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Direito dos Contratos:

- Contrato de Compra e Venda


- Contrato de empreitada
- DL n.º 84/2021, de 18 de Outubro
Contrato de compra e venda
Temos por um lado a definição (874º) e os efeitos (879º)
Definição: 1) transmissão da propriedade da coisa ou outro direito e 2) mediante um
preço
Efeitos:
- Efeitos reais: transferência da propriedade da coisa ou da titularidade do direito
- Efeitos obrigacionais: obrigação de entregar a coisa (882 + regras gerais: 772 e
ss.) e obrigação de pagar o preço (886 + determinação do preço 883 e ss. + 400)
Logo, no direito português a transmissão da propriedade é automática, pelo artigo
879/a) e 408/1. A transmissão é feita, regra geral, por mero efeito do contrato. A traditio
não tem efeito para a transferência da propriedade - Portugal é um exemplo do sistema
do título.
3 tipos de sistemas:
- Sistema do título
- Sistema do título e do modo: para que a transferência se produza é necessária é
necessário por um lado um contrato + a traditio. Só na presença destes dois elementos,
se transmite a propriedade.
- Sistema do modo: a compra venda dá-se através de um negócio obrigacional e
do ato do modo, mas se a compra e venda for inválida a tradição não é afetada, ou
seja, uma vezentregue a coisa, a transferência não é posta em causa, ou seja, têm que
existir dois atos (acompra e venda que tem uma eficácia meramente
obrigacional e a tradição da coisa –transferência de propriedade).A transmissão
da propriedade é um ato diverso e independente do negócio causal.
Em Portugal reina, regra geral, o sistema do título, e portanto, os contratos de compra e
venda têm eficácia real.
A lei refere no 408/1, “exceto as ressalvas da lei”. Há que atentar a estes exemplos e
ponderar se existe realmente uma exceção ao sistema do título em Portugal:
- Venda de coisa ou bem futuro (880/1), a transferência é automática, a partir do
momento em que os bens são adquiridos pelo vendedor.
- Venda de coisa indeterminada:

- Compra e venda de frutos naturais ou partes componentes ou integrantes, a


transferência dá-se no momento da colheita ou separação.
- Compra e venda de bens alheios: uma vez adquirida pelo vendedor a titularidade do
direito ou coisa vendida, a venda consolida-se e verifica-se a transmissão para o
comprador (895º)
- Com reserva de propriedade: divergência Assunção Cristas, França Gouveia (409/1/2ª
parte)/Pedro de Albuquerque e maioria da doutrina
- Venda de valores mobiliários: também existem divergências Vera Eiró, Coutinho de
Abreu (fundamentos no código dos valores mobiliários/ Pedro de Albuquerque e
maioria da doutrina
Em conclusão: A compra e venda tem sempre caráter real
Venda com reserva de propriedade
A OPONIBILIDADE DA CLAUSULA DE RESERVA DE PROPRIEDADE A
TERCEIROS (409/2)
Sujeitos a Registo: a oponibilidade da clausula de reserva de propriedade depende do
registo.
Não sujeitos a registo:
1) Pedro Romano Martinez/Vaz Serra: a clausula de reserva de propriedade tem
eficácia inter partes, mas não é oponível a terceiros.
a. Necessidade de tutela da aparência e o paralelo com o penhor (669º e
ss.)
b. Relatividade dos contratos (artigo 406º/2 CC).
c. Não faria sentido que, nos imóveis, dependesse do registo, e que, nos
móveis, fosse oponível erga omnes.
2) Maioria da Doutrina:
a. Não há analogia nas situações: penhor
b. Relatividade dos contratos: significaria que a transferência da coisa e
a titularidade não poderiam ser alegadas perante terceiros. Isso não
acontece, porque se trata de direito real oponível perante terceiros.
c. Levada às ultimas consequências: os negócios sobre coisas móveis
nunca poderiam ser oponíveis perante terceiros de boa fé.
A DECLARAÇÃO DE NULIDADE DA ALIENAÇÃO PELO COMPRADOR
1) Ana Maria Peralta: o vendedor não se pode servir da reserva de propriedade
para obter a declaração de nulidade da venda feita pelo comprador.
a. Seria estranho permitir ao vendedor interpor uma ação declarativa da
nulidade do segundo negócio de alienação se, antes ou imediatamente após a
sentença, o comprador viesse a adquirir a propriedade
2) Pedro de Albuquerque
a. A transferência da propriedade só se dá se se assistir ao evento ao qual
as partes subordinaram a transferência. Pode dar-se ou não.
b. O vendedor pode interpor a ação para prevenir que o evento não venha
a ter lugar.
c. Levada as últimas consequências a tese da autora: nunca poderia a
nulidade da compra e venda de bens alheios ser interposta.
A RESERVA DE PROPRIEDADE A FAVOR DE TERCEIRO
Casos de financiamento
1) Inadmissibilidade: Menezes Leitão / Pedro Albuquerque.
i. Não vigora o princípio da autonomia privada, mas o princípio da
tipicidade dos direitos reais (1306º): o comprador adquire com a
reserva de propriedade uma expetativa real de aquisição,
limitando o âmbito de direito de propriedade do alienante.
ii. Efeito semelhante: convenção das garantias reais de crédito;
iii. O artigo 409º não admite a reserva de propriedade a favor de
terceiro, em virtude da proibição de pacto comissório (694º CC).

iv.

2) Admissibilidade: Pedro Romano Martinez, Pedro Fuzeta da Ponte e Nuno Pinto


de Oliveira.
i. Interpretação atualista: se o legislador pudesse ter previsto, teria
inserido aquela realidade/circunstancia na previsão normativa.
ii. Liberdade contratual (princípio geral).
TRANSMISSIBILIDADE DA RESERVA DE PROPRIEDADE
. 1) Admissibilidade: Nuno Pinto de Oliveira, Maria Isabel Menéres dos Campos
e Pedro de Albuquerque
a. o alienante pode sub-rogar o terceiro nos respetivos direitos: implicaria a
transmissão para o terceiro das garantias e acessórios que não sejam
inseparáveis da pessoa (artigo 589º do CC).

Indamissibilidade: Gravato Morais; Pinto Duarte (ver argumentação nos


manuais)
A ESTIPULAÇÃO DA RESERVA DE PROPRIEDADE A FAVOR DO ALIENANTE,
MAS SUJEITA AO PAGAMENTO A TERCEIRO
Comporta-se, neste ponto, as situações em que a propriedade se transfere mediante o
pagamento ao financiador.
(a) Admissibilidade [Nuno Pinto de Oliveira e Isabel Menéres Campos]:
a. Pedro Albuquerque:
i. Critica Gravato Morais: Havendo união interna voluntária entre
o contrato de compra e venda e o contrato de mútuo: as vicissitudes de
um refletem-se no outro; logo, o incumprimento do contrato de mútuo,
permitiria ao vendedor exigir a entrega da coisa.
(b) Inadmissibilidade [Gravato Morais]:
a. O financiador resolve o contrato de mútuo, mas não poderia
exigir a restituição da coisa.
b. O vendedor não pode resolver o contrato de compra e venda,
porque não houve incumprimento do adquirente relativamente a esse
contrato; assim como não pode resolver o contrato de empréstimo.
c. O financiador não pode socorrer-se do procedimento cautelar
de apreensão de veículo automóvel, pois não é titular do registo de
reserva de propriedade.
d. O vendedor não pode socorrer-se do procedimento cautelar de
apreensão, porque, apesar de já titular do respetivo registo, não tem
motivo para propor a ação de resolução do contrato de compra e venda
(artigo 18º/1 do DL 54/85).

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