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HISTÓRIA DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS

Sumário
1 – INTRODUÇÃO ....................................................................................... 4
2 - 1824 - A CONSTITUIÇÃO POLÍTICA DO IMPÉRIO ............................... 6
3 - 1891 – CONSTITUIÇÃO REPUBLICANA ............................................... 8
4 - 1934 – DEMOCRÁTICA E DE CURTA DURAÇÃO .............................. 10
5- 1937 – INSTITUI O ESTADO NOVO COM SUPRESSÃO DE DIREITOS
E GARANTIAS...................................................................................................... 12
6- 1946 – RETOMADA DEMOCRÁTICA ................................................... 14
7- 1967 – CONSOLIDAÇÃO DO REGIME MILITAR .................................. 15
8 - 1988 – CONSTITUIÇÃO CIDADÃ ........................................................ 16
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................... 25

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FACUMINAS

A história do Instituto Facuminas, inicia com a realização do sonho de um grupo


de empresários, em atender a crescente demanda de alunos para cursos de
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a Facuminas, como entidade
oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A Facuminas tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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1 – INTRODUÇÃO

Todo país é regido por lei. A maior de todas as leis é a constituição! Com o tempo os
países passam por mudanças, e, no Brasil as constituições acompanharam a
evolução da sociedade.

As constituições seguem uma estrutura textual, que vem desde a época de Justiniano
(idade média) e aperfeiçoada com o código napoleônico, que re-sistematiza o campo
jurídico, onde é discutido por meio de títulos, capítulos, subtítulos, incisos, alíneas,
toda a organização humana, política e territorial que o país necessita proteger para
manter a ordem e limitar o totalitarismo do poder por parte do Estado ao oferecer
direitos e garantias, bem como estabelecer parâmetros e funções de cada ente.

Com base nos legados deixados por Paulo Bonavides, Gilmar Mendes, Dirley Cunha,
Alexandre Moraes, Pedro Lenza, entre outros, o seguinte estudo traz no decorrer de
seus capítulos abordagens acerca das principais características expostas no que data

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cada momento histórico, apontando tanto a evolução quanto o retrocesso, tomando
assim como falhas e de interesses político partidário e ideológico de personalidades
que fizeram a história do Brasil, o contexto jurídico, a organização como um todo.
Assim, entende-se que a constituição é importante na vida de todos, pois ela é lei
maior que regula os direitos e garantias de todos, organiza o estado e as relações do
estado com a sociedade. Todas as normas como leis, decretos, portarias, etc, devem
estar de acordo com a constituição, como também as constituições estaduais e as
leis orgânica de cada município.

As constituições não pode ser uma obra de especialistas, doutrinários, técnicos. Ela
deve refletir e traduzir as relações sociais, as relações econômicas e as relações de
poder como forma de harmonia e estabilidade para a nação contrastando com a
realidade e o bem-estar de todos, ou ao menos da maioria, de uma maneira que seja
igualitária, isonômica e justa. É um tanto desafiador discorrer sobre um tema amplo
como é o caso das políticas públicas educacionais referentes ao ensino superior.

O desafio está elencado em três perspectivas: o embate histórico entre o ensino


público e privado; a qualidade de ensino e a forma de investimento em ambos os
setores, público ou privado. No entanto se faz necessário entender não só sua
trajetória, na qual se remete ao Brasil Colônia, mas também observar todo o contexto
histórico das ideologias e transições percorridas, até os dias atuais.

Após a revisão bibliográfica e de levantamento de dados estatísticos, nas análises de


literatura percebeu-se que com a expansão das políticas públicas para acesso ao
nível superior as instituições públicas não conseguiam comportar a geração de perfil
universitário, pois levaria tempo para que o governo investisse na construção de
novos prédios e capacitação dos profissionais, numa visão um tanto burocrática, que
não estava em sintonia com a tendência neoliberal, no cenário capitalista do mundo
globalizado.

O avanço do Ensino Superior no Brasil, que abrange diversas perspectivas, tomou


ênfase a partir da constituição de 1988, por meio de movimentos que já aconteciam
desde a época do Brasil império, isto é, que a educação fosse vista como essencial

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ao progresso da nação, ganhando impulso pela Lei de Diretrizes e Bases, de número
9394/96, e posteriormente aprimorada pelas medidas de governo, ao qual merece
destaque o Plano Nacional de Educação (PNE), em 2001 no governo de Fernando
Henrique Cardoso e pelos avanços tecnológicos que contribuem para a expansão do
conhecimento, exigindo assim a esse cenário reflexos por meio de políticas públicas
e programas que promovessem o acesso ao ensino superior, tendo sua continuidade,
tanto com inovação, quanto na ampliação, no governo posterior, pelo presidente Lula,
no qual se destaca o Programa Universidade Para Todos (PROUNI) de 2004, O
Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) de 1999 e são vistos como o programa de
democratização para o acesso.

Então vamos lá!

2 - 1824 - A CONSTITUIÇÃO POLÍTICA DO IMPÉRIO

De todas as constituições da história nacional, a Constituição Política do Império do


Brasil foi a que vigorou por mais tempo, 65 anos, e nesse período sofreu apenas
uma emenda. Somente a constituição dos Estados Unidos era mais antiga que a

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brasileira. Ela foi elaborada por um Conselho de Estado e outorgada em 1824 por
D. Pedro I.

O texto consolida, em seu artigo 1º, a independência do Brasil, proclamada em 7 de


setembro de 1822, formando uma “nação livre e independente, que não admite com
qualquer outra laço algum de união, ou federação, que se oponha à sua
independência”.

No artigo 10 da mesma, a repartição de poderes se faz em quatro: o Poder


Legislativo, o Poder Moderador, o Poder Executivo, e o Poder Judicial.

Traço marcante dessa Constituição, o Poder Moderador, previsto no artigo 98 do


texto, coloca o imperador como chefe supremo da nação, acima de todos os outros,
e lhe confere um caráter inviolável, sagrado e isento de qualquer responsabilidade.
Pelo dispositivo, o imperador tem poderes ilimitados para nomear senadores,
convocar ou prorrogar assembleia geral, dissolver a Câmara dos Deputados e
suspender magistrados.

O texto estabelece a divisão do território em províncias governadas por indicados


pelo imperador e eleições indiretas e censitárias. Institui a forma de governo
Monárquico Hereditário, Constitucional e Representativo e adota a religião católica
como oficial do Império, permitindo outras religiões apenas em cultos domésticos.

No período da outorga da Constituição de 1824 já vigoravam outras mundo afora,


como as constituições de San Marino (1600, ainda em vigor com
emendas), Córsega (1755), dos Estados Unidos (1787, ainda em vigor com
emendas), da Comunidade Polaco-Lituana (1791), as constituições francesas do
período revolucionário (nove constituições entre 1791 e 1830), da Suécia (1809,
ainda em vigor com emendas), Espanha (1812), dos Países Baixos (1815, ainda em
vigor com emendas), Noruega (1814, ainda em vigor com emendas), Chile (1812,

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1818, 1823), Venezuela (1811, 1819), Portugal (1822), Grécia (1822,
1823), República Federal Centro-Americana (1824), Argentina (1813, 1819), Grã-
Colômbia (1821), Paraguai (1813), Peru (1822) e México (1814, 1821, 1824),
entretanto, foi considerada uma das mais liberais de seu tempo, tendo sido baseada
na constituição francesa de 1791 e espanhola de 1812.

3 - 1891 – CONSTITUIÇÃO REPUBLICANA

Com o fim da monarquia é assinado em 15 de novembro de 1889 o decreto que


institui o Governo Provisório da Nova República – o documento pelo qual é
proclamada a República. O momento exigia a elaboração de uma nova carta
constitucional que estabelecesse a estrutura do Estado e os rumos a seguir e, um
ano após a proclamação da República, foi instalado o Congresso Constituinte.

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A primeira Constituição republicana do Brasil, com seus 91 artigos e outros oito nas
Disposições Transitórias, foi então promulgada em 24 de fevereiro de 1891, com
modificações profundas em relação à carta anterior.

A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, com caráter mais


democrático, foi promulgada pelo Congresso Nacional e instituiu o federalismo, “por
união perpétua e indissolúvel das suas antigas províncias, em Estados Unidos do
Brasil”. Como forma de governo, essa Carta é marcada pela criação de uma
República presidencialista com federalismo, a qual preserva a autonomia dos
estados e destina uma área de 14.400 km² a ser demarcada no Planalto Central,
para nela estabelecer-se a futura capital federal.

A Carta de 1891 garante a eleição direta, por maioria absoluta de votos não
secretos, para presidente e vice-presidente da República para brasileiros natos, com
mais de 35 anos de idade, no exercício dos direitos políticos.

É inspirada no modelo norte-americano, presidencialista com federalismo, que se


opunha ao modelo da carta anterior da monarquia constitucionalista. Estabelece a
separação e independência entre os Poderes, extingue o Poder Moderador e
preconiza a laicidade do Estado. Institui o habeas corpus como garantia do direito
de locomoção.

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4 - 1934 – DEMOCRÁTICA E DE CURTA DURAÇÃO

A Constituição de 1934 reafirma em seu artigo 1º o compromisso com a República


e com o princípio federativo da carta anterior. Para o então Ministro Celso de Mello,
a Constituição de 34 representou um “divisor de águas na evolução do
constitucionalismo brasileiro”.

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O texto liberal é fruto de uma série de fatores internos e externos que culminaram
no esgotamento do modelo anterior e já estabelece em seu artigo 2º que “todos os
poderes emanam do povo e em nome dele são exercidos”.

Após a Revolução de 1930 era necessária uma nova Carta constitucional, uma vez
que o então presidente, Getúlio Vargas, governava de forma autocrata, por meio da
edição de decretos. Contra essa concentração de poder eclodiu a Revolução
Constitucionalista de 1932, ocorrida em São Paulo, que levou à elaboração
da Constituição de 1934.

O novo texto trouxe muitos avanços, especialmente na legislação eleitoral e


trabalhista, com a conquista do voto obrigatório e secreto e do direito de voto às
mulheres. Marca a criação da Justiça Eleitoral e do Trabalho. O texto traz ainda uma
nova estruturação do Estado, com as prerrogativas privativas da União frente aos
governos estaduais, e uma nova organização da Justiça no país, com o
aprimoramento do controle de constitucionalidade das leis e dos atos normativos.
Além disso instituiu o Ministério Público, o Tribunal de Contas, o mandado de
segurança e a ação popular.

Apesar dos avanços propostos na Carta de 1934, ela durou pouco, apenas três
anos, e foi revogada para a entrada em vigor da Constituição de 1937, criada para
consolidar o Estado Novo e a ditadura da Era Vargas.

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5- 1937 – INSTITUI O ESTADO NOVO COM SUPRESSÃO DE
DIREITOS E GARANTIAS

Inspirada nos regimes totalitários em ascensão na Europa no período que


antecedeu a Segunda Guerra Mundial, a Constituição de 1937 foi outorgada por
Getúlio Vargas para implantar e consolidar o chamado Estado Novo. De caráter
autoritário, o texto começa com uma exposição de motivos feita por Getúlio Vargas
para justificar as medidas duras que viriam a ser elencadas em seus artigos e
parágrafos, para “assegurar à Nação a sua unidade, o respeito à sua honra e à sua
independência, e ao povo brasileiro, sob um regime de paz política e social, as
condições necessárias à sua segurança, ao seu bem-estar e à sua prosperidade”.

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Assim, a Carta de 37 institui a pena de morte, suprime liberdades individuais e os
partidos políticos e concentra poderes no chefe do Executivo, acabando com a
independência dos demais poderes da República. O texto também restringe a
atuação e as prerrogativas do Congresso Nacional, permite a perseguição política
aos opositores do governo e estabelece a eleição indireta com mandato fixo de seis
anos para presidente da República.

O fim da Segunda Guerra Mundial, com a decadência dos regimes totalitários que
inspiraram o Estado Novo, além da insatisfação gerada pela grande concentração
de poder nas mãos do chefe do Poder Executivo levaram à queda do regime de
Vargas. Assume então o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro
José Linhares, para a convocação de eleições e de uma Assembleia Constituinte
para a elaboração de uma nova ordem constitucional.

Vargas discursa à nação sobre a nova Constituição. Detalhe da primeira página do Jornal do Brasil,
em 19.11.1937.

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6- 1946 – RETOMADA DEMOCRÁTICA

A Constituição de 1946 foi promulgada pelo Congresso Nacional durante o governo


de Eurico Gaspar Dutra. Ela tem o caráter democrático que a anterior não tinha,
retomando os preceitos da Carta liberal de 1934. Passam a ser restabelecidos os
direitos individuais, a independência dos Poderes da República e a harmonia entre
eles, a autonomia dos estados e municípios, a pluralidade partidária, direitos
trabalhistas como o direito de greve e a instituição de eleição direta para presidente
da República, com mandato de cinco anos.

O texto também extingue a pena de morte, garante a liberdade de expressão, o


direito de propriedade, a inviolabilidade das correspondências, entre outros. Na
Carta de 1946 destaca-se a instituição do regime parlamentarista, por meio do
chamado Ato Adicional, de 2 de setembro de 1961, após a renúncia do então
presidente da República Jânio Quadros. Mas tal emenda previa a realização de um
plebiscito. Realizado em janeiro de 1963, a maioria da população decidiu pela
restauração do regime presidencialista.

Embora democrática, a Constituição de 46, com seus 218 artigos traz na sua
primeira parte toda a estruturação do Estado e somente a partir do
artigo 129 começa a tratar da declaração de direitos e da cidadania e das garantias
individuais. O texto ainda impede qualquer reforma constitucional na vigência de
estado de sítio e a deliberação de projetos tendentes a abolir a Federação ou a
República.

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7- 1967 – CONSOLIDAÇÃO DO REGIME MILITAR

Após a instalação do Regime Militar em 1964 foi mantido o funcionamento do


Congresso Nacional, contudo seus poderes e prerrogativas eram controlados “em
nome da segurança nacional”. Apesar de ter sido promulgada pelo Congresso
Nacional, como foram outras cartas com caráter democrático, a Constituição de
1967 consolidou o Regime Militar no Brasil, tendo como marca o autoritarismo e a
reversão dos princípios democráticos preconizados na Carta de 1946. Houve a
concentração de poderes na União, com um Poder Executivo Federal mais forte, e
supressão de garantias políticas, com a adoção da eleição indireta para presidente
da República, por meio de Colégio Eleitoral.

O texto foi diversas vezes emendado, por meio de atos institucionais e atos
complementares decretados entre 1964 e 1969. O mais conhecido deles foi o Ato
Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968, que levou ao fechamento do
Congresso Nacional, à supressão de direitos e garantias do cidadão, à proibição de

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reuniões, à imposição da censura aos meios de comunicação e expressões
artísticas, à suspensão do habeas corpus para os chamados crimes políticos, à
autorização para intervenção federal em estados e municípios e decretação de
estado de sítio.

Considerada por alguns historiadores como a Constituição de 1969, a Emenda


Constitucional nº 1, de 1969, foi, segundo o ministro Celso de Mello, “nada mais que
uma Carta imposta autoritariamente por um triunvirato militar, na ausência do
presidente da República, que havia falecido – o presidente Costa e Silva”.

Na concepção do decano do STF, essa emenda constitucional “é uma Carta


Constitucional envergonhada de si própria, imposta de maneira não democrática e
representando a expressão da vontade autoritária dos curadores do regime”.

A história oficial, entretanto, reconhece apenas sete as constituições brasileiras, de


forma que a Emenda Constitucional 1/1969 é considerada apenas uma
reinterpretação do texto de 1967, decretada pela Junta Militar que governava o País,
após a morte de Costa e Silva.

8 - 1988 – CONSTITUIÇÃO CIDADÃ

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O judiciário brasileiro sofreu grandes influências dos grandes debates que tomaram
corpo na Europa e nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial, e que
chegaram ao Brasil e se consolidaram com a Carta Magna de 1988. “No caso
brasileiro, o renascimento do direito constitucional se deu, igualmente, no ambiente
de reconstitucionalização do país, por ocasião da discussão prévia, convocação,
elaboração e promulgação da Constituição de 1988.” (BARROSO, 2012, p.01).22

Conforme leciona ainda Luís Roberto Barroso (2012, p.02)

A partir de 1988, e mais notadamente nos últimos cinco ou dez anos, a


Constituição passou a desfrutar já não apenas da supremacia formal que
sempre teve, mas também de uma supremacia material, axiológica,
potencializada pela abertura do sistema jurídico e pela normatividade de
seus princípios. Com grande ímpeto, exibindo força normativa sem
precedente, Constituição ingressou na paisagem jurídica do país e no
discurso dos operadores jurídicos.

Com atribuição à norma da constituição um do status de norma jurídica superior,


superou-se o modelo que vigorou na Europa no qual “a Constituição era vista como
um documento essencialmente político, um convite à atuação dos Poderes Públicos”
(BARROSO, 2012, p.01). Com as mudanças verificadas com a Constituição de 1988,
destaca-se o reconhecimento da força normativa dos princípios jurídicos e valorização
da sua importância no processo, onde regras e princípios tiveram reconhecido seu
caráter normativo e passaram a ser concretizadas pelo poder judiciário. Bem como,
a rejeição ao formalismo, a constitucionalização do direito, com irradiação de normas
e valores constitucionais e a reaproximação entre o direito e a moral.

Como expõe Daniel Sarmento (2011, p.86):

Até 1988, a lei valia muito mais do que a Constituição no tráfico jurídico, e,
no Direito Público, o decreto e a portaria ainda valiam mais do que a lei. O
Poder Judiciário não desempenhava um papel político tão importante, e não

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tinha o mesmo nível de independência de que passou a gozar
posteriormente.

Atualmente a Constituição “se coloca no vértice do sistema jurídico do país, a que


confere validade, e que todos os poderes estatais são legítimos na medida em que
ela os reconheça e na proporção por ela distribuídos.” (José Afonso da Silva, 2006,
p. 45). Sendo lei fundamental e suprema do Estado brasileiro, as normas que
integram a ordenação jurídica só serão válidas se se conformarem com as normas da
Constituição Federal.

Inocêncio Mártires Coelho (2009, p. 149), ressalta que “sob o novo constitucionalismo,
a Constituição, que outrora era um simples catálogo de competências e fórmulas
exortativas que não vinculavam o legislador (...), essa Carta Política simbólica
assume, agora, a função de norma suprema”.

A Carta Magna introduziu duas novidades, ao prever a inconstitucionalidade por


omissão e ampliar a legitimidade para a propositura da ação direta de
inconstitucionalidade, por ação ou omissão. Passou-se a ter então, o controle
jurisdicional, combinando critérios difuso e concentrado, este de competência do
Supremo Tribunal Federal, podendo também declarar inconstitucional a omissão
legislativa.

Segundo José Afonso da Silva (2005, p. 49), para defender a supremacia


constitucional existem três sistemas de controle, o político, onde a verificação da
inconstitucionalidade é realizada por órgãos de natureza política, como poder
legislativo, o controle jurisdicional, que se outorga ao poder judiciário a declaração de
inconstitucionalidade de lei e de outros atos do poder público, e o controle misto, que
ocorre quando a constituição submete certas categorias de leis ao controle político e
outras ao controle jurisdicional.

Luís Roberto Barroso (2011, p. 228) afirma que a grande importância dada a um poder
judiciário forte como elemento essencial para uma democracia moderna, decorre

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muito de uma desilusão com a política e uma crise da representatividade do
parlamento no Brasil. Uma constituição analítica também contribuiu para a
“judicialização”, onde importantes questões são decididas em última análise pelo
Poder Judiciário conforme expõe este:

No Brasil, o fenômeno assumiu proporção ainda maior, em razão da


constitucionalização abrangente e analítica – constitucionalizar é, em última
análise, retirar um tema do debate político e trazê-lo para o universo das
pretensões judicializáveis – e do sistema de controle de constitucionalidade
vigente entre nós, em que amplo o acesso ao Supremo Tribunal Federal por
via das ações diretas. (2011, p. 230-231).

Com a Constituição de 1988 abriu-se ainda, a possibilidade de declaração de


inconstitucionalidade sem a pronúncia da nulidade, na medida em que se atribuiu
particular significado ao controle de constitucionalidade da omissão do legislador,
bem como, previu expressamente o mandado de injunção sempre que a falta de
norma regulamentadora tornar inviável o exercício dos direitos e liberdades
constitucionais.

É defendido atualmente por grandes doutrinadores que o mandado de injunção seria


o instrumento dirigido contra a omissão legislativa visando possibilitar o exercício de
direito subjetivo, competindo ao juiz proferir a decisão que contivesse a regra concreta
destinada a assegurar esse direito, conforme leciona Jose Afonso da Silva (2005, p.
450):

O mandado de injunção tem, portanto, por finalidade realizar concretamente


em favor do impetrante o direito, liberdade ou prerrogativa, sempre que a
falta de norma regulamentadora torne inviável o seu exercício. Não visa obter
regulamentação prevista na norma constitucional. Não é função do mandado
de injunção pedir a expedição da norma regulamentadora, pois ele não é
sucedâneo da ação de inconstitucionalidade por omissão (art. 103 §2º). É
equivocada, portanto, data vênia, a tese daqueles que acham que o

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julgamento do mandado de injunção visa a expedição de norma
regulamentadora do dispositivo constitucional dependente de
regulamentação, dando a esse remédio constitucional o mesmo objeto da
ação de inconstitucionalidade por omissão.

Atualmente, verifica-se no Brasil diversos precedentes da postura ativista do Supremo


Tribunal Federal, como na aplicação da Constituição a situações não expressamente
contempladas, imposição de condutas ou abstenções ao poder público, tanto em caso
de inércia do legislador, como no de políticas públicas insuficientes.

É certo que a concentração de poderes no judiciário leva a certa desconsideração do


papel desempenhado por outras instituições, como o poder legislativo. Contudo,
deve-se ter em vista que o poder legislativo sempre terá um papel de destaque na
concretização dos direitos, pois as decisões judiciais da Suprema Corte não criam
obstáculos a ação posterior do poder legislativo, que pode, inclusive, ultrapassar a
decisão proferida pelo tribunal por meio de leis.

No Brasil, o neoconstitucionalismo é cada vez mais impulsionado pela descrença da


população em relação à política, no poder legislativo e nos partidos políticos,
enquanto a Justiça, adota decisões em consonância com a opinião pública,
fortalecendo ainda mais o sentimento neoconstitucionalista.

O Supremo Tribunal Federal faz parte da vida dos brasileiros, seja por meio da
televisão, twitter, youtube, bem como através da participação da sociedade por meio
de audiências públicas ou do amicus curie, tornando o poder judiciário o órgão mais
próximo, acessível e transparente dos cidadãos e a opinião pública.

Conforme leciona Luís Roberto Barroso (2013, p.07) é comum nos países com Cortes
Supremas existe uma variação entre o judiciário que procura reduzir sua interferência
nas ações dos outros poderes, e decisões que suprem omissões e muitas vezes
inovam na ordem jurídica:

O binômio ativismo-autocontenção judicial está presente na maior parte dos


países que adotam o modelo de supremas cortes ou tribunais constitucionais
com competência para exercer o controle de constitucionalidade de leis e

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atos do Poder Público. O movimento entre as duas posições costuma ser
pendular e varia em função do grau de prestígio dos outros dois Poderes.

À medida que decisões importantes e questões polêmicas passaram a ser decididas


pela Suprema Corte, está se viu em posição muito mais importante na sociedade, e
a clássica separação de poderes, que impunha limites rígidos ao poder judiciário,
cedeu espaço a outras visões mais favoráveis a atuação dos magistrados para a
tutela de direitos e garantias fundamentais.

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Os Estados Unidos da América do Norte mantêm a mesma Constituição Republicana
e Presidencialista de 1787 com 7 artigos e 27 emendas, em igual e mesmo período,
o Brasil já foi de tudo: Colônia, Império, República Presidencialista, Ditadura Civil,

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Ditadura Militar, República Parlamentarista e até Democracia, sempre com
Constituições que pouco refletiram a verdadeira pauta de valores desejados pelo
povo, o único detentor legítimo daquele poder capaz de criar e/ou derrubar uma
Constituição.

Em todas as fases do constitucionalismo revelou-se pela limitação do governo pelo


Direito, são as chamadas limitações constitucionais.

No Estado constitucional democrático em que vivemos a separação entre o direito e


política tem sido considerada como essencial. Na política, deve vigorar a soberania
popular e a vontade da maioria, enquanto no direito deve vigorar o disposto pela lei e
pelos direitos fundamentais estabelecidos na Constituição, que possui supremacia
sobre todo o ordenamento jurídico. A crença nessa distinção tem resistido ao tempo
e até hoje se mantém a tradicional divisão entre a política e o direito. Contudo, a
concretização da ordem fundamental e do estado democrático de direito estabelecido
pela Carta Magna de 1988 depende da edição de leis, leis estas que dependem do
poder político do país que ocupa os dois órgãos de representação do poder legislativo
brasileiro, a câmara dos deputados e o senado federal.

Apesar da separação entre o direito e a política, é cediço que a Constituição Federal


não basta em si mesma, e toda a organização político-administrativa do Estado
depende da edição de lei para sua organização e funcionamento. O problema começa
a surgir, quando um dos poderes começa a não atuar como deveria, e outro poder
fica obrigado a assumir sua função por uma atuação defeituosa.

A tripartição concebida por Aristóteles e aprimorada por Montesquieu, visava à


contenção do poder, pois ao conter o poder e evitar a concentração do poder estatal
em único órgão, encontrava-se a justiça e garantia do Estado Democrático. O
fundamento da divisão era a proteção do cidadão, contudo, atualmente, a divisão
rígida de poderes passou a ir contra os direitos mais fundamentais do cidadão, direitos
garantidos constitucionalmente e que se tornaram inoperantes pela inércia legislativa.
Assim, não se pode perder de vista que as escolhas políticas devem ser no limite em
que as mesmas estejam em conformidade com a ordem jurídica, não se admitindo

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omissões abusivas e ilegais, casos em que o controle jurisdicional se torna
necessário.

O modelo tripartite de Poderes deve ser conformado com os tempos atuais, impondo-
se o controle de um poder sobre o outro como forma de concretização dos objetivos
buscados pelo Estado Social em que vivemos, em vista da feição prestacional do
Estado.

O futuro do constitucionalismo identifica-se com a verdade, com a solidariedade,


consenso, continuidade, participação e universalização dos direitos humanos e do
ideal de cidadania pura e sadia.

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BIBLIOGRAFIA

BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do Direito. O


triunfo tardio do Direito Constitucional no Brasil. Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n.
851, 1 nov. 2005.

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BOBBIO, Norberto. O positivismo jurídico. Lições de filosofia do direito. Compilação


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