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A Revolução dos Cravos em Portugal encerrou uma das ditaduras mais longas da

história. Esta ditadura havia começado em 1926 com a Revolução que derrubou a
Primeira república portuguesa e teve continuidade com o Estado Novo, ancorado na
figura do homem forte de Antonio de Oliveira Salazar, substituído em 1868 por
Marcelo Caetano, que manteve a mesma estrutura política econômica e social do
salazarismo.
O Estado novo português caracterizou-se pelo autoritarismo político e pela intervenção
estatal na economia. Embora influenciado por ideias fascistas, sobreviveu à queda
destes regimes europeus no final da Segunda Guerra mundial. A política adotada por
Salazar privilegiava uma postura antiliberal, de natureza isolacionista e ruralista. A
industrialização era rejeitada, já que era vista como causadora de problemas laborais e
de classe. Dessa forma, a tradição camponesa e rural foi privilegiada, justificando a
permanência da maior parte da população ligada à agricultura. Enquanto os outros
países europeus (exceto Espanha e Grécia) estavam em fase adiantada de
industrialização, Portugal ainda registrava uma forte dependência agrícola. Segundo
Perry Anderson, em 1950 a agricultura portuguesa absorvia 50% da mão de obra, a
indústria 25% e o setor de serviços e o restante 26%. Para melhor visualização dessa
fraca industrialização portuguesa podemos tomar a Holanda como exemplo que em
1957 contava com 19% da sua mão-de-obra na agricultura, 30% na indústria e 41% no
setor de serviços.
Paralelamente a esse aspecto ruralista da política econômica salazarista uma nova
relação foi estabelecida entre Portugal e suas colônias por meio do “Ato Colonial” de
1930, que substituiu a política republicana em três aspectos principais. Segundo Claudia
Castelo a “ autonomia administrativa é substituída pela centralização; a abertura ao
capital estrangeiro cede lugar à nacionalização; o desenvolvimento autônomo é
preterido em favor da integração econômica imperial. A nova política repõe o equilíbrio
orçamental nas colônias, em prejuízo do fomento, beneficiando especialmente os
interesses metropolitanos.
Esta “ fase imperial” da política colonial do Estado Novo ficou em vigor até 1951,
quando foi revisto o Ato Colonial. Para alguns autores as mudanças trazidas com essa
revisão ficaram restritas, basicamente, às terminologias utilizadas: as palavras colônia,
colonial, império e imperial foram substituídas por província, ultramar e ultramarino: “
mera operação cosmética, que não foi acompanhada por uma série consistente de
reformas sociais e jurídico-políticas”. Estas mudanças tinham a finalidade de acalmar as
pressões internacionais sobre Portugal para que concedesse a independência de suas
colônias, que foram intensificadas a partir do término da Segunda guerra mundial.
Este quadro que caracterizava Portugal como uma sociedade ruralista e com baixos
índices de desenvolvimento econômico e social sofreu significativa alteração a partir da
segunda metade do século XX.
As relações entre a Igreja e o Estado haviam se deteriorado após a instauração da
Primeira República e uma série de medidas anticlericais foram adotadas, como a Lei da
Separação da Igreja e do Estado. No entanto, com a queda da Primeira República, a
ascensão de Salazar ao poder e a implantação do Estado Novo, houve um processo de
negociação que culminou na assinatura de uma Concordata entre Portugal e a Santa Fé
(1940). Essa Concordata determinava uma série de benefícios à Igreja Católica,
tornando a relação entre a Igreja e o Estado novamente amigável.
Durante o período do Estado Novo, Salazar surgiu como amparo à Igreja católica,
retomando as boas relações que antes estavam estremecidas e estabelecendo o
catolicismo como a religião da nação portuguesa: “Portugal nasceu à sombra da Igreja e
a religião católica foi desde o começo elemento formativo da alma da Nação e traço
dominante do carácter do povo português”.
Assim, o regime se serviu do catolicismo como forma de propaganda política para atrair
as massas, combater o comunismo e sua afronta à propriedade privada, e “defender” a
Nação. Ao adotar a ideologia do regime, a Igreja reforça e consolida o seu poder
político.
A Igreja Católica se absteve de criticar o regime e colaborou na difusão da sua
ideologia, sendo assim garantidos os benefícios da Igreja e a manutenção do poder de
Salazar
(MARTINS, 2002).
Durante 48 anos, Portugal viveu um período sombrio e obscuro sob a ditadura de
Antonio de Oliveira Salazar. Na defesa de um ideal nacional, Salazar submeteu o povo
português a uma série de restrições econômicas, políticas e sociais e logo suprimiu os
direitos civis de todos aqueles que fossem contrários a seu governo.
Um dos pilares de sustentação desse regime autoritário foi o uso massivo da propaganda
política como forma de “educar” e de transmitir os verdadeiros princípios à nação
portuguesa. Em famoso discurso cita:

(...) Às almas dilaceradas pela dúvida e o negativismo do século


procuramos restituir o conforto das grandes certezas. Não discutimos
Deus e a virtude; não discutimos a Pátria e a sua História; não
discutimos a autoridade e o seu prestígio; não discutimos a família e a
sua moral; não discutimos a glória do trabalho e o seu dever.

Os três princípios que destacaremos neste trabalho estão baseados na Trilogia Nacional:
Deus (exaltação da fé católica), Pátria (valorização do nacionalismo) e Família (o
espaço central de formação do indivíduo).“Deus, Pátria e Família” são princípios éticos,
morais e políticos encontrados em um dos cartazes mais famosos da série intitulada A
lição de Salazar , série editada pelo Secretariado de Propaganda Nacional (SPN) para
homenagear os dez anos de governo do ditador e destacar os seus feitos desde o campo
econômico-financeiro às obras públicas, ilustrando uma imagem positiva do país ao
mundo.

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