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Venda de coisas defeituosas

Venda de coisas defeituosas


O artigo 913º diferencia quatro cenários distintos :
a) Vícios determinantes de uma diminuição do valor da coisa;
b) Vícios impeditivos de realização do fim a que o bem é destinado;
c) Falha de qualidades asseguradas pelo vendedor;
d) Falta de qualidades necessárias para realização do fim a que de destina.

O bem sofrerá de um vício gerador de uma perda de valor se possuir uma imperfeição
determinante do seu posicionamento abaixo do habitual valor de mercado. Trata-se
de uma situação objetiva.
Se a coisa padecer de um vício impeditivo da realização do fim a que se destina está-se
perante situações de tipo funcional. Mesmo sem ser atingida por uma perda de valor -
por poder hipoteticamente ser vendida pelo mesmo preço, por mormente poderem
satisfazer outros fins que não os seus normais -, o bem não é de molde a desempenhar
a função padrão no cenário em apreço. O critério é novamente objetivo.

Já a qualidade é um aumento relativamente ao padrão médio normal. Trata-se de


plus. A sua falta gera uma situação de desconformidade com o contrato.
O vendedor, na celebração do negócio, assegura determinadas qualidades, que terão
de ser aceites expressa ou tacitamente pelo vendedor, integrando o fim da compra e
venda. Não estando elas efetivamente presentes na coisa vendida, há CeV defeituosa.
Pode, no entanto, o devedor nada ter prometido, mas, ainda assim, pode resultar da
contratação ou das circunstâncias que a rodeiam destinar-se o bem a uma finalidade
que exija um aumento das qualidades normais da coisa. Trata-se de uma conceção
subjetiva do defeito.

A diferença entre vício e falta de qualidade fazem-se sentir apenas a nível da prova a
fazer pelo comprador :
- Tratando-se de vícios, será suficiente o adquirente demonstrar o estado do bem e
evidenciar os padrões de funcionalidade das coisas do mesmo tipo.
- No caso das faltas de qualidade, o adquirente terá de tornar manifesto ter o
vendedor assegurados essas mesmas qualidades ou serem elas pressupostas pelo fim a
que se destinam.

Professor Doutor Pedro de Albuquerque


Venda de coisas defeituosas

O conhecimento, no momento da celebração do negócio, da falha escondida, sem


afirmação da necessidade de se proceder à respetiva eliminação, afasta a garantia ou
responsabilidade do vendedor.
Diante da existência de vícios patentes, suscita-se a interrogação sobre se as partes
não terão pretendido negociar a coisa no estado em que se acha. A aquisição por um
baixo valor de um bem, numa loja duvidosa, pode levar à necessidade de aceitação de
uma coisa menos perfeita.

Se o comprador sabia ou devia saber da existência de defeito não se assiste a nenhum


cumprimento defeituoso. Ainda assim, perante o pagamento de valores importantes,
ou até referentes a um bem de padrão normal, haverá uma presunção hominis, no
sentido da ignorância por parte do adquirente do defeito.
MC - Na sociedade monitorizada onde vivemos o preço é normalmente a bitola para se
aferir a utilidade/qualidade do bem.

A prova de conhecimento do defeito, por parte do adquirente, pertence ao garante e a


prova da existência do defeito ao comprador. Provado o defeito, há presunção de
culpa.
Presume-se a essencialidade do erro - existe sempre uma presunção hominis no
sentido de o comprador não pretender adquirir um bem padecedor de uma falta de
qualidade exigida pelo contrato ou de um defeito que ou desvaloriza ou lhe retira a
aptidão para o fim normal ou assegurado.

Na hipótese de o vendedor ignorar ele próprio o vício ou falta de qualidade o art. 913º
é ainda aplicável. Porém, certos remédios são objeto de redução ou paralisação.
Pelo 914º, se estiver de boa-fé não lhe assiste o dever de proceder à substituição do
bem. O mesmo acontece para a questão da indemnização em caso de simples erro do
915º.
Mas, provado o defeito, há presunção de culpa e, destarte, má-fé do alienante. A
presunção pode ser por ele afastada.

Professor Doutor Pedro de Albuquerque


Venda de coisas defeituosas

Os remédios associados à compra e venda


defeituosa
1. A anulação/resolução do contrato e os remédios gerais

A teoria do erro (p.e. ML, PL e AV, GT) defende ser a CeV defeituosa uma hipótese de
erro. O acordo negocial sobre coisa específica dirigir-se-ia apenas à coisa como tal, ao
objeto em si, como efetivamente se apresenta na sua individualidade singular e
espaciotemporal, sem abranger as qualidades da coisa. Assim, a designação de uma
coisa defeituosa adviria de um erro do comprador sobre o objeto do contrato.
A teoria do incumprimento (p.e. RM, MC, PALB) sustenta representar a designação de
um objeto falho uma hipótese de cumprimento defeituoso do negócio. Isto pelo facto
de a vontade contratual poder abranger os atributos do bem.

O primeiro remédio aparece pela remissão do 913º para o 905º - Anulabilidade por
erro. PALB defende que essa anulação deve ser convolada para uma resolução.
Possibilidade de culpa in contrahendo.
Supletividade dos arts. 913º e ss.
Estando nós no domínio do cumprimento defeituoso, o comprador goza da
possibilidade de não aceitar a coisa, alegar exceção de não-cumprimento, valer-se do
regime da mora, fixar um prazo admonitório, perder o interesse na prestação, dar o
contrato como não cumprido, resolvê-lo, e pedir uma indemnização nos termos gerais,
incluindo pelo interesse contratual positivo.

Professor Doutor Pedro de Albuquerque


Venda de coisas defeituosas

2. A reparação ou substituição da coisa - 914º


O comprador tem o direito de exigir do vendedor a reparação da coisa ou, se for
necessário e esta tiver natureza fungível, a substituição dela; mas esta obrigação não
existe se o vendedor desconhecia sem culpa o vício ou falta de qualidade de que a coisa
padece.
PALB não concorda que a segunda parte do artigo exclui a obrigação de reparação +
substituição. A obrigação de reparação mantém-se :
- Literalmente, o preceito apenas se refere na 2ª parte a uma obrigação.
- O art. 914º releva uma preferência pela obrigação de reparação.
- O art. 914º tutela o cumprimento pontual, estando o devedor obrigado a entregar
uma coisa isenta de defeito. O afastamento dos dois deveres pressuporia um favor
debitoris insuscetível de ser apropriado.

A ação de reparação ou substituição da coisa é uma ação de cumprimento.

3. Redução do preço

Professor Doutor Pedro de Albuquerque


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Professor Doutor Pedro de Albuquerque

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