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Orientações importantes:
1. NOÇÕES GERAIS
O principal efeito das obrigações é gerar para o credor o direito de exigir do devedor o
cumprimento da prestação e o pagamento é o desfecho natural da obrigação. O pagamento
é a satisfação voluntária e normal da obrigação.
Em regra, as obrigações são feitas para serem cumpridas e, assim, o pagamento é o
ato final para satisfação da obrigação.
Apesar de a palavra denotar, no senso comum, a solução para dívidas em dinheiro, o
legislador utiliza a palavra "pagamento" no sentido técnico, no sentido de ser a execução de
qualquer espécie de obrigação. O pagamento pode ser, por exemplo, mediante a entrega das
sacas de café ou de uma obra de arte feita por um pintor renomado.
2. ELEMENTOS DO PAGAMENTO
Art. 305. O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome,
tem direito a reembolsar-se do que pagar; mas não se sub-roga nos direitos
do credor.
Exemplo de terceiro não interessado é o pai, que paga a dívida do filho para que este
não seja responsabilizado. Esse exemplo é importante para demonstrar que o interesse
afetivo não se confunde com o interesse patrimonial ou jurídico, ou seja, o fato de o terceiro
ser pai não significa, por si só, que é terceiro interessado na dívida.
Caso terceiro não interessado faça o pagamento em seu próprio nome sem o
conhecimento do devedor ou com oposição deste, não haverá obrigação de reembolso, desde
que o devedor disponha de meios para solver a obrigação. Eis a redação do artigo 306 do
Código Civil:
1
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 8. ed. São Paulo:
Saraiva, 2019. v. II [Livro digital].
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Na forma do artigo 307, o pagamento que resultar em transmissão de propriedade só
pode ser feito por quem for titular do referido direito real, vedando a alienação por quem não
seja dono da coisa.
O artigo 309 do Código Civil traz a figura do credor putativo, que é aquele que,
aparentemente, tem poderes para receber, desde que haja boa-fé do devedor. Trata-se da
aplicação da chamada teoria da aparência, hipótese em que se reconhece reconhecer como
verdadeira uma situação que parece real.
Art. 310. Não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar,
se o devedor não provar que em benefício dele efetivamente reverteu.
2 A boa-fé possui a subdivisão em boa-fé objetiva e boa-fé subjetiva. A boa-fé objetiva é aquela que diz
respeito a um agir com lealdade jurídica, relacionada à honestidade das partes, a atuação respeitosa.
É a dimensão externa da boa-fé, de comportamento geral na relação obrigacional. a regra de conduta
que implica em um comportamento honesto, leal e correto. A boa-fé subjetiva, por sua vez, refere-se à
intenção do sujeito, ligada à moralidade dos seus atos, a suas convicções pessoais de agir em
conformidade com o direito.
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5. O OBJETO DO PAGAMENTO
Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é
devida, ainda que mais valiosa.
Art. 314. Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode
o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim
não se ajustou.
O artigo 318 do Código Civil prevê a nulidade das convenções em ouro ou em moeda
estrangeira, exceto nos casos previstos na legislação especial.
6. A PROVA DO PAGAMENTO
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Art. 319. O devedor que paga tem direito a quitação regular, e pode reter o
pagamento, enquanto não lhe seja dada.
Enunciado 18, CJF. A "quitação regular" referida no art. 319 do novo Código
Civil engloba a quitação dada por meios eletrônicos ou por quaisquer formas
de "comunicação a distância", assim entendida aquela que permite ajustar
negócios jurídicos e praticar atos jurídicos sem a presença corpórea
simultânea das partes ou de seus representantes.
O artigo 320 trata dos requisitos legais da quitação: a) o valor e a espécie da dívida
quitada; b) o nome do devedor ou de quem por este pagou (representante, sucessor ou
terceiro); c) o tempo do pagamento (dia, mês, e, se quiserem, hora); d) o lugar do pagamento;
e) a assinatura do credor ou de seu representante.
Se o devedor, por inexperiência ou desconhecimento, não exigir a quitação na forma
regular, preterindo os requisitos acima citados, é possível se admitir provado o pagamento se,
conforme o parágrafo único do artigo 320, “de seus termos ou das circunstâncias resultar
haver sido paga a dívida”.
Art. 320. A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular,
designará o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem
por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento, com a assinatura do credor,
ou do seu representante.
Parágrafo único. Ainda sem os requisitos estabelecidos neste artigo valerá a
quitação, se de seus termos ou das circunstâncias resultar haver sido paga a
dívida.
Art. 321. Nos débitos, cuja quitação consista na devolução do título, perdido
este, poderá o devedor exigir, retendo o pagamento, declaração do credor
que inutilize o título desaparecido.
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Sendo a quitação do capital sem reserva de juros (que são os frutos civis do capital),
estes presumem-se pagos. Os juros são acessórios e, assim, aplica-se a regra de que o
acessório segue o principal (princípio da gravitação jurídica).
Art. 323. Sendo a quitação do capital sem reserva dos juros, estes presumem-
se pagos.
Havendo pagamento por medida ou peso, deve-se entender, no silêncio das partes,
que aceitaram os critérios do lugar da execução da obrigação. Vê-se que o alqueire, por
exemplo, tem diferentes medidas. No Estado de São Paulo, um alqueire equivale a 24.200m²,
ao passo que em Minas gerais equivale a 48.400 m².
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Art. 326. Se o pagamento se houver de fazer por medida, ou peso, entender-
se-á, no silêncio das partes, que aceitaram os do lugar da execução.
7. O LUGAR DO PAGAMENTO
É possível que os sujeitos das obrigações acordem livremente o local onde a obrigação
deve ser cumprida e a competência do juízo. Não obstante, no estudo do lugar do pagamento,
deve-se estudar a seguinte classificação das obrigações:
i) Obrigação quesível ou queráble: na obrigação quesível, o pagamento deverá ocorrer
no domicílio do devedor. Regra geral, caso não se estipule o contrário, o pagamento é no
domicílio do devedor.
ii) Obrigação portável ou portable: as partes estipulam onde será realizado o
pagamento que, via de regra, é feito no domicílio do credor. Designados dois ou mais lugares,
caberá ao credor escolher entre eles.
ATENÇÃO! A regra geral é a de que as dívidas devem ser pagas no domicílio do
devedor, ou seja, são quesíveis. Para serem portáveis, é necessário que o contrato expressa-
mente designe o domicílio do credor como o local do pagamento e, caso o contrato seja
silente, deve-se aplicar o princípio geral.
Havendo motivo grave para não efetuar o pagamento no local determinado, o devedor
poderá fazer em outro, sem prejuízo para o credor. Essa é a redação do artigo 329 do Código
Civil:
Art. 329. Ocorrendo motivo grave para que se não efetue o pagamento no
lugar determinado, poderá o devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo para o
credor.
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É possível visualizar a questão como no caso de haver uma inundação ou um
terremoto no lugar do pagamento. Em verdade, o “motivo grave” é uma lacuna a ser
preenchida judicialmente, caso haja alguma discussão a esse respeito perante o juiz.
Por fim, o legislador admitiu que o pagamento feito reiteradamente em outro local faz
presumir a renúncia do credor ao lugar previsto no contrato.
O vencimento da obrigação ocorre quando ela deve ser satisfeita, que pode ser fixado
pelas partes. O credor não pode exigir o adimplemento antes do vencimento da obrigação, ao
passo que o devedor não pode pagar após a data prevista. Em princípio, o pagamento deve
ser efetuado no dia do vencimento da dívida. Não dispondo a lei em contrário e ausente um
ajuste prévio, o credor pode exigir o pagamento imediatamente.
Art. 331. Salvo disposição legal em contrário, não tendo sido ajustada época
para o pagamento, pode o credor exigi-lo imediatamente.
3Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito
em mora o devedor.
Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial.
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i) Obrigação instantânea com cumprimento imediato: o cumprimento é imediato à
constituição da obrigação. Assim, nos termos do artigo 331, se não houver previsão em
contrário, o pagamento pode ser exigido imediatamente (art. 331).
ii) Obrigação de execução diferida: o cumprimento da obrigação ocorre em uma só
vez, em termo pré-fixado. A título exemplificativo, o Superior Tribunal de Justiça editou uma
súmula no sentido de que o depósito antecipado do cheque pós-datado pode caracterizar
dano moral4.
iii) Obrigação de execução continuada ou trato sucessivo: o cumprimento da obrigação
se dá por meio de prestações sucessivas e periódicas, como nos casos de financiamentos,
pagamentos parcelados.
Nas obrigações, cuja eficácia depende de evento futuro e incerto, são cumpridas na
data do implemento ou ocorrência da condição (implemento), cabendo ao credor a prova de
que deste teve ciência o devedor. Eis o artigo 332 do Código Civil:
9. APLICABILIDADE PRÁTICA
a. Jurisprudência
4 STJ. Súmula 370. Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado.
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b. Questões de prova
RESPOSTA: C
(Ano: 2019 Banca: Crescer Consultorias Órgão: Prefeitura de Brejo de Areia - MA Prova:
Crescer Consultorias - 2019 - Prefeitura de Brejo de Areia - MA - Advogado) Quanto ao
objeto do Pagamento e sua prova, marque a alternativa Correta.
a) O credor é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais
valiosa.
b) São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira, bem como
para compensar a diferença entre o valor desta e o da moeda nacional, excetuados os casos
previstos na legislação especial.
c) Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, pode o credor ser obrigado a
receber, ou o devedor a pagar, por partes, mesmo se assim não se ajustou.
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d) É ilícito convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas.
RESPOSTA: B
(Ano: 2017 Banca: UERR Órgão: CODESAIMA Prova: UERR - 2017 - CODESAIMA -
Advogado) Em se tratando do adimplemento e extinção das obrigações, o pagamento
reiteradamente feito em outro local fazendo presumir renúncia do credor relativamente ao
previsto no contrato, à luz dos desdobramentos da boa-fé, objetiva nas relações contratuais,
é um exemplo de:
a) surrectio do direito do credor;
b) supressio do direito do credor;
c) exceptio doli do direito do devedor;
d) tu quoque do direito do credor;
e) exceptio doli do direito do devedor.
RESPOSTA: B
RESPOSTA: B
(Ano: 2011 Banca: FADESP Órgão: Câmara de Marabá - PA Prova: FADESP - 2011 -
Câmara de Marabá - PA - Advogado) “A” tomou por empréstimo de “B” a importância de R$
50.000,00 (cinquenta mil reais) e ofereceu, em hipoteca, sua casa de moradia, no valor de R$
100.000,00 (cem mil reais), não ficando estabelecido o local do pagamento da dívida, que
deverá vencer no prazo de um ano. Pode-se corretamente dizer que tal dívida é
a) quesível e a garantia oferecida é real.
b) quesível e a garantia oferecida é fidejussória.
c) portável e a garantia oferecida é real.
d) portável e a garantia oferecida é fidejussória.
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e) portável, mas a garantia é nula porque a casa de moradia não pode ser oferecida em
hipoteca.
RESPOSTA: A
AZEVEDO, Álvaro Villaça. Teoria geral das obrigações. 8. ed. São Paulo: RT, 2000.
FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD, Nelson. Direito das obrigações. 4. ed. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2009.
FRANÇA, Rubens Limongi. Instituições de direito civil. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1996.
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 8. ed. São
Paulo: Saraiva, 2019. v. II [Livro digital].
HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes; MORAES, Renato Duarte Franco de. Direito
das obrigações. São Paulo: RT, 2008. v. 2.
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 1979.
v. IV.
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2020, [Livro digital].
VENOSA, Silvio de Sávio. Direito civil: obrigações e responsabilidade civil, 18. ed. São Paulo:
Atlas, 2018 [Livro Digital].