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Sistemas políticos e

econômicos do
século XX: socialismo
e capitalismo
O capitalismo e o socialismo são sistemas políticos e econômicos utilizados por
governos para dirigir um país.
Atualmente, o capitalismo é predominante na maior parte do mundo,
mas, ao longo do século XX, alguns países, como Coreia do Norte, China,
Cuba e a extinta União Soviética, adotaram o sistema socialista como alicerce de
suas estruturas governamentais.
É importante lembrar que, apesar de o capitalismo e o socialismo
apresentarem características particulares bem definidas, cada país implementa o
sistema escolhido de acordo com as especificidades históricas, sociais, econômicas
e políticas.
Em seguida, veremos as principais características desses dois sistemas e as
diferenças básicas entre eles.
Capitalismo
A origem do capitalismo está associada às transformações de ordem
política e econômica ocorridas na Europa a partir do século XVI, caracterizadas
pela ampliação do comércio com outras regiões do mundo, pelo
surgimento das cidades comerciais e pelo enfraquecimento do modo de
vida feudal. No entanto, o aprofundamento desse sistema ocorreu nos séculos
seguintes, especialmente com a Revolução Industrial, no século XVIII.
Com o surgimento do capitalismo, duas novas classes sociais – a burguesia e o
proletariado – se formaram, assim como os princípios econômicos fundamentais desse
sistema:
• propriedade privada dos meios de produção – maquinários, instrumentos, fábricas,
etc.;
• livre concorrência no mercado, isto é, quando empresas competem entre
si para venderem seus produtos e serviços sem a ordenação do Estado;
• trabalho assalariado;
• busca por lucros.
No plano político, o surgimento do capitalismo deu origem ao Estado
moderno. Ao longo do tempo, esse sistema passou por diferentes fases,
adquirindo características distintas: capitalismo comercial, industrial,
imperialista, financeiro, etc.
Socialismo
O socialismo surgiu no fim do século XVIII com base em ideais de
transformação do capitalismo, à medida que esse sistema passou a ser
responsável por concentração de riqueza e desigualdades sociais.
Os fundamentos do sistema socialista são baseados no equilíbrio entre as classes e
nos princípios da igualdade e da justiça social.
A corrente inicial que difundiu os primeiros fundamentos desse sistema político e
econômico é denominada socialismo utópico, cujos principais pensadores foram Conde
de Saint-Simon (1760-1825), Charles
Fourier (1772-1837) e Robert Owen (1771-1858).
Décadas mais tarde, os alemães Friedrich Engels (1820-1898) e Karl
Marx (1818-1883) se destacaram como importantes teóricos que aprofundaram o
pensamento socialista, dando origem ao socialismo científico.
Entre os princípios do sistema socialista, destacam-se:
• propriedade coletiva dos meios de produção;
• economia planificada e dirigida pelo Estado;
• abolição das classes sociais;
• busca pela construção de uma sociedade igualitária
Conflitos na Velha Ordem Mundial e o
mundo bipolar
Ao longo do século XX, alguns países decidiram implementar o socialismo como
sistema administrativo de estruturas políticas e econômicas
internas. O primeiro deles foi a Rússia.
A Revolução de 1917 foi inicialmente marcada pela derrubada da monarquia czarista –
que dominou o país durante séculos – e, em seguida,
por uma guerra civil que perdurou nos anos seguintes. Essa guerra foi
resultado das disputas entre grupos revolucionários (exército vermelho)
e grupos contrarrevolucionários (exército branco).
Com a vitória do exército vermelho, os bolcheviques, liderados por
Vladimir Lenin (1880-1924), passaram a implementar uma série de medidas
socialistas, que transformaram as estruturas políticas, sociais e econômicas do
país.
A partir de 1922, a Rússia passou a implantar o socialismo e a agregar
outros países do Leste Europeu e da Ásia, formando a União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas (URSS).
Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o mundo passou a ser
marcado pelo contexto da Guerra Fria. Nesse período, a União Soviética, liderada
por Josef Stalin (1878-1953), emergiu como uma das grandes
potências mundiais e passou a disputar o poder em escala global diretamente com os
Estados Unidos – liderança capitalista.
Sua enorme capacidade econômica, política e militar colaborou para
que outros países, especialmente do continente asiático, também passassem a
mobilizar forças para implantar o sistema socialista, tais como
Coreia do Norte e Vietnã.
Entre 1947 e 1989, o período em que a Guerra Fria perdurou, a disputa
política, econômica e militar travada pelas duas superpotências estabeleceu uma
ordem mundial caracterizada pela bipolaridade, isto é, pela presença de dois
grandes blocos: o bloco capitalista, liderado pelos Estados
Unidos, e o bloco socialista, liderado pela União Soviética.
Também chamado de Velha Ordem Mundial ou Ordem Mundial Bipolar, esse período
demonstrou que a disputa entre as superpotências era,
sobretudo, uma questão ideológica, já que não houve confronto militar
direto entre elas. Por isso, recebeu a denominação Guerra Fria.
Tanto a URSS como os Estados Unidos utilizaram diversos meios para
aumentar suas áreas de influência, tais como a corrida armamentista, a
aeroespacial, das artes, do esporte, etc.
A partir da década de 1970, os primeiros sinais de enfraquecimento
da União Soviética começaram a aparecer, decorrentes de divergências
políticas internas, crises econômicas, fome, desemprego, violação dos direitos
humanos, entre outros aspectos.
Esse panorama culminou no colapso do bloco socialista e no fim da
Guerra Fria, representado pela queda do Muro de Berlim, em 1989, e pela
dissolução da União Soviética, em 1991.
A década de 1990 foi marcada pelo surgimento de uma Nova Ordem
Mundial, com a emergência de novos polos de poder econômico e político, do
estabelecimento de suas zonas de influência e do aumento da
integração entre eles.
Emergência de novas potências e a
Nova Ordem Mundial
A Nova Ordem Mundial iniciou-se em 1991, com a dissolução da União
Soviética e a adoção do sistema capitalista por ex-repúblicas soviéticas
e por países do Leste Europeu. Os sinais das transformações globais já
vinham aparecendo nas décadas anteriores, com a recuperação de alguns países que
foram arrasados durante a Segunda Guerra Mundial.
O fim da União Soviética e a emergência de novos centros de poder
econômico, representados por Japão, China, Tigres Asiáticos e países da
Europa Ocidental, resultaram em um sistema internacional caracterizado
pela “multipolaridade” ou “unimultipolaridade”, como propôs na época o
pesquisador estadunidense Samuel Huntington (1927-2008).
Para esse teórico, o mundo tornou-se multipolar do ponto de vista econômico, e
unipolar dos pontos de vista militar, ideológico e cultural, considerando a
hegemonia dos Estados Unidos nesses aspectos.
Diferentemente da Velha Ordem Mundial, cuja correlação de forças
entre as duas superpotências era pautada no poder político e militar, na
Nova Ordem Mundial os países passaram também a disputar a hegemonia econômica,
comercial e tecnológica.
Nessa perspectiva, foram configurados três centros de poder econômico, acompanhados
por suas áreas de influência.
Na Nova Ordem Mundial, a oposição entre
os países deixou de ser ideológica, envolvendo os sistemas socialista e
capitalista, e
se tornou econômica. A divisão do sistema
internacional bipolar, baseada na classificação dos países em Primeiro Mundo
(países
capitalistas desenvolvidos), Segundo Mundo
(países socialistas) e Terceiro Mundo (países
subdesenvolvidos), tornou-se inadequada e
deu lugar à divisão entre países do Norte (ricos) e países do Sul (considerados
pobres).
Os países do Norte, na década de 1990, apresentavam alto grau de industrialização,
boas condições socioeconômicas e um elevado Produto
Interno Bruto (PIB).
Os países do Sul eram considerados pobres em razão dos graves problemas que
enfrentavam, como desigualdade social, fome, elevadas taxas
de mortalidade infantil e violência, além de menor grau de industrialização,
vulnerabilidade econômica e baixo Produto Interno Bruto.
É nesse contexto regional que o Brasil estava inserido no início da
década de 1990. Os dados socioeconômicos levantados naquela época
demonstravam que o país enfrentava elevados níveis de concentração
de renda e desigualdade social, conforme pode ser observado no gráfico a seguir.
O gráfico apresenta o coeficiente de Gini aplicado à renda domiciliar
per capita, no Brasil entre 1992 e 2012. Esse indicador demonstra a desigualdade:
quanto mais próximo de 1 maior é a desigualdade.
Ao longo da década de 1990, o coeficiente de Gini se manteve alto no
Brasil, mas passou a diminuir na década seguinte, como consequência de
uma série de políticas de transferência de renda implantadas pelo governo
brasileiro.
Globalização e Nova
(Des)Ordem Mundial
O aprofundamento das relações econômicas, sociais, culturais e políticas entre
países é considerado uma das principais características da
Nova Ordem Mundial.
A globalização
A globalização tem sido possível graças ao atual estágio do sistema capitalista, em
que predomina a lógica das finanças. No capitalismo financeiro,
a economia é dirigida, em grande medida, por instituições e entidades monetárias,
assim como corporações internacionais e corretoras de investimentos, envolvendo
operações de empréstimos, especulações imobiliária
e mercadológica, além da valorização e rentabilidade por meio de juros,
com o objetivo de aumentar a lucratividade de empresários e acionistas.
A participação do setor bancário destaca-se, influenciando diretamente o
desenvolvimento econômico de um país.
Além dos bancos, as empresas transnacionais são pilares no contexto da
globalização. Essas corporações são responsáveis pela fabricação e
pela comercialização de mercadorias entre regiões distintas. A sede dessas empresas
é localizada em seu país de origem, e há diversas unidades
de produção espalhadas pelo mundo, de acordo com a presença de vantagens
relacionadas a matérias-primas, mão de obra e mercado consumidor.
O mapa a seguir apresenta o índice de globalização, com base em três dimensões:
econômica, social e política.
Globalização e mundialização
O termo globalização foi difundido em meados da década de 1980, sobretudo pela
mídia internacional. Além de estar associada ao aumento da
circulação de informações e de fluxos financeiros, a globalização relaciona-se à
difusão de novas tecnologias nos setores de transporte e de comunicação, em
especial, a internet, os satélites artificiais e as redes de fibra óptica. A
globalização passou a ser considerada um fator que colabora
para a homogeneização cultural e para a dissolução das identidades locais.
É nessa perspectiva que alguns estudiosos passaram a utilizar o termo
mundialização em vez de globalização. A mundialização é um processo
que envolve os elementos culturais e as transformações de hábitos e
costumes em escala mundial.
Para o sociólogo brasileiro Renato Ortiz (1947-), a cultura mundializada
pode ser observada por meio das marcas de produtos de consumo que
representam um estilo de vida global. As redes de alimentos fast food, as
marcas de smartphones e demais dispositivos eletrônicos, as músicas,
os filmes, os seriados e outros produtos audiovisuais, por exemplo, são
um conjunto de objetos facilmente identificáveis em diversas regiões do
mundo e que estão cada vez mais presentes no nosso cotidiano. Nesse
contexto, a padronização de hábitos e costumes e o consumo excessivo
são alguns dos principais resultados desse processo de mundialização.
Fluxos de mercadorias, serviços e pessoas no contexto da
globalização
O aumento das trocas comerciais entre países e a intensificação dos fluxos de
mercadorias, serviços, informações e pessoas no contexto da globalização têm sido
possíveis graças aos avanços tecnológicos das últimas
décadas, especialmente nos setores de transporte e comunicação. Esse panorama é
resultado da expansão do
que o geógrafo Milton Santos (1926-2001) denominou meio técnico-científico-
informacional.
Para esse estudioso, o termo serve para caracterizar a atual dinâmica do espaço
geográfico, marcada
pela elevada densidade de informações, ciência e tecnologias. Esses fatores são
responsáveis por profundas transformações nos processos de fabricação e consumo dos
produtos, nas relações sociais, incluindo
o mundo do trabalho, e nas formas de organização dos territórios. O esquema a
seguir representa a evolução dos meios de acordo com a perspectiva de espaço
geográfico desenvolvida por Milton Santos.
Meio natural Meio técnico
Meio técnico-
-científicoinformacional
Sendo o meio natural aquele transformado por seres humanos por meio de objetos
culturais
artesanais; o meio técnico aquele em que as pessoas utilizam objetos culturais mais
técnicos, como as
máquinas; e o meio técnico-científico-informacional aquele em que as máquinas são o
resultado da
combinação de técnica, ciência e informação.
Os fluxos de mercadorias, informações, serviços e pessoas entre países têm sido
fundamentais
para a ampliação dos lucros, de acordo com a lógica do capitalismo financeiro. Os
avanços das tecnologias de transporte encurtam o tempo gasto para percorrer longas
distâncias e colaboram para
o aumento vertiginoso desses fluxos.
Atualmente, múltiplos modais têm sido utilizados como meios de transporte rápidos
para que os
fluxos possam ocorrer de forma eficiente. A integração entre os meios rodoviário,
ferroviário, fluvial
e marítimo é amplamente adotada em diversos países para permitir a circulação
interna e externa de pessoas, bens e
mercadorias.
Os navios, por exemplo, são uma alternativa
segura e de custo mais
baixo para o transporte
de cargas entre países e
continentes.
Assim como nos transportes, os avanços tecnológicos também tornaram os meios de
comunicação mais rápidos e eficientes. Algumas ferramentas já existentes, como as
transmissões de rádio e de televisão e os
sistemas de telefonia móvel, foram aperfeiçoadas nas últimas décadas.
Além disso, outros meios de comunicação amplamente desenvolvidos e
popularizados, como a internet, vêm promovendo fluxos cada vez mais
acelerados de informações e dados entre as diferentes regiões do mundo.
A popularização da internet na década de 1990 transformou radicalmente
as maneiras como as pessoas se relacionam e como as informações circulam em escala
mundial. A rapidez promovida por essa ferramenta também
foi fundamental para o aprofundamento das relações comerciais internacionais e para
o aumento dos fluxos financeiros ao redor do mundo. Os agentes
econômicos, tais como as empresas transnacionais e as instituições bancárias,
tornaram-se amplamente interconectados, possibilitando a realização
de operações monetárias de forma muito veloz.
Assim como os fluxos financeiros, a comunicação de massa se tornou
mais rápida a partir do uso de smartphones, tablets e laptops conectados
à rede mundial. Desde as últimas décadas, tem sido possível se comunicar
instantaneamente com qualquer pessoa do mundo, divulgar notícias
e compartilhar fotografias e vídeos em fração de segundos.
Além da internet, a revolução nos meios de comunicação foi possível
graças ao desenvolvimento dos sistemas de satélite e redes de fibra óptica
instalados ao redor do mundo. Esse panorama nos permite afirmar que
vivemos na era da informação.
Os dados apresentados no mapa mostram a porcentagem de usuários
de internet em relação à população de cada país. Alguns fatores, como
a presença de infraestrutura de comunicação, são determinantes para o
panorama verificado em cada lugar.
Conflitos na Nova Ordem Mundial
Na década de 1990, acreditava-se que o fim da Guerra Fria poderia
representar o fim dos conflitos entre as grandes potências e a possibilidade de paz
mundial. Houve, naquela década, uma drástica diminuição
dos gastos bélicos em diversos países do mundo, inclusive nos Estados
Unidos, a grande potência militar da época. Os dados levantados entre
1990 e 1999 revelam que os gastos militares do país diminuíram cerca de
28% ao longo do período
Apesar da diminuição dos gastos bélicos, os Estados Unidos mantiveram a presença de
seus sistemas de defesa em diversas regiões do mundo, especialmente nos países do
Oriente Médio, em razão dos interesses
econômicos atrelados à exploração de recursos naturais na região.
Entre os sistemas de defesa utilizados pelos Estados Unidos para preservar seus
interesses e demonstrar seu poderio bélico no cenário internacional, destacam-se a
instalação de bases militares, intervenções
políticas (com a justificativa de impedir a produção de armas nucleares) e
operações de paz em locais em conflito, o que colaborou para que o país
adquirisse novos adversários ao redor do mundo.
No Oriente Médio, por exemplo, houve o crescimento de grupos extremistas islâmicos,
como o Talibã e a Al-Qaeda. Com a maior presença
militar e política estadunidense na região, esses grupos passaram a utilizar o
terrorismo para lutar contra os Estados Unidos e, de forma mais
abrangente, o mundo ocidental.
Alguns pesquisadores afirmam que esse panorama conduziu à “des-
-ordem” mundial, caracterizada pelo aumento dos conflitos regionais e
dos movimentos ultranacionalistas, bem como pela ascensão do terrorismo. A invasão
russa no território da Ucrânia em 2022, cujo principal objetivo era evitar a
expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte
(Otan) no Leste Europeu, impedindo o país de entrar nessa aliança militar
ocidental, é um exemplo desse processo.
Os ataques de 11 de setembro de 2001
Em 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos sofreram dentro de
seu território o maior ataque terrorista de sua história. Realizado pelo
grupo extremista Al-Qaeda, o ataque vitimou aproximadamente três mil
pessoas e deu início a uma nova fase da política externa estadunidense:
a Guerra ao Terror.
A Guerra ao Terror teve início quando o presidente estadunidense na época, George
W. Bush (1946-), passou a intervir política e militarmente no Afeganistão, com o
objetivo de encontrar os responsáveis pelo ataque, conduzindo
o país a um conflito que perdurou cerca de vinte anos (entre 2001 e 2021).
Dois anos mais tarde, em 2003, o Estados Unidos e seu principal aliado, o Reino
Unido, decidiram invadir o Iraque sob o pretexto de conter
as armas de destruição em massa produzidas pelo governo de Saddam
Hussein (1937-2006), então líder iraquiano. A intervenção durou oito anos
e provocou a morte de milhares de soldados e civis até 2011, quando as
tropas de combate estadunidenses deixaram o país.
Além das guerras do Afeganistão e do Iraque, as décadas de 2000 e
2010 foram marcadas pela ascensão de novos grupos extremistas, como
o Estado Islâmico, na Síria e no Iraque; pelo surgimento de diversos grupos armados
no Oriente Médio e em outras regiões pela ocorrência de
ataques terroristas envolvendo os países da Europa; entre outros eventos
que vitimaram milhares de pessoas.

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