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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS


DEPARTAMENTO DE DIREITO
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I

DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I

Professor Dr. Augusto Passamani Bufulin

Orientações importantes:

Este resumo NÃO substitui a leitura semanal do conteúdo na doutrina de


seu interesse.
Trata-se de um material de orientação com as principais questões da
matéria, mas é importante o aprofundamento doutrinário sobre o tema.

PONTO 8: TEORIA GERAL DO PAGAMENTO.

1. NOÇÕES GERAIS

O principal efeito das obrigações é gerar para o credor o direito de exigir do devedor o
cumprimento da prestação e o pagamento é o desfecho natural da obrigação. O pagamento
é a satisfação voluntária e normal da obrigação.
Em regra, as obrigações são feitas para serem cumpridas e, assim, o pagamento é o
ato final para satisfação da obrigação.
Apesar de a palavra denotar, no senso comum, a solução para dívidas em dinheiro, o
legislador utiliza a palavra "pagamento" no sentido técnico, no sentido de ser a execução de
qualquer espécie de obrigação. O pagamento pode ser, por exemplo, mediante a entrega das
sacas de café ou de uma obra de arte feita por um pintor renomado.

2. ELEMENTOS DO PAGAMENTO

Para produzir seus efeitos, o pagamento tem os seguintes requisitos de validade: a)


um vínculo jurídico de pagamento; b) o sujeito passivo do pagamento (accipiens); c) o sujeito
ativo do pagamento, ou seja, quem paga (solvens). Vejamos detalhadamente cada um dos
elementos.
Para haver pagamento, deve haver um vínculo obrigacional. Caso contrário, não
haveria o que pagar, tampouco a extinção de obrigação. Deve haver pagamento com animus
solvendi, ou seja, a intenção de solver a obrigação.
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Nos termos dos artigos 304 e 305 do Código Civil, o cumprimento da prestação é feito
pelo devedor (solvens), por seu sucessor ou terceiro, que deve ser realizado ao credor
(accipiens), seu sucessor ou de quem de direito os represente (CC, art. 308). Esclareça-se
que outras pessoas podem pagar e receber, além do credor e devedor. Assim, é necessário
ter atenção ao denominar os envolvidos na obrigação como devedor e credor, pois a
legislação não utiliza esses termos.

3. QUEM PODE E DEVE PAGAR

Em regra, o devedor é o sujeito que irá realizar o pagamento, no entanto, qualquer


interessado pode pagar. Se houver oposição do credor quanto ao pagamento de terceiro, o
interessado pode se utilizar outros meios para exoneração do devedor, como a utilização do
pagamento em consignação (CC, art. 334 e CPC, art. 539), modalidade para extinção da
obrigação, que será vista mais adiante nessa disciplina.
O credor não pode recusar o pagamento de terceiro, exceto se houver dispositivo
expresso proibindo referida modalidade ou se a obrigação for personalíssima, ou seja, tiver
de ser cumprida pelo devedor (intuitu personae).
Vejamos o artigo 304 do Código Civil:

Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando,


se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor.
Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em
nome e à conta do devedor, salvo oposição deste.

No pagamento, vê-se as figuras do terceiro interessado e do terceiro não interessado.


O interessado é aquele que tem interesse no pagamento da dívida e, em regra, o
devedor é o principal interessado. No entanto, é possível que haja outras pessoas
interessadas, tais como o fiador, o herdeiro, o avalista, o adquirente do imóvel hipotecário, o
sublocatário, etc. Caso o terceiro interessado realize o pagamento da dívida, haverá a sub-
rogação legal, com a transferência de direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo
credor, em relação à dívida, contra o devedor principal e os fiadores (arts. 346, III e 349).
Já o pagamento do terceiro não interessado pode ser visualizado sob dois prismas:
(i) O terceiro não interessado que faz o pagamento em seu próprio nome: ele pode
ser reembolsado, mas não há sub-rogação nos direitos do credor (art. 305).
Caso pague a dívida antes de vencida, terá direito ao reembolso na dada do
vencimento (parágrafo único do art. 305).
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(ii) O terceiro não interessado que faz o pagamento em nome e conta do devedor,
sem oposição deste: não terá direito a nada, pois se trata de mera liberalidade
e equivale a uma doação.

Art. 305. O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome,
tem direito a reembolsar-se do que pagar; mas não se sub-roga nos direitos
do credor.

Parágrafo único. Se pagar antes de vencida a dívida, só terá direito ao


reembolso no vencimento.

Exemplo de terceiro não interessado é o pai, que paga a dívida do filho para que este
não seja responsabilizado. Esse exemplo é importante para demonstrar que o interesse
afetivo não se confunde com o interesse patrimonial ou jurídico, ou seja, o fato de o terceiro
ser pai não significa, por si só, que é terceiro interessado na dívida.
Caso terceiro não interessado faça o pagamento em seu próprio nome sem o
conhecimento do devedor ou com oposição deste, não haverá obrigação de reembolso, desde
que o devedor disponha de meios para solver a obrigação. Eis a redação do artigo 306 do
Código Civil:

Art. 306. O pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou oposição


do devedor, não obriga a reembolsar aquele que pagou, se o devedor tinha
meios para ilidir a ação.

Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona1 fornecem um exemplo interessante:

Imagine que, em uma determinada cidade, dois comerciantes disputam entre


si o mercado de cereais. Um deles, necessitando de numerário para levar à
frente os seus negócios, contrai vultosa dívida perante um determinado
credor, não conseguindo adimpli-la no vencimento, embora ainda não
estivesse insolvente. O seu concorrente, ciente do fato, paga a dívida,
tornando-se seu credor. Ora, em tal caso, é indiscutível que a situação do
devedor ficará agravada, uma vez que terá muito mais dificuldade de solver
amigavelmente a obrigação, sem mencionar o fato de que o seu desafeto —
o novo credor — poderá macular a sua imagem na praça, alardeando
informações falsas acerca de sua real situação econômica. Para evitar
situações como essa, que incentivariam comportamentos escusos, é que o
Código Civil brasileiro de 2002 reconhece ao devedor a faculdade de opor-se
ao pagamento da dívida por terceiro [...].
[...] havendo o desconhecimento ou a oposição do devedor, e o pagamento
ainda assim se der, o terceiro não terá o direito de reembolsarse, nos termos
do art. 306 do CC/2002, desde que o devedor, obviamente, disponha de
meios para solver a obrigação.

1
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 8. ed. São Paulo:
Saraiva, 2019. v. II [Livro digital].
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Na forma do artigo 307, o pagamento que resultar em transmissão de propriedade só
pode ser feito por quem for titular do referido direito real, vedando a alienação por quem não
seja dono da coisa.

Art. 307. Só terá eficácia o pagamento que importar transmissão da


propriedade, quando feito por quem possa alienar o objeto em que ele
consistiu.
Parágrafo único. Se se der em pagamento coisa fungível, não se poderá mais
reclamar do credor que, de boa-fé, a recebeu e consumiu, ainda que o
solvente não tivesse o direito de aliená-la.

O parágrafo único, contudo, apresenta uma exceção: se a coisa de terceiro entregue


ao credor for fungível, e este a tiver recebido de boa-fé e a consumido, a relação jurídica
estará extinta e o pagamento terá eficácia. Portanto, em caso de entrega de coisa consumível
que pertença a terceiro, este deverá demandar o devedor.

4. NORMAS QUANTO AO RECEBEDOR

Em regra, o credor é o recebedor, o accipiens. Nos termos do artigo 308 do Código


Civil, o pagamento deverá ser feito ao credor, ou a quem o represente, sob pena de não se
extinguir a obrigação. O pagamento também pode ser feito ao representante que tenha
poderes para receber o pagamento, sob pena de só valer depois de ratificação, de
confirmação pelo credor, ou havendo prova de reversão ao seu proveito.

Art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o


represente, sob pena de só valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto
reverter em seu proveito.

Embora o dispositivo citado utilize o verbo “valer”, a doutrina possui o entendimento


de que a questão se resolve no plano da eficácia. Eis o Enunciado n. 425 do CJF:

Enunciado n. 425, CJF. O pagamento repercute no plano da eficácia, e não


no plano da validade como preveem os arts. 308, 309 e 310 do Código Civil.

O artigo 309 do Código Civil traz a figura do credor putativo, que é aquele que,
aparentemente, tem poderes para receber, desde que haja boa-fé do devedor. Trata-se da
aplicação da chamada teoria da aparência, hipótese em que se reconhece reconhecer como
verdadeira uma situação que parece real.

Art. 309. O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda


provado depois que não era credor.
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Ressalte-se que a boa-fé disciplinada pelo artigo é a subjetiva2, no qual o devedor tem
a crença legítima de que aquele que se apresentava a ele era o credor. Além da boa-fé, o erro
deve ser escusável (perdoável). Caso tivesse motivos para desconfiar do credor, por exemplo,
devedor depositá-lo em juízo.
Vejamos alguns exemplos de pagamento a credor putativo trazidos pela doutrina: (i) o
pagamento feito de boa-fé realizado ao único herdeiro conhecido de uma pessoa abonada
que veio a falecer (um sobrinho por exemplo) considera-se válido, mesmo que se apure,
posteriormente, que o de cujus nomeou outra pessoa como seu herdeiro testamentário; (ii) o
locador aparente, que se intitula proprietário de um apartamento e o aluga a outrem. Provada
a boa-fé deste, os pagamentos de aluguéis por ele efetuados serão considerados válidos,
ainda que aquele não seja o legítimo dono; (iii) o locatário que efetua o seu pagamento na
imobiliária X – local fixado pelas partes – há certo tempo e, posteriormente, descobre que o
locador rompeu o contrato de representação com essa imobiliária e contratou a imobiliária Y.
Os pagamentos, nesse caso, são válidos.
Existe uma regra famosa no direito que diz que “quem paga mal, paga duas vezes”.
Trata-se da redação do artigo 310 do Código Civil:

Art. 310. Não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar,
se o devedor não provar que em benefício dele efetivamente reverteu.

No entanto, também em aplicação à teoria da aparência, a parte final do dispositivo


disciplina que aquele que pagou ficará exonerado do débito se ficar provado que o
pagamento foi revertido em favor do credor.
O pagamento deve ser feito a pessoa capaz de dar a devida quitação, sob pena de
não valer em relação ao accipiens. Nesse caso, é importante esclarecer que o credor é quem
dá a devida quitação, havendo uma impropriedade terminológica quando se fala que "o
devedor quitou o débito".
O fato de não valer em relação a quem deveria receber não significa que aquele que
pagou erroneamente não possa ingressar com ação de repetição de indébito (actio in rem
verso) contra aquele que recebeu indevidamente.
Está autorizado a receber o pagamento aquele que possui o documento de quitação,
salvo se as circunstâncias afastarem a presunção relativa advinda dessa questão. É a
literalidade do artigo 311:

2 A boa-fé possui a subdivisão em boa-fé objetiva e boa-fé subjetiva. A boa-fé objetiva é aquela que diz
respeito a um agir com lealdade jurídica, relacionada à honestidade das partes, a atuação respeitosa.
É a dimensão externa da boa-fé, de comportamento geral na relação obrigacional. a regra de conduta
que implica em um comportamento honesto, leal e correto. A boa-fé subjetiva, por sua vez, refere-se à
intenção do sujeito, ligada à moralidade dos seus atos, a suas convicções pessoais de agir em
conformidade com o direito.
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Art. 311. Considera-se autorizado a receber o pagamento o portador da


quitação, salvo se as circunstâncias contrariarem a presunção daí resultante.

Quando o devedor for intimado da penhora feita sobre o crédito ou da impugnação ao


crédito oposta por terceiros e efetuar o pagamento diretamente ao credor, este pagamento
não será considerado como válido em relação ao terceiro.

Art. 312. Se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da penhora feita


sobre o crédito, ou da impugnação a ele oposta por terceiros, o pagamento
não valerá contra estes, que poderão constranger o devedor a pagar de novo,
ficando-lhe ressalvado o regresso contra o credor.

Exemplificativamente: se Pedro deve a João o valor de R$ 50.000,00, os credores de


João podem penhorar esse crédito. Manoel, credor de João, obtém a penhora desse valor e,
mesmo ciente disso e devidamente intimado dessa penhora, Pedro paga o montante
diretamente a João. Nesse caso, Manoel poderá exigir diretamente a importância de Pedro,
como se o valor não tivesse sido pago.

5. O OBJETO DO PAGAMENTO

Nos termos do artigo 313, o objeto do pagamento é a prestação. O credor pode se


negar a receber coisa diversa do que foi pactuado, mesmo sendo mais valiosa.

Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é
devida, ainda que mais valiosa.

O artigo 314 traz o princípio da identidade física da prestação: mesmo sendo a


obrigação divisível, o credor não pode ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar em
partes, salvo expressa previsão contratual.

Art. 314. Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode
o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim
não se ajustou.

ATENÇÃO! Em exceção a esse dispositivo legal, o Código de Processo Civil traz a


chamada “moratória legal” que prevê a possibilidade de o executado demandado em um
processo depositar o valor de 30% do débito e dividir o restante em seis parcelas. Trata-se de
uma faculdade do devedor, que deve ser aceita pelo credor, o qual tem direito de impugnar o
valor apresentado, fundamentando especificamente as razões da impugnação.
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CPC. Art. 916. No prazo para embargos, reconhecendo o crédito do
exequente e comprovando o depósito de trinta por cento do valor em
execução, acrescido de custas e de honorários de advogado, o executado
poderá requerer que lhe seja permitido pagar o restante em até 6 (seis)
parcelas mensais, acrescidas de correção monetária e de juros de um por
cento ao mês.

Adentrando ao objeto do pagamento, esclareça-se que as dívidas em dinheiro devem


ser pagas no vencimento, em moeda corrente nacional, pelo seu valor nominal, o que não
impede que as partes convencionem a inclusão de cláusulas para atualização monetário do
valor, especialmente em virtude da inflação.

Art. 315. As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em moeda


corrente e pelo valor nominal, salvo o disposto nos artigos subsequentes.

O artigo 316 disciplina sobre a possibilidade de se convencionar o aumento


progressivo das prestações sucessivas, o que é chamado de cláusula de escala móvel ou
cláusula de escalonamento. No entanto, essa previsão se refere apenas à possibilidade de
incidir correção monetária sobre a obrigação.

Art. 316. É lícito convencionar o aumento progressivo de prestações


sucessivas.

Em sequência, o artigo 317 trata da denominada “teoria da imprevisão” pela doutrina,


com a possibilidade a revisão contratual por fato superveniente, diante de uma
imprevisibilidade. Exemplo de fato superveniente é a pandemia do Novo Coronavírus (COVID-
19), que foi um fato que abalou os contratos cíveis e impôs a possibilidade de revisão por
onerosidade excessiva. Um contrato de locação, por exemplo, teve de ser revisto por ocasião
do fechamento das atividades pelo Poder Público.

Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção


manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua
execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure,
quanto possível, o valor real da prestação.

O artigo 318 do Código Civil prevê a nulidade das convenções em ouro ou em moeda
estrangeira, exceto nos casos previstos na legislação especial.

Art. 318. São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda


estrangeira, bem como para compensar a diferença entre o valor desta e o
da moeda nacional, excetuados os casos previstos na legislação especial.

6. A PROVA DO PAGAMENTO
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A prova do pagamento é a quitação. O devedor pode reter o pagamento se a quitação


não for dada pelo credor. Assim, se o credor se recusar, o devedor não poderá abandonar o
bem devido à sua própria sorte, mas, caso isso aconteça, fará jus às despesas pagas durante
o tempo que guardou e conservou a coisa, durante a recusa do credor até a sua quitação.

Art. 319. O devedor que paga tem direito a quitação regular, e pode reter o
pagamento, enquanto não lhe seja dada.

A quitação é a prova do efetivo pagamento e documento pelo qual o credor exonera o


devedor da obrigação ao reconhecer que recebeu o pagamento. Sobre a questão, vejamos o
Enunciado 18 do CJF:

Enunciado 18, CJF. A "quitação regular" referida no art. 319 do novo Código
Civil engloba a quitação dada por meios eletrônicos ou por quaisquer formas
de "comunicação a distância", assim entendida aquela que permite ajustar
negócios jurídicos e praticar atos jurídicos sem a presença corpórea
simultânea das partes ou de seus representantes.

O artigo 320 trata dos requisitos legais da quitação: a) o valor e a espécie da dívida
quitada; b) o nome do devedor ou de quem por este pagou (representante, sucessor ou
terceiro); c) o tempo do pagamento (dia, mês, e, se quiserem, hora); d) o lugar do pagamento;
e) a assinatura do credor ou de seu representante.
Se o devedor, por inexperiência ou desconhecimento, não exigir a quitação na forma
regular, preterindo os requisitos acima citados, é possível se admitir provado o pagamento se,
conforme o parágrafo único do artigo 320, “de seus termos ou das circunstâncias resultar
haver sido paga a dívida”.

Art. 320. A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular,
designará o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem
por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento, com a assinatura do credor,
ou do seu representante.
Parágrafo único. Ainda sem os requisitos estabelecidos neste artigo valerá a
quitação, se de seus termos ou das circunstâncias resultar haver sido paga a
dívida.

Se a quitação consistir na devolução do título, como no caso de uma nota promissória,


caso o título se perca, o devedor pode reter o pagamento e exigir uma declaração do credor
sobre a inutilização.

Art. 321. Nos débitos, cuja quitação consista na devolução do título, perdido
este, poderá o devedor exigir, retendo o pagamento, declaração do credor
que inutilize o título desaparecido.
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Os artigos 322 a 326 tratam da presunção do pagamento. Todas as presunções


trazidas pelo código são relativas e admitem prova em contrário, ou seja, é possível que o
credor prove a inexistência do pagamento.
Em primeiro lugar, no caso de obrigação de trato sucessivo, com pagamento em
prestações periódicas (pagamento parcelado), a quitação da última parcela estabelece a
presunção de que houve o pagamento das anteriores.

Art. 322. Quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação da última


estabelece, até prova em contrário, a presunção de estarem solvidas as
anteriores.

Sendo a quitação do capital sem reserva de juros (que são os frutos civis do capital),
estes presumem-se pagos. Os juros são acessórios e, assim, aplica-se a regra de que o
acessório segue o principal (princípio da gravitação jurídica).

Art. 323. Sendo a quitação do capital sem reserva dos juros, estes presumem-
se pagos.

A entrega do título ao devedor firma a presunção relativa do pagamento, porém, a


quitação será considerada sem efeito se o credor provar, em sessenta dias, a falta do
pagamento.

Art. 324. A entrega do título ao devedor firma a presunção do pagamento.


Parágrafo único. Ficará sem efeito a quitação assim operada se o credor
provar, em sessenta dias, a falta do pagamento.

Salvo estipulação em contrário, presume-se que as despesas com o pagamento e a


quitação ficam a cargo do devedor. Se ocorrer aumento dessas despesas por fato imputável
ao credor, este deve suportar o pagamento para manutenção do equilíbrio na relação
obrigacional.

Art. 325. Presumem-se a cargo do devedor as despesas com o pagamento e


a quitação; se ocorrer aumento por fato do credor, suportará este a despesa
acrescida.

Havendo pagamento por medida ou peso, deve-se entender, no silêncio das partes,
que aceitaram os critérios do lugar da execução da obrigação. Vê-se que o alqueire, por
exemplo, tem diferentes medidas. No Estado de São Paulo, um alqueire equivale a 24.200m²,
ao passo que em Minas gerais equivale a 48.400 m².
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Art. 326. Se o pagamento se houver de fazer por medida, ou peso, entender-
se-á, no silêncio das partes, que aceitaram os do lugar da execução.

7. O LUGAR DO PAGAMENTO

É possível que os sujeitos das obrigações acordem livremente o local onde a obrigação
deve ser cumprida e a competência do juízo. Não obstante, no estudo do lugar do pagamento,
deve-se estudar a seguinte classificação das obrigações:
i) Obrigação quesível ou queráble: na obrigação quesível, o pagamento deverá ocorrer
no domicílio do devedor. Regra geral, caso não se estipule o contrário, o pagamento é no
domicílio do devedor.
ii) Obrigação portável ou portable: as partes estipulam onde será realizado o
pagamento que, via de regra, é feito no domicílio do credor. Designados dois ou mais lugares,
caberá ao credor escolher entre eles.
ATENÇÃO! A regra geral é a de que as dívidas devem ser pagas no domicílio do
devedor, ou seja, são quesíveis. Para serem portáveis, é necessário que o contrato expressa-
mente designe o domicílio do credor como o local do pagamento e, caso o contrato seja
silente, deve-se aplicar o princípio geral.

Art. 327. Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as


partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da
natureza da obrigação ou das circunstâncias.
Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher
entre eles.

Se o pagamento consistir na tradição de um imóvel ou em prestações a ele relativas,


deverá ser feito no local onde situado o bem, na forma do artigo 328 do Código Civil:

Art. 328. Se o pagamento consistir na tradição de um imóvel, ou em


prestações relativas a imóvel, far-se-á no lugar onde situado o bem.

Havendo motivo grave para não efetuar o pagamento no local determinado, o devedor
poderá fazer em outro, sem prejuízo para o credor. Essa é a redação do artigo 329 do Código
Civil:

Art. 329. Ocorrendo motivo grave para que se não efetue o pagamento no
lugar determinado, poderá o devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo para o
credor.
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É possível visualizar a questão como no caso de haver uma inundação ou um
terremoto no lugar do pagamento. Em verdade, o “motivo grave” é uma lacuna a ser
preenchida judicialmente, caso haja alguma discussão a esse respeito perante o juiz.
Por fim, o legislador admitiu que o pagamento feito reiteradamente em outro local faz
presumir a renúncia do credor ao lugar previsto no contrato.

Art. 330. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir


renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato.

Trata-se de corolário da boa-fé objetiva. O estudo da boa-fé objetiva remonta a dois


conceitos interessantes: supressio e surrectio. A supressio significa a supressão de um direito
ou uma posição jurídica pelo seu não exercício com o passar dos anos. Assim, conforme se
identifica no artigo em estudo, se o pagamento passar a ser feito no lugar fora do que fora
contratado, reiteradamente, com aceitação do credor, este não poderá exigir o que foi disposto
no contrato.
A surrectio, por sua vez, é o surgimento de um direito em razão do seu exercício pelo
tempo. Em relação ao estudo esse artigo, ao mesmo tempo que há supressio pela perda do
exercício do direito ao credor, há a surrectio em relação ao devedor, ou seja, o surgimento do
direito em efetuar o pagamento no local fora do contrato.

8. NORMAS QUANTO AO TEMPO DO PAGAMENTO

O vencimento da obrigação ocorre quando ela deve ser satisfeita, que pode ser fixado
pelas partes. O credor não pode exigir o adimplemento antes do vencimento da obrigação, ao
passo que o devedor não pode pagar após a data prevista. Em princípio, o pagamento deve
ser efetuado no dia do vencimento da dívida. Não dispondo a lei em contrário e ausente um
ajuste prévio, o credor pode exigir o pagamento imediatamente.

Art. 331. Salvo disposição legal em contrário, não tendo sido ajustada época
para o pagamento, pode o credor exigi-lo imediatamente.

A falta de pagamento constitui em mora o devedor de pleno direito, segundo a máxima


“dies interpellat pro homine” (o dia do vencimento interpela pelo homem), reproduzida no art.
3973 do Código Civil.
Quanto ao tempo do pagamento, a obrigação é classificada da seguinte forma:

3Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito
em mora o devedor.
Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial.
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i) Obrigação instantânea com cumprimento imediato: o cumprimento é imediato à
constituição da obrigação. Assim, nos termos do artigo 331, se não houver previsão em
contrário, o pagamento pode ser exigido imediatamente (art. 331).
ii) Obrigação de execução diferida: o cumprimento da obrigação ocorre em uma só
vez, em termo pré-fixado. A título exemplificativo, o Superior Tribunal de Justiça editou uma
súmula no sentido de que o depósito antecipado do cheque pós-datado pode caracterizar
dano moral4.
iii) Obrigação de execução continuada ou trato sucessivo: o cumprimento da obrigação
se dá por meio de prestações sucessivas e periódicas, como nos casos de financiamentos,
pagamentos parcelados.
Nas obrigações, cuja eficácia depende de evento futuro e incerto, são cumpridas na
data do implemento ou ocorrência da condição (implemento), cabendo ao credor a prova de
que deste teve ciência o devedor. Eis o artigo 332 do Código Civil:

Art. 332. As obrigações condicionais cumprem-se na data do implemento da


condição, cabendo ao credor a prova de que deste teve ciência o devedor.

Exemplo de obrigação condicional é a doação a nascituro, que fica condicionada ao


seu nascimento com vida (CC, art. 542).
O credor não pode cobrar a dívida antes do vencimento, mas existem hipóteses de
vencimento antecipado da dívida, conforme artigo 333 do Código Civil:

Art. 333. Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o


prazo estipulado no contrato ou marcado neste Código:
I - no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores;
II - se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução
por outro credor;
III - se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito,
fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las.
Parágrafo único. Nos casos deste artigo, se houver, no débito, solidariedade
passiva, não se reputará vencido quanto aos outros devedores solventes.

Nos termos do parágrafo único do artigo 333, se houver solidariedade passiva no


débito, o vencimento antecipado não atingirá os outros devedores solventes.
O vencimento antecipado também pode ocorrer, para as obrigações em geral, por
convenção entre as partes, nos casos envolvendo inadimplemento, levando-se a concluir que
o rol do vencimento antecipado é exemplificativo (numerus apertus).

9. APLICABILIDADE PRÁTICA
a. Jurisprudência

4 STJ. Súmula 370. Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado.
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I

PROCESSO CIVIL. DIREITO CIVIL. VIOLAÇÃO DO ART 535 DO CPC NÃO


CONFIGURADA. JUROS MORATÓRIOS. INCIDÊNCIA. MORA SOLVENDI
E MORA CREDITORIS. DÍVIDA QUESÍVEL E DÍVIDA PORTÁVEL. ART 397
DO CC.
1. Não se verifica ofensa ao art. 535 do Código de Processo Civil quando o
Tribunal de origem se manifesta de forma motivada para a solução da lide,
declinando os fundamentos jurídicos que embasaram sua decisão, não
configurando omissão o pronunciamento judicial contrário à pretensão do
recorrente.
2. A obrigação quesível (quérable) é aquela em que o pagamento deve ser
feito no domicílio do devedor, ficando o credor, portanto, obrigado a buscar a
quitação. Na obrigação portável (portable), a dívida deverá ser satisfeita no
domicílio do credor, incidindo o devedor em mora se não efetuar o pagamento
no tempo e lugar pré-fixados (art. 394 do Código Civil). Relevante notar que
a demarcação do local de pagamento tem sua ratio na aferição de quem deve
tomar a iniciativa do adimplemento.
3. A distinção é importante no caso em julgamento, haja vista que, podendo
decorrer o atraso na execução da obrigação de fato imputável ao devedor -
pelo não pagamento - ou ao credor - pelo não recebimento -, no lugar e forma
convencionados (art. 394 do CC de 2002 e art. 955 do CC de 1916), saber a
quem caberia tal ônus é fator decisivo para a definição do encargo da mora.
4. A caracterização da mora solvendi pelo mero inadimplemento da obrigação
positiva e líquida na data de vencimento (art. 397 do Código Civil) só ocorre
em relação às obrigações portáveis, em que o devedor tem que ir ao encontro
do credor para efetuar o pagamento.
Em outras palavras, a mora ex re só tem lugar quando cabe ao devedor a
providência para o pagamento, mesmo quando haja termo pré-fixado no
contrato.
5. No caso, quer por haver cláusula expressa no termo de transação - cuja
apreciação em sede de recurso especial é vedada pela Súmula 7 do STJ -,
quer em razão do silêncio desse negócio jurídico sobre o ponto, o fato é que
o Tribunal a quo concluiu se tratar de dívida quesível, reforçada a sua
convicção com a constatação de que o ora recorrente, embora notificado pelo
devedor em 22/11/1996, permaneceu em mora ao não se apresentar para o
recebimento injustificadamente.
6. Ademais, para que a constituição em mora se dê de pleno direito tão só
com o não pagamento da dívida, na data de vencimento, faz-se mister que
ela seja líquida e certa, nos exatos termos do art. 397 do Código Civil, sendo
certo que a mora ex re não se configura nas hipóteses em que a obrigação,
embora subordinada a termo, tenha sua execução vinculada à prática de
determinados atos por parte do devedor, quando então se faz mister a
interpelação.
7. Recurso especial não provido.
(REsp 1427936/MG, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 16/12/2014, DJe 03/02/2015)

RECURSO ESPECIAL. CIVIL. SEGURO DPVAT. INDENIZAÇÃO. CREDOR


PUTATIVO.
TEORIA DA APARÊNCIA.
1. Pela aplicação da teoria da aparência, é válido o pagamento realizado de
boa-fé a credor putativo.
2. Para que o erro no pagamento seja escusável, é necessária a existência
de elementos suficientes para induzir e convencer o devedor diligente de que
o recebente é o verdadeiro credor.
3. É válido o pagamento de indenização do DPVAT aos pais do de cujus
quando se apresentam como únicos herdeiros mediante a entrega dos
documentos exigidos pela lei que dispõe sobre seguro obrigatório de danos
pessoais, hipótese em que o pagamento aos credores putativos ocorreu de
boa-fé.
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4. Recurso especial conhecido e provido.
(REsp 1601533/MG, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,
TERCEIRA TURMA, julgado em 14/06/2016, DJe 16/06/2016)

Recurso Especial. Direito Civil e Processual civil. Ação de reparação de


danos. Acidente de trânsito. Pagamento de despesas por terceiro
desinteressado. Legitimidade ativa ad causam.
- O terceiro não interessado que paga em seu próprio nome as despesas com
tratamento médico-hospitalar de vítimas de acidente de trânsito é parte
legítima para propor ação contra aquele que, segundo alega, deu causa ao
sinistro, para reembolsar-se daquilo que pagou.
(REsp 332.592/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 13/11/2001, DJ 18/02/2002, p. 422)

PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CUMPRIMENTO DE


SENTENÇA.
PARCELAMENTO DO VALOR EXEQUENDO. APLICAÇÃO DO ART. 745-A
DO CPC.
POSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA EFETIVIDADE PROCESSUAL. ART. 475-
R DO CPC. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA. HIPÓTESE DE PAGAMENTO
ESPONTÂNEO DO DÉBITO. NÃO INCIDÊNCIA DA MULTA PREVISTA NO
ART. 475-J, § 4º, DO CPC. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
DESCABIMENTO ANTE O CUMPRIMENTO ESPONTÂNEO DA
OBRIGAÇÃO VEICULADA NA SENTENÇA. PRINCÍPIO DA NON
REFORMATIO IN PEJUS. VIOLAÇÃO DOS ARTS. 165, 458 E 535 DO CPC
NÃO CONFIGURADA.
1. A violação aos arts. 165, 458 e 535 do CPC não foi configurada, uma vez
que o Tribunal de origem, embora sucintamente, pronunciou-se de forma
clara e suficiente sobre a questão posta nos autos, sendo certo que o
magistrado não está impelido a rebater, um a um, os argumentos trazidos
pela parte, se os fundamentos utilizados foram suficientes para embasar a
decisão.
2. A efetividade do processo como instrumento de tutela de direitos é o
principal desiderato das reformas processuais engendradas pelas Leis
11.232/2005 e 11.382/2006. O art. 475-R do CPC expressamente prevê a
aplicação subsidiária das normas que regem o processo de execução de
título extrajudicial, naquilo que não contrariar o regramento do cumprimento
de sentença, sendo certa a inexistência de óbice relativo à natureza do título
judicial que impossibilite a aplicação da norma em comento, nem mesmo
incompatibilidade legal.
Portanto, o parcelamento da dívida pode ser requerido também na fase de
cumprimento da sentença, dentro do prazo de 15 dias previsto no art. 475-J,
caput, do CPC.
3. Não obstante, o parcelamento da dívida não é direito potestativo do
devedor, cabendo ao credor impugná-lo, desde que apresente motivo justo e
de forma fundamentada, sendo certo que o juiz poderá deferir o parcelamento
se verificar atitude abusiva do exequente, uma vez que tal proposta é-lhe
bastante vantajosa, a partir do momento em que poderá levantar
imediatamente o depósito relativo aos 30% do valor exequendo e, ainda, em
caso de inadimplemento, executar a diferença, haja vista que as parcelas
subsequentes são automaticamente antecipadas e é inexistente a
possibilidade de impugnação pelo devedor, nos termos dos §§ 2º e 3º do art.
745-A.
4. Caracterizado o parcelamento como técnica de cumprimento espontâneo
da obrigação fixada na sentença e fruto do exercício de faculdade legal,
descabe a incidência da multa calcada no inadimplemento (art. 475-J do
CPC), sendo certo que o indeferimento do pedido pelo juiz rende ensejo à
incidência da penalidade, uma vez configurado o inadimplemento da
obrigação, ainda que o pedido tenha sido instruído com o comprovante do
depósito, devendo prosseguir a execução pelo valor remanescente.
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5. No caso sob exame, a despeito da manifestação de recusa do recorrente
(fl. 219), o Juízo deferiu o pedido de parcelamento ante a sua tempestividade
e a efetuação do depósito de 30%, inclusive consignando o adimplemento
total da dívida (fl. 267), ressoando inequívoco o descabimento da multa
pleiteada.
6. A Corte Especial, por ocasião do julgamento do REsp 1.028.855/SC,
sedimentou o entendimento de que, na fase de cumprimento de sentença,
havendo o adimplemento espontâneo do devedor no prazo fixado no art. 475-
J do CPC, não são devidos honorários advocatícios, uma vez desnecessária
a prática de quaisquer atos tendentes à satisfação forçada do julgado. No
caso concreto, porém, conquanto tenha-se caracterizado o cumprimento
espontâneo da dívida, o Tribunal condenou a recorrida ao pagamento de
honorários advocatícios, o que, em face de recurso exclusivo do exequente,
não pode ser ser afastado sob pena de reformatio in pejus.
7. Recurso especial não provido.
(REsp 1264272/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 15/05/2012, DJe 22/06/2012)

b. Questões de prova

(Ano: 2021 Banca: CONSULPLAN Órgão: Prefeitura de Suzano - SP Prova:


CONSULPLAN - 2021 - Prefeitura de Suzano - SP - Assistente Jurídico) João é credor de
Paulo na quantia, em dinheiro, de R$ 4.000,00. Vencida a dívida, Paulo oferece em
pagamento, a João, uma moto usada, cujo valor está estimado em R$ 6.000,00. Na hipótese
narrada, nos termos do Código Civil brasileiro:
a) Paulo, na condição de devedor, é quem escolhe a forma como quer adimplir a dívida.
b) João não é obrigado a receber a moto, desde que prove em juízo que não tem interesse
no bem.
c) João não é obrigado a receber a moto em substituição ao valor em dinheiro, ainda que mais
valiosa.
d) Paulo somente pode pagar a dívida mediante oferta de bem que corresponda ao dobro do
valor em dinheiro.

RESPOSTA: C

(Ano: 2019 Banca: Crescer Consultorias Órgão: Prefeitura de Brejo de Areia - MA Prova:
Crescer Consultorias - 2019 - Prefeitura de Brejo de Areia - MA - Advogado) Quanto ao
objeto do Pagamento e sua prova, marque a alternativa Correta.
a) O credor é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais
valiosa.
b) São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira, bem como
para compensar a diferença entre o valor desta e o da moeda nacional, excetuados os casos
previstos na legislação especial.
c) Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, pode o credor ser obrigado a
receber, ou o devedor a pagar, por partes, mesmo se assim não se ajustou.
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d) É ilícito convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas.

RESPOSTA: B

(Ano: 2017 Banca: UERR Órgão: CODESAIMA Prova: UERR - 2017 - CODESAIMA -
Advogado) Em se tratando do adimplemento e extinção das obrigações, o pagamento
reiteradamente feito em outro local fazendo presumir renúncia do credor relativamente ao
previsto no contrato, à luz dos desdobramentos da boa-fé, objetiva nas relações contratuais,
é um exemplo de:
a) surrectio do direito do credor;
b) supressio do direito do credor;
c) exceptio doli do direito do devedor;
d) tu quoque do direito do credor;
e) exceptio doli do direito do devedor.

RESPOSTA: B

(Ano: 2010 Banca: FCC Órgão: TJ-PE) O pagamento efetuar-se-á


a) no domicílio do credor, salvo convenção em contrário.
b) no local convencionado, mas o pagamento feito reiteradamente em outro local faz presumir
renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato.
c) sempre no domicílio do devedor, salvo, apenas, disposição legal em sentido contrário.
d) onde melhor atender o interesse do credor, salvo convenção em sentido contrário.
e) onde for menos oneroso para o devedor, salvo convenção em sentido contrário

RESPOSTA: B

(Ano: 2011 Banca: FADESP Órgão: Câmara de Marabá - PA Prova: FADESP - 2011 -
Câmara de Marabá - PA - Advogado) “A” tomou por empréstimo de “B” a importância de R$
50.000,00 (cinquenta mil reais) e ofereceu, em hipoteca, sua casa de moradia, no valor de R$
100.000,00 (cem mil reais), não ficando estabelecido o local do pagamento da dívida, que
deverá vencer no prazo de um ano. Pode-se corretamente dizer que tal dívida é
a) quesível e a garantia oferecida é real.
b) quesível e a garantia oferecida é fidejussória.
c) portável e a garantia oferecida é real.
d) portável e a garantia oferecida é fidejussória.
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e) portável, mas a garantia é nula porque a casa de moradia não pode ser oferecida em
hipoteca.

RESPOSTA: A

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AZEVEDO, Álvaro Villaça. Teoria geral das obrigações. 8. ed. São Paulo: RT, 2000.

FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD, Nelson. Direito das obrigações. 4. ed. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2009.

FRANÇA, Rubens Limongi. Instituições de direito civil. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1996.

GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 8. ed. São
Paulo: Saraiva, 2019. v. II [Livro digital].

HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes; MORAES, Renato Duarte Franco de. Direito
das obrigações. São Paulo: RT, 2008. v. 2.

MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 1979.
v. IV.

TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2020, [Livro digital].

VENOSA, Silvio de Sávio. Direito civil: obrigações e responsabilidade civil, 18. ed. São Paulo:
Atlas, 2018 [Livro Digital].

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