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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO TOCANTINS

CURSO DE DIREITO

THAMIRES DOS SANTOS MOREIRA

9 TIPOS DE TRABALHOS ACADÊMICOS

AUGUSTINÓPOLIS - TO
2022
Thamires dos Santos Moreira

9 TIPOS DE TRABALHOS ACADÊMICOS

Trabalho apresentado ao Curso de Direito da UNITINS –


Universidade Estadual do Tocantins, para a disciplina de
Metodologia Científica.

Orientador: Prof. Dra. Orleane de Santana

AUGUSTINÓPOLIS- TO
2022
ssumário
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 2

2 DESENVOLVIMENTO ............................................................................................. 48
2.1 TÍTULO NÍVEL 2 – SEÇÃO SECUNDÁRIA ...................................................................... 48
2.1.1 Título Nível 3 – Seção Terciária ......................................................................... 48
2.1.1.1 Título nível 4 – Seção quaternária................................................................... 48
2.1.1.1.1 Título nível 5 – Seção quinária ..................................................................... 48

3 CONCLUSÃO............................................................................................................ 50

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 2

REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 51

APÊNDICE ..................................................................................................................... 2
APÊNDICE A – Modelo do Instrumento de Pesquisa Utilizado na Coleta de Dados .. 2

ANEXO ........................................................................................................................... 2
ANEXO A – Título do Anexo .......................................................................................... 2

ÍNDICE ............................................................................................................................ 2
INTRODUÇÃO

Os trabalhos acadêmicos fazem parte do dia a dia de todos os estudantes, seja na graduação ou
na pós-graduação.
Cada tipo de trabalho tem uma estrutura, um nível de complexidade e um objetivo próprio.
Por essa razão, é necessário conhecer os tipos e saber diferenciá-los. Só assim pode-se saber
como escrever uma pesquisa de forma adequada para cada situação.
Alguns exemplos de trabalhos acadêmicos são: resumo, relatório, fichamento, artigo científico,
memorial, pôster acadêmico, resenha, projeto de pesquisa, monografia e etc.

A seguir, serão apresentados cada exemplo de trabalhos acadêmicos no contexto jurídico


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RESUMO

TRABALHO DOMÉSTICO ANÁLOGO À CONDIÇÃO DE ESCRAVO


NO BRASIL CONTEMPORÂNEO

Introdução: Desde a época Colonial, a atividade doméstica era entendida como


trabalho escravo, do qual faziam parte crianças, homens e mulheres “negras”
(escravos embarcados na África). A evolução histórica do trabalho doméstico desde
a colonização até os dias atuais mostra seus avanços sociais, legais e remuneratórios;
porém, demonstram a dificuldade de reconhecimento da profissão e de direitos
trabalhistas. O trabalho doméstico pode ser não remunerado, quando os membros da
família realizam as tarefas do lar, ou remunerado, quando realizado mediante uma
relação de emprego em que há pagamento de um salário ao trabalhador (BARROS,
2013). Apesar dos avanços sociais, legais e remuneratórios é muito comum, no
Brasil, esses direitos serem negados ao empregado doméstico e essa profissão ser
reconhecida. Diante do exposto, questiona-se: Ainda há no Brasil contemporâneo
trabalho doméstico análogo à condição de escravo? Objetivos: Refletir sobre a
existência de trabalho doméstico análogos àescravidão no Brasil contemporâneo e
propor mecanismos para combatê-lo. Metodologia: Para atingirmos
os objetivospropostos, realizamos uma pesquisa bibliográfica com abordagem
exploratória e qualitativa sobre o tema em estudo, a fim de
evidenciar sua relevância e fundamentar teoricamente a questão norteadora do
estudo. Resultados e Discussão:Mesmo parecendo assunto do século passado, no
Brasil os números de mulheres sendo submetidas ao trabalho análogo à escravidão
doméstico aumentam ano após ano. Em 2021, 31 pessoas foram retiradas de
situações análogas à escravidão no serviço doméstico, o maior número em um único
ano, de acordo com dados da Secretaria de Inspeção do Trabalho do Ministério do
Trabalho e Emprego. No ano de 2022, alguns casos ganharam destaque na mídia,
como o da idosa que passou 32 anos nessas condições, em Minas Gerais, e de outra
que foi mantida encarcerada por 72 anos, no Rio de Janeiro. Considerações
finais: O número de pessoas que trabalham nessa condição análoga à
escravidão ainda é grande, por isso é necessário que as autoridades reconheçam que
essa condição ainda existe em nosso país e implemente os mecanismos jurídicos
para combatê-la. Acreditamos que a difusão deinformação e de conhecimento seja o
caminho mais eficaz para erradicar esse problema social grave. O trabalho forçado
que se dá no ambiente doméstico, é muito difícil de verificar sua existência por estar
localizado em área residencial, sendo necessária a participação da população no
combate a esse tipo de escravidão em pleno século 21.

Palavras-chave: Escravidão contemporânea, Condição análoga à


escravidão, Escravidão doméstica, Trabalho doméstico.

Fonte de Financiamento: Governo do Estado do Tocantins/Universidade Estadual


do Tocantins (UNITINS).
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EXEMPLO DE FICHAMENTO

DIREITO E SOCIEDADE NO ORIENTE ANTIGO: MESOPOTAMIA E EGITO

“Pode-se ilustrar a transição das formas arcaicas de sociedade para as primeiras


civilizações da Antiguidade mediante três fatores históricos: (l) o surgimento das
cidades; (2) a invenção e domínio da escrita e (3) o advento do comércio e, numa
etapa posterior, da moeda metálica.” (p.15)
“A síntese desses três elementos - cidades, escrita, comércio representa a derrocada
de uma sociedade fechada, organizada em tribos ou clãs, com pouca diferenciação
de papéis sociais e fortemente influenciada, no plano das mentalidades, por
aspectos místicos ou religiosos. Há, nessas sociedades arcaicas, um direito ainda
incipiente, bastante concreto, cognoscível apenas pelo costume e que se confunde
com a própria religião.” (p.18)
“Mas, aos poucos, vai se construindo uma nova sociedade - urbana, aberta a trocas
materiais e intercâmbio de experiências políticas, mais dinâmica e complexa -, que
demandará um novo direito.” (p.18)
“A proximidade das datas de consolidação das civilizações mesopotâmica e egípcia
não pode, por óbvio, ser tratada como mera coincidência histórica.” (p.20)
“Ao contrário de povos que precisavam manter-se em território litorâneo, desértico
ou montanhoso - como os habitantes das regiões da Fenícia, Síria, Palestina ou
Pérsia -, os mesopotâmicos e egípcios formaram suas civilizações em torno dos rios
Tigre, Eufrates e Nilo. Tal circunstância permite, por óbvio, a existência de solo
propício à agricultura, bem como a navegação fluvial, essencial para o transporte de
mercadorias e sofisticação do comércio. E todos esses fatores contribuem para um
crescimento mais acelerado da população dessas sociedades, bem como um maior
desenvolvimento político e econômico.” (p.20)
“A principal característica comum da organização política das civilizações aqui
analisadas consiste no fato de que ambas desenvolveram a monarquia como forma
de governo. As diferenças, entretanto, neste terreno, são muito mais evidentes.”
(p.22)
“No Egito [...] consolidou-se uma monarquia unificada, com um poder central
bastante definido, titularizado pelo faraó, e com uma capital instalada em
determinada cidade do reino (que podia ser Mênfis, Tebas, Sais, entre outras).[...] é
notável a durabilidade da estrutura centralizada do antigo Egito [...] Conclui, então,
o mesmo autor (José das Candeias Sales): ‘mais extraordinário ainda é o fato de,
durante os mais de três milênios , a realeza egípcia nunca ter sido verdadeiramente
posta em questão’”. (p.22)
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ARTIGO CIENTÍFICO

A legitimação judicial no processo construtivo do direito no pós-positivismo jurídico

The judicial legitimation in the constructive process of law in the legal post-positivism

RESUMO

O presente artigo propõe analisar os aspectos relativos à legitimação judicial no processo de

construção da norma jurídica diante do caso concreto, no paradigma do pós-positivismo

jurídico. O processo de criação da norma jurídica em abstrato pertence, no sistema de separação

dos poderes, ao Poder Legislativo, composto por membros eleitos diretamente pelo povo. O

Poder Judiciário, enquanto um dos po- deres da República, é composto por membros não eleitos

pelo povo, o que permite a discussão acerca da legitimação judicial das decisões que criam a

norma jurídica aplicável ao caso concreto. Nesse sentido, apresenta-se o presente artigo

científico, que buscará investigar os requisitos necessários para a validação da atividade criativa

do direito pelos órgãos do Poder Judiciário diante do caso concreto, à luz da teoria estruturante

da norma desenvolvida por Friedrich Müller.

Palavras-chave: pós-positivismo, legitimidade, Poder Judiciário.

Abstract

The present article proposes to analyze the aspects related to judicial legitimation in the process

of construction of the legal norm in the concrete case, in the paradigm of legal post-

positivism.The process of creating the legal norm in abstract belongs, in the system of

separation of powers, to the Legislature, composed of members di- rectly elected by the

people.The Judiciary, while one of the powers of the Republic, is composed of members not

elected by the people, which allows the discussion about the judicial legitimation of the

decisions that create the legal norm applicable to the concrete case. In this sense, we present

the present scientific article that will investi- gate the necessary requirements for the validation

of the creative activity of the right by the organs of the Judiciary Power in the concrete case, in
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light of the structuring theory of the norm developed by Friedrich Müller.

Keywords: post-positivism, legitimation, Judiciary Power.

INTRODUÇÃO

O princípio da separação dos poderes tem como pressuposto de existência o sistema

constitucional rígido de fixação de competências. A Constituição Federal de 1988, seguindo os

modelos ocidentais de tradição constitucional democrática, reconheceu os poderes Executivo,

Legislativo e Judiciário como independentes e harmônicos entre si, dentro de um sistema de

pesos e contrapesos.

Os poderes Executivo e Legislativo são compostos por membros eleitos diretamente pelo povo,

por meio de sistema de votação livre e periódica. A legitimação da atuação desses poderes

decorre do próprio mandato outorgado pelo povo no sistema eleitoral, de quem todo o poder

emana.

A atividade jurisdicional, por sua vez, difere quanto à legitimidade dos demais poderes da

República, seja porque seus membros não são escolhidos pelo povo por meio de sistema de

eleição livre, seja também pelo fato de que a investidura do cargo se dá de forma vitalícia, após

o cumprimento do estágio probatório de vitaliciedade de dois anos para os órgãos jurisdicionais

de primeiro grau.

Não obstante essas diferenças na forma de provimento e de permanência no cargo, não se pode

negar que a Constituição Federal confere aos órgãos judicantes a legitimidade necessária para

que as decisões proferidas sejam cumpridas.

A legitimação da atuação do Poder Judiciário decorre de diversas garantias conferidas pelo

texto constitucional no Estado Democrático de Direito, como a necessidade de motivação das

decisões judiciais, a observância do devido processo legal, o direito ao contraditório e à ampla

defesa, o duplo grau de jurisdição, a possibilidade da produção da prova, a publicidade dos

julgamentos, dentre outras tantas elencadas ao longo da Constituição Federal de 1988.


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O paradigma do pós-positivismo jurídico, que tem a centralidade da Constituição e a força

normativa dos princípios constitucionais como seus eixos centrais, permitiu o desenvolvimento

da teoria de que a criação da norma jurídica somente é possível diante das particularidades do

caso concreto.

O papel do Poder Legislativo é precipuamente o de elaborar, em caráter geral e abstrato, textos

de normas jurídicas que serão observadas pelos órgãos ju- risdicionais em suas decisões.

Diante da fixação da competência legislativa privativa ao Poder Legislativo, questiona-se se a

atividade criativa da norma jurídica a partir do texto da norma pelo Poder Judiciário implicaria

a existência de violação ao princípio da separação dos poderes, bem como se haveria falta de

legitimação social esse processo criativo?

Em um cenário do dialeticismo material, partirá da tese de que a atividade jurisdicional está

adstrita aos contornos estabelecidos pelo Poder Legislativo na confecção do texto legal. Como

negação a essa ideia central, partirá da compreensão de que a liberdade, conferida em um Estado

Democrático de Direito, permite aos órgãos do Poder Judiciário construir livremente as normas

jurídicas a serem aplicáveis ao caso concreto.

A partir do discurso dialético, permitirá investigar em síntese se, a partir da teoria estruturante

da nor- ma, desenvolvida por Friedrich Müller, é possível conferir legitimidade e validade à

atividade criativa da norma jurídica no caso concreto por parte do Poder Judiciário.

O pós-positivismo como superação do juspositivismo clássico

O juspositivismo clássico demonstrou inúmeras dificuldades ante a complexidade da sociedade

do pós-guerra, onde as discussões jurídicas travadas são caracterizadas pelo elemento

massificador dos conflitos e também pela natureza metaindividual dos direitos violados.

A divisão entre as esferas do “ser” e do “dever- -ser”, entre o direito positivado e as normas de

ordem moral e a confiança de que o silogismo na aplicação da norma jurídica ensejaria a

segurança jurídica necessária ao ordenamento jurídico, mostraram sua ineficácia para pacificar
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os conflitos existentes na sociedade global, principalmente se levar em consideração o sistema

de elaboração das normas jurídicas observado desde o modelo do Estado liberal e que de certo

modo se man- teve até o advento do Estado democrático de Direito, passando pelo Estado social

de Direito.

O processo de elaboração das normas jurídicas no positivismo jurídico tem o objetivo o de

regular, sem lacunas, a inteireza das relações individuais em sentido amplo, donde se inserem

aquelas existentes entre o Poder Público e os particulares, secundarizando a um outro nível a

regulamentação de conflitos de natureza metaindividual ou coletiva.

A interpretação no modelo do positivismo ju rídico é marcada pelo aspecto avalorativo da

atividade hermenêutica, assentada em elementos filológicos da língua e da completude do

sistema jurídico, por meio das interpretações gramatical e sistemática. Esse modelo

interpretativo do direito positivado colocou em um segundo plano de importância temas como

a justiça e a legitimidade das decisões judiciais (Kim, 2009, p. 275), em razão da compreensão

de identidade entre o conte- údo do texto de lei e da norma jurídica em si e da pretensão

formalista pura do Direito, despida de elementos de ordem moral.

A compreensão da existência de justiça e de legitimidade da decisão judicial na perspectiva do

juspositivismo era apenas possível pela aplicação, por parte do intérprete autêntico, do direito

objetivo elaborado pelo órgão legiferante.

O alcance da norma jurídica, concebida com o escopo de solucionar conflitos individuais, em

um pri- meiro momento, implicou para o aplicador do direito inúmeras limitações na solução

dos casos concretos, uma vez que o texto normativo tinha a pretensão, em razão do escopo de

segurança jurídica do Estado liberal, de trazer a resposta do conflito, por meio da aplicação

silogística do direito positivado.

A secundarização dos elementos da facticidade no processo hermenêutico do positivismo

jurídico ensejou o questionamento acerca da fragilização do elemento justiça da decisão, em


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nome de uma teoria pura de interpretação do direito positivado.

Reinhold Zippelius (2012, p. 83) destaca que o direito e a realidade compõem as duas faces de

uma mesma moeda, assumindo uma relação de reciprocidade, de influência e de mútua

dependência.

Destaca, outrossim, que as normas jurídicas revelam seus conteúdos por “factos antropológicos

e por fatores sociais, particularmente por necessidades e cor relações de forças, bem como por

outras circunstâncias, mas sobretudo pelos interesses que o direito deve regular” (Zippelius,

2012, p. 83).

O ponto de ponderação e de crítica que recebeu o positivismo jurídico nesse ponto está no

distanciamento ideológico entre o ordenamento jurídico e a facticidade, a partir da negação da

influência que os elementos sociais exercem sobre o conteúdo da norma jurídica. Os elementos

da facticidade no juspositivismo assumem um caráter secundário, muitas vezes associados a

uma reflexão sociológica ou histórica independente para a ciência jurídica (Mascaro, 2012, p.

342).

O positivismo jurídico é assentado na premis- sa de que o conteúdo da norma jurídica, o que

inclui a valoração dos elementos sociais, é elaborado pelos órgãos legislativos no processo de

construção do texto normativo, especialmente durante o processo de discussão entre os

representantes do povo. A realização da valoração e da escolha dos fatos sociais que serão

regulados pelo direito é feita aprioristicamente, ou seja, antes da própria ocorrência do fato

jurídico.

A norma jurídica no paradigma do positivismo jurídico é entendida como sinônimo de texto

legal, o que de certo modo provoca o esvaziamento da atividade hermenêutica, diante da

diminuição das possibilidades de valoração por parte do exegeta, ainda que várias

possibilidades interpretativas sejam de possível obtenção do texto de lei. A teoria de Kelsen,

em sua primeira fase, coloca em um segundo plano de importância a questão relativa ao


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problema da interpretação diante do caso concreto (Streck, 2010, p. 30).

A separação da realidade fática do direito evidencia uma contradição em si do positivismo

jurídico, tudo isso como forma de assegurar a ideia de segurança jurídica e o purismo da ciência

do direito. A ciência jurídica é um ramo das ciências sociais aplicadas e tem como objetivo

central a regulação das relações sociais. Afastar o direito da realidade fática evidencia

insuperável contradição.

Friedrich Müller (2011, p. 19) destaca, acerca da relação que deve haver entre o direito e a

realidade so- cial, que “a premissa de um dos erros mais fundamentais do positivismo na ciência

jurídica, a compreensão e o tratamento da norma jurídica como algo que repousa em si e

preexiste, é a separação da norma e dos fatos, do direito e da realidade”.

O processo evolutivo do pensamento kelseniano, em um segundo momento do positivismo

jurídico, caminhou no sentido de sustentar a possibilidade de diversidade interpretativa do

direito dentro da moldura normativa, ante o reconhecimento do caráter plurissignificação das

palavras presentes no texto normativo, ainda que mantida a posição anterior de secundarização

da facticidade.

O processo hermenêutico era tida para Kelsen (1998, p. 390), nessa segunda fase do pensamento

científico, como:

[...] a fixação por via cognoscitiva do sentido do ob jeto a interpretar, o resultado de uma

interpretação jurídica somente pode ser a fixação da moldura que representa o Direito a

interpretar e, consequentemente, o conhecimento das várias possibilidades que dentro desta

moldura existem.

A possibilidade do aplicador do direito obter diversas interpretações possíveis (Perlingieri,

2002, p. 62), dentro ou até mesmo fora da moldura normativa (Kelsen, 1998, p. 394), de certa

forma fragilizou o pilar do juspositivismo, que tem como eixo central a segurança jurídica e a

estabilização da interpretação do direito positivado.


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O permissivo para a discricionariedade judicial colocou em risco a segurança jurídica na

atividade interpretativa, uma vez que a decisão a ser adotada pelo aplicador do direito dentro

ou mesmo fora da moldura normativa, sendo esta última admitida na última fase do pensamento

de Hans Kelsen, era reconhecida como legítima e, portanto, justa, já que os critérios de aferição

desses elementos eram meramente formais.

A modificação dos perfis de conflitos na sociedade de massificada, que transcendem a

individualidade dos envolvidos, evidenciou a verdadeira utopia da pretensão de completude do

ordenamento jurídico. A natureza metaindividual dos conflitos de interesses, muitos deles

oriundos da própria evolução tecnológica, minou a própria base do juspositivismo, que tem

como pressuposto a existência de um ordenamento jurídico sem lacunas.

O Estado democrático de Direito exigiu do intérprete autêntico, em razão da massificação dos

conflitos sociais e da natureza metaindividual dos interesses a ser tutelados pelo Estado, um

novo olhar relacionado com a realidade fática. O novo paradigma de Estado, fundado no papel

central a ser ocupado pela Constituição, supera a concepção do positivismo jurídico de que esta

tem o papel apenas de parametrizar a aferição de validade da norma jurídica. Assumem as

Constituições no Estado democrático de Direito força normativa própria capaz de autorizar o

aplicador do direito a possibilidade de construção de normas jurídicas no caso concreto,

inclusive a partir dos seus princípios estruturantes.

Os princípios contidos nas Constituições deixam de ocupar espaço secundário de meras fontes

supletivas para colmatar lacunas, assumindo força normativa própria. A carga axiológica dos

princípios constitucionais autoriza ao aplicador do direito uma maior plasticidade na atividade

interpretativa, adequando o texto legal à realidade fática.

O papel central da Constituição (Sundfeld, 2009, p. 54) permitiu uma nova compreensão da

teoria da norma jurídica, a partir da inclusão de novas fontes com normatividade própria, como

é o caso dos princípios constitucionais. A necessidade da reaproximação entre a moral e o


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direito positivo e dos campos do “ser” e do “dever-ser” passou a demandar do intérprete

autêntico uma maior preocupação com a justiça da decisão no caso concreto.

Essa nova corrente jusfilosófica é denominada como pós-positivismo jurídico, que representa

“a concepção teórica do neoconstitucionalismo” (Fernan- des e Bicalho, 2011, p. 120). Rachel

Nigro (2009, p. 190), acompanhando esse movimento, reconhece o fenôme- no do

neoconstitucionalismo como expressão de um “movimento inserido no paradigma pós-

positivista”.

O pós-positivismo jurídico tem como pressuposto o papel central a ser ocupado pela

Constituição no ordenamento jurídico, o que permite o reconhecimento da importância dos seus

princípios, ante a sua força normativa (Kim, 2009, p. 272), além de servir como verdadeiros

vetores hermenêuticos ao aplicador do direito.

Luís Roberto Barroso (2007, p. 22) destaca que o pós-positivismo jurídico representa uma nova

aproximação entre antigos paradigmas antagonistas: o jusnaturalismo e o juspositivismo, em

razão da necessidade de uma leitura moral do direito, preocupado com a realidade fática. Essa

aproximação representa a busca do pós-positivismo em “[...] ir além da legalidade estrita, mas

não despreza o direito posto; procura empreender uma leitura moral do Direito, mas sem

recorrer a categorias metafísicas” (Barroso, 2007, p. 22).

A preocupação com a higidez do direito positi vado permanece nesse novo modelo jurídico-

filosófico, tendo em vista o caro valor da segurança jurídica, indispensável à sociedade da pós-

modernidade.

A preocupação com os aspectos morais, por outro lado, garante ao aplicador do direito efetuar

juízo de valor acerca da melhor interpretação a ser conferida ao texto da norma jurídica, diante

da aproximação da atividade hermenêutica com elementos do campo do “ser”. A tarefa de

aplicar o direito positivado deixa de ser mero ato de vontade, como no juspositivismo clássico

kelseniano (Kelsen, 1998, p. 394).


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O pós-positivismo jurídico é caracterizado, segundo Fernandes e Bicalho (2011, p. 114), pela

“aber- tura valorativa do sistema jurídico e, sobretudo, da Constituição”, pela força normativa

atribuída aos princípios, que passam a ter a mesma força das regras, pela centralidade das

Constituições como fontes de princípios e, por fim, pelo “aumento da força política do

Judiciário em face da constatação de que o intérprete cria norma jurídica”.

A superação da tese que separa o “ser” do “dever-ser” e a busca de aproximar o direito da moral

permitiram o pós-positivismo jurídico superar a base juspositivista clássica de que a norma

jurídica é sinônimo de texto legal e que a norma jurídica não é algo dado pelo legislador, mas

sim construída diante do caso concreto pelo intérprete autêntico durante o julgamento.

A atividade do Poder Judiciário passa a ser renovada, já que os órgãos judicantes passam a

protagonizar o papel de criação da norma jurídica, diante da preocupação com a efetividade da

tutela jurisdicional (Pozzolo, 2009, p. 190). Essa atividade somente é possível diante da abertura

dada pelo texto e pelos princípios da Cons- tituição no Estado democrático de Direito.

A atividade criadora da norma jurídica autorizada no pós-positivismo jurídico demanda a

existência de mecanismos de controle, diante da exigência de segurança jurídica, de modo a

evitar a existência de discricionariedade judicial.

A teoria estruturante da norma jurídica, desenvolvida por Friedrich Müller (2013b, p. 200), é

apresentada no pós-positivismo jurídico como mecanismo de controle da discricionariedade

judicial, atendendo às necessidades de assegurar a segurança jurídica, de aproximação dos

campos do “ser” e do “dever-ser” e de conferir mais que a legitimidade meramente formal aos

aplicadores do direito.

A aplicação da teoria estruturante do direito no cenário pós-positivista, considerando o seu

pressuposto de criação da norma jurídica no caso concreto, é capaz de conferir a legitimidade

necessária à atividade de criação da norma jurídica por parte dos órgãos do Poder Judiciário,

conforme será a seguir analisado.


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A inserção da Teoria Estruturante da Norma de Friedrich Müller no

pós- positivismo jurídico

O juspositivismo propõe a independência do direito positivado com a realidade fática em nome

de um método puro de compreensão do fenômeno jurídico. O positivismo jurídico é alicerçado

na separação entre os domínios do “ser” e do “dever-ser”, incapaz de rebater às demandas

apresentadas pela sociedade da pós-modernidade, caracterizada pela massificação dos conflitos

sociais.

Direito e a realidade dos fatos, conforme anteriormente pontuado, são capazes de gerar a

influência recíproca (Zippelius, 2012, p. 83). Qualquer forma de afastamento da norma jurídica

com a realidade fática que objetiva regular deve ser repelida (Müller, 2011, p. 11). O silogismo

na aplicação estática do direito positivado à situação fática apresentada, típico do modelo do

juspositivista, apresentou sua insuficiência na solução das demandas da sociedade

contemporânea.

Sob esse novo momento da sociedade e da ciência jurídica, representado pelo papel central

ocupado pela Constituição e pelo imperativo de reaproximação da realidade com o direito

positivado, o pós-positivismo jurídico reconheceu a possibilidade de o intérprete autêntico

elaborar a norma jurídica diante do caso concreto (Fernandes e Bicalho, 2011, p. 114),

superando o modelo do positivismo jurídico que compreendia a norma jurídica como sinônimo

do texto legal e, portanto, como algo pronto e estático após a elaboração pelo órgão legiferante.

A teoria estruturante da norma jurídica é apresentada no pós-positivismo jurídico como uma

doutrina associada ao realismo jurídico, diante da reaproximação do direito com os fatos

sociais. A teoria estruturante da norma, desenvolvida por Friedrich Müller (2013a, p. 13),

objetiva:

[...] uma argumentação e decisão integral, cujo proces- so pode ser


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mentalmente refeito [isto é. controlado por outros juristas, outros juízes/tribunais] e que tem

natureza igualitária, com base e no quadro do direi- to vigente – e nisso sempre amparado nos

fatos do caso individual e nos fatos/suportes fáticos genéricos do tipo do caso. Não se trata,

portanto, de um pragmatismo geral, ideológico, mas de um pragmatismo formado pelos

conceitos e modi operandi teórico metodológicos e operacionalizado nos detalhes desses

mesmos conceitos e modi operandi. Assim o “direito” e a “realidade” não aparecem mais como

categorias opostas abstratas; eles atuam agora como elementos da ação jurídica, sintetizáveis

no trabalho jurídico efe- tivo de caso para caso – na forma da norma jurídica produzida. E essa

ação jurídica é uma ação pela e na linguagem [Sprachhandeln], é geração do texto com base em

textos, inscreve-se na estrutura textiforme da democracia fundada no Estado de Direito.

A autorização para a criação normativa diante do caso concreto representa uma forma de

manifesta ção de incremento de poder conferido ao Poder Judiciário, o que poderia ensejar o

questionamento acerca da legitimação dessa atividade realizada por órgãos não escolhidos pelo

povo. De forma a assegurar a legitimidade dessa atuação criativa, tem-se que o princípio da

segurança jurídica, uma das principais bases do positivismo jurídico e do próprio Estado

democrático de Direito, assume novos contornos no pós-positivismo jurídico, com o foco em

evitar a discricionariedade judicial.

A possibilidade de outro órgão judicial realizar o controle do caminho percorrido pelo julgador

originário na construção da norma jurídica diante do caso concreto é a garantia contra o

pragmatismo judicial e eventuais arbitrariedades, bem como tem função de imprimir uma

legitimidade material e não apenas formal à decisão tomada pelo intérprete autêntico.

A dinâmica conferida pela teoria estruturante da norma, que tem o texto da norma jurídica como

etapa inicial na atividade de realização concreta da norma jurídica (Adeodato, 2002, p. 222),

garante a higidez de princípios constitucionais fundantes do Estado de direito democrático

como o da separação dos poderes e o da segurança jurídica.


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A teoria desenvolvida por Friedrich Müller res- guarda, sobretudo, a sociedade contra as

escolhas discricionárias do órgão julgador diante da moldura normativa, bem como situações

de aplicação inversa do silogismo jurídico, onde o texto de lei é utilizado para fundamentar uma

decisão formada a priori.

A teoria estruturante do direito não se propõe à revelação da norma jurídica, mas sim a sua

própria ela- boração de modo metodicamente estruturado, a partir de signos linguísticos e dos

dados da realidade apresentados pelo caso concreto apresentado ao órgão julgador. A norma

jurídica é inexistente antes da ocorrência da situação fática em que se pretende uma solução

jurídica (Müller, 2013a, p. 11), o que é capaz de afastar qualquer compreensão de que a

atividade interpretativa é meramente declaratória.

Adeodato (2002, p. 252) adverte que a teoria es- truturante do direito desenvolvida por Friedrich

Müller não tem como objetivo desenvolver uma sistemática que garanta uma única solução

correta para o caso concreto. A metódica racional dessa teoria assegura ao intérprete autêntico,

independentemente do ramo do direito envolvido (Müller, 2013b, p. 200), a construção da

norma jurídica no caso concreto, a partir dos signos linguísticos.

A teoria estruturante do direito é apresentada em uma sequência de onze passos, que, segundo

apresentação de Adeodato (2013, p. 312), são assim elencados: Spra- chdaten, Realdaten,

Normtexte, Fallerzählung, Sachverhalt, Sachbereich, Fallbereich, Normprogramm,

Normbereich, Rechtsnorm e Entscheidungsnorm2. As citadas etapas até a concretização da

norma serão desenvolvidas e analisadas de forma pormenorizada na seção subsequente.

As etapas do processo decisório no Estado Democrático de Direito a

partir da metódica jurídica estruturante

A teoria estruturante da norma, inserida no paradigma do pós-positivismo jurídico, está longe

de representar uma ruptura com o modelo do positivismo jurídico clássico, já que manteve

algumas de suas bases fundantes.


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O juspositivismo tem como um dos seus alicerces a garantia da segurança jurídica nas relações

sociais que objetiva regular. O positivismo jurídico parte em sua dogmática do conteúdo do

texto de lei como base de interpretação do direito e meio de assegurar a segurança jurídica.

Ainda que se parta do método filológico ou gramatical para a interpretação do texto do direito

positivado, tem-se que a norma jurídica e o texto da norma são apresentados como entidades

autônomas, inconfundíveis entre si, ante o caráter plurissignificativo que os verbetes

apresentam, suscetíveis de induzir múltiplas interpretações.

A teoria estruturante da norma tem como ponto de partida a análise dos elementos textuais

contidos na obra do órgão legislador, como base para a construção da norma jurídica. São

buscados, nesse primeiro momento, dentro do sistema jurídico os elementos lin- guísticos e

filológicos presentes nos elementos estruturais dos textos legais como nos artigos, nos incisos,

nos parágrafos e nas alíneas como primeiro passo na atividade de concretização do direito.

O texto da norma representa na visão de Müller (2010, p. 54) a “ponta do iceberg”, ou, como

destaca com propriedade Conte (2008, p. 5960), “apenas um ponto de partida para a

concretização, bem como um limite para a concretização legal e legítima, posto que possui,

como premissas, os preceitos de um Estado Democrático de Direito”.

Os elementos filológicos e gramaticais do texto legal constituem o limite hermenêutico (Müller,

2010, p. 33), o que permite conferir legitimidade ao intérprete autêntico do direito na atividade

de concretização da norma jurídica.

Os métodos tradicionais de interpretação do di- reito, como a interpretação gramatical,

representam a primeira etapa rumo à concretização da norma jurídica, tendo em vista a

utilização da estrutura do texto da lei como limite normativo e hermenêutico.

O método de interpretação gramatical estabelece o sentido linguístico do texto legislado, por

meio da representação dos sentidos filológicos possíveis de extração a partir dos verbetes ou

conjuntos de palavras e expressões. Maximiliano (2013, p. 88) já afirmava que o processo de


18

interpretação a partir da literalidade, em razão da complexidade da língua portuguesa, demanda

do aplicador do direito diversos predicados, dentre eles:

Em tradução livre, os onze passos do processo de concretização da norma jurídica são definidos

como: dados linguísticos da norma, relatos ou dados reais, conjunto de matérias, relato leigo do

caso, circunstância da espécie, âmbito do caso, programa da norma, âmbito da norma, norma

jurídica e norma de decisão.

(1) conhecimento perfeito da língua empregada no texto, isto é, das palavras e frases em

determinado tempo e lugar; propriedades e acepções várias de cada uma delas; leis de

composição; gramática; (2) informação relativamente segura, e minuciosa quanto possível,

sobre a vida, profissão, hábitos pelo menos intelectuais e estilo do autor; orientação do seu

espírito, leituras prediletas, abreviaturas adotadas; (3) notícia completa do assunto de que se

trata, inclusive a história respectiva; (4) certeza da autenticidade do texto, tanto em conjunto

como em cada uma das suas partes.

O método de interpretação gramatical permite a extração dos diversos significados possíveis

dos verbetes utilizados no texto da norma, separando aqueles de cunho cotidiano ou do senso

comum, com aqueles outros estabelecidos pela ciência do direito (Müller, 2013a, p. 64).A

característica da plurissignificação dos verbetes atesta por si só a incapacidade do método

gramatical fixar o conteúdo da norma jurídica.

Como já destacado anteriormente, além dos dados linguísticos do texto positivado, a atividade

hermenêutica compreende nessa etapa de concretização a observância de outras metodologias

interpretativas, que funcionam de forma suplementar como os métodos sistemático, histórico e

genético (Adeodato, 2002, p. 238).

O método de interpretação sistemático tem o objetivo de “comparar o dispositivo sujeito a (sic!)

exegese, com outros do mesmo repositório ou de leis diversas, mas referentes ao mesmo objeto”

(Maximilia- no, 2013, p. 104). Essa metodologia de interpretação do direito permite a


19

contextualização do texto normativo em si com o conjunto do ordenamento jurídico, assegu-

rando uma interpretação integrada.

Outras metodologias tradicionais de interprettação complementar aos métodos gramatical e

siste- mático são apresentadas ao intérprete na atividade de concretização da norma jurídica. O

método interpretativo histórico funciona como verdadeiro mecanismo de compreensão do

alcance do texto da norma, pois permite buscar no processo legislativo os princípios e as

ideologias que contribuíram no processo de elaboração do texto normativo pelo órgão

legiferante.

Não obstante a relevância do método interpre- tativo histórico na construção da norma jurídica,

deve ser destacado que este método também revela sua insuficiência, se tomado de forma

isolada, em razão do próprio caráter cambiante do direito, como ciência social aplicada.

O método interpretativo genético “prende-se aos elementos e processos sociais que

efetivamente deram a feição com a qual o texto se mostra agora, como quando se estudam os

anais da Constituinte” (Adeodato, 2002, p. 238). A utilização deste método interpretativo

permite extrair do texto legal os ele- mentos sociais que influenciaram o processo de elaboração

do texto normativo.

Os métodos histórico e genético são interligados, em razão da referência ao cenário de

elaboração do texto legal, e funcionam como “pontos de vista auxiliares no âmbito do aspecto

gramatical” (Müller, 2010, p. 76), capazes de auxiliar na precisão dos possíveis sentidos dos

elementos textuais.

A teoria estruturante da norma afasta a utilização da interpretação teleológica na primeira etapa

da construção da norma jurídica. Essa desconsideração é motivada pela ausência de autonomia

deste método interpretativo tradicional, em relação aos métodos gramatical, histórico,

sistemático e genético (Müller, 2010, p. 77).

Müller (2013a, p. 64) adverte que a aplicação do método interpretativo teleológico, ainda que
20

não possa ser totalmente desconsiderada, deve ser pautada com a devida cautela pelo operador

do direito, já que a mesma pode ter o poder de ocultar, em razão da busca da finalidade da

norma jurídica, os elementos concretos in- dispensáveis na atividade de concretização da norma

jurídica, em razão de preconcepções do próprio intérprete autêntico. Anorma jurídica a ser

construída no caso concreto deve ser vista para além dos seus elementos abstratos, observando

também os elementos fáticos e reais do caso apresentado a julgamento.

O primeiro passo na concretização da norma jurídica é representado pela utilização dos métodos

hermenêuticos tradicionais. O papel do texto da norma, na primeira etapa, é o de estabelecer os

contornos gerais da norma jurídica a ser construída, que serão conformados com elementos do

caso concreto, como veremos nos próximos momentos da sistematização da teoria estruturante

da norma.

Conforme já destacado na primeira etapa do processo de construção da norma jurídica, os

elementos linguísticos do texto normativo representam apenas os aspectos visíveis na atividade

concretizadora do direito, ou seja, a “ponta do iceberg” (Müller, 2013a, p. 86) de onde parte o

operador do direito na atividade intelectiva.

O purismo do elemento textual revelou a sua insuficiência no processo criativo da norma, ante

a necessidade de aproximação com os elementos fáticos e circunstanciais do caso concreto

apresentado ao operador do direito. Os dados da realidade concreta são apresentados como

fatores relevantes na atividade de construção da norma jurídica, considerando que direito e

realidade são influenciáveis entre si. Daí porque não é possível, à luz da teoria estruturante do

direito, a existência de uma norma jurídica a priori do caso con creto apreciado pelo Poder

Judiciário.

As informações da realidade ou os dados reais (Realdaten) devem ser necessariamente

considerados pelo intérprete autêntico na atividade de realização concreta da norma jurídica.

A busca de subsídios e de elementos do mundo fático constitui a segunda etapa no processo de


21

concretização da norma jurídica. São considerados como dados reais os elementos fáticos

tomados como verda- des indiscutíveis ou decorrentes de uma relação lógica (relação de causa

e efeito) pelo senso comum.

Pode ser tomado como situação exemplificativa de “dados reais”, no âmbito do direito do

trabalho, o fato de um trabalhador, que exerce sua atividade expos to ao sol, sem equipamentos

de proteção, apresentar maior risco de adquirir câncer de pele, ou do traba lhador que labore

em sobrelabor habitual apresentar maior risco de acidente por fadiga.

Os elementos da realidade fática, ainda que sejam provenientes do senso comum ou que sejam

impassíveis de discussão quanto à existência, devem ser ponderados pelo intérprete durante a

atividade de construção da norma jurídica.

A atividade de concretização da norma jurídica não se limita à apreensão de dados da realidade

no processo construtivo, mas também do conhecimento integrado de todo o ordenamento

jurídico. Esse momento no processo construtivo da norma jurídica é denominado de Normtexte.

O terceiro momento do processo decisório da dogmática apresentada por Müller exige do

aplicador do direito a tarefa de observar e de realizar o levantamento dos textos normativos

presentes no ordena- mento jurídico, o que inclui os textos da Constituição, das leis

complementares, das leis ordinárias, dos de- cretos, dos regulamentos, inclusive das súmulas,

vinculantes ou não, orientações jurisprudenciais e portarias editadas pelos Tribunais.

A etapa do Normtexte distingue-se do método de interpretação sistemática utilizado pelo

paradigma do positivismo jurídico na atividade desveladora da norma jurídica, pois como bem

lembra Adeodato (2013, p. 312), nesta etapa de concretização “não se observa ainda nenhum

texto específico, como um artigo ou parágrafo de lei, porque ainda não se está diante de caso

concreto”.

O aspecto abstrato desta etapa do processo de concretização da norma jurídica exige do

intérprete apenas a realização do levantamento dos textos legais, que poderão ser utilizados
22

quando apresentado o caso concreto a julgamento pelo órgão judicial.

A quarta etapa do processo de concretização da norma jurídica é representado pelo relato leigo

do caso ou Fallerzählung. O intérprete neste momento verificará, a partir dos relatos e dos

demais dados trazidos pelas partes em depoimentos pessoais, de testemunhas, de peritos, de

autoridades responsáveis pela fiscalização, quais são os dados relevantes para a análise

dogmática, a partir do ordenamento jurídico abstratamente levantado na terceira etapa.

Adeodato (2002, p. 242) destaca que a etapa do relato leigo do caso representa “a maneira pela

qual o caso em questão chega ao conhecimento do profissional do direito”, ou seja, sem a

roupagem jurídica no discurso linguístico.

No âmbito do direito material do trabalho, servem como exemplos de manifestações do relato

leigo do caso as narrativas e as informações prestadas pelas partes durante o depoimento pessoal

ou pelas testemunhas e demais auxiliares do Juiz de que “o trabalhador não usava equipamentos

de proteção”, “o trabalhador ia para o trabalho caminhando, pois residia próximo do ambiente

laboral”, dentre outros relatos fáticos.

Uma vez apresentada a narrativa leiga do caso, torna-se indispensável a atividade do intérprete,

conhecedor do ordenamento jurídico, em realizar a filtragem das circunstâncias fáticas

essenciais para o deslinde da controvérsia. A atividade de separação dos aspectos fáticos

relevantes pelo operador do direito, diante da apresentação do relato leigo do caso, constitui a

quinta etapa no processo de concretização da norma jurídica, denominada por Müller como a

circunstância da espécie ou o conjunto de matérias (Sachverhalt).

O operador do direito, que tem conhecimento do conjunto de textos que compõem o

ordenamento jurídico, inclusive das súmulas e das orientações jurisprudenciais dos Tribunais,

realiza nesta etapa a clivagem dos fatos efetivamente relevantes para o caso concreto, separando

dos demais elementos fáticos trazidos pelos relatos leigos.

A segregação realizada pelos juristas entre fatos relevantes e fatos irrelevantes, a partir dos
23

elementos fáticos trazidos do relato leigo, objetiva a delimitação do âmbito da matéria. São

buscadas pelo operador do direito as hipóteses dispostas nos textos normativos como sendo

adequadas para aqueles fatos selecionados. Chega-se, a partir desse procedimento metódico, na

de- limitação do âmbito da matéria (Sachbereich).

O jurista no processo de delimitação do âmbito da matéria vai além da mera seleção de textos

legais referenciada no terceiro momento da metódica estruturante. Na etapa do Sachbereich, “o

jurista procura os artigos e parágrafos, os textos que poderiam ser relevantes para o caso que

tem diante de si, e ao mesmo tempo observa a realidade, para nela descobrir informações e

dados fáticos que poderiam ser significativos” (Adeodato, 2002, p. 246).

Valendo de exemplos no âmbito da medicina e da segurança do trabalho, servem como

situações ilustrativas da delimitação do âmbito da matéria, a constatação pelo intérprete

autêntico da existência ou não de realização de horas suplementares por parte do trabalhador,

da ausência de pausas para descanso e alimentação a partir da 4a hora trabalhada, a não

realização pelos digitadores de intervalo a cada 50 minutos nos termos da Norma

Regulamentadora no 17 do Ministério do Trabalho e Emprego, a concessão de folga

compensatória nas situações em que houve labor no dia destinado ao descanso semanal

remunerado, a existência de fiscalização na utilização de equipamentos de proteção individual,

dentre outras tantas.

Observam-se também nessa etapa do processo de concretização os textos legais aplicáveis, que

no caso de questões relativas à segurança e à medicina do trabalho são a Constituição, a

Consolidação das Leis do Trabalho, as Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho e

Emprego, o Código de Processo Civil (em aspectos processuais da tutela de direitos), e os

demais diplomas legais.

Vencida a etapa da fixação do âmbito da matéria na metódica estruturante, passa-se a definição

do sétimo passo, ou seja, a definição do âmbito do caso ou Fallbereich. A aferição do âmbito


24

do caso demanda do intérprete autêntico relacionar o âmbito da matéria ou Sachbereich com as

peculiaridades apresentadas pelo caso concreto posto à apreciação.

Seguindo a mesma sistematização utilizada na apresentação das demais etapas, a partir de

exemplos em matéria de segurança e de medicina do trabalho, verifica-se no âmbito do direito

do trabalho se o trabalhador realiza outras atividades durante o trabalho exposto ao sol, se

aquele digitador era substituído ou não periodicamente por outro colega de trabalho durante a

jornada, se havia ou não a rotatividade na execução das tarefas, o tempo de efetiva jornada de

trabalho, a periodicidade de troca dos equipamentos de proteção individual, dentre outras

circunstâncias do caso concreto.

A oitava etapa no processo de concretização da norma jurídica ocorre após a seleção dos textos

de norma realizada no sexto passo da metódica estruturante. Realizada a seleção dos textos da

norma, é feita ainterpretação dos mesmos à luz dos fatos selecionados como relevantes para o

deslinde da controvérsia posta. A partir daí é possível a construção do programa da norma ou

Normprogramm.

O programa da norma, portanto, representa o resultado de todas as interpretações linguísticas

possíveis (Müller, 2013a, p. 135), mediante a utilização dos métodos tradicionais de

interpretação empreendidos pelo positivismo e apresentados anteriormente (gramatical,

sistemático, histórico, genético e teleológico).

Müller (2010, p. 97) destaca que, em havendo eventuais contradições na interpretação por meio

da aplicação dos métodos tradicionais, os elementos gramatical e sistemático nesta etapa devem

prevalecer em detrimento dos métodos histórico e genético, já que os primeiros se relacionam

ao texto da norma e, consequentemente, estabelecem os contornos normativos.

Ao ser atribuída preponderância aos elementos linguísticos do texto legal estabelecidos pelo

órgão legiferante, é conferida maior legitimação à atividade de concretização da norma jurídica,

já que, de forma reflexa, são respeitados os princípios gerais do Estado democrático de Direito
25

como, por exemplo, o da sepa- ração dos poderes, o da legalidade e o da segurança jurídica. O

Poder Legislativo, ao elaborar o texto da norma, estabelece a priori os seus contornos gerais,

que devem ser observados e respeitados pelo intérprete autêntico, durante a atividade de

concretização.

A etapa de fixação do programa da norma exige do intérprete não apenas a utilização dos

métodos tradicionais de interpretação, como a utilização dos mé- todos gramatical e sistemático,

mas também devem que sejam observados “os elementos de técnica da solução, os elementos

dogmáticos, de política constitucional e de teoria” (Müller, 2010, p. 98).

Estabelecido o programa da norma, a partir de informações extraídas por meio da interpretação

gramatical e sistemática da linguagem textual (Christensen, 2013, p. 207), passa-se a outra

atividade no de concretização da norma jurídica, ou seja, o estabelecimento do âmbito da norma

ou Normbereich.

O âmbito da norma constitui-se a partir do:

[...] resultado da aplicação do programa da norma (Normprogramm) ao

conjunto de matérias (Sachverhalt) obtido no quinto passo, ou seja, o âmbito da norma refere-

se a dados empíricos, aos elementos do âmbito do caso que foram por sua vez selecionados pelo

programa da norma (Adeodato, 2013, p. 313).

O âmbito da norma é constituído, portanto, pela seleção dos dados da realidade fática

efetivamenterelevantes, à luz do direito positivo. São considerados, por exemplo, fatos da

realidade que merecem relevân- cia, no âmbito da segurança e da medicina do traba- lho,

situações em que empregador que deixa de fornecer o mobiliário ergonômico para o

desempenho das atividades, ou que não entrega os equipamentos de proteção individual, ou

mesmo que não concede o intervalo intrajornada para repouso e alimentação do trabalhador.

Tais fatos sociais são considerados re- levantes à luz do direito positivo, quando o intérprete

autêntico é posto a apreciar questões relativas à saúde do trabalhador.


26

Em contraposição, situações fáticas secundárias como, exemplificativamente, correlacionadas

à situação do empregado que faz seu deslocamento para o local de trabalho a pé, revelam ser

irrelevantes quando da fixação do Normbereich pelo intérprete autêntico, quando este é

provocado a apreciar questões relativas ao des- cumprimento de normas de ergonomia, ainda

que tenha relação com a vida laboral cotidiana do trabalhador.

Uma vez estabelecidos o âmbito da norma, obtido no nono passo no processo de concretização,

e o programa da norma, firmado na etapa anterior, tem-se constituída a chamada estrutura da

norma (Jouanjan, 2013, p. 213) ou Rechtsnorm. Essa etapa do procedimen to de concretização

refere-se ao momento de correlação da situação fática do caso concreto apresentado ao órgão

julgador ao texto da norma positivada.

Utilizando-se da sistemática anteriormente escolhida para a visualização das etapas do processo

de concretização, por meio de exemplos ligados à segurança e à medicina do trabalho, tem-se

que o empregador, ao não fornecer os protetores auriculares aos empregados que laboram na

atividade de montagem de equipamentos com furadeiras, ou que não fornece luvas químicas

para a proteção na atividade com óleos e graxas, descumpre a norma de segurança e medicina

do trabalho, prevista na Norma Regulamentadora no 15 do Ministério do Trabalho e na

Constituição da República.

A partir da construção da norma jurídica propriamente dita, que leva em conta todos os

elementos do caso concreto, chega-se a elaboração da norma decisória ou Entscheidungsnorm.

A norma de decisão é, portanto, a representação da consequência jurídica que decorre da norma

jurídica abstratamente considerada.

No exemplo anteriormente apresentado, o empregador, ao deixar de fornecer o equipamento de

segurança ao trabalhador para neutralizar os agentes insalubres, além de incorrer em infração

administrativa, tem a obrigação de efetuar o pagamento do adicional de insalubridade.

O momento da concretização somente é finali- zado na metódica estruturante, segundo


27

magistério de Grau (2013, p. 33), a partir da confecção do comando decisório ou da norma

decisória. Esta, portanto, constitui a aplicação no âmbito prático da norma do direito positivado

ao caso posto a julgamento.

A legitimidade da atuação jurisdicional na criação da norma jurídica no

Estado Democrático de Direito

A teoria estruturante da norma desenvolvida por Friedrich Müller tem o papel de consolidar a

distinção já há muito presente no cenário do pós-positivismo jurídico entre o texto normativo e

a norma jurídica propriamen- te dita. Acerca desta distinção, Canotilho (2011, p. 1217) destaca

que o texto de lei funciona como representação de um signo linguístico, ou seja, o dado de

entrada da atividade hermenêutica empreendida pelo operador do direito, ao passo que a norma

jurídica representa o pro- duto da interpretação do texto normativo.

A exposição na seção anterior dos onze mo- mentos dinâmicos na sistemática de concretização

da norma jurídica deixa evidente que as bases do juspo- sitivismo não foram totalmente

abandonadas, como se observa na obrigatoriedade do intérprete partir em sua atividade dos

elementos linguísticos contidos no texto legal. O texto de lei representa o ponto de partida que

deve ser observado pelo julgador.

A observância do texto de lei imprime à metódica estruturante da norma a segurança jurídica

exigida no paradigma atual do Estado de Direito democrático, evitando as discricionariedades

e as arbitrariedades judiciais. Müller (2013a, p. 99) adverte em sua teoria que “o texto da norma

não é aqui nenhum elemento conceitual da norma jurídica, mas o dado de entrada/input mais

importante do processo de concretização, ao lado do caso a ser decidido juridicamente”.

Os elementos linguísticos do texto da norma, por funcionarem como balizas interpretativas,

constituem instrumentos garantidores da segurança do pró- prio jurisdicionado, destinatário da

atividade hermenêutica realizada pelo Poder Judiciário.

O controle do processo decisório garante o desvelamento das razões racionais que levaram à
28

formação do convencimento do intérprete autêntico, assegurando a possibilidade de discussão

das premissas de julgamento e, consequentemente, efetivando as garantias constitucionais da

ampla defesa e do contraditório. Apossibilidade de controle mediante o restabelecimento do

caminhar interpretativo garante a legitimidade do processo decisório, pedra angular no Estado

democrático de Direito.

A possibilidade dos órgãos judiciais superiores reconstruir o caminho trilhado pelo órgão

julgador de instância anterior das etapas do processo de construção da norma jurídica certifica

a legitimidade necessária da atividade do Poder Judiciário (Christensen, 2013, p. 204). É

afastada assim a compreensão de legitimidade meramente formal das decisões judiciais do

modelo do positivismo normativista, decorrente da simples observância da dicção da lei, esta

confundida com a própria norma jurídica.

A legitimidade judicial passa a ser aferida no modelo da metódica estruturante desenvolvida na

seção anterior a partir de aspectos materiais, ou seja, na possi- bilidade do destinatário da

aplicação da norma conhecer as etapas cognoscitivas pelas quais passou o magistrado na

solução do caso concreto.

A grande inovação da teoria estruturante do direito, e nisso se distingue das teorias do

positivismo jurídico, está relacionada à admissão de elementos ou circunstâncias do caso

concreto na atividade de criação da norma jurídica. Direito e realidade manifestam mútua

influência (Zippelius, 2012, p. 83), superando a dicotomia entre as esferas do “ser” e do “dever-

ser”.

Ao não ser concebida a norma jurídica a priori, já que os elementos da realidade são integrantes

da atividade de sua construção, garante-se que as decisões judiciais são tomadas apenas diante

do caso concreto apresentado ao julgador. É efetivado, a partir da teoria estruturante da norma,

o direito fundamental do jurisdi- cionado a uma decisão judicial devidamente fundamentada

em elementos fáticos e jurídicos, bem como são atendidos os princípios fundamentais da


29

legalidade e da separação dos poderes.

Considerações finais

O paradigma do pós-positivismo jurídico tem a centralidade da Constituição e a força normativa

dos seus princípios estruturantes como base central no processo de interpretação e de construção

do direito.

A abertura do processo hermenêutico, a partir de uma leitura dos princípios constitucionais

fundamentais, propiciou o desenvolvimento da teoria estruturante do direito, que representa a

manifestação concreta do processo de construção da norma jurídica. A compreensão da norma

jurídica como sinônimo de texto de lei do paradigma de Estado liberal de Direito tornou-se

obsoleta em razão da natureza metaindividual dos conflitos da sociedade da pós-modernidade,

que passou a exigir dos intérpretes autênticos uma leitura do direito positivo à luz dos fatos

sociais que lhe são apresentados.

O modelo de decisão judicial do modelo liberal foi cunhado para garantir a segurança jurídica

e a estabilização das relações sociais.A legitimidade do proces- so decisório decorre da

compreensão de que o órgão julgador deve estar adstrito à aplicação da lei ao caso concreto. A

aferição dos fatos sociais que devem ser regulados pelo Direito é realizada durante o processo

de elaboração legislativa pelos representantes do povo.

A massificação dos conflitos da sociedade globalizada passou a exigir do hermeneuta a

integração do direito com o fato social, seja pela impossibilidade do órgão legislador em prever

todas as situações de possível regulamentação ou mesmo pelas peculiaridades que cada caso

concreto apresenta. Não obstante a abertura interpretativa atribuída pelo pós-positivismo

jurídico, o ideal de segurança jurídica é mantido, o que confere a legitimidade ao processo

decisório empreendido pelos intérpretes autênticos.

A teoria estruturante do direito, concebida no realismo jurídico, permite estabelecer por etapas

o processo de construção da norma a partir dos contornos estabelecidos pelo seu texto. A
30

possibilidade de reconstrução do caminho decisório na formulação da norma jurídica garante

ao Poder Judiciário, ainda que seus membros não sejam eleitos pelo povo, a legitimação social

necessária para que as decisões sejam cumpridas.

RELATÓRIO

AUDIÊNCIA DE INSTRUÇAO E JULGAMENTO

Data: 08/06/2015 Hora 17h55min


Ação: Reclamação TrabalhistaProcesso nº:0000213-62.2015.5.10.0103
Juiz: Osvani Soares DiasVara: 3° Taguatinga
Reclamante: Glauber Alves Ventura Adv.: Guilherme Rizzo
Reclamada: LEROY MERLINAdv.: Marcio Cardoso Santos

INTRODUÇÃO: Por determinação do professor, fui incumbido de presenciar na Sala de


Audiência da 3°Vara de Taguatinga, uma audiência de instrução e julgamento. Na data supra,
conforme ficha de freqüência própria, compareci a 3° Vara, onde obtivemos as informações
necessárias para este relatório.
31

DESENVOLVIMENTO: após o posicionamento das partes, Reclamante ao lado direito do Juiz,


Reclamado se posicional ao lado esquerdo onde os Advogados ficavam na cadeira próxima ao
Magistrado, foi Iniciada a audiência, presidida pelo MM. Juiz Dr. Osvani Soares Dias deu
abertura a sessão. O primeiro ato do Magistrado foi tentar conciliar uma tentativa de acordo
onde ambas as parte não chegaram a um denominador comum. O Juiz então deu inicio a sessão
solicitou que o Preposto da Reclamada se posicionasse fora da sala de audiência para que
recolhesse o depoimento do Reclamante permanecendo somente seu Advogado, de forma
genérica o Magistrado questionou as atribuições que eram delegadas ao Reclamante, encerrado
as pergunta do advogado ele perguntou se o Advogado da Reclamada teria algum
questionamento ao Reclamante, que por sua vez não tinha perguntas a serem feitas. Depois
do depoimento do Reclamante, solicitou a entrada do Preposto da Reclamada, para que fizesse
seu depoimento em juízo, a sistemática foi exatamente às mesmas, com mudanças suaves no
contexto das pergunta feita ao Preposto. Dado fim aos depoimentos, o Juiz deu inicio a oitiva
das testemunhas, onde todas tiveram seu depoimento suspeito por interesse, a testemunha do
autor era primo, ou parente de 4° grau familiar e ao responder ao juízo se ele estava ai apenas
para defender o Reclamante, sua resposta foi sem êxito que sim, da mesma forma as
testemunhas da Reclamada que ainda eram funcionarias ativas e também estavam ali
unicamente para defender os interesses da empresa.

APROVEITAMENTO: Pude presenciar a imparcialidade do Magistrado Osvani Soares Dias,


que como não teve oitiva de testemunha ele recolheu os relatos de uma das funcionarias com
Informante, constando nos autos a sua desqualificação como testemunha. Ao final da oitiva da
informante, ele declarou que o processo estava concluso para sentença.

Brasília, 09 de Junho de 2015.

PÔSTER ACADÊMICO
32
33

PROJETO DE PESQUISA

I -IDENTIFICAÇÃO

PROFESSOR: PAULO ROBERTO LYRIO PIMENTA

TEMA: AS LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS AO PODER DE TRIBUTAR NA

JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

GRUPO DE PESQUISA: JUSTIÇA TRIBUTÁRIA

II – JUSTIFICATIVA

No desenvolvimento de suas atividades regulares de interpretação e de

aplicação da Constituição Federal, o Supremo Tribunal Federal tem modificado nos últimos

anos o sentido de algumas das limitações ao poder de tributar, previstas pelo art. 150 do Texto

Magno.

No julgamento do Recurso Extraordinário no 343.446, por exemplo, que

versava sobre a constitucionalidade da contribuição para o Seguro de Acidente de Trabalho, a

Corte se posicionou no sentido de admitir que o regulamento pode traçar alguns critérios da

norma impositiva tributária, sem agredir com isso a regra da legalidade. Ao se posicionar dessa

forma, o Tribunal acabou defendendo a existência de uma legalidade com um significado

diverso daquele que lhe foi atribuído pela doutrina há muitas décadas, segundo a qual entre nós

o princípio em vigor seria o da “estrita legalidade”. O Pretório Excelso, nesse julgado, seguiu

entendimento diverso, aceitando a existência de uma forma mitigada ou mais branda de

legalidade, à medida que abriu espaço para o Poder Executivo, por meio de regulamento, poder

indicar a alíquota de um tributo.

Esse tipo de posicionamento, com todo respeito, acaba provocando

insegurança jurídica no administrado, posto que importa em modificação informal, por meio do
34

processo de interpretação, de uma Constituição rígida.

Isso justifica a realização de uma pesquisa que possa, em caráter mais

aprofundado, identificar em quais pontos a jurisprudência tem alterado o conteúdo semântico

das limitações constitucionais em epígrafe.

III – PROBLEMA(S)

1- Qual a interpretação que o Supremo Tribunal Federal tem concedido às

limitações ao poder de tributar?

2-O STF pode modificar, por meio da interpretação, o significado das limitações ao poder de

tributar, tradicionalmente traçado pela doutrina?

-Há limites à atividade desenvolvida pelo STF na interpretação das limitações

ao poder de tributar?

4-As modificações efetuadas pelo STF têm fundamento jurídico?

IV – HIPÓTESE(S)

O Supremo Tribunal Federal em alguns julgados tem modificado o sentido

das limitações ao poder de tributar tradicionalmente gizado pela doutrina do direito tributário,

gerando insegurança para os operadores do direito.

V- OBJETIVOS

Ao final do estudo pretende-se alcançar os seguintes objetivos:

a)identificar os julgados do STF em que a Corte se posicionou no sentido de

modificar o significado tradicionalmente construído em sede doutrinária acerca das limitações

ao poder de tributar;

b)confrontar tais decisões com a doutrina que versa sobre a matéria por elas

enfrentadas;

c)realizar uma análise crítica desses julgados, examinando seus fundamentos;

d)construir um posicionamento acerca do real significado atual das limitações


35

ao poder de tributar.

VI – RESULTADOS ESPERADOS

Possibilitar um estudo aprofundado da jurisprudência do Supremo Tribunal

Federal, demonstrando-se o descompasso existente entre a teoria e a prática, no que se refere

às limitações constitucionais ao Poder de Tributar.

VII – CRONOGRAMA

Coleta de dados: março de 2021 a dezembro de 2022. Análise de dados: junho de 2021 a maio

de 2023. Elaboração de textos: junho de 2023 a dezembro de 2023. Relatório final: novembro

a dezembro de 2023
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MEMORIAL

ALUNO: ILMAR ASSINY

MATRÍCULA: 201401295126

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA X VARA

CRIMINAL DA COMARCA DE XX ESTADO DO XXX

PROCESSO n°....

TÍCIO, já qualificado nos autos acima mencionados, por intermédio de seu

advogado que esta subscreve, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência,

tempestivamente, apresentar seus

MEMORIAIS

com fundamento legal nos artigo 403 § 3º do Código de Processo Penal, nos

termos a seguir aduzidos.

I-DOS FATOS

Ticio, solidário a gravidez de sua amiga Maria, ofereceu carona a mesma após

mais um dia de trabalho na empresa em que trabalham juntos. Ocorre que ao fazer uma curva

fechada, perdeu o controle do veículo automotor que capotou. Maria foi socorrida e enviada
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para o hospital mais próximo, onde foi constatado que não tinha ocorrido qualquer lesão com

ela. Contudo, na mesma ocasião constatou-se que a gravidez de Maria havia sido interrompida

em razão do acidente automobilistico. O Ministério Público da Comarca da Capital do Estado

XXXXX ofereceu denúncia em face de Tício e imputou ao mesmo a conduta descrita no delito

de aborto provocado por terceiro e, assim, incurso nas penas do art. 125 do CP.

II - DO DIREITO

A) Insta salientar que a conduta do agente foi culposa, em razão da

inobservância do dever de cuidado, não sendo possível o aborto culposo.

Sendo assim a conduta é atípica.

III - DO PEDIDO

1. A absolvição sumária nos termos do artigo 415, III do CPP:

Local, 14 de fevereiro de 2017. ADVOGADO

OAB
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RESENHA

Resenha crítica da obra Fundamentos do Direito

Misael Torquato Souza *

A obra inicia, em seu primeiro capítulo, com algumas considerações sobre o direito

objetivo e subjetivo. Interessante salientar o título da egrégia obra, pois o autor dos Fundamentos do

Direito trabalha mais com a desconstrução desses fundamentos do que os asseverando.

O direito subjetivo, enquanto “poder do indivíduo que vive em sociedade”, faculta-nos

diversas interpretações. Há explícito no senso comum a formalização da concepção de direito como

sendo inerente ao ser humano de uma forma transcendente. A inferência trivial parte do pressuposto

que aquilo que debilita ainda mais o desfavorecido constitui-se em si um crime, não em sua forma

positivada tão ciente dos juristas, mas um crime moral sob a ótica do vulgo. Crime enquanto injúria a

um direito subjetivo que este indivíduo, socialmente ou fisicamente debilitado, possui de não se tirar-

lhe o pouco que tem, seja esse pouco sua honra e dignidade ou mesmo pequenas posses. Nesse

sentido o direito subjetivo encontra-se acima de todo o positivismo do ordenamento jurídico de acordo

com o cisma popular. Assistimos à diversas manifestações que corroboram com nossa interpretação,

não raro vemos o senso comum proclamar que “tal lei é um crime”, é ilativo dessa inferência trivial que

o direito para o vulgo apresenta-se como algo que nos remete ao direito natural de matizes platônicas,

devendo ser necessariamente positivado quando manifesto aos homens. Ao mesmo tempo em que

deve ser rejeitada e até mesmo rechaçada qualquer forma de direito positivo-objetivo que venha de

encontro a esse direito natural almejado pelos homens. No dizer de Tércio Ferraz Jr o direito se

apresenta como uma dicotomia que necessariamente produz nos homens os sentimentos de

obediência e revolta em relação ao direito positivo, alvitrando-nos o deus Janus bifronte.

É, ao nosso ver, positiva a assertiva de Duguit em objetar a tese de que o direito só

existe em função e em relação ao estado. É equívoca tal concepção, uma vez que anteriormente ao

estado moderno temos a manifesta existência do direito. Não obstante dirão que as formas primitivas

de estado encontram-se na polis grega e na urbe romana, existindo aí, todavia, uma relação direta

entre o poder constituído da autonomia e a produção jurídica. A esse sofisma objetamos as relações
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comerciais, tanto as medievo-modernas quanto as primitivas, como prova o bastante que anteriormente

às proto-formas de estado nestas, ou ao estado-nação moderno naquelas, já existiam relações de

obrigações necessárias à atividade comercial existente desde a pré-história, exemplo que evidencia o

parecer de Duguit ao afirmar que “o direito tem um fundamento sólido, anterior e superior ao estado”,

quod erat demonstrandum. Contudo a trivialidade acadêmica insiste em ater-se a tão lúdico e vil

argumento, dentre outros, onde temos com veemência a posição de Hanz Kelsen e sua pirâmide

escalonária do ordenamento jurídico exclusivamente embasada na aridez do estado. Contra Kelsen

temos a posição de pensadores mais brilhantes como Schmitt e Platão. A visão platônica entendia que

o verdadeiro direito está na observação objetiva do mundo a nossa volta. Destarte Villey nos informa

que no pensamento de platão:

“O trabalho do jurista tem por finalidade descobrir o justo, é claro que a posição de Platão se afasta do

positivismo jurídico a que estamos habituados. Platão, como vimos, zomba dos decretos da assembléia

pública; é completamente estranho às doutrinas do contrato social, do voluntarismo, do democratismo

moderno.” (VILLEY, 2005, p.29)

Infere-se daí a impossibilidade do filósofo ateniense dar respaldo à ideologia

contratualista de entregarmos nossos direitos ao estado para que provenha dele toda e qualquer fonte

do direito. Kelsen no papel de anteparo maior do positivismo jurídico moderno, consta Carl Schmitt,

contradiz-se em sua obra. Uma vez que sendo o estado fonte única do direito de acordo com os

positivistas, é premissa maior do apotegma sua soberania para que o estado seja auto-suficiente

enquanto fonte “única”. Porém o neokantiano alemão trata o problema da soberania como algo a ser

reprimido radicalmente. Para Schimitt, “o estado deve manter o direito; ele é vigia, não mandante”.

(SCHIMITT, 2006, p. 25)

Duguit aborda a questão da sociabilidade humana como algo não produzido pela

boa-vontade, mas produto de sua debilidade diante da natureza. Denotado está esse anexim do filósofo

ao constatarmos que sua outra assertiva manifesta o desejo individualista humano, somente

concretizado através do convívio em sociedade. Adverte-nos o autor para não confundirmos no ser

humano sua necessidade que o encaminha à interdependência social com solidariedade.


40

À constatação do filósofo que “o homem só se concebe como verdadeiramente

solidário daqueles homens que pertencem ao seu grupo” ressaltamos não somente a veracidade de

suas palavras, como também corrobora ser infactível a utopia comunista a partir das premissas da

diversidade e do multiculturalismo. No Brasil há uma campanha impetuosa em favor das ditas ações

afirmativas e da diversidade cultural, campanha essa fadada ao malogro à luz das palavras de Duguit.

Uma vez que os próprios vocábulos admitem a divisão, à luz de Duguit estamos colocando homens

diferentes e sem o menor interesse em resguardo mútuo sob forçosa solidariedade que inevitavelmente

entrará em rota de colisão com os interesses de um ou outro grupo. Há, porém, uma contradição em

suas palavras no momento em que afirma ser não só possível, como inevitável, o dia em que o homem

romperá as cadeias do sectarismo e considerar-se-á cidadão do mundo. Arrola o autor as formas de

solidariedade entre os homens em duas distintas, a saber a solidariedade por similitude e por divisão

de trabalho. Essa última nos parece equivocada, uma vez que se acompanharmos a seqüência lógica

do texto em questão inferimos que não a divisão, mas a variabilidade das aptidões para o trabalho em

meio à sociedade é que gera a solidariedade social. Duguit trabalha esse conceito a partir de Durkheim,

que por sua vez é categórico ao afirmar que a solidariedade por similitude é tão mais forte quanto menor

for a personalidade, ou seja, a individualidade de cada um. Interpretamos no texto de Durkheim que a

necessidade de variabilidade de divisões do trabalho é vital para a sociedade capitalista. Essa forma

de solidariedade possui um sistema de interpenetração com a divisão dos homens na sociedade. Pois

o que difere nos homens é o que os torna interdependentes, suas diversas aptidões os obrigam a

conviverem, porém de forma alguma em harmonia uma vez que essas mesmas diferenças geram

outras diferenças de necessidades e interesses que os impelem necessariamente à competição e à

emulação. Essa frágil união é alimentada apenas pela necessidade dos homens de sobrevivência,

enquanto sua divisão fortalece-se pelos interesses diversos dos indivíduos diversos. Para revigorar

essa união torna-se necessário apelar para o espetáculo social de Guy Debord, que assevera ser na

aparência que se fundem a unidade e a divisão social. Para Debord

“O espetáculo, da mesma forma que a moderna sociedade, está ao mesmo tempo unido e dividido. Ele

edifica a sua unidade sobre o dilaceramento. A contradição, quando emerge no espetáculo, é contradita

pela inversão do seu sentido; de modo que a divisão mostrada é unitária, enquanto que a unidade

mostrada está dividida”. (Debord, 2003, III-54).


41

Toda nossa digressão sobre o assunto anterior serve tão somente para provar

inviável a constatação de Duguit ao afirmar que a humanidade caminha para o inevitável

cosmopolitismo redentor. Pois por ambos os caminhos chegamos à divisão e conseqüente dilaceração

da solidariedade humana. No primeiro temos um sectarismo de grupos na hipotrofia do indivíduo em

proveito do coletivo, no segundo há o sectarismo de indivíduos na hipertrofia do individualismo em

detrimento do coletivo. , ou seja, muitas vezes as aparências levam o juízo a enganar-se. (Tosi, 2000,

p.101)

O homem só vive em sociedade em conseqüência de sua prostração frente às

objeções da vida. Havendo a necessidade da convivência social nasce com essa convivência o direito.

Sendo o direito em si mesmo ordem, dessa ordem nascerá conseqüentemente uma hierarquia dos

aplicadores da ordem sobre os receptores, mais que perfeita está então a colocação de Duguit:

“O homem vive em sociedade e só pode viver em sociedade; a sociedade subsiste

apenas pela solidariedade que une os indivíduos que a compõem. Por conseqüência, uma regra de

conduta impõe-se ao homem social pela própria força das coisas, e essa regra pode formular-se deste

modo: nada fazer que atente contra a solidariedade social sob qualquer das suas duas formas e fazer

tudo o que for de natureza a realizar e a desenvolver a solidariedade social mecânica e orgânica.”

(Duguit, 2005, p. 23)

Ao demonstrar nas páginas seguintes a individualidade da regra, diretamente

alicerçada nas individualidades humanas, Duguit contesta a proclamada igualdade absoluta dos

homens, contestação inequívoca do autor à máxima sofista outorgada pela revolução burguesa de

1789. Surpreendentemente o autor vai de encontro ao mais francês de todos os adágios modernos,

sendo ele mesmo francês, abjurando o pensamento igualitário ao demonstrar que a sociedade justifica-

se em suas próprias diferenças e nas necessidades complementares de seus associados.

Colocamo-nos em divergência com Duguit quando o mesmo impugna o conceito

jusnaturalista como direito ideal e absoluto. Pois ao nosso ver esse é o real exórdio para inserirmos o

Direito no rol das ciências, senão vejamos a ciência é, segundo o Dicionário Caldas Aulete, a soma ou
42

conjunto de conhecimentos sobre variados objetos, e quando ínsita à regras o faz no campo do ser e

não do dever ser como as regras de funcionamento de um organismo vivo. Diferentemente quando se

trata das regras de um idioma, que não se pode enxergar como ciência, sendo tão somente aplicação

de regras no campo do dever ser. Tanto quanto um idioma não será uma ciência enquanto pura

aplicação de normas, também o Direito perde seu status de ciência, uma vez que deixa de ser a ciência

do justo, como o já citado dicionário afirma que direito é “aquilo que é moralmente justo”. Platão informa

que a missão do homem político é a descoberta do justo, é de Platão que recebemos o conceito de que

uma lei iníqua não é lei, mas perversão da mesma. A outra premissa que encadeia-se no silogismo

platônico é o fato de que o positivismo jurídico engessa o estado. Remete-nos esse silogismo ao início

do presente trabalho, passamos a entender a percepção trivial do direito natural como algo que

pertence ao indivíduo desde o seu nascimento, intrínseco ao ser humano independente de sua

condição.

Parece-nos difícil a compreensão da assertiva de Duguit quando assevera que “a

regra do direito... não é uma regra ideal e absoluta, da qual os homens devem esforçar-se por se

aproximar cada vez mais; é uma regra variável e mutável” ( Duguit, 2005, p.24), uma vez que se

entendermos essa regra do direito como o direito positivo que os homens devem constantemente

melhorá-lo, o autor estaria colocando-se como jusnaturalista ao afirmar a mutabilidade do direito, depois

de toda sua digressão sobre a regra aplicada ao indivíduo. Todavia, se entendermos essa regra como

direito subjetivo, ainda que não ideal e absoluto, teremos na própria declaração do autor sua

contraposição ao jusnaturalismo. De qualquer maneira, parece-nos difícil a compreensão desses

axiomas a partir de uma única leitura.

Perscrutamos em seu texto a defesa da liberdade como direito incontestável,

observa-se a simples defesa do dever do indivíduo de desenvolver plenamente suas aptidões para

justificar sua liberdade. Ora, também na Roma Antiga os escravos tinham esse dever, e não há que se

considerar sensato que havendo uma aptidão do indivíduo, seu mestre não a descobrisse a tempo de

fazer uso da mesma. Se não temos aí uma demonstração evidente de um direito natural permeado no

coração dos homens, não sei onde mais a teremos. Posto que o malogro em bem conceituar o ideal

da liberdade não dá direito a ninguém de atentar contra a liberdade alheia, percebemos haver um direito
43

natural que não nos permitimos usurpar a ninguém.

Ao apresentar-nos a dicotomia do governo teocrático versus governo democrático,

Duguit trabalha com o enfrentamento Platão versus Aristóteles em suas concepções de direito dos

deuses contra direito dos homens. Confronto esse que atravessou a história vindo assentar-se na luta

de classes marxista, ambas as formas de governo em sua produção de direito demonstraram excessos

ao longo da história. Não somente o despotismo absolutista foi capaz de gerar revoltas, senão vejamos

os excessos das assembléias populares atenienses, ou quando a inveja provocou a expulsão de Camilo

da república romana e se tivemos no século XX os horrores do nazi-fascismo europeu, o que dizer de

nossa dita democracia que fundamenta-se em grupos organizados capazes de sob o manto da

democracia fazer vingar verdadeiras ditaduras das minorias. Integérrima a afirmação do autor ao

solicitar meios de resguardo do indivíduo contra os ditames dos parlamentos, leia-se parlamentos

submetidos à peita dos grupos organizados que se ocultam sob a farsa da inóxia.

Em sua crítica das doutrinas democráticas, Duguit remete o princípio da soberania,

pertencente exclusivamente à nação, embargando qualquer pretensão de facções e indivíduos ao

exercício da mesma. As ditas ações afirmativas que permeiam nossa “democracia” estão locupletadas

pelos vícios demagógicos que arrevesam a democracia em tirania de grupos. Tirania essa que já

conseguiu envenenar nossa constituição com um anexim igualitário que se sustenta na inversão da

igualdade. O sistema encerra seu ciclo na formação acadêmica dos futuros operadores do direito que

devem, de acordo com a alocução esquerdocrata, saírem das faculdades intoxicados de Michel

Foucault. A anamorfose demagógica já era admoestada por Aristóteles em sua política, coisa que os

Romanos, mais brilhantes que os Gregos na Arte Política, souberam sobrepujar.

Duguit faz perfeita crítica ao Contrato Social de Rousseau, ao demonstrar que a soberania não está

em momento algum distribuída entre os cidadãos, mas nas mãos e nas conveniências da maioria. Essa

parte final requer uma crítica de nossa parte, pois a democracia tem demonstrado que também as

minorias podem impor suas vontades arrogando-se à pretensão do uso da soberania, tornando

inquestionáveis seus sofismas. Sob o prognóstico de maiores mazelas sociais a maioria torna-se

consenciente à ditadura ideológica da minoria, amparada pela muito bem dissimulada máscara do
44

inóxio que encobre terrificante deletério social.

O autor desvanece o sofisma rousseauniano ao equiparar o poder despótico dos

reis com o poder despótico das assembléias populares, requisitando meios de defesa contra as burlas

das assembléias populares da mesma forma que se exigiram garantias contra o poder absoluto. No

dizer de D uguit, “uma coisa injusta permanece injusta por mais que seja ordenada pelo

povo ou seus representantes”. (DUGUIT, 2005, p. 40)

Duguit vaticina a submissão da “democracia” à força dos grupos sociais

organizados, arrola as técnicas dos governos teocráticos na tentativa de legitimar suas ações

estapafúrdias perante seus súditos. Afixa o autor o direito divino, a vontade social, a soberania nacional

como palavras sem valor entre tantos outros sofismas. Hoje vemos somarem-se à esses sofismas

tantos outros, como a soberania popular, a vontade democrática estabelecida, as ações afirmativas e

outras tantas aberrações perpetradas pela patuscada democrática. Vale também para os democratas,

e principalmente os esquerdocratas que a controlam, a observação de Duguit que “os governantes

querem enganar os seus súditos e se enganam a si mesmos.” Uma vez que como religiosos fanáticos,

esquecem de olhar para o mundo com os pés no chão e passam a acreditar nas próprias mentiras que

usaram para lidimar-se no poder.

A posição de Duguit com relação à dicotomia jus naturalismo/jus positivismo torna-se mais albinitente

quando o mesmo posiciona-se em favor do jus positivismo refutando o caráter singular do mesmo,

asseverando que o costume continua a desempenhar papel importante em nossa sociedade jus

positivista, mesmo Kelsen em sua obra Teoria Geral do Direito e do Estado não deixou de fazer menção

ao dessuetudo. Não podemos deixar de concordar com a proposição do autor, uma vez que o direito

continental moderno é eminentemente positivo, embora a força consuetudinária ainda se faça sentir,

com ênfase na inferência trivial, provando que o jus naturalismo está longe do seu ocaso.
45

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS

JURÍDICAS DEPARTAMENTO DE DIREITO

CURSO DE DIREITO

Eloísa Loch de Souza

A Covid-19 no Brasil e a vacinação obrigatória: abordagens jurídicas constitucionais

sobre o conflito entre os direitos à liberdade e saúde pública.

Florianópolis/SC

2022
46

Eloísa Loch de Souza

A Covid-19 no Brasil e a vacinação obrigatória: abordagens jurídicas

(constitucionais) sobre o conflito entre os direitos à liberdade e saúde pública.

Trabalho Conclusão do Curso de Graduação em Direito do

Centro de Ciências Jurídicas da Universidade Federal de

Santa Catarina como requisito para a obtenção do título de

Bacharel em Direito.

Orientador: Professor Doutor Luiz Henrique Urquhart

Cademartori.

Florianópolis/SC

2022
47

Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através do Programa de

Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC.

Souza, Eloísa Loch de

A Covid-19 no Brasil e a vacinação obrigatória: abordagens jurídicas constitucionais

sobre o conflito entre os direitos à liberdade e saúde pública. / Eloísa Loch de Souza ; orientador, Luiz

Henrique Urquhart Cademartori, 2022.

62 p.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) - Universidade Federal de Santa

Catarina, Centro de Ciências Jurídicas, Graduação em Direito, Florianópolis, 2022.

Inclui referências.

1. Direito. 2. Vacinação obrigatória. 3. Covid-19. 4. Direito Constitucional. 5. Saúde Pública. I.

Cademartori, Luiz Henrique Urquhart. II. Universidade Fede

.
48

1 DESENVOLVIMENTO (Pode ser dividido em seções, de acordo com o tipo de trabalho,


seguindo a estrutura recomendada pelo orientador para a abordagem do tema)

Desde os idos mais remotos da humanidade, mesmo nas sociedades mais

primitivas ou mesmo entre os animais, a busca pelo alívio da dor e pela cura das doenças sempre

foi tentada.

Entretanto, a história demonstra que a sociedade, ao adquirir algum grau de


desenvolvimento, conhecendo melhor o organismo, suas enfermidades e
tratamentos, trata de normatizar a formação dos médicos e disciplinar o
exercício da Medicina. (SOUZA, 2001, p. 39).

1.1 TÍTULO NÍVEL 2 – SEÇÃO SECUNDÁRIA

Assim, .....

1.1.1 Título Nível 3 – Seção Terciária

Como...

1.1.1.1 Título nível 4 – Seção quaternária

Parágrafo...

a) alínea 1;

b) alínea 2,

- subalínea 1;

c) alínea 3.
49

1.1.1.1.1 Título nível 5 – Seção quinária

Parágrafo....:
50

2 CONCLUSÃO

Responde-se aos objetivos sem, no entanto, justificá-los.


51

REFERÊNCIAS

[SOBRENOME], [Nome]. [Título da obra]. [Edição]. [Cidade]: [Editora], [Ano de


Publicação]. [número de páginas].

AAKER, David Austin. Criando e administrando marcas de sucesso. São Paulo:


Futura, 1996.

ALVES, Maria Leila. O papel equalizador do regime de colaboração estado-


município na política de alfabetização. 1990. 283 f. Dissertação (Mestrado em
Educação) - Universidade de Campinas, Campinas, 1990. Disponível em:
<http://www.inep.gov.br/cibec/bbe-online/>. Acesso em: 28 set. 2001.

BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Texto do Decreto-Lei n.º 5.452, de 1


de maio de 1943, atualizado até a Lei n.º 9.756, de 17 de dezembro de 1998. 25 ed.
atual. e aum. São Paulo: Saraiva, 1999.

CARVALHO, Maria Cecília Maringoni de (Org.). Construindo o saber: metodologia


cientifica, fundamentos e técnicas. 5. ed. São Paulo: Papirus, 1995. 175 p.

CURITIBA. Secretaria da Justiça. Relatório de atividades. Curitiba, 2004.

DEMO, Pedro. Pesquisa: princípio científico e educativo. 6. ed. São Paulo: Cortez,
1999.

______. Metodologia do conhecimento científico. São Paulo: Atlas, 2000.

MAINGUENEAU, Dominique. Elementos de lingüística para o texto literário. São


Paulo: Martins Fontes, 1996.

RAMPAZZO, Lino. Metodologia científica: para alunos dos cursos de graduação e


pós-graduação. Lorena, SP: Stiliano; São Paulo: UNISAL, 1998.

REIS, José Luís. O marketing personalizado e as tecnologias de Informação.


Lisboa: Centro Atlântico, 2000.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Biblioteca Central. Normas para


apresentação de trabalhos. 2. ed. Curitiba: UFPR, 1992. v. 2.
52
53
54
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS
DEPARTAMENTO DE DIREITO
CURSO DE DIREITO

Eloísa Loch de Souza

A Covid-19 no Brasil e a vacinação obrigatória: abordagens jurídicas


constitucionais sobre o conflito entre os direitos à liberdade e saúde pública.

Florianópolis/SC
2022
Eloísa Loch de Souza

A Covid-19 no Brasil e a vacinação obrigatória: abordagens jurídicas


(constitucionais) sobre o conflito entre os direitos à liberdade e saúde pública.

Trabalho Conclusão do Curso de Graduação em Direito do


Centro de Ciências Jurídicas da Universidade Federal de
Santa Catarina como requisito para a obtenção do título de
Bacharel em Direito.
Orientador: Professor Doutor Luiz Henrique Urquhart
Cademartori.

Florianópolis/SC
2022
Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através do Programa de Geração
Automática da Biblioteca Universitária da UFSC.

Souza, Eloísa Loch de

A Covid-19 no Brasil e a vacinação obrigatória:


abordagens jurídicas constitucionais sobre o conflito entre
os direitos à liberdade e saúde pública. / Eloísa Loch de
Souza ; orientador, Luiz Henrique Urquhart Cademartori,
2022.
62 p.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) -


Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências
Jurídicas, Graduação em Direito, Florianópolis, 2022.

Inclui referências.

1. Direito. 2. Vacinação obrigatória. 3. Covid-19.


4. Direito Constitucional. 5. Saúde Pública. I. Cademartori,
Luiz Henrique Urquhart. II. Universidade Federal de Santa
Catarina. Graduação em Direito. III. Título.
SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
COORDENADORIA DO CURSO DE DIREITO
CAMPUS UNIVERSITÁRIO REITOR JOÃO DAVID FERREIRA LIMA -
TRINDADECEP: 88040-900 - FLORIANÓPOLIS - SC
TELEFONE (048) 3721-9292 - FAX (048) 3721-9815
E-mail: ccgd@ccj.ufsc.br

TERMO DE APROVAÇÃO DE TCC

O presente Trabalho de Conclusão de Curso,


intitulado “A Covid-19 no Brasil e a vacinação obrigatória: abordagens jurídicas
(constitucionais) sobre o conflito entre os direitos fundamentais à liberdade e saúde
pública”, elaborado pelo(a)acadêmico(a) Eloísa Loch de Souza defendido nesta data e
aprovado pela Banca Examinadora composta pelos membros abaixo assinados, obteve
aprovação com nota 10 (dez), cumprindo orequisito legal previsto no art. 10 da Resolução
nº 09/2004/CES/CNE, regulamentado pelaUniversidade Federal de Santa Catarina, através
da Resolução nº 01/CCGD/CCJ/2014.

Florianópolis, 19/07/2022.

Luiz Henrique Urquhart Cademartori

Bernardo Lajus dos Santos

Daniel Rocha Chaves

Ronaldo Barbosa
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COORDENADORIA DO CURSO DE DIREITO
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TRINDADECEP: 88040-900 - FLORIANÓPOLIS - SC
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TERMO DE RESPONSABILIDADE PELO INEDITISMO


DO TCC E ORIENTAÇÃO IDEOLÓGICA

Aluno (a): Eloísa Loch de Souza

Matrícula: 18200730
Título do TCC: “A Covid-19 no Brasil e a vacinação obrigatória: abordagens
jurídicas (constitucionais) sobre o conflito entre os direitos fundamentais à liberdade
e saúde pública”
Orientador: Luiz Henrique Urquhart Cademartori

Eu, Eloísa Loch de Souza, acima qualificada venho, pelo presente termo,
assumir integral responsabilidade pelaoriginalidade e conteúdo ideológico apresentado
no TCCde minha autoria, acima referido.

Florianópolis, SC, 19 de julho de 2022.

Eloísa Loch de Souza


AGRADECIMENTOS

Agradeço a Universidade Federal de Santa Catarina e aos professores do curso de


Direito pelos inúmeros aprendizados nos últimos anos. Agradeço em especial o orientador do
trabalho, professor Luiz Henrique Cademartori, pelo apoio e dedicação.
O que não me contaram sobre a jornada acadêmica é que por vezes, mais difícil do que
os estudos, leituras e escritas é coordenar o bem-estar emocional com os desafios da
universidade. Dessa forma, ao concluir mais esse passo em minha graduação, não posso deixar
de agradecer aqueles que seguraram minha mão e me incentivaram. Que as vezes colocam mais
fé em mim do que eu mesma e me motivaram a fazer mais e melhor. Meu sincero agradecimento
a minha família, meus amigos e ao Bethel 22 “Flores do Cambirela”.
RESUMO

A pandemia da Covid-19 alterou consideravelmente a vida de bilhões de pessoas, além de tirar


a vida de milhões. As vacinas surgem como esperança na prevenção e combate a diversas
doenças, entretanto, diversos grupos insistem em atacar a sua eficiência usando discursos
pseudocientíficos. O problema a ser estudado nessa pesquisa é a análise constitucionalidade das
restrições impostas a pessoas não vacinadas visando a vacinação em massa e imunidade de
rebanho. A hipótese proposta é de que o conceito de liberdade presente na Constituição Federal
não é absoluto, ficando restrito a liberdade de agir conforme o que a legislação permite,
possibilitando a criação de normas que criam constrangimentos para pessoas que recusam os
imunizantes. A metodologia utilizada foi o método dedutivo, partindo de conceitos absolutos
sobre os direitos fundamentais para chegar a análise do caso concreto. Foram utilizados meios
de pesquisa bibliográfico, legislativo e jurisprudencial. O presente trabalho buscou fazer um
panorama geral acerca da doença e um recorte sobre seus efeitos no Brasil. Também são
apresentadas leis brasileiras que vão de encontro a necessidade de imunização e precedentes do
Supremo Tribunal Federal sobre a imunização obrigatória da Covid-19. São apresentados
alguns dos principais fatores que levam a recusa da imunização e as consequências disto para a
sociedade. Por fim, é feita a conceitualização dos direitos fundamentais envolvidos sob uma
perspectiva garantista, analisando também a proporcionalidade da obrigatoriedade da vacinação
enquanto forma de promover a garantia ao direito à saúde. Conclui-se que frente a eficiência
comprovada dos imunizantes e a necessidade da “imunidade de rebanho” para frear a
contaminação por doenças imunopreviníveis, a vacinação obrigatória é um meio constitucional
de buscar garantir o acesso a saúde aos brasileiros. Assim, infere-se que o verdadeiro antídoto
para o combate às epidemias é a cooperação social e internacional para o acesso amplo e
democrático à imunização.

Palavras-chave: Coronavírus; Vacinação obrigatória; Constitucionalismo garantista;


Proporcionalidade; Vacinação contra Covid-19.
ABSTRACT

The Covid-19 pandemic has considerably altered the lives of billions of people, as well as taking
the lives of millions. Vaccines appear as a hope in preventing and combating various diseases,
however, several groups insist on attacking their efficiency using pseudoscientific discourses.
The problem to be studied in this research is the constitutionality analysis of restrictions
imposed on unvaccinated people aiming at mass vaccination and herd immunity. The proposed
hypothesis is that the concept of freedom present in the Federal Constitution is not absolute,
being restricted to the freedom to act according to what the legislation allows, allowing the
creation of norms that create constraints for people who refuse immunizations. The
methodology used was the deductive method, starting from absolute concepts about
fundamental rights to arrive at the analysis of the concrete case. Bibliographic, legislative and
jurisprudential means of research were used. The present work sought to make an overview of
the disease and an overview of its effects in Brazil. Brazilian laws that meet the need for
immunization and precedents of the Federal Supreme Court on mandatory immunization of
Covid-19 are also presented. Some of the main factors that lead to the refusal of immunization
and the consequences of this for society are presented. Finally, the fundamental rights involved
are conceptualized from a guaranteeing perspective, also analyzing the proportionality of
mandatory vaccination as a way of promoting the guarantee of the right to health. It is concluded
that in view of the proven efficiency of immunizers and the need for "herd immunity" to stop
contamination by vaccine-preventable diseases, mandatory vaccination is a constitutional
means of seeking to guarantee access to health for Brazilians. Thus, it is inferred that the true
antidote to combat epidemics is social and international cooperation for broad and democratic
access to immunization.

Keywords: Coronavirus; Mandatory vaccination; guarantor constitutionalism; Proportionality;


Vaccination against Covid-19.
LISTA DE ABREVIATURAS

ADI Ação Direta de Inconstitucionalidade


ADPF Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental
ARE Agravo em Recurso Extraordinário
ANS Agência Nacional de Saúde Suplementar
CPI Comissão Parlamentar de Inquérito
HC Habeas Corpus
OMS Organização Mundial da Saúde
OPAS Organização Pan-Americana da Saúde
PNI Programa Nacional de Imunizações
STF Supremo Tribunal Federal
STP Suspensão de Tutela Provisória
UTI Unidade de Tratamento Intensivo
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ……………………………………………………........ 10

2 COVID 19 NO BRASIL ……………………………………………....... 12


2.1 PANORAMA GERAL SOBRE A PANDEMIA DA COVID-19 NO
BRASIL .......................................................................................................15
2.2 OBRIGATORIEDADE DA VACINAÇÃO NO BRASIL E AS
LEGISLAÇÕES NESSE SENTIDO .......................................................... 20
2.3 JURISPRUDENCIA DO STF DURANTE A PANDEMIA QUANTO A
OBRIGATORIEDADE DA VACINAÇÃO: ASPECTOS DESTACADOS
......................................................................................................................26

3 DEBATE DE PONTOS CONTROVERSOS ......................................... 31


3.1 DESENVOLVIMENTO, EFICÁCIA E TESTAGEM DAS VACINAS .. 34
3.2 NEGACIONISMO CIENTÍFICO .............................................................. 36
3.3 AUTONOMIA PRIVADA E SAÚDE COLETIVA .................................. 38

4 CONSTITUCIONALISMO E DIREITOS FUNDAMENTAIS ........... 40


4.1 DIREITOS FUNDAMENTAIS EM PAUTA ............................................ 40
4.2 OS DIREITOS FUNDAMENTAIS E SUAS IMPLICAÇÕES NAS
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL ..................................43
4.3 ANÁLISE DA QUESTÃO SOB O VIÉS CONSTITUCIONALISTA ..... 45

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................. 52

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................... 53


10

1 INTRODUÇÃO

Em dezembro de 2019 a Organização Mundial da Saúde foi notificada acerca de


números muito expressivos de casos de pneumonia na cidade de Wuhan na China.
Pesquisadores apontaram então a descoberta de um novo tipo de coronavírus, que passou a ser
chamado de SARS-CoV-2. No mês de janeiro do ano seguinte, o órgão internacional passou a
tratar a questão enquanto emergência sanitária de nível máximo. Os casos de COVID-19
aumentaram exponencialmente e se alastraram pelo globo, até que a doença passou a ser tratada
como pandemia.

O vírus deixou rastros de sequelas e mortes por onde passou e ativou alerta máximo em
diversas autoridades científicas que passaram a recomendar o isolamento social e medidas como
o “lockdown” para tentar frear a proliferação do vírus. Entretanto, em paralelo a essas medidas,
discursos negacionistas ganham audiência ao compararem a pandemia a “uma gripezinha”,
criando as mais diversas teorias da conspiração para desobedecer aos protocolos sanitários
recomendados pelas autoridades científicas.

No Brasil, ainda em fevereiro de 2020 foi sancionada a Lei 13.979, estabelecendo


medidas de enfrentamento e procedimentos a serem seguidos no combate ao vírus. O Governo
Federal foi palco de grandes polêmicas em torno do negacionismo científico, repúdio ao
isolamento e incentivo ao consumo de medicamentos sem eficiência contra a COVID-19. Nesse
contexto, os governos estaduais assumiram o protagonismo no combate aos números crescentes
de infecções e mortes. Até o mês de abril de 2022 o Brasil já possuía aproximadamente 660 mil
mortos e 30 milhões de pessoas infectadas pelo vírus.

A pandemia provocada pelo coronavírus alterou a rotina de bilhões de pessoas ao redor


do mundo, impondo modificações drásticas em suas vidas. Após meses de crise sanitária e
milhões de mortes, a vacina chega ao Brasil e começa a ser distribuída à população. Entretanto,
uma parcela da população utiliza de discursos negacionistas e pseudocientíficos para evitar a
imunização.

Em um contexto onde a chamada “imunidade de rebanho” só pode ser atingida com a


vacinação em massa da população, surge o questionamento: Até onde vai a liberdade individual
em não querer se imunizar? Medidas surgem para constranger as pessoas a se vacinarem, como
o passaporte vacinal que busca restringir o acesso de pessoas não vacinadas a certos ambientes.
11

A OMS estima que as vacinas salvem entre 2 e 3 milhões de vidas por ano, entretanto,
diversos fatores influenciam as pessoas a não se vacinarem, como crenças religiosas, medo dos
efeitos colaterais, desconfiança da indústria farmacêutica, entre vários outros.

Grupos extremistas pronunciam-se contra essas medidas por entenderem que estariam
sendo lesados, configurando uma suposta ofensa ao seu direito fundamental de liberdade. Nesse
sentido, é constitucional restringir algumas liberdades individuais visando promover a
vacinação e a saúde pública? Para examinar essa questão, será utilizado o viés constitucionalista
garantista, bem como, a análise dos direitos fundamentais atingidos por esse tema.

O método a ser utilizado para a elaboração da pesquisa é o dedutivo, partindo de


conceitos gerais dos direitos fundamentais e do constitucionalismo para analisar o caso
específico da obrigatoriedade da vacinação e das restrições aos indivíduos que rejeitam a
vacina, bem como, a vinculação dos particulares aos direitos coletivos. Além disso, outro ponto
a ser visto na pesquisa é a pandemia da covid-19 e seus efeitos no Brasil, além de uma
contextualização histórica sobre a obrigatoriedade de imunização para diversas doenças no
Brasil.

O primeiro capítulo é dedicado a entender o surgimento da pandemia de Covid-19, em


especial as suas consequências no Brasil. Ainda, é feito um recorte histórico e legislativo da
obrigatoriedade da vacinação, analisando também algumas das decisões do Supremo Tribunal
Federal acerca da obrigatoriedade da vacinação durante a pandemia.

O segundo capítulo visa entender a criação, funcionamento e testagem das vacinas, além
de promover o debate de alguns dos inúmeros pontos controversos e entender os fatores que
influenciam a negação da imunização, dando destaque ao negacionismo científico e a
preponderância do individualismo frente ao bem-estar e saúde coletiva.

No último capítulo, cabe conceituar o que são direitos fundamentais, em especial o


direito fundamental à saúde conforme previsto pela Constituição brasileira. Em seguida, é
realizada uma análise da questão sob o viés constitucionalista, em especial, com base nos
estudos da proporcionalidade e do garantismo jurídico.
12

2 COVID 19 NO BRASIL

A Covid-19 alterou fundamentalmente as dinâmicas sociais, causando efeitos nas mais


diversas searas e danos irreparáveis à humanidade. Essa doença é causada pelo chamado “novo
coronavírus”, que rapidamente ultrapassou fronteiras geográficas por todo o mundo, deixando
um rastro de destruição em seu caminho.

Os coronavírus recebem esse nome em função de seu aspecto morfológico, as proteínas


que o formam configuram uma espécie de coroa (corona, em italiano) em torno do ácido
nucleico que compõe seu material genético. Eles estão presentes por toda a parte, sendo a
segunda principal causa de resfriados, entretanto esses vírus têm grande capacidade de mutação
e algumas dessas alterações em sua composição representam grandes problemas (OPAS, OMS,
2022).

No ano de 2019 na China foi relatada uma mutação em um vírus da família dos
coronavírus chamada “Severe Acute Respiratory Syndrome-Corona Virus-2 (SARS-CoV-2)”,
e sua manifestação clínica passou a ser chamada de Covid-19 (DUARTE, 2020). Em dezembro
do mesmo ano, a Organização Mundial da Saúde foi notificada acerca de números muito
expressivos de casos de pneumonia na cidade de Wuhan, em Hubei, na China.

Nesse ponto, já haviam sido registradas mais de 4 mil mortes causadas por essa doença
no país, acendendo sinal de alerta aos epidemiologistas. Rapidamente a doença se espalhou por
outros países asiáticos, atingindo também a Europa e a América.

No fim de janeiro de 2020 o vírus já estava presente em diversos países e recebeu o


status de ESPII por parte da Organização Mundial da Saúde. Essa classificação só havia sido
atribuída para outras cinco ocasiões: a pandemia de H1N1 em 2009, a disseminação de
poliovírus e o surto de ebola na África Ocidental em 2014, em 2016 o aumento dos casos de
microcefalia e outras malformações congênitas causadas pelo Zikavírus e em 2018 a grande
disseminação de ebola na República Democrática do Congo (OPAS, OMS, 2022).

Dessa forma, em 11 de março de 2020 após fazer vítimas em metade dos países no
mundo e ter mais de sessenta casos confirmados no Brasil, a Covid-19 recebeu a classificação
de pandemia. O termo pandemia não está ligado diretamente a sua gravidade, e sim a escala
geográfica de sua proliferação, atingindo proporções globais (CHARLEAUX, 2020).
13

O termo pandemia designa a proliferação de uma nova doença, a qual a população


mundial não possui imunidade, com disseminação em escala planetária de uma nova doença.
Enquanto uma epidemia é um surto que afeta uma região específica, a pandemia se espalha por
diferentes continentes com transmissão sustentada de pessoa para pessoa. (FIOCRUZ, 2021)

Os sintomas da Covid-19 costumam ser febre, cansaço e tosse seca, mas podem incluir
dores de cabeça, perda de paladar ou olfato. Em casos mais graves da doença pode ocorrer a
obstrução de vias respiratórias, gerando doenças pulmonares que podem levar a morte. A taxa
de letalidade da doença varia muito com base nas políticas de prevenção, tratamento e testagem
da população, além de depender das capacidades locais dos sistemas de saúde e conhecimentos
clínicos e epidemiológicos.

Pessoas contaminadas podem espalhar o vírus ao tossir, espirrar, falar ou respirar. A


contaminação ocorre de forma rápida, principalmente pelas vias respiratórias ou contato com
superfícies contaminadas, seguido de contato com nariz, boca ou olhos. As formas de prevenção
recomendadas pelas autoridades de saúde passaram a ser o cancelamento de grandes eventos,
uso de máscaras, higienização das mãos com frequência, distanciamento social e, quando
possível, isolamento em domicílio (OMS, OPAS, 2022).

O termo quarentena surgiu no século XIV, quando os navios que vinham de regiões com
casos de peste bubônica deveriam fazer um isolamento de quarenta dias antes de atracar no
porto de Veneza, buscando fazer com que mesmo os casos assintomáticos se manifestassem,
rompendo a incubação do vírus e possibilitando o isolamento dos infectados.

Já o isolamento social prevê a separação daqueles que apresentam sintomas para evitar
que transmitam a doença as pessoas não infectadas, mas ele se torna pouco efetivo tendo em
vista que pessoas assintomáticas e pré-sintomáticas também podem espalhar o vírus. Por sua
vez, o distanciamento social levanta a necessidade de isolamento de todas as pessoas de
determinada região. Essa forma de intervenção, por vezes chamada de “lockdown” tornou-se
comum em diversos países, enquanto em outros era muito de disputa política
(WILDERSMITH, FREEDMAN, 2020).

Dessa forma, por meses diversas pessoas se viram presas em casa, saindo apenas para
as atividades mais urgentes, e mesmo nessas ocasiões se fazia necessário manter o
distanciamento de pelo menos um metro e meio de distância entre as pessoas. Para alguns isso
14

significou uma virtualização do contato social, mas em diversos casos por falta de acesso à
tecnologia, isso não foi possível.

O vírus deixou rastros de sequelas e mortes por onde passou e ativou alerta máximo em
diversas autoridades científicas que passaram a recomendar o isolamento social e medidas como
o “lockdown” para tentar frear a proliferação do vírus. Entretanto, em paralelo a essas medidas,
discursos negacionistas ganharam audiência ao compararem a pandemia a “uma gripezinha”,
criando as mais diversas teorias da conspiração para furar as quarentenas recomendadas pelas
autoridades científicas.

Nesse contexto, instaura-se um clima de incerteza quanto à saúde das pessoas e rápida
proliferação da doença. Com isso, foi notória a perda de empregos em diversos setores, além
da mudança de trabalho ao regime home office quando isso era possível. Os primeiros meses
da pandemia foram marcados por intensa transformação social e essa crise teve consequências
incalculáveis à humanidade.

As incertezas trazidas pela doença, possibilidade de contaminação, receio com a própria


saúde e de seus entes queridos, além das dificuldades financeiras e estresse do isolamento
aliados a falta de contato com amigos e entes queridos trouxe efeitos drásticos à saúde mental.
A Organização Mundial da Saúde estima que uma das consequências da pandemia seja o
aumento de 25% nos casos de depressão e ansiedade (OMS, 2022).

Centenas de países adotaram níveis distintos de restrição de circulação de pessoas,


podendo incluir fechamento do comércio, indústrias e escolas, o que tem efeitos sociais e
econômicos de grande magnitude. Em maio de 2020, um terço da população estava sujeita a
algum tipo de restrição de circulação em função da pandemia (BBC, 2020a).

Com a crise posta, a busca por entender melhor o vírus, o desenvolvimento da doença e
criar uma vacina mobilizaram cientistas e autoridades do mundo todo. Os incentivos à pesquisa
fizeram com que diversos projetos surgissem e fossem financiados buscando produzir um
imunizante seguro em curto prazo.

A Organização Mundial da Saúde estimava que houveram aproximadamente quinze


milhões de mortes em função da pandemia nos primeiros dois anos da crise (BBC, 2022).

Ainda, pesquisas buscam estudar a presença de efeitos a médio e longo prazo em


pessoas que foram acometidas pela Covid-19. Uma parcela das pessoas que foram infectadas
15

possui sintomas que podem surgir na fase inicial da doença ou se desenvolver após a
recuperação, envolvendo fadiga, falta de ar ou disfunção cognitiva (confusão, esquecimento,
falta de foco ou clareza mental), configurando a chamada Síndrome Pós Covid-19 (OMS,
OPAS, 2022).

2.1 Panorama geral sobre a pandemia da COVID-19 no Brasil

O primeiro caso da doença foi registrado no Brasil em 25 de fevereiro de 2020 e


acometeu um idoso que chegou ao país após uma viagem à Itália. Com isso, as autoridades
sanitárias passaram a rastrear os passageiros que vieram no mesmo voo que o infectado e
colocaram diversos familiares do paciente em observação. Nessa data, o vírus já estava presente
em dezenas de países e levantava diversas preocupações sobre a possibilidade de contaminação
comunitária no Brasil (CHARLEAUX, 2020). Já a primeira morte foi registrada em 12 de
março, na qual a vítima foi uma mulher de 57 anos que estava internada em um hospital
municipal de São Paulo (G1, 2020).

O Brasil encontrava-se polarizado: de um lado as autoridades científicas que defendiam


o isolamento social, uso de máscaras e proibição de grandes eventos; do outro autoridades
políticas e empresários que criticavam essas medidas por representarem um freio a economia e
defendiam o uso de antibióticos e remédios contra a malária para promover o enfrentamento à
Covid.

Um dos maiores defensores dessa segunda corrente era o então presidente dos Estados
Unidos, Donald Trump, e o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. Esses políticos buscavam
minimizar os impactos da doença, além de acusar a China de fabricar o vírus em laboratório e
culpar a Organização Mundial da Saúde pelo rápido avanço da doença (BBC, 2020b).

Conforme sugerido por autoridades científicas e líderes internacionais, as primeiras


medidas de isolamento começaram a ser tomadas por estados e municípios a partir de 11 de
março, quando o avanço do vírus já havia atingido o status de contaminação comunitária no
território nacional.

Os governadores de diversos estados passaram a determinar medidas de restrição de


circulação de pessoas e do funcionamento de serviços. O Governo Federal fazia frente a essas
16

determinações, visando a livre circulação de pessoas sob a argumentação de que apenas assim
seria atingida a chamada “imunidade de rebanho” (G1, 2020b).

Frente a disputa travada entre prefeitos e governadores contra a administração federal,


no que diz respeito às medidas de enfrentamento à Covid-19, o Supremo Tribunal Federal se
pronunciou acerca do “conflito de competências”. Tal ação será objeto de estudo mais
aprofundado no decorrer do trabalho.

O agravamento da crise fazia com que manchetes diárias chocassem os brasileiros,


causando muito medo e aflição. O Brasil já havia declarado a Covid-19 como Emergência em
Saúde Pública de importância Nacional (ESPIN) (BRASIL, 2020b), e em 20 de março passou
a tratar a contaminação comunitária da infecção (BRASIL, 2020c).

Diversas cidades viram seus sistemas de saúde entrarem em colapso. Um exemplo de


imagem chocante foi quando em abril, a alta mortalidade por Covid-19 na cidade de Manaus
fez com que um cemitério municipal abrisse valas coletivas para enterrar mais de seiscentas
pessoas em apenas uma semana (COSTA, REBELLO, 2020).

Nesse momento, nem mesmo o luto era possível tendo em vista as restrições aplicadas
à duração e quantidade de pessoas presentes em cerimônias fúnebres. Dessa forma, aqueles que
já sofriam com a perda de um ente querido por vezes não conseguiam nem processar seu luto,
gerando diversas dificuldades psicológicas e sociais (CARDOSO, et al., 2020).

O Ministro da Saúde da época realizava coletivas de imprensa diariamente, buscando


transmitir uma situação de estabilidade à população, entretanto suas ações e discursos passaram
a divergir daquelas propostas pelo núcleo do Governo Federal, que priorizava sua agenda
econômica.

A efervescência do embate entre o Ministro Mandetta e o Presidente da República, em


especial o pedido de que o ministério recomendasse o uso de medicamentos ineficazes e o
isolamento apenas para aqueles que estivessem doentes, fez com o ministro fosse exonerado do
cargo em 16 de abril, sendo nomeado o médico Nelson Teich como seu substituto (BUENO,
SOUTO, MATTA, 2021, p.29).

No mesmo mês, após intensa discussão política, a Lei 13.982 criou o Auxílio
Emergencial, benefício mensal de seiscentos reais a ser pago a população de baixa renda
17

visando reduzir os prejuízos causados pela pandemia. Para ser beneficiário do auxílio era
necessário cumprir uma série de exigências, dentre elas:

Art. 2º Durante o período de 3 (três) meses, a contar da publicação desta Lei, será
concedido auxílio emergencial no valor de R$ 600,00 (seiscentos reais) mensais ao
trabalhador que cumpra cumulativamente os seguintes requisitos:
I - seja maior de 18 (dezoito) anos de idade, salvo no caso de mães adolescentes;
II - não tenha emprego formal ativo;
III - não seja titular de benefício previdenciário ou assistencial ou beneficiário do
seguro-desemprego ou de programa de transferência de renda federal, ressalvado, nos
termos dos §§ 1º e 2º, o Bolsa Família;
IV - cuja renda familiar mensal per capita seja de até 1/2 (meio) salário-mínimo ou a
renda familiar mensal total seja de até 3 (três) salários mínimos.(BRASIL, 2020b)

Inicialmente o benefício de R$ 600,00 foi pago por cinco meses, sendo prorrogado por
mais quatro meses no valor de R$ 300,00 entre setembro e dezembro de 2020. No ano de 2021
foram pagas sete parcelas com valores entre R$ 150,00 e R$ 375,00.

Em maio de 2020, com a escalada das tensões entre o Governo Federal e o Ministério
da Saúde, o novo ministro, Nelson Teich, deixou o cargo um mês depois de sua nomeação. O
General Eduardo Pazuello assumiu a gestão da pasta, que passou a recomendar o uso de
hidroxicloroquina para o chamado “tratamento precoce” da Covid-19 (BRASIL, 2020d).

As eleições municipais de 2020, que estavam previstas para 4 e 25 de outubro, foram


adiadas para os dias 15 e 29 de novembro. A proximidade com as eleições fez com que houvesse
um represamento de dados, e várias cidades que já tinham Unidades de Tratamento Intensivo
lotadas, optaram por impor restrições apenas após o segundo turno das eleições.

Além disso, em dezembro do mesmo ano os sites e sistemas do governo federal que
faziam a gestão dos dados relativos à pandemia sofreram ataques cibernéticos, causando
problemas no acesso à informação e piorando a crise de subnotificação dos casos de Covid
(BUENO, SOUTO, MATTA, 2021, p.30-34).

O início de 2021 foi marcado pela esperança trazida junto a chegada das primeiras doses
dos imunizantes ao Brasil. No dia 17 a Agência Nacional de Vigilância Sanitária aprovou as
vacinas Coronavac (criada pelo laboratório Sinovac em parceria com o Instituto Butantan) e
Oxford AstraZeneca (em parceria com a Fiocruz) para uso emergencial no Brasil.

Horas após a liberação, o Governo de São Paulo promoveu um evento público com
aplicação do primeiro imunizante no Brasil. A enfermeira Mônica Calazans de 54 anos foi a
18

primeira a receber a vacina contra a Covid no Brasil. Ela e outros profissionais da saúde
receberam o imunizante Coronavac em evento realizado no Hospital das Clínicas.

Assim, em 20 de janeiro a campanha nacional de imunização teve início com doses dos
dois imunizantes citados. Nessa fase a vacina era aplicada apenas em trabalhadores de saúde,
idosos e indígenas (NEXO, 2021).

Nesse momento há também o fortalecimento de parcerias que buscavam a produção da


vacina no Brasil na Fiocruz e no Instituto Butantan. Para uma parcela da população, a vacina
seria sinônimo de esperança em dias melhores, enquanto outra parcela afirmava e divulgava
notícias falsas buscando desacreditar as pesquisas que desenvolveram as doses. Exemplos
dessas alegações são de que as vacinas teriam “chips líquidos” e inteligência artificial para
controle da população” (DOMINGOS, 2021).

Vale destacar que quando a vacinação teve início no Brasil, 50 países já haviam aplicado
mais de 38 milhões de doses. O Brasil realizou a primeira aplicação da vacina cerca de um mês
e meio após outros países como os Estados Unidos e o Reino Unido, demonstrando a demora
na compra e entrega dos imunizantes (GAGLIONI, 2021).

Exemplo disso é visível na análise de que na primeira quinzena de março de 2021 o


Brasil respondeu por aproximadamente 20% das mortes causadas pela pandemia no mundo
todo, mas apenas 3% das doses de vacina aplicadas mundialmente (MAZZA, BUONO, 2021).

Nessa época, o Amazonas recebeu três vezes mais cloroquina do que testes rápidos para
identificar quem teve a doença. Esse estado viria a protagonizar uma das maiores crises de
saúde no Brasil, resultado da falta de leitos para atender aqueles necessitados e falta de insumos
básicos de saúde, dentre eles oxigênio.

A crise nos sistemas de saúde fez com que as Unidades de Tratamento Intensivo
voltassem a ficar lotadas e a falta de leitos fez com que centenas de brasileiros morressem na
fila de espera sem atendimento básico (MANZANO, SILVA, 2021).

Além da falta de insumos médico-hospitalares, as funerárias passaram a expressar


preocupação com a falta de caixões e estrutura em cemitérios. A Associação dos Fabricantes de
Urnas do Brasil aumentou sua produção em 20% e narra dificuldades para a compra de matéria-
prima para produzir as urnas e caixões (MANZANO, SILVA, 2021).
19

Após diversas polêmicas envolvendo o ministro e suas declarações contrárias à


vacinação, em março de 2021 toma posse o quarto Ministro da Saúde durante a gestão da
pandemia, o cardiologista Marcelo Queiroga (ARAÚJO, 2021).

Na busca por respostas para o alarmante número de mortos, o atraso e denúncias de


corrupção na compra de vacinas e o desastre vivenciado pela falta de oxigênio nos hospitais de
Manaus, em abril de 2021 o senado promove a instauração da chamada Comissão Parlamentar
de Inquérito- CPI da Covid (CASTRO, 2021).

Após meses de trabalho, a CPI apresentou seu relatório pedindo o indiciamento de 78


pessoas e duas empresas pelos 25 crimes que teriam sido praticados durante o gerenciamento
da crise pelas autoridades brasileiras (BERTONI et al., 2021).

Conforme destaca Boaventura de Sousa Santos (2020), a pandemia afeta de forma


distinta determinados grupos sociais, que possuem vulnerabilidades especiais que se agravam
com a quarentena. Dessa forma, faz-se necessário realizar um recorte de idade, classe e raça
para entender a situação dos mais atingidos.

Dentre eles, destacam-se pessoas em situação de rua, trabalhadores informais, mulheres


e a população mais carente economicamente. Assim, além da emergência sanitária trazida pela
COVID-19, essa população enfrenta diariamente diversas outras emergências.

Nesse viés, os discursos inflamados das autoridades negacionistas brasileiras afetaram


o comportamento dos brasileiros. Ao ridicularizar a gravidade da crise com discursos e ações,
contrariando aquilo apresentado e comprovado por cientistas, o governo estimula esse tipo de
comportamento na população.

Isso é visível ao constatar que as medidas de prevenção a Covid como uso de máscaras
e distanciamento são menos adotadas em localidades pró-governo, em comparação com locais
em que o apoio ao governante é mais baixo (AJZENMAN; CAVALCANTI; DA MATA,
2020).

Dessa forma, é importante questionar o papel das autoridades governamentais frente a


epidemia, levando em conta sua gravidade, reconhecendo a necessidade de medidas sérias e
concretas para promover seu enfrentamento e evitar danos inestimáveis.
20

A priorização da preservação da vida e da proteção social tem, ao longo da história,


exemplos claros acerca das consequências experimentadas por sociedades e cidadãos que se
esquivam de encarar os riscos de saúde que enfrentam (JONES, 2020).

O jornal estadunidense The Economist apresentou estudos indicando que as epidemias


tendem a ser menos letais em países democráticos, em virtude da livre circulação de
informação. Entretanto, a vulnerabilidade dos Estados Modernos à divulgação em massa de
notícias falsas coloca em xeque a confiabilidade e eficiência das notícias compartilhadas nas
redes sociais (BOAVENTURA 2020).

Ao longo de todo o ano de 2021 o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação


contra a Covid-19 divulgou calendários e fez a distribuição de vacinas para brasileiros com
mais de 12 anos. Dessa forma, até o fim deste ano, 80% da população brasileira havia sido
vacinada com as duas doses da vacina contra Covid-19, o que corresponde a aproximadamente
172 milhões de pessoas (BUTANAN, 2021).

Em 22 de abril de 2022 o Ministério da Saúde decretou o fim da Emergência em Saúde


Pública de Importância Nacional (BRASIL, 2022), mas no campo fático a pandemia não havia
acabado. O saldo dos dois anos de duração do ESPIN provocado pelo Coronavírus foram mais
de 660 mil mortes e mais de trinta milhões de pessoas infectadas.

Dessa forma, fica clara a ingerência do Governo Federal para lidar com a crise sanitária,
humanitária e econômica da Covid-19, além da crueldade de seus representantes ao banalizar o
sofrimento experimentado por parcela significativa da população.

2.2 Obrigatoriedade da vacinação no Brasil e as legislações nesse sentido

As vacinas são essenciais no combate a diversas doenças, sendo inclusive as maiores


responsáveis pela erradicação da varíola e da poliomielite. No Brasil, é possível iniciar o estudo
sobre a popularização das vacinas em 1904 com a Revolta da Vacina. A revolta foi um motim
popular criado pela desinformação, que se posicionava de forma contrária à vacinação forçada
da população e à violência do Estado na aplicação das vacinas.

A Revolta da Vacina ocorreu em novembro de 1904 no Rio de Janeiro, quando os


governantes da região visavam diminuir os casos de varíola e, para isso, promoveram intensas
21

reformas de caráter higienista. O período foi marcado por diversas tensões sociais em função
da recente Proclamação da República e abolição da escravidão (DANDARA, 2022).

Na época foi aprovada a Lei nº 1.261 e o decreto nº 1.151, que, entre outras medidas
determinavam a vacinação obrigatória a todos com mais de seis meses de vida. A imposição da
vacinação ocorreu em meio a desinformação da população e as ações truculentas promovidas
pelas autoridades, incluindo a violência policial, prisões arbitrárias e até mesmo exílio para o
Acre. Essas atitudes visavam não só as metas higienistas, mas também as políticas de exclusão
social.

Assim, infere-se que a Revolta da Vacina não foi um movimento contrário à vacina ou
que discordavam de sua eficiência, mas uma manifestação promovida por uma violência
imposta pelas autoridades, principalmente sobre os mais vulneráveis (RESENDES, ALVES,
2020, p. 7).

Desde então, diversas leis e políticas públicas foram criadas buscando ampliar a
cobertura vacinal do Brasil. É necessário fazer destaque ao PNI – Programa Nacional de
Imunizações, criado em setembro de 1973, buscando coordenar e estruturar programas de
imunização em todo o país. Dessa forma, as ações que antes eram esparsas e esporádicas
passaram a seguir um cronograma elaborado pelo Ministério da Saúde com base em
recomendações de médicos e especialistas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019).

A preocupação com a saúde da população e as epidemias continuou a motivar a


produção legislativa. A Lei nº 6.259 de 1975, dispõe acerca das ações de Vigilância
Epidemiológica e competências do Programa Nacional de Imunizações. A norma estabelece
que cabe ao Ministério da Saúde, no âmbito do PNI definir quais vacinas serão distribuídas no
Brasil, podendo conferir caráter obrigatório a elas (BRASIL, 1975).

Nessa época em que o país vivia sob a ditadura militar, e o governo estabeleceu que
“para o pagamento do salário-família, será exigida do segurado a apresentação dos Atestados
de Vacinação dos seus beneficiários, que comprovarem o recebimento das vacinações
obrigatórias, na forma que vier a ser estabelecida em regulamento” (BRASIL, 1975).

Nesse viés, no ano seguinte foi sancionada a Lei nº 6.360/76, que estabelecia a
competência da Vigilância Sanitária e Epidemiológica e do Ministério da Saúde na autorização,
registro e fiscalização de insumos. No texto legal ficam dispostas várias regras e classificações
22

para que medicamentos, cosméticos e outros possam ser comercializados no Brasil (BRASIL,
1976).

No decreto 78.231 de 1976 são dispostas regras acerca de sistemas de vigilância


epidemiológica a nível nacional, estadual e municipal. Dessa forma, os órgãos desse sistema
ficam responsáveis pela coleta de informações e estudo sobre doenças, criando inclusive a
obrigação de notificar casos de determinadas doenças de alto poder transmissível (BRASIL,
1976b).

Ainda, o decreto determina que o PNI deverá ser atualizado a cada dois anos, mantendo
atualizadas listagens de vacinas obrigatórias em todo o território nacional ou em regiões
específicas, a depender do comportamento epidemiológico da doença. O decreto ainda autoriza
que as secretarias estaduais de saúde tornem outros imunizantes obrigatórios em suas áreas
geográficas.

Em seu 29º artigo, o decreto estabelece que “é dever de todo cidadão submeter-se e os
menores dos quais tenha a guarda ou responsabilidade, à vacinação obrigatória”, só estando
dispensado da imunização aquele que apresentar atestado médico com contra indicação
expressa (BRASIL, 1976b).

Nesse viés passaram a ser realizadas diversas campanhas nacionais de imunização e em


1981, a varíola foi considerada extinta no Brasil. Uma das campanhas de maior notoriedade
surgiu em 1980, após vários surtos de poliomielite. A “1ª Campanha Nacional De Vacinação
Contra a Poliomielite” tinha a meta ambiciosa de vacinar todas as crianças menores de 5 anos
em um dia (FIOCRUZ, BIO-MANGUINHOS, 2019).

Nos anos seguintes as campanhas para vacinação de crianças foram ampliadas, passando
a incluir também vacinas contra sarampo, rubéola e caxumba. O personagem “Zé Gotinha”
surge nesse momento para atrair as crianças aos programas de vacinação.

Em 1989 o Brasil registrou o último caso de poliomielite e em setembro de 1994 recebeu


juntamente com outros países americanos o certificado de erradicação do vírus no continente,
emitido pela Comissão Internacional para a Certificação da Ausência de Circulação Autóctone
do Poliovírus Selvagem nas Américas (DANDARA, 2022b).

A Constituição promulgada em 1988 trata da saúde como “direito de todos e dever do


Estado”, estipulando a necessidade de criação de políticas sociais e econômicas para a redução
23

do risco de doenças e para promover o acesso universal e igualitário a serviços que promovam,
protejam e recuperem a saúde.

No artigo 23 é estipulada a obrigação dos entes federativos atuarem de forma conjunta


e coordenada em matéria de saúde, exercendo competência comum, sem possibilidade de um
ente escolher livremente a forma de executar uma política pública sanitária (LEHMANN, 2014,
p.101).

O artigo 198 da Constituição dedica-se ao Sistema Único de Saúde, estipulando suas


formas de organização e diretrizes, sendo elas:

Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e
hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes
diretrizes:
I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;
II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo
dos serviços assistenciais;
III - participação da comunidade.

Por sua vez, o Estatuto da Criança e do Adolescente, ao tratar dos direitos fundamentais
das crianças brasileiras, estabelece a obrigatoriedade de vacinação de crianças nos casos
recomendados pelas autoridades sanitárias, além de dispor sobre a necessidade de efetivação de
políticas públicas visando o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, resguardando
condições dignas a todas as crianças.

As mudanças legislativas trazidas na Lei nº 9.782/99 definiram que a Agência Nacional


de Vigilância Sanitária teria a finalidade institucional de promover a proteção da saúde da
população por intermédio do controle sanitário da produção e da comercialização de produtos
e serviços submetidos. Estabelece também que cabe a essa agência o dever de regulamentar,
controlar e fiscalizar produtos imunobiológicos.

Como exemplo na esfera estadual de leis que poderiam ser adotadas a nível nacional,
em Santa Catarina a Lei nº 14.949 de 2009, estabelece a obrigatoriedade de as escolas públicas
e privadas exigirem a caderneta de vacinação atualizada, de acordo com o Calendário de
Vacinação da Criança e do Adolescente, para todos os alunos com até 18 anos. Caso a caderneta
não seja apresentada em até 30 dias após a realização da matrícula do aluno, a escola deverá
comunicar o Conselho Tutelar acerca do ocorrido.
24

Ainda, a legislação catarinense estipula na Lei nº 10.196 de 1996, a obrigatoriedade da


vacinação contra a rubéola a partir dos doze meses de idade. Estabelece ainda que todas as
crianças entre 1 e 12 anos deveriam ser imunizadas contra essa doença para ingresso em creches
e escolas de primeiro grau.

Para as mulheres, a mesma lei exige a vacinação entre os 12 e 40 anos para ingresso em
cursos de níveis médio e superior e para ingresso em profissões que tenham contato direto com
crianças, como professoras, médicas e funcionárias de escolas.

Frente aos alertas internacionais da transmissão do coronavírus, foi sancionada a Lei


13.979 em fevereiro de 2020. Esse diploma legal dispõe sobre as medidas para o enfrentamento
da crise de saúde trazida pelo vírus, estabelecendo medidas a serem adotadas para conter o
avanço da doença.

A lei prevê que as autoridades brasileiras possam determinar medidas como o


isolamento, quarentena, uso de máscaras, entre outros. O artigo que ganha foco no que tange a
presente pesquisa prevê que as autoridades de saúde poderão determinar a realização
compulsória de vacinação e outras medidas profiláticas.

Nesse viés, a lei destaca o papel dos estudos e pesquisas científicas ao destacar que “as
medidas previstas neste artigo somente poderão ser determinadas com base em evidências
científicas e em análises sobre as informações estratégicas em saúde e deverão ser limitadas no
tempo e no espaço ao mínimo indispensável à promoção e à preservação da saúde pública”

Essa lei foi objeto de diversas ações frente ao STF, as quais serão melhor abordadas ao
longo do próximo capítulo.

Na atualidade, o Programa Nacional de Imunizações brasileiro conta com a cobertura


vacinal gratuita para mais de vinte e cinco doenças, sendo referência no mundo todo, atuando
como pioneiro na promoção da vacinação universal. Ainda, ele atua na organização de políticas
de prevenção de surtos de doenças (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019).

A saúde é considerada uma soma de fatores integrados relacionados ao bem-estar do


indivíduo. O SUS visa atender todos os brasileiros com unidades hospitalares gratuitas, atenção
farmacêutica e odontológica, a regulamentação da indústria e mais uma série de serviços como
os promovidos pelo SAMU e pela ANVISA. O SUS é referência ao organizar bancos de leite
25

humano, centros de combate ao tabagismo, rede de doação de órgãos e programas de promoção


do saneamento básico (AZEVEDO, 2022, p.1118).

No contexto da Covid-19, surge a discussão acerca da competência comum da União,


Estados e Municípios para determinar quais medidas de enfrentamento à pandemia deveriam
ser adotadas pela população. Essa problemática foi tema de diversas ações pautadas no Plenário
Virtual do STF em abril de 2020.

Dentre essas ações é possível destacar o julgamento da ADI (Ação Direta de


Inconstitucionalidade) nº6341, ADI 6341, ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental) 669 e ADPF 672.

Em síntese, o Supremo Tribunal Federal reconheceu no julgamento dessas ações a


competência concorrente entre os entes federativos e o governo federal no combate à pandemia,
permitindo que os estados e municípios possam determinar medidas restritivas e quarentenas,
mesmo a contragosto do governo federal.

Neste julgamento os ministros reconheceram a inconstitucionalidade da Medida


Provisória 926 sob a argumentação de ela fere a autonomia que a constituição garante aos entes
federativos. Ficou firmado o entendimento de que os Estados e Municípios podem editar
decretos mais restritivos aos propostos em âmbito federal.

Ainda, reafirmaram a forma que as medidas de defesa da saúde pública, em especial no


caso da emergência sanitária, fazem com que seja necessária ação por todos os entes, cabendo
à União o papel de coordenação e articulação com base em critérios técnicos, de forma a
respeitar a autonomia dos demais entes tendo em vista as particularidades locais de cada região
do Brasil.

Com o início da vacinação contra a Covid-19 no Brasil, a distribuição dos imunizantes


seguiu as regras do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19 –
PNO, imunizando primeiro os mais idosos e os profissionais da saúde, aqueles acometidos por
comorbidades, professores, profissionais da segurança pública, funcionários do sistema
prisional e, por fim, a população em geral de acordo com a idade (BRASIL, 2021, p. 28).

A obrigatoriedade da vacinação contra a Covid-19 foi tema de diversas ações no


Supremo Tribunal Federal, as quais serão analisadas no próximo capítulo, em especial as ADIs
nº 6586 e 6587 e o ARE (Agravo em recurso extraordinário) nº 1267879.
26

2.3 Jurisprudência do STF durante a pandemia quanto a obrigatoriedade da


vacinação: aspectos destacados

Ao longo de 2020 e 2021 o Supremo Tribunal Federal julgou várias decisões que
envolvem a temática discutida, dessa forma é necessária a análise de alguns desses julgamentos
para visualizar o posicionamento da corte.

Necessário ressaltar que o objetivo desse tópico não é esmiuçar as decisões e


argumentações da corte constitucional, apenas apresentar os debates e posições adotadas pela
mesma no que tange o problema proposto nesse trabalho.

No bojo das ações de Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 898,


900 e 901, a corte julga a recepção constitucional da Portaria nº 620 do Ministério do Trabalho
que visava proibir os empregadores de exigirem a comprovação de vacinação de seus
empregados, equiparando essa medida a práticas de discriminação relacionadas ao sexo, origem
ou etnia do empregado. Ainda, a portaria rejeitava a hipótese de demissão por recusa à
imunização.

Até o momento da conclusão deste trabalho as ações ainda não haviam sido julgadas,
mas existe decisão liminar do relator, Ministro Luís Roberto Barroso, entendendo a
inconstitucionalidade da portaria frente ao consenso médico-científico da importância da vacina
para reduzir os perigos trazidos pela Covid, o direito do empregador de extinguir relações de
trabalho de acordo com o que julga necessário para sua empresa, além da forma que uma
portaria enquanto ato infralegal não poderia inovar a ordem jurídica, criando ou retirando
direitos trabalhistas.

Outro caso relevante é o do julgamento da Suspensão de Tutela Provisória nº 824 do


Rio de Janeiro. O caso avalia o Agravo de Instrumento nº 0069278-54.2021.8.19.0000,
pleiteando a concessão de tutela de urgência para suspender o Decreto Municipal do Rio de
Janeiro nº 49.335 de 2021 que determinava a obrigatoriedade da comprovação de vacinação
para a Covid para o acesso a determinados ambientes na cidade.

Em decisão liminar a Desembargadora Elisabete Fizzola determinou a suspensão da


obrigatoriedade da exigência do “Passaporte da vacina” para acesso aos estabelecimentos
agravantes. A fundamentação para a decisão foi baseada na noção de que a exigência da
27

comprovação de imunização não seria medida adequada para conter a disseminação viral, tendo
em vista que ela não seria capaz de impedir a circulação do vírus em determinado ambiente.

A STP nº 824 avalia ainda o Habeas Corpus nº 0070957-89.2021.8.19.0000 que


buscava a garantia do direito de locomoção a todos os indivíduos não vacinados no Rio de
Janeiro, argumentando que a exigência da carteira de vacinação seria uma ofensa às liberdades
individuais.

Nesse caso, a liminar julgada pelo Desembargador Paulo Rangel concedeu o Habeas
Corpus coletivo conforme pleiteado, bem como salvo conduto à impetrante. A decisão
determinou também a cassação parcial do decreto municipal no que tange a exigência do
passaporte de vacinação para acesso a determinados locais.

Nesse caso, o Ministro Luiz Fux determinou a suspensão das tutelas provisórias
deferidas nos dois casos sob o fundamento de que as restrições impostas pelo decreto seriam
temporárias e excepcionais, além de estarem devidamente fundamentadas à luz de critérios
técnicos e científicos, visando a proteção da saúde pública.

Ainda, defendeu o entendimento de que o Prefeito do Rio de Janeiro teria competência


para editar tal decreto em virtude da Lei 13.979/2020, e que as decisões impugnadas poderiam
desestruturar o planejamento adotado pelo município para o combate à crise sanitária,
contribuindo para a disseminação do vírus e retardando a imunização coletiva.

Dessa forma, o Ministro julgou procedente o pedido de suspensão das decisões


liminares no Agravo de Instrumento e no Habeas Corpus, concedendo a contracautela e
mantendo a exigência prevista no decreto.

Nesse mesmo sentido, o Plenário do STF julgou na ADPF 756 a suspensão do Despacho
do Ministro da Educação de 29 de dezembro de 2021 que determinava que as Universidades e
Instituições Federais de Ensino não poderiam estabelecer a exigência da vacinação contra o
coronavírus como condicionante ao retorno das atividades educacionais presenciais, cabendo a
essas instituições apenas a implementação dos protocolos sanitários e a observância das
diretrizes estabelecidas pelas autoridades de saúde.

Em seu voto, o Relator Ricardo Lewandowski defendeu a autonomia universitária para


dispor sobre sua estrutura e funcionamento administrativo, a possibilidade constitucional de
28

vacinação obrigatória, bem como a importância da exigência da vacina para promover a


imunização coletiva e a promoção do direito à saúde.

Por fim, os julgamentos que ganharam mais notoriedade nessa temática foram os das
Ações Diretas de Inconstitucionalidade nº 6.586 e 6.587. A decisão colegiada reconheceu a
constitucionalidade de que leis federais, estaduais e municipais criem restrições a pessoas não
vacinadas, sob o ponto de vista da vacinação compulsória.

Importante destacar também que os Ministros condicionaram a exigência da vacina as


evidências científicas de sua segurança e eficiência, o respeito à dignidade da pessoa humana
em sua aplicação, bem como a distribuição gratuita e universal em todo o território nacional.

Nesse julgamento os Ministros também estipularam a diferença entre os conceitos de


vacinação compulsória e forçada, estabelecendo que em função da intangibilidade do corpo
humano, da vedação da tortura e tratamento desumano à vacinação forçada não pode ser
acolhida pelo texto constitucional. Dessa forma, a compulsoriedade da vacinação e a imunidade
de rebanho devem ser alcançadas por meio de restrições indiretas, quais sejam, dentre outras,
“a restrição ao exercício de certas atividades ou à frequência de determinados lugares, desde
que previstas em lei, ou dela decorrentes”.

Os ministros analisaram a importância da vacinação em massa da população na


diminuição da circulação de determinado agente infeccioso e no papel desta para a proteção da
coletividade, fazendo destaque às pessoas que, por razões de saúde, não podem ser imunizadas.
Afirmaram não ser legítimo que a título de liberdade de consciência seja frustrado o direito
coletivo da saúde e o direito de cada indivíduo de não estar exposto a contaminação por uma
doença que pode ser extinta, ou pelo menos mitigada, por meio da vacinação.

Assim, as ADIs foram conhecidas e julgadas parcialmente procedentes no julgamento


colegiado de 17 de dezembro de 2020, restando parcialmente vencido o Ministro Nunes
Marques. A vacinação obrigatória, e por consequência o passaporte da vacina, foram julgados
constitucionais, desde que os imunizantes estejam devidamente registrados na ANVISA, sejam
incluídos no Plano Nacional de Vacinação e tenham sua obrigatoriedade determinada por lei ou
autoridade competente.

Exemplos de medidas restritivas a pessoas não imunizadas citadas no julgamento são a


limitação de acesso a determinados ambientes como shows, restaurantes e shoppings, a
29

condicionalidade da matrícula de crianças e adolescentes em escolas e a percepção de


benefícios, como o Bolsa Família e Minha Casa Minha Vida.

Outro caso intimamente relacionado aos últimos dois julgados é o Agravo em Recurso
Extraordinário nº 1267879. Nesse agravo, era questionada a liberdade de indivíduos não
vacinarem seus filhos com base em suas convicções filosóficas, religiosas, morais e
existenciais. Entendeu-se que não são legítimas escolhas individuais que atentem contra o
direito à saúde de terceiros, tendo em vista que a vacinação em massa salva vidas e é a principal
responsável pela erradicação de diversas doenças por meio da imunidade de rebanho.

No que tange este último julgado, é necessário ressaltar que questões envolvendo
direitos da criança e do adolescente, indivíduos considerados absoluta ou relativamente
incapazes, e os deveres de seus responsáveis, envolvem controvérsias as quais não são o foco
do presente trabalho. Dessa forma, o julgado é citado apenas a título exemplificativo, sem
esmiuçar as particularidades envolvidas pelos Direitos da Criança e do Adolescente.

Neste julgamento os Ministros decidiram por unanimidade seguir a tese fixada nas ADIs
6.586 e 6.587, fazendo destaque a primazia do dever do Estado de buscar o melhor interesse da
criança, e que a obrigatoriedade da vacinação infantil não importa em desconstituição do poder
familiar, sendo que este não pode ser usado para colocar a vida das crianças em risco.
30

3 ASPECTOS CONTROVERSOS DA VACINAÇÃO

As controvérsias propostas pelos contrários a vacinação são diversas. Nesse trabalho


serão expostos alguns dos pontos que ganham mais notoriedade, sem a exaustão de todos os
pontos desse movimento.
As decisões relacionadas a tomar a vacina ou seguir os protocolos sanitários e medidas
preventivas de controle do coronavírus são tomadas individualmente com base em aspectos e
convicções individuais. As decisões são pautadas por noções individuais e as diferenças sociais
refletem na forma com que o indivíduo se sente suscetível à doença, no nível de acesso aos
serviços de saúde, e outros fatores culturais e sociais.
A decisão de não se imunizar ultrapassa o campo da medicina e da biologia, está
intimamente ligado a convicções individuais e construções sociais e culturais de descrédito na
ciência, nas instituições, na indústria farmacêutica e nos próprios governos (COUTO,
BARBIERI, MATOS, 2020).
Para Bourdieu (2004), a ciência deve ser considerada também enquanto produção
cultural, sendo produzida e reproduzida por agentes e instituições suscetíveis a seu tempo e
espaço. Por vezes ela é hipervalorizada ou subvalorizada a depender do meio em que sua
produção ou divulgação está inclusa, sofrendo análises distintas ao percorrer distintos grupos
sociais.
A decisão de tomar a vacina seria uma ponderação entre o risco de adquirir uma doença
evitável pela vacinação em relação ao risco apresentado de possíveis complicações que a
imunização poderia causar. Constata-se que a confiança que as pessoas depositam nas vacinas
sofre influência de notícias falsas e percepções erradas sobre a imunização (AZEVEDO, 2022,
p. 1126). Ainda, essa decisão pode ser influenciada por causas religiosas, filosóficas ou
ideológicas. Essa recusa pode ser total ou parcial, a depender de qual vacina a pessoa se dispõe
a tomar.
Assim, ao buscar informações sobre a segurança e eficácia das vacinas, por vezes são
levadas a informações falsas e de fonte duvidosa. Esse fator, somado ao descrédito em relação
à ciência, a falta de confiança nas instituições e na cooperação internacional tem colaborado
com a diminuição da imunização coletiva.

Um exemplo de perigo trazido por esse tipo de discurso é a ideia de que como as vacinas
distribuídas protegem apenas contra doenças que estão quase erradicadas do território nacional,
não haveria a necessidade de se imunizar. Tais doenças só se encontram em vias de extinção
31

em função da eficácia das vacinas, e caso seja diminuída imunidade coletiva para tais doenças
existe a possibilidade de surgimento de variantes e novos surtos, colocando em risco a saúde
pública. Dessa forma, a melhor forma de combate ao vírus é a disseminação de informação
cientificamente comprovada (HARARI, 2020, p. 5).

Importa destacar que nem todos os indivíduos contrários a imunização em massa adotam
essa postura com base em negacionismos. Atualmente diversas correntes políticas e ideológicas
liberais defendem a ideia de que o indivíduo teria o direito de recusar o imunizante. Entretanto,
nesse trabalho foi analisado o discurso majoritário entre aqueles contrários a vacinação, que
ganharam grande repercussão na mídia e nas redes sociais.

A vacinação em massa tem o condão de diminuir a mortalidade de cerca de três milhões


de pessoas por ano e poderia salvar mais 1,5 milhão de vidas se a vacinação fosse
disponibilizada a todas as pessoas (OMS, OPAS, 2019). No século XIX, a expectativa de vida
da população mundial era de aproximadamente 32 anos, atualmente chega a marca de 72,6 anos.
Isso se deve a inúmeros fatores, dentre eles a criação e democratização dos imunizantes
(BUTANTAN, 2022).
Em 2019 a expectativa de vida da população brasileira era de aproximadamente 76,6
anos, mas em função da emergência sanitária do coronavírus ela caiu 4,4 anos entre março de
2020 e dezembro de 2021, chegando à marca de 72,2 anos, como era dez anos atrás (ROCHA,
ARAUJO, JANONE, 2022).
Um exemplo do exposto aconteceu em 2011, no bairro Vila Madalena em São Paulo.
Uma criança que não havia recebido a vacina contra o sarampo por uma convicção ideológica
dos seus pais contraiu a doença, e acabou por transmitir a sete bebês com menos de um ano de
idade (idade a qual a vacina passa a ser aplicada). Em 2012 os casos de sarampo no Brasil
tiveram aumento de 135%, atingindo a marca de 5.295, e entre crianças de 1 a 4 anos de idade
a incidência aumentou de 0,5 caso por 100 mil habitantes para 8,1, entre 2010 e 2012 (LINDE,
2015).
Outra questão a ser analisada nesse sentido está relacionada à falta de entendimento
sobre a necessidade da vacina, em especial de doenças que se tornaram pouco comuns. Nesse
sentido, a vacinação é vítima de seu próprio sucesso, pois ao atingir seu objetivo, a vacina cria
uma sensação de segurança e de controle da doença que faz com que as pessoas não vejam
necessidade de se imunizarem ou imunizarem seus filhos. Entretanto, essa noção de segurança
32

só é alcançada com a continuidade da vacinação em massa (COUTO, BARBIERI, MATOS,


2020).
No Brasil, o movimento contrário à vacinação pode ser considerado tão antigo quanto a
própria vacina, e tem se expandido por todo o país em função de diversos motivos, causando
uma queda nas taxas de imunização da população brasileira (LEITE, HEUSELER, 2021).
Um estudo realizado entre a Faculdade São Leopoldo Mandic e a London School of
Hygiene and Tropical Medicine, mostra que os ideais antivacina estão crescendo no Brasil. A
pesquisa aponta que 4,5% dos pais se recusam a dar a vacina a seus filhos, e outros 16,5% têm
medo ou não acham que a vacina tenha importância na saúde de seus filhos. Entre os pais mais
jovens, o índice de insegurança na vacina chega a 23% (LUISA, 2019).
A poliomielite foi considerada extinta do continente americano em 1994. Entretanto, a
Fiocruz faz alertas sobre a possibilidade do risco de a doença retornar ao Brasil. Um dos
principais motivos para esse alerta é a baixa cobertura vacinal no público-alvo das campanhas:
desde 2015 o Brasil não cumpre com a meta de 95% necessária para que a população atinja
“imunidade de rebanho” em relação a doença (DANDARA, 2022b).
Um exemplo desse risco é visível no alerta sanitário emitido em fevereiro de 2022 por
autoridades do Malawi, na África, com a infecção de uma criança de três anos pela poliomielite.
A menina sofreu paralisia grave e irreversível. O último caso dessa doença no país havia sido
registrado em 1992, e em 2020 todo o continente africano havia sido declarado livre da doença.
Ao fazer o mapeamento genético da cepa responsável pela infecção da menina,
constatou-se que está ligada à cepa que circula no Paquistão, um dos países em que a
poliomielite é endêmica. Assim, infere-se que enquanto o vírus ainda existir em algum local do
planeta, a vacinação é essencial frente ao risco de importação da doença (DANDARA, 2022b).
Essa visão de suposta segurança é visível também na questão da Covid-19 ao analisar o
número de pessoas que tomaram a primeira dose da vacina, mas não retornaram para tomar as
demais, deixando de completar o ciclo necessário para imunização contra a doença.
Outro alerta feito pelas autoridades de saúde diz respeito ao grande poder de mutação
dos vírus, que torna possível o surgimento de novas cepas mais infecciosas e resistentes as
vacinas já existentes, voltando a oferecer risco a humanidade. Tendo em vista que em apenas
um indivíduo podem existir trilhões de partículas virais que se reproduzem e sofrem mutações
constantemente, cada pessoa infectada apresenta diversas opções ao vírus para se adaptar melhor
a infecção nos humanos (HARARI, 2020, p. 8).
Essa situação foi vista em 2014 durante a crise do ebola, quando uma mutação de um
vírus que costumava infectar apenas morcegos passou a ser uma epidemia devastadora ao ser
33

humano. Essa mutação fez com que essa cepa do vírus tivesse a habilidade de se conectar ao
fluxo de colesterol nas células humanas, fazendo com que a doença evoluísse mais rápido e se
tornasse quatro vezes mais infecciosa aos seres humanos (HARARI, 2020, p. 8).
Como dito, diversos fatores envolvem a decisão de não se vacinar, nos próximos serão
analisados a influência do negacionismo científico e do conceito individual de saúde coletiva
nessa decisão.

3.1 Desenvolvimento, eficácia e testagem das vacinas

Diferentes pesquisadores apontam momentos históricos diferentes para o início do


desenvolvimento e pesquisa dos imunizantes. No século VII, os indianos tinham o costume de
ingerir pequenas quantidades de veneno de cobra na busca de proteção em caso de eventuais
picadas.

No século XVI surge uma técnica chamada de “variolização”, que consiste na retirada
do pus retirado de pessoas infectadas com a doença para introduzir em pessoas saudáveis. Essa
técnica ganhou destaque na Europa no século XVIII, quando Lady Mary Wortley Montagu
descreveu a técnica e a aplicou em seu filho (MOTA, BATISTA, GONÇALVES, 2022).

A primeira vacina propriamente dita surgiu no século XVIII quando o médico inglês
Edward Jenner buscava uma forma de combater a varíola, doença que atualmente está
erradicada, em função da eficiência das vacinas produzidas ao longo de décadas (LEVI, 2013,
p.5).

Esses imunizantes buscam prevenir a infecção de pessoas saudáveis por doenças


contagiosas, visando a diminuição dos sintomas e efeitos da doença nas pessoas, e
consequentemente reduzindo as taxas de mortalidade de doenças imunopreveníveis. As vacinas
atuam como estímulos ao sistema imunológico por meio da inserção de uma amostra inativa ou
enfraquecida do vírus no corpo. Dessa forma, elas aumentam a imunidade da população como
um todo, diminuindo o alcance e gravidade da doença (RESENDE, ALVES, 2020).

As vacinas são definidas como intervenções visando prevenir determinada doença e são
reconhecidas pela sua eficácia na diminuição da mortalidade causada por doenças
imunopreveníveis. Ao estimular o sistema imunológico, elas incentivam a produção de
anticorpos contra o agente causador da doença a ser evitada (BARBIERI; COUTO; AITH,
2017).
34

Para entender a importância das vacinas é preciso entender seu funcionamento em nosso
corpo. Bactérias, vírus, parasitas e fungos podem ser agentes patogênicos ao ser humano, e cada
espécie possui um antígeno diferente. Em contato com antígenos, o sistema imunológico produz
anticorpos, que atuam como soldados no combate aos invasores.

Assim, cada anticorpo é projetado para combater um antígeno diferente, e quando o


sistema é exposto a um antígeno pela primeira vez ele não possui a “receita” de produção desse
soldado. O tempo que o sistema imunológico leva para responder e produzir os anticorpos
necessários para cada patologia é fator decisivo na saúde do indivíduo.

Após ser infectado pela primeira vez por determinado microrganismo, o corpo produz
anticorpos e células de memória, guardando a “receita” dos anticorpos mesmo após a extinção
do agente patogênico. Caso o corpo venha a ser infectado outras vezes, a resposta imunológica
será muito mais rápida, porque as células de memória já sabem qual o anticorpo necessário.

As vacinas possuem partes inativas ou enfraquecidas do microrganismo, de forma que


elas incentivam a produção do anticorpo sem provocar a doença. Em alguns casos, é necessário
aplicar diversas doses de vacina para incentivar o corpo a produzir células de memória e
“treinar” o sistema imunológico a responder rapidamente em caso de futura infecção.

Nem todas as pessoas podem receber todas as vacinas. Crianças recém-nascidas,


pessoas com alergia aos componentes da vacina e pessoas com doenças que enfraquecem o
sistema imune, como HIV ou cancro, devem evitar certos imunizantes. Mas essas pessoas ficam
protegidas se aqueles em seu entorno se vacinarem.

Nenhuma vacina oferece 100% de garantia e proteção contra um antígeno, mas é


comprovado que seu uso diminui o número de casos e a gravidade de diversas doenças. O
sucesso da vacinação está presente na diminuição de várias doenças que poderiam ser fatais,
como a meningite, tétano, sarampo e poliovírus (OMS, 2020).

O desenvolvimento das vacinas segue uma série de regras formais e é constantemente


fiscalizado por órgãos internacionais, buscando garantir que os imunizantes distribuídos à
população sejam seguros e eficientes.

O primeiro passo do processo consiste no estudo do vírus, visando isolar o seu antígeno.
Então o antígeno é misturado a diluentes, adjuvantes e estabilizantes formando a vacina. Dessa
forma, iniciam os ensaios pré-clínicos, testando o imunizante em células, tecidos e animais em
35

laboratório, avaliando seu poder imunizante, sua segurança e possíveis efeitos colaterais
(MOTA, BATISTA, GONÇALVES, 2022).

Os testes em humanos possuem diversas fases: A fase I envolve um grupo de 20 a 80


voluntários que são acompanhados por médicos durante todo o processo. Na fase II centenas
de pessoas de várias regiões atuam como voluntários, parte delas recebe o imunizante e outra
parte recebe um placebo, fornecendo dados sobre a eficácia e dose adequada da vacina.

Por fim, a fase III envolve indivíduos de diversas regiões e faixas etárias. Após esse
processo, a vacina precisa ainda passar pelo crivo de agências reguladoras para poder ser
disponibilizada à população (MOTA, BATISTA, GONÇALVES, 2022).

Ao promover a vacinação de um grande contingente de pessoas, países como o Brasil e


a maioria dos demais, trabalham com a vacinação em massa, baseada na ideia de “imunização
de rebanho”, pela qual o nível de imunização de determinada população faz com que os
indivíduos vacinados protejam a si e aos demais, trazendo um maior controle e, até mesmo, à
erradicação da circulação do agente infeccioso na região (BARBIERI; COUTO; AITH, 2017).

No caso da Covid-19, enquanto o vírus se espalhava, crescia também o avanço em


pesquisas científicas buscando entender melhor o comportamento do antígeno e as reações do
corpo humano à doença. Grandes centros de pesquisa em universidades e centros farmacêuticos
protagonizaram uma luta contra o tempo para desenvolver uma vacina contra a doença e
produzi-la em escala global.

3.2 Negacionismo científico

Faz-se necessário um debate acerca de pontos controversos como a viralização e


distribuição em massa de notícias falsas, vinculando a vacinação ao desenvolvimento de
autismo em crianças, a alegação de que as vacinas teriam a capacidade de alterar o DNA das
pessoas, ou seriam compostas de chips para a dominação do comportamento humano via
inteligência artificial.
No que tange a vacina contra o coronavírus, as principais notícias falsas que circulam
nas redes sociais seriam as seguintes:
i) que as vacinas não são seguras, pois são experimentais; ii) que já teve
Covid-19 e está devidamente protegido; iii) que vacinas são perigosas para crianças e
adolescentes; iv) que não se sabe ainda se as vacinas causarão efeitos tardios nos
36

imunizados, por isso é preciso esperar; vi) que as vacinas mexem do DNA ou RNA e,
por fim vii) que se trata do exercício de um direito fundamental de liberdade
(PAIXÃO JÚNIOR, 2021, p. 2).

Um dos possíveis pontos de partida para entender o negacionismo relacionado ao


movimento “antivax”, ou antivacina, é um polêmico estudo publicado por Andrew Wakerfield
em 1998, relacionando a imunização infantil ao autismo. O estudo feito por ele analisou 12
crianças, das quais 11 foram imunizadas contra o sarampo, rubéola e caxumba. A conclusão
publicada por Andrew alegava que a vacina fazia com que as crianças “desenvolvessem o
autismo” e inflamações intestinais graves.

Após a publicação, a pesquisa começou a ser intensamente questionada por médicos e


cientistas. Foram formuladas críticas a sua metodologia, a falta de controle no estudo, ao grupo
pequeno pesquisado e a inconsistência dos resultados. Alguns anos depois, ficou constatado que
Andrew tinha recebido para manipular e publicar tais resultados. Assim, o estudo foi anulado e
o pesquisador teve seu registro profissional cassado (LEVI, 2013).

O fanatismo religioso une-se a pessoas que não acreditam nos efeitos da imunização
com base em teorias conspiratórias e as que negam a vacina em busca de “uma vida natural”.
Atualmente, Andrew é considerado o principal influenciador do meio antivax nos Estados
Unidos (ALLEONI, 2019).

Os argumentos do movimento antivacina, não raro, envolvem a ideia de que a doença “é


muito leve”, que “já está extinta”, que a vacina causa efeitos colaterais piores que a infecção,
que a imunização serve apenas aos “interesses financeiros da indústria farmacêutica” ou que os
componentes da vacina são produtos químicos nocivos, defendendo a ideia de “vida natural”
(BARBIERI, COUTO, AITH, 2017)

As redes sociais têm contribuído de maneira significativa para a disseminação de


notícias falsas. Pesquisas realizadas pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts)
apontam que as notícias falsas têm 70% mais chance de circularem e serem compartilhadas do
que notícias verdadeiras (VALENTE, 2018).

O Ministério da Saúde realizou em 2019 uma campanha chamada “Com saúde não se
brinca! Diga NÃO às fake news”, buscando combater diversas mentiras que circulavam pela
internet, dentre elas:
37

a) vacinas causam autismo; b) uma melhor higiene e saneamento farão as doenças


desaparecerem – as vacinas não são necessárias; c) as vacinas têm vários efeitos
colaterais prejudiciais e de longo prazo que ainda são desconhecidos. A vacinação
pode ser até fatal; d) a vacina combinada contra a difteria, tétano e coqueluche e a
vacina contra a poliomielite causam a síndrome da morte súbita infantil; e) as doenças
evitáveis por vacinas estão quase erradicadas em meu país, por isso não há razão para
me vacinar; f) doenças infantis evitáveis por vacinas são apenas infelizes fatos da vida;
g) aplicar mais de uma vacina ao mesmo tempo em uma criança pode aumentar o risco
de eventos adversos prejudiciais, que podem sobrecarregar seu sistema imunológico;
h) as vacinas contêm mercúrio, que é perigoso (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019).

Além das notícias falsas, o excesso de informação nas redes sociais, somado ao
hedonismo próprio da pós-modernidade e a criação de bolhas que agrupam pessoas com as
mesmas opiniões pessoais, faz com que os indivíduos apenas reafirmem suas próprias
concepções, escolhendo no que querem acreditar. Assim, o excesso de informação gera
desinformação e fomenta a criação de grupos radicais (CURT, FERREIRA, 2022, p. 2).

Nesse viés, Harari (2020, p. 5) explicita a noção de infodemia, um fenômeno em que os


riscos e consequências de uma doença que é evitável por meio de vacinas são distorcidos ou
ressignificados. Existe uma superestimação da frequência e severidade dos eventos adversos das
vacinas e uma subestimação das complicações que a doença pode causar e que a vacina poderia
evitar. Assim, “a melhor defesa que os humanos têm contra os patógenos não é o isolamento,
mas a informação”.

3.3 Autonomia privada e saúde coletiva

A Constituição prevê a saúde como direito de todos e um dever do Estado. Para Dráuzio
Varella, isso “é uma demagogia e ainda tira a responsabilidade dos cidadãos sobre o próprio
bem-estar: se Estado é quem cuida, não sou eu”. No que tange o presente trabalho, é importante
destacar a dimensão coletiva da promoção e proteção da saúde. A proteção individual contra
doenças imunopreveníveis só é possível com a vacinação em massa.

Conforme mencionado pelo Ministro Luis Roberto Barroso em seu voto na ADI nº
6.586, as vacinas apenas atingem plenamente seu objetivo, o controle e até mesmo erradicação
de uma doença, quando a taxa de imunização atinge uma parcela majoritária da população, de
acordo com a imunidade de rebanho. Caso esse patamar não seja atingido, a eficácia é apenas
38

parcial com risco de surtos e infecções que comprometem a saúde pública como um todo (STF,
2020a, p. 61).

A tomada de decisão de não se imunizar, ou não imunizar seus filhos, apesar de ocorrer
no âmbito individual e familiar, reflete consequências que envolvem todo o meio externo
(COUTO, BARBIERI, MATOS, 2020).

Na teoria contratualista, o indivíduo delega ao Estado determinados poderes por meio


do Pacto Social. Dessa forma, o Estado deve direcionar seus esforços na promoção dos direitos
fundamentais necessários ao indivíduo, como saúde, liberdade, segurança e a busca pela
felicidade.

A ideia de indivíduo na modernidade é uma construção histórica com base em fatores


culturais e relações estabelecidas em sociedade. A cidadania é algo construído em sociedade,
marcado por expectativas de comportamento em relação aos indivíduos. Dessa forma, o
ambiente público impõe ao indivíduo, cidadão, direitos e deveres em relação aos demais
(SOARES, 2004, p.67).

O individualismo extremo e sistêmico somado à busca da “liberdade plena e felicidade


irracional contínua” são características marcantes da pós-modernidade (BAUMAN, 1998).
Assim, a solução para os males causados por essas doenças tem como verdadeiro antídoto não
a segregação, mas a cooperação.

É necessária a consciência individual de que de acordo com a natureza das epidemias, a


propagação da doença em qualquer lugar do mundo representa um risco a toda a espécie
humana (HARARI, 2020, p. 4-7).

Caberia então ao Estado a obrigação da vacinação por meio da aplicação de restrições


aos não vacinados para atingir a vacinação em massa e a consequente proteção da coletividade.
Como a vacinação é importante para a proteção de toda a sociedade, não devendo ser
considerada legítima a escolha individual que afeta gravemente a vida de terceiros.

Sem a imunização enquanto decisão coletiva, o próprio direito à saúde individual corre
o risco de sucumbir a doenças as quais já existem vacinas seguras e amplamente testadas para
seu combate.
39

4 CONSTITUCIONALISMO E DIREITOS FUNDAMENTAIS

Partindo do entendimento de que a “imunidade de rebanho” só é possível quando um


grande percentual da população recebe a quantidade indicada de doses, como ponderar a busca
pela saúde pública sem violar as liberdades individuais daqueles que se negam a recebê-las?
Assim, o direito individual de não tomar a vacina colide com o interesse coletivo e garantia do
direito de todos à saúde e à vida. O constitucionalismo propõe respostas acerca da colisão desses
dois conceitos fundamentais.

Para Ferrajoli (2015, p. 13), o constitucionalismo é fruto de uma profunda inovação na


estrutura dos ordenamentos jurídicos da Europa continental, introduzido após a Segunda Guerra
Mundial, por meio de constituições rígidas e hierarquicamente superiores à legislação ordinária,
sendo dotadas de controle jurisdicional de constitucionalidade. A constituição serviria para
viabilizar as condições de validade das leis, mas também observar seus conteúdos, devendo
estes estarem de acordo com os princípios estabelecidos pelas normas constitucionais.

Nesse sentido, as normas válidas seriam não apenas as postas por autoridade competente
no âmbito do Estado, mas seu conteúdo deveria também estar de acordo com o previsto na
Constituição. Assim, nenhuma maioria poderia legitimamente decidir ou então deixar de decidir
acerca da satisfação dos direitos sociais constitucionalmente estabelecidos.

Enquanto modelo normativo, o constitucionalismo apresenta uma mudança de


paradigma na noção de direito e de democracia, no qual a validade das leis e a legitimidade da
política são necessariamente condicionadas ao respeito e busca pela efetivação das garantias
dos direitos fundamentais previstos na Constituição (FERRAJOLI, 2015, p. 13).

Dessa forma, torna-se necessário entender e conceituar “O que são direitos


fundamentais?”, em especial, os direitos em pauta na resolução da problemática apresentada
neste trabalho.

4.1 Direitos fundamentais em pauta

Direitos fundamentais podem ser entendidos como direitos subjetivos que, na


concepção de Ferrajoli, são universalmente conferidos a todos enquanto pessoa humana, capaz
de agir ou cidadão. Está é uma definição formal na medida em que a universalidade corresponde
40

a sua forma de fruição, que é inclusiva a depender do país que os adota diferente, de direitos
patrimoniais cuja fruição é exclusiva, excludente quanto a fruição conjunta.

Quanto aos seus destinatários, o autor se refere ao percurso histórico de afirmação destes
direitos, primeiros aqueles considerados cidadãos, mais a diante ao capaz de agir e hoje, ao uma
demanda de extensão a toda pessoa humana.

Esses direitos dizem respeito a expectativas positivas ou negativas vinculadas às pessoas


por uma norma jurídica. Esses direitos são universalmente imputados a todos e são tutelados e
compreendidos como universais e essenciais, estando ligados a liberdade pessoal, liberdade de
pensamento, direitos políticos e sociais e outros análogos a estes (FERRAJOLI, 2011)

Já para Alexy, a extensão da universalidade não seria contingente a cada país que os
adote (1997, 267); mas de apelo universal, independentemente de sua positivação. Ou seja, para
este autor, os direitos fundamentais possuem validade universal per si, impondo exigências em
todas as ordens jurídicas. Um exemplo apresentado por Alexy é a Declaração Universal dos
Direitos do Homem de 1948, que demonstrou a vinculação jurídica dos direitos fundamentais
no plano internacional.

Nesse viés, Alexy (2008) propõe o estudo de três posições dos direitos fundamentais: a)
direito a algo; b) liberdades; c) competências. No que diz respeito aos direitos fundamentais a
algo, podem ser analisados os direitos de defesa (negativos) e direitos prestacionais (positivos).
Os direitos de defesa pautam a não interferência do Estado e não impedimento de ações. Já os
direitos de prestação dizem respeito a ações positivas fáticas e normativas por parte do Estado.

Dessa forma, para alcançar uma vida satisfatória são necessárias as liberdades de agir,
bem como, as restrições impostas no interesse da segurança, tendo em vista que “segurança sem
liberdade equivaleria à escravidão, a passo que liberdade sem segurança desataria o caos”
(BAUMAN, 2017, p. 9).

A despeito da visão universalista e transcendente de Alexy, opta-se nesse estudo pela


visão positivista de autores garantistas ou mesmo do constitucionalismo dogmático em sentido
amplo.

Na visão garantista de Luigi Ferrajoli (2015) os direitos fundamentais são aqueles cuja
garantia é essencial para a satisfação do valor intrínseco ao ser humano e para garantir a
igualdade, bem como não são negociáveis e correspondem a todos na mesma medida. Assim,
41

há uma relação bilateral: a igualdade é constitutiva dos direitos fundamentais e os direitos


fundamentais são constitutivos da igualdade. A declaração constitucional dos direitos dos
cidadãos equivale a uma declaração constitucional dos deveres do Estado, em normas negativas
(direito de) e positivas (direito a).

As normas negativas estão relacionadas as imunidades fundamentais, que seriam


expectativas passivas negativas em relação ao Estado e aos demais. As liberdades imunidades
não comportam atos de exercício, atuam apenas como limites, que por sua vez não são
limitáveis pelo exercício de outros direitos. Como exemplo é possível citar a imunidade contra
a tortura.

Já as normas positivas atuam como liberdades ativas, isso é, faculdades e poderes do


indivíduo enquanto cidadão. Vale destacar que essa liberdade é ampla dentro do que a lei
permite, sem interferir na esfera jurídica dos outros.

Nos Estados Democráticos Modernos a liberdade está sujeita à lei. A própria


Constituição brasileira apresenta essa ideia: ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei.

Nesse viés, o pensamento de Popper (1974, p. 288) expõe em seus paradoxos da


soberania, o paradoxo da liberdade: a liberdade irrestrita e sem limites pode levar as pessoas a
avançarem sobre as liberdades alheias, promovendo o fim da liberdade.

Em sua obra Popper faz referência a Platão, que filosofava sobre a forma com que a
liberdade absoluta, que não se submete a lei, leva a uma situação de indiferença com a
legalidade, gerando sementes para a tirania. A liberdade irrestrita seria então uma forma de
escravidão para o indivíduo e o Estado.

Assim, para a manutenção da própria liberdade é necessário que esta esteja sujeita aos
limites legais. A liberdade defendida por aqueles que não desejam se vacinar não seria então
adequada ao Estado de Direito para Ferrajoli, por ser uma liberdade que recusa se submeter a
lei.

Silva (2006, p. 35) defende que todos os direitos fundamentais podem sofrer uma
intervenção estatal, ação que não corresponde a uma violação. Isso porque a intervenção estatal
deve ser sempre acompanhada de uma fundamentação constitucional para que se configure
como uma restrição permitida e, portanto, constitucional.
42

A distinção entre direitos e garantias fundamentais estaria presente na forma com que
para que um direito fundamental seja concretizado, é necessário que possua garantias eficazes.
Lehmann (2014, p. 101) propõe que “o direito está para a garantia, assim como a saúde está
para o SUS”, explicitando a necessidade de que o Estado componha instrumentos jurídicos,
administrativos, institucionais e financeiros para viabilizar o acesso universal aos direitos
fundamentais.

4.2 Os direitos fundamentais e suas implicações nas políticas públicas de saúde no


Brasil

Os direitos fundamentais são garantias de todos os brasileiros, intimamente ligados à


ideia de dignidade da pessoa humana. O Brasil, enquanto Estado Constitucional, prevê uma
ideia de liberdade ligada a agir dentro dos parâmetros estabelecidos pela lei. Entretanto, ao usar
da argumentação de liberdade individual para colocar a vida de terceiros em risco, esse estaria
agindo fora da ideia de liberdade.

A Constituição do Brasil de 1988, garante a liberdade individual a todos os seus


cidadãos conforme o artigo 5º, inciso II, dispondo que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar
de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. Por sua vez, o inciso VIII, assegura que
“ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou
política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a
cumprir prestação alternativa, fixada em lei”.

O texto fundamental também aborda direitos dos cidadãos que devem ser protegidos
pelo Estado. No caso do Art. 6º, a saúde é tratada como direito social, apresentando a dimensão
coletiva e universal desse direito. No artigo 196 da Constituição, a saúde é posta como direito
de todos e dever do Estado, devendo ser garantida por meio de “políticas sociais e econômicas
que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário
às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.

Os três princípios norteadores do SUS são a universalidade, integralidade e equidade:

A universalidade institui que todo cidadão tem direito à saúde e acesso a todos os
serviços públicos de saúde. Além disso, o governo tem o dever de prover assistência
à saúde igualitária para todos. A integralidade detalha que todas as pessoas devem ser
atendidas desde as necessidades básicas, de forma integral. A integralidade trabalha
em todo o ciclo vital do ser humano, do nascimento até a morte. Esse princípio foca
na prevenção e reabilitação da saúde. É preciso ter ações preventivas antes de o ser
43

humano adoecer e precisar de cuidados médicos. A equidade observa que toda pessoa
é igual perante o SUS. Contudo, esse princípio não significa prover os mesmos
serviços de saúde para todos, pois o atendimento deve ser realizado de acordo com a
necessidade de cada um (AZEVEDO, 2022, p.1118).

Por sua vez, o artigo 23, inciso II, confere competência comum à União, aos Estados,
ao Distrito Federal e aos municípios nos cuidados da saúde e assistência pública, reforçando o
aspecto visto no capítulo anterior acerca da responsabilidade de cada ente federativo e de todos
em cooperação.

O direito de assistência à saúde é reconhecido enquanto direito fundamental e social,


dependendo de prestação positiva por parte do Estado. Existe ainda a dimensão negativa, no
que diz respeito a exigir do Estado o respeito e a não ingerência na saúde do indivíduo. Dessa
forma, a dimensão positiva seria por exemplo promover políticas de promoção da saúde e se
abster de agir de modo a prejudicar a saúde dos cidadãos.

A saúde é compreendida como um dos principais componentes da vida, sendo um


pressuposto para sua existência e elemento essencial para sua qualidade. O direito à saúde seria
então um interesse coletivo, direito absoluto, irrenunciável, intransmissível, indisponível e
expatrimonial (SCHWARTZ, 2001, p. 53).

Como citado anteriormente, o Sistema Único de Saúde é guiado por princípios e


diretrizes dispostos em lei, funcionando de forma a promover serviços e ações de saúde em todo
o Brasil, a nível federal, estadual e municipal. O direito à saúde na constituição brasileira é
pautado por três princípios e três diretrizes fundamentais. Os princípios seriam a promoção,
proteção e recuperação da saúde. Já as diretrizes previstas na constituição são a
descentralização, o atendimento integral com foco na prevenção e a participação da comunidade
(LEHMANN, 2014, p.100).

Ao tratar de conceitos como “redução do risco de doença” e “proteção”, e a diretriz de


“atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas” a Constituição explicita
a necessidade de políticas para a prevenção de doenças, sendo que a vacinação é
comprovadamente efetiva nesse sentido.
44

A pandemia de Covid-19 configura-se uma emergência de saúde pública e, para lidar


com as problemáticas trazidas pelo vírus, surge a Lei nº 13.979/2020 que prevê a possibilidade
de determinação de realização compulsória de vacinação e outras medidas profiláticas.

Ainda, diversos estados e países iniciaram projetos de criação do chamado “Passaporte


da Vacina”, de forma a permitir que apenas indivíduos imunizados tenham acesso a
determinados locais ou serviços. Faz-se necessária a análise da possibilidade ou não de recepção
dessa ideia por parte da Constituição, analisando se o Estado poderia impor restrições aos que
optam por não se vacinar.

4.3 A questão da vacinação sob o viés constitucionalista

Na busca de desenvolver e analisar o “conflito” trazido pela restrição à liberdade


individual em função da busca pela saúde pública, como as restrições a pessoas não vacinadas,
será feita a análise da temática sob o ponto de vista garantista, visando estudar a
constitucionalidade da exigência do passaporte vacinal como forma de promoção da saúde
pública e combate a Covid-19.

O “Passaporte da Vacina” é um comprovante de imunização contra o coronavírus.


Diversos países estão utilizando esse documento como requisito para frequentar determinados
ambientes como shows, restaurantes, aeroportos e até mesmo escolas e universidades. A
exigência por vezes é de uma dose ou do quadro completo de vacinas.

Entre os críticos dessa ideia reina a argumentação de que isso criaria uma espécie de
discriminação contra pessoas não imunizadas, caracterizando uma ofensa aos direitos humanos.
Existem diversos fatores políticos, sociais e culturais que influenciam a decisão individual de
negar o imunizante, mas a ação das vacinas na prevenção de doenças é cientificamente
comprovada.

É notável a forma com que a vacinação diminui a incidência de diversas doenças, sendo
inclusive a maior responsável pela erradicação de vírus que costumam assolar a população
mundial. De acordo com a OMS e a OPAS (2019), a recusa em vacinar ameaça reverter o
progresso que a décadas é promovido no combate a doenças evitáveis por imunização.
45

A vacina contra o sarampo já está disponível a nível internacional há anos, entretanto, a


doença registrou um aumento de 30% nos casos em todo o mundo, fazendo com que países que
estavam perto de eliminar a doença vivenciassem seu ressurgimento. Dessa forma, a hesitação
para vacinar é considerada um dos dez maiores riscos à segurança sanitária (OMS, OPAS,
2019).

Outro ponto fundamental a ser visto é a compreensão do conceito de “imunidade de


rebanho”, um cálculo feito com base nas “características e sutilezas de transmissão de uma
doença, como a maneira que ela se desenvolve, o modo de contaminação, as características dos
grupos por onde ela se alastra, as taxas de suscetibilidade e de recuperação ou morte”. Com
base na análise desses fatores, é estudada a interrupção da contaminação comunitária de
determinada doença, permitindo que mesmo indivíduos que não podem ser vacinados (como
recém-nascidos e portadores de imunodeficiências) sejam beneficiários da proteção do restante
da população.

Nesse sentido, se o grupo de indivíduos “antivacina” crescer em determinada


comunidade, ao longo do tempo a “imunidade de rebanho” deixará de ser efetiva e a sociedade
poderá voltar a assistir o retorno de doenças anteriormente erradicadas (MELLO, GERVITZ,
2020).

A cientista Jennifer Raff, em entrevista ao jornal Huffington Post, declarou que: “As
pessoas que decidem não vacinar seus filhos contra doenças infecciosas não estão apenas
colocando em risco a saúde de seus filhos, mas também a de outras crianças”1 (LINDE, 2015).

Para Ferrajoli, o garantismo seria uma teoria de análise da validade, efetividade e


vigência das normas fundamentais. Na teoria garantista, uma norma é vigente quando cumpre
requisitos formais, sendo promulgada por autoridade competente com o procedimento prescrito.
Uma norma é válida quando não possui vícios materiais, estando de acordo com as normas
hierarquicamente superiores. Uma norma é eficaz quando é efetivamente observada por seus
destinatários. Por fim, a noção de justiça de determinada norma estaria ligada a valoração
extrajurídica de critérios éticos e políticos (CADEMARTORI, 2006, p.101).

Para o garantismo, inexiste hierarquia entre normas constitucionais e entre direitos


fundamentais, entretanto há uma relação entre direitos fundamentais primários e secundários

1
Las personas que deciden no vacunar a sus hijos frente a enfermedades infecciosas no solo están arriesgando la
salud de sus hijos, sino también la de otros niños.
46

que o autor adota além de aceitar a ideia de que direitos fundamentais por não serem absolutos
também são passíveis de contenção. Dessa forma, não é válido afirmar que um direito valha,
em tese, abstratamente, mais do que outro. Mas sim que a obrigatoriedade da vacinação, por ser
uma garantia essencial para assegurar o direito à vida e à saúde prepondera entre a
autodeterminação.

Dessa forma, nem toda intervenção estatal em um direito fundamental configura uma
violação. Se a intervenção estiver acompanhada de fundamentação constitucional e for
permitida pelo texto legal, ela é constitucionalmente permitida (SILVA, 2006, p. 35). Sob esse
prisma, a imposição da vacinação obrigatória enquanto restrição a dimensão negativa do direito
à saúde seria justificada como proteção do direito à saúde pública, e o dever do Estado de exigir
a vacinação estaria dentro da dimensão positiva desse direito.

Isso não significa dizer que as pessoas devem ser forçadas a tomar qualquer vacina, e
sim que ao se recusar a fazê-lo sem justificativa válida ela estará sujeita a sanções de ordem
civil-laboral-administrativa (FERRAZ, MURRER, 2021, p. 7). A própria Lei 13.979 é exemplo
disso ao propor medidas como isolamento, obrigatoriedade de máscaras, restrição de
aglomerações, restrição de direitos individuais em prol de um interesse coletivo: a manutenção
da saúde pública.

Destaca-se que o Estado pode, em situações excepcionais, proteger as pessoas mesmo


contra a sua vontade, seguindo a ideia de dignidade como valor comunitário, um exemplo disso
seria a obrigatoriedade do uso de cinto de segurança. Caso o indivíduo opte por não utilizá-lo,
poderá receber multa e pontos em sua Carteira Nacional de Habilitação.

Ferraz e Murrer (2021, p.10) destacam que:

As democracias não garantem a quem quer que seja o “direito” de colocar a


vida de terceiros em risco. O Estado confere liberdade máxima para que cada pessoa
decida sobre o seu próprio destino ou seu projeto de vida, inclusive em questões de
saúde. Mas absolutamente ninguém pode deliberar sobre a vida alheia.

A Constituição Federal assegura o respeito às liberdades individuais, sendo necessária


a garantia de direitos sociais e da coletividade para efetivação das liberdades individuais. Ainda,
todo o contexto de emergência trazido pela pandemia autoriza que a vacinação seja tratada
como dever constitucional derivado do direito coletivo à saúde.
47

Para Resende e Alves (2020, p. 14):

As pessoas têm direito a uma situação de saúde pública adequada, e, por esse
direito, cada sujeito tem o dever de ser imunizado – ainda que isso constitua uma
limitação à dimensão negativa do direito à saúde. não se trata de uma limitação
inadequada, mas, como já dito, necessária, sem a qual o direito à saúde não é passível
de efetivação.

Nesse viés, o Estado teria o dever de impor restrições visando constranger as pessoas a
receberem o imunizante, como por exemplo o passaporte vacinal para acesso a ambientes
fechados, vagas de trabalho e estudo em instituições públicas, além de inscrição em benefícios
públicos como o “Casa verde-e-amarela” e “Auxilio Brasil”. Aponta-se ainda outras
concepções do incentivo a vacinação como a concessão de dia de folga para empregados
vacinados, assim como ocorre em casos de doação de sangue, o parcelamento de débitos
tributários com multas reduzidas e até mesmo descontos em produtos e serviços (REZENDE,
FREIRE JUNIOR, 2021, p. 37).

A análise dessa questão pode ser feita sob os parâmetros do instituto da


proporcionalidade, originário do direito administrativo alemão e incorporado na dogmática e
legislação brasileira. Embora autores como Alexy utilizem esse critério para ponderar direitos,
no presente estudo a sua utilização será feita não sob um viés ponderacionista e sim dogmático-
garantista.

A regra da proporcionalidade tem origem no Tribunal Constitucional alemão, buscando


entender melhor as formas de aplicação de normas fundamentais. Ela é composta por uma
estrutura racionalmente dividida em três sub-elementos que são aplicados em uma ordem
definida, sendo eles: adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito (SILVA,
2002, p. 30).

É preciso destacar a sua não vinculação necessária às teses ponderacionistas. Com


efeito, o constitucionalismo garantista formula críticas à ideia de ponderação entre normas de
direitos fundamentais.

Para Luigi Ferrajoli (2015, p. 14), a ideia de que normas constitucionais poderiam ser
tratadas como princípios ponderáveis entre si ou como regras que impõem sua efetivação
legislativa e a sua aplicação jurisdicional acaba por aplicar uma normatividade frágil ou forte a
diferentes normas, sendo que os direitos fundamentais não poderiam ser tratados dessa forma.
48

Ao propor a solução de conflitos pelo método garantista, Ferrajoli (2015, p.132) destaca
que para cada caso a ser analisado as normas são as mesmas, mas os fatos concretos em cada
caso julgado os distinguem. Assim, a ponderação incide sobre os fatos, para então possibilitar
a aplicação da norma.

A obrigatoriedade da vacinação pode representar restrição à liberdade e autonomia das


pessoas, dessa forma, é possível fazer a análise da proporcionalidade da exigência do passaporte
da vacina como medida para a ampliação do número de pessoas imunizadas, na busca pelo
direito fundamental à saúde. Para isso, é necessário analisar os três critérios da
proporcionalidade: adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito.

Para que determinada medida seja considerada adequada deve haver a comprovação de
sua eficiência enquanto meio para atingir o fim desejado. Assim, o meio deve ser capaz de
ensejar a concretização do objetivo desejado (SILVA, 2002, p. 36).

Um exemplo de medida inadequada proposto por Robson Junior (2020, p. 47) sugere
que caso determinado meio não possua comprovação científica de eficácia, este não avançará
na avaliação de adequação. Assim, mesmo que com intenção de promover medidas de saúde
“um representante do Estado promovesse publicamente a utilização pela população de
medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença que pretende proteger, fatalmente
seria inadequado”.

Para analisar a adequação da exigência de vacinas, é possível ver que a OMS e a OPAS
(2019) entendem as campanhas de vacinação como as formas mais efetivas de evitar doenças,
fazendo com que cerca de 2 a 3 milhões de mortes por ano sejam prevenidas, e outras 1,5
poderiam ser evitadas se a cobertura vacinal tivesse maior alcance.

No caso da vacina contra a Covid, ela comprovadamente diminui a chance de o


indivíduo contrair a doença, caso seja infectado a vacina diminui a gravidade da infecção e o
potencial de transmissão para outros. Dessa forma, a medida pode ser considerada adequada a
fim de promoção a saúde coletiva.

O critério da adequação é essencial para a análise da proporcionalidade, mas permite


que diversas medidas onerosas demais possam ser consideradas válidas. Assim, é feita a análise
acerca da necessidade desta medida. O meio mais proporcional deveria ser então o menos
49

gravoso ao titular do direito restringido, mas que possuísse a mesma eficiência frente ao
objetivo (SILVA, 2002, p. 38).

Outros meios possíveis de intervenção estatal, alternativos a restrição proposta pelo


passaporte da vacina, seriam a obrigatoriedade apenas do uso de máscaras, disponibilização de
álcool em gel e a proibição de grandes eventos. Entretanto, essas medidas são muito menos
eficientes no combate à doença, além de também imporem restrições aos indivíduos.

Por fim, ainda que uma medida seja considerada adequada e necessária, ela deve passar
sob o crivo da proporcionalidade em sentido estrito. Essa análise consiste no estudo entre a
intensidade da restrição a determinado direito fundamental frente aos benefícios e a importância
da realização do direito fundamental com que ele colide, fundamentando a adoção da medida
cuja proporcionalidade está sendo analisada (SILVA, 2002, p. 40).

Tendo em vista que até o momento da conclusão deste trabalho 670 mil brasileiros já
padeceram dessa doença, a vacinação é essencial, e a restrição proposta pelo passaporte da
vacina não é considerável frente aos benefícios trazidos por uma sociedade mais segura e
saudável sem o contato com o vírus.

Assim, a vacinação comprovadamente reduz a incidência de casos graves de Covid-19


e de mortes em função da doença, logo, a obrigatoriedade da vacina visa promover a saúde
pública. O uso do “passaporte da vacina” como meio de coerção a aplicação da vacinação é um
dos que menos impacta um direito fundamental, se comparado a ideias de vacinação forçada.

Ainda, justifica-se a medida tendo em vista que mesmo após meses de imunização livre
e sem medidas coercitivas, os números de pessoas imunizadas ainda são insatisfatórios para o
patamar de imunidade coletiva (LIMA JUNIOR, 2022, p. 53). Dessa forma, a medida é
adequada, necessária e proporcional em sentido estrito, tendo previsão legal e recepção
constitucional para ser colocada em prática.

Uma possível resposta proposta a essa temática está no Princípio da Supremacia do


Interesse Público, prevendo que quando o livre arbítrio do indivíduo colide com o interesse
coletivo, deve prevalecer o interesse coletivo, desde que respeitado os princípios constitucionais
de legalidade, moralidade e proporcionalidade. Assim, caso um indivíduo se recuse a receber o
imunizante, terá de arcar com as consequências, por meio de restrições aos seus direitos civis,
50

trabalhistas, administrativos, inclusive sua garantia constitucional de “ir e vir” (FERRAZ,


MURRER, 2021, p. 10).

Essa ideia parte do entendimento de que os direitos fundamentais podem receber


restrições se estas forem compatíveis formal e materialmente com a Constituição, tendo em
vista a posição de supremacia constitucional em relação ao ordenamento jurídico, sendo essas
restrições acompanhadas da devida justificação e fundamentação (SARLET, 2018, p. 414).

Sob essa óptica, o passaporte vacinal é necessário para a garantia do direito à saúde
previsto na constituição. Conforme exposto no capítulo anterior, já existe legislação
possibilitando essa exigência, bem como, tal legislação é considerada livre de vícios formais e
materiais. Assim, o passaporte da vacina é medida válida na busca pela garantia da efetivação
do direito constitucional à saúde.

Por todo o exposto, infere-se que a vacinação obrigatória por meio do passaporte vacinal
é recepcionada pela Constituição, caracterizando-se um dever derivado do direito à saúde
individual, sendo permitida a limitação da liberdade individual de não se vacinar por meio de
sanções de ordem civil-laboral-administrativa, visando a manutenção da saúde pública e da vida
dos indivíduos.
51

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O surgimento da pandemia de coronavírus afetou o mundo em escala global e gerou


prejuízos incalculáveis. No Brasil, deixou milhares de famílias enlutadas e causou uma piora
nas condições de vida, em especial nas pessoas mais vulneráveis. Colhe-se da análise histórico-
legislativa que o Brasil reconhece a importância da imunização em massa e possui leis nesse
sentido há mais de um século, destacando a importância da temática.

Ainda, ao longo do período de emergência sanitária a Suprema Corte brasileira julgou


diversos casos reconhecendo a constitucionalidade da vacinação obrigatória e da exigência de
comprovantes de imunização para acesso a ambientes e serviços, bem como afastando a ideia
de que o “passaporte da vacina” seria uma forma de discriminação ou ofensa aos direitos
individuais.

As sociedades ocidentais modernas são muito influenciadas pelo ideal de liberdade,


entretanto, esse conceito não é absoluto. As democracias constitucionais precisam impor limites
à definição de liberdade, onde os indivíduos são livres para agir dentro dos limites da lei. Esses
dilemas envolvem o direito, mas também filosofia e sociologia e geram inúmeros pontos a
serem debatidos.

Com o cenário pandêmico, a vacinação é apresentada como solução aos problemas


trazidos pela covid-19, mas essa solução só é efetiva se adotada por uma grande parcela da
sociedade. Nesse viés, a partir do problema de saúde pública trazido pela pandemia, torna-se
essencial questionar os direitos e deveres dos indivíduos para a garantia do direito à saúde, bem
como, o papel do Estado e da Constituição para lidar com essa problemática.

A vacinação é uma medida de saúde utilizada há séculos e possui amplo respaldo pela
comunidade científica, e sua segurança e eficácia são amplamente comprovados. Percebe-se
então a formação de uma infodemia de desinformação e circulação em massa de notícias falsas,
formando um obstáculo à concretização da garantia do direito fundamental à saúde pública.

Ainda, resta claro que a desinformação e o negacionismo científico representam


ameaças às sociedades modernas e ao bem-estar social. Um dos exemplos que explicitam a
necessidade da obrigatoriedade da vacinação está presente nos índices apresentados pela
Fiocruz, apontando uma estagnação no índice de vacinação da população brasileira contra a
Covid-19.
52

Como exposto, a vacinação obrigatória é recepcionada pela Constituição e representa


uma garantia para a efetivação do Direito a Saúde Pública. Assim, faz-se necessário o combate
à desinformação e às notícias falsas, visando um incremento nas taxas de vacinação por todo o
mundo.

Dessa forma, infere-se que o verdadeiro antídoto para o combate às epidemias é a


cooperação social e internacional para o acesso amplo e democrático à imunização. Conforme
exposto ao longo do trabalho, enquanto a imunização não for acessível a todos de forma
universal, ninguém estará efetivamente protegido, podendo existir inclusive o retorno de
doenças já extintas.

Frente a todo o exposto, infere-se que a obrigatoriedade da vacinação e o passaporte da


vacina são medidas constitucionais legítimas para a promoção da saúde pública. Além de serem
recebidas pelo texto constitucional brasileiro, tais medidas são essenciais no combate a doenças
infecciosas e na promoção da vida e do bem-estar humano.
53

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vulnerabilidade social para fins de elegibilidade ao benefício de prestação continuada
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período de enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional
decorrente do coronavírus (Covid-19) responsável pelo surto de 2019, a que se refere a Lei nº
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