Você está na página 1de 4

Portugal e o Estado novo

A instabilidade política e social da I República deu força à oposição conservadora. Por outro
lado, os militares ansiavam restaurar a ordem e autoridade postas em causa pelos constantes
confrontos entre as fações republicanas e pelas reivindicações operárias.

Em 28 de maio de 1926, o golpe militar desencadeado a partir de Braga e chefiado pelo


general Gomes da Costa, apoiado por Mendes Cabeçadas, chefe militar da revolta em Lisboa,
toma o poder e instaura uma Ditadura militar (1926-1933).

O novo governo decreta a censura previa à imprensa e a dissolução do Congresso da República


e substitui as vereações das camara municipais por comissões administrativas. São ainda
extintas a Carbonaria e a central sindical Confederação Geral do Trabalho.

Oliveira Salazar, ex-deputado do Centro católico e professor de Finanças e economia política, é


nomeado Ministro das Finanças, em junho de 1926. Depois de ser demitido, é de novo
chamado para o governo em 1928.

Salazar aplicou medidas de saneamento económico e financeiro e estruturou um Estado


autoritário inspirado no fascismo italiano.

• A progressiva adoção do modelo fascista italiano nas instituições e no imaginário


político

O Estado Novo (1933-1974), tendo como alicerces a União Nacional (1930), o Ato Colonial de
1930, a Constituição de 1933 e o Estatuto do Trabalho Nacional (1933), definiu-se a si próprio
o ponto de vista ideológico como:

- antiliberal, antidemocrático e antiparlamentar: o poder político tinha como base o


partido único, a União Nacional, que era um movimento que consagrava as forças da
direita, antimarxista e conservadora, defensora dos valores tradicionais (Deus, Pátria,
Família), autoridade, austeridade, moralidade

- autoritário e dirigista: consagrou a supremacia do poder executivo e subalternização


do legislativo; criou organizações milicianas para a defesa e propagação dos deus
ideias (Mocidade Portuguesa, e a Legião Portuguesa), controlou o ensino e a cultura
através da Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho e do Secretariado de
Propaganda Nacional, promoveu o culto do poder pessoal do chefe carismático e
providencial (“Salazar, Salvador da Pátria!”) – apoiado no partido único, amordaçou a
oposição através da censura e da PIDE, proibiu os sindicato, criou prisões especiais em
Caxias e Peniche e campos de concentração nas colonias

- colonialista: fundamentou a politica ultramarina do Estado Novo na reafirmação da


missão histórica civilizadora de Portugal

- Nacionalista e corporativo: promoveu a exaltação nacionalista e patriótica,


enquadrou os indivíduos nas organizações consideradas como representativas da
Nação, tendo como objetivo impor a supremacia do Estado, justificado com a defesa
do “interesse nacional” e do “bem comum”, evitando a indisciplina e a luta de classes e
adotando uma política económica fortemente protecionista e autárcica.
• Uma economia submetida aos imperativos políticos
a) Prioridade à estabilidade financeira

Desde o início, a base de sustentação da política económica do Estado Novo foi a estabilidade
financeira, sendo esta utilizada como uma referência de um governo austero e promotor do
desenvolvimento económico do país.

O rigor orçamental das contas publicas trazia algumas vantagens à economia do Estado Novo:

- a estabilização monetária, uma condição favorável ao investimento privado e à


repatriação de capitais

- taxas de juros mais baixas em consequência da diminuição dos riscos cambiais e do


aumento da oferta de capitais.

b) Defesa da ruralidade

O Estado Novo defendeu o valor da ruralidade, exaltando as virtudes da vida no campo e a


importância da agricultura.

A “campanha do trigo”, em 1929, foi a primeira de muitas outras com o intuito de, à
semelhança de Mussolini, estimular a produção agrícola e assegurar o maior grau possível de
autossuficiência alimentar.

Na propaganda do regime, o mundo rural era apresentado como um espaço virtuoso, uma
espécie de refúgio ou paraíso terreno. Mas a realidade é que a esmagadora maioria do
campesinato se debatia com condições de vida e de trabalho extremamente precárias.

c) Obras publicas e condicionamento industrial

O Estado Novo, à semelhança dos regimes ditatoriais alemão e italiano, promoveu um vasto
programa de obras publicas, dando seguimento à Lei de Reconstituição Económica (1930).
Com o objetivo declarado da promoção do fomento económico do País foi implementada uma
política de edificação de infraestruturas com expressão em diferentes setores de atividade:

- nos transportes: alargamento e recuperação da rede viária; expansão e beneficiação


dos portos e aeroportos

- nas telecomunicações: modernização e expansão da rede de telegrafo e telefones

- nos equipamentos sociais: investimentos em edifícios escolares, em unidades de


saúde e assistência, no desporto, na justiça.

A indústria era um setor com vários atrasos estruturais, designadamente a fraca dimensão das
unidades fabris e os baixos níveis de produtividade, a que se acrescia uma política centralista e
dirigista, que acabava por condicionar o seu desenvolvimento.

Este condicionamento industrial traduzia-se concretamente no seguinte: qualquer indústria


com um mínimo de importância económica, para se instalar ou reabrir, ampliar as suas
instalações, adquirir novas máquinas, mudar de localização ou ser vendida, carecia de uma
licença previa por parte do Estado, cuja obtenção resultava de um complexo e moroso
processo burocrático.
Desta forma, a atividade industrial de iniciativa privada ficava submetida ao controlo superior
do Estado, cuja política privilegiava os interesses das empresas monopolistas no mercado
metropolitano e colonial, em particular nos setores das industrias química, cimentos, cerveja,
tabaco e fósforos. Instrumento poderoso do dirigismo económico do Estado Novo, o
condicionamento industrial constituía, pois, um verdadeiro obstáculo à modernização deste
setor.

• A corporativização dos sindicatos

O Estado Novo era, um Estado Corporativo, cuja organização estava defendida no Estatuto do
Trabalho Nacional, que integrava as diferentes atividades profissionais em sindicatos nacionais
– e o patronato em grémios.

Por sua vez, estes organismos eram enquadrados em Federações e Uniões. No topo da
pirâmide corporativa viriam a constituir-se, já nos anos 50, os órgãos de cúpula: as
Corporações e a Camara Corporativa com funções consultivas, integrada por representantes
daquelas.

Para alem daquelas organizações profissionais, havia ainda as Casas do Povo, que reuniam
camponeses e os proprietários das terras, e as Casas dos Pescadores, que associavam
trabalhadores e empresários ligados à pesca.

• A política colonial

A política colonial do Estado Novo integra-se no conceito e práticas do nacionalismo agressivo,


fundado em raízes históricas e associado ao imperialismo dos regimes fascistas europeus.

Como Mussolini ou Hitler, tambem Salazar exaltou o passado histórico nacional, como
fundamento e legitimação da manutenção do Imperio Colonial Português.

O Ato Colonial de 1930 – uma espécie de constituição para as colonias, posteriormente


integrado na Constituição de 1933 reforçaram a subordinação das colonias aos interesses
metropolitanos:

- no âmbito politico, a defesa do direito e da integridade do património colonial era


apresentada como condição essencial da salvaguarda da independência nacional e da
afirmação do país no contexto internacional

- sob o ponto de vista económico, as colonias eram vistas essencialmente como


mercados abastecedores de matérias-primas e consumidores dos produtos da
metrópole, bem como uma fonte de receitas alfandegarias para o Estado e de
acumulação de capitais para grandes empresas nacionais

- relativamente às populações autóctones das colonias, competiria a Portugal a


“missão histórica de colonizar e civilizar” as populações, sendo-lhes atribuídos
diferentes estatutos conforme o grau de “civilização”: assimilados eram aqueles que
estavam europeizados e cristianizados, os indígenas eram os africanos e timorenses.

Depois da 2ª Guerra Mundial, a política colonial portuguesa e os seus efeitos, designadamente


a situação de servidão da maioria dos Africanos e de estagnação económica das colonias, foi o
objeto de críticas por parte de potencias e organizações internacionais.

Para aliviar a pressão internacional, o Estado Novo introduziria algumas alterações à sua
política colonial, no início dos anos 50.
• O projeto cultural do regime

O Estado Novo apostou largamente na orientação ideológica do ensino e no enquadramento


ideológico da cultura.

A criação do Secretariado de Propaganda Nacional, em 1933, insere-se neste projeto uma vez
que apoiou e controlou as artes, os espetáculos e todas as formas de expressão.

O Estado Novo nunca reconheceu como prioritária uma política de educação de massas e por
tal, a taxa de analfabetismo manteve-se muito elevada. Verificou-se um aumento da
construção de escolas primarias, mas, no entanto, não foi acompanhado de uma evolução na
qualidade da formação dos professores e dos métodos pedagógicos.

Nem as “campanhas de educação de adultos “e os esforços para aplicar a escolaridade


obrigatória, conseguiram retirar Portugal do enorme nível de analfabetismo.

Criaram-se liceus e escolas técnicas por todo o país, melhorando as estatísticas, mas não
melhorou a qualidade de ensino, submetido a uma pedagogia de inculcação ideológica, ao
mesmo tempo formativa e repressiva.

Os manuais era “livros únicos” aprovados pelo Ministério da Educação Nacional e impostos a
todas as escolas do país.

Ao nível do ensino superior, o controlo do Estado era ainda mais apertado. A aplicação de
critérios políticos na seleção dos professores e o centralismo aplicado na direção e gestão das
universidades condicionaram a qualidade do ensino.

As organizações estudantis foram objeto de uma vigilância apertada ou mesmo extintas.

No domínio da ciência, o Estado Novo criou vários laboratórios e centros de investigação, mas
em termos globais, o desenvolvimento geral da cultura e da investigação científica foi
prejudicado pelo controlo sistemático exercido pelos organismos oficiais (censura e SPN) e
pela profunda desconfiança do regime relativamente aos meios intelectuais e académicos.

A elite cultural foi-se restringindo-se e afastando progressivamente da massa da população e


da realidade do País.

Você também pode gostar