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A venda a prestações vem regulada nos artigos 934o e ss. do Código Civil: na verdade, não se
tratam
de várias prestações, há só uma prestação; na verdade, a realização desta é que é feita em
parcelas. Podem, no entanto, destrinçar-se regimes especiais:
a) Artigo 934º:
ao comprador, a omissão de uma prestação cujo valor excede a oitava parte do preço
(todas as quantias pagas ou a pagar pelo comprador ao devedor) ou de duas ou mais
prestações, independentemente do seu valor, dá ao vendedor o direito de resolver o
contrato de compra e venda;
A propósito do regime previsto no artigo 781º, tem-se colocado a questão de saber se se trata de
Pedro Albuquerque entende que se está perante (2) exigibilidade antecipada: o credor passa a
ter a faculdade de exigir ou não exigir o pagamento imediato e enquanto não o fizer o devedor
não está em mora. A mesma solução vale para o artigo 934º: faltando uma prestação superior a
1/8, o vendedor poderá interpela-lo – só a partir desse momento estará constituído em mora
relativamente a todas as prestações em mora (artigo 808o).
A respeito do artigo 934º: Pedro Albuquerque entende que a falta de pagamento se refere a mora;
no entanto, nos casos em que esteja em hipótese o exercício do direito de resolução, há que se
verificar a situação de incumprimento definitivo.
Outro problema, a propósito do artigo 934o: havendo venda sem reserva de propriedade, a falta
de pagamento de uma das prestações poderá permitir o vendedor resolver o contrato, nos termos
do artigo 886o?
(b) Baptista Lopes, Teresa Anselmo Vaz, Lobo Xavier: não havendo reserva, ainda que haja
entrega da coisa, as partes podem convencionar uma clausula resolutiva para a hipótese de o
comprador faltar ao pagamento de alguma prestação (ainda que o valo da prestação seja igual ou
inferior a 1/8 parte do preço).
(c) Romano Martinez: defende a imperatividade do artigo 934o CC, logo, discorda da posição
anterior.
(d) Nuno Pinto de Oliveira: entende, criticando Romano Martinez, que o artigo deve ser
interpretado no sentido de o vendedor só não ter o direito potestativo de resolução quando a
coisa tiver sido entregue ou se o comprador faltar ao pagamento de uma fração do preço que não
exceda a oitava parte (este é o sentido útil da imperatividade); entende que se aplica
analogicamente quando não haja reserva de propriedade.
Venda a prestações
O art. 886º vale, de uma forma geral, para todos os cenários de não pagamento do
preço pelo comprador. Estabelece, em desvio ao art. 801º CC, não poder o
vendedor, transmitida a propriedade da coisa, e feita a sua entrega, resolver o
contrato por falta de pagamento.
Para PA: tendo ou não havido entrega da coisa, não há lugar à resolução
nem ao vencimento antecipado, porque:
O mesmo princípio vale para o art. 934. Ou seja: faltando o comprador a uma
prestação superior a 1/8 do preço, ou a duas prestações, independentemente do
seu valor, o vendedor pode interpelá-lo, exigindo o pagamento das prestações
vincendas. A partir desse momento, o comprador estará em mora relativamente a
todas as prestações não pagas, podendo ele transformar-se em incumprimento
definitivo nos termos do art. 808º.
O art. 934 refere-se apenas à falta de pagamento. Não obstante, deve entender-
se ter a expressão normativamente dois sentidos.
Se o for mostrando-se definitivo, não tem de passar por nenhum outro crivo. Em
certa perspetiva dir-se-ia estar a chave para a resolução deste assunto no exato
entendimento da relação entre o art. 934, de um lado, e os arts. 801/2 e 802, do
outro.
Ora, afirma-se o art. 934 é restritivo dos dois primeiros. Na verdade, da
conjugação destes dois preceitos resulta não ter, na eventualidade de o
comprador faltar ao cumprimento de uma só prestação não superior a 1/8 parte
do preço, o vendedor o direito de resolver o contrato. Isto é: a possibilidade de
resolução fica liminarmente afastada, não havendo lugar a nenhuma indagação
sobre a importância do incumprimento para efeitos do art. 802/2.
Pedro de Albuquerque: todo este debate terá, porém, de ser relativizado, para não
se dizer mostrar-se ele despropositado. Dado, perante a falta de pagamento de
uma prestação superior a 1/8 do preço ou duas ou mais acumuladas,
independentemente do seu montante, o credor ter o direito de exigir
antecipadamente o valor de todas as prestações (art. 781 e 934). Se pretender
resolver o contrato fixa um prazo para o comprador pagar a totalidade da dívida.
Se este não cumprir passa a existir um inadimplemento que não é parcial, mas
sim total e, destarte, não sujeito à regra do art. 802/2.
Pode, porém, convocar-se por analogia a regra nele presente para resolver as
hipóteses de resolução de uma compra e venda a prestações em que não é
estipulada a reserva de propriedade?
A pergunta legitima-se pelo facto de a norma surgir como uma limitação, isto é,
com caráter restritivo, dos arts. 801, 802 e 886. Donde dizer-se representar ela
uma norma excecional. Tudo, num passo suscetível de levar à afirmação da
impossibilidade de haver analogia para sujeitar a resolução da venda a prestações,
sem reserva de propriedade, às limitações do art. 934. Isto, pois, nos termos do
art. 11 as normas excecionais não permitiriam aplicação analógica.
O prof. regente entende que, não se pode deixar de seguir, neste ponto a posição
do autor. Na verdade, tem vindo a manifestar-se de modo sistemático de forma
adversa à ultrapassada orientação no sentido de vedar (liminarmente) a analogia
perante normas excecionais.
Não pode, por, nessa medida, fazer valer a propriedade por ele mantida, a não ser
se se assistir a um incumprimento de uma prestação de valor superior a um
oitavo do preço ou duas ou mais de qualquer valor.
Mas, mesmo se assim não fosse, mesmo se não se pudesse entender existir uma
assimilação por concretização, sempre se deveria afirmar, o que de resto se refere
por simples facilidade, dar-se uma assimilação por adaptação extensiva.
➔ Cláusula Penal:
Em segundo lugar, o autor lembra o facto de o art. 935/2 mostrar, pelo seu
contexto, como ao invés do prima facie sugerido, o subjacente à norma é apenas a
indemnização na eventualidade de resolução do contrato.
O segundo argumento citado por Vasco Lobo Xavier é pertinente. Mas, por si só,
mostra-se insuficiente para resolver o assunto de saber se o art. 935 apenas é
aplicável às situações de resolução do contrato ou se, ao invés, também abrange
as hipóteses de exigência de cumprimento.
Menezes Leitão: o art. 935 deveria ser objeto de uma interpretação restritiva por a
respetiva letra ir além do seu espírito. Na realidade, afirma, a indemnização em
virtude de o comprador incumprir, nos termos dos arts. 798 e 801/2, poderia
respeitar tanto ao interesse contratual negativo, como ao interesse contratual
positivo, segundo o vendedor proceda, ou não, à resolução do contrato. Estando
em jogo o interesse contratual positivo, por não se ter optado pela resolução do
contrato não haveria motivo para limitar a indemnização a metade do preço.
Deveria assim, inferir-se no sentido de o art. 935 apenas valer para as cláusulas
penais relativas à indemnização a pedir na hipótese de resolução do contrato.
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Observe-se ainda, só valer o regime do art. 935 para a cláusula penal destinada a
acautelar falhas do comprador. As falhas do vendedor ficarão sujeitas aos arts. 810
e ss.
Segundo o art. 936, o regime da compra e venda a prestações vale para todos os
contratos pelos quais se pretende obter um resultado semelhante. Note-se ir esta
disposição para além da presente no art. 939. Isto traduz valer também o regime
da venda a prestações em relação a contratos donde não resulte a transmissão
onerosa de bens, como sucede na empreitada.