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Resumo do Livro de Arbitragem

(Luiz Antonio Scavone Junior)

Conceito - Arbitragem é o meio privado e alternativo de solução de


conflitos referentes aos direitos patrimoniais e disponíveis através do arbitro,
normalmente um especialista na matéria controvertida, que apresentara uma
sentença arbitral.
As características da arbitragem são:
a) Especialização
b) Rapidez
c) Irrecorribilidade
d) Informabilidade
e) Confidencialidade

Limites Impostos a possibilidade de solução arbitral

A arbitragem se limita a capacidade de contratar e aos direitos


patrimoniais e disponíveis.
Capacidade = ter personalidade jurídica (capacidade de ser titular de
direitos e obrigações, adquirida pela pessoa natural nascida com vida). Não
depende da inexistência de incapacidades absolutas e relativas.
Direitos Patrimoniais = relações jurídicas de direito obrigacional.
Direitos Disponíveis = possibilidade de alienação; direitos passíveis
de transação.
Obs. Não se pode discutir na arbitragem o direito indisponível. Como
os direitos indisponíveis (bens da personalidade; como a honra) são
passiveis de indenização, a valoração dessa indenização (a quantia a ser
paga) pode sim ser levada ao tribunal arbitral. Ex. Diante de um acidente
aéreo, surge inevitavelmente o dever de a companhia aérea reparar os danos
materiais e morais aos parentes das vitimas. Optando pela arbitragem,
através do compromisso arbitral (pois já ocorreu o litígio) nada impede de o
valor da indenização por danos morais seja arbitrado.
Conclui-se que questões que não envolvem direito que admita
transação não são passiveis de arbitragem.

Arbitragem e relação de consumo


Para que haja relação de consumo, são necessários, obrigatoriamente,
os seguintes elementos:
a) Consumidor = pessoa física ou jurídica destinatária final do

produto ou serviço.
b) Fornecedor
c) Produto ou Serviço

Nos termos da lei, NÃO pode se imposta a arbitragem ao consumidor


(elo mais frágil da relação jurídica). É nula uma cláusula arbitral do qual
decorra uma relação de consumo.
De acordo com o Código de Defesa do Consumidor “são nulas as
cláusulas contratuais relativas ao fornecedor de produtos e serviços que
determinem a utilização compulsória de arbitragem”
Logo, nas relações de consumo é possível o compromisso arbitral
mais não é valida a cláusula arbitral.
Obs. A diferença entre cláusula compulsória e compromisso arbitral
será discutida mais a frente do resumo.

Arbitragem e contratos de adesão

“Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas


pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor
de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar
substancialmente seu conteúdo”. Ex. contrato de compra e venda das Casas
Bahia; Contrato de aquisição de linha telefônica junto a Eletropaulo e outros.
O contrato de adesão se caracteriza pela inexistência da fase das
tratativas preliminares e, conseqüentemente, pela imposição de condições
contratuais rígidas, normalmente em favor do fornecedor.
Nos contratos de adesão, a arbitragem só é admitida se:
a) Tratar-se de compromisso arbitral;
b) Tratando-se de cláusula arbitral, se:
- não se tratar de contrato de consumo
- for escrito (aditivo contratual)
- a cláusula esteja em negrito
- haja assinatura especifica para a cláusula

Logo, Nos Contratos De Adesão, seja em relação de consumo ou não,


é permitido o compromisso arbitral já a cláusula arbitral nunca será
permitida.
Arbitragem e Direito do Trabalho

É necessário separar as questões referentes a conflitos coletivos das


questões de conflitos individuais.
Não há nenhum impedimento nos conflitos coletivos, pois frustrada a
negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros. Ex. conflitos
trabalhistas referentes à greve e participação nos lucros.
Nos conflitos individuais, alguns autores afastam a possibilidade,
porem a professora em sala de aula e o autor (Scavone) concordam com os
doutrinadores que defende que é CABIVEL a arbitragem em questões
trabalhistas.
Depois do final da relação jurídica trabalhista, os direitos, como, por
exemplo, férias proporcionais e décimo terceiro salário proporcional, já
foram pagos e, nessa medida, diante do conflito, podem ser objeto de
transação, da arbitragem.
Essa explicação acima se assemelha ao caso exposto anteriormente
sobre arbitragem nos direitos indisponíveis. No caso da questão trabalhista,
o que poderá ser discutido no tribunal arbitral é, por exemplo, o valor que foi
pago referente ao décimo terceiro salário proporcional, e nunca o seu
recebimento ou não recebimento. O trabalhador não pode abrir mão de um
direito, ele pode sim negociar o valor devido.
Obs. NÃO é possível cláusula arbitral em contrato de trabalho.
A impossibilidade da cláusula arbitral no contrato de trabalho,
portanto, não é a irrenunciabilidade ou indisponibilidade, mas, de outro lado,
a vulnerabilidade do trabalhador no momento da contratação e durante o
contrato de trabalho.
Por outro lado, nada impede a instituição da arbitragem através do
compromisso arbitral.

Arbitragem e locação de imóveis urbanos

Nos conflitos decorrentes dos contratos de locação, existe a


possibilidade de arbitragem. Não há impedimento para que o árbitro atue no
litígio; Nem na cláusula arbitral nem compromisso arbitral.
Apenas, se do contrato de locação decorrer um contrato de adesão, se
faz necessária que a cláusula arbitral esteja redigida em destaque (negrito)
ou em documento apartado e que contenha visto ou assinatura específica.

Arbitragem e o Estado

a) No âmbito dos contratos envolvendo empresas públicas e


sociedades de economia mista – os conflitos podem ser dirimidos via
arbitral, desde que desempenhem atividade econômica, sobretudo porque,
nessa condição, equiparam-se as empresas privadas. Não importa saber a
natureza das empresas públicas e sociedades de economia mista, mais sim
saber se o conflito nasce da exploração de atividade econômica.
b) No âmbito dos contratos de concessão – a lei determina a utilização
da via amigável de solução de conflitos, desde que, por óbvio, sejam
respeitados os princípios da legalidade e do interesse público. O contrato de
concessão deve dispor sobre a forma de composição amigável das
divergências.
c) Parceria Público-Privada - o foco é público, mais executado pelo
privado, particular Ex. Virada esportiva (art. 11, III da lei 11079/04).
d) Demais Casos – a arbitragem poderá ser utilizada para soluçai de
conflitos que tenham característica privada.

Arbitragem, contratos societários e estatutos associativos

Um contrato social ou um estatuto podem prever que as controvérsias


sejam dirimidas pela arbitragem.
Nada impede que as sociedades empresárias constem em seus
contratos sociais prevejam a possibilidade de arbitragem. Entendo o
Professor Scavone que até mesmo associações, assim como as sociedades
empresárias tenham cláusula arbitral no seu ato constitutivo.
A deliberação no momento do nascimento dos atos constitutivos ou
posterior deve ser unânime e, posteriormente, os que ingressarem ou
adquirirem ações da companhia estarão aderindo ao que antes foi estipulado
livremente pelas partes.

Falência do demandante e arbitragem

As ações anteriormente distribuídas, envolvendo bens, interesses e


negócios do falido, serão remetidas ao juízo falimentar para julgamento,
salvo aquelas que demandarem quantia ilíquida contra o falido que terão
prosseguimento no Juízo ao qual foram anteriormente distribuídas.
Logo:
a) as quantias que já se encontrarem em discussão no juízo arbitral,
nele permanecerão.
b) as ações sobre quantias ilíquidas ainda não propostas ou que
versem sobre bens, interesses e negócios do falido, serão da competência do
juízo universal.
c) as causas trabalhistas ou fiscais e aquelas não reguladas na Lei de
Falência, perseguirão ou serão propostas normalmente, ainda que pela via
arbitral.
d) todas as ações, inclusive as executadas, que poderão seguir pela via
arbitral, serão levadas pelo administrador judicial, que devera ser intimado
para representar a massa falida sob pena de nulidade do processo

Quando se tem um conflito (nacional ou internacional), é possível


utilizar:
a) leis internacionais de comercio = são aquelas leis que envolvem as
praticas comerciais previamente determinadas pelas partes (na
clausula arbitral)
b) leis estrangeiras = acontecem, quando da relação internacional
comercial entre empresas, por exemplo – Uma empresa brasileira
só assinara o contrato com uma empresa francesa se for colocado
no contrato que no caso de conflito, este será julgado pelas leis e
tribunal Franceses.
c) Lex mercatoria – regras que envolvem contratos comerciais, regras
que são do conhecimento de todos.
d) Leis corporativas – envolvem construções e regulamentos de
determinadas empresas. Se você for negociar com a Nestlé, ela terá
determinadas regras que deverão ser cumpridas e obedecidas.
e) Princípios Gerais do Direito - Em havendo conflito, serão julgados
com base nos princípios gerais do direito.
f) Equidade – buscar justiça através da igualdade entre as partes,
ponderando qual é o denominador comum.
Obs. O arbitro dos conflitos das letras a, b, c, d tem de ser especialista na
área em discussão, conhecedor. Na letra e, f não precisa, basta ter noção
jurídica.
Espécies de Arbitragem

A arbitragem pode ser de duas espécies:


- institucional ou administrada – é aquela especializada, em que todas
as pessoas vivem disto. Existem pessoas envolvidas neste procedimento e
que vivem disto.
- “had oc” ou avulsa – envolve um arbitro indicado.

Convenção de Arbitragem
Em razão do contrato, que é um acordo de vontade entre as partes,
surgem duas obrigações, ou seja, a obrigação de fazer (consiste em levar os
conflitos para solução arbitra) e a de não fazer (implica em não ingressar
com pedido junto ao Poder Judiciário.
A arbitragem não é obrigatória visto que ninguém pode ser compelido
a se submeter à arbitragem, por é m, assim que é convencionado entre as
partes, seu cumprimento se torna inafastável.

Cláusula Arbitral e Cláusula de eleição de foro

Existem hipóteses que devem ser levadas ao poder judiciário:


a) execução da sentença
b) cláusula arbitral vazia
c) Nulidade da cláusula arbitral ou da sentença arbitral

Espécies de convenção de arbitragem

Cláusula arbitral ou cláusula compromissória

O que caracteriza a cláusula arbitral é o momento de seu surgimento:


anterior a existência do conflito.
***Não importa se a cláusula arbitral ou a cláusula
compromissória é anterior ou posterior ao contrato!
O que importa é que surja antes da existência de conflitos.

Cláusula arbitral cheia


É aquela que contem os requisitos mínimos para que possa ser
instaurado o procedimento arbitral. Ex. local, arbitro, etc.

Cláusula arbitral Vazia


É aquela em que as partes se obrigam a submeter seus conflitos a
arbitragem sem estabelecer as regras mínimas para desenvolvimento da
solução arbitral.

Compromisso Arbitral
É a convenção de arbitragem mediante o qual as partes pactuam que o
conflito já existente entre elas será resolvido pela arbitragem; e pode ser:
a) Judicial – optam pelo termo após o litígio estar no poder judiciário.
b) Extrajudicial – optam antes da proposição da ação junto ao
judiciário
Autonomia da Cláusula arbitral

É autônoma em relação ao contrato em que estiver inserta, de tal sorte


que a nulidade deste não implica, necessariamente, a nulidade da clausula
compromissória.
Caberá ao arbitro decidir de oficio, ou por provocação das partes, as
questões acerca da existência, validade e eficácia da convenção de
arbitragem e do contrato que contenha a cláusula compromissória.
*Qualquer alegação de nulidade do contrato ou da cláusula arbitral
deve ser dirimida pela arbitragem e não pelo poder judiciário.
Logo, ainda que o conflito verse sobre a nulidade do próprio contrato
ou da cláusula arbitral, a controvérsia devera ser decidida inicialmente pela
arbitragem e não pelo judiciário, ainda que as partes queiram o contrário.

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