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O vendedor, tanto no caso de alienação de coisa genérica, como específica, está adstrito a
efetuar uma prestação sem defeito, a entregar uma coisa conforme ao disposto no contrato, pois
só desse modo se satisfaz o interesse do comprador.
Ideia da lei é que quando alguém celebra contrato que implique a transmissão de um direito
que se encontre onerado ou com limitações desconhecidas pelo comprador, este comprador tem
uma série de direitos.
Não é qualquer ónus ou limitação existente que permite a aplicação deste regime, apenas
aqueles que normalmente não se verificam aquando da transmissão deste tipo de direitos.
Compreendem-se direitos reais de gozo menores ou de garantia sobre a coisa vendida. Não
se enquadram aqui as restrições normais derivadas das relações de vizinhança (art. 1346º e ss.).
Artigo 905º do CC
ÓNUS = resulta de direitos adquiridos sobre outros direitos (ex: usufruto sobre a
propriedade). No caso dos direitos reais menores que oneram o direito real maior são, sem
dúvida ónus. Mas também há direitos pessoais de gozo que podem onerar (ex: posição do
arrendatário permanece e a do senhorio é transmitida para o novo adquirente, que tem de
respeitar o contrato de arrendamento).
Caso de dolo – basta que tenha sido determinante da vontade do declarante (art. 254º/1)
salvo se provier de terceiro, caso em que se exige igualmente que o destinatário conhecesse ou
devesse conhecer a situação (art. 254º/2).
C. Têm de se verificar os requisitos legais da anulabilidade para que seja anulado o contrato
não é preciso que comprador demonstre que não celebraria aquele negócio. Basta
demonstrar que não compraria por aquele preço.
Lei permite convalescer o negócio – art. 906º. Aplica-se independentemente da vontade das
partes (art. 906º/1) – desvio da ideia geral do regime do erro do negócio jurídico. O art. 906º/1
desvia-se da regra do art. 288º, que estabelece que a extinção do vício não sana
automaticamente a anulabilidade, apenas permite ao interessado confirmar o negócio se assim o
entender.
Por isso a lei estabelece que a anulabilidade persiste nos casos de haver prejuízo ou já ter
sido pedida a anulação (art. 906º/2). Solução automática pode acabar por prejudicar o
comprador – como nos casos em que já pôs em marcha a solução da destruição do negócio – aí
permanece anulável (art. 906º/2).
Ou o anula e destrói;
Ou mantem-no, exigindo ao vendedor a obrigação de fazer CONVALESCER o
contrato
Nos casos de ónus ou limitações que não dependem unilateralmente da vontade do vendedor
para cessar, jurisprudência e doutrina entendem que nesse caso não há obrigação de fazer
convalescer o contrato.
3. Indemnização
• Dolo no sentido do art. 273º que significa “má-fé” – não pressupõe apenas ilícito
intencional mas também o praticado com negligência consciente.
i. Dissimulação pelo vendedor dos ónus ou limitações existentes na coisa através do emprego
de sugestões ou artifícios com o fim de enganar ou manter em erro o comprador.
• Indemnização pelos danos que não ocorreriam se o contrato não tivesse sido celebrado –
interesse contratual negativo que é solução típica da culpa in contrahendo (art. 227º).
i. Permite abranger tantos os danos emergentes como os lucros cessantes (incluindo os
prejuízos causados pela privação do capital, correspondente ao pagamento do preço, na
aplicação de uma opção mais vantajosa.
• Art. 907º estabelece obrigação (art. 397º) estando sujeito ao art. 798º e ss., 801º e ss., 804º
e ss.
• Comprador pode manter o contrato e exigir que o vendedor elimine o ónus ou limitação e
enquanto vendedor não fizer, comprador pode exigir indemnização.
Art. 905º/2 implica que a redução do preço vai excluir a anulação (art. 905º), a obrigação de
fazer convalescer (art. 907º).
Escolhendo a redução, comprador terá direito à própria redução do preço e à indemnização,
que terá conteúdo variável, consoante exista dolo do vendedor (art. 908º) ou simples erro (art.
909º). Também é opção conservatória, mas, é conservatória modificando o contrato.
A venda de bens onerados aplica-se às situações em que incidem, sobre o bem transmitido,
ónus que excedam os limites normais de direitos da mesma categoria (exemplos: servidão de
passagem; contrato-promessa com tradição da coisa, contrato de locação, hipoteca, etc.).
Nestes casos, aplica-se o regime previsto nos artigos 905º e ss. Esta modalidade corresponde,
genericamente, a um cumprimento defeituoso. Este regime, tem, no entanto, restrições:
A função da regulação desta perturbação é proteger o adquirente, com vista a que este não
fique sujeito a limitações provenientes de direitos de terceiro. Só se aplica, assim, em caso de
desconhecimento do comprador – ou seja, não se aplica se houver comunicação por parte do
vendedor.
O regime 905º prevê: anulabilidade do contrato, fundada em erro ou dolo. O prof. Romano
Martinez entende, no entanto, que não se trata de uma remissão para o regime geral do erro ou
do dolo (247º e ss.) nem para o regime da anulabilidade (285º e ss.) – antes se deve remeter para
a resolução. Porquê?
Assim o artigo 905º deve ser interpretado em duas vertentes: (1) o comprador não pode pôr
termo ao contrato com base em defeito de que tenha, ou pudesse ter tido conhecimento, no
momento da celebração do contrato; (2) só se justifica a cessação do vínculo se a violação for de
tal modo grave que não permita a manutenção do negócio.
A convalescença vem prevista no artigo 906º: pretende-se sanar o vício através da sua
remoção. Esta obrigação recai sobre o vendedor que, sem dar conhecimento à outra parte,
vendeu um bem onerado. Em termos gerais:
2. Sanado o vício (feita de acordo com o art. 907º), pode ser requerida a resolução, se o
prejuízo derivado do ónus ou limitação já tiver sido causado (906º/2).
O pedido de redução do preço vem previsto no artigo 911º: regula-se pelo disposto no artigo
884º.
Quando derive da culpa (1), é importante ter em conta que a noção de dolo tem por
referência uma forma agravada de erro, ou seja, abarca, quer o dolo em sentido próprio, quer a
negligência. Para além disto, esta indemnização engloba todos os danos que integram o
interesse contratual negativo.
Nota: estas obrigações de indemnização podem ser cumuladas com a que resulta do não
cumprimento da obrigação de fazer convalescer o contrato.