devem ser
considerados como atos ilícitos, e como tais, suas consequências devem ser tratadas
nos rígidos termos da lei.

Palavras-chave: Direito de família; responsabilidade civil; ato ilícito; indenização;


princípios constitucionais.

ABSTRAIT

La réparation pécuniaire des dommages-intérêts est l'un des moyens les plus efficaces
que les êtres humains aient trouvé pour résoudre leurs problèmes avec le moins
d'effets secondaires possibles; le droit de la famille n'est pas différent; malgré les
complexités qui imprègnent les relations familiales, il faut convenir que le fait que ces
relations contiennent des sentiments d'affection, une telle condition est fondamentale
pour accroître encore le besoin d'indemnisation lorsque finalement il y a la pratique
d'actes qui bordent le Législation actuelle; alors qu'il existe des règles qui régissent le
droit de la famille, le non-respect peut et doit être considéré comme un acte illégal et,
à ce titre, ses conséquences doivent être traitées dans des termes stricts de la loi.

Mots clés: droit de la famille; responsabilité civile; acte illégal; indemnité; principes
constitutionnels.
Sumário

1. INTRODUÇÃO. ..................................................................................................... 9

2. RELAÇÕES MATRIMONIAIS ............................................................................ 10

3. DOS DIREITOS E DEVERES DOS CONJUGES NO MATRIMONIO ................ 11

3.1. Fidelidade recíproca ........................................................................................ 13

3.2. Vida em comum, no domicílio conjugal ........................................................ 17

3.3. Mútua assistência......................................................................................... 19

3.5. Respeito e consideração mútuos ................................................................. 23

4. DA POSSIBILIDADE DE RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL PELA PELOS DANOS


CAUSADOS AO CONJUGE ..................................................................................... 24

5. DA APLICAÇÃO DO PRINCPÍPIO DA PERDA DE UMA CHANCE ................. 28

6. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 32

BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................... 35
1. INTRODUÇÃO.

O presente trabalho acadêmico teve como gênese as aulas da


professora CARLA MATUCK BORBA SERAPHIM sobre direitos e deveres
conjugais e princípios norteadores da responsabilidade civil no direito brasileiro.
De bom grado a professora aceitou o ônus da orientação neste feito, fato que
facilitou muito na produção do trabalho.

O objetivo foi demonstrar juridicamente a real possibilidade de


postulação indenizatória em juízo pelo descumprimento dos deveres
matrimoniais praticado por um dos cônjuges, bem como as demais
consequências jurídicas do ato ilícito praticado no âmbito do casamento.

A justificativa se deu pelo fato de haver baixa incidência de procura


do Judiciário por reparação indenizatória vinculada ao descumprimento das
obrigações conjugais com o ato ilícito previsto em lei, de modo que entendeu-se
necessário explorar o tema para se contribuir com a difusão do conhecimento e
ampliação do debate sobre o assunto.

O método de pesquisa utilizado foi a consulta a livros, artigos e


orientações jurisprudenciais os quais nortearam toda produção da obra.

Inicialmente procurou-se destacar as mais diferentes formas de


relacionamentos matrimoniais existentes ao longo da história humana,
destacando os papeis de cada um dos cônjuges na construção e constituição da
família.

Posteriormente considerou-se dedicar maior destaque aos deveres


dos cônjuges na relação matrimonial sob o ponto de vista da legislação brasileira,
a qual traz um rol taxativo dessas obrigações que, se descumpridas poderão
acarretar o direito a parte lesada de postular por indenização.

Adiante, foram demonstrados os princípios basilares da


responsabilidade civil e sua concreta possibilidade de aplicação no direito de
família em especial quando do rompimento do contrato de casamento quando
do descumprimento de um dos deveres inerentes ao matrimonio.

9
Além da viabilidade de pedido indenizatório por descumprimento de
preceito legal, deu-se visibilidade a construção doutrinara já aplicada nos
tribunais brasileiros denominada “perda de uma chance”, que também se mostra
plenamente viável sua aplicação no rompimento da relação conjugal de
comprovados seus pré-requisitos.

2. RELAÇÕES MATRIMONIAIS

Grandes pensadores há muito já definiram, ao seu turno, que o ser


humano é um ser social.

Para Aristóteles (ARISTOTELES, 2009), o homem é um ser social


porque é um animal que precisa dos outros membros da espécie.

Marx e Engels (MARX e ENGELS, 1999) diziam que o individualismo


burguês é uma construção, logo, o homem é um ser social.

Por outro lado, Thomas Hobbes (HOBBES, 1929) concluiu que o


homem é um ser sim é naturalmente mau, e essa maldade o torna egoísta
adjetivo esse que dificulta as relações interpessoais.

No contexto bíblico, verifica-se que no início da criação humana, em


Genesis 2 versículo 18 Deus ao criar o ser humano disse que não era bom que
o homem estivesse só para isso e criou também a mulher para que ambos
vivessem e convivessem em companhia mútua (BIBLIA, 1994)

De todo modo, a discussão de que o homem precisa de outro para


melhor sobreviver é inegável, e sob essa premissa a necessidade da formação
da família para manutenção da espécie é fundamental.

O conceito de família ao longo do tempo vem sendo modificada em


detrimento dos usos e costumes da sociedade. Mesmo nos tempos mais remotos
na Grécia antiga onde vigorada o sistema de patriarcado, que a mulher e a prole
eram propriedade do pater famílias, a instituição familiar já era bem definida
como base sólida fundamental para a sobrevivência da espécie (COULANGES,
2005).

10
Naquele período a organização social da família se mobilizava em
torno da exploração extensiva das atividades agrícolas, onde cada comunidade
contava com um pater, patriarca da família incumbido de tratar das questões
religiosas, judiciárias e administrativa. (SOUSA, 2020)

E assim, ao longo do tempo, as relações matrimoniais se deram


civilmente com intuito praticamente exclusivo natureza contratual.

Como contrato, tal relação jurídica acaba por gerar direitos e deveres
que consequentemente necessitam, desde sua gênese, de intervenção de
terceiros para dirimir os conflitos, sejam num primeiro momento pelo pater
famílias na Grécia antiga, seja pelo Estado na história mais recente da civilização
humana.

Por obvio, mesmo que nos remotos tempos a questão dos


sentimentos de carinho e afeto na relação conjugal tinha caráter secundário, o
fato de o contrato impor relações íntimas entre as partes, quando da resolução
de eventual conflito, o acréscimo da subjetividade individual de cada um, desde
aquela época se impõe como pilar de suma importância na tomada de decisões.

Desse modo, após estabelecida a relação, em havendo rompimento


por descumprimento de algum dos deverem assumidos, o dever de indenizar se
mostra imperioso, mesmo (e principalmente) na área das relações familiares.

3. DOS DIREITOS E DEVERES DOS CONJUGES NO MATRIMONIO

Quanto aos direitos e deveres dos cônjuges no matrimonio,


inicialmente é de bom alvitre verificar a previsão legal sobre o tema, o qual é
tratado na Lei das leis brasileiras no art. 226:

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do


Estado.

§ 1º O casamento é civil e gratuita a celebração.

§ 2º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.

11
§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável
entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei
facilitar sua conversão em casamento.

§ 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade


formada por qualquer dos pais e seus descendentes.

§ 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são


exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.

§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio.

§ 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da


paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do
casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e
científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma
coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas.

§ 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada


um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no
âmbito de suas relações.

Partindo-se da Lei maior, sobre os deveres dos conjunges constata-


se no § 5º o princípio da igualdade entre eles, premissa essa que é fundamental
para a compreensão do tema, posto que, a igualdade entre homens e mulheres,
seja dentro do casamento ou fora dele, ainda carece de intervenção estatal para
sua efetivação e nesse ponto se torna Indispensável o estabelecimento de
normas de conduta aos cônjuges a fim de preservar dignidade de ambos e
assegurar a manutenção do núcleo familiar, base da sociedade.

Nessa esteira, o referido artigo constitucional, garante a ambos os


cônjuges a estabilidade necessária para o cumprimento dos deveres inerentes
do casamento que são definidos na lei.

Ainda sob o crivo da legislação brasileira, o Código Civil, em seu artigo


1.566, circunscreve os deveres dos cônjuges na constância do casamento, in
verbis:

12
Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges:

I - fidelidade recíproca;

II - vida em comum, no domicílio conjugal;

III - mútua assistência;

IV - sustento, guarda e educação dos filhos;

V - respeito e consideração mútuos.

Verifica-se que o referido artigo do Estatuto Civil Brasileiro assegura


ao casal: fidelidade recíproca; vida em comum, no domicílio conjugal; mútua
assistência; sustento, guarda e educação dos filhos; e respeito e consideração
mútuos.

Nesse passo, necessário se faz, para melhor elucidação do objeto do


estudo, o entendimento individualizado de cada um dos tópicos que o Código
Civil Brasileiro determina como deveres dos cônjuges na constância do
casamento.

3.1. Fidelidade recíproca

Segundo dicionário Aurélio, fidelidade é característica do que é fiel,


do que demonstra zelo, respeito por alguém ou algo; lealdade. "f. ao rei" 2.
constância nos compromissos assumidos com outrem. "f. partidária"
(7GRAUS.COM, 2020)

No mesmo sentido, no âmbito do matrimônio, a professora Regina


Beatris Tavares ensina que fidelidade significa “dever de lealdade, sob o aspecto
físico e moral, quanto à manutenção de relações que visem à satisfação do
instinto sexual na sociedade conjugal” (TAVARES, 1999, p. 71)

O termo fidelidade é não pode ser confundido com lealdade, sobre as


diferenças, em artigo próprio intitulado LEALDADE X FIDELIDADE no publicado
no site Resilienciamag, Fabíola Simões1 explica de forma didática os dois
termos:

1
SIMOES, Fabíola. LEALDADE X FIDELIDADE. resilienciamag.com, 2016. Disponível em:
<https://www.resilienciamag.com/lealdade-x-fidelidade/>. Acesso em: 07 de julho de 2020.

13
Acho que foi em 1993. Numa entrevista _ histórica_ pra MTV, Renato
Russo disse a Zeca Camargo que achava lealdade mais importante
que fidelidade. Eu era menina, mas lembro que gravei a entrevista
numa fita VHS e revi inúmeras vezes, me intrigando sempre nessa
parte.

(...) A fidelidade é permeada por regras, obrigações, compromisso. É


conexão com fio, em que te dou uma ponta e fico com a outra. Assim,
ficamos ligados mas temos que manter a vigília para o fio não escapar
e nosso aparelho não desligar. Já a lealdade_ permeada pelo vínculo,
vontade e emoção_ é o pacto que se firma não por valores morais, e
sim emocionais. É conexão “wi-fi: fidelidade sem fio”, que faz com que
eu permaneça unida a você independente da existência de condutores
ou contratos. Permaneço em pleno funcionamento por convicções
permanentes e duradouras, invisíveis aos olhos.

(...) Lealdade é não precisar solicitar conexão. É conectar-se sem


demora, reservas ou desconfianças. É compartilhar a senha da própria
vida, com tudo de bom e ruim que lhe coube até aqui.

Leal é quem conhece as fraquezas, revezes, tombos e dificuldades do


outro e não usa isso como álibi na hora da desavença; ao contrário,
suporta sua imperfeição e o ajuda a se levantar.

Diante do didático artigo, constata-se que a fidelidade significa uma


atitude de quem é fiel, de quem tem compromisso com aquilo que assume, já a
lealdade é a qualidade, ação ou procedimento de quem é leal, ou seja é um
adjetivo tal como é sincero, franco e honesto.

No matrimônio, a lei exige apenas e tão somente a fidelidade do casal,


sendo a infidelidade motivo de rompimento da união. O mais clássico modo de
infidelidade é o adultério, prática de ato sexual com terceira pessoa, que até
tempos atrás era tipificado como crime. (Código Penal de 1940 – art. 240)

Art. 240 - Cometer adultério:

Pena - detenção, de quinze dias a seis meses.

§ 1° Incorre na mesma pena o co-réu.

§ 2° A ação penal somente pode ser intentada pelo cônjuge ofendido,


e dentro de um mês após o conhecimento do fato.

14
§ 3º A ação penal não pode ser intentada:

I - pelo cônjuge desquitado;

II - pelo cônjuge que consentiu no adultério ou o perdoou, expressa ou

tacitamente.

§ 4º O juiz pode deixar de aplicar a pena:

I - se havia cessado a vida em comum dos cônjuges;

II - se o querelante havia praticado qualquer dos atos previstos no art.


317 do Código Civil.

Nos dias atuais, tal dispositivo pode parecer absurdo, mas era o que
vigia na legislação brasileira até o ano de 2005 quando foi revogado pela Lei nº
11.106/2005.

Entretanto, ainda na seara dos fatos motivadores do rompimento da


relação, atualmente surgiu o termo “infidelidade virtual”, que não pode ser
confundida como “traição não consumada”.

Nesse sentido, Guilherme Calmon Nogueira da Gama ensina sobre a


fidelidade traição não consumada (GAMA, 2001), “é o dever de lealdade entre
os partícipes, sob os aspectos físicos e moral, no sentido de abster-se de manter
relações sexuais com terceira pessoa, e mesmo praticar condutas que indiquem
este propósito, ainda que não consume a traição”

Assim, a simples tentativa, que por motivos alheios a vontade do


consorte “traidor”, para o referido autor já configura motivo suficiente para
imputação do descumprimento do dever de fidelidade recíproca.

De outro lado, porem não menos grave, está a novel modalidade


chamada de “traição virtual”, que segundo a definição mais aceita, seria “na
prática de determinadas experiências afetivas e/ou sexuais, por intermédio da
rede, com parceiros alheios ao relacionamento conjugal” (LOUREIRO, CUNHA
e APARECIDA DUARTE , 2019)

15
Com o advento da tecnologia, novas formas de infidelidade surgiram,
logo, as consequências jurídicas por tais atos também são novas e desafiadoras
aos operadores do direito.

Nesse contexto, muitos defendem que infidelidade virtual é


considerada violação ao dever conjugal de fidelidade recíproca, e em assim
sendo, possibilitaria reparação de dano, eis que estaria diante de um ato ilícito.

Oportunamente Maria Helena Diniz ensina sobre o tema:

“Sob o ponto de vista moral e jurídico, merecem reprovação


tanto a infidelidade do marido como a da mulher, por ser fator de
perturbação da estabilidade do lar e da família.

É preciso não olvidar que não é só o adultério (ilícito civil) que


viola o dever de fidelidade recíproca, mas também atos
injuriosos, que, pela sua licenciosidade, com acentuação sexual,
quebram a fé conjugal, p. ex.: relacionamento homossexual,
namoro virtual, inseminação artificial heteróloga não consentida
etc.” (DINIZ, 2009)

De fato, sob a ótica do ofendido se poderia considerar que o ato


desonroso de um dos cônjuges seria ilícito e consequentemente passivo de
reparação civil, entretanto, via de regra, não se pode afirmar que todos os casos
teriam como consequência eventual indenização, necessitaria de melhor exame
pontual dada a subjetividade de cada pessoa ofendida.

Nesse sentido advoga o eminente doutrinador Silvio de Salvo Venosa


(VENOSA, 2004) “A transgressão dos deveres conjugais pode gerar danos
indenizáveis ao cônjuge inocente. Nossa posição é no sentido de que essa seara
deve decorrer da regra geral do art. 186, o que implica o exame do caso
concreto”

Nesta seara, constata-se que o art. 1.708 parágrafo único, do Código


Civil dispõe que: “Com relação ao credor cessa, também, o direito a alimentos,
se tiver procedimento indigno em relação ao devedor”

16
Assim, a infidelidade comprovada caracteriza-se como ato indigno
que ofende a dignidade do outro cônjuge, e consequentemente está sujeito a
cessação do dever alimentar. O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo há
algum tempo tem decidido neste sentido:

INDIGNIDADE CÔNJUGE INFIDELIDADE VIRTUAL


COMPROVAÇÃO CESSAÇÃO DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR
PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. Litispendência Pressuposto
processual negativo Correlação com ação de separação judicial.
Impossibilidade. Ausência de identidade entre os elementos
identificadores da ação Efeitos diversos Extinção afastada
Julgamento do mérito, nos termos do art. 515 § 3 º, do CPC.
Indignidade. Cônjuge Reconhecimento Infidelidade virtual
comprovada nos autos. A ré manteve relacionamento afetivo
com outro homem durante o casamento Troca de mensagens
eletrônicas de cunho amoroso e sentimental. Caracterização de
infidelidade, ainda que virtual. Ofensa à dignidade do autor.
TJSP. Apelação 0036600-97.2012.8.26.0002, rel. Des. Carlos
Alberto Garbi, 10ª Câmara, j. 15.03.2016.

De toda sorte, nos termos da legislação civil brasileira, cabe ao


ofendido o ônus de comprovar o dano sofrido e tais questionamentos, como a
maior parte dos temas embrionários, ainda não foram pacificados, cabendo tal
mister a doutrina e jurisprudência enfrenta-lo utilizando o empiricamente o direito
como meio pacificador da sociedade.

3.2. Vida em comum, no domicílio conjugal

Outro requisito basilar da vida matrimonial é o compartilhar da vida


sob o mesmo teto, esse é um desafio que há muito vem sendo enfrentado por
aqueles que decidiram viver com outra pessoal.
Segundo Orlando Gomes (GOMEZ, 1998), o mais importante na
convivência comum é a coabitação:

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A coabitação representa mais do que a simples convivência sob o
mesmo teto. É, sobretudo, o juris in corpus in ordine ad actus per se
aptos ad prolis generationem. Não só convivência, mas união carnal.
O jus in corpus de cada cônjuge sobre o outro implica, no lado passivo,
o “débito conjugal” que tem de ser cumprido para que a sociedade
conjugal se mantenha íntegra.

O legislador, ao adotar esse quesito no matrimonio estipulou que


ambos devem de fato manterem a unidade na forma de apresentarem-se perante
a sociedade partilhando do mesmo endereço o que em determinados casos pode
não ocorrer, como por exemplo por motivos de trabalho ou até mesmo doença o
casal necessite residir em locais diferentes, mas essas são exceções e devem
ser analisadas a luz do caso concreto.
Mesmo assim, em casos extremos nos quais a convivência de corpos
esteja impossibilitada, tal situação deve ser temporária e com animus de se
restabelecer o estado anterior de coabitação, sob pena de ofensa ao artigo
1.566, II do Código Civil Brasileiro.
A recusa de convivência familiar sob mesmo teto, pode configurar
como infração ao débito conjugal, podendo inclusive ser motivo de indenização
ao cônjuge eventualmente recusado.
Nesta seara, o cônjuge que se recusa cumprir o quesito da
convivência comum, se duradoura, é causa de impossibilidade de continuidade
da comunhão matrimonial nos termos do art. 1.573 inciso IV do código civil
brasileiro:

Art. 1.573. Podem caracterizar a impossibilidade da comunhão de vida


a ocorrência de algum dos seguintes motivos:

IV - abandono voluntário do lar conjugal, durante um ano contínuo;

Ademais, por outro lado a recusa também pode incidir da quebra da


obrigação do débito conjugal como sevícia ou injúria grave, o que se enquadraria
no inciso III do artigo anteriormente citado.

18
Tal preceito, que já vigorava no Código Civil anterior, foi conceituado
por Clóvis Beviláqua como “toda ofensa à honra, à respeitabilidade, à dignidade
do cônjuge, quer consista em atos, quer em palavras” (BEVILÁQUA, 1943)

Por óbvio, no caso de descumprimento do débito conjugal, devido a


sua própria íntima natureza, os efeitos não podem ultrapassar os limites do
término da união e suas consequências jurídicas, como ensina Sílvio de Salvo
Venosa ao afirmar que a “sanção sobre esse dever somente virá sob a forma
indireta, ensejando a separação e o divórcio e repercutindo na obrigação
alimentícia” (VENOSA, 2008)

Assim, nenhum cônjuge não pode ser obrigado à prática sexual com
seu consorte, sob pena de incorrer até em crime ou mesmo ofensa ao princípio
constitucional da dignidade, no entanto, a recusa injustificada é motivo para o
rompimento da união.

3.3. Mútua assistência

Partindo-se da premissa de que o casamento é “o contrato de direito


de família que tem por fim promover a união do homem e da mulher de
conformidade com a lei, a fim de regularem suas relações sexuais, cuidarem da
prole comum e se prestarem mútua assistência” (RODRIGUES, 2004) a mútua
assistência nada mais é do que o dever de cuidado material de ambos os
consortes.

Muitos não compreendem que a instituição do casamento traz em seu


bojo a responsabilidade recíproca de assistência, amparo material e moral, o que
obriga as partes a concorrerem, na proporção de suas condições financeiras e
econômicas, para a manutenção da família.

Neste sentido, ensina Marina Vanessa Gomes Caeiro: (CAEIRO,


2010)

É de se concluir que a mútua assistência não é apenas uma ajuda


superficial, mas também um auxílio de caráter moral, de transmissão
mútua de valores que transmitem a sensação ao cônjuge de que ele

19
realmente está inserido em uma estrutura eivada de bem estar e
proteção integral, sem a qual o casamento não faria qualquer sentido
em ser realizado já que a felicidade, o amor e a afetividade são os
elementos primordiais dos nubentes.

Por esses motivos, mesmo após o rompimento da união nasce para


a parte menos favorecida o direito de pleitear alimentos de que necessitem para
viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às
necessidades de sua educação.

Tal preceito encontra amparo no art. 1.694 e seguintes do Código Civil


Brasileiro, o qual, dentro outros dispositivos também prevê inclusive a
possibilidade de chamamento de outros parentes de grau imediato para
concorrerem à prestação de alimentos, no caso de o alimentante não estiver em
condições de suportar totalmente o encargo.

Com isso, verifica-se a importância que a legislação civil deu para o


assistencialismo mútuo.

3.4. Guarda e educação dos filhos

Dentre os deveres do casal, a proteção da prole se mostra como um


dos mais importantes, não somente pela garantia de cuidado dos filhos, mas
também por sua importância na perpetuação da espécie.
Sob ponto de vista legal, partindo da lei máxima, a questão das
responsabilidades dos pais está disposta nos artigos 205, 227 e 229 in verbis:

“Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família,


será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. (grifo nosso)

“Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à


criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito
à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda

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forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão”. (grifo nosso)

“Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos


menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais
na velhice, carência ou enfermidade”. (grifo nosso)

Da análise sistemática dos dispositivos citados verifica-se que,


ao contrário do senso comum, o Estado não é o principal responsável pela
educação, tal mister cabe aos pais se somente na ausência destes, como
forma de proteção integral do menor, nasce a responsabilidade ao Estado.
Grande exemplo disso se constata deve de matricular os filhos
na rede regular de ensino disposto o Art. 55 do Estatuto da Criança e do
Adolescente (Lei nº 8.069/1990).

Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus


filhos ou pupilos na rede regular de ensino.

Fosse a responsabilidade do Estado, o legislador não


determinaria exclusivamente aos pais essa obrigação, tanto que, para além
do Estatuto da Criança e do Adolescente, o não cumprimento injustificado
de tal obrigação configura crime de abandono intelectual tipificado no
Código Penal no art. 246:

Art. 246 - Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de


filho em idade escolar:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

Nesta esteira, é de bom alvitre ressaltar que o dever de auxílio


intelectual encontra respaldo no Código Civil Brasileiro, o qual, em seu art.
1634 inciso I, dispõe que compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos
menores, dirigir-lhes a criação e educação.
A legislação pátria encontra respaldo também no direito
internacional, em especial na Convenção sobre os Direitos da Criança,

21
adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 20 de dezembro
de 1989 e ratificada pelo Brasil em 24 de setembro de 1990.
Já no seu preâmbulo a referida convenção reafirma sua
confiança nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor
da pessoa humana, com vistas a promover o progresso social e a
elevação do nível de vida com mais liberdade, concebendo a família como
grupo fundamental da sociedade que deve assumir plenamente suas
responsabilidades dentro da comunidade e, em especial, promover o
crescimento, o bem-estar das crianças, adolescentes e jovens e o
pleno e harmonioso desenvolvimento de sua personalidade em um
ambiente de felicidade, amor e compreensão. (UNICEF, 2020)
Ainda sob ponto de vista internacional, constata-se um dos
documentos mais relevantes da história humana dos tempos modernos
que é a Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada e
proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de
dezembro de 1948 e assinada pelo Brasil na mesma data.
Na evidenciada Declaração fica claro o reconhecimento da
dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus
direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da
paz no mundo, estabelece o artigo 26 que merece destaque: (UNIDAS,
2020)
Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita,
pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O
ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional dever
ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a
todos em plena igualdade, em função do seu mérito.
A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e
ao reforço dos direitos do Homem e das liberdades fundamentais e
deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas
as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o
desenvolvimento das atividades das Nações Unidas para a
manutenção da paz.
Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o gênero de
educação a dar aos filhos.

22
Portanto, seja pela legislação nacional seja pela internacional,
não restam dúvidas que ambos os legisladores entendem que a família é
a primeira instituição apresentada à criança e no seio da família a criança
deve estar a salvo de toda forma de negligência, não restando qualquer
dúvida quanto à responsabilidade pela educação, cuidado e proteção, e
na falta da família o Estado deve suprir essa lacuna.

3.5. Respeito e consideração mútuos

Neste tópico, tense que é a coluna vertebral do presente estudo, já


que objetiva-se constatar juridicamente as hipóteses de cabimento de
indenização justamente quando terminado o relacionamento, que
consequentemente, na grande maioria das vezes, se rompe após a quebra do
respeito e consideração de ambas as partes.

Por isso necessário se faz maior destaque especialmente no que diz


respeito a construção dessas bases da relação, na qual seu rompimento, que é
por vezes traumáticos, gera o dever de indenizar a parte lesada.

Não é difícil concluir que um relacionamento matrimonial é construído


sob os anseios de ambos que almejam manter-se unidos até que a morte os
separe.

Tal dogma encontra-se presente nas relações humanas desde a


idade média, onde cresceu exacerbadamente a influência judaico-cristã na
sociedade.

Esse conceito mereceu destaque no código canônico no Cânone


1601, IN VERBIS: (VATICAN.VA, 2020)

O pacto matrimonial, pelo qual o homem e a mulher constituem entre


si a comunhão íntima de toda a vida, ordenado por sua índole natural
ao bem dos cônjuges e à procriação e educação da prole, entre os
baptizados foi elevado por Cristo Senhor à dignidade de sacramento.

23
Sob esse prisma, constata-se que de fato o casamento deste há muito
traz consigo do sentimento de cada ter cônjuge “direito” sobre o corpo um do
outro eis que ambos são "uma só Carne", são dogmas canônicos que se impõem
através dos tempos (ARRIETA e ALLI, 1991).

Se o matrimônio é indissolúvel, quando uma das partes causa a


separação o sentimento do cônjuge inocente é de frustração, desconsideração
e total falta de respeito, sensações pessoais que subsumam exatamente com a
disposição legal a qual se refere esse subtítulo.

A provocação voluntária no cônjuge tais sentimentos, nos termos da


legislação civil, podem caracterizar ato ilícito nos termos do artigo 205, 206 e 927
do código civil brasileiro, te que melhor será abordado adiante.

4. DA POSSIBILIDADE DE RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL PELA PELOS


DANOS CAUSADOS AO CONJUGE

O Art. 186 do Código Civil estabelece que “aquele que, por ação ou
omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.

Nessa esteira, e em complemento ao referido dispositivo legal, o art.


927 do Código Civil determina que “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187),
causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”.

Assim, a responsabilização civil se mostra como uma forma


encontrada pela sociedade de manter o equilíbrio nas relações interpessoais
com o mínimo de civilidade como bem ensina Washington de Barros Monteiro
(MONTEIRO, 2007) “visa ao restabelecimento da ordem ou equilíbrio pessoal e
social, por meio da reparação dos danos morais e materiais oriundos da ação
lesiva a interesse alheio, único meio de cumprir-se a própria finalidade do direito,
que é viabilizar a vida em sociedade.

Assim, inicialmente se deve ter em mente que, quando se fala em


responsabilidade civil, como regra deve se ater ao elemento principal que é o
dano causado por um ilícito de um agente que consequentemente faz nascer o

24
direito de ressarcimento à aquele que foi vítima do ato lesivo afim haver
reequilíbrio patrimonial do lesado.

Nesse sentido, a responsabilidade civil tem como característica a


constatação de olhar para o que já aconteceu e para extensão do quantum
aquele ato atingiu a parte lesada.

Prima facie, a mensuração da reprovabilidade da conduta do ofensor,


a intensidade da sua culpa, a sua condição financeira não são os elementos mais
importantes e sim a existência do dano e nexo causal, de modo que o Código
Civil de 2002 que trouxe regra a teoria subjetivista (teoria clássica da culpa) e,
como exceção, a teoria objetivista.

De acordo com a legislação civil vigente, para constatação de


responsabilidade civil devem estar presentes 3 pressupostos: 1) a culpa lato
sensu, 2) o dano e 3) o nexo causal entre o dano e a atuação do agente.

Assim, confirmada a culpa do agente quanto ao dano, nasce pra ele


o dever reparar o prejuízo. No entanto, se restar comprovada concorrência da
culpa do autor e da culpa da vítima, a indenização há de ser reduzida
proporcionalmente. E se o dano ocorrer por culpa exclusiva da vítima, exclui-se,
então, a obrigação de o agente indenizar a vítima.

Aplicando o tema nas relações conjugais, constata-se que, para haver


possibilidade de responsabilização pelo rompimento da relação, a parte lesada
deve comprovar os três elementos fundamentais acima citados bem como a
ausência de concorrência para o evento danoso.

Já aquele que rompeu a relação, por sua vez cabe comprovar o


elemento subjetivo de ausência de dolo ou culpa em sua decisão de romper a
união, o que se mostra um ônus complicado, já que assumiu a responsabilidade
de manter-se unido ao outro até o fim de sua vida.

Questão que não pode ser ignorada é o direito constitucional dos


cônjuges de abertura de divórcio independentemente de culpa, direito este que
pode causar aparente conflito entre princípios tais como a liberdade de amar, a
dignidade da pessoa humana e os direitos da personalidade.

25
De fato, como ressaltado por Jairo Vasconcelos do Carmo (CARMO,
2003) sobre a liberdade de amar dos cônjuges, o casamento é um projeto de
vida a dois que decorre o risco de ser rompido:

É direito potestativo extintivo dos cônjuges e dos conviventes


desviarem-se do amor empenhado, refazendo o projeto de vida
a dois. Casar ou conviver, na atualidade, pode não durar uma
estação. Cada consorte assume o risco das rupturas, algumas
inevitáveis.

Nesta visão, a ruptura de casamento, desde que em conformidade ao


sistema legal, não podem gerar o efeito negativo da obrigação de indenizar o
consorte prejudicado.

Logo, não se pode negar que a iniciativa de pedir o divórcio é um


direito subjetivo das partes entre si relacionadas que deve ser respeitado,
entretanto, considerando a importância do matrimónio, esse direito necessita de
fundamentação mínima razoável que justifique o rompimento da relação.

Não é crível que uma relação contínua e duradoura, de inopino seja


rompida sem qualquer justificativa plausível ao outro cônjuge. Tal distinção se
faz pelo fato de que há renuncias importantes de ambas as partes para que a
relação a dois perdure, e tais sacrifícios não podem ser desconsiderados no final
da relação.

Se um dos cônjuges, por exemplo deixa de investir em sua carreira


profissional em favor da família, e de repente se vê obrigado(a) reiniciar sua vida
em detrimento da “decisão subjetiva” do outro, há evidente dano a sua
integridade de até dignidade que podem e devem ser mensurados à luz dos
princípios da responsabilidade civil.

Pode haver quem defenda o raciocínio de que, na separação, a


pensão alimentícia supria essa lacuna para restabelecer ao cônjuge considerado
hipossuficiente condições mínimas para reerguer sua vida, no entretanto, a
pensão tem natureza assistencial e não indenizatória.

26
O que ocorre hodiernamente, é o estabelecimento de pensão
compensatória, que seria espécie de mistura entre assistência e indenização a
qual há latente situação de desigualdade patrimonial provocadora de prejuízo ou
dano em um dos cônjuges, ocorrida com a separação.

Nesta toada, a relação de causa e efeito entre a ruptura da vida em


comum e o prejuízo, culpa de um dos cônjuges pelo fim da relação, origina ao
prejudicado o direito de pedir uma pensão compensatória.

Não se pode olvidar, que o art. 1.704 do Código Civil ainda está
vigente, nele há previsão de que o cônjuge culpado pela separação deve pagar
pensão alimentícia ao outro:

Art. 1.704. Se um dos cônjuges separados judicialmente vier a


necessitar de alimentos, será o outro obrigado a prestá-los
mediante pensão a ser fixada pelo juiz, caso não tenha sido
declarado culpado na ação de separação judicial.

Parágrafo único. Se o cônjuge declarado culpado vier a


necessitar de alimentos, e não tiver parentes em condições de
prestá-los, nem aptidão para o trabalho, o outro cônjuge será
obrigado a assegurá-los, fixando o juiz o valor indispensável à
sobrevivência.

Nesse passo, o descumprimento consciente de uma norma de


conduta conjugal que estabelece um dever para um dos cônjuges e, em
consequência, um direito para o outro (DELGADO e ALVES, 2005).

Em casos mais graves ocasionados na separação do casal como


violência física ou moral, comprovação de humilhação contínua diante de
terceiros ou dos próprios filhos, não restam dúvidas que que caberá a
responsabilização pelos danos causados.

Quanto a fixação do quantum a ser indenizado, pesa certo grau de


subjetividade sobre os valores eventualmente postulados pelo autor do pedido,
entretanto, para sua mensuração o juiz não deve ser ater apenas na culpa, mas
sim a extensão do dano, art. 944 § único Código Civil:

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Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.

Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade


da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a
indenização.

Logo, indubitavelmente há possibilidade de redução de indenização


quando demonstrada a desproporção entre o dano e o grau de culpa.

5. DA APLICAÇÃO DO PRINCPÍPIO DA PERDA DE UMA CHANCE

Segundo Gabrielle Gazeo Ferrara, a teoria da perda de uma chance


é uma construção doutrinária aceita no ordenamento jurídico brasileiro como
uma quarta categoria de dano, dentro do tema responsabilidade civil, ao lado
dos danos materiais, morais e estéticos. (FERRARA, 2016)

Doutro norte, porém ainda mais preciso é a definição de DANIEL


AMARAL CARNAÚBA: (CARNAÚBA, 2012)

A perda de uma chance é técnica decisória, criada pela


jurisprudência francesa, para superar as insuficiências da
responsabilidade civil diante das lesões a interesses aleatórios.
Essa técnica trabalha com o deslocamento da reparação: a
responsabilidade retira sua mira da vantagem aleatória e,
naturalmente, intangível, e elege a chance como objeto a ser
reparado

Para melhor compreender a teoria da perda de uma chance


inicialmente é salutar trazer à baila os fundamentos trazidos pelo Ministro Paulo
de Tarso Sanseverino no julgamento do REsp 1.291.247, onde explica
magistralmente as origens da referida teoria e seu precedente citando a obra de
ANDRÉ TUNC sobre o caso dos irmãos Mazeaud.

O precedente mais antigo, no direito francês, foi o caso


apreciado pela Corte de Cassação, em 17 de julho de 1889, que
aceitou indenizar uma parte demandada pela perda provocada
pela conduta negligente de um oficial ministerial, que impediu o

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prosseguimento do procedimento e, consequentemente, a
possibilidade de ganhar o processo.

Os irmãos Mazeaud, partindo desse caso clássico, explicam que


a perda de uma chance para a parte demandante não é apenas
um prejuízo hipotético, embora não se tenha certeza acerca da
decisão que seria tomada pelo Tribunal no julgamento do caso,
Em função disso, a jurisprudência francesa passou a reconhecer
a existência de um dano certo e específico pela perda de uma
chance, determinando o arbitramento da indenização em
conformidade com a maior ou menor probabilidade de sucesso
do recurso no tribunal. (TUNC, 1961)

No referido aresto, o E. Ministro ensina que a Teoria da Perda de Uma


Chance tem aplicação quando um evento danoso acarreta para alguém a
frustração da chance de obter um proveito determinado ou de evitar uma perda.

Eu seu livro Princípio da Reparação Integral - Indenização no Código


Civil o Ministro e doutrinador analisa de forma magistral a teoria da perda de uma
chance em sede doutrinária e conclui:

Em verdade, não há falar em responsabilidade civil sem dano,


fazendo-se necessária a presença de seus três principais
elementos - a certeza, a imediatidade e a injustiça do dano.

A certeza do dano constitui o principal elemento, significando


que a lesão ao interesse do prejudicado deve ser real e efetiva,
sem deixar dúvida acerca da sua existência, ficando, assim,
excluídos os danos hipotéticos.

Essa afirmativa, porém, deve ser relativizada, pois, entre o dano


certo e o hipotético, existe uma nova categoria de prejuízos, que
foi identificada pela doutrina e aceita pela jurisprudência a partir
da teoria da perda de uma chance.

Relembre-se que a teoria da perda de uma chance tem


aplicação, quando o evento danoso acarreta para alguém a
perda de uma chance de obter um proveito determinado ou de
evitar uma perda. (SANSEVERINO, 2010)

29
É bem verdade que essa teoria tem nasce a partir da ideia de
responsabilização civil por danos derivados de ato ilícito, e nesse sentido os
ensinamentos de Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona são fundamentais para
melhor compreensão do texto (GAGLIANO e FILHO, 2009):

A responsabilidade, para o Direito, nada mais é, portanto, que


uma obrigação derivada – um dever jurídico sucessivo – de
assumir as consequências jurídicas de um fato, consequências
essas que podem variar (reparação dos danos e/ou punição
pessoal do agente lesionante) de acordo com os interesses
lesados.

Nesse sentido, a perda de uma chance não é apenas um prejuízo


hipotético possivelmente sofrido pela parte, há de se reconhecer a existência de
um dano certo e específico pela perda de uma chance, determinando o
arbitramento da indenização em conformidade com a maior ou menor
probabilidade de ocorrência no caso concreto.

Verifica-se que essa teoria conclui que nasce o dever de indenizar a


partir de uma oportunidade perdida, uma situação que possivelmente
aconteceria caso a conduta do agente causador do dano não existisse.

A expectativa é inerente ao ser humano, diariamente todos somos


submetidos a diversas relações que por muitas vezes geram expectativas,
desejos e vontades os quais espera-se que realizem.

A depender do tipo de relação que gera expectativa frustrada, sua


relevância é de suma importância para o direito em especial se tal situação for
capaz de produzir danos aferíveis.

A vida apresenta várias oportunidades dentre as quais a escolha do


parceiro é uma delas, no entanto, não se pode negar que esta opção é permeada
de expectativas que são criadas a partir do projeto matrimonial construído entre
as partes.

Ninguém escolhe a família em que vai nascer, porém pode escolher


a família que vai constituir, nesse sentido o casamento é um dos eventos

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fundamentais na vida de qualquer pessoa, posto que a partir dele se construirá
um novo núcleo familiar que in tese deve perdurar até a morte.

Sob esse prisma, é de comum entendimento que ninguém casa para


se divorciar nem tampouco para ser infeliz, pelo contrário, todos que optam por
dividir a vida com um parceiro(a) buscam justamente no outro a parte que lhe
completa para então juntos alcançarem a felicidade e o consequente bem viver.

Como o bônus carrega com sigo o ônus, as escolhas também


significam renúncias, de modo que ao escolher um certo indivíduo para se casar,
renunciou-se várias outras opções que, in tese também poderiam lhe
proporcionar a completude e felicidade, porém, alguma coisa a mais cooperou
para que aquela opção fosse a melhor para sua vida.

O casamento pressupõe que a pessoa casada não mais vive de forma


independente, a partir do matrimônio todas as áreas da vida do indivíduo está
umbilicalmente ligada ao outro, e isso paradoxalmente é um dos maiores ônus
do casamento se analisado sob a perspectiva da teoria da perda de uma chance.

Relembre-se que a teoria da perda de uma chance tem aplicação,


quando o evento danoso acarreta para alguém a perda de uma chance de obter
um proveito determinado ou de evitar uma perda.

No casamento os cônjuges depositam todas as suas fichas para que


a relação perdure e em muitas das vezes em detrimento disso abrem mão dos
sonhos e projetos pessoais, os quais se mostram frustrados com o término da
relação conjugal.

Trazendo para o debate do presente estudo, não é de todo


complicado demonstrar a real e efetiva lesão ao interesse do prejudicado,
quando evidentemente caracterizado que o cônjuge lesado tinha claras
perspectivas em sua vida que foram deixadas de lado para que o casamento
desse certo, facilmente ultrapassando a possibilidade de danos hipotéticos.

O caso de mais fácil compreensão é aquele da modelo em ascensão,


aproximadamente 20 anos, que deixa sua carreira de sucesso para acompanhar
o marido jogador de futebol em outro país.

31
Considerando que a carreira de modelo tem curta duração, se o
casamento durar 10 anos a retomada profissional dessa mulher é praticamente
impossível, nesse caso, comprovando-se a culpa2 do marido é plenamente
possível a aplicação da teoria da perda de uma chance.

Nesse passo, se conclui que, na configuração da responsabilidade


pela perda de uma chance não se calcula o dano efetivo mencionado, sequer se
responsabiliza o agente causador por um dano emergente, ou por eventuais
lucros cessantes, mas por algo intermediário entre um e outro, precisamente a
perda da possibilidade de se buscar posição mais vantajosa, que muito
provavelmente se alcançaria, não fosse o ato ilícito praticado.

No lugar de reparar aquilo que teria sido (providência impossível), a


reparação de chances se volta ao passado, buscando a reposição do que foi. É
nesse momento pretérito que se verifica se a vítima possuía uma chance. É essa
chance, portanto, que lhe será devolvida sob a forma de reparação.

A teoria da perda de uma chance não se presta a reparar danos


fantasiosos, não servindo ao acolhimento de meras expectativas, que pertencem
tão somente ao campo do íntimo desejo, cuja indenização é vedada pelo
ordenamento jurídico, mas sim um dano concreto (perda de probabilidade). A
indenização será devida, quando constatada a privação real e séria de chances,
quando detectado que, sem a conduta do réu, a vítima teria obtido o resultado
desejado.

6. CONCLUSÃO

As relações interpessoais dos seres humanos são essencialmente


complexas sobretudo por que o caráter subjetivo que permeia as partes

2
Nos termos do parágrafo único do art. 1.704 do Código Civil: Parágrafo único. Se o
cônjuge declarado culpado vier a necessitar de alimentos, e não tiver parentes em
condições de prestá-los, nem aptidão para o trabalho, o outro cônjuge será obrigado a
assegurá-los, fixando o juiz o valor indispensável à sobrevivência.

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envolvidas no contrato entre pessoas é de extrema relevância para solução de
eventual conflito como demonstrado alhures.

Sobretudo quando estamos a falar de contrato cuja essência envolve


sentimentos de amor e afeto (versão mais recente do conceito de casamento)
os cuidados na resolução de lides entre casais devem ser redobrados, posto que
além das questões patrimoniais existem emoções as quais são de extrema
dificuldade sua mensuração.

Além da pessoalidade e subjetividade a ser considerada no eventual


rompimento da relação, também foram analisados os deveres que são
assumidos pelos cônjuges na assinatura do contrato matrimonial, e o
descumprimento de algum deles por uma das partes configura ato ilícito e
consequentemente acarreta motivo para o rompimento da relação.

Nesse passo a legislação brasileira, mais precisamente no Art. 186 do


Código Civil é clara em estabelecer que “aquele que, por ação ou omissão
voluntária, negligência ou imprudência, violar direitos e causar dano a outrem,
ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.

Assim, não restam dúvidas que, no contrato de casamento, a violação


de algum desses deveres configura ato ilícito e consequentemente o dever de
indenizar nos termos do art. 927 do Código Civil.

Ainda no que diz respeito ao deveres matrimoniais, conclui-se que nos


dias atuais, a fidelidade recíproca se mostra sem dúvidas a mais difícil obrigação
de ser cumprida, em especial pelas oportunidades trazidas com avanço das
relações interpessoais na internet os quais permitem a popularmente conhecida
traição virtual, que já foi considerada como válida pelos tribunais brasileiros e
portanto motivo suficiente para imputar cônjuge traidor o ônus de indenizar o
traído por sua pratica repreensível.

O descumprimento das demais obrigações (vida em comum, no


domicílio conjugal; mútua assistência; sustento, guarda e educação dos filhos;
respeito e consideração mútuos) de forma não menos importante, também são
motivos para romper a relação e imputar àquele que incorreu nessa prática o
pagamento de indenização pelo seu ato ilícito.

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Por outro lado, não se pode olvidar que, para além dos deveres
conjugais existe outra forma de concretizar motivo de indenização no matrimonio
que é a aplicação do princípio da perda de uma chance, o qual estará
evidenciado no casamento cujas expectativas iniciais foram claramente
frustradas por culpa daquele que induziu o outra em erro para conquista-lo.

É claro que para isso deve-se evidentemente comprovar não só as


expectativas frustradas no matrimonio, mas também o engodo do outro ao
induzir a erro o lesado para se casar, e principalmente a ocorrência das
oportunidades (chances) que o cônjuge ofendido teve que abrir mão em
benefício do matrimonio.

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